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ARTIGO ARTICLE 1451

A funcionalidade e incapacidade na velhice:


ficar ou não ficar quieto

Functionality and disability in old age:


to stay still or not to stay still

Funcionalidad y discapacidad en la vejez:


moverse o no moverse

Josianne Katherine Pereira 1


Karla Cristina Giacomin 2
Josélia Oliveira Araújo Firmo 1

Abstract Resumo

1 Centro de Pesquisas René The goals of this study were to identify how com- O objetivo deste trabalho é investigar como ido-
Rachou, Fundação Oswaldo
Cruz, Belo Horizonte, Brasil.
munity-dwelling elderly deal with the prospect of sos residentes na comunidade de Bambuí, Mi-
2 Prefeitura Municipal disability/functionality and to understand how the nas Gerais, Brasil, lidam com a perspectiva da
de Belo Horizonte, Belo sociocultural context modulates this process. The incapacidade/funcionalidade na velhice, bem
Horizonte, Brasil.
study adopted a qualitative approach in which como compreender de que forma o contexto so-
Correspondência the signs, meanings, and actions model was used ciocultural modula esse processo. Trata-se de
J. K. Pereira
in the data collection and analysis. The study in- abordagem qualitativa, na qual o modelo de sig-
Av. Lisboa 639,
Governador Valadares, MG terviewed 57 elders ranging from 61 to 96 years of nos, significados e ações foi utilizado na coleta e
35057-450, Brasil. age and enrolled in the six primary health units in análise dos dados. Foram entrevistados 57 idosos
josikatherine@yahoo.com.br
Bambuí, Minas Gerais State, Brazil. “To stay still or com idades entre 61 e 96 anos, cadastrados nas
not to stay still” is the underlying question in func- seis unidades básicas de saúde de Bambuí. “Fi-
tioning and disability in old age. However, staying car ou não ficar quieto” é a dúvida que subjaz
still is not a matter of individual choice, because ao processo de funcionalidade e incapacidade
the answer depends on the elder’s financial, intel- na velhice; todavia, não se trata de uma questão
lectual, and subjective resources and available so- de escolha individual, pois a resposta depende
cial support. Staying still also implies a concept of dos recursos financeiros, intelectuais, subjetivos
old age inexorably associated with disability, leav- e de apoio social disponível. Além disso, ficar
ing the elderly resigned to their condition; when quieto reflete uma concepção de velhice inexo-
difficulties increase, their only choice is to “wait for ravelmente associada à incapacidade, deixan-
death”. Health teams need to interfere in this con- do os idosos conformados com sua condição, de
cept, providing care to older people during their modo que, quando as dificuldades aumentam,
recovery and until the end of life. resta-lhes somente “esperar a morte chegar”. As
equipes de saúde precisam interferir nessa con-
Aged; Health of the Elderly; Anthropology cepção, oferecendo cuidado aos idosos na sua re-
cuperação até o fim da vida.

Idoso; Saúde do Idoso; Antropologia

http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00046014 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 31(7):1451-1459, jul, 2015


1452 Pereira JK et al.

Introdução questões políticas e econômicas 9. Ademais, pro-


gramas de cuidado à pessoa que envelhece serão
Em um contexto de envelhecimento populacio- mais efetivos caso respondam às necessidades
nal, enquanto a funcionalidade se torna uma percebidas pelos idosos 2,7. Portanto, estudos
preocupação maior da saúde pública, a capa- antropológicos que abordem as questões socio-
cidade funcional é um importante balizador culturais relacionadas ao envelhecimento e à
para o desenvolvimento de políticas 1. Esta di- funcionalidade-incapacidade podem contribuir
mensão funcional da saúde, amplamente inves- para ampliar a visão dos serviços de saúde quan-
tigada na perspectiva biomédica 1,2, refere-se à to ao significado da experiência da incapacidade
funcionalidade-incapacidade e não se restringe e de suas formas de enfrentamento.
aos aspectos biológicos, pois carrega dimensões Corin et al. 10 desenvolveram um modelo
simbólicas, sociais e culturais que precisam ser semântico-pragmático que objetiva conjugar a
conhecidas. perspectiva interpretativa, influenciada pela tra-
Nessa perspectiva, ao estudar a interação dição hermenêutica, com a teoria crítica. Apesar
saúde-doença-incapacidade, o modelo biomé- das diferenças, ambas utilizam abordagens trans-
dico de compreensão desse processo é apenas culturais para descobrir a relatividade dos concei-
uma das maneiras de interpretar esse fenômeno, tos e teorias que ajudam a “ampliar” o conceito de
o qual também é social e culturalmente constru- realidade, reconhecendo a cultura como uma re-
ído 3. Eisenberg 4 diferencia a “doença processo” alidade dinâmica que permeia o indivíduo e que
(disease) – que se refere às anormalidades dos não pode ser expressa como simples variável a ser
processos biológicos e psicológicos, na função estudada com variáveis estatísticas 11.
e/ou estrutura dos órgãos e sistemas do corpo O modelo proposto por Corin et al. 10, cha-
– e a “doença experiência”, que representa a ex- mado “Signos, Significados e Ações”, avalia a pro-
periência subjetiva de mal-estar. Kleinman 3 de- blemática por meio de três níveis de análise: (a)
senvolveu o conceito de “modelos explicativos” estudo do saber, focalizando a atenção sobre as
(explanatory models) para descrever o conjun- narrativas daqueles que representam a popula-
to de crenças e expectativas sobre uma doença, ção que se deseja estudar; neste primeiro nível,
formuladas por indivíduos em uma determinada procura-se identificar a semiologia, os signos,
cultura. os sinais, os indicadores com base nos quais os
Da mesma maneira, a experiência da funcio- diferentes aspectos de saúde e doença são perce-
nalidade-incapacidade é culturalmente cons- bidos na comunidade; (b) análise do sistema de
truída, segundo o contexto onde acontece, o interpretação; (c) neste terceiro nível de análise,
qual confere inteligibilidade a situações e acon- chamado sistema de ação, visa-se a entender as
tecimentos da vida, estruturando o campo social respostas, as reações, a fim de procurar soluções
em um tecido semântico 5,6. Quanto à incapaci- para os problemas. Em adição, na tentativa de
dade funcional, objeto deste trabalho, dois mo- superar os perigos de uma análise do sujeito na
delos teóricos distintos se destacam 7. O modelo microrrealidade, esse modelo considera também
biomédico define um corpo com impedimentos os fatores macrossociais, situando-nos em uma
como aquele que deve ser objeto de interven- dimensão do coletivo. Para tanto, a reconstrução
ção pela medicina, sendo as deficiências classi- de casos individuais é complementada por uma
ficadas conforme as descrições das lesões, das análise do espaço social, avaliando-se a intera-
doenças e compreendidas como desvantagens ção entre histórias e casos individuais, de um la-
naturais e indesejadas. O modelo social da de- do, e processos coletivos, de outro 6.
ficiência busca a garantia da igualdade entre No presente trabalho, valendo-se da perspec-
pessoas com e sem impedimentos corporais, em tiva êmica 6, na qual a interpretação do cientista é
termos não apenas de oferta de bens e serviços construída a partir da percepção dos entrevista-
biomédicos, mas também como uma questão de dos, e não como uma discussão na visão do pes-
direitos humanos 8. quisado ou da literatura 12, busca-se investigar
À semelhança da questão racial, geracional ou como idosos residentes na comunidade de Bam-
de gênero, a dimensão funcional da saúde reflete buí lidam com a perspectiva da incapacidade
as experiências de interação social e do nível de funcional/funcionalidade na velhice. Objetiva-
acessibilidade de uma sociedade: quanto maio- se, ainda, compreender de que forma o contexto
res as barreiras sociais, maiores também serão sociocultural modula esse processo.
as dificuldades de participação impostas àqueles
com alguma deficiência corporal 7 e/ou doença.
Assim, contextos culturais afetam a inclusão e
participação social dos sujeitos com incapacida-
de 7, ao mesmo tempo que revelam ideologias,

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FUNCIONALIDADE E INCAPACIDADE NA VELHICE 1453

Percurso metodológico Coleta dos dados

Esta pesquisa qualitativa foi realizada na cida- Na presente pesquisa, o modelo de “Signos, Sig-
de de Bambuí, Minas Gerais, Brasil, atualmen- nificados e Ações”, desenvolvido por Corin et
te com aproximadamente 23 mil habitantes. À al. 10, foi utilizado na coleta e análise dos dados,
semelhança do Brasil, o município passa por para permitir a sistematização dos elementos do
progressiva urbanização e acelerado envelheci- contexto que participam da construção de ma-
mento: em 1950, sua população rural represen- neiras típicas de pensar e agir diante da funcio-
tava 84% da população total, reduzindo-se para nalidade e do enfrentamento da incapacidade.
apenas 15% em 2010. Quanto ao envelhecimento, Nesse modelo, as entrevistas devem ser iniciadas
em 1960, 3,8% dos seus habitantes tinham 60 ou com perguntas que revelam ações em face do
mais anos de idade, aumentando para 15,9% em evento a ser investigado, uma vez que, diante
2010 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. deste, o comportamento pode explicar melhor
Dados gerais e informações estatísticas da cida- a influência dos valores socioculturais daquele
de de Bambuí. http://www.ibge.gov.br/cidadesat/ local 10.
topwindow.htm?1, acessado em 04/Out/2011). A Para reconstruir o universo de representa-
principal fonte de renda provém de atividades ções (maneiras de pensar) e comportamentos
agrícolas, pecuária e de extração mineral, porém (maneiras de agir) associados a esses processos
um terço da sua população encontra-se em es- pelos idosos residentes em Bambuí, foram rea-
tado de pobreza, sendo elegível para o Programa lizadas entrevistas no domicílio, guiadas por um
Bolsa Família 13. roteiro semiestruturado. As perguntas geradoras
No cuidado à saúde, Bambuí se destacou foram: (a) Como você acha que está sua saúde? (b)
como centro de profilaxia contra a doença de Para você, o que é uma saúde boa? E saúde ruim?
Chagas com o Posto Avançado de Estudos Em- (c) Como é o seu dia a dia, sua rotina? Como é
manuel Dias. A rede pública de assistência à um dia em sua vida? (d) Qual(ais) o(s) conselho(s)
saúde da cidade conta com seis unidades bá- você daria para chegar à sua idade com boa saú-
sicas de saúde (UBS), com suas respectivas de? As primeiras perguntas foram direcionadas
equipes, que integram a Estratégia Saúde da às questões de saúde e doença porque o cons-
Família (ESF); um centro de saúde; um Núcleo truto funcionalidade-incapacidade é parte da
de Apoio à Saúde da Família (NASF); dois hospi- percepção de saúde dos idosos acerca do proces-
tais, um municipal e outro estadual. Inexistem so saúde-doença, conforme verificado em outra
instituições de longa permanência para idosos pesquisa antropológica realizada nessa mesma
(Prefeitura Municipal de Bambuí. http://www. localidade 15.
bambui.mg.gov.br/portal/htdocs/modules/ Com base nas respostas obtidas, outras per-
mastop_publish/?tac+Dados_gerais, acessado guntas foram feitas abordando o contexto biopsi-
em 04/Out/2011). cossocial, os recursos, as dimensões relacionadas
Solicitou-se que cada equipe de saúde das à funcionalidade e o impacto da incapacidade.
seis UBS indicasse pessoas idosas que apresen- As entrevistas foram gravadas para possibilitar
tassem diferentes níveis funcionais: nenhuma, a análise mais cuidadosa e detalhada dos dados.
alguma ou completa dificuldade para realizar
atividades rotineiras. Os participantes do estu- Análise dos dados
do, todos com idade mínima de 60 anos e em
condições de responder a perguntas, residiam Primeiramente, as entrevistas foram transcritas e
na sede do município, estando cadastrados em lidas várias vezes. Nesse momento, algumas fra-
UBS da cidade. Os critérios de inclusão visaram a ses, palavras, adjetivos, concatenação de idéias,
garantir a heterogeneidade dos participantes e a sentido geral do texto, foram destacados. O pro-
multivocalidade, segundo o território da UBS, o cesso de análise buscou identificar os sistemas
gênero, a idade e a condição funcional. O critério de signos, significados e ações, ou seja: (a) os
de saturação regulou o número de entrevistas 14. diferentes tipos de signos associados aos fenô-
Este trabalho integra o projeto Abordagem menos investigados – velhice, funcionalidade e
Antropológica da Dinâmica da Funcionalidade incapacidade funcional – e ao cuidado à saúde;
em Idosos, aprovado pelo Comitê de Ética do (b) as explicações privilegiadas em face desses
Centro de Pesquisas René Rachou, Fundação signos; (c) as reações e ações que eles desenca-
Oswaldo Cruz (CAAE: 0028.0.245.000-9). As en- deiam 12. Posteriormente, as articulações entre
trevistas foram realizadas mediante consenti- os sistemas de signos, significados e ações foram
mento livre e esclarecido dos idosos. examinadas, avaliando-se os diferentes elemen-
tos do contexto pessoal, social e cultural acer-
ca da construção e evolução das reações e dos

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comportamentos diante da condição funcional A velhice como tragédia


na velhice 12.
Para assegurar o anonimato dos entrevista- Perguntado sobre o que a idade trouxe para sua
dos, eles foram identificados por sexo, número vida, este idoso é categórico: “Só tragédia, né (ri-
da entrevista, idade e estado civil. A primeira sos). A idade só traz ruindade. As coisas que tem
mulher entrevistada, por exemplo, foi identifi- vontade de fazer, não faz mais: ir pro forró. (...)
cada como mulher 1 (M1, 70 anos, estado civil); Graças a Deus, (...), só o que eu tô reclamando é
a segunda, mulher 2 (M2, 87 anos, estado civil) e da idade, né. Tá puxado” (H23, 82 anos, casado).
assim sucessivamente. Outro homem é contundente: “Só o que não
tá bom é a velhice. Porque a velhice é doentia. Há
um ditado que fala assim: senectus esculopus: a
Resultados e discussão velhice é doentia. E é” (H15, 79 anos, casado).
O ditado latino senectus ipsa morbus est tem
Foram entrevistados 57 idosos, 27 homens e 30 como tradução “a velhice é, ela mesma, uma
mulheres, com idades entre 60 e 96 anos, cadas- doença”. Essa visão milenar da velhice como
trados nas seis UBS da cidade de Bambuí. Esse inexorável tragédia pessoal, irreversível e irre-
número de entrevistas – maior do que o habi- mediável 16 participa do imaginário da velhice
tualmente observado em pesquisas qualitati- na cultura ocidental.
vas – pode ser explicado pela necessidade de se Na percepção dos idosos entrevistados, o sig-
prosseguir até que todas as questões atingissem no “quietar” representa admitir que se está ve-
a saturação. No grupo, predominavam a religião lho, e seu efeito presumido – “se quietar, dá uma
católica e a baixa escolaridade, visto que apenas velhice” – indica a mesma concepção da velhice
três entrevistadas tinham mais de oito anos de como doença. Ademais, um corpo quieto, inerte,
escolaridade. Muitos relataram vivências difíceis imóvel alude à ideia de um corpo morto. Assim,
na infância e vida adulta em razão de precarieda- “quietar-se” também prenuncia a própria fini-
de e origem rural, tendo como principais motivos tude; é o lembrete da precariedade e fragilidade
para a mudança para a cidade o maior acesso a humanas 17.
educação e trabalho para os filhos, a busca por Segundo Le Breton 17, o problema da velhice
melhores condições de vida e a proximidade do é que esta sempre vem acompanhada da ideia
serviço de saúde. da morte e da precariedade da condição huma-
No grupo pesquisado, os signos relativos à na: a pessoa idosa encarna o envelhecimento
dinâmica da funcionalidade foram: “dar conta”, e a morte – os inomináveis da modernidade. O
“não dar conta” e “dar trabalho”, cujos significa- velho está reduzido ao seu corpo, sua singulari-
dos remetiam, respectivamente, à experiência da dade, quem ele foi, o que construiu, e toda a sua
funcionalidade, da incapacidade e da dependên- trajetória de vida está apagada sob a ótica equi-
cia de terceiros. A maior parte dos entrevistados vocada do corpo danificado, que precisa ser ali-
referiu sua saúde como boa, construto que se re- mentado, ser cuidado; o idoso passa a ser objeto
laciona à capacidade funcional e à autonomia, de seu corpo e não mais o sujeito. Em síntese, a
sugerindo que a questão da funcionalidade-in- velhice representa o instante em que o corpo se
capacidade parece modular como esses idosos mostra ao olhar do outro como não sendo mais
agem na velhice. A vivência da incapacidade in- favorável 17. Desse modo, em uma perspectiva
flui na avaliação que os idosos fazem sobre a sua dialética, a experiência corporal do envelheci-
saúde: quanto mais grave a incapacidade, pior a mento se transforma em uma experiência social,
avaliação da saúde. Com base nesses resultados, reforçada pela ciência biológica como uma de-
fez-se o aprofundamento analítico da questão generação orgânica irreversível e irremediável,
das ações, ou seja, os modos de agir diante da fadada ao declínio das funções e das reservas
perspectiva de alguma dificuldade na realização fisiológicas e à morte 17.
de tarefas diárias. Logo, no presente trabalho, as Barros 18 descreve que, no imaginário social
formas como os idosos lidavam com a experiên- brasileiro, ser velho sempre foi algo associado
cia real ou com a perspectiva de uma incapaci- a perdas, limitações físicas e dos papéis sociais,
dade eram “ficar quieto” e “não ficar quieto”. Essa dependência, sofrimento, doenças e a morte.
dúvida, “ficar ou não ficar quieto”, fundamenta- Um estudo 19 realizado na cidade de Campinas,
se na visão da velhice como tragédia, difundida São Paulo, observou que os idosos daquela ci-
na população estudada. dade, de maior porte, concebem a velhice como
perda ou incapacidade, sendo as enfermidades
consideradas como distúrbios próprios da ida-
de e sem tratamento. De forma similar, para os
idosos bambuienses, a velhice é percebida como

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FUNCIONALIDADE E INCAPACIDADE NA VELHICE 1455

uma doença progressiva e incapacitante, na qual sujeito, muitas vezes, é o único modo possível de
a perda não é apenas um conceito abstrato, mas sobrevivência dentro de determinado contexto
uma realidade: o corpo e a vida mudaram, uns social 22. Essa responsabilização do idoso por sua
pararam de trabalhar, outros de cozinhar, outros própria vida encontra-se bastante difundida en-
ainda de se divertir, visitar amigos e familiares. A tre os profissionais da saúde e desresponsabiliza
entrevistada com maior idade do grupo narra seu outros atores, como a família, a sociedade e o po-
momento de vida: “Muita idade... Não dou conta der público, fenômeno que Debert 23 denominou
mais, quietei mesmo... na minha saúde, eu fica- “reprivatização da velhice”.
va sozinha, trabalhava sozinha... foi acabando e No grupo pesquisado, as pessoas idosas se
acho que ficou desse jeito” (M16, 96 anos, viúva). consideravam responsáveis pela sua condição de
Essa visão fatalista da velhice aparece ainda vida, de trabalho, e pelos resultados disso na ve-
mais forte entre aqueles que foram menos fa- lhice. É o que pode ser observado no relato abai-
vorecidos do ponto de vista socioeconômico ao xo: “Eu fiquei nas condições que eu tô aqui agora
longo de toda a vida e continuam a sê-lo na ve- por ignorância minha mesmo. No tempo que eu
lhice. Uma mulher refere-se ao tempo de infân- era novo, tinha saúde, graças a Deus, o peso que
cia: “(...) Aqui, os pobres que nem eu, andava na era pra dois eu queria pegar sozinho e muitas das
rua pedindo. (...) a gente não podia comprar nem vezes eu peguei” (H7, 84 anos, casado).
1kg de carne para comer, mas a gente tinha saúde, Na contemporaneidade, de acordo com Gi-
tava boa. Vestia uma roupa usada que os outros ddens 24, a noção de estilo de vida é crucial para
davam, mas não tava sentindo nada. Agora, hoje, compreender o momento da velhice, pois a re-
você pode ter tudo, mas tá doente, não adianta produção social de uma forma de viver e pensar
não” (M24, 86 anos, viúva). se faz por meio dos processos de vigilância soma-
Nesse contexto, cabe discutir o que seria es- dos à reflexividade, e quem não faz parte desse
colha individual sobre a vida e o que, ao longo sistema de reprodução social torna-se alheio e
desta, reflete falta de opções. van Kampen et al. 20, isolado. Portanto, a velhice e a loucura são exem-
em artigo de revisão, buscaram elucidar a rela- plos de condições que, segundo o pensamento
ção entre incapacidade funcional e pobreza, po- moderno, teriam sido criadas pelo próprio indi-
rém, se a incapacidade conduz à pobreza, sofre víduo. Entretanto, como as condições de vida de-
influência da cultura e depende fortemente dos pendem das possibilidades de acesso e aquisição
valores sociais existentes na sociedade estuda- de recursos, esses modelos lineares de causalida-
da. Pessoas com alguma dificuldade, ao serem de merecem ser questionados 24.
consideradas incapazes e sofrerem algum tipo de Outro homem mostra-se resignado diante de
estigma, podem ser mais vulneráveis à pobreza. “uma vida cheia de sofrimentos e peripécias”: “Eu
Outra possível relação entre incapacidade e po- costumo falar o seguinte, é, o Brasil é campeão em
breza seria esta última como causa da dificulda- muita coisa: futebol, carnaval e acidente de traba-
de. Mais uma explicação plausível poderia ser a lho. Eu também, eu ajudei a conquistar a taça des-
existência de possíveis barreiras físicas que refor- te triste campeonato. Quando tinha 14 anos, eu
çariam a incapacidade. Nesse caso, a pobreza di- fui acidentado no trabalho, perdi o braço esquer-
ficultaria o acesso à alimentação, aos serviços de do, fui amputado e agora é, é, é uma vida cheia
saúde, ao transporte, à mobilidade dentro e fora de sofrimentos, de peripécias. Eu tinha 14 anos,
de casa, quadro que pode piorar a condição das fui aprender a trabalhar com uma mão só, agora,
doenças e favorecer o aparecimento da incapaci- depois de setenta e tantos anos, veio o AVC e me
dade, resultando em mais pobreza, mais estigma, pegou o lado direito, o lado bom [risos] (…) ...mas
que, por sua vez, levariam a mais incapacidade. eu tô aí, não posso me queixar não. Se eu perdi...
Para quebrar esse círculo vicioso, seria necessá- porque eu tenho mais que agradecer a Deus de eu
rio, além de conhecer os fatores determinantes já viver mais de que a média brasileira, apesar da
e agravantes da incapacidade, reduzir o estigma, luta difícil na vida. Porque eu sou de origem mui-
coibir as práticas discriminatórias e fortalecer o to difícil na vida” (H49, 77 anos, casado).
empowerment dos indivíduos com dificuldades. Boltanski 25, ao estudar a “cultura somática”
Ou seja, as intervenções deverão operar na dire- nas diferentes classes de trabalhadores, eviden-
ção dos direitos humanos e na compreensão da ciou que o nível de instrução média de um grupo
incapacidade como um fenômeno sociocultural, influencia na forma como este presta atenção ao
e não apenas como uma fatalidade biológica 7,20. próprio corpo. À medida que se sobe na hierar-
O modelo biomédico apregoa que quem cui- quia social e no nível de instrução formal, de-
da da saúde, pratica exercícios, alimenta-se bem cresce o trabalho físico exaustivo e aumenta o in-
e consulta regularmente um médico tem maior telectual. Dessa forma, é possível manter-se uma
chance de viver mais e melhor 21. No entanto, es- relação mais consciente com o corpo, uma vez
se modelo parece ignorar que o “estilo de vida” do que trabalhos extenuantes fisicamente dificul-

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tam a comunicação entre o sujeito e seu corpo. não ficar quieto” indicam que as maneiras de agir
Além disso, caso sinta algo, terá de interromper diante da incapacidade não são apenas escolhas,
a atividade, o que faz o trabalhador ter medo de mas se relacionam ao cuidado à saúde e ao con-
perder seu meio de sobrevivência. Por sua vez, ao texto sociocultural, como se verá a seguir.
trabalhar de modo insalubre, sofre acidentes, do-
enças profissionais e outros agravos, que podem • “Velho não pode parar”
comprometer as condições de vida na velhice.
Ao discutir a questão do curso da vida na Considerando-se cada UBS separadamente, ve-
contemporaneidade, Debert 26 problematiza a rificou-se que, naquela em que era atendida a
questão da liberdade de escolha e enfatiza que, população com melhores condições socioeconô-
embora o curso de vida seja uma construção so- micas, os idosos, inclusive aqueles que relatavam
cial e cultural, não se trata de algo que o homem doenças incapacitantes, apresentavam-se com
possa fazer e refazer, como se não houvesse limi- discurso mais positivo e menos queixoso em re-
tes – impostos pela sociedade à qual pertence – à lação à velhice, segundo o qual “velho não pode
sua criatividade e à sua capacidade de inscrever a parar”. Portadora de retinose pigmentar, doença
cultura na natureza. Para Debert 26, é necessário responsável pela cegueira total de um olho e par-
reconhecer que, se a responsabilidade individu- cial do outro, uma idosa de maior poder aquisi-
al pela escolha é democraticamente distribuída, tivo, que administrava sua própria construtora
os meios para agir em conformidade com essa de imóveis, não se mostrava preocupada com
responsabilidade não o são. Caso contrário, o eventuais barreiras físicas, nem se queixava de
descaso de alguns setores do poder público e da problemas de saúde; sentia-se privilegiada por
sociedade pareceria justificado ante idosos que sua vida e, apesar de morar sozinha, contava com
enfrentam o declínio inevitável do corpo, que apoio de familiares e de vizinhos: “...minha saúde
não responde às vontades individuais, por serem eu acredito que é boa, entendeu. Também não fico
os velhos considerados consumidores falhos. De parada... Porque a única coisa ruim que eu acre-
modo similar, aqueles cujo corpo é compreendi- dito que eu tenho é só a visão. Também Deus não
do como resultado de transgressões também não pode dar tudo pra uma pessoa só... Minhas filhas
teriam direito à piedade 24. Segundo Bauman 27, são todas boazinhas comigo... Qualquer coisa que
a liberdade de escolha é uma condição gradua- acontecer a gente se vira... a gente já guarda as
da, que, somada à desigualdade das condições reservas [dinheiro] da gente pra isso...” (M44, 69
sociais e ao dever da liberdade sem os recursos anos, divorciada).
que permitam uma escolha mais livre, parece ser Os idosos desta UBS tinham maior poder
a fórmula exata para uma vida sem dignidade, aquisitivo, maior nível de escolaridade próprio
carregada de humilhação e autodepreciação. ou de familiares e contavam com cuidadores, pla-
Logo, para que os idosos entrevistados mu- nos privados de saúde, pouco utilizando os servi-
dem a concepção cultural da velhice como uma ços de saúde pública. Concepção semelhante foi
fase negativa para uma que possa trazer recom- observada nos demais territórios, entre pessoas
pensas 28, eles terão de vislumbrar novas for- mais novas, com pouca ou nenhuma dificulda-
mas de viver esse momento. Para isso, devem de nas funções diárias, maiores recursos finan-
ser-lhes oferecidas condições para enfrentar as ceiros, intelectuais e/ou apoio social. Um idoso
dificuldades e minimizar as perdas que marcam bambuiense, que trabalhou como bancário em
a forma como eles conhecem a velhice e se re- Belo Horizonte e retornou para Bambuí na sua
conhecem nela. aposentadoria, declara-se adaptado à nova fase:
“Aí morando aqui, com o tempo a gente aprendeu
• “Ficar ou não ficar quieto” a viver com o que tinha aqui (...) Tenho bastante
amigo. Nós temos movimento de igreja. Eu, por
Tendo como pano de fundo essa perspectiva da exemplo, pertenço ao encontro de casais da igre-
velhice como tragédia, observa-se uma dualida- ja, eu sou Vicentino, então tem muita atividade.
de, quase hamletiana em face do processo fun- Eu sou aposentado, mas eu não tenho tempo pra
cionalidade-incapacidade. Emergiram da análi- nada (...) Eu pesco, eu sou criador de pássaro regis-
se duas maneiras, em princípio antagônicas, de trado no IBAMA (...) Comigo não tem esse negócio
lidar com a incapacidade, refletidas na categoria: de ociosidade... Tenho nada não [problemas de
“ficar ou não ficar quieto”. Os signos “não pode saúde]” (H18, 65 anos, casado).
parar”, “não fico parado”, “não pode quietar” e Sendo assim, a maneira de lidar com a velhice
“movimentar” aparecem em contraposição a e a funcionalidade, de acordo com os achados
“velho fica mais quieto”, “parei de fazer”, “esperar deste trabalho, pode variar conforme a dispo-
Deus”, “tenho de esperar, não posso me matar”. nibilidade de recursos financeiros, intelectuais,
Contudo, as ações referentes à questão “ficar ou subjetivos e ou de apoio social, os quais parecem

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FUNCIONALIDADE E INCAPACIDADE NA VELHICE 1457

mediar a forma como idosos experimentam a até Ele [Deus] me levar. Vontade de ir para o céu...
velhice com ou sem limitações. Possivelmente, Criei duas [filhas] e nenhuma está aqui...” (M34,
outras condições, como as questões psicológicas, 81 anos, viúva).
também interfiram no modo como essas pessoas A segunda idosa, tendo sofrido “derrame” e
constroem a subjetivação desses eventos de vida interrompido o tratamento fisioterapêutico por
e as suas velhices 16. dificuldades de transporte até a clínica conve-
niada com a prefeitura, explica: “...mas fazer o
• “Velho fica mais quieto” quê, eu não posso me matar... tenho que esperar
Deus... consulto diariamente porque não sara,
Nos territórios de maior risco sociossanitário, mas a gente fica naquela fé que vai sarar, mas o
os idosos têm discurso mais negativo acerca de médico ótimo me desanimou que isso é idade, que
suas vidas e da velhice, principalmente aqueles eu tenho que aceitar... Meu filho mora longe, quer
de maior faixa etária, mais adoentados, mais de- que eu vou morar lá, mas não posso, aqui é minha
pendentes dos serviços públicos, com maiores casa...” (M24, 86 anos, viúva).
dificuldades diárias e menos recursos disponí- Observa-se, assim, que, no caso dos entrevis-
veis – financeiros, intelectuais, subjetivos e de tados mais incapacitados, a desistência da vida
apoio social. Para estes entrevistados, a maneira vinha acompanhada da percepção da ausência
de lidar com a funcionalidade é oposta a “velho de apoio social, principalmente da família, único
não pode parar”, sendo representada pelo signo recurso reconhecido pelos idosos: “Que minha
“velho fica mais quieto”, que externa certo con- família mora tudo longe né. Aqui no Bambuí,
formismo com as limitações que surgiram com o só eu... Eu sou igual filhote de perdiz, sou só eu”
aumento da idade, como afirma este homem: “A (M13, 69 anos, união estável).
idade bota as coisas tudo mais custoso pra gente Novamente, a questão da velhice com difi-
né... o peso da idade... É muita coisa que a gente culdades e sem apoio é o que permeia essa ma-
vai deixando... Então, mas também não tem [ou- neira de agir dos idosos entrevistados. Se antes,
tro jeito], como diz o outro, tô conformado” (H30, para eles, a velhice era vivida e percebida como
76 anos, solteiro). perdas, agora ela também é vivida diariamente
A mesma concepção de que não há nada a fa- diante da perspectiva da morte, constructos as-
zer, a não ser aquietar-se e se conformar, é trans- sociados no imaginário social 17,29. Não se pode
mitida a um idoso ao procurar o profissional de negar que os idosos morrem, mas também não
saúde: “(...) [o médico] só falou comigo assim: ‘o se pode negar que as crianças morrem, os jovens
senhor não preocupa muito não, caça um jeito morrem, os adultos morrem, pois a morte não
de ficar mais despreocupado, repouso, isso maior é uma condição da velhice, é uma condição da
que você sente agora é idade. Essa idade da gente vida 19. Porém, a morte do indivíduo não se limita
aparece uma coisinha aqui, aparece outra por lá, à morte biológica, existe a morte social, que ocor-
o senhor não tem que preocupar, não’” (H7, 84 re quando ele não se reconhece como a mesma
anos, casado). pessoa, por não conseguir executar as ativida-
Contudo, esta concepção revela-se uma faca des que fazia anteriormente, podendo afetar to-
de dois gumes: por um lado, aquietar-se pode- da a dinâmica familiar 18. Ademais, a morte dos
ria favorecer a resiliência de pessoas com limita- vínculos sociais precede a morte física e, nesse
ções; por outro, mostra-se uma estratégia inefi- momento, a religião, a fé e Deus aparecem para
caz e contraproducente de cuidado 2, a qual, pos- esses indivíduos como âncoras a que se agarram
sivelmente, torná-los-á ainda mais dependentes quando a vida pouco parece ter para lhes ofere-
e desamparados no futuro. cer 30. Nesse contexto, “ficar ou não ficar quieto”
Portanto, com o agravamento da condição de e “esperar Deus” podem não ser escolhas indivi-
saúde e da incapacidade, quando as dificulda- duais, mas o resultado concreto do investimento
des aumentam a ponto de lhes impedir uma vida familiar e coletivo – ou da falta dele – tanto na
digna e independente, os idosos que ficam mais possibilidade de melhora das pessoas idosas com
quietos desenvolvem uma segunda forma de incapacidade, quanto na velhice digna.
pensar e agir: “esperar Deus” ou “esperar a morte
chegar”. Nesse momento, viver perde o sentido e
nada mais há a fazer, como ilustram os dois rela- Considerações finais
tos a seguir. No primeiro, uma idosa restrita ao
leito por obesidade mórbida, cujo único gesto A velhice é uma experiência inédita para cada
independente é abrir e fechar uma janela com indivíduo, com dimensões simbólicas, sociais e
uma bengala, necessitando de cuidados para to- culturais. Acreditar que todos poderão viver da
das as atividades cotidianas, sem filhos morando mesma forma é deixar de compreender que a
na cidade, admite: “Tem de dar conta de aguentar velhice, em seu processo, apresenta inúmeras

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1458 Pereira JK et al.

formas de ser vivida, dependendo dos caminhos dição pior. A presença dos profissionais da ESF
escolhidos e dos determinantes desse envelheci- e do NASF pode ser um alento, mas ainda não
mento. Entretanto, percebe-se que, em Bambuí, foi reconhecida pelos entrevistados. Para aqueles
os fatores que medeiam as várias formas de vi- que já experimentam a incapacidade com de-
ver a velhice com ou sem saúde e com ou sem pendência, urge a implementação de políticas
dificuldades nas funções diárias são os recursos públicas que ampliem a possibilidade de apoio à
financeiros, intelectuais, subjetivos e sociais. Pa- família, pela sociedade e pelos serviços públicos
ra idosos com mais recursos, a incapacidade e sociais e de saúde, que os alcancem onde estive-
a velhice não são condições vividas necessaria- rem, no domicílio, em hospitais ou instituições.
mente com sofrimento e desesperança. Para os Essa concepção cultural, que vê a incapa-
demais, a velhice com dificuldades nas ativida- cidade funcional como condição inexorável da
des diárias vem acompanhada de conformismo e velhice e responsabilidade exclusiva de quem a
da concepção de ser uma fase associada a perdas, vivencia, desresponsabiliza o Estado e a socieda-
a restrições e à morte. de de seu dever constitucional e ético de amparar
A concepção cultural vigente considera que pessoas idosas em situação de vulnerabilidade.
deixar de fazer algo ao envelhecer é normal. Des- Ainda que os resultados não permitam genera-
sa forma, os serviços públicos sociais e de saú- lização, compreender a percepção dos próprios
de não devem esperar que os idosos demandem idosos acerca da dimensão funcional da saúde é
cuidados para uma incapacidade, pois, na visão parte de um cuidado mais humanizado e efetivo
daqueles, não haveria recursos ou tratamento dessa população. Afinal, a avaliação da funciona-
para suas limitações: “isso é coisa da idade”. Em lidade e a reabilitação da incapacidade funcional
adição, os idosos se ressentem da falta de inter- devem ser parte do cuidado de pessoas de todas
venção proativa e efetiva de políticas públicas as idades, sendo incluídas no cotidiano dos pro-
inclusivas, para que não evoluam para uma con- fissionais de saúde.

Resumen Colaboradores

El objetivo de este trabajo es investigar cómo los ancia- J. K. Pereira, K. C. Giacomin e J. O. A. Firmo contribuí-
nos residentes en la comunidad se ocupan de la pers- ram na redação e revisão do artigo.
pectiva de la funcionalidad/discapacidad en la vejez,
así como entender de qué forma el contexto sociocultu-
ral modula este proceso. Se trata de un abordaje cua- Agradecimentos
litativo, en el cual el modelo de signos, significados y
acciones se utilizó en la reunión y análisis de los datos. Ao Centro de Pesquisas René Rachou, Fundação Oswal-
Se entrevistaron a 57 ancianos con edades entre 61 y 96 do Cruz, à FAPEMIG e aos idosos que participaram
años, registrados en las Unidades Básicas de Salud en da pesquisa.
Bambuí, Minas Gerais, Brasil. “Moverse o no moverse”
es la cuestión que subyace a la movilidad y discapaci-
dad en el proceso de la vejez. Sin embargo, no es una
cuestión de elección individual, porque la respuesta
depende de los recursos de apoyo financiero, intelec-
tuales, subjetivos y sociales disponibles. Además, no
moverse (estarse quieto) refleja una concepción de la
vejez inexorablemente asociada a la discapacidad, que
deja a las personas de edad conformándose con su con-
dición física y cuando las dificultades aumentan, ellos
sólo “esperan la llegada de la muerte”. Los equipos de
salud tienen que intervenir para prevenir esta concep-
ción sobre la condición física en la tercera edad.

Anciano; Salud del Anciano; Antropología

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FUNCIONALIDADE E INCAPACIDADE NA VELHICE 1459

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