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5º
Tânia Regina Oliveira Ramos
Gizelle Kaminski Corso
Período
Florianópolis - 2010
Governo Federal
Presidente da República: Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro de Educação: Fernando Haddad
Secretário de Ensino a Distância: Carlos Eduardo Bielschowky
Coordenador Nacional da Universidade Aberta do Brasil: Celso Costa
Comissão Editorial
Tânia Regina Oliveira Ramos
Izete Lehmkuhl Coelho
Mary Elizabeth Cerutti Rizzati
Equipe de Desenvolvimento de Materiais
Design Instrucional
Responsável: Vanessa Gonzaga Nunes
Designer Instrucional: Tecia Estefana Vailati
Ficha Catalográfica
R175l Ramos, Tânia Regina Oliveira
Literatura e ensino / Tânia Regina Oliveira Ramos, Gizelle
Kaminski Corso. – Florianópolis : LLV/CCE/UFSC, 2010.
104 p.
ISBN 978-85-61482-27-5
Referências ........................................................................................99
Apresentação
N
ossa disciplina objetiva principalmente pensar a futura prática
como professoras e professores de Literatura. Por essa razão ela é
apresentada a partir da voz de uma professora. Sua inquietação e
seu questionamento motivaram a trajetória das nossas escolhas e dos tópicos a
serem aqui apresentados. Eis o que nos escreveu a professora Fabiana Cardoso
Fidelis: “Como sabem, pela primeira vez estou ministrando aulas para o ensino Fabiana Cardoso Fidélis é
professora de ensino mé-
médio. Tenho a disciplina de língua portuguesa (três períodos), na qual se inclui
dio no IFRS e é doutoran-
os conteúdos de literatura. O currículo estabelecido segue mais ou menos o que da do Programa de Pós-
Graduação em Literatura
está nos livros didáticos, conforme as séries, dividido em gramática e períodos
na UFSC, desenvolvendo
literários. O professor faz o plano e organiza sua metodologia em cima do currí- uma pesquisa sobre leitu-
ra e ensino.
culo (na prática, no ensino médio federal, conduz sua aula como acha melhor).
Assim sendo, no que se refere à literatura, tenho tentado trabalhar com a leitu-
ra de algumas obras ou trechos delas – numa perspectiva da tradição – e delas
tirar as características estéticas do período – quero que pelo menos os alunos
conheçam trechos das obras, se não a obra inteira. Bom, estamos reformulando
o currículo dos cursos técnicos na escola e fiquei me perguntando sobre o fato de
a literatura estar incluída na aula de língua portuguesa e o quanto a literatura
fica em segundo plano por isso. Sei que o ideal seria integrar as duas disciplinas, Criado em 1998 e que
de forma que se trabalhasse com análise de textos literários como algo que fizesse tem por objetivo avaliar o
desempenho do estudan-
parte da língua, com suas especificidades, mas na prática sabemos que não é te ao fim da escolaridade
bem isso que ocorre. O professor que tem sua formação voltada para a língua básica. Podem participar
do exame alunos que es-
portuguesa acaba trabalhando muito pouco a literatura ou nem trabalha. Vimos tão concluindo ou que já
isso na pesquisa que fizemos em escolas. Os alunos não conheciam nem tinham concluíram o ensino mé-
dio em anos anteriores. O
lido nenhuma obra literária. Então fiquei me perguntando se não seria melhor Enem também é utilizado
dedicar um período ao ensino de literatura. Acho que o ideal mesmo seriam dois como critério de seleção
para os estudantes que
e dois, ou seja, dois períodos (duas aulas) para o ensino de literatura e dois para pretendem concorrer a
o ensino de língua portuguesa – estrutura e funcionamento da língua, mas acho uma bolsa no Programa
Universidade para Todos
difícil que o aceitem, porque os pedagogos e professores de outras áreas têm a (ProUni). Atualmente,
ideia de que Português é importante, mas que a literatura tem muita “firula”. cerca de 500 universida-
des já usam o resultado
Parece-me que seria positivo para a disciplina de literatura ser novamente reco- do exame como critério
nhecida como disciplina separada; por outro lado, acho que a integração dentro de seleção para o ingresso
no ensino superior, seja
da mesma disciplina, com o mesmo professor, também tem suas vantagens. Os complementando ou
PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais, o Enem- Exame Nacional do Ensino substituindo o vestibular.
Médio, tudo se encaminha para colocar a literatura dentro da área de códigos e
linguagens, apenas como mais um gênero literário, no mesmo status dos outros.
Em um dos simulados do Enem em 2009, por exemplo, o que há de literatura são
apenas duas questões sobre Manoel de Barros, e são questões interpretativas. O
que vocês, que trabalham na sala de aula ou com estágios, pensam a respeito?
Como é nas escolas em que trabalham?”
O desabafo individual foi interpretado por nós como uma angústia coletiva.
Quem de nós já não vivenciou essas questões como professor ou como aluno?
É possível se ensinar literatura? É possível aprender literatura? É possível con-
quistar um espaço disciplinar para a Literatura? Literatura se ensina?
Tânia e Gizelle
Unidade A
A literatura em questão
A literatura em sina Capítulo 01
1 A literatura em sina
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Literatura e ensino
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A literatura em sina Capítulo 01
leitura dos autores e livros clássicos, oferecendo, no primeiro, caminhos
William Shakespeare
de leitura para determinadas obras, afirmando que “Ler bem é um dos (1564-1616) – poeta e
grandes prazeres da solidão [...]. Ler nos conduz à alteridade, seja à nossa dramaturgo inglês; au-
própria ou à de nossos amigos, presentes ou futuros” (BLOOM, 2001a, tor das peças Romeu e
Julieta, Hamlet, Rei Lear,
p. 15). Já no segundo livro, estuda e interpreta 26 escritores, elegendo o entre inúmeras outras.
escritor inglês William Shakespeare como figura central do cânone uni-
versal e do cânone ocidental ao lado do poeta italiano Dante Alighieri.
Dante Alighieri (1265-
Os autores que compõem a lista de cânones foram escolhidos por Bloom
1321) – poeta, escritor
tanto pela sublimidade da temática quanto pela natureza representativa. e político italiano; autor
Para ele, sem o processo da influência literária, não pode haver literatu- da Divina Commedia.
ra forte, canônica, clássica. Um antigo teste para o reconhecimento da
literatura canônica, segundo Harold Bloom, continua sendo a questão e Miguel de Cervantes
a necessidade da releitura. Salienta, porém, que ler o cânone não torna o Saavedra (1547-1616)
ser humano melhor ou pior, um cidadão mais útil ou nocivo à socieda- – romancista, drama-
turgo e poeta espanhol;
de, a verdadeira utilidade de Shakespeare ou Cervantes, de Homero ou
autor de Don Quijote de
Dante, de Chaucer ou Rabelais, “é aumentar nosso próprio eu crescen- la Mancha.
te. [...] Tudo o que o Cânone Ocidental pode nos trazer é o uso correto
de nossa solidão, essa solidão cuja forma final é nosso confronto com
nossa mortalidade” (BLOOM, 2001a, p. 36-37). Homero (séc. VIII a.C.) -
poeta grego que se
Se o cânone, como afirma Bloom, não nos torna melhores nem pio- consagrou pelo gêne-
ro épico; embora haja
res, mais úteis ou nocivos, por que (a boa) literatura? Literatura para
inúmeras contestações
quê? Literatura para quem? a respeito de sua exis-
tência, é compreendido
O professor da USP e importante crítico literário Antonio Candi- como autor das epo-
do, em palestra proferida no curso organizado pela Comissão de Justiça peias Ilíada e Odisseia.
e Paz da Arquidiocese de São Paulo em 1988, intitulada “O direito à lite-
ratura”, palestra posteriormente publicada em livro, elabora uma síntese
Chaucer (1343-1400) -
didática a respeito da função da literatura. Ele afirma estar a literatu-
filósofo, escritor e diplo-
ra “ligada à complexidade de sua natureza” (CANDIDO, 1995, p. 244). mata inglês; autor de
Diante dessa complexidade, aponta três faces: (1) construção de objetos Os Contos da Cantuária
autônomos como estrutura e significado; (2) forma de expressão; ma- [The Canterbury Tales].
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Literatura e ensino
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A literatura em sina Capítulo 01
que o cânone português consegue dar aos Portugueses o sentido exacto da
sua história nacional?” (CEIA, 2004, p. 32). E o cânone brasileiro, na sua opinião,
consegue dar aos Brasileiros o sentido exato de sua história nacional?
4. Você(s) acha(m) que na(s) sua(s) história(s) de vida você(s) teve(tiveram) di-
reito à literatura, como propôs Antonio Candido?
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Preparatório, pré-requisito...
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As institucionalizações da literatura Capítulo 02
2 As institucionalizações da
literatura
A enciclopédia de arte que meu pai me deu. Estupenda, fica comigo,
transferida da categoria de livro/leitura para a de totem. Dela não há quem
me separe. Idem para os outros livros de arte, os catálogos dos museus e os
das grandes exposições.
“Será que a literatura pode ser para nós algo que não uma lembran-
ça de infância?” (BARTHES, 1988c, p. 57), questionou Roland Barthes,
em 1969, em Conferência pronunciada no Colóquio O Ensino da Litera-
tura, intitulada “Reflexões a respeito de um manual”. Essa pergunta do
ensaísta francês vem em virtude de algumas observações que ele apre-
senta a respeito de um manual de história da literatura francesa. Em-
bora definidas pelo próprio autor como “improvisadas”, “simples” e até
“simplistas”, suas observações partem de um questionamento crucial: o
que persiste depois do colégio? Como sobrevive a literatura pós-ensino
médio, pós-vestibular?
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Literatura e ensino
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As institucionalizações da literatura Capítulo 02
Esse movimento artístico foi, também, responsável por fortalecer
determinadas tendências artísticas em detrimento de outras. Erigindo-
se como ponto de referência cultural, a Academia Brasileira de Letras
passou a ser, por duas décadas, um dos representantes oficiais da lite-
ratura brasileira. De acordo com as eleições da Academia, e das compi-
lações das diversas histórias da literatura efetuadas durante anos, foi se
configurando o ensino da literatura, que passou a ser institucionalizado
também pela Escola e pela Universidade.
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Literatura e ensino
A Escola, por outro lado, cujo nascimento foi tão precário quanto
o da imprensa, segundo Marisa Lajolo e Regina Zilberman (1996), foi (e
ainda é) uma das instituições responsáveis por fazer com que os estudan-
tes tenham acesso ao livro e, consequentemente, cheguem à literatura. É
nela que vão atuar os professores, formados/instruídos pela Universidade,
e que se deparam com uma realidade distinta do ambiente acadêmico. Ali
[na escola], são recebidos de braços abertos pelo livro didático e o ado-
tam como fiel companheiro de carreira. Diante dessa situação, indefesos,
os não mais acadêmicos, mas agora professores, entram em constantes
choques de o que/como trazer para a sala de aula o que aprenderam na
universidade. Um desses embates está justamente na proposição de Car-
los Ceia:
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As institucionalizações da literatura Capítulo 02
Sousa, e fortalece suas indignações dizendo que:
Conforme Redação dada
há apenas um autor negro a ser estudado: Cruz e Sousa. Nem há tam- pela Lei nº 11.645, de
2008: “§ 2o Os conteúdos
pouco, na seletividade do cânone de educação literária, autores não- referentes à história e cul-
brancos que tratem da questão racial. O número elevado de escritores tura afro-brasileira e dos
contemporâneos de prosa e poesia não encontra espaço na educação povos indígenas brasilei-
ros serão ministrados no
literária, que igualmente ignora textos literários que tratem da ditadura âmbito de todo o currícu-
militar dos anos 60 a 80, com os contrastes e características multicultu- lo escolar, em especial nas
rais do país, entre gêneros, classes sociais, etnias e suas culturas. (LEAHY- áreas de educação artísti-
ca e de literatura e história
DIOS, 2000, p. 194) brasileiras.”. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.
Apesar de essa afirmação ter sido feita há mais de 10 anos, o es- br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2008/Lei/L11645.
tudo da literatura feita por mulheres, da literatura local e da literatura
htm#art1>. Acesso em: 12
africana, recentemente conclamada a fazer parte dos currículos obriga- jan. 2010.
tórios, está ainda bastante incipiente no meio escolar. Durante anos o
Lei 5.692, de 1971, integra-
ensino da literatura tem sido incluído na disciplina de língua portuguesa, ção das escolas primária
e média, consolidando a
que deveria abarcar questões de “comunicação e expressão”, incluindo
escolaridade em 8 anos,
ensino da gramática, produção de textos e literatura. Embora seja vista ou seja, até os 14 anos de
idade. Essa lei, também,
em grande parte como pretexto para o ensino da gramática, a literatura,
agrupou línguas e literatu-
por estar incluída no currículo escolar, transforma-se em disciplina e, ra em um núcleo chamado
“comunicação e expres-
com sua inclusão no vestibular, garantindo-lhe nova institucionaliza-
são”. (LEAHY-DIOS, 2000)
ção, passa a ser vista como um conteúdo a mais a ser absorvido pelos
alunos.
Professora do Colégio de
Com o intuito de melhorar a qualidade da leitura e escrita dos alu- Aplicação da UFSC. De sua
tese de Doutoramento,
nos que ingressavam no Ensino Superior, segundo Claudete Amália defendida em 2001, resul-
Segalin de Andrade (2003), o professor de grego da Faculdade de Filoso- tou o livro Dez livros e uma
vaga: a leitura de literatura
fia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Henrique Murachco, no vestibular, publicado
sugeriu que a Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST) lan- em 2003.
çasse, em 1989, a primeira lista de indicações de leitura para ser aplicada
em 1990. Na Universidade Federal de Santa Catarina, a cobrança da lei-
As listas do vestibular
tura de literatura para as provas do vestibular entrou em vigor em 1992 da UFSC passaram a ter
e, de lá para cá, pode-se dizer que a leitura de literatura conquistou um destaque não apenas por
incluírem títulos contem-
lugar próprio nas provas dos vestibulares, deixando de ficar obscureci- porâneos, mas também
da na disciplina de língua portuguesa. Essas listas, além de garantirem por inserirem a literatura
catarinense. Essa questão
uma institucionalização a mais para a literatura, também reforçam sua é aprofundada no tópico
sobrevivência entre os conteúdos do ensino médio. “A literatura no vestibular”.
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Literatura e ensino
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As institucionalizações da literatura Capítulo 02
ter uma concepção redutora não apenas em salas de aula e cursos universitá-
rios, mas quando é apresentada por jornalistas que resenham livros, e mesmo
entre escritores. O que você(s) pensa(m) disso? Você(s) concorda(m) com ele?
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Troca de experiências
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Unidade B
Professores, alunos e literatura
Relação literatura e ensino Capítulo 03
3 Relação literatura e ensino
Ensinar e aprender literatura é um processo permanentemente à beira de
mudanças radicais. (LEAHY-DIOS, 2000, p. 283)
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Literatura e ensino
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Relação literatura e ensino Capítulo 03
ainda como disciplina à parte; por outro lado, sua presença é marcante
nas aulas de leitura, ponto em que a literatura entra em cena. Em con-
trapartida, no ensino médio, a literatura possui alguma autonomia de
disciplina. Neste momento de pensar o caráter da literatura (ou a leitura)
enquanto disciplina curricular é importante registrarmos a proposta do
Ministério da Educação (MEC) de 2009, que pretende acabar com a divi-
são por disciplinas presente no atual currículo do ensino médio, o antigo
colegial – considerado pelo governo como a etapa mais problemática do
sistema educacional. A intenção é criar quatro grupos mais amplos (lín-
guas; matemática; humanas; e exatas e biológicas). De acordo com a pro-
posta, as escolas terão liberdade para organizar seus currículos e poderão
decidir a forma de distribuição dos conteúdos das disciplinas nos grupos
e também o foco do programa (trabalho, ciência, tecnologia ou cultura)
desde que sigam as diretrizes federais e uma base comum.
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Literatura e ensino
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Relação literatura e ensino Capítulo 03
nados conjuntos de significantes e significados no texto. Não se ensina
Machado de Assis, Camões, Cruz e Sousa, mas as condições pelas quais
nos é possível estudá-los, compreendê-los, lê-los. Como afirma Carlos
Ceia (2004, p. 54), “ensinamos literatura essencialmente porque inves-
timos o nosso olhar naquilo que faz essa literatura e não naquilo que a
define aprioristicamente”. Isso significa dizer que o ensino da literatura
é guiado pela visão do professor em sala de aula e de acordo com sua vi-
são a respeito dela [da literatura]. Para que o aprendizado das condições
de compreender, estudar, ler literatura ocorra de maneira proveitosa e
eficiente, é importante que o professor esteja aberto para ouvir seus alu-
nos; faça uma pesquisa sobre suas preferências, mas também leve textos
novos, não se colocando em uma torre de marfim e lá permanecendo
distante e alheio a tudo e a todos. É imprescindível que o professor não
pense que sua função seja apenas a de ensinar, mas compreenda a im-
portância de também aprender com os alunos em sala de aula.
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Literatura e ensino
4. Tendo por base a assertiva de Todorov (2009, p. 27), “na escola, não aprende-
mos acerca do que falam as obras, mas sim do que falam os críticos”, você(s)
acredita(m) que o ensino da literatura está apenas alicerçado a teorias?
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Na margem
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A literatura na sala de aula (o poema, a narrativa e a Internet) Capítulo 04
4 A literatura na sala de aula
(o poema, a narrativa e a
Internet)
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Literatura e ensino
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A literatura na sala de aula (o poema, a narrativa e a Internet) Capítulo 04
Grande, na Paraíba, resolveu levar essa questão adiante, elaborando, de
suas experiências de poemas com alunos, o livro intitulado A poesia na
sala de aula (2007). Se, segundo o professor, existe receptividade dos alu-
nos para o poema, por que ele não está muito presente em sala de aula?
É evidente que vale a pena trabalhar a poesia na sala de aula. Mas não
qualquer poesia, nem de qualquer modo. Carecemos de critérios estéti-
cos na escolha das obras ou na confecção de antologias. Não podemos
cair no didatismo emburrecedor e no moralismo que sobrepõe à qua-
lidade estética, determinados valores. É necessário muito cuidado com
o material que chega ao aluno através do livro didático. Com relação a
livros de primeiro grau menor, há uma tendência de privilegiar o jogo
pelo jogo, deixando de lado o sentido. O jogo muitas vezes cai no pueril,
na pseudocriatividade. Cremos que o jogo sonoro deva ter um suporte
significativo – como vemos em excelentes poemas de Sidónio Muralha,
Cecília Meireles, entre outros. [...] Assonâncias, aliterações, ecos, para-
nomásias, paralelismos são recursos sonoros/semânticos que povoam
muitos poemas infantis. Estar atento ao uso do recurso, pois a simples
recorrência não garante “literariedade”.
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Literatura e ensino
4ª) se use a biblioteca. Escolha livre do livro que quiser ler, descobrir
autores... “Se faz indispensável que a biblioteca seja um lugar agra-
dável, ventilada, espaçosa.” (PINHEIRO, 2007, p. 29).
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A literatura na sala de aula (o poema, a narrativa e a Internet) Capítulo 04
Se a educação (literária) for vista de forma ampla, o professor reco-
nhecerá em outro gênero fonte importante a ser explorada: o dramático,
por meio do qual o aluno pode ter livre expressão, além de, possivel-
mente, desenvolver espírito de observação, de equipe, imaginação, equi-
líbrio, e serem trabalhados aspectos como desinibição e desembaraço.
Por outro lado, afirma Raul Henriques Maimoni, então professor de Te-
oria da Literatura da UNESP/Assis, em “O teatro e a escola”, publicado
no segundo número do tabloide Proleitura:
se a educação escolar for entendida como sendo unicamente um sis- Jornal de publicação bi-
tema de transmissão de conhecimentos, o teatro com certeza terá um mestral do Departamento
de Literatura da Faculdade
espaço mínimo no contexto da escola: será somente um componente de Ciências e Letras de As-
conteudístico nas aulas de literatura do segundo grau [atualmente ensi- sis/UNESP, Grupo Acadê-
no médio], ou atividade específica para algumas comemorações cívicas mico “Leitura e Literatura
na Escola”. Em circulação
e festas escolares. (MAIMONI, 1992, p. 6). de junho de 1992 a feve-
reiro de 2000.
Para utilizar atividades teatrais no processo de aprendizagem, não
é necessário que o professor seja um especialista em dramaturgia e di-
reção teatral. Os conhecimentos sobre o gênero dramático – que todo
licenciado em Letras possui – e experiências de vida são suficientes para
um bom começo de conversa e ação.
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Literatura e ensino
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Intervalo
Neste tópico levantamos algumas questões bem contemporâneas. Estes dois
textos são importantes como leituras complementares, seja para se pensar a
literatura em si, seja para se pensar na atuação desta em sala de aula.
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Os livros didáticos - fragmentos e retalhos de (in)formação literária Capítulo 05
5 Os livros didáticos -
fragmentos e retalhos de
(in)formação literária
Só no quarto ano trocamos os livros ilustrados por um volume mais gros-
so, sem enfeites: era a antologia de Olavo Bilac e Manuel Bonfim.
(Paulo Mendes Campos. Primeiras Leituras).
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Literatura e ensino
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Os livros didáticos - fragmentos e retalhos de (in)formação literária Capítulo 05
Bom ou ruim, adequado ou inadequado, o livro didático é ainda
um dos contribuintes e patrocinadores (ou um dos responsáveis) pela
formação do leitor brasileiro no ensino fundamental e médio.
mente em saber lidar com essas esferas a construção dos sentidos possíveis;
41
Literatura e ensino
Por outro lado, professores geralmente alegam que alunos não gos-
tam de ler, mas, na maioria das vezes, aqueles acabam lendo menos do
que os próprios alunos. Como formar leitores sem ser um leitor? Muitas
vezes, os professores, por falta de tempo, detêm-se apenas nos resumos
de obras para terem uma ideia do seu “conteúdo”. Se a literatura depende
do modo como é ensinada/transmitida pelos professores, e a leitura lite-
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Os livros didáticos - fragmentos e retalhos de (in)formação literária Capítulo 05
rária é geralmente trabalhada em fragmentos, trechos, pedaços de textos,
como formar leitores de literatura sem ser via dinâmica do fragmento?
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Literatura e ensino
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Os livros didáticos - fragmentos e retalhos de (in)formação literária Capítulo 05
O melhor manual que se pode recomendar aos alunos de literatura é o
pior manual que se pode dar ao professor de hoje: um manual sem textos
de apoio, sem notas, sem linhas de leitura, sem propostas de actividades,
isto é, apenas com os textos literários em estado puro e sem a presença
de críticas ou propostas redutoras. (CEIA, 2004, p. 52, grifo nosso).
4. Traga(m) para seus pólos livros didáticos que usou(usaram) no seu ensino fun-
damental ou ensino médio ou, se professores estejam usando com seus alunos.
Procure(m) pensar sobre a seguinte questão: Embora haja preocupação de algu-
mas editoras e coleções em explorar o texto literário no livro didático, em sua(s)
pesquisa(s), você(s) encontrou(encontraram) maior tratamento aos textos literá-
rios ou aos não literários? Há uma maior presença de que tipo de texto?
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Literatura e ensino
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Passando a limpo
Dois livros são aqui sugeridos como boas reflexões sobre a leitura e a litera-
tura e suas relações com a educação literária. Fica aqui a sugestão. Leia(m)
os livros, mesmo que a leitura seja feita após a nossa disciplina, para ver(em)
como eles se sustentam em uma consistente pesquisa de campo com pro-
fessores e alunos.
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Unidade C
A leitura na escola
A literatura infantojuvenil Capítulo 06
6 A literatura infantojuvenil
Os leitores-crianças não são assim tão diferentes dos adultos embora sua
sintonia seja outra, em função de uma emocionalidade mais intensa e espontâ-
nea; de um registro de vida, ao mesmo tempo, absoluto e fugaz.
Harold Bloom
Qualquer pessoa, de qualquer idade, ao ler esta seleção, perceberá logo
que não concordo com a categoria “literatura para criança”, ou “literatura
infantil”, que teve alguma utilidade e algum mérito no século passado,
mas que agora é, muitas vezes, a máscara de um emburrecimento que
está destruindo nossa cultura literária. A maior parte do que se oferece
nas livrarias como literatura para criança seria um cardápio inadequado
para qualquer leitor de qualquer idade em qualquer época. (BLOOM,
2003, p. 12).
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Literatura e ensino
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A literatura infantojuvenil Capítulo 06
contos de Perrault, Grimm e Andersen. Figueiredo Pimentel e Carlos
Jansen são vistos como os primeiros tradutores/adaptadores de obras
clássicas europeias. São do primeiro os Contos da Carochinha (1886), os
quais apontavam para a moralidade e o sentido educativo, e do segundo
as adaptações de As viagens de Gulliver (1888), Robinson Crusoe (1885),
D. Quixote de la Mancha (1901), entre outras. Outros tradutores que se
destacaram foram Caetano Lopes de Moura, Justiniano José da Rocha,
Francisco de Paula Brito e, inclusive, o poeta parnasiano Olavo Bilac, o
qual traduziu para a Editora Laemmert inúmeras obras sob o pseudôni-
mo de Fantásio. De um lado, essas traduções-adaptações eram uma ma-
neira de estar em contato com o texto clássico, mesmo que traduzido; por
outro lado, por serem baseadas em obras europeias, portanto, em cultu-
ras alheias, distavam grandemente da realidade das crianças brasileiras.
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Literatura e ensino
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A literatura infantojuvenil Capítulo 06
Monteiro Lobato foi o grande responsável no “empreendimento” da
literatura infantojuvenil e um dos seus maiores divulgadores, desenvol-
vendo a viabilização da circulação do livro no país e a expansão editorial.
Menotti del Picchia (João Peralta, 1933), José Lins do Rego (Histórias
da Velha Totônia, 1936), Érico Veríssimo (Aventuras de Tibicuera, 1937),
Viriato Correa (Cazuza, 1938), Graciliano Ramos (A terra dos meninos
pelados, 1939 e Histórias de Alexandre, 1944), entre outros, também se
dedicaram à produção infantil, mas não seguiram a linha de Lobato.
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Literatura e ensino
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A literatura infantojuvenil Capítulo 06
raes; Cacoete (2005) e Felpo Filva (2006), de Eva Furnari; Transpoemas
(2008), de Ricardo Silvestrin; ilustrações de Apo Fousek. Bili com limão
verde na mão (2008), de Décio Pignatari, ilustrações de Daniel Bueno;
Galo Barnabé vai ao balé (2009), de Jonas Ribeiro, ilustrações de Ana
Terra; Histórias de bobos, bocós, burraldos e paspalhões (2001) e O sábio
ao contrário: a história do homem que estudava puns (2009), de Ricardo
Azevedo; A primeira máscara (2009) de Maté, entre inúmeros outros.
55
Literatura e ensino
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Primeiras leituras
Formulamos uma série de questões para serem debatidas, pensadas, co-
mentadas. O maior número de questões se deve ao importante tema re-
lacionado à literatura para o público leitor formado por crianças e jovens.
Sugerimos para os futuros professores e professoras estes três ensaios que
aprofundam as questões:
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Ilustração: Palavras e imagens Capítulo 07
7 Ilustração: Palavras e imagens
Palavra e imagem ressoam entre si em uma trepidação: para cada leitor
essa fusão é particular, instante único, mas provocada, por exemplo, tanto
pela realização do escritor como do ilustrador, aqui devemos destacar que a
ilustração também fala, também agita.
Toda imagem tem alguma história para contar. Essa é a natureza narrati-
va da imagem. Suas figurações e até mesmo formas abstratas abrem es-
paço para o pensamento elaborar, fabular e fantasiar. A menor presença
formal num determinado espaço já é capaz de produzir fabulação e,
portanto, narração. (FITTIPALDI, 2009, p. 103).
57
Literatura e ensino
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Ilustração: Palavras e imagens Capítulo 07
Atributos intrínsecos a Atributos extrínsecos a
Elementos visuais
uma imagem uma imagem
ǿǿ C
ores quentes: vermelhos, amarelos, laranjas. (Ideia de fogo e
calor, densidade);
ǿǿ C
ores frias: azuis e verdes azulados; mais azul que amarelo na
composição. (Ideia de água, gelo, céu e vidros, sensação de le-
veza e distanciamento);
ǿǿ C
ores complementares: azul complementar é o laranja (amare-
lo + vermelho); vermelho complementar é o verde (azul + ama-
relo) e amarelo complementar é o violeta (azul + vermelho);
ǿǿ C
ores dessaturadas: baixa a intensidade da cor, misturando
cinza, branco ou preto;
ǿǿ C
ores saturadas: cores puras, sem adição de cinza, branco ou
preto;
ǿǿ C
ores primárias: vermelho, azul e amarelo (artes plásticas);
magenta, ciano e amarelo (artes gráficas);
ǿǿ C
ores secundárias: mistura das primárias, verde, laranja e vio-
leta.
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Literatura e ensino
60
Ilustração: Palavras e imagens Capítulo 07
A relação da história em quadrinhos (também chamadas de HQ) com
a sociedade é perpassada por polarizações antagônicas. É reconhecida
como diversão popular de alcance imenso e, ao mesmo tempo, exe-
crada como infantilidade. É vista como meio artístico válido e meio de
consumo descartável. Deixando-se de lado o campo do senso comum,
é possível verificar um posicionamento relativamente diferente entre
as instâncias que possibilitam a legitimação de uma forma artística. Se
um certo reconhecimento intelectual já pode ser verificado há algum
tempo, com uma obra entrando para a lista de “Cem melhores livros do
século XX” da Time Magazine, através de prêmios como Hugo e Pulit-
zer, ou de livros que analisam sua estrutura formal, um outro lugar de
legitimação, a produção acadêmica acerca das histórias em quadrinhos, Os dois primeiros casos
são relativos à obra Watch-
merece um olhar mais atento. (DUARTE, 2009, p. 14) men. O Pulitzer de 1992 foi
vencido pela obra Maus
de Art Spiegelman.
As palavras do professor e pesquisador de histórias em quadrinhos
tornam evidente que as HQs conquistaram seu espaço como arte, co-
municação e, principalmente, literatura, embora tenham ficado à mar-
gem por muitos anos, vistas como diversão popular e consumo descar-
tável. As produções em quadrinhos, sejam elas adaptações de clássicos,
sejam clássicos dos quadrinhos (Superman, Watchmen, Tarzan, Popeye,
Questão a ser tratada no
X-men, Dick Tracy, Capitão Marvel, Capitão América etc.) ou mesmo os tópico seguinte: As adap-
mais contemporâneos (Mafalda, Charlie Brown, Pato Donald, Zé Cario- tações de textos clássicos.
ca, Turma da Mônica etc.), não podem ser excluídas do meio escolar,
pois [nelas] é onde, também, as imagens estabelecem relações com o
texto escrito. Embora a leitura dos quadrinhos seja limitada à ordem
dos balões, legendas e imagens, os significados, os sentidos que o leitor
pode extrair dessa leitura não o são.
Seja pelas ilustrações dos livros, pelas HQs, não podemos esquecer
do poder sedutor das imagens. Muitas vezes são elas, as ilustrações, as
cores, as capas que conquistam leitores antes que eles passem a conviver,
como disse o pequeno leitor, apenas “com livros só de palavras”.
61
Literatura e ensino
Leia mais!
Pausa
Sugerimos agora, pensada a questão dos livros e suas ilustrações, a leitura
de dois textos importantes para se aprofundar cada vez mais a leitura literá-
ria e a história dos livros dedicados a jovens e crianças.
62
As adaptações de textos clássicos Capítulo 08
8 As adaptações de textos
clássicos
Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar. Não
ler e jogar fora, mas, sim, morar, assim como morei no Robinson [Crusoe]...
63
Literatura e ensino
A moda de Dona Benta ler era boa. Lia “diferente” dos livros. Como qua-
se todos os livros para crianças que há no Brasil são muito sem graça,
cheios de termos do tempo da onça ou só usados em Portugal, a boa
velha lia traduzindo aquele português de defunto em língua do Brasil
de hoje. Onde estava, por exemplo, “lume”, lia “fogo”; onde estava “larei-
ra” lia “varanda”. E sempre que dava com um “botou-o” ou “comeu-o”, lia
“botou ele”, “comeu ele” – e ficava o dobro mais interessante. (LOBATO,
2007, p.36)
64
As adaptações de textos clássicos Capítulo 08
Se, para Italo Calvino (2001), o primeiro encontro com os clás-
sicos durante a juventude, muitas vezes, não é tão prazeroso devido à
impaciência e distração de leitura, bem como inexperiência de vida, as
adaptações de textos clássicos podem ser uma maneira de aproximar
o leitor das obras consagradas e tentar uma democratização e uma re-
cepção mais adequada ao leitor infantojuvenil. Há excelentes adapta-
ções circulando no mercado; segundo Mário Feijó Borges Monteiro, em
dissertação de Mestrado intitulada Adaptações de clássicos brasileiros:
paráfrases para o jovem leitor (2002), a boa adaptação tenta aumentar
ao máximo o número de leitores de determinada obra e, por tais fun-
ções, compreende-as como paráfrases ou metáfrases, por serem narra-
tivas que recontam textos clássicos por meio das próprias palavras dos
adaptadores. Monteiro assevera que essas paráfrases ou metáfrases – as
adaptações –, quando bem realizadas, apresentam fidelidade ao enredo,
possível encantamento ao leitor e emprego de linguagem apropriada.
A maioria das adaptações de textos clássicos para a literatura infanto-
juvenil é transformada em narrativa, o que de antemão já pressupõe,
também, a alteração do gênero literário.
65
Literatura e ensino
66
As adaptações de textos clássicos Capítulo 08
nega a eficiência dessas adaptações, mas os séculos XIX e XX não estão
muito distantes da realidade dos estudantes juvenis brasileiros para que
se viabilize sempre a preferência pela adaptação. Os leitores juvenis po-
dem ler as adaptações, mas sem deixar de lado o conhecimento e a leitu-
A editora Scipione investe
ra das obras originais. Além disso, há obras brasileiras que são acessíveis em adaptações de textos
à leitura e, portanto, “dispensam” o recurso da adaptação. clássicos desde 1984,
cujos títulos continuam
Por outro lado, já se tornaram corriqueiras, pode-se dizer há al- em circulação até hoje,
e já possui em seu catá-
gum tempo, adaptações de textos clássicos para os quadrinhos, aliando logo inúmeros títulos de
texto e imagem de maneira bastante interessante. Tendo em vista que clássicos das literaturas
brasileira e portuguesa
são reconhecidas como forma de arte e comunicação e, possivelmente, na Série Reencontro. Mas
atraem maior número de leitores jovens, as adaptações de clássicos em não para por aí: de outra
coleção, Série Reencontro
quadrinhos são uma boa alternativa para efetuar trabalhos em sala de Infantil, indicada a partir
aula, mas sem perder de vista o texto original. As editoras acresceram dos 9 anos, que também
consiste em adaptações
um item a mais no seu catálogo: os quadrinhos, e estão investindo cada de textos clássicos, locali-
vez mais nesse “formato”. A título de ilustração, citamos quatro adapta- zamos dois títulos de tex-
tos nacionais adaptados
ções (opções) do conto brasileiro O Alienista, de Machado de Assis: para crianças: O Guarani,
de José de Alencar, adap-
tação de Edy Lima, e Triste
ǿǿ O Alienista, adaptação, roteiro e desenho de Lailson de Holan- fim de Policarpo Quaresma,
de Lima Barreto, adapta-
da Cavalcanti (Companhia Editora Nacional, 2008); ção de José Louzeiro. Dis-
ponível em: <http://www.
ǿǿ Alienista, adaptação de Luiz Antonio Aguiar e ilustrações de scipione.com.br/lista_pa-
Cesar Lobo (Ed. Ática, 2008); radidatico.asp?pagina=5&i
nicial=5&nivel=&bt=2&id_
ǿǿ O Alienista, adaptação de Fábio Moon e Gabriel Bá (Ed. Agir, olecao=12&avancada=1>.
Acesso em: 20 jan. 2010.
2007);
67
Literatura e ensino
68
As adaptações de textos clássicos Capítulo 08
Reflita(m) e troque(m) ideias com seus colegas, tutores e
professores:
1. Ana Maria Machado, escritora e ensaísta já mencionada, em seu livro Como e
por que ler os clássicos universais desde cedo (2002), afirmou, “a tradição clássica
está desaparecendo a uma velocidade galopante — e todos nós vamos nos
empobrecendo com isso” (MACHADO, 2002, p. 142). Por que essa tradição clás-
sica está desaparecendo? De que forma empobreceremos – o que deixaremos
de conhecer, de ler, de apre(e)nder – se a tradição clássica desaparecer?
Leia mais!
Depois da aula
Ao falar de adaptações estamos sempre pensando na adaptação dos clás-
sicos. Como futuros professores de literatura, as indicações a seguir deverão
fazer parte de seus repertórios de leituras. Estes três livros devem fazer parte
da(s) sua(s) bibliotecas ou de sua(s) escola(s):
69
Unidade D
A literatura na escola
A literatura no ensino médio ou A literatura para vestibular Capítulo 09
9 A literatura no ensino médio
ou A literatura para vestibular
Se, por não sei que excesso do socialismo ou de barbárie, todas as nossas
disciplinas devessem ser expulsas do ensino, exceto uma, é a disciplina literária
que devia ser salva, pois todas as ciências estão presentes no monumento literá-
rio. (Barthes, 1978, p. 18)
73
Literatura e ensino
74
A literatura no ensino médio ou A literatura para vestibular Capítulo 09
Reconhecida a importância das revisões e revitalizações de estudos
historiográficos para o ensino de literatura, a leitura de uma produção
crítica, mais ensaística, publicada nos últimos trinta anos, leva-nos a
adiantar que um número significativo destes textos críticos volta-se para
a contemporaneidade. Assim, ao lado dos estudos mais sistematizados e
localizados na historiografia literária, conforme um levantamento pre-
liminar de nossos programas de ensino, há por força das circunstân-
cias uma tentativa de pensar a literatura e sua relação com o ensino que
persiste ainda dentro de uma tradição. Qual seria a razão de se desejar
novos rumos para os estudos literários? A imagem que para nós melhor
explica esta imediaticidade é a crítica literária, que prolifera nas temáti-
cas dos eventos nacionais e internacionais e a leitura de textos teóricos,
poéticos e narrativos, dispersos em livros e antologias. A literatura pare-
ce sempre conclamar à atualização. Assim será antes preciso perguntar o
que é que significa e o que é que nos instiga a não abandonar os cânones
mesmo lançando um outro olhar sobre a criação literária contemporâ-
nea, sobre outras formas de manifestações culturais (cinema, perfor-
mance, telenovelas, revistas, sites, saraus...)?
Embora o caráter provisório que possa ter tudo o que está sendo
dito, podemos assegurar que a maioria das leituras ensaísticas, sobre as
quais nos debruçamos cotidianamente para nos manter atualizadas, es-
tão agregadas a práticas teóricas contemporâneas. As discussões a pro-
pósito da contemporaneidade começaram com a questão da existência
ou não de uma ruptura com a historiografia e um repertório de textos
canônicos consagrados pela crítica.
75
Literatura e ensino
76
A literatura no ensino médio ou A literatura para vestibular Capítulo 09
Não se pode perder de vista que a leitura é uma parte da disciplina
de Língua Portuguesa (mesmo que algumas escolas reservem algu-
mas aulas especificamente para conteúdos de Literatura, diversifi-
cando em alguns casos o próprio professor) que vive sempre uma
situação problemática particularmente no ensino médio. Seguindo
uma orientação historicista, em que mais se lia sobre literatura que
as próprias obras, a atuação da escola mais afastava que aproximava
o aluno da leitura. Em consequência, formava-se um leitor de refe-
rencial de leitura limitado.
77
Literatura e ensino
lido os livros, que não gostavam de ler etc. Encontramos, ainda, tópi-
cos relacionados ao vestibular. Na comunidade “Eu odeio os livros que
caem no vestiba”, os alunos discutiam sobre a “chatice” de ler dessa for-
ma condicionada e ainda procuravam conjuntamente uma solução para
isso. A solução a que chegavam é a de que tendo “um ótimo professor
de literatura em sala de aula, não se faz necessária a leitura dos livros”
(as explicações deles nos bastam...). De que forma então um ótimo pro-
fessor de literatura ajudaria os alunos a melhorarem suas redações se a
leitura a partir da indicação de livros do vestibular poderia ser um dos
motivadores da prática da leitura? Caberia ao professor alertar sobre
essa importância aos alunos. Citamos Marisa Lajolo, lida por Claudete
LAJOLO, Marisa [1993],
apud ANDRADE, Claude- Segalin de Andrade:
te Segalin de. Dez livros
e uma vaga: a leitura da O ato de ler foi de tal forma se afastando da prática individual que a
literatura no vestibular. tarefa que hoje se solicita de profissionais da leitura, como professores,
Florianópolis: Editora da bibliotecários e animadores culturais, é exorcizarem o risco da alienação,
UFSC, 2003.
muito embora eles possam acabar constituindo elo a mais na longa e
agora inevitável cadeia de mediadores que se interpõem entre o leitor e
o significado do texto.(LAJOLO, [1993], apud ANDRADE, 2003).
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A literatura no ensino médio ou A literatura para vestibular Capítulo 09
ler alguma coisa atual, pois nós vivemos o hoje não há 100 anos atrás.....
Se você concorda com tudo isso essa comunidade foi feita pra você.......
Citem as obras mais torturantes da suas vidas.....
79
Literatura e ensino
Nossa pesquisa, a partir das reflexões acima, passa a ser mais con-
clusiva, no momento em que a COPERVE dá voz a muitos vestibulan-
dos no Vestibular 2006, através desta proposta:
PROPOSTA 1
PROPOSTA 2
PROPOSTA 3
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A literatura no ensino médio ou A literatura para vestibular Capítulo 09
POEMA A:
“[...]
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.”
(MORAES, Vinícius de. A Rosa de Hiroxima. In: Nova Antologia Poética.
São Paulo: Companhia das Letras, 2004).
POEMA B:
“Nós merecemos a morte,
porque somos humanos,
e a guerra é feita pelas nossas mãos,
pela nossa cabeça embrulhada em séculos de sombra,
por nosso sangue estranho e instável, pelas ordens
que trazemos por dentro, e ficam sem explicação.”
(MEIRELLES, Cecília. Lamento do Oficial por seu Cavalo Morto. In: Obra
Poética. 1 ed. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958).
POEMA C:
“Este é tempo de partido,
tempo de homens partidos.
[...]
O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
promete ajudar
81
Literatura e ensino
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta,
um verme.”
(DRUMMOND DE ANDRADE, C. Nosso Tempo. In: A Rosa do Povo. Rio de
Janeiro: Record, 2004).
82
A literatura no ensino médio ou A literatura para vestibular Capítulo 09
uma ênfase na leitura de obras canônicas ou em determinados autores
consagrados. Um aluno do ensino médio pode passar um semestre len-
do os poemas de T. S. Elliot ou uma obra de Shakespeare. No Brasil há
sempre uma perspectiva mais panorâmica.
83
Literatura e ensino
Redação 200: “E Os Sertões? Não vai falar dos Sertões? Ah, Os Ser-
tões voltou para a estante que é de onde nunca deveria ter saído”.
84
A literatura no ensino médio ou A literatura para vestibular Capítulo 09
Redação 52: “As leituras obrigatórias devem [...] ser cada vez mais
contemporâneas. O hábito de ler não realizado por prazer acarreta ao
desinteresse e ao possível abandono permanente dos livros.”
Redação 58: “Para mim os livros são bons quando prendem minha
atenção, me secam a boca ou quando não consigo parar de lerlos [sic]
até o fim.
85
Literatura e ensino
45
40
35
30 30 28
25 29
20 23
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10 15
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7
1 2 2 4 0 2
0
Apenas um Império Amigo Os Sertões O 200 Resumo Brás, Bexiga Novos A Rosa do
Curumim Caboclo Velho Fantástico Crônicas de Ana e Barra Poemas Povo
na Ilha de Funda
SC
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A literatura no ensino médio ou A literatura para vestibular Capítulo 09
Não-recomendados
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40
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20
15
27 4
10
10 1 3 5
5 3 10 3
5 5 0 2 5
0 3 0 3 2 2
Apenas um Império Amigo Os Sertões O 200 Resumo Brás, Bexiga Novos A Rosa do
Curumim Caboclo Velho Fantástico Crônicas de Ana e Barra Poemas Povo
na Ilha de Funda
SC
Será que a literatura pode ser para nós algo que não seja uma lembrança
de infância? Quero dizer: o que é que continua, o que persiste, o que é que
fala da literatura depois do colégio? (BARTHES, 1988c, p. 53, grifo nosso).
87
Literatura e ensino
2. Maria Alice Faria, livre docente e titular em Literatura Brasileira pela UNESP,
em entrevista concedida a Benedito Antunes no jornal Proleitura, em abril de
1997, lançou uma provocação em uma de suas respostas a respeito de clássi-
cos literários. Afirmou a professora: “Depois que a Linguística excluiu a literatura
como modelo de língua padrão, considerar exclusivamente a literatura como
patrimônio é uma coisa que precisaria ser revista. No vestibular, por exemplo,
por que só há questões de literatura? Há perguntas de História, Geografia, mas
nunca sobre música, artes plásticas, arquitetura, cultura popular. Todo mundo
vive a cultura popular, que chega inclusive à classe média, à elite. Há uma mu-
mificação do conceito de clássico no vestibular.” (FARIA, 1997, p. 1). Tendo em
vista a proposta do MEC de 2009, que pretende acabar com a divisão por dis-
ciplinas, criando quatro grupos mais amplos (línguas; matemática; humanas; e
exatas e biológicas), conteste(m) a afirmação da professora Maria Alice Faria, em
consonância com a proposta do MEC, e exponha(m) seu(s) ponto(s) de vista.
88
A literatura no ensino médio ou A literatura para vestibular Capítulo 09
4. Que livro você(s) indicaria(m) para compor a lista do vestibular da UFSC?
Por quê?
Leia mais!
Lições
Na contemporaneidade muito se tem falado de crise da leitura e crise da li-
teratura. Por esse lado tem se falado na necessidade de se pensar a literatura
e suas crises. Sugerimos estas leituras como complemento da reflexão sobre
o ensino da literatura no ensino médio:
89
O texto literário na escola: apontando caminhos Capítulo 10
10 O texto literário na escola:
apontando caminhos
Os que somos dominados pela paixão da leitura e nos esforçamos para
A partir do ensaio: RAMOS,
incutir essa paixão em outros – crianças, jovens, adultos – andamos sempre Tânia Regina Oliveira. “O texto literário
à procura de meios de “contaminação”: como transmitir o gosto e o prazer da e a escola”. In: Palavra amordaçada.
Passo Fundo, RS: Universidade de
leitura. Passo Fundo, 2001, p. 326-335.
91
Literatura e ensino
92
O texto literário na escola: apontando caminhos Capítulo 10
últimas oportunidades que tem a criança ou o jovem de entrar em
contato com a leitura e, mais especialmente, com a literatura.
93
Literatura e ensino
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O texto literário na escola: apontando caminhos Capítulo 10
estruturas de significação. Por exemplo, no segundo ano do ensino mé-
dio é possível analisar a estrutura de um conto e reescrever um outro a
partir do primeiro; no ensino médio, a partir de um corpus ampliado,
podem-se fazer análises comparadas.
95
Literatura e ensino
96
O texto literário na escola: apontando caminhos Capítulo 10
Ao se pensar também a questão da leitura da literatura, no ensino
médio, ao se pensar os gêneros literários enquanto a concretude da obra
acessível aos alunos, ou em outras palavras, a literatura como compo-
nente curricular no ensino médio, constituindo ainda um conteúdo ca-
paz de conseguir o interesse pela leitura, não podemos perder de vista
a necessidade de levar os alunos, ou uma parcela deles, a experimentar
a experiência estética e a refletir criticamente sobre o real. Isso justifica-
ria a necessidade da continuidade da leitura de literatura e da literatura
com(o) disciplina no ensino médio, como um dos caminhos possíveis
para o não empobrecimento do espírito crítico e da criatividade.
2. Além dos gêneros literários levantados nos tópicos O texto literário na escola:
apontando caminhos e A literatura na sala de aula (o poema, a narrativa e a Inter-
net), que outros tipos de textos literários poderiam ser usados em sala de aula?
Que proposta de trabalho de literatura você(s) desenvolveria(m) na escola?
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Referências
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