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Teorias da Cultura

Ao se discutir o conceito de cultura é sempre difícil se esquivar da polêmica


criada pelos diversos conceitos propostos. A cultura definida apenas como
arte restrita facilita sua conceituação, mas cria uma definição a partir de
uma perspectiva elitista, pois não leva em consideração outras vivências e
manifestações culturais.

No conceito amplo de cultura, existe a ampliação do campo e tudo passa a


ser cultura, mas quando tudo é cultura, nada é cultura. Portanto, esse
conceito é inválido já que não existem fronteiras entre o que é cultura e o
que não é cultura.

Esses são alguns dos dilemas presentes na conceituação do termo. Os


gestores e produtores culturais precisam conhecer essa dificuldade antes
de criarem leis, projetos e planos para a área. É preciso entender que as
subjetividades e a importância simbólica de cada manifestação cultural são
necessárias e precisam de cuidados e fomento por parte do governo.

Mesmo sem uma definição fechada sobre o que é cultura, o ser humano
está em constante busca para dar sentido a tudo e, como no conto “O
Etnógrafo”, de Borges, o sentido se constrói a partir das formas de
expressão do indivíduo e um dos principais recursos para essa construção
de sentidos é a linguagem.
No conto, um etnógrafo retorna de um trabalho de pesquisa de campo em
uma comunidade indígena e comunica ao seu orientador que não pretende
escrever uma tese sobre a experiência vivenciada, pois o que ele constatou
nesses dias em que passou com os índios é que a Ciência é frívola e ele não
poderia descrever sobre os acontecimentos. O etnógrafo percebe que as
narrativas são redutíveis e genéricas, pretendendo assim, ficar em silêncio
e virar apenas mais um bibliotecário de Yale.

Para Terry Eagleton1 a cultura possui complexidade e ambivalência. A


cultura e a natureza se encontram e formam a identidade do indivíduo por
um processo de automodelagem que é formado pelas Faculdades
Superiores (dimensão do intelecto, atividades abstratas) e pelas
Faculdades Inferiores (dimensão do corpo).
Esse processo possibilita a interação entre o que é construído a partir de
nossas relações sociais e o que faz parte de nossa estrutura biológica. Essa
interação proporciona o cultivo e refino das dimensões abstratas do
espírito.

SE CULTURA SIGNIFICA CULTIVO, UM CUIDAR, QUE É ATIVO, DAQUILO


QUE CRESCE NATURALMENTE, O TERMO SUGERE UMA DIALÉTICA
ENTRE O ARTIFICIAL E O NATURAL, ENTRE O QUE FAZEMOS AO MUNDO
E O QUE O MUNDO NOS FAZ. É UMA NOÇÃO “REALISTA”, NO SENTIDO
EPISTEMOLÓGICO, JÁ QUE IMPLICA A EXISTÊNCIA DE UMA NATUREZA
OU MATÉRIA-PRIMA ALÉM DE NÓS; MAS TEM TAMBÉM UMA DIMENSÃO
“CONSTRUTIVISTA”, JÁ QUE ESSA MATÉRIA-PRIMA PRECISA SER
ELABORADA NUMA FORMA HUMANAMENTE SIGNIFICATIVA. ASSIM,
TRATA-SE MENOS DE UMA QUESTÃO DE DESCONSTRUIR A OPOSIÇÃO
ENTRE CULTURA E NATUREZA DO QUE DE RECONHECER QUE O TERMO
“CULTURA” JÁ É UMA TAL DESCONSTRUÇÃO. (EAGLETON, 2011)

No cultivo para a política, uma cultura prioritária existe sobre um tipo de


política consolidando uma hegemonia que define padrões para os sujeitos
conforme as necessidades de uma sociedade politicamente organizada. A
cultura é a base da formação da hegemonia. Gramsci, apresentou um
conceito de hegemonia elaborado e baseado nas relações sociais. Esse
conceito propõe “uma nova relação entre estrutura e superestrutura e
tenta se distanciar da determinação da primeira sobre a segunda” (ALVES,
2010, p. 71).

É possível comparar a influência de uma hegemonia cultural na


legitimação da violência simbólica. Pierre Bourdieu, explicou o processo
pelo qual uma classe economicamente dominante impõe sua cultura aos
dominados.

O SISTEMA SIMBÓLICO DE UMA DETERMINADA CULTURA É UMA


CONSTRUÇÃO SOCIAL E SUA MANUTENÇÃO É FUNDAMENTAL PARA A
PERPETUAÇÃO DE UMA DETERMINADA SOCIEDADE, ATRAVÉS DA
INTERIORIZAÇÃO DA CULTURA POR TODOS OS MEMBROS DA MESMA. A
VIOLÊNCIA SIMBÓLICA EXPRESSA-SE NA IMPOSIÇÃO “LEGÍTIMA” E
DISSIMULADA, COM A INTERIORIZAÇÃO DE UMA CULTURA DOMINANTE,
REPRODUZINDO AS RELAÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO. O DOMINADO
NÃO SE OPÕE AO SEU OPRESSOR, JÁ QUE NÃO SE PERCEBE COMO
VÍTIMA DESTE PROCESSO: AO CONTRÁRIO, O OPRIMIDO CONSIDERA A
SITUAÇÃO NATURAL E INEVITÁVEL. A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA PODE SER
EXERCIDA POR DIFERENTES INSTITUIÇÕES DA SOCIEDADE: O ESTADO,
A MÍDIA, A ESCOLA, ETC.”. (L’APICCIRELLA, 2003)

Raymond Williams definiu cultura pelo conceito antropológico, como


civilidade ou civilização. Essa visão de cultura é cientificista e propõe uma
crítica anticapitalista. Toda manifestação cultural e artística é também uma
manifestação política. Terry Eagleton também se preocupava com a ação
política na arte e, para ele, cultivar uma cultura significa agir politicamente.

Nessa perspectiva, a cultura passa a ser uma incubação ética para a


cidadania. A narrativa estética se realiza numa dimensão antropológica.
Para Stuart Hall2, as identidades são narrativas que sempre remetem a um
passado mitificado e isso gera uma unidade ao discurso.
John Thompson3 define cultura como um processo de interpretação da
realidade. Esse processo ocorre em contextos socialmente estruturados. A
mídia desempenha um papel fundamental como dispositivos de mediação
da modernidade e a cultura está muito ligada aos impactos sociais.
As formas simbólicas, para Thompson, são formadas pelos seguintes
aspectos:

1) Intencional: toda forma simbólica tem uma intenção em dizer algo. O


emissor da mensagem tem sempre uma intenção, mas o que realmente
importa é a percepção do outro, ou seja, como sua mensagem é entendida.
2) Convencional: as formas simbólicas só circulam em ambientes
convencionais que são comuns entre os grupos.
3) Estrutural: estruturas lógicas para construir sentidos e contexto.
4) Referencial: toda forma simbólica se refere a algo distinto. Sempre se
remete à alguma narrativa.
5) Contextual: as formas simbólicas circulam em contextos socialmente
estruturados em que os sentidos são constituídos pela formação dos
contextos.
Assim, a concepção estrutural de cultura é um processo de interpretação
da realidade que acontece em contextos socialmente estruturados. Esses
contextos podem ser Instituições (campos de interação com um conjunto
de regras quase estáveis, há uma certa perenidade nas regras) ou
Estruturas Sociais (campo de interação com assimetrias e hierarquias – a
questão central é o poder).

Os processos de valorização existem com duas vertentes: a simbólica e a


econômica. Na valorização simbólica, existem os mecanismos que
transformam certas formas simbólicas e na valorização econômica, as
formas simbólicas são inseridas na lógica de mercado, transformando os
bens simbólicos em mercadorias.

As transmissões das formas simbólicas podem acontecer por contextos de


interação ao vivo, ou seja, pelo diálogo; podem ocorrer em contextos de
não presença como em uma leitura de um livro ou em contextos de quase
interação midiática que é proporcionada pela televisão, iludindo o
indivíduo por meio de um simulacro.

O conceito de campos de interação, para Pierre Bourdieu, cria três tipos de


capitais, são eles: capital econômico (recursos), capital cultural (no sentido
restrito, cultura erudita) e capital simbólico (prestígio).

Esse capital simbólico é fácil de ser identificado em nossa sociedade por


meio das celebridades que, muitas vezes, não possuem capital cultural e
econômico, mas o seu capital simbólico gera o capital econômico.

A escola de Frankfurt, fundada em 1924, reuniu um círculo de pensadores


marxistas importantes. Dentre os pensadores, estavam Theodor Adorno e
Max Horkheimer que produziram uma série de textos nos quais estava
presente uma análise do período iluminista como mistificação das massas.
O referido texto critica toda concepção das teorias iluministas que diziam
que o conhecimento levaria a emancipação humana.

Adorno e Horkheimer4 também criticavam acidamente o capitalismo. Para


eles, o capitalismo define a instrumentalização que gera uma fragmentação
e causa opressão tecnicista. Cria-se assim, o conceito de Razão
Instrumental que entendia que se a razão não está acoplada com uma ética,
ela pode ser opressora e está ligada aos interesses do capital. A
metodologia PBL (problem based learning), que é o ensino baseado em
problemas, passa a ser um exemplo de como a formação pode aperfeiçoar
a opressão, através da razão instrumental.
Outro conceito importante criado pelos dois autores foi o da Indústria
Cultural, que nomeava a modalidade de arte destinada ao consumo das
massas. Trata-se de produtos “conforme o esquema capitalista de
produção de mercadorias, no qual o valor de uso é reduzido à condição de
mero suporte do valor de troca” (MUSSE, 2015).

Nesse sentido, a Indústria Cultural é a articulação existente entre diversas


frentes que são colonizadas para o capital. É uma lógica produtiva da
cultura na dinâmica capitalista. A estandartização dos comportamentos
gera uma relação estabelecida entre o indivíduo e as obras de arte que
passa a se tornar uma relação de consumo e não mais de fruição da obra.
Não existem mais artistas, pois eles viram funcionários dessa indústria de
entretenimento. Os artistas possuíam autonomia para a criação de sua
obra, mas com o advento da Indústria Cultural, os artistas estão
submetidos ao que o capital quer.

QUEM NÃO SE ADAPTA É MASSACRADO PELA IMPOTÊNCIA ECONÔMICA


QUE SE PROLONGA NA IMPOTÊNCIA ESPIRITUAL DO ISOLADO.
EXCLUÍDO DA INDÚSTRIA É FÁCIL CONVENCÊ-LO DE SUA
INSUFICIÊNCIA. ENQUANTO AGORA, NA PRODUÇÃO MATERIAL, O
MECANISMO DA DEMANDA E DA OFERTA ESTÁ EM VIAS DE DISSOLUÇÃO,
NA SUPERESTRUTURA, ELE OPERA COMO CONTROLE EM PROVEITO
DOS PATRÕES. OS CONSUMIDORES SÃO OS OPERÁRIOS E OS
EMPREGADOS, FAZENDEIROS E PEQUENOS BURGUESES. A
TOTALIDADE DAS INSTITUIÇÕES EXISTENTES OS APRISIONA DE CORPO
E ALMA A PONTO DE SEM RESISTÊNCIA SUCUMBIREM DIANTE DE TUDO
O QUE LHES É OFERECIDO. (ADORO; HORKHEIMER, 2002)

Adorno também refletiu sobre o Tempo Livre e concluiu que mesmo no


momento de lazer, o indivíduo não tem autonomia porque ele usufrui de
produtos oriundos da Indústria Cultural. Para o autor, a saída seria uma
recuperação de uma razão associada a ética pela teoria. A teoria se
contrapõe à ideologia, que seria a falsa consciência.

O fim da guerra fria, em 1989, pela queda do muro de Berlim, cria uma
avalanche conservadora e a vitrine passa a ser os Estados Unidos, o que
gera um processo de globalização. Os teóricos Hobsbawn e Bauman
criticam a cultura no mundo sobre o projeto iluminista.

Hobsbawn5 analisa os festivais e verifica que, apesar de toda a tecnologia,


sempre existe um resgate no passado. Esses festivais se transformam em
local de happenings, eventos efêmeros e sem significado para os
participantes e eles estão incluídos na dinâmica da Indústria Cultural. Para
o autor, “o que caracteriza as artes em nosso século é sua dependência com
a revolução tecnológica, única do ponto de vista histórico, e sua
transformação por ela, em particular no tocante às tecnologias de
comunicação e reprodução” (HOBSBAWN, 2013).
Bauman, ao refletir sobre a modernidade líquida, também evidencia os
happenings e o esvaziamento dos espaços públicos. Nessa modernidade
que não é sólida e surge a partir do capitalismo, o homem descobre sua
capacidade de criação e seu papel de atuação para realizar mudanças nos
paradigmas de produção e consumo. A individualidade é enaltecida e essa
modernidade não dura, ela se renova, pois está sempre se autodestruindo.
Para Bauman6, a cultura “líquida” não se consolida, não projeta nada novo
para o futuro e nem resgata as tradições do passado. É o evento pelo
evento, apenas um happening.

O QUE TORNA “LÍQUIDA” A MODERNIDADE, E ASSIM JUSTIFICA A


ESCOLHA DO NOME, É SUA “MODERNIZAÇÃO” COMPULSIVA E
OBSESSIVA, CAPAZ DE IMPULSIONAR E INTENSIFICAR A SI MESMA, EM
CONSEQUÊNCIA DO QUE, COMO OCORRE COM OS LÍQUIDOS, NENHUMA
DAS FORMAS CONSECUTIVAS DA VIDA SOCIAL É CAPAZ DE MANTER SEU
ASPECTO POR MUITO TEMPO. “DISSOLVER TUDO QUE É SÓLIDO” TEM
SIDO A CARACTERÍSTICA INATA E DEFINIDORA DA FORMA DE VIDA
MODERNA DESDE O PRINCÍPIO. (BAUMAN, 2013)

A modernidade líquida é composta pelo divórcio do poder e da política,


pois o poder é transferido para as esferas das empresas privadas; pela
contaminação da esfera privada com a esfera pública e pela
responsabilização do indivíduo pelo que ele sofre. A felicidade passa a ser
produto da competência individual.

Nessa dinâmica, troca-se os contratos pelas conexões (rede). Antigamente


os contratos eram firmados e cumpridos, atualmente as conexões podem
ser a qualquer momento quebradas, sem nenhuma culpa entre os
indivíduos.

O que há em comum entre os autores mencionados é a dimensão da cultura


dentro da sociedade iluminista. A cultura passa a ser uma mercadoria e é
consumida pelos indivíduos como qualquer outro produto.

A banalização da arte é o que predomina hoje em dia e os artistas estão


reféns da iniciativa privada e passam a ser a ferramenta para que o
marketing cultural das empresas seja realizado. A arte como ferramenta
política quase não existe mais, pois é difícil ser sustentável sem entrar na
dinâmica do capital. A cultura está refém dos happenings e eventos
efêmeros por meio da indústria cultural. É preciso continuar propondo e
criando novas vias de acesso para as manifestações culturais que não
fazem parte dessa indústria do entretenimento e que os artistas possam
simplesmente desempenhar o seu papel: ser artista e não empregados de
seus investidores.

Notas
1 EAGLETON, Terry. A ideia de cultura. Editora UNESP, 2011.
2 HAll, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Editora
Lamparina, 2014.
3 THOMPSON, John. Ideologia e cultura moderna. Editora Vozes, 2001.
4 ADORO, Theodor & HORKHEIMER, Max. A indústria cultural: o
iluminismo como mistificação das massas. Editora Paz e Terra, 2002.
5 HOBSBAWN, Eric. Tempos fraturados. Editora Companhia das Letras,
2013.
6 BAUMAN, Zygmunt. A cultura no mundo líquido moderno. Editora Zahar,
2013.
Bibliografia
ADORO, Theodor & HORKHEIMER, Max. A indústria cultural: o
iluminismo como mistificação das massas. Editora Paz e Terra, 2002.
BAUMAN, Zygmunt. A cultura no mundo líquido moderno. Editora
Zahar, 2013.
BORGES, Jorge Luis. O etnógrafo. Disponível em:
< https://ensaiosenotas.wordpress.com/2012/08/11/o-etnografo >.
Acesso em: 13 dez. 2015.
EAGLETON, Terry. A ideia de cultura. Editora UNESP, 2011.
HAll, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Editora
Lamparina, 2014.

HOBSBAWN, Eric. Tempos fraturados. Editora Companhia das Letras,


2013.
L’APICCIRELLA, Nadime. O Papel da Educação na Legitimação da
Violência Simbólica. São Carlos/SP, Julho de 2003.
MUSSE, Ricardo. Cinco verbetes sobre Theodor W. Adorno. Disponível
em: < http://blogdaboitempo.com.br/2015/11/19/5-verbetes-sobre-
theodor-w-adorno >. Acesso em: 22 nov. 2015.
THOMPSON, John. Ideologia e cultura moderna. Editora Vozes, 2001.
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