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APONTAMENTOS

Direito
Constitucional
2º Semestre

Porto, 2005/2006

2º SEMESTRE

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Faculdade de direito da Universidade Lusíada do Porto
Objecto e várias categorias de leis.

Objecto de controlo da constitucionalidade – art.º 277º e art.º 3º/3 CRP

Poderes:

Legislativo

Executivo
- Regulamentos
- Actos administrativos
Judicial
- Sentenças
Nota: Os actos administrativos e as sentenças não são objecto de controlo da
constitucionalidade.

Na área normativa existem dois domínios:


- Legislativo
- Regulamentos

Nota: Segundo o art.º 277/1 Constituição, só as normas que infrinjam o disposto


na Constituição ou os princípios nele consignados são alvo de controlo da
constitucionalidade.
Norma = actos normativos
Actos normativos (regulamentos – actos normativos emanados pelo Governo, no
exercício de funções administrativa, com carácter subalterno e complementar à lei.

Requisitos das normas para efeitos do controlo da constitucionalidade:

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1. Material – Tem que se tratar de uma regra ou padrão de comportamento.
2. Orgânico – Tem que ser emanada por uma entidade pública com poderes
normativos.
 Actos normativos primários, por exemplo, as leis
 Actos normativos secundários, por exemplo, os regulamentos

Nota: O T.C. só tem controlado normas que obedeçam a estes 2 requisitos.


Todos os actos administrativos normativos podem ser objecto de controlo.

Um acto administrativo pode ofender (é um acto ilegal – não há recurso para o


TC, apenas para os tribunais administrativos):
 A Constituição
 Uma Lei
 Um Regulamento

Recurso de amparo (Mexicano/Espanhol) – queixa constitucional (alemã): É


um recurso que existe em alguns países, quando uma sentença ou actos
administrativos violam a Constituição (este recurso não existe em Portugal).

Os actos administrativos podem ser inconstitucionais, no entanto, não


existe recurso para o T.C., estes são considerados ilegais.

Nota: As sentenças dos tribunais (com excepção das sentenças de acolhimento e


rejeição da inconstitucionalidades) não são passíveis de recurso para o Tribunal
Constitucional, mas podem ser esgotados todos os recursos (1ª, 2ª instâncias e
Supremo)

ESTRUTURAS NORMATIVAS:

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Constituição:

1. É fonte de Direito
2. É a norma que organiza as fontes de direito (a produção jurídica)

Art.º 8; 56/4; 112; 115; 161; 164; 165; 198; 227; 241.
A maneira tradicional de avaliar o ordenamento jurídico, é a pirâmide de
Kelsen, contudo, actualmente, o ordenamento tem a forma de um trapézio:

1.º CRP / Direito Comunitário / Direito Internacional (nações unidas)

2.º Lei
3.º Regulamentos

Pluralismo de Ordenamentos Superiores – CRP / Direito Comunitário / Direito


Internacional

Ius cogens internacional – Direito imperativo (ex: direito internacional)


O ius cogen, é o direito que sai da ONU, nomeadamente no que respeita aos
direitos fundamentais.
Para o Prof. Canotillo, actualmente há:

Pluricentrismo legislativo – existem vários órgãos a produzirem leis (AR, ALR)


Plurimodalidade de actos legislativos – variedade de actos legislativos:
- Lei
- Decreto- Lei
- Decreto Legislativo Regional
No tempo de Kelsen, as leis eram feitas apenas pelos parlamentos.
CATEGORIAS DE LEIS:

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1. Leis Constitucionais (art.º 119/1/a; 166/1; 161/a; 284 a 289 CRP)
– São as leis de revisão.
2. Leis Orgânicas (art.º 112 CRP) – tiveram origem em França e são leis
ordinárias que dizem respeito a questões constitucionais. Na CRP, este
conceito foi introduzido pela lei constitucional (de revisão de 1989, art.º
112/3; 166/2).
3. Leis de Bases
4. Leis de Autorização Legislativa
5. Leis Estatuárias
6. Leis Reforçadas

Leis, Moções, e Resoluções: Actos normativos da Assembleia da República

LEIS ORGÂNICAS

Características jurídico-constitucionais:

1 – São Leis ordinárias (164º)


2 - Leis ordinárias com valor reforçado, relativamente a actos de natureza
legislativa (vide art.º 281/1/b) CRP). Se existirem actos normativos a violarem
estas normas com valor reforçado, estamos perante uma ilegalidade controlada
pelo T.C. em sede de fiscalização sucessiva concreta ou abstracta.
3 – Tipicidade das leis orgânicas – só são leis orgânicas, aquelas que a
Constituição define (art.º 166/2), ao contrário de França e Espanha.
4 – Exclusividade em razão da matéria das leis orgânicas
Não pode haver leis orgânicas:
- De autorização
- De bases
- De regime geral

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Todas as leis orgânicas são legisladas por um legislador orgânico, e este tem que
esgotar toda a disciplina jurídica.
5 – Reserva de plenário (art.º 168/4 e 5), com maioria absoluta – a maior parte
das leis orgânicas são votadas e aprovadas na especialidade em plenário. Exige-
se um procedimento mais gravoso.
6 – Fiscalização Preventiva – art.º 278/4
Podem pedir a fiscalização o PM. 1/5 dos deputados e o PR.
7 – Superação veto politico do Presidente da República – art.º 136/3.
8 – Forma da lei orgânica – a menção diz apenas “Lei orgânica”, não tem um
número específico (com numeração própria, não sendo incluídas juntamente com
as outras).

LEIS DE BASES

Saber:
1. Origem do conceito.
2. Se este foi acolhido na CRP.
3. Qual a intenção do legislador constituinte ao estabelecer leis de bases em
matérias reservadas.
4. Saber se as leis de bases são sempre parâmetro normativo dos dec-leis de
desenvolvimento.
5. Quais os vícios que resultam da contradição do dec-lei de desenvolvimento
relativamente à lei de bases.

Leis de bases (lois cadres) – são leis que estabelecem os princípios vectores
fundamentais de um determinado regime jurídico, ou as grandes opções politicas-
legislativas de um determinado regime jurídico, deixando a sua complementação
para o governo através de Decretos-leis de desenvolvimento.
São leis incompletas do ponto de vista legislativo (e não regulamentar). São
depois completadas com os dec-leis de desenvolvimento.

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A Lei de bases ou lei-quadro em que a moldura é feita pelo Parlamento e os
decretos-leis de desenvolvimento são os desenhos feitos pelo governo.
Surgiram em França em 1936, através do estabelecimento de férias pagas.

2 - Este conceito foi acolhido pela nossa CRP?


SIM - Artº 112/2 CRP; artº 198/1/c;
O Decreto-Lei de desenvolvimento pressupõe uma lei de bases:
artº 227/1/c; 164/i/d; artº 165/f/g...

3 - Qual a intenção do legislador constituinte ao estabelecer leis de bases em


matérias reservadas?
a) Teria sido uma hetero-limitação da Assembleia da República? – A
Assembleia da República fica limitada às bases, isto é, só pode fazer as bases,
não podendo fazer o desenvolvimento. É uma limitação do poder constituinte à
Assembleia da República.
Não – isto aconteceu na França e na Alemanha.
b) Teria sido uma auto-limitação da Assembleia da República? –
Quando o legislador constituinte reserva à AR as bases, deixando o
desenvolvimento para o governo, mas, dentro de parâmetros pré-definidos pela
AR. A AR faz as bases e pode ou não fazer os desenvolvimentos.
Não
c) Teria sido uma limitação do Governo? – Há matérias que pela sua
complexidade técnica têm que ser reguladas pelo governo (pois este está melhor
acessorado). O governo regula-as estando limitado pelas bases (parâmetros) da
AR. O Governo não precisa de autorização da AR.
SIM – art.º 198º / n.º 1 / c)
Nota: O governo só pode fazer as bases nas alíneas que falam de bases (nos
art.º 164 e 165). Nas alíneas que não falam de bases, a AR tem que esgotar toda
a disciplina normativa. Ex: art.º 164/i, A AR faz as bases, porém, o
desenvolvimento é feito pelo governo, sem necessidade de autorização da AR
(art.º 198/1/c).

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4 - Saber se as leis de bases são sempre parâmetro material dos dec-leis de
desenvolvimento

Um dec-lei de desenvolvimento não pode contrariar uma lei de bases, visto


que estas são sempre parâmetro material vinculativo dos dec-leis de
desenvolvimento. O problema é saber se é assim quer em matérias reservadas,
quer em matérias concorrentes, ou apenas em matérias reservadas?

a. Alguns autores defendem que o texto da lei ou enunciado linguístico


(art.º 112/2), pressupõe que há sempre subordinação (dos dec-leis
de desenvolvimento) face à lei de bases, não distinguindo entre as
leis de bases em matérias reservadas e as leis de bases em
matérias concorrentes.

b. Outros autores (como o Dr. Vital Moreira), referem que o artº 112/2,
apareceu expressamente para limitar os poderes do governo (na
revisão de 1982 – 115/2), na medida em que o governo, antes,
poderia alterar ou revogar a lei de bases, este tinha poderes muito
extensos. Esta norma, inicialmente era o art.º 115/2, passando
actualmente a 112/2. Este excesso de poderes legislativos do
governo advém da Constituição de 1933.

c. Outro argumento (também do Dr. Vital Moreira), diz que se não fosse
para limitar os poderes do governo, relativamente às bases em
matéria de competência concorrente, não se justificava o artº 112/2.
Porque quando as leis de bases são em matérias reservadas, o
governo não as pode contrariar sob pena de se gerar uma
inconstitucionalidade orgânica e formal.
Há quem entenda que só existe subordinação dos dec-leis de
desenvolvimento relativamente às leis de bases em matérias reservadas:

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Argumentos a favor da subordinação:

1 - A não ser assim, contraria-se o princípio da tipicidade das competências, já


que a constituição diz que, são matérias reservadas à AR, as matérias do artº 164
e 165, sendo as restantes matérias de competência concorrente, que se a AR
regulasse sob a forma de lei de bases, alargaria a sua competência reservada,
restringida a competência do governo (artº 198/1/9).

Tipicidade das competências – É a própria CRP que estabelece as


competências legislativas, reservando para a AR, apenas as matérias do art.º 164
e 165.

Nota: Esta questão pode ser contrariada, na medida em que, o governo, em


matéria de competência legislativa concorrente, pode, segundo o art.º 198/1/a),
revogar com dec-leis uma lei de bases concorrente da AR, embora, os dec-lei, no
âmbito do art.º 169/1, possam ser chamadas à AR, para apreciação.

5 - Quais os vícios que resultam da contradição do dec-lei de


desenvolvimento relativamente à lei de bases?

Vícios:
Leis de bases em matérias reservadas
- dec-lei de desenvolvimento contraria lei de bases - há uma ilegalidade mas
também uma inconstitucionalidade orgânica e formal. Para o Dr. Canotillo, aqui
há uma inconstitucionalidade.
Há uma inconstitucionalidade orgânica e formal porque se a AR não
intervém sobre as matérias do 164 e 165, o governo vai legislar.
Quem controla a ilegalidade é o T.C.

Leis de bases em matérias concorrentes


- dec-lei de desenvolvimento contraria lei de bases - há uma ilegalidade.

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Lei de bases (dec-leis desenvolvimento) - Quando um dec-lei de desenvolvimento
contraria uma lei de base (hierarquicamente superior), há uma ilegalidade atípica
(é um acto legislativo a contrariar outro – art.º 281/1/b)

Quem controla?
Inconstitucionalidade – TC
Ilegalidade – Tribunais administrativos
Ilegalidade atípica – TC

LEIS DE AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA

Leis de bases e leis de autorização, o que têm em comum?

São ambas leis incompletas, do ponto de vista da regulamentação


legislativa porque não esgotam toda a disciplina legislativa.
As leis de bases, necessitam de dec-leis de desenvolvimento.
As leis de autorização, necessitam de dec-leis autorizados.
Ambas condicionam e limitam o governo, na emanação da legislação
complementar.

Leis de autorização (artº 112/2; artº 198/1/b; artº 165/2/3/4/5; artº 227/1/b)

1. Destinatários
2. Limites das leis de autorização legislativa
3. Cessação da autorização
4. Vícios que derivam da contradição dos dec-leis autorizados relativamente à
lei de autorização.

Destinatários – Artº 165 – Governo

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Artº 227/1/b – Assembleias Legislativas Regionais, em matérias
de interesse das regiões autónomas, mas nunca em matérias do art.º 165 (uma
vez que estas estão reservadas à autorização ao governo).

Limites materiais

 Devem definir o objecto, sentido e extensão da autorização (não são


cheques em branco ao governo). Devem estabelecer os princípios vectores
que vão orientar o governo na emanação dos dec-leis autorizados (sentido)
(art.º 165/2).

 Não pode haver autorização em matérias de reserva absoluta (estas têm


que ser reguladas por lei formal da AR – artº 164 e algumas matérias do
artº 161).

 Não pode haver autorização para actos que a AR pratica em forma


diferente da lei (moções ou resoluções. Ex: artº 162, 163 e alguns do artº
161).

Limites temporais

 Tem que estabelecer um prazo para que o governo emane o dec-lei


autorizado. O TC disse que para se considerar respeitado o prazo de
autorização legislativa, basta que ocorra dentro desse prazo a aprovação
pelo Conselho de Ministros, contrariamente à opinião da doutrina
dominante (defendia também a promulgação do PR, porque seria a partir
dessa data que o projecto teria existência jurícica). Isto foi inserido em
1992.
A razão foi para que, mais diplomas autorizados fossem aceites
dentro do prazo.

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Formas de cessação da autorização legislativa:

 Esgotamento do prazo
 Utilização pelo Governo – artº 165/3 – Principio da irrepetibilidade
(depois de publicado)
 Revogação (*)
 Caducidade (art.º 165/4) (**)

(*) Revogação pela A.R. pode ser:

 Expressa – quando a AR começa a legislar sobre determinadas matérias


de um decreto-lei autorizado, revogando assim a autorização. A AR através
de um instrumento normativo do mesmo valor revoga a autorização. Ela
própria quer legislar.
 Tácita (ou implícita) – Quando a AR legisla sobre uma matéria que tinha
autorizado o governo, revogando, portanto, tacitamente e autorização.

(**) Caducidade art. 165º/4 – As leis da autorização legislativa, pressupõe uma


relação fiduciária (de confiança), entre a AR e o governo.

VÍCIOS que decorrem da contradição de um dec-lei autorizado, relativamente


à lei de autorização:

 Há uma ilegalidade muito forte


 Há também uma inconstitucionalidade
 Há um vício orgânico e formal – porque o governo emana um decreto-lei
que não está de acordo com a lei de autorização, invadindo assim a
competência da AR.

Se a lei de autorização for inconstitucional - sofrer de um vício: define o


objecto mas não o sentido, extensão e duração.

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Estamos perante uma INVALIDADE CONSEQUENCIAL – Se uma lei de
autorização legislativa tem um vício, esse vício transmite-se ao dec-lei autorizado,
porque é uma consequência da lei de autorização.

Nota: Se uma lei de autorização legislativa for declarada inconstitucional o dec-lei


autorizado não sai automaticamente do ordenamento jurídico, porque é
considerado um acto autónomo, podendo apenas ser avaliado no âmbito da
fiscalização sucessiva (uma vez que o tribunal constitucional está vinculado ao
pedido).

LEIS ESTATUÁRIAS

Noção - (art. 166º/3; art161º/b; art. 226º) – São as leis da AR que aprovam os
estatutos politico-administrativos das regiões autónomas.

Nota: O Estado português é unitário regional. Não é puramente unitário mas


também não é federal (artº 6/1)

Estado federal – Cada estado federado tem a sua própria constituição.

Estado unitário regional – As regiões autónomas têm poderes legislativos,


embora os órgãos de soberania sejam os mesmos para todo o país (PR, governo,
tribunais, etc.).
As leis de revisão constitucional têm que respeitar a autonomia politico-
administrativa dos arquipélagos dos Açores e da Madeira (artº 288/o)

Art.º 226 – Há uma reserva de iniciativa legislativa, bem como reserva de


alteração dos estatutos, a favor da Assembleia Legislativa regional.
As Assembleias legislativas regionais têm direito de iniciativa legislativa n.º1
e de alteração n.º 4.

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Assembleias Legislativas Regionais:
- Têm um momento impulsivo que se traduz no:
- Direito de iniciativa - art.º 226/1;
- Direito de alteração - art.º 226/4
- Há também um momento deliberativo:
- Por parte da AR.

1 - Artº 226 e ss. – São leis da AR, mas com certa especificidade, na medida em
que há uma reserva de iniciativa legislativa, a favor das regiões autónomas
(Assembleias legislativas regionais).

2 - As leis estatuárias são leis da A.R. (porque a AR tem a palavra final), mas com
valor reforçado relativamente a todos os outros actos legislativos. São as mais
reforçadas de todas as leis reforçadas.

Art.º 281/1/c/d – Os estatutos têm valor reforçado porque os diplomas legislativos


regionais não os podem contrariar mas as leis da República também não os
podem contrariar. Estas ilegalidades são controladas pelo TC em âmbito da
fiscalização sucessiva abstracta (art.º 281/1/c/d), mas também no âmbito da
fiscalização sucessiva concreta (art.º 280/2/b/c/d).

3 - “Os estatutos não são verdadeiras constituições com uma amplitude


potencialmente e ilimitada, tem uma estrutura da lei ordinária, ainda que
reforçada.” (Dr. Jorge Miranda).

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LEIS REFORÇADAS

Leis reforçadas – art.º 112/3 CRP

Categoria de leis com valor reforçado:

 Leis orgânicas
 Leis que carecem da aprovação por maioria de dois terços (artº 168/6)
 Leis que sejam pressuposto normativo de outras leis (leis de bases e de
autorização legislativa)
 As leis que por outras devam ser respeitadas (leis estatutárias)
Esta distinção foi clarificada na revisão de 1997

Constituição
Leis de revisão

Leis reforçadas

Regulamentos

Critérios que a doutrina tem procurado elaborar, para definir as leis com
valor reforçado:

1. Critério de parametricidade aferida por um processo judicial de


fiscalização (artº 280/2/a/b/c/d e artº 281/1/c/d
2. Critério de parametricidade especifica – Uma lei é reforçada,
relativamente a outra, quando tem um conteúdo paramétrico que não pode
ser contrariado por outras leis (ex: leis de autorização, e leis de bases).
3. Critério da maioria reforçada - Aquelas leis que obriguem a uma maioria
de dois terços. As que têm uma maioria legitimatória (ex: leis orgânicas –
artº 168/5).

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4. Critério da forma e especificidade procedimentais - não são parâmetro
material de outras leis, porque o legislador tem que disciplinar toda a
matéria - Leis orgânicas.
5. Critério de parametricidade geral - não podem ser contrariadas, nem
pelos decretos legislativos regionais nem pelas leis da república - Leis
estatuárias

DECRETOS-LEIS

São actos legislativos do governo.

Esta figura não existia nas constituições monárquicas do séc. XIX


(1922/1926/1938). Havia o princípio da separação dos poderes (legislativo –
Parlamento; executivo – Governo; judicial – aplicação das leis). Apenas os
parlamentos faziam leis, e nunca os governos. Os governos em situações de crise
apenas decretavam decretos ditatoriais. Na Constituição de 1911, aparece a
possibilidade de o Governo fazer decretos-leis, com autorização legislativa, porém,
esta constituição estabeleceu também pela primeira vez, o controlo da
constitucionalidade. Na constituição de 1933, permite-se também o dec-lei com
autorização legislativa, e o governo também poderia legislar em casos de urgência
e necessidade (o que fez com que o governo legislasse, alegando sempre
urgência e necessidade). Em 1945 houve uma reunião constitucional, e veio pôr-
se a verdade formal de acordo com a verdade real, dizendo-se que o governo
poderia legislar em pé de igualdade com a Assembleia nacional, fora das matérias
reservadas.
_________________________________________________________________
Nota: Acórdãos do TC:
426/98;
273/99;
414/96;
70/99.

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Nota: Aprovação C.M.
Promulgação (o acto só existe depois de promulgado – art.º 140)
Publicação (art.º 119/2 – sem publicação apenas é ineficaz).

A doutrina dominante defendia a promulgação, mas o TC considerou que


(dentro do prazo estabelecido na lei de autorização), bastava a aprovação em
C.M.

A CRP foi muito contida porque diz que na lei de autorização tem sempre
que constar a sua duração.

Nota: As “lois–cadres”, surgiram já numa fase em que se passa da constituição


liberal, para a constituição do estado social.

Decreto-lei contrário à lei:

 Em matéria concorrente – Há uma ilegalidade


 Em matéria reservada – Há uma inconstitucionalidade

Nota: Anteriormente se uma lei contrariasse a constituição, havia uma


inconstitucionalidade (controlada pelo TC); se um regulamento contrariasse uma
lei havia uma ilegalidade (controlada pelos tribunais administrativos).
Entretanto, no nível legal, além das leis ordinárias, surgiram leis com valor
reforçado, que não podiam ser contrariadas pelas leis ordinárias simples. Caso
sejam contrariadas, durante muito tempo os tribunais administrativos recusavam-
se a apreciar, porque apenas controlavam os regulamentos relativamente às leis.
O TC também se recusava, porque dizia que apenas controlava as leis
relativamente à constituição. Na revisão de 1989 (?), introduziu-se o art. 281/1/b,
considerando-se este facto (quando uma lei ordinária simples contraria uma lei de
valor reforçado) estamos perante uma ilegalidade, controlada pelo TC.

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DECRETOS – LEIS

A figura dos decretos-leis surgiu com a Constituição de 1911. Eram os dec-leis


com uso de autorização legislativa. Instituiu-se também a fiscalização da
constitucionalidade. Com a Constituição de 1933, autorizou-se também que o
Governo legislasse, ao abrigo do estado de urgência e necessidade, legislando
sempre ao abrigo desta desculpa. Em 1945, repôs-se a verdade dos factos,
igualando o valor dos decretos-lei às leis. A Constituição de 1976 (art.º 198 –
Competência legislativa do Governo, consagrando-se quatro tipos de decretos-
lei:
1. Concorrentes (artº 168/1/a; artº 112/2, 1ª parte, em matérias fora dos
artigos 164 e 165);
2. Autorizados (artº 198/1/b, artº 112/2, 2ª parte);
3. Desenvolvimento (artº 198/1/c, artº 112/2, 2ª parte;
4. Decretos-lei de competência exclusiva do Governo (art.º 198/2 –
Reserva de decretos-lei).
Nota: Fora das matérias do artº 164, 165 e algumas alíneas do artº 161, o
Governo pode legislar em pé de igualdade com a A.R. Relativamente às matérias
reservadas à A.R., o Governo não pode legislar, mas pode apresentar propostas
de lei.

Nota: Exceptuando os dec-leis de competência exclusiva do Governo, todos os


outros dec-leis (concorrentes, autorizados e desenvolvimento), podem ser
chamados à A.R. para efeitos de alteração ou cessação da urgência ao abrigo do
artº 169/1 da Constituição. A redacção do artigo 169 – No texto da Constituição de
1976 falava-se na ratificação (até à revisão de 97).

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A ratificação pode ser:

1. Expressa (passa pela AR)


• Por simples resolução
• Com emendas

2. Tácita

Na ratificação tácita, se um determinado número de deputados, durante um


certo intervalo de tempo, não chamasse o decreto-lei à A.R., para que esta se
pronunciasse sobre ele, este considerava-se tacitamente ratificado.
A ratificação (que vinha da Constituição de 1933) é hoje chamada “apreciação
parlamentar”, depois da revisão de 1997.

Nota: No artigo 48º da Constituição de Weimar, dizia-se que em cada caso de


urgência, o presidente do Reich podia legislar. Foi este artigo que legitimou as leis
de Hitler.

1 - Expressa (passa pela AR)


• Por simples resolução
• Com emendas

Resolução – é uma forma dos órgãos colegiais (A.R. ou Concelho de


Ministros), tomarem deliberações sem terem que recorrer a um acto normativo
mais solene (lei, decreto-lei ou decreto regulamentar). Não estão sujeitas a
promulgação – Artº 166/6 CRP – forma dos actos da AR.

Na ratificação expressa por simples resolução um decreto-lei era


chamado à A.R., por um dos partidos, e a maioria aprovava por simples resolução
(ratificação) sem ser alterado. O decreto-lei saia da AR com o mesmo conteúdo,
tal como tinha entrado.

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Na ratificação expressa com emendas o procedimento é igual, porém,
alguém apresentava propostas de alteração ao decreto-lei (emendas). Caso as
emendas fossem aprovadas iniciava-se um novo procedimento legislativo, que
começava com uma proposta de alteração, que caso fossem aprovadas saíam
com a forma de lei (ex: decreto-lei nº x, com alterações aprovadas da lei nº y).
As propostas de emenda são as actuais propostas de alteração – artº 169/2
Constituição).

Nota: O instituto da ratificação advém da Constituição de 1933.


Na revisão de 1982, procurou-se alterar o instituto da ratificação passando
os decretos-leis a serem chamados à A.R., mas apenas para alteração, ou para
recusa de ratificação, desaparecendo a ratificação tácita e a ratificação
expressa por simples resolução. Isto aconteceu, porque muitas forças politicas
defendiam que este instituto estava ainda muito ligado à Constituição de 1933.

Revisão de 1982 – Decretos-leis

• Alterações
• Recusa de ratificação

Depois de 1982, alguns autores dizem que só se pode falar de ratificação


indirecta porque o termo “ratificação”, implica aprovação, quando na verdade
passou-se apenas a alterar ou recusar a ratificação dos decretos-leis. Só havia
uma ratificação indirecta quando havia uma recusa das propostas de alteração ou
das propostas de recusa de ratificação, passando o decreto-lei pela A.R., não
sendo alterado. Contudo, alguns autores diziam que nem sequer se poderia falar
de ratificação indirecta, ou mesmo de ratificação, porque a A.R. apenas recusou
as propostas de alteração e as propostas de recusa de ratificação.
Só na revisão de 1997 é que se aboliu completamente o termo “ratificação”.
O artigo 169, fala na epígrafe, de apreciação parlamentar de actos legislativos –
Decretos-leis. As leis não têm aprovação pela A.R. porque é ela quem as elabora.

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Nota: Os decretos-leis não têm obrigatoriamente que passar pela aprovação da
A.R.

A apreciação parlamentar de actos legislativos, recai apenas sobre os


decretos-leis e os decretos legislativos regionais autorizados (artº 227/4), com
excepção dos decretos-leis de competência exclusiva (artº 169/1).
Na revisão de 1997, os decretos-leis podem ser chamados à A.R. para efeitos de
alteração ou cessação de vigência desaparecendo a recusa de ratificação
(epígrafe e nº4 do artº 169). No caso da cessação da vigência os efeitos são ex
nunc (efeitos prospectivos).

Nota: Artº 169/1 – Os decretos-lei são plenamente válidos após a publicação,


porém, nos 30 dias referidos, a sua eficácia é provisória (porque está ainda sujeito
a ser chamado a apreciação parlamentar.

Nota: Na cessação da vigência não se fala de repristinação (artº 169/4). Esta


questão subentende que a A.R. procederá como entender.

DECRETOS LEGISLATIVOS REGIONAIS (ARTº 227)

Tipos de decretos legislativos regionais:

• Primários ou de concretização de princípios ou concorrentes (art.º 227/1/a);


• Autorizados (art.º 227/1/b);
• Desenvolvimento (art.º 227/1/c).

Decretos legislativos regionais (artº 112/4) visam sobre as matérias:


• De interesse especifico para as respectivas regiões;
• Matérias não reservadas à A.R;

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• Têm que respeitar os princípios fundamentais das leis gerais da república
(vem contra a Constituição, segundo o texto primitivo. Isto foi posterior,
porque o respeito pela Constituição está pressuposto)

Decretos Legislativos Regionais Primários ou de concretização de


princípios ou concorrentes (art.º 227/1/a)):
Devem:

• Respeitar os princípios fundamentais das leis gerais da república

Foi na revisão de 97 que o art.º 112/5 - são leis gerais da república, as leis
e os decretos-leis, cuja razão de ser, envolva a sua aplicação a todo o território
nacional e que assim o decretem. (passou a ter o assim o decretem)

Quais são os problemas?


Os decretos legislativos regionais têm que respeitar os princípios
fundamentais das leis gerais da república.

Novidades quanto ao conceito de leis gerais da republica?


A autonomia das regiões autónomas aumenta porque inicialmente a sua
actividade legislativa estava subordinada às leis gerais da república e a partir
da revisão de 97 passa a estar subordinada aos princípios fundamentais das
leis gerais da república.
Se alterarem os princípios fundamentais das leis gerais da república, os
decretos legislativos regionais sofrem de uma ilegalidade superveniente –
art.º 112.º /5.
Estes decretos legislativos regionais podem ser antecipados pelas
regiões autónomas, mas podem ser tornados ilegais supervenientemente –
ilegalidade superveniente – se não estiverem de acordo com os princípios
fundamentais das leis gerais da república.

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o Interesse especifico das regiões autónomas art.º 228º - foi alargada
a matéria de interesse especifico
o Matérias não reservadas à A.R. (de competência própria dos órgãos
de soberania)

Decretos Legislativos Regionais autorizados art.º 227/1/b)


Art.º 112/4
1 – Autorização da AR
Pressupõem uma lei de autorização da AR e têm que a respeitar.
Estão subordinados aos princípios fundamentais das leis gerais da
república.
2 – Matérias de interesse específico
3 – Matérias não reservadas à competência própria de outros órgãos de
soberania

Características:

Cláusula de junção art.º 227/2 – as propostas de lei de autorização devem


ser acompanhadas do anteprojecto do decreto legislativo regional a autorizar.
Existe um controlo político preventivo.

No caso da cessação da vigência de um decreto-lei, os efeitos são apenas


prospectivos, contudo, é possível pedir a declaração de inconstitucionalidade de
normas já revogadas, com o intuito de obter efeitos retroactivos (“ex tunc”),
apagando assim os efeitos que este produziu.

Na revisão de 1982, retirou-se a ratificação tácita, na medida em que era


uma ficção jurídica (era apenas uma forma de deixar passar os decretos-lei que
não eram conhecidos pelos deputados).

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Nota: O art.º 169 (apreciação parlamentar de actos legislativos), art.º 162/c).
Só os decretos legislativos regionais autorizados é que podem ter apreciação
parlamentar.

Decretos Legislativos Regionais de desenvolvimento art.º 227/1/c)

- Em função do interesse especifico das regiões


- Podem desenvolver as bases em matérias não reservadas

São decretos legislativos regionais mais restritos porque desenvolvem as


bases (não podem contrariar as leis de bases) e não os princípios fundamentais
das leis gerais da república (são mais vagos).

TEORIA DO ESTATUTO E DO DIREITO (historicamente)

Existiu sempre uma preocupação em caracterizar materialmente a lei. “Uma


lei só é lei se tiver referência à justiça”. A lei era um acto normativo que intervinha
na liberdade e propriedade (se. XIX) ou que intervinha na esfera jurídica dos
cidadãos.
A lei tem um sentido justo, geral e abstracto. No sec. XIX existiam poucas
leis porque o Estado não intervinha na sociedade.

Foi baseado no art.º 48º da Constituição de Weimar (1919) que “permitia ao


presidente do Reicch emanar ordenanças com valor de lei, em caso de
necessidade”, que Carl Shmitt defende que as ordenanças têm a forma de lei do
ponto de vista do seu valor, pois do ponto de vista do seu conteúdo estas
ordenanças são simultaneamente leis e execução de leis e chamou-lhes
medidas (não são gerais e abstractas).

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O seu discípulo Forsthoff continuou este pensamento e, após a 1ª Grande
Guerra, analisou outra realidade na medida em que era o Parlamento quem
elaborava estas leis diferentes que eram individuais e concretas, pois intervinha
directamente em casos concretos de ordem económica e social. Chamou-lhes
Leis-medida prestando assim homenagem ao seu mestre.

LEIS-MEDIDA
São leis individuais, concretas e transitórias.


LEIS CLÁSSICAS
São leis gerais, abstractas e duradouras.

É de continuar-se a exigir a generalidade e a abstracção como características


fundamentais da lei?

R: Não. O Estado é bastante intervencionista na economia e na sociedade, pois


este conceito é de um estado social que se preocupa com outros interesses.

A CRP PROIBE AS LEIS MEDIDA?

Proíbe-as apenas no domínio das leis restritivas de direitos, liberdades e


garantias (art.º 18º/3). Se não for nestas circunstâncias a CRP não proíbe as leis-
medida, pois hoje estamos a mãos com um Estado intervencionista que tende a
favorecer as classes mais desfavorecidas.

Actos legislativos:

Lei (definição formal) – é um acto normativo da AR, com função legislativa,


seguindo o procedimento legislativo previsto na CRP (art.ºs 166 e 167), que
reveste a forma de lei.
Decreto-Lei - é um acto normativo do Governo.

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Decreto Legislativo Regional - é um acto normativo das Assembleias
Legislativas Regionais.

Porque é que hoje só podemos dar uma definição formal de lei, ao contrário do
que se fazia nos outros séculos?

R: Porque hoje temos o princípio da constitucionalidade e tribunais que o


defendem.

REGULAMENTOS

-- Constituição

__ Lei

-- Regulamentos

Regulamentos – São actos normativos emanados pelo governo no


exercício de funções administrativas, com carácter subalterno e complementar em
relação às leis.

Área normativa – domínio legislativo/lei - O legislador não esgota toda a


disciplina normativa –
Área regulamentar – domínio regulamentar/regulamentos – completam as leis –
asseguram a boa execução das leis –
Não há uma reserva de regulamentos

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TIPOS DE REGULAMENTOS:

Regulamentos de execução

São os regulamentos que se referem a preceitos específicos e são


necessários para que as leis sejam convenientemente executadas e que a
Administração deve publicar por iniciativa própria.
Ex: - É proibida a propaganda nos monumentos
- A CM Porto estabelece uma portaria sobre os monumentos da cidade

Regulamentos complementares da lei

São regulamentos que se referem globalmente a uma lei.

Regulamentos independentes

A lei estabelece apenas a competência objectiva e subjectiva para a sua


emissão. Art.º 112º / 8
Ex: A lei diz: “Esta matéria (competência objectiva) vai ser disciplinada por
esta entidade (competência subjectiva) ”.

Relação dos regulamentos com a lei Os regulamentos estão subordinados


às leis Principio da subordinação da administração à lei Um regulamento
não pode contrariar uma lei.

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PRINCIPIO DA LEGALIDADE DA ADMINISTRAÇÃO

No séc. XIX este princípio da subordinação dos regulamentos às leis


estava dividido em 2 princípios:

Principio da reserva da lei

- Os regulamentos não podiam intervir.


- Havia certas matérias que só podiam ser reguladas sob a forma de lei –
propriedade e liberdade.
No entanto, em matérias não reservadas (que não fossem de propriedade e
liberdade), a Administração (monarca) podia regular, logo que não fossem contra
as leis existentes.

Principio da prevalência da lei

As leis são os actos normativos hierarquicamente superiores, logo os actos


da Administração fossem eles regulamentos ou actos administrativos não as
podem contrariar sob pena de ilegalidade (ilegalidade clássica – a controlar pelos
tribunais administrativos).
Foi o legislador de revisão que resolveu este problema dando-lhe o nome
de ilegalidade.

Ilegalidade atípica – é quando um acto legislativo contraria outro acto legislativo


com a mesma hierarquia normativa. Não é uma ilegalidade clássica.

Contudo este princípio mostrou-se insuficiente uma vez que o monarca


podia “ex novum” adiantar-se e disciplinar matérias ainda não reguladas por lei.

No SEC. XX surgiu um novo princípio:

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Principio da precedência da lei – art.º 112/7

Actividade regulamentar do executivo:

Quanto ao objecto que se situa fora da reserva de lei, existia um poder


regulamentar autónomo do executivo que podia ser exercido PRAETER LEGEM
(além da lei), isto é, sem necessidade de invocar um fundamento legal específico,
mas nunca CONTRA LEGEM. A lei não era fundamento, mas apenas limite. Trata-
se da monarquia absoluta transformada: o poder regulamentar do rei constituía a
parte do seu antigo poder legislativo que ele conseguiu conservar, apesar da
formação a seu lado de um parlamento representando as forças aristocráticas ou
democráticas.

Art.º 112º/8

Não existe poder regulamentar sem fundamento numa lei anterior. Não
pode haver regulamento sem lei, ou seja, há precedência da lei relativamente a
toda a actividade regulamentar e há o dever de citação da lei habilitante por parte
de todos os regulamentos. Se assim não acontecer, surge um vício formal.

Carácter complementar dos regulamentos relativamente às leis – art.º 199 c)


Art.º 199º/ g)
Regulamentos autónomos – são regulamentos directamente fundados na CRP,
isto é, à margem de qualquer norma habilitadora do legislador.
Os administrativistas não concordam com esta alínea da CRP.

Argumentos para os constitucionalistas:


- O governo está submetido à CRP
- Está limitado pelos princípios gerais do Direito
Mas por vezes pode ser necessária alguma urgência na execução destes
regulamentos.

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DIREITOS FUNDAMENTAIS

- Positivação – Constitucionalização dos direitos do Homem


- Raízes dos direitos fundamentais
- Os vários momentos da consciencialização da ideia dos direitos do
homem.
- Evolução dos direitos fundamentais
- As várias gerações de direitos fundamentais
- Todos os direitos fundamentais constam do catálogo (art.º 12º ao art.º 79º)?
Ou existem direitos fundamentais dispersos ao longo da CRP?
- Há direitos fundamentais fora da própria CRP? Direitos extra-
constitucionais (direitos fundamentais só formalmente constitucionais)
- Há na CRP, direitos só formalmente constitucionais? (no seu conteúdo não
são verdadeiramente constitucionais)
- Regime geral que se aplica a todos os direitos fundamentais
- Regime especifico dos direitos, liberdades e garantias
- Meios de defesa dos direitos fundamentais

POSITIVAÇÃO – CONSTITUCIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM

Os direitos fundamentais foram positivados com as revoluções liberais dos


EUA e da França.
A declaração de direitos fundamentais mais importante foi a do Estado da
Virgínia em 1776 (EUA) e a declaração dos direitos do homem e do cidadão em
França no ano de 1789.
Alguns autores dão mais valor à do estado Americano, outros por sua vez à
declaração francesa.
A burguesia foi a classe que mais defendeu a declaração e positivação dos
direitos humanos – lutava-se contra os privilégios (leis privadas da nobreza e do
clero)

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RAÍZES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
- Os vários momentos da consciencialização da ideia dos direitos do
homem.

1.º Antiguidade clássica


Seria possível estabelecer a ideia dos direitos do homem na Antiguidade
Clássica?
R: Não.
Existia nesta época a escravatura que funcionava como um obstáculo
epistemológico – impedia que as pessoas defendessem esses direitos.
Os Sofistas trouxeram um pouco de inovação e diziam que os homens
eram biologicamente iguais, parecendo estar latente uma igualdade natural, uma
ideia de humanidade.
Platão e Aristóteles consideravam que a divisão da sociedade era um mal
irremediável natural. Achavam que como existiam várias raças, por consequência
os homens eram diferentes.

2.º Cristianismo

Veio chamar a atenção para que, todos os homens são iguais diante de
Deus. Há uma identidade não só biológica mas também da alma, igual.
Alguns autores concordam com este momento, outros acham que o
cristianismo abafou os movimentos revolucionários – resignação do homem
relativamente à luta uma vez que a recompensa era a nível divino.

3.º Idade Média

Apareceram os Direitos Estamentais – direitos das várias classes sociais

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Estes direitos aparecem em Inglaterra com a Magna Carta datada de 1215
de João Sem Terra.
Eram direitos não individuais, mas das classes, dos estamentos (nobres)
Não são direitos fundamentais, visto que eram direitos de cada uma das
classes sociais e não do homem, pelo facto de ser homem.
Foi um movimento muito importante para a ideia dos direitos do homem.

4.º Idade Moderna Sec. XVII

Alguns autores consideram esta época muito importante:


Época do Milagre Filosófico: SUBJECTIVAÇÃO DO DIREITO NATURAL

O direito natural transformou-se em direitos naturais subjectivos.


Até ao séc. XVII falava-se no direito natural que era uma ordem universal,
ahistórica (não muda com a história), heterónoma que se impunha ao poder
político que se expressava em comandos: Não se pode matar… Não se pode
torturar…. Quando se subjectivaram estes comandos (transformaram) passou a
ter-se: Todos têm direito à vida…Todos tem direito à integridade física…
Os comandos que se davam ao poder político transformaram-se em
direitos naturais subjectivos.

Hobbes defendia que os homens antes de terem vivido em sociedade,


viveram num estado de natureza com os respectivos direitos naturais (à vida, à
integridade física). Depois através de um contrato social para garantir os direitos
naturais, o poder passa a legitimar-se através do consenso e tem de respeitar
esses direitos, passando assim a formar uma sociedade civil.

Causas religiosas – Revolta Cuperciana

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EVOLUÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
(aqueles que já estão positivados)

Fala-se em vários níveis de cristalização dos direitos fundamentais ou


em várias gerações de direitos fundamentais.

Sistematização de direitos fundamentais na CRP

- Direitos, liberdades e garantias


- Pessoais (à vida, à integridade física..)
- Participação política (voto, greve…)
- Trabalhadores
(Direitos contra o Estado)

- Direitos económicos, sociais e culturais


Nestes direitos exige-se não uma abstenção mas uma acção eficaz de Estado.

Será que o catálogo das declarações de direitos se manteve estanque ou sofreu


evoluções?
R: Sofreu evoluções

A declaração dos direitos do homem e do cidadão – 1789.


- Direitos do homem – no estado natureza o homem tinha direitos
naturais / pré-estatais, existia uma esfera de liberdade onde o Estado não
intervinha, pois lutava-se contra a intervenção do Estado na sociedade.
- Direitos do cidadão – direitos de participação política.

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Existem várias gerações / níveis de cristalização / níveis de sedimentação de
direitos fundamentais – obedecem a um critério cronológico

1.º Nível – Cristalização da ideia de liberdade


Direitos pré-estatais – direitos naturais – defesa dos cidadãos contra
o Estado – abstenção do Estado
Foram os primeiros direitos a entrarem na consciência jurídica dos
cidadãos, e foi esta ideia de liberdade que deu origem à revolução francesa.
Direitos abstractos – não se ligou o homem à sua condição social. O
homem tem estes direitos e não se preocupa com os outros.

2.º Nível – Cristalização da participação política (direito de voto) – Ideia


de democracia
Apesar da teoria de Sieyés não havia sufrágio universal. Este é sem dúvida
o direito mais importante. Antes não havia sufrágio universal pois havia distinção
entre cidadãos activos e passivos.

3.º Nível – Cristalização da ideia de igualdade material


Direitos dos trabalhadores + direitos económicos, sociais e culturais
Esta ideia está ligada à Constituição de Weimar (1919). Estes direitos não
são contra o Estado mas sim através do Estado para proteger as classes mais
desfavorecidas – direitos positivos – direitos a prestações.
Quanto mais intervencionista fosse o Estado, melhor seria.
Art.º 9/d e 81/a da CRP

4.º Nível – Cristalização da ideia de solidariedade


Direitos dos povos:
- Direito à paz
- Direito à qualidade de vida
- Direito à liberdade informática

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Tem relação com o desenvolvimento técnico e científico. É preciso controlar
a indústria nuclear porque sabe-se que o mundo pode ser destruído de uma
maneira muito simples. Com o desenvolvimento científico e tecnológico, o homem
está a ir contra a qualidade de vida e do ambiente.

TODOS OS DIREITOS FUNDAMENTAIS CONSTAM DO CATÁLOGO (art.º 12º


ao art.º 79º)?
OU EXISTEM DIREITOS FUNDAMENTAIS DISPERSOS AO LONGO DA CRP?

R: Existem direitos fundamentais fora do catálogo e dispersos na CRP


Art.º 98º, 103/3, 268/2/3/4/5

HÁ DIREITOS FUNDAMENTAIS FORA DA PRÓPRIA CRP?


DIREITOS EXTRA-CONSTITUCIONAIS (direitos fundamentais só formalmente
constitucionais)?
R: Sim. Além dos direitos fundamentais que estão no catálogo e fora dele na CRP,
existem direitos fundamentais fora da CRP que são apenas materialmente
constitucionais.
Art.º 16º/1 – existem direitos fundamentais noutras fontes que não a CRP
(elemento de continuidade). A própria CRP dá a base para a existência desses
direitos.

Princípio da Clausula Aberta ou da Não Identificação – os direitos


fundamentais não são apenas os que estão na própria Constituição.

Este principio tem origem na Constituição dos EUA de 1787, que só tinha 7
artigos e diziam respeito à organização política. Os povos do sul tinham a
escravatura logo não tinham direitos fundamentais. Só mais tarde com as
emendas (10) é que esta situação foi alterada. Esta Constituição foi publicada em
1789 e ratificada em 1791.

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Normas de direito internacional
- Ninguém é preso por dívidas
- Ninguém pode ser julgado por uma língua que não conhece

Normas de direito ordinário – art.º 26/1/3 (direitos ligados ao desenvolvimento


genético)
- Começam a aparecer nos códigos e depois passam, através do legislador
constituinte, para as constituições – protecção aos cidadãos – para proteger do
legislador que tem requisitos para restringir os direitos, liberdades e garantias.

Há direitos só formalmente constitucionais?


São direitos fundamentais porque foram positivados na Constituição.

No seu conteúdo não são verdadeiros direitos fundamentais, apesar de


estarem positivados nas Constituição. Na Constituição encontramos direitos formal
e materialmente constitucionais e outros só formalmente constitucionais.

Há autores que defendem que há direitos só formalmente constitucionais e


outros que dizem que há direitos formal e materialmente constitucionais.

Dr. Canotilho acha que o conceito de direitos só formalmente


constitucionais não está de acordo com a concepção antropológica da nossa CRP.

Direitos só formalmente constitucionais – existem porque o legislador constituinte,


por pressão do PREC, os colocou na CRP.

Critica: esta distinção é apenas ideológica.


O Dr. Vieira de Andrade parte de uma pré-compreensão para uma pós-
compreensão (direitos só formalmente constitucionais) sem passar pela
compreensão.

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Pré – compreensão - considera só os direitos humanos individualmente.
Pós – compreensão - considera os direitos de grupos de pessoas.

No que respeita por exemplo aos direitos dos trabalhadores, o Dr. Vieira de
Andrade quer tirá-los do regime dos direitos, liberdades e garantias já que não os
pode tirar da própria Constituição.

REGIME GERAL E REGIME ESPECÍFICO DOS DIREITOS, LIBERDADES E


GARANTIAS

Direitos Fundamentais:
- Direitos, Liberdades e Garantias (art.º 24º a 57º)
- Pessoais
- Participação Política
- Trabalhadores
- Direitos Económicos, Sociais e Culturais

REGIME GERAL
Conjunto de normas que se aplicam a todos os direitos fundamentais:
- Art.º 12º – Principio da universalidade
- Art.º 13º – Principio da igualdade
- Art.º 20º – Acesso à justiça
- Art.º 16º/2 – Principio da interpretação da Declaração Universal dos
Direitos do Homem e do Cidadão
- Art.º 23º – Principio do acesso ao Provedor de Justiça

REGIME ESPECIFICO
Conjunto de normas que se aplicam a direitos, liberdades e garantias
- Art.º 18º, art.º 19/1, art.º 21º, art.º 22º, art.º 165/2/d, art.º 272/3 e
art.º 288/d

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REGIME GERAL

a) PRINCIPIO DA UNIVERSALIDADE – ART.º 12º


Titularidade de direitos fundamentais
Temos que conjugar com o artigo 15º – CRP

Quem é titular de direitos fundamentais?

Regra do tratamento nacional – princípio da equiparação - toda a gente que


viva em Portugal é titular de direitos fundamentais e sujeito aos deveres. Pelo
facto de serem pessoas são sujeitos constitucionais.

Art.º 15º
Temos que distinguir entre:
- Cidadãos portugueses
- Cidadãos dos Estados membros da UE
- Cidadãos dos países de língua portuguesa
- Estrangeiros e apátridas
Logo há:
- Direitos exclusivos dos cidadãos portugueses – art. 15º nº 2
- Direitos dos cidadãos dos Estados membros da UE
- Direitos dos cidadãos dos Países de língua portuguesa
- Direitos dos cidadãos estrangeiros residente em Portugal

Direitos exclusivos dos cidadãos portugueses – art. 15º nº 2

- Direitos políticos (48º a 52º) – temos que conjugar com os art.º 15/ 3, 4 e 5
Mas no art.º 15º nº 3, 4 e 5 existem direitos que são atribuídos a cidadãos
estrangeiros.

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- Exercício de funções públicas que não tenham carácter predominante-
mente técnico (chefias específicas em que se praticam actos de
autoridade), (cargos de altíssima responsabilidade)
- Direitos reservados pela CRP e pela Lei exclusivamente aos cidadãos
portugueses.

A lei e a Constituição podem reservar todos os direitos só aos portugueses?


Não. Ia contra o princípio da igualdade e era um exagero do poder
constituinte de maneira que há um núcleo duro de direitos que nem a CRP nem a
lei podem reservar aos cidadãos portugueses apenas – art.º 19º/6, 36º/1,2, 42º e
26º.
Nota: Como estamos a assistir a um renascimento do racismo e fascismo a
Constituição precaveu-se.

Porquê a distinção feita aos cidadãos anteriormente?


Porque estamos num processo complexo, a caminho de um estado federal
talvez (15/4,3,5).

Quais os direitos de que são titulares os estrangeiros?


Direitos pessoais, de participação política, dos trabalhadores, e direitos
económicos, sociais e culturais.

Art.º 12º nº 2

Titularidade de direitos por parte das pessoas colectivas

1) Direitos de que as pessoas colectivas não são titulares


Há direitos que as pessoas colectivas não são titulares pois não são
compatíveis com a sua natureza, pois pressupõem uma referência humana
(pessoas de carne e osso – Orlando Carvalho).

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Direitos inseparáveis da personalidade singular são incompatíveis com a sua
natureza:
- direito à vida
- direito à integridade física
- direito a constitiuição familiar
- direito a liberdade de consciência

2) Direitos comuns às pessoas colectivas e às pessoas singulares


- Direito ao nome / firma
- Direito à inviolabilidade de domicílio
- Direito a associar-se

3) Direitos fundamentais colectivos – direitos de que são titulares apenas as


pessoas colectivas.

Direitos de que são titulares as pessoas colectivas e não os seus membros


considerados individualmente.

Art.º 40º, 54º/b, 56º

PESSOAS COLECTIVAS DE DIREITO PÚBLICO

As pessoas colectivas de direito público também serão titulares de


direitos fundamentais?

Não é uma questão com soluções uniformes.


No entanto:
Art.º 12º/2 – não há distinção entre pessoas colectivas de direito público e pessoas
colectivas de direito privado. A letra da lei é a favor destes direitos.

40
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Argumento a favor de que as pessoas colectivas de direito público são titulares de
direitos fundamentais:
Tem-se a ideia que os direitos fundamentais são direitos de defesa do
cidadão contra o Estado – concepção clássica.
Estas pessoas colectivas de direito público (autarquias, universidades,
fundações) integram o Estado em sentido amplo, por isso são titulares (sujeitos
activos) e destinatários (sujeitos passivos) de direitos fundamentais,
simultaneamente.

Argumento contra o facto das pessoas colectivas de direito público serem titulares
de direitos fundamentais:

Se surgirem conflitos entre as pessoas colectivas de direito público e o


poder central, não se podem invocar os direitos fundamentais pelo que se
resolvem estes conflitos com a noção dos limites de competência. A estes conflitos
chamam-se Conflitos de competências.

Temos portanto 2 posições:

1ª Posição quanto à titularidade de direitos de pessoas colectivas de direito


público (autarquias, universidades, emissoras de rádio).

Não são titulares de direitos fundamentais.


Conceito clássico de direitos fundamentais – direitos de defesa do cidadão contra
o Estado.

Os conflitos de competências resolvem-se através das regras que regulam


de resolução de conflitos de competências que estão em várias leis.

41
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2ª Posição – outros autores defendem que as pessoas colectivas de direito
público são titulares de direitos fundamentais

a) A letra da lei art.º 12º nº 2 não distingue as pessoas colectivas e não as


distingue de direito público ou privado.
b) Muitas vezes as pessoas colectivas de direito público encontram-se numa
posição de sujeição muito semelhante às pessoas individuais e por isso
parece que a melhor maneira de tutelar (resolver estes conflitos) será
através dos meios de defesa ligados aos direitos fundamentais.

REGIME ESPECÍFICO DOS DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS

Direitos, liberdades e garantias – do art.º 24º até ao art.º 57º

Consiste numa disciplina jurídica de natureza particular, consagrada nas


normas constitucionais e aplicável aos direitos, liberdades e garantias e direitos de
natureza análoga (art.º 17º).

- Art.º 18º, art.º 19/1, art.º 21º, art.º 22º, art.º 165/2/d, art.º 272/3 e art.º 288/d

É um regime mais protector que o regime geral porque luta contra o


autoritarismo.

42
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O que são direitos, liberdades e garantias de natureza análoga?

TRAÇOS ESPECIFICOS DOS DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS

Existem 3 critérios:

1.º - Critério do radical subjectivo


Segundo este critério, são direitos, liberdades e garantias aqueles que
pressuponham a ideia de referência humana, ao homem individual (Dr. Vieira de
Andrade).

Critica: Este critério não tem base legal na própria Constituição, uma vez que nela
está consagrado que as pessoas colectivas também são titulares de direitos,
liberdades e garantias (art.º 12.º/2). Ex: Direito ao nome, liberdade de associação.

2.º - Critério da natureza defensiva ou negativa dos direitos, liberdades


e garantias
Segundo este critério, exige-se que o Estado não intervenha na esfera
jurídica dos cidadãos. Direitos de exigir uma abstenção por parte do Estado –
natureza negativa.
Existe também uma natureza defensiva dos direitos, liberdades e garantias
na medida em que estes são direitos de defesa do cidadão contra o Estado.
Critica à natureza defensiva dos direitos, liberdades e garantias: Nem todos
os direitos, liberdades e garantias que estão na CRP têm como destinatário o
Estado. Há direitos, liberdades e garantias que têm como destinatários o Estado e
também particulares e também existem direitos, liberdades e garantias cujos
destinatários são apenas particulares.

Critica à natureza negativa dos direitos, liberdades e garantias: Existem no


catálogo de direitos fundamentais (art.º 24º a 57º) direitos positivos. Ex: art.º 40º
(direito de antena)

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3.º - Critério da determinação ou da determinabilidade constitucional
Segundo este critério, são direitos, liberdades e garantias aqueles cujo
conteúdo é determinado (ou determinável) ao nível das opções constitucionais,
isto é, da própria Constituição.
Já os direitos económicos, sociais e culturais são aqueles que só se tornam
líquidos (certos) depois da intervenção do legislador. Ex: Direito à saúde – só se
torna certo depois do legislador legislar sobre esta matéria.

Critica: Este último critério é o que tem maior apoio da doutrina (jurisprudência),
no entanto podemos dizer que este critério tem ainda uma certa pré-compreensão
relativamente aos direitos económicos, sociais e culturais, porque se parte do
princípio de que eles ficam na disponibilidade do legislador. Enquanto o legislador
não intervier, eles ficam suspensos. Dá ideia que eles são de menor valor pois
ficam na dependência do legislador ordinário.

Aula prática:

10 – A Constituição pode livremente reservar direitos aos cidadãos portugueses?

R: Não. Porque o poder constituinte originário ou derivado não é omnipotente, pois


depara com limites que são reais e a designação desses limites depende das
constituições filosóficas e das constituições teóricas.

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ART.º 18º – FORÇA JURÍDICA

Art.º 18 n.º 1 - 1ª parte

Os preceitos constitucionais respeitantes a Direitos, Liberdades e Garantias


são DIRECTAMENTE APLICÁVEIS

Doutrina francesa de regulamentação de liberdade


Justificação da doutrina francesa de regulamentação de liberdade
Perigos que continha esta doutrina
Superação da doutrina
Significado da aplicabilidade directa

O que é esta doutrina francesa de regulamentação da liberdade?

Os direitos fundamentais para terem operatividade prática (para serem


aplicados) necessitam da mediação do legislador ordinário. Não bastava estes
direitos estarem consagrados na constituição, enquanto não houvesse a mediação
do legislador ordinário não passavam de simples promessas (Marnoco e Sousa).

O legislador estabelecia os limites e as condições do exercício dos direitos.


Se assim não acontecesse, os direitos eram simples promessas.

CRP 18/ nº1 – Rejeição da doutrina francesa de regulamentação da liberdade

JUSTIFICAÇÃO desta Doutrina Francesa da Regulamentação da Liberdade –


os direitos começaram por ser direitos de liberdade (defesa dos cidadãos e
abstenção por parte do Estado)

a) Carácter altamente filosófico das declarações de direitos – há uma falta de


pragmatismo, por isso não podiam ser directamente aplicáveis.

45
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b) Os direitos fundamentais muitas vezes não constavam do articulado das
constituições, mas de declarações de direitos e dos preâmbulos das
constituições – o legislador era quem tornava os direitos tecnicamente
perfeitos.
c) No séc. XVIII / XIX havia uma grande confiança no legislador ordinário –
burguesia – aquela que fez a revolução, que mudou os rumos. (a lei
traduzia a "volonté générale").

PERIGOS LATENTES desta Doutrina Francesa da Regulamentação da


Liberdade

O legislador podia tomar 2 atitudes que podiam ser lesivos dos direitos
fundamentais:

1) Enquanto não havia mediação do legislador, embora os direitos estivessem


na constituição, era o mesmo que não existissem, os direitos não eram
aplicáveis – Inércia do legislador;
2) O legislador, a pretexto de regulamentação (legislar), acabava por restringir
os direitos fundamentais o que era muito fácil fazer-se porque não havia
ainda o controlo constitucional.

Nota: Sendo assim os direitos fundamentais dependiam quanto à sua existência e


quanto ao seu conteúdo do legislador ordinário.

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SUPERAÇÃO da Doutrina Francesa da Regulamentação da Liberdade

Depois da 2ª Grande Guerra – Constituição de Bona – 1949 - Alemanha


Veio dizer que os preceitos constitucionais respeitantes a Direitos,
Liberdades e Garantias são directamente aplicáveis. Não necessitam da
intervenção do legislador ordinário.

SIGNIFICADO DA APLICABILIDADE DIRECTA

Os direitos valem sem a lei (estão na Constituição e não precisam de


legislação).
(Os direitos só ficam prontos a aplicar depois da mediação do legislador, mas
podem ser aplicados antes (se surgissem conflitos, estes eram resolvidos pelos
tribunais): isto porque a CRP não é um código, o desenvolvimento dos direitos é
feito pelas leis para atingir a perfeição normativa.)

Os direitos valem contra a lei que os vem restringir fora das condições
estabelecidas nos art. 18º / 2 / 3

Os direitos, liberdades e garantias valem sem a lei e valem contra a lei


quando esta os restrinja fora das condições prescritas no art.º 18º n.º 2 e 3.

Todos os direitos que estão na constituição têm que ser regulados por leis
ordinárias.

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Art.º 18º nº1 – 2ª parte

Os preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e


garantias " vinculam entidades públicas e privadas".
Quem fica vinculado pelos direitos, liberdades e garantias são os
DESTINATÁRIOS:

Destinatários dos - Entidades públicas - legislador (legislativo) (1)


direitos, liberdades e - administração (executivo) (2)
garantias - tribunais (judicial) (3)
(sujeitos passivos) - Entidades privadas (igrejas; empresas, sindicatos;
os cidadãos)

(1) Legislador

Estado / Executivo

Cidadão

Direitos de defesa do cidadão contra o Estado.


Inicialmente, os direitos traduziam a defesa do cidadão contra o Estado
(Administração, essencialmente).

Hoje, o legislador também é vinculado por direitos, liberdades e garantias, por


isso não pode emanar leis quando do ponto de vista orgânico (ex. se o governo
legislasse sobre direitos, liberdades e garantias), formal, procedimental (ex. se os
cidadãos não são ouvidos em associações) e material agridam os direitos,
liberdades e garantias, sob a pena de inconstitucionalidade. Hoje existe a
fiscalização da constitucionalidade.

48
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O legislador tem também de emanar leis (art. 40º - "a definir por lei" - se
não o fizer, há uma inconstitucionalidade por omissão). - Tem de haver uma
intervenção legislativa.

(2) Administração
A administração está sob o princípio da legalidade da administração.

"KAGI"
Durante muito tempo os direitos giravam em torno da lei. Hoje é a lei que se
move no âmbito dos direitos fundamentais.

"Os cegos não podem votar"


“Os deficientes motores não podem votar”
São leis inconstitucionais.

Um deficiente motor quer ressenciar-se. Aí o que fazia a Administração?

VINCULAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO

- Princípio da constitucionalidade (d.l.g.)


Administração
está subordinada
ao - Princípio da legalidade (deve obediência à lei) (266º /2º)

1º - Se se tratar de leis constitucionais (que não estejam em contradição com os


direitos, liberdades e garantias).

A administração quando vem executar, concretizar as leis ordinárias deve


fazer uma interpretação "amiga" dos direitos, liberdades e garantias.

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2º - Se se tratar de leis que sejam inconstitucionais (leis que estão em contradição
com direitos, liberdades e garantias): (como as lei acima referidas)

Há um conflito entre o princípio da constitucionalidade e o princípio da legalidade.

Qual deles prevalece?

Prevalece o princípio da legalidade.

Porque a Administração é um corpo muito vasto e heterogéneo. Se se


permitisse um sujeito administrativo não aplicar a lei por achá-la inconstitucional,
gerava-se o caos. A administração não tem qualquer poder de controlo de
constitucionalidade das leis.

No entanto:
Nos termos do art.º 271º / 2 / 3
♦ Deve comunicar ao superior hierárquico que diz que a lei deve ser cumprida,
passando uma confirmação por escrito.
♦ Não deve obediência a ordens de onde possa ficar implícito a prática de
qualquer crime - cessa o dever de obediência.
♦ Direito de residência do cidadão (21).

(3) Tribunais

Art.º 202 / 2; art.º 204º

Aqui, em conflito entre os princípios, prevalece o princípio da


constitucionalidade – os tribunais não aplicam leis que agridam direitos, liberdades
e garantias. Têm que respeitar as garantias processuais. (art.º 29º e 32º)

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VINCULAÇÃO DAS ENTIDADES PRIVADAS – art.º 18º / 1

Exemplos
Designação; - DRITTWIRKUNG
ORIGEM – Onde e porque surgiu a problemática da vinculação de
entidades privadas
Que problemas coloca esta vinculação
Eficácia mediata ou eficácia imediata
Análise global
Sanções que decorrem do desrespeito dos direitos, liberdades e
garantias por parte das entidades privadas

EXEMPLOS

Se num contrato de trabalho tiver o seguinte:


Só se contratam mulheres que façam testes de gravidez e que uma mulher
pode ser despedida por justa causa se, entretanto, engravidar.
Esta cláusula é válida ou não?

E a clausula de celibato?
Só se aceitam professoras que não se casem enquanto leccionarem num colégio
religioso.
Esta cláusula é válida ou não?

E com os trabalhadores que não podem ser contratados por serem de um


determinado partido?

Fazer com que o trabalhador recusasse o seu direito à greve?

As agressões dos particulares não eram reguladas pela constituição, mas


pela autonomia da vontade.

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DESIGNAÇÃO

DRITTWIRKUNG

EFICÁCIA RELATIVAMENTE A TERCEIROS

Esta é a designação mais ajustada, pois não tem a pré-compreensão do


juízo liberal dos direitos, liberdades e garantias de defesa do cidadão contra o
Estado.

EFICÁCIA HORIZONTAL / EFICÁCIA EXTERNA

Os direitos não são só de defesa do cidadão contra o Estado (Eficácia


vertical) mas também de cidadãos contra outros cidadãos.

EFICÁCIA DE D; L; G; NA ORDEM JURIDICA PRIVADA

Todas as expressões anteriores pressupõem uma relação do cidadão


contra o Estado, mas também uma relação de um cidadão contra outro cidadão.

Estado

Cidadão Cidadão

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ORIGEM – Onde e porque surgiu a problemática da vinculação de entidades
privadas

Anos 50, na Alemanha.


O autor mais importante foi IPSEN (autor de esquerda) que colocou a
problemática da vinculação das entidades privadas.
Sabia que havia situações intra-individuais que do ponto de vista formal são
iguais, mas do ponto de vista substancial são relações de subordinação.
“Há relações privadas (intra-individuais) que embora do ponto de vista
formal sejam igualitárias, do ponto de vista material (do seu conteúdo) acabam por
ser relações de subordinação tão ou mais fortes que relações que ligam o
individuo ao Estado”
Exemplo: Relações de trabalho

Mas porquê só nesta altura se falou disto?

Porque o Estado, a partir da 2ª Guerra Mundial, interveio mais na sociedade


e esta organizou-se em fortes centros de poder (empresarial, social, sindical,
comunicação social).

Antes desta problemática, os particulares podiam agredir livremente os


direitos, liberdades e garantias; que eram regulados não pela constituição mas
pelo direito civil (questões intra-individuais).

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QUE PROBLEMAS COLOCA ESTA VINCULAÇÃO?

1) A eficácia horizontal (externa) é incompatível com a concepção clássica dos


direitos fundamentais, porque estes começaram por ser direitos do cidadão
contra o Estado.

Sendo assim, esta vinculação transforma os direitos fundamentais em


princípios objectivos da ordem jurídica civil (vinculam todos os ramos de
direito). Tornam-se inválidos os negócios jurídicos que agridam os direitos,
liberdades e garantias.
A Constituição transforma-se em fonte imediata de direito.

A só contrata B se B for à missa.


Antes o negócio era válido.
Agora com a vinculação das entidades privadas, já não é válido.

2) Os civilistas não gostam desta vinculação e dizem que com esta eficácia
externa se asfixiam os princípios fundamentais do direito civil (autonomia da
vontade e liberdade contratual).

METÁSTASES CANCERÍGENAS DO DIREITO CONSTITUCIONAL


SOBRE O DIREITO CIVIL

O direito constitucional está a espalhar-se pelo direito civil de uma forma


maligna.

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EFICÁCIA MEDIATA OU IMEDIATA

Eficácia só para os poderosos (quando as entidades são poderosas) ou


também entre iguais?

Traduz a divisão da doutrina

Há autores que consideram que a eficácia é eficaz com (mediata) ou sem


(imediata) a intervenção do legislador.
Os civilistas dizem que só se verifica uma eficácia mediata (depois da
intervenção do legislador). Art.º 80º e 280º do CC.

Horster – "o art.º 18 / 1 não se aplica às relações normais e habituais entre os


particulares no tráfico jurídico privado onde não há centros de poder."

ANÁLISE GLOBAL

 Há direitos em que o problema da eficácia externa não se coloca:


• Nos direitos em que o sujeito passivo é o próprio Estado
Art.º 31
Art.º 22

 Há direitos em que o problema está resolvido em que é a própria CRP a


estabelecer a eficácia externa:
38º / 2
36º / 3 sujeito passivo PARTICULARES
53

 Há uma eficácia horizontal através da mediação do legislador (quando o


legislador intervém), (está cada vez mais a legislar no sentido de evitar
clausulas agressoras dos d,l e g)

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Faculdade de direito da Universidade Lusíada do Porto
 Quando nem a CRP se refere à eficácia horizontal nem o legislador
intervém.
Eficácia horizontal imediata e mediação do juiz.

• Os juízes devem fazer uma aplicação do direito privado legalmente


positivado em conformidade com os direitos, liberdades e garantias pela via
da interpretação da própria CRP.
• Se a interpretação conforme os direitos, liberdades e garantias for
insuficiente o juiz deve desaplicar a lei porque a considera inconstitucional.
• A interpretação conforme os direitos, liberdades e garantias das normas de
direito privado utilizará como instrumentos metódicos não apenas as
clássicas cláusulas gerais ou conceitos indeterminados (boa fé; abuso de
direito), mas também através das próprias normas consagradoras e
defensoras dos bens jurídicos absolutos (vida; liberdade, etc)

⇒ Há casos em que os direitos fundamentais não podem aspirar a uma força


conformadora das relações privadas

♦ Quando isso signifique um confisque substancial da autonomia


pessoal e à qual não se pode contrapor um direito subjectivo cujo
núcleo essencial seja sacrificado por uma utilização anormal
dessa autonomia.

SANÇÕES que decorrem do desrespeito dos direitos, liberdades e garantias


por parte das entidades privadas

A viola os direitos de B

O que acontece?

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Faculdade de direito da Universidade Lusíada do Porto
a) Dever-se-ão ter por nulos os contratos ou cláusulas contratuais violadoras
dos direitos fundamentais. Art.º 280º CC
b) A agressão ilícita da esfera individual de outra pessoa deve dar origem a
uma obrigação de indemnização; em casos restritos, como de restaurantes
e cinemas onde existe uma prévia oferta de contratos ao público, poderá
mesmo eventualmente ser de emitir a possibilidade de execução específica.
c) Ainda quando sejam postos em causa valores fundamentais da ordem
jurídica, devidamente tutelados, poderá haver lugar à responsabilidade
penal.

REQUISITOS DAS LEIS RESTRITIVAS DE DIREITOS, LIBERDADES E


GARANTIAS
ARTS. 18º / 2º / 3º

Estatuto da lei restritiva

Para uma lei que seja restritiva de direitos, liberdades e garantias ser
constitucionalmente legítima tem que obedecer a:

7 REQUISITOS:

1) Pressupostos materiais:
a) Só se podem restringir direitos para salvaguardar direitos ou interesses
constitucionalmente protegidos.
b) Que a restrição seja expressamente admitida (ou imposta) pela CRP.
c) A lei restritiva deve respeitar o princípio da proporcionalidade em sentido
amplo.
d) A lei restritiva não pode aniquilar o conteúdo essencial do direito
fundamental que vai ser restringido.

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Faculdade de direito da Universidade Lusíada do Porto
2) Requisitos quanto ao carácter da própria lei
a) A lei restritiva deve revestir carácter geral e abstracto.
b) A lei restritiva não pode ter efeito retroactivo.
c) A lei restritiva deve ser uma lei da AR ou um decreto-lei autorizado-165º1/b

Para sabermos se estamos perante uma lei restritiva temos que ter em
conta:

a) Âmbito de protecção de um direito


b) Restrição de um direito
c) Regulamentação do exercício de um direito

18º / 2º / 3º REQUISITOS DAS LEIS RESTRITIVAS (têm de ser respeitados


cumulativamente)

Actividade do legislador
Âmbito de protecção do direito

LEI - proibição do tráfico de droga SÃO LEIS RESTRITIVAS DA


- Proibição do contrabando LIBERDADE DE PROF.
- Sanção da difamação OU EXPR.?

Âmbito de protecção de direito NÃO

a) Âmbito de protecção de um direito


Quais os bens protegidos pela CRP?
Qual a extensão dessa protecção?

Liberdade de profissão Liberdade de expressão

Prostituiçã
o Dtº à
Trafico de calúnia 58
Faculdade
drogade direito da Universidade Lusíada do Porto
ÂMBITO POTENCIAL – quando a CRP protege um certo bem e protegendo todas
as formas pensáveis de exercícios de um direito (lícitas e ilícitas).

ÂMBITO DE PROTECÇÃO – quando a CRP protege apenas certas formas de


exercício de um direito.

A protecção constitucional é limitada. Quando a CRP protege um certo bem


(vida...) através do reconhecimento e da garantia de um direito, não protege todas
as formas pensáveis de exercício desse direito.

Exemplo art. 47º - liberdade de profissão

Mas não abrange o tráfico e o contrabando

O direito não existe

“Em caso de difamação há uma colisão entre o direito à liberdade de expressão e


o direito ao bom nome e reputação.”
Esta afirmação está bem ou mal?
R: Está mal, pois a difamação faz parte do âmbito potencial mas não do âmbito de
protecção, pois não é um direito protegido.

O âmbito de protecção é menor que o âmbito de potencial.


Nota: Para haver uma colisão de direitos tem de haver dois direitos. No caso da
difamação não existe um direito de liberdade de expressão, pois a difamação é
uma forma anómala e ilícita pensável de exercício deste direito.

59
Faculdade de direito da Universidade Lusíada do Porto
b) Restrição de um direito

Existem os dois direitos e estão numa situação de colisão, pelo que tem de
ser feita uma compressão dos dois direitos.

Exemplo:
Os médicos têm o direito à greve, no entanto, são obrigados a assegurar os
serviços mínimos de saúde.
Aqui estamos perante limites e condicionamentos recíprocos. Limitamos um
direito e outro direito.
Tira-se um bocadinho aos médicos no direito à greve (têm que assegurar os
serviços mínimos de saúde), e tiramos um bocadinho aos cidadãos no direito à
saúde.
Direito de propriedade direito de propaganda política

É necessária uma compressão e limitação dos dois direitos.


(mas há direitos)

c) Regulamentação do exercício de um direito


(não precisa de autorização da própria Constituição)

O legislador vem disciplinar o uso e prevenir o abuso do direito.


O direito está na CRP, mas precisam dos reguladores.
Exemplo:
Para haver uma Manifestação (na CRP) - é necessária a comunicação ao
Governo Civil.
Aqui teve de haver uma regulamentação para o exercício do direito de
manifestação que está na CRP.

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Faculdade de direito da Universidade Lusíada do Porto
REQUISITOS DAS LEIS RESTRITIVAS DE DIREITOS, LIBERDADES E
GARANTIAS
ARTS. 18º / 2º / 3º
7 REQUISITOS

1 - Só se podem restringir direitos para salvaguardar direitos ou interesses


constitucionalmente protegidos.

Para proteger por exemplo:


- Bom nome
- Defesa Nacional
- Reserva da integridade da vida
- Património nacional

2- Que a restrição seja nos casos expressamente previstos na CRP

Há três tipos de limites/ restrições:

- Limites directos / expressos / imediatos – são aqueles em que a CRP


estabelece o direito e logo a seguir a própria restrição desse direito.
45º / 1
46º / 4
- Limites estabelecidos por lei ordinária, mas com autorização da própria
CRP – são os chamados direitos sujeitos a reserva de lei restritiva.

A Constituição estabelece os direitos e deixa no legislador a restrição a


esses direitos. A lei tem de ser autorizada pela Constituição.

Art. 47º / 1
Art. 34º / 4 "salvas as restrições legais"
Art. 57 / 3

61
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- Limites imanentes (limites constitucionais não escritos)

E se não houvesse o n.º 3 do art. 57

Lei – o pessoal de saúde tem de assegurar os serviços mínimos.

É inconstitucional?
Não.
Tem de se aplicar aos limites constitucionais não escritos – quando há colisão
de direitos

Direito à saúde vs. direito à greve

A CRP previu um direito e outro que não pode entrar em colisão com o 1º.

Artigo 44º com o artigo do direito à saúde.

Devido a uma epidemia Não é inconstitucional.

Quando há colisão de direitos devemos tentar harmonizá-los, estabelecendo


limites e condicionamentos recíprocos.

PRINCÍPIO DA HARMONIZAÇÃO / CONCORDÂNCIA PRÁTICA


(não se sacrificam os direitos totalmente)

O direito em causa não contém nenhum limite expresso, directo ou imediato,


também não remete para a lei a possibilidade dessa restrição, no entanto, a
Constituição garante outros direitos que podem entrar em colisão com esse direito,
logo a lei restritiva é constitucional.

62
Faculdade de direito da Universidade Lusíada do Porto
O legislador pode restringir esse direito, utilizando os limites e
condicionamentos recíprocos ou a concordância prática para restringir um
bocadinho de cada direito.
Ex: Art.º 44º e 42º

3 - A lei restritiva deve limitar-se ao necessário


Respeitar o princípio da proporcionalidade em sentido amplo, ou seja, do
princípio da proibição do excesso.
Ex: art.º 266º/2 e 19º/4

Princípio da proibição do excesso / princípio da proporcionalidade em


sentido amplo (é um princípio do Estado de direito)

É um princípio antigo (séc. XVIII / XIX) tendo surgido como um princípio de


direito administrativo; sobretudo, como um princípio que vem limitar as medidas da
polícia (272 / 2 - continuação do princípio).

Hoje, este aparece-nos como um princípio que tem dignidade constitucional


e está consagrado na própria Constituição, não limitando só a Administração, mas
também o próprio legislador.

19º / 4º PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE (e não só


266º / 2º "ao estritamente necessário"

63
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O PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE em sentido amplo ou da proibição
do excesso é um SUPER CONCEITO que:

Vem a desdobrar-se em 3 dimensões:

1) Adequação da medida ao fim


2) Necessidade ou exigibilidade (espacial e temporal)
3) Princípio da proporcionalidade em sentido estrito

1) Adequação da medida ao fim


Peste suína Trás-os-Montes
Foi emanado do Governo um decreto-lei que obrigava a abater todos os animais a
Norte do Tejo.

D.L. - matar os porcos a N. do Tejo(*)


- Vacinação Várias medidas (coactivas) para
- Medicação proteger a saúde pública (FIM)
- Quarentena
(meios) (fim)
(*) medida mais drástica (não respeitava a 2) - ESPACIAL (só os transmontanos)
e temporal (tempo necessário para acabar a peste))
Deve escolher-se de entre os meios disponíveis para atingir os fins, qual o
mais adequado ao caso concreto.

2) Necessidade ou exigibilidade (espacial e temporal)


Escolhe-se o meio menos oneroso possível – o mais barato possível

3) Princípio da proporcionalidade em sentido estrito


Pondera-se as desvantagens dos meios com as vantagens dos fins. (para fins
públicos menores podem tomar-se medidas muito drásticas). (a este pode não
afectar a saúde pública).

64
Faculdade de direito da Universidade Lusíada do Porto
Por vezes os meios coactivos podem ser tão desproporcionados que não
justifiquem os fins conseguidos.

Expl. Lei que vem restringir a liberdade de propaganda para garantir a segurança
rodoviária
Lei que proíbe a propaganda politica sonora
todo o dia
da 12h às 16h

5) A lei restritiva deve revestir carácter geral e abstracto

Geral – n.º indeterminado / indeterminável de pessoas


Abstracta – n.º indeterminado / indeterminável de casos.

Não pode ser individual e concreta

Não podem ser leis - medida

Porque razão a CRP proíbe as leis - medida (individuais e concretas) no


domínio das leis restritivas de direitos, liberdades e garantias? Qual a razão
da exigência constitucional de da generalidade e abstracção para as leis
restritivas de direitos, liberdades e garantias?
• Porque se violava o princípio da igualdade (iriam fazer distinções entre os
cidadãos)
• Poderia haver uma manipulação da forma de lei pelos órgãos legislativos
para praticarem um acto administrativo individual e concreto sobre as
vestes legais indo contra o princípio da separação de poderes. (o governo
utilizar um direito para conter actos administrativos, sabendo que estes são
mais fáceis?!)
• Agressão ao principio da segurança jurídica e da protecção da confiança
que é o princípio densificador do Estado de direito.

65
Faculdade de direito da Universidade Lusíada do Porto
A nossa CRP não proíbe as leis medida (leis individuais e concretas), proíbe-as
apenas no domínio das leis restritivas de direitos, liberdades e garantias.

Pode haver leis-medida desde que aumentem o âmbito dos direitos,


liberdades e garantias.

Leis individuais camufladas

São leis que do ponto de vista do enunciado linguístico (formal) são gerais e
abstractas, mas do ponto de vista material, isto é, segundo o conteúdo e efeitos
dirigem-se na realidade a um círculo determinado ou determinável de pessoas
sendo por isso individuais e concretas.

Exemplo:
Depois de 25 de Abril de 1974 passam à reserva certos militares (era
apenas um militar que se queria tirar do activo)

Formal - geral e abstracta


Material - individual e concreta

Qual o critério que determina este tipo de lei:

Não é a formulação ou o enunciado linguístico, mas o seu conteúdo e


respectivos efeitos (quando a lei vai ser aplicada).

A CRP proíbe estas leis?

A CRP está a proibir estas leis individuais camufladas.

66
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Só no momento da aplicação destas leis é que se consegue ver se elas são
individuais camufladas, pois aplicam-se a um caso concreto e individual (a uma ou
grupo de pessoas).

6) As leis restritivas não podem ter efeitos retroactivos

O que é uma lei retroactiva?

Lei que se aplica a factos passados antes do início da sua vigência.

Devem as leis ser retroactivas?

Em princípio não, porque a norma é um modelo de conduta – só posso


mudar a minha conduta depois de estabelecida.
Mas o direito tem 2 funções antagónicas: (depois da passagem do Estado
Liberal para o Estado Social)

Função estabilizadora de expectativas - capaz de garantir a continuidade da


vida social e os direitos e expectativas legítimas das pessoas. (exige-se que as
leis não sejam retroactivas) – proíbe a retroactividade das leis
Função dinamizadora e modeladora – capaz de ajustar a ordem estabelecida à
evolução social e de promover mesmo esta evolução num determinado
sentido. O direito pode ser instrumento de modelação da sociedade e nesse
sentido evitar revoluções periódicas.

Constituições do séc. XIX – (estado liberal) – direitos de liberdade

Como o Estado Liberal que seria, nas constituições do séc. XIX muitas
vezes se proibia o princípio da retroactividade das leis (para proteger a segurança
jurídica).
Nenhuma lei civil ou criminal pode ter efeitos retroactivos.

67
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Constituições actuais

Constituições do estado social que têm uma preocupação com a função


dinamizadora / modeladora.
Normalmente não há um princípio geral de proibição da retroactividade das
leis, como havia no Estado Liberal.

A nossa CRP – Constituição do Estado Social

Não contém o princípio geral da proibição da retroactividade das leis, no


entanto, proíbe-a em 3 domínios:

- Matéria penal (não há crime sem lei): domínio clássico (mais antigo) (29 / 1 / 4).
A lei não pode criminalizar factos passados, nem punir mais severamente crimes
anteriormente praticados – PRINCÍPIO DA RETROACTIVIDADE DA
PENALIZAÇÃO implica que:

a) A lei não pode qualificar como crimes factos passados, nem aplicar a
crimes anteriores penas mais graves.
b) Que deixa de ser considerado crime o facto que a lei posterior vem
despenalizar ou que passa a ser menos severamente penalizado se a lei
posterior o sancionar com pena mais leve (PRINCÍPIO DA APLICAÇÃO
RETROACTIVA DA LEI PENAL MAIS FAVORÁVEL) (porque na sociedade
já deixou de ser crime).

- Leis restritivas de direitos, liberdades e garantias. (mas se for uma lei


ampliativa e não restritiva já pode haver retroactividade).
- Matéria fiscal (mais recente) (103 / 3) – depois da revisão de 97
Antes da revisão de 97 não existia a art. 103º / 3º que determina a
inconstitucionalidade das normas retroactivas (no domínio fiscal).

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Faculdade de direito da Universidade Lusíada do Porto
Então pode haver a retroactividade de leis em domínios diferentes
(penal, leis restritivas ou fiscal)? As leis retroactivas são sempre
inconstitucionais?

- Princípio proibição do retrocesso social


Parâmetro - Princípio da segurança juridica
Constitucional - Princípio da proporcionalidade
(princípio densificador ) - Princípio da retroactividade das leis

Não.

A orientação normativa – constitucional:

Uma lei retroactiva é sempre inconstitucional quando uma regra


constitucional assim o determina (art. 29º; 18º/3;103º/3), mas além disto, uma lei
retroactiva pode ser inconstitucional quando um princípio constitucional
positivamente plasmado e com suficiente densidade isso justifique, ou seja, não é
pela simples razão de o cidadão ter confiado na não retroactividade das leis que a
retroactividade é juridicamente inadmissível. Mas o cidadão pode confiar na não
retroactividade quando ela se revelar ostensivamente inconstitucional perante
certos princípios juridico-costitucionais (como por exemplo o princípio da
segurança jurídica e da protecção de confiança - princípio densificador do Estado
de direito).

7) SENTIDO DA PALAVRA LEI - 18/2 "a lei só pode restringir"

- Está no sentido de lei formal da AR. 165/1/b


- Sentido de Decreto-Lei autorizado

Excepto as matérias reservadas do 164º


Pode estar no sentido de lei de AR

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Pode ser lei formal da A.R. - Alíneas do 164º - a), f), h), j), l), m), i) e o)

Mas no art. 164º também existem direitos, liberdades e garantias


a)
f) só podem ser regulados por lei formal da AR
h)
j)
m)
o)

Em que medida o regulamento (241º) pode intervir na regulamentação


e restrição dos direitos, liberdades e garantias?

A C.M. estabelece os locais onde se pode pôr a propaganda politica.


Se fosse fora desse local – multa de 5000$ tinha de haver pré - aviso (3
dias)

Para preservar o património


Para preservar a paisagem

A postura será constitucional?

Art. 241º
Os municípios têm por atribuição velar pela elegância e salubridade das
edificações confinantes com ruas e lugares públicos, ou seja, nestas matérias,
agindo designadamente em defesa de valores estéticos e paisagísticos visando
preservar a beleza, as panorâmicas ou a salubridade dos locais, a Assembleia
Municipal pode editar disciplina normativa inicial com eficácia regulamentar
(regulamentos autónomos).

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Este poder regulamentar tem, porém, como limite o domínio reservado à lei.
Aí só é permitida a intervenção do legislador ou do governo quando munido de
autorização legislativa.
O regulamento, designadamente o dos órgãos autárquicos, só é aí
permitido quando for de simples execução. Decorre daí que a disciplina integral
destas matérias, salvo pormenores de execução, sempre susceptíveis de serem
versados em regulamentos, cabe em princípio à lei, excepcionalmente a decreto-
lei e nunca a regulamento.

Acordão 74/84

As autarquias locais podem emanar disciplina normativa inicial com eficácia


regulamentar (regulamentos autónomos) para preservar a elegância e a
salubridade, monumentos, valores estéticos e paisagísticos, no entanto, há limites,
a este poder regulamentar nos domínios reservados à lei.
A disciplina integral destas matérias, salvo pormenores de execução,
sempre susceptíveis de serem versados em regulamentos, cabe em princípio à lei,
excepcionalmente a decreto-lei e nunca a regulamentos. Neste domínio (das
matérias reservadas) nunca pode haver regulamentos independentes só pode
haver regulamentos de execução.

R: Só a AR ou o Governo sob sua autorização é que podiam intervir na


regulamentação e restrição dos direitos, liberdades e garantias.
A autarquia só pode fazer regulamentos de execução.

Doutrina do T.C.
Os regulamentos autónomos nunca podem ser regulamentos independentes; têm
de ser de simples execução

Inconstitucionalidade orgânica
Inconstitucionalidade material – 37 / 2

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ARTIGO 18º Nº3
NÚCLEO (CONTEÚDO) ESSENCIAL

Vamos restringir a liberdade de expressão para salvaguardar:


- Bom nome e reputação
- Reserva de intimidade e vida privada
- Património cultural
- Defesa nacional

Mas temos que salvaguardar (respeitar) o conteúdo essencial da liberdade de


expressão.
Para saber qual o conteúdo essencial:
Quanto ao valor de protecção temos:
- teorias absolutas
- teorias relativas

Quanto ao objecto da protecção temos:


- teorias objectivas
- teorias subjectivas

Teorias Absolutas

O núcleo fundamental (conteúdo essencial) pode ser determinado em


abstracto independentemente de um processo de bens, ou seja, o núcleo da
liberdade de expressão pode ser determinado sem ser para um processo de
ponderação de bens ou naquele caso concreto.
Núcleo essencial – Corresponde ao coração do direito que não pode
nunca ser atingido sob pena do direito deixar de existir.

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Teorias Relativas

O núcleo essencial só pode ser determinado em cada caso concreto


mediante um processo de ponderação de bens.
O núcleo não é fixo, pode variar conforme a dimensão dos bens a proteger.
Esta questão do núcleo distingue-se do princípio de proporcionalidade, na
medida em que depois da restrição deve ainda restar um conteúdo útil ao próprio
direito (adere-se às teorias relativas) está a ser restringido.

Quanto ao objecto de protecção:

Dizem que o que se protege é:


- Garantia geral e abstracta prevista no preceito constitucional (cada uma
das normas que estabelece direitos, liberdades e garantias) – Teoria objectiva
Ex: Quando se diz que toda a gente tem direito à liberdade.
- Posição subjectiva individual (direitos fundamentais / direitos subjectivos)
– Teoria subjectiva
Ex: Uma lei que viesse dizer que uma pessoa que é suspeita de qualquer
crime poderia ser alvo de escutas telefónicas.

Conclusão – ADERIMOS ÀS TEORIAS OBJECTIVAS

O que se protege (núcleo essencial) é a função comunitária, valores que


têm que ser protegidos.

No entanto, ás vezes é preciso tomar em consideração as teorias subjectivas.

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MEIOS DE DEFESA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

1 - Meios de defesa jurisdicionais


2 - Meios de defesa não jurisdicionais

1 - Meios de defesa jurisdicionais

- Direito de acesso aos tribunais – art.º 20º


- Garantia do recurso contencioso – art.º 268 n.º 4
- Acção de responsabilidade (art.º 22º), actos do legislador, actos da administração
- Actos ilícitos
- Actos materiais
- Incidente da inconstitucionalidade
(não temos o recurso de amparo mexicano ou espanhol ou a queixa constitucional
alemã que protege os cidadãos contra actos do estado)
- Direito de acção popular – art.º 52º n.º 3

2 - Meios de defesa não jurisdicionais

- Direito de resistência – art.º 21º


- Direito de petição – art.º 52º – Órgãos de soberania
- Provedor de justiça (art.º 23º)
- Direito a procedimentos justos – art.º 52, n.º 3
- Direito à autodeterminação informativa – art.º 35º - faculdade do particular
determinar e controlar a utilização de dados pessoais (Lei 10/91)
- Direito ao arquivo aberto (democracia participativa) 268º n.º 1 e 2

ESTADO DE DIREITO

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1 – CRP – Preâmbulo, artigos 2.º e 9.º/b)
2 – Origem do conceito
3 – Institucionalização
4 – Elementos (características)
5 – Fórmula Estado de Direito – aparecimento
6 – Evolução do conceito – formalização
7 – Sentido actual do Estado de Direito
8 – Elementos constitutivos
9 – Sub-principios densificadores do Estado de Direito

1 – CRP – Preâmbulo, artigos 2.º e 9.º/b)


Estado de direito democrático.

2 – Origem do conceito
Estado ligado à revolução francesa e americana. Conceito de luta contra a
monarquia absoluta. A monarquia absoluta intervinha na esfera dos particulares e
estes não tinham maneira de se protegerem.
Mas o homem tinha direitos naturais que através de um contrato social o
Estado tinha como função defendê-los. Esses direitos naturais depois passaram a
direitos fundamentais. Criou-se nesta altura o princípio da separação de poderes.

3 – Institucionalização
Revoluções francesa e americana que vieram consagrar o liberalismo vivido
em Inglaterra.

4 – Elementos (características)
O Estado de Direito é um Estado Constitucional

- Principio da separação de poderes


- Império de lei

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- Legalidade da administração
- Independência dos Tribunais
- Catálogo dos direitos fundamentais

PRINCÍPIO DO ESTADO DE DIREITO

- Preâmbulo
- Art.º 2º
- Art.º 9º

A leitura do Estado de direito vem sempre acompanhada de democrático -


princípio democrático

O Estado de Direito corresponde a um Estado Constitucional


- Sentem a separação de poderes
- Catálogo de direitos fundamentais

SEPARAÇÃO DE PODERES
- Império da lei
- Legalidade da administração não vistos em pé de igualdade
- Independência dos tribunais

Estado de Direito era um Estado subordinado ao direito, no seu modo de


agir (por processos jurídicos), já não era o rei que emanava ordens de qualquer
maneira, agora agia-se através de processos jurídicos mas também no seu próprio
querer (porque tinha que respeitar os valores para os quais se tinha constituído o
próprio Estado).

Fórmula RECHTSSTAAT- Estado de direito

76
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Apareceu no século XIX pela mão dos administrativistas alemães - deram
grande contributo para o princípio da subordinação da administração à lei.
Começaram a falar no princípio da legalidade de administração.
Começaram a contemplar as formas que os cidadãos podiam usar para se
defenderem da administração.
Não se falou em direitos fundamentais porque eles já estavam na
consciência.
Caminhou-se para a formalização do Estado de Direito.
No sentido de apagar a ideia dos direitos naturais.
Passou a estudar os mecanismos para a subordinação da administração à
lei.

CARL SCHMITH

Vem dizer que o Estado (nacional socialista) nazista é um Estado de Direito,


pois existe subordinação da administração à lei.

A evolução foi no sentido da formalização – identificar a legalidade da


administração com o princípio de Estado de Direito.

- Inicialmente o Estado estava subordinado ao Direito (pré - estado)


- Passou-se à ideia da subordinação da administração à lei

Hoje o Estado de Direito continua a ter sentido.

SUB-PRINCÍPIOS DENSIFICADORES DO PRINCÍPIO DO ESTADO DE DIREITO

- Princípio da legalidade da administração


- Princípio da proporcionalidade
- Princípio da segurança e da protecção da confiança
Relativamente a:

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a) - actos normativos
b) - actos jurisdicionais
c) - actos administrativos
- Princípio da segurança e das garantias processuais
Garantias de processo jurídico – art.º 20º
- Processo penal;
- Processo administrativo;

ESTRUTURAS ORGANIZATÓRIAS

Temos que distinguir entre formas Estado e formas de governo.

A forma de Estado refere-se à caracterização politico-ideológica do Estado


e às relações de interacção entre o Estado e as estruturas económicas, sociais e
políticas da comunidade.

A forma de governo refere-se à recíproca posição em que se encontram


os diversos órgãos constitucionais de soberania.

Órgãos constitucionais de soberania – art.º 110º CRP – são os órgãos que são
os titulares do poder supremo do Estado (poder de auctoritas, magestas).

Como se desenvolveram na Europa as formas ou sistemas de governo?

Depois da revolução liberal de 1820 em França. Forma de governo que se


impôs com origens na Inglaterra.

Estrutura dualista monárquico-representativa

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Existiam 2 centros de legitimidade de poder

Nomeada pelo Rei

Rei – legitimidade Eleitorado


dinástica Câmar
a
Alta
Nomeação Eleição

Executivo Parlamento
– 1.º
Ministro

Formou-se a figura do 1.º Ministro quando em Inglaterra o Rei, que era


alemão, não sabia falar inglês havendo então um intermediário que levava as
decisões do governo para o Rei assinar.

Traços característicos da forma de governo da estrutura dualista


monárquico-representativa

a) Responsabilidade do 1.º Ministro perante o Rei e irresponsabilidade do


executivo perante o Parlamento.

Controlo primário ou subjectivo – é o controlo que se faz sobre os titulares dos


órgãos.
Controlo secundário ou objectivo – é o controlo que se faz sobre os actos
desses órgãos.
Ex: Quando a AR aprecia os Decretos-Lei do Governo – Controlo secundário

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b) Controlo primário do Rei sobre a Câmara Alta (câmara dos pares)
nomeadamente quando esta era fundamentalmente composta por membros de
nomeação régia.

c) Irresponsabilidade do Rei como chefe do executivo perante o órgão


representativo parlamentar.

FORMA DE GOVERNO DE REGIME PARLAMENTAR

Com a evolução dos tempos a tendência é para o monarca perder


legitimidade e o popular aumentar a sua legitimidade.
Vamos caminhando para um regime parlamentar – onde existe apenas
uma única fonte de legitimidade.

nomeação
base de confiança

direito de
PR eleição dissolução
Executivo
Parlamento

ELEITORADO

O eleitorado escolhe o parlamento através de eleição, o Parlamento


escolhe o executivo numa base de confiança e o executivo tem o direito de
dissolução sobre o Parlamento.

CARACTERISTICAS:

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a) Responsabilidade do gabinete (executivo) perante o Parlamento: o
gabinete (1.º Ministro) é nomeado pelo chefe de Estado (Rei ou PR)
mas deve antes obter a confiança do Parlamento tendo a obrigação de
demitir-se no caso de aprovação de moções de censura ou de rejeição
de votos de confiança.

Num regime parlamentar perfeito o executivo tem um direito de dissolução.

b) Dissolução do Parlamento pelo chefe de Estado sob proposta do


gabinete (1.º Ministro) ou seja a dissolução é feita por decreto
presidencial ou real mas trata-se de um acto de iniciativa do gabinete
que assume a responsabilidade política do mesmo através da
referenda (assinatura do governo perante este decreto) – Dissolução
ministerial ou governamental.

c) Eleição (no caso de se tratar de um regime republicano) do PR pelo


Parlamento, sem relevantes funções de direcção política, mas com um
estatuto constitucional de irresponsabilidade politica perante o mesmo
(Parlamento).

FORMA DE GOVERNO PRESIDENCIAL – Sistema Norte-Americano

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Depois foi copiado pela América latina e degenerou em Presidencialismo.

Assistimos a um dualismo dentro da mesma legitimidade.

o PR pode vetar as leis do Parlamento

o Parlamento pode superar esse veto Parlamento


PR -
USA
nomeação

Governo –
Sec Estado
eleição

eleição

ELEITORADO

Existem 2 centros de poder com a mesma legitimidade.

a) O PR é dotado de legitimidade democrática directa (ou quase directa nos


EUA)
b) Ausência de gabinete ministerial. O PR é simultaneamente chefe de Estado
e chefe do Governo (meros secretários de Estado subordinados ao PR)
c) Ausência de controlo e de responsabilidade entre o PR e o Parlamento. O
PR não tem poderes de dissolução das câmaras e nenhuma destas ou
ambas tem a possibilidade de aprovar moções de censura contra o PR.
d) Poder judiciário activo que através do controlo da constitucionalidade das
leis se transformou num importante contra-poder em momentos históricos
importantes (igualdade racial, direitos da mulher, etc.).

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SISTEMA PARLAMENTAR PRESIDENCIAL OU SEMI-PARLAMENTAR

A constituição de Weimar de 1919 tentou racionalizar o parlamentarismo.


Nosso regime – Portugal

Regime misto parlamentar presidencial

1- Tem traços do regime parlamentar


2- Tem traços do regime presidencial
3- Tem traços do regime dualista – de racionalização do regime parlamentar –
presidencialismo.

o PR tem direito de veto e dissolução do Parlamento

o Parlamento pode superar esse veto Parlamento


tem a confiança do
PR
nomeação

Governo
eleição

eleição

ELEITORADO

1 - Tem traços do regime parlamentar


a) Autonomia do governo (art.º 110º e 182º)
b) Responsabilidade ministerial (190º e 191º) de acordo com o modelo
clássico parlamentar (ou se trata de uma iniciativa da AR através de
uma moção de censura (194º e 195/f) ou de uma iniciativa do
governo através de uma moção de confiança (193º e 195/e))

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c) Referenda ministerial: o governo e o PR partilham certas tarefas,
cabendo a este último comprometer-se quanto a certos actos.

2 - Tem traços do regime presidencial


a) Eleição directa do PR
b) Direito de veto
c) Poderes de direcção politica do próprio PR

3 - Tem traços do regime dualista – de racionalização do regime


parlamentar – presidencialismo.
a) Dupla responsabilidade do governo
b) Direito de dissolução da AR por parte do PR

Poderes do PR – 133º e 134º

______________________________ FIM____________________________

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