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Espaços de inclusão

APRESENTAÇÃO

MARTA GIL*

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“A deficiência é uma dentre todas as possibilidades do ser huma-


no e daí dever ser considerada, mesmo se as suas causas e con-
seqüências se modificam, como um fato natural que nós mostra-
mos e de que falamos, do mesmo modo que o fazemos em relação
a todas as outras potencialidades humanas” (UNESCO, 1977).
“Nós não devemos deixar que as incapacidades das pessoas nos
impossibilitem de reconhecer as suas habilidades. As caracte-
rísticas mais importantes das crianças e jovens com deficiên-
cia são as suas habilidades” (Hallahan e Kauffman, 1994).
“Uma criança deficiente não é respeitada se for abandonada à
sua deficiência, do mesmo modo que não é respeitada se se negar
a realidade da sua deficiência. É respeitada se a sua identidade,
a sua originalidade, da qual a deficiência também faz parte, for
favorecida e quase provocada, isto é, se ela for levada a desenvol-
ver-se. Tal é a atitude realista ativa, em situação e em relação.
Se for ao contrário, temos o realismo inerte” (Canevaro, 1984).
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Vivemos um momento histórico caracterizado por mudanças,


turbulências e crises, mas também pelo surgimento de oportunidades.

Esta situação pode ser constatada na área da Deficiência, entre outras.

* Socióloga. Gerente da Rede SACI – Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação (www.saci.org.br).


Consultora desta série.

PROPOSTA PEDAGÓGICA 2
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

Basta olhar à nossa volta: há mais pessoas com deficiência nas ruas e locais
públicos; elas aparecem com mais freqüência no noticiário, inclusive no esportivo:
nas últimas Paraolimpíadas, conquistaram muito mais medalhas (inclusive de
ouro e prata) que os nossos atletas brasileiros ditos “normais”... Elas se destacam
na música (podemos citar o reggae d’ “A Tribo de Jah”, por exemplo), ganham
as passarelas, como modelos fotográficos, como Mara Gabrilli e Ranulfo, e
também escrevem livros, como Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva. O
Pirata, que ganhou este apelido por ter uma prótese na perna, continua surfando
e ensinando portadores de deficiência a surfar; a Equiperneta, composta por
jovens com diferentes tipos de deficiência física, foi praticar esportes radicais
no Nepal, há uns dois anos, façanha que foi mostrada na televisão.

Estes exemplos (e muitos outros mais) indicam que há um processo social


em curso, denominado “inclusão” pelos estudiosos: de um lado, a sociedade
começa a perceber a existência de pessoas portadoras de deficiência e a se
organizar, para acolhê-las e, de outro, as próprias pessoas com deficiência
começam a se mostrar, a reivindicar seus espaços, a exercer seu papel de cidadãs.

Como todo processo social, este também é complexo e acontece de


forma gradual. Afinal, para que a inclusão aconteça é preciso modificar
séculos de história, de preconceitos muito arraigados, de ambos os lados –
e isso não acontece de um dia para o outro.

A inclusão ocorre nas escolas, nas lanchonetes, nos shopping centers,


no trabalho, nas igrejas – enfim, em todos os espaços de interação humana.
Nesta série do Salto para o Futuro/TV Escola, vamos focalizar principalmente
o que está acontecendo nas escolas, com a Educação Especial, que passa a
se chamar Educação Inclusiva. É nosso propósito apresentar material para
reflexão dos que estão envolvidos com o processo pedagógico.
Como pensar em incluir e, mais ainda, como exercer a inclusão, se
não conhecemos estas pessoas, se não temos informações sobre elas – enfim,
se elas ainda não existem para nós? Estes e outros temas serão debatidos
nos cinco programas da série Espaços de inclusão, que será apresentada no
programa Salto para o Futuro, da TV Escola, de 22 a 26 de abril de 2002.

Temas que serão abordados na série Espaços de Inclusão

PGM 1: O QUE É INCLUSÃO SOCIAL?

Este termo “inclusão social” tem sido bastante veiculado e discutido, em

PROPOSTA PEDAGÓGICA 3
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

substituição ao conceito utilizado anteriormente, de “integração social”, em


muitos países, não apenas no Brasil. Porém, há várias acepções deste ter-
mo, que introduz um novo paradigma em nossa sociedade e assinala outra
etapa no processo de conquista dos direitos por parte das PPD – Pessoas
Portadoras de Deficiência e de simpatizantes desta causa. Neste programa,
abordaremos este conceito, através de perguntas “provocadoras” e manten-
do, sempre que possível, o foco sobre a situação nas escolas: O que significa
inclusão? Quem são, realmente, as pessoas portadoras de deficiência? Por
que elas estavam “invisíveis”, até há pouco tempo?

PGM 2: DEFICIÊNCIA MENTAL E INCLUSÃO SOCIAL

Este programa focaliza a realidade das pessoas com deficiência mental, que
representam de 40 a 50% do segmento das PPD. Dada a grande ênfase que
nossa cultura coloca sobre o desempenho e as habilidades cognitivas, per-
cebidas até mesmo em ditados populares como “O homem que lê vale mais”,
as pessoas com este tipo de deficiência recebem a carga mais expressiva de
atitudes e sentimentos discriminatórios e são consideradas “eternas crian-
ças”. Este programa focalizará sua atuação em diversos ambientes sociais:
na escola, no trabalho, em atividades de lazer e tendo direito à expressão
de sua sexualidade.

PGM 3: DEFICIÊNCIA VISUAL E INCLUSÃO SOCIAL

A incidência de deficiência visual corresponde a aproximadamente 20 a


30% dos casos de deficiência. Infelizmente, estes números têm apresenta-
do tendência a aumentar, em decorrência do aumento da violência, nas
cidades de médio e grande porte. Este programa mostrará portadores de
deficiência visual parcial ou total desempenhando tarefas profissionais,
aprendendo o alfabeto Braille e tendo acesso a museus.

PGM 4: DEFICIÊNCIA FÍSICA E INCLUSÃO SOCIAL

Embora as pessoas utilizem o termo “deficiência física” de forma genérica, para


designar todos os tipos de deficiência, para os que atuam na área ele indica
pessoas com comprometimentos motores e/ou de locomoção, em braços e/ou
pernas. Este tipo de deficiência também tem aumentado, em grande parte
como conseqüência da violência urbana e da prática de esportes radicais. Este
programa mostrará alternativas de adaptações arquitetônicas que proporcio-
nam autonomia, situações de inclusão em salas de aula e no trabalho.

PROPOSTA PEDAGÓGICA 4
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

PGM 5: Deficiência auditiva e inclusão social

A situação das pessoas com deficiência auditiva é, freqüentemente,


minimizada tanto por familiares quanto por medidas do Poder Público, que
traduzem esta percepção na frase: “Ora, mas ele/a é apenas surdo/a”, sem
se dar conta do que esta deficiência afeta a capacidade de compreensão e
de comunicação destas pessoas. Assim, os estudos e as iniciativas voltadas
para a compreensão e o atendimento deste segmento das PPD são em me-
nor número. Este programa vai mostrar a pessoa surda em diversos ambi-
entes de aprendizagem e exercendo o lazer.

PROPOSTA PEDAGÓGICA 5
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

PGM 1: O QUE É INCLUSÃO SOCIAL?


MARTA GIL*

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Começando a conversa: quem são as uma deficiência, mas ela não É esta de-
PPD – Pessoas Portadoras de ficiência. O que importa, em primeiro
Deficiência? lugar, é a pessoa.

Há muitas maneiras de conceituar ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

quem pode ser classificado como porta- Estes termos também despertam contro-
dor de deficiência; estes conceitos mu- vérsias; cada um deles tem defensores,
daram, ao longo da História, assim como com argumentos próprios. Acreditamos
as palavras utilizadas para exprimi-los. que o fundamental é referir-se a estas

Termos como: retardado, doentinho, alei- pessoas ou conversar com elas de for-

jado, surdo-mudo, surdinho, mudinho, ex- ma natural e respeitosa.


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cepcional, mongolóide, débil mental e


outros não são mais aceitos, atualmen- Em termos gerais, podemos definir
te, pois carregam muitos preconceitos. que “Pessoa Portadora de Deficiência”
E todos nós sabemos o quanto as pala- é a que apresenta, em comparação com
vras são poderosas... a maioria das pessoas, significativas di-
Atualmente, os termos adequados ferenças físicas, sensoriais ou intelectu-
são: Pessoa Portadora de Deficiência, ais, decorrentes de fatores inatos e/ou
Pessoa com Deficiência ou Pessoa com adquiridos, de caráter permanente e que
Necessidades Especiais. Estes termos acarretam dificuldades em sua interação
sinalizam que, em primeiro lugar, com o meio físico e social.
referimo-nos a uma PESSOA que, den- No Brasil, o Decreto n. 3.298 de 20
tre outros atributos e características, tem de dezembro de 1999 considera pessoa

* Socióloga. Gerente da Rede SACI – Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação (www.saci.org.br).


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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

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portadora de deficiência a que se enqua- mais deficiências primárias (mental/vi-
dra em uma das seguintes categorias: sual/auditiva/física), com comprometi-
Deficiência Física: “Alteração com- mentos que acarretam conseqüências no
pleta ou parcial de um ou mais segmen- seu desenvolvimento global e na sua ca-
tos do corpo humano, acarretando o com- pacidade adaptativa”.
prometimento da função física, apresen- Uma das possibilidades de ocorrên-
tando-se sob a forma de paraplegia, cia de deficiência múltipla é a sur-
paraparesia, monoplegia, monoparesia, docegueira, na qual a pessoa tem uma
tetraplegia, tetraparesia, triplegia, perda substancial de visão e audição, de
triparesia, hemiplegia, hemiparesia, tal forma que a combinação das duas
amputação ou ausência de membro, pa- causa muita dificuldade no dia-a-dia,
ralisia cerebral, membros com deformi- demandando o emprego de metodologias
dade congênita ou adquirida, exceto as próprias para comunicação e apren-
deformidades estéticas e as que não pro- dizagem.
duzam dificuldades para o desempenho No outro extremo da escala das ha-
de funções”; bilidades intelectuais estão as pessoas
Deficiência Auditiva: “Perda parci- que são consideradas superdotadas ou
al ou total das possibilidades auditivas com altas habilidades, que se caracteri-
sonoras, variando em graus e níveis” que zam por um notável desempenho e ele-
vão de 25 decibéis (surdez leve) à vada potencialidade em qualquer dos
anacusia (surdez profunda); seguintes aspectos, isolados ou combi-
Deficiência Visual: “Acuidade visu- nados:
al igual ou menor que 20/200 no me- Alta capacidade intelectual geral;
lhor olho, após a melhor correção, ou Aptidão acadêmica específica;
campo visual inferior a 20 (tabela de Pensamento criativo ou produtivo;
Snellen), ou ocorrência simultânea de Capacidade de liderança;
ambas as situações”; Talento especial para artes;
Deficiência Mental: “Funcionamen- Capacidade psicomotora.
to intelectual geral significativamente Além destes quatro tipos de defici-
abaixo da média, oriundo do período de ência anteriormente citados, há um ou-
desenvolvimento, concomitante com li- tro grupo de comportamentos e atitudes
mitações associadas a duas ou mais áreas que se diferencia do padrão considera-
da conduta adaptativa ou da capacidade do normal e que recebe o nome de con-
do indivíduo em responder adequada- dutas típicas. Estas podem ser defini-
mente às demandas da sociedade”; das como manifestações de comporta-
Deficiência Múltipla: “É a associa- mento típicas de portadores de síndro-
ção, no mesmo indivíduo, de duas ou mes e quadros psicológicos, neurológi-

BOLETIM – PGM 1 - O QUE É INCLUSÃO SOCIAL ? 7


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

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cos ou psiquiátricos, que ocasionam atra- problemática referente aos portadores de
sos no desenvolvimento e prejuízos no deficiências física, mental, auditiva e vi-
relacionamento social, em grau que re- sual.
queira atendimento educacional especi-
Gradações
alizado.
Vale a pena mencionar, ainda que É fácil perceber que, qualquer que
brevemente, o autismo, que é uma seja o tipo de deficiência, ele apresenta
síndrome definida por alterações presen- gradações: há pessoas com comprometi-
tes, em geral, por volta do 3º ano de vida mentos maiores, que exigem equipamen-
e que se caracteriza pela presença de tos como cadeira de rodas, e há outras
desvios nas relações interpessoais, lin- cujas limitações são menores; algumas
guagem/comunicação, jogos e compor- conseguem aprender a ler e escrever,
tamentos. mas outras não. A Organização Mundial
Dentre os sinais mais característicos da Saúde define estes graus usando as
do autismo, podemos citar: seguintes classificações:
Tendência ao isolamento; Desvantagem (handicap): “No domí-
Movimentos repetitivos, aparente- nio da saúde, a desvantagem representa
mente sem função e sem objetivo um impedimento sofrido por um dado
(esteriotipia); indivíduo, resultante de uma deficiência
Dificuldade no relacionamento ou de uma incapacidade, que lhe limita
com outras pessoas (não mantém ou lhe impede o desempenho de uma ati-
diálogo, mantém o olhar distante, vidade considerada normal para ele, le-
rejeita contatos físicos); vando em conta a idade, o sexo e os fato-
Faz uso de seu nome quando se res sócio-culturais” (OMS, 1980, p. 37).
refere a si próprio; A situação de desvantagem só se de-
Repete palavras ou frases constan- termina em relação a outros, sendo por
temente (ecolalia); isso um fenômeno social. Caracteriza-se
Ausência de noção de perigo; por uma discordância entre o nível de
Permanência em situação de fan- desempenho do indivíduo e as expecta-
tasia desvinculada da realidade; tivas que o seu grupo social tem em re-
Hiperatividade intensa e perma- lação a ele. A situação de desvantagem
nente; expressa, pois, o conjunto de atitudes e
Necessidade de manter rotinas ob- respostas dos que não sofrem de des-
sessivas de comportamento, apre- vantagens.
sentando reação de pânico quan- Deficiência: “No domínio da saúde,
do há alguma interferência. deficiência representa qualquer perda ou
A série Espaços de Inclusão trata da anormalidade da estrutura ou função

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

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psicológica, fisiológica ou anatômica”. zer. Isso cria um desconforto na
Dizer que um indivíduo “tem uma defi- interação social, fazendo com que mui-
ciência” não implica, portanto, que ele tos evitem as crianças com deficiência
tenha uma doença nem que tenha de ou façam piadinhas de mau gosto.
ser encarado como “doente”. Estas atitudes mostram a existência de pre-
Incapacidade: No campo da saúde, conceitos e de estigma.
indica uma desvantagem individual, re-
sultante da desvantagem ou da defici- Deficiência: verdades e mitos
ência, que limita ou impede o cumpri- Verdades
mento ou desempenho de um papel so- Deficiência não é doença;
cial, dependendo da idade, sexo e fato- Algumas crianças portadoras de de-
res sociais e culturais. ficiências podem necessitar de es-
A incapacidade, estabelecendo a co- colas especiais;
nexão entre a deficiência e a desvanta- As adaptações são recursos neces-
gem, representa um desvio da norma sários para facilitar a integração
relativamente ao comportamento ou ati- dos educandos com necessidades
vidade habitualmente esperados do in- especiais nas escolas;
divíduo. A incapacidade não é um des- Síndromes de origem genética não
vio do órgão ou do mecanismo, mas sim são contagiosas;
um “desvio” em termos de atuação glo- Deficiente mental não é louco.
bal do indivíduo e pode ser temporária
ou permanente, reversível ou irreversível, Mitos
progressiva ou regressiva. Todo surdo é mudo;
Estes conceitos da OMS são segui- Todo cego tem tendência à músi-
dos por praticamente todas as organiza- ca;
ções internacionais que abordam a pro- Deficiência é sempre fruto de he-
blemática da Deficiência: UNESCO, rança familiar;
International Rehabilitation, OIT, ONU Existem remédios milagrosos que
e outras. curam as deficiências;
Trazendo estes conceitos para o con- As pessoas com necessidades es-
texto da inclusão dos alunos com defici- peciais são eternas crianças;
ências, podemos perceber que os aspec- Todo deficiente mental é depen-
tos que adquirem maior relevância nes- dente.
te cenário são as desvantagens funcio-
O que fazer, se suspeitar da
nais que eles apresentam. Nem sempre
ocorrência de deficiência?
a comunidade escolar está preparada
para lidar com elas e não sabe o que fa- Entre em contato com a família,

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

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para verificar se estes comporta- olhar, a maneira de comer, a forma de
mentos estão presentes também andar, a forma de vestir, o senso de hu-
em casa e se já foi tomada alguma mor etc.
providência; Muitas vezes, a segregação começa
Recomende que a criança seja en- a partir da colocação de “rótulos” ou de
caminhada a serviços especializa- “etiquetas” nas pessoas com deficiência,
dos, para fins de avaliação. do tipo “não vai aprender a ler”, “não
pode fazer tal movimento” e outros. Es-
Por que temos preconceitos?
tas “etiquetas” têm conseqüências sobre
É normal ter preconceito. a forma como estas pessoas são aceitas
O preconceito faz parte da natureza pela sociedade e não permitem que a
humana, desde o início dos tempos. O própria pessoa se exprima e mostre do
homem desconfia e tem medo de tudo o que é capaz. A ênfase recai sobre a
que é diferente dele mesmo. O “outro” INcapacidade, sobre a Deficiência e não
inspira receio, temor, insegurança; daí sobre a Eficiência, a Capacidade, a Pos-
para adotar atitudes defensivas e de ata- sibilidade.
que é um passo. “O normal e o estigmatizado não são
Esses sentimentos eram importan- pessoas concretas e sim, perspectivas
tes no tempo das cavernas, quando os que são geradas em situações sociais.
homens eram poucos e lutavam brava- Assim, nenhuma diferença é em si mes-
mente para sobreviver em um ambiente ma vantajosa ou desvantajosa, pois a
hostil. Infelizmente, persistem até hoje, mesma característica pode mudar sua
nas lutas entre católicos e protestantes, significação, dependendo dos olhares
árabes e judeus, muçulmanos e cristãos, que se lançam sobre elas” (Proposta
brancos e negros... A lista dos pontos de Curricular de Santa Catarina - 1998).
divergência é grande mas, no fundo, o Felizmente, esta postura começa a
ponto essencial reside na diferença en- ser alterada e os profissionais, principal-
tre Eu e o Outro. mente na área da Educação, estão vol-
A rotina das relações sociais nos tando o diagnóstico e a atuação para as
leva, mais ou menos conscientemente, possibilidades e os recursos que a pes-
a “classificar” as pessoas de acordo com soa portadora de deficiência tem.
uma escala de valores a priori, como re- E, deste ponto de vista, a hetero-
sultante da nossa educação e das nos- geneidade, característica presente em
sas referências culturais (do lugar que qualquer grupo humano, passa a ser vista
ocupamos na “escala social”). Os crité- como fator imprescindível para as in-
rios dessa “classificação” são variados: a terações na sala de aula.
qualidade da expressão, o modo de A partir do reconhecimento e da acei-

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

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tação de nossos preconceitos e descon- superstições, frustrações, exclusões, se-
fianças, estamos aptos a mudar nosso parações estão, lamentavelmente, pre-
comportamento e a aceitar que o objeto sentes desde os tempos da antiga Grécia,
destes sentimentos é uma pessoa como em Esparta, onde essas pessoas eram
nós, ou seja, começaremos a identificar jogadas do alto de montanhas, ou em
os pontos comuns entre nós e não mais Atenas, onde elas eram abandonadas nas
a acentuar as diferenças. Poderemos, florestas.
então, identificar o que nos une e cons- Adotando esta atitude de “longe dos
tatar que nossa essência é a mesma: so- olhos, longe do pensamento”, Platão che-
mos seres humanos, cuja diversidade in- gou mesmo a ponto de afirmar, quando
dica riqueza de situações e possibilida- dizia como deveria ser a sociedade ideal:
de de intercâmbio de vivências e de
aprendizagem. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Os diferentes ritmos, comportamen- “As mulheres dos nossos militares


tos, experiências, trajetórias pessoais, são pertença da comunidade, assim
contextos familiares, valores e níveis de como os seus filhos, e nenhum pai
conhecimento de cada criança (e do pro- conhecerá o seu filho e nenhuma cri-

fessor) imprimem ao cotidiano escolar a ança os seus pais. Funcionários pre-


parados tomarão conta dos filhos dos
possibilidade de troca de repertórios, de
bons pais, colocando-os em certas en-
visão de mundo, bem como os confron-
fermarias de educação, mas os filhos
tos e a ajuda mútua, e a conseqüente
dos inferiores, ou dos melhores, quan-
ampliação das capacidades individuais.
do surjam deficientes ou deformados,

Por que as pessoas portadoras de serão postos fora, num lugar misterio-
so e desconhecido, onde deverão per-
deficiência são “invisíveis”?
manecer.”
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Às vezes, até parece que as pessoas
com deficiência não existem, são fantas-
mas... Elas não são muito vistas nas ruas, Na Idade Média, eram freqüentes os
ou na televisão, ou na política... Como apedrejamentos ou a morte nas foguei-
se explica isso? ras da Inquisição das pessoas com defi-
Na verdade, desde que o mundo é ciência, pois eram consideradas como
mundo sempre houve pessoas com defi- possuídas pelo demônio.
ciência. Mas, nem sempre estas pessoas No séc. XIX e princípios do séc. XX a
foram consideradas da mesma maneira. esterilização foi usada como método para
No passado, a sociedade freqüente- evitar a reprodução desses “seres imper-
mente colocou obstáculos à integração feitos”. O nazismo promoveu a aniquila-
das pessoas deficientes. Receios, medos, ção pura e simples das pessoas com de-

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ESPAÇOS DE
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ficiência, porque não correspondiam à 1. Fase filantrópica - em que as pesso-
“pureza” da raça ariana. as com deficiência são consideradas
Paralelamente a estas atitudes ex- doentes e portadoras de incapacida-
tremas de aniquilamento, outras atitu- des permanentes inerentes à sua na-
des eram adotadas, como o isolamento tureza. Portanto, precisavam ficar iso-
destas pessoas em grandes asilos (como ladas para tratamento e cuidados de
na Inglaterra), além de comportamentos saúde;
marcados por rejeição, vergonha e medo. 2. Fase da “assistência pública” - em
Foi apenas a partir da Revolução que o mesmo estatuto de “doentes” e
Francesa e das suas bandeiras de liber- “inválidos” implica a instituciona-
dade, igualdade e fraternidade que es- lização da ajuda e da assistência so-
tas pessoas passaram a ser objeto de as- cial;
sistência (mas ainda não de educação) e 3. Fase dos direitos fundamentais,
entregues aos cuidados de organizações iguais para todas as pessoas, quais-
caritativas e religiosas. quer que sejam as suas limitações ou
Após a 2a Guerra Mundial, os direi- incapacidades. É a época dos direitos
tos humanos começaram a ser valoriza- e liberdades individuais e universais
dos; surgem os conceitos de igualdade de que ninguém pode ser privado,
de oportunidades, direito à diferença, como é o caso do direito à educação;
justiça social e solidariedade nas novas 4. Fase da igualdade de oportunidades
concepções jurídico-políticas, filosóficas – época em que o desenvolvimento
e sociais de organizações como a ONU - econômico e cultural acarreta a
Organização das Nações Unidas, a massificação da escola e, ao mesmo
UNESCO, a OMS - Organização Mundi- tempo, faz surgir o grande contingente
al de Saúde, a OIT - Organização Inter- de crianças e jovens que, não tendo
nacional do Trabalho e outras. As pes- um rendimento escolar adequado aos
soas com deficiência passaram a ser con- objetivos da instituição escolar, pas-
sideradas como possuidoras dos mesmos sam a engrossar o grupo das crianças
direitos e deveres dos outros cidadãos e, e jovens deficientes mentais ou com
entre eles, o direito à participação na dificuldades de aprendizagem;
vida social e à sua conseqüente inte- 5. Fase do direito à integração - se na
gração escolar e profissional. fase anterior se “promovia” o aumen-
Segundo a UNESCO (1977, p. 5-6), to das “deficiências”, uma vez que a
pode-se dividir a história da humanida- ignorância das diferenças, o não res-
de em cinco fases, de acordo com o modo peito pelas diferenças individuais
como os deficientes foram tratados e con- mascarado como defesa dos direitos
siderados: de “igualdade” agravava essas diferen-

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

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ças, agora é o conceito de “norma” ou cumentação e Informação do Portador de
de “normalidade” que passa a ser pos- Deficiência e a CORDE- Coordenadoria
to em questão. Nacional para Integração da Pessoa Por-
Mas, como diz ainda a UNESCO, es- tadora de Deficiência, aqui vão algumas
tas fases só aparentemente se sucedem dicas de comportamento.
de forma cronológica. Na verdade, o que Muitas pessoas não deficientes ficam
acontece é que estas diferentes atitudes e confusas quando encontram uma pes-
concepções face às pessoas com deficiên- soa com deficiência. Isso é natural. To-
cia se sobrepõem, mesmo nos nossos dias. dos nós podemos nos sentir
desconfortáveis diante do “diferente”.
Atitudes que contribuem para a
Esse desconforto diminui e até de-
integração da pessoa com
saparece quando há convivência entre
necessidades especiais
pessoas deficientes e não deficientes.
Acesso ao conhecimento e à infor- Não faça de conta que a deficiência
mação; não existe. Se você se relacionar com
Convivência, que estimula o rela- uma pessoa deficiente como se ela não
cionamento; tivesse uma deficiência, você vai estar
rompimento de padrões de com- ignorando uma característica muito im-
portamentos estabelecidos. portante dela. Dessa forma, você não es-
tará se relacionando com ela, mas com
Estratégias para facilitar mudança de outra pessoa, uma que você inventou,
atitudes que não é real.
Filmes mostrando como pessoas Aceite a deficiência. Ela existe e você
com necessidades especiais podem precisa levá-la na sua devida considera-
viver integradas em sua comuni- ção.
dade; Não subestime as possibilidades,
Palestras com pessoas com neces- nem superestime as dificuldades e vice-
sidades especiais relatando suas versa.
experiências; As pessoas com deficiência têm o di-
Palestras com profissionais acerca reito, podem e querem tomar suas pró-
da problemática das deficiências; prias decisões e assumir a responsabili-
Livros e folhetos informativos so- dade por suas escolhas.
bre a deficiência. Ter uma deficiência não faz com que
uma pessoa seja melhor ou pior do que
Quando você encontrar uma pessoa
uma pessoa não deficiente.
com deficiência
Provavelmente, por causa da defici-
Segundo o CEDIPOD - Centro de Do- ência, essa pessoa pode ter dificuldade

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
para realizar algumas atividades e, por dizer alguma coisa errada. Aja com na-
outro lado, poderá ter extrema habilida- turalidade e tudo vai dar certo.
de para fazer outras coisas. Exatamente Se ocorrer alguma situação embara-
como todo mundo. çosa, uma boa dose de delicadeza, sin-
A maioria das pessoas com deficiên- ceridade e bom-humor nunca falha.
cia não se importa de responder pergun-
Como a PPD tem sido vista pela
tas, principalmente aquelas feitas por
Educação
crianças, a respeito da sua deficiência e
como ela transforma a realização de al- Em termos educativos, o conceito de
gumas tarefas. Mas, se você não tem Deficiência tem evoluído ao longo dos
muita intimidade com a pessoa, evite fa- tempos, acompanhando as concepções
zer perguntas íntimas. de desenvolvimento e de aprendizagem.
Quando quiser alguma informação Durante a primeira metade do séc.
de uma pessoa deficiente, dirija-se dire- XX, os conceitos de “deficiência” / “di-
tamente a ela e não a seus acompanhan- minuição” / handicap /inadaptação in-
tes ou intérpretes. cluíam as características de inatismo e
Sempre que quiser ajudar, ofereça de determinismo, implicando a concep-
ajuda. Espere sua oferta ser aceita, an- ção de que “uma vez deficiente, defici-
tes de ajudar. Pergunte a forma mais ente para sempre”.
adequada para fazê-lo. Esta compreensão impulsionou mui-
Mas não se ofenda se seu ofereci- tos estudos, que tinham por objetivo or-
mento for recusado, pois nem sempre ganizar em diferentes categorias todos
as pessoas com deficiência precisam de os possíveis distúrbios que pudessem ser
auxílio. Às vezes, uma determinada ati- detectados.
vidade pode ser mais bem desenvolvida Esta fase de categorização e eti-
sem assistência. quetagem, que via a “deficiência” ou o
Se você não se sentir confortável ou “distúrbio” como uma característica ine-
seguro para fazer alguma coisa solicita- rente à criança, trouxe consigo duas con-
da por uma pessoa deficiente, sinta-se seqüências fundamentais:
livre para recusar. Neste caso, seria con- A necessidade de uma “detecção
veniente procurar outra pessoa que pos- precisa” da deficiência, com o con-
sa ajudar. seqüente desenvolvimento dos Tes-
As pessoas com deficiência são pes- tes de Inteligência e outras técni-
soas como você. Têm os mesmos direi- cas de diagnóstico quantitativo;
tos, os mesmos sentimentos, os mesmos A generalização da idéia de que, sen-
receios, os mesmos sonhos. do as “deficiências” irrecuperáveis, as
Você não deve ter receio de fazer ou crianças por elas afetadas deveriam

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
ser “colocadas” num sistema educa- Entretanto, a partir dos anos 60 e
cional à parte (escolas especiais). principalmente da década de 70, em de-
De acordo com esta compreensão da corrência da contribuição de muitas dis-
Deficiência, os efeitos das deficiências ciplinas e ramos da ciência, uma grande
físicas e sensoriais eram deterministica- “revolução” se deu no conceito de “defi-
mente atribuídos ao próprio indivíduo e ciência” aplicado às crianças e jovens em
as dificuldades sentidas por este tipo de idade escolar. Tal alteração tem por base
alunos na escola eram concebidas em uma mudança de perspectiva, colocan-
termos de deficiência mental; crianças do no centro do problema não a defici-
ou jovens com marcadas dificuldades fí- ência do indivíduo, mas as suas neces-
sicas, sensoriais, mentais, comportamen- sidades particulares, para procurar o
tais ou de comunicação eram conside- meio ambiente no qual se poderá desen-
rados como qualitativamente diferentes volver melhor.
dos outros alunos, com características Assim, durante a década de 70, por
consideradas inalteráveis e permanen- todo o mundo ocidental, um amplo mo-
tes e, como tal, fazia sentido a existên- vimento de alargamento da escolarida-
cia de um sistema educacional separa- de obrigatória a todas as crianças faz com
do do ensino regular. que os diferentes países prestassem uma
Nos anos 40 e 50 surgem profundas atenção particular à organização dos
e importantes alterações com o fortaleci- seus serviços de educação especial, cha-
mento das correntes “ambientalistas” e mando a si a responsabilidade de garan-
“comportamentalistas”. Questionando tirem também às crianças com deficiên-
amplamente a “constitucionalidade” e a cias um processo educativo adaptado às
“incurabilidade” dos distúrbios, os parti- suas necessidades individuais.
dários destas teorias afirmavam que a “de- Marco relevante nesta nova aborda-
ficiência” podia ser “provocada” pela “au- gem da deficiência, tendente a modifi-
sência de estimulação adequada ou por car não só o sistema das classificações,
processos de aprendizagem incorretos”. mas também, e sobretudo, a prática da
Ao assim pensar, os adeptos destas “integração” foi o “Warnock Report”, um
correntes não só acabaram por incluir os relatório britânico publicado em 1978 e
conceitos de “adaptação social” e de apren- realizado por uma comissão dirigida por
dizagem na definição de “atraso mental”, Mary Warnock, encarregada de elaborar
por exemplo, como permitiram conside- propostas para a melhoria da educação
ráveis avanços na compreensão de que “to- de jovens com deficiências. É o “Warnock
das as crianças são educáveis” e deram Report” que introduz, pela primeira vez,
um profundo golpe nas concepções da o conceito de “aluno com necessidades
“incurabilidade” das deficiências. educativas especiais”.

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Este conceito é bastante amplo e claramente assumida nos anos 80, surge
enfatiza aspectos instrumentais e funcio- uma filosofia de “integração” educativa
nais, ou seja: o que fazer para receber e como opção principal da grande maioria dos
tratar este aluno no ambiente escolar países, defendendo-se que o ensino das
comum, da melhor forma possível? crianças e jovens com dificuldades especi-
De acordo com este conceito e efeitos ais deve ser feito, pelo menos tanto quanto
da sua educação, as crianças e jovens com possível, no âmbito da escola regular.
dificuldades especiais, ou com necessida-
Por que incluir crianças com
des educativas especiais (NEE), são aque-
deficiência na escola regular?
las que requerem educação especial e ser-
viços específicos de apoio para a realiza- Em muitos países do mundo ociden-
ção total do seu potencial humano. Eles tal, os professores vêm fazendo esta per-
podem ser muito diferentes dos outros por gunta, às vezes em voz alta, às vezes con-
terem atraso mental, dificuldades de sigo mesmos, em diversas ocasiões.
aprendizagem, desordens emocionais ou Para muitos, a integração escolar de
comportamentais, incapacidades físicas, alunos com deficiência é uma provoca-
problemas de comunicação, autismo, le- ção ao profissionalismo do professor. A
sões cerebrais, deficiência auditiva, defi- lógica da inclusão (veja-se a Declaração
ciência visual, ou mesmo dotes e talentos de Salamanca) constitui a essência do
especiais, no caso dos superdotados. São ideal democrático.
exatamente estas diferenças que devem Os benefícios da inclusão de alunos
ser levadas em conta, para que eles pos- com necessidades educativas especiais
sam freqüentar a escola comum. na escola regular são evidentes (apesar
Segundo alguns estudiosos, entre os das dificuldades) e TODOS os autores
quais Hallahn e Kauffman, esta defini- desta integração “lucram” com ela.
ção de crianças e jovens com necessida- Vários estudos comparativos realiza-
des especiais mostra algo muito impor- dos principalmente nos EUA e nos paí-
tante, que merece destaque: ses escandinavos, onde este movimento
existe há mais tempo, revelam a seguin-
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
te situação:
Estas pessoas apresentam uma extraor-
dinária diversidade de característi- Benefícios para os alunos com
cas, o que impede a generalização de deficiências
medidas para tratá-los como se fossem
Eles encontram modelos positivos
um grupo homogêneo.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
nos colegas;
Contam com assistência por parte
A partir de meados da década de 70 e dos colegas;

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
A criança cresce e aprende a viver e sem segregação. Realizar pedagogica-
em ambientes integrados; mente a integração significa, seja no jar-
dim de infância, na escola ou no trabalho,
Benefícios para os alunos que não
que todas as crianças e adultos (deficien-
são deficientes
tes ou não) brinquem/aprendam/traba-
A melhor forma de aprenderem a lhem de acordo com o seu nível próprio
lidar com as diferenças individuais; de desenvolvimento em cooperação com
Oportunidade para praticar e par- os outros” (Steinemann, 1994).
tilhar as aprendizagens; As palavras “integrado” e
Diminuição da ansiedade face aos “integração” derivam do latim “integrare”
fracassos ou insucessos. que vem do adjetivo “integer”, que origi-
nalmente significa intacto, não tocado, sem
Benefícios para todos os alunos mácula, são, virgem, inteiro, completo.
Compreensão e aceitação dos ou- Portanto, a palavra “integração”, nes-
tros; te sentido, deve ser interpretada como al-
Reconhecimento das necessidades guma coisa de original e natural, sendo a
e competências dos colegas; “segregação” (o estado de não-integração)
Respeito por todas as pessoas; algo anormal, construído, artificial.
Construção de uma sociedade so- Mas o mais interessante da história
lidária; da palavra integração é que o termo lati-
Desenvolvimento de apoio e assis- no “integer” (intacto) parece ter derivado
tência mútua; em duas direções nas línguas modernas.
Desenvolvimento de projetos de Enquanto que em uma delas está muito
amizade; próximo do seu sentido original (apare-
Preparação para uma comunidade cendo em termos como “integridade”, “ín-
de suporte e apoio. tegro”, “integral”), a outra direção vai mais
no sentido de “compor”, “fazer um con-
A caminho da inclusão junto”, “juntar as partes separadas no
Segundo Steinemann: “Integração sig- sentido de reconstruir uma totalidade”.
nifica o (re)-estabelecer de formas comuns Quando se aborda o tema da educa-
de vida, de aprendizagem e de trabalho ção de crianças e jovens com dificulda-
entre pessoas deficientes e não-deficien- des especiais, nomeadamente devidas às
tes. Integração significa ser participante, suas deficiências físicas, mentais ou sen-
ser considerado, “fazer parte de”, ser leva- soriais, parece ser mais no segundo sen-
do a sério e ser encorajado. A integração tido acima indicado que se utiliza o ter-
requer a promoção das qualidades pró- mo “integração”, querendo significar a
prias de um indivíduo, sem estigmatização colocação de pessoas com deficiência

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
juntamente com pessoas não-deficien- 1. Pela inserção pura e simples daquelas
tes no mesmo lugar. pessoas com deficiência que consegui-
Neste contexto, a integração escolar ram ou conseguem, por méritos pes-
pode ser vista como um “fim” em si, como soais e profissionais próprios, utilizar
uma forma de “associação” entre o gru- os espaços físicos e sociais, bem como
po de alunos “especiais” e a escola regu- seus programas e serviços, sem nenhu-
lar ou então como um “processo” de ma modificação por parte da socieda-
“estruturação organizacional”, de modi- de, ou seja, da escola comum, da em-
ficação da própria escola regular no sen- presa comum, do clube comum, etc.;
tido de atender a todas as diferenças. 2. Pela inserção daqueles portadores de
Segundo Romeu K. Sassaki: “(...) a deficiência que necessitavam ou ne-
integração social, afinal de contas, tem cessitam de alguma adaptação espe-
consistido no esforço de inserir na soci- cífica no espaço físico comum ou no
edade pessoas com deficiência que al- procedimento da atividade comum, a
cançaram um nível de competência com- fim de poderem, só então, estudar,
patível com os padrões sociais vigentes. trabalhar, ter lazer, enfim, conviver
A integração tinha e tem o mérito de in- com pessoas não-deficientes;
serir o portador de deficiência na socie- 3. Pela inserção de pessoas com defici-
dade, sim, mas desde que ele esteja de ência em ambientes separados den-
alguma forma capacitado a superar as tro dos sistemas gerais. Por exemplo:
barreiras físicas, programáticas e escola especial junto à comunidade;
atitudinais nela existentes. Sob a ótica classe especial numa escola comum;
dos dias de hoje, a integração constitui setor separado dentro de uma empre-
um esforço unilateral tão somente da sa comum; horário exclusivo para pes-
pessoa com deficiência e seus aliados (a soas deficientes num clube comum,
família, a instituição especializada e al- etc. Esta forma de integração, mesmo
gumas pessoas da comunidade que com todos os méritos, não deixa de
abracem a causa da inserção social), sen- ser segregativa.
do que estes tentam torná-la mais acei- Embora estas formas representem um
1
tável no seio da sociedade.” avanço em relação às atitudes do passado,
Continuando, Sassaki mostra que a de segregação, ainda não respondem ple-
prática da integração social vem ocorren- namente aos anseios e direitos das PPD,
do, desde a década de 80, de 3 formas: pois elas pouco exigem da sociedade em

1
Sassaki, Romeu. K. Inclusão – construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997, p. 34.

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
termos de modificação de comportamen- da qualidade de informações a que tiver
tos, leis, adaptações arquitetônicas e ou- acesso, mas também de sua autodeter-
tras. O esforço da integração fica quase que minação e/ou prontidão para tomar de-
exclusivamente sobre os ombros das PPD. cisões em uma determinada situação.
O ano de 1981 foi designado, pela Empowerment significa o processo
ONU – Organização das Nações Unidas, pelo qual uma pessoa ou um grupo de pes-
de Ano Internacional das Pessoas Porta- soas usa o seu poder pessoal, inerente à
doras de Deficiência e assinalou um mar- sua condição, para fazer escolhas e tomar
co fundamental na luta pelos direitos das decisões, assumindo assim o controle de
PPD no mundo todo. Na esteira do con- sua(s) vida(s). Neste sentido, independên-
ceito de integração vieram outros, como cia e empowerment são conceitos
os de autonomia, independência, interdependentes. Não se outorga este po-
empowerment e equiparação de oportu- der às pessoas; o poder pessoal está em
nidades, que podem ser considerados cada ser humano desde o seu nascimento.
passos em direção ao conceito atualmen- O termo equiparação de oportunida-
te vigente, de inclusão social. des é definido pela Disabled Peoples’
Vamos recorrer novamente à autori- International (1981) como “o processo
2
dade de Romeu Sassaki para definir, mediante o qual os sistemas gerais da so-
brevemente, estas palavras. ciedade, tais como o meio físico, a habita-
Autonomia é a condição de domí- ção e o transporte, os serviços sociais e de
nio no ambiente físico e social, preser- saúde, as oportunidades de educação e
vando ao máximo a privacidade e a dig- trabalho, e a vida cultural e social, incluí-
nidade da pessoa que a exerce. Ter mai- das as instalações esportivas e de recrea-
or ou menor autonomia significa que a ção, são feitos acessíveis para todos. Isto
pessoa com deficiência tem maior ou inclui a remoção das barreiras que impe-
menor controle nos ambientes que ela dem a plena participação das pessoas de-
freqüenta; rampas facilitam a autonomia ficientes em todas estas áreas, permitin-
no espaço físico, por exemplo. do-lhes assim alcançar uma qualidade de
Independência é a faculdade de de- vida igual à de outras pessoas”.
cidir sem depender de outras pessoas, Nesta definição está implícito o princí-
como familiares ou profissionais es- pio da igualdade de direitos: “O princípio
pecializados. Uma pessoa com deficiên- de direitos iguais implica que as necessi-
cia pode ser mais ou menos indepen- dades de cada um e de todos são de igual
dente em decorrência da quantidade e importância e que essas necessidades de-

2
Sassaki, op. cit.. pág. 36 a 41..

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
vem ser utilizadas como base para o plane- gração para a da inclusão, que pressu-
jamento das comunidades e que todos os põe um novo paradigma, um novo mo-
recursos precisam ser empregados de tal delo de sociedade.
modo que garantam que cada pessoa te- Momentos de transição, como este,
nha oportunidade igual de participação.” despertam debates e dúvidas; surgem
A igualdade de oportunidades em várias opções e alternativas, cada uma
educação é na verdade essencial dada a com seus defensores. É difícil adotar
importância da educação na transmis- novos conceitos e modificar padrões de
são de atitudes, conhecimentos e com- comportamento já consolidados. Além
petências que a sociedade como um todo disso, estamos tratando de seres huma-
encara como importantes para todas as nos, que merecem ser tratados com res-
crianças e jovens. peito e delicadeza.
Como bem enfatiza Sassaki: “É fun- No campo da Educação, vemos surgir
damental equipararmos as oportunida- diversas posições: a mais radical, que de-
des para que todas as pessoas, incluin- fende que todos os alunos devem ser edu-
do portadoras de deficiência, possam ter cados apenas na escola regular (Escola
acesso a todos os serviços, bens, ambi- para Todos) até a idéia de que a diversida-
entes construídos e ambientes naturais, de de características, verificada no grupo
em busca da realização de seus sonhos de alunos com necessidades educativas
e objetivos.” especiais, implica a existência e manuten-
Na seqüência destes movimentos e ção de um contínuo de serviços e uma di-
conquistas é elaborado o conceito de in- versidade de opções. Essas opções podem
clusão social, processo que funciona em ir da inclusão na classe regular até a colo-
mão dupla: a sociedade e os segmentos cação em instituições residenciais
até então excluídos (inclusive o das PPD) especializadas, passando pelas salas de
buscam equacionar soluções e alterna- apoio e classes especiais na escola regu-
tivas, para garantir a equiparação de lar ou pelo recurso a escolas especiais.
oportunidades e de direitos. Os valores Se se trata de uma questão de direi-
que norteiam este processo são: tos cívicos, um dos principais direitos de
A aceitação e a valorização da di- qualquer minoria é o seu direito de es-
versidade; colha e, conforme prevê a legislação, os
O exercício da cooperação entre di- pais ou tutores destes alunos têm liber-
ferentes; dade de escolher o que acham melhor
A aprendizagem da multiplicidade. para os seus educandos. Nesse sentido,
De acordo com estudiosos deste pro- é importante que haja diferentes alter-
cesso social, o momento atual caracteri- nativas, para que possam escolher a que
za-se pela transição da fase da inte- melhor se ajusta ao seu caso.

BOLETIM – PGM 1 - O QUE É INCLUSÃO SOCIAL ? 20


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Desta forma, os educadores e pro- mular de conhecimentos e para a cria-
fissionais da educação devem preservar ção de elites qualificadas.
a oferta de diferentes tipos de serviços Portanto, entre as alternativas pos-
de forma que, sempre que possível, seja síveis e os níveis de integração deseja-
garantida a possibilidade de escolha. dos interpõe-se a necessidade de desen-
Alguns autores propõem um contínuo volver um conjunto de métodos e estra-
de serviços organizados em cascata e tégias educativas (em nível curricular) de
numa ordem progressiva de pequenos importância fundamental para o suces-
“saltos” no sentido da maior proximida- so da integração dos alunos com defici-
de entre os alunos com dificuldades es- ências na escola.
peciais na escola e os seus colegas não Alguns tipos de alunos (com defici-
deficientes. ências sensoriais ou graves problemas
Não se trata simplesmente de trans- de comunicação, por exemplo) requerem
ferir os alunos da escola especial para a o uso de equipamentos ou materiais es-
escola regular, mas sim de remodelar e pecíficos e não utilizados pela generali-
modificar a escola regular para que esta dade dos alunos da escola. Assim sen-
possa atender a uma mais ampla varie- do, a escola deve se adaptar e modificar,
dade de alunos. no sentido de atender às necessidades
Não podemos nos esquecer de que as de uma grande variedade e diversidade
interações sociais não acontecem auto- de alunos.
maticamente; num grupo social, as pes- Para que uma criança “especial” pos-
soas tendem a escolher os parceiros com sa ser “incluída” numa situação em que
interesses e valores semelhantes, evitan- todos a sintam “mais normal” e em que a
do as diferenças. O fato de estarem na sua auto-estima seja aumentada, em que
mesma sala não faz com que as crianças se desenvolvam relações interpessoais e
imediatamente comecem a interagir com interações com seus colegas (com ou sem
colegas que têm alguma diferença. dificuldades especiais) é necessário de-
Além das mudanças arquitetônicas, senvolver estratégias adequadas e devi-
que são necessárias em quase todos os damente planejadas, como a pesquisa
edifícios escolares para acolher a crian- desenvolvida por McNamara e Moreton,
ça com deficiência, a escola regular tem em 1993 evidencia. Os seguintes aspec-
normalmente uma estrutura curricular, tos devem ser levados em conta:
a organização dos horários, os padrões A planificação e o desenvolvimen-
de socialização e todo um conjunto de to de arranjos no ambiente físico e
normas e regulamentos verdadeiramen- no ambiente social;
te segregadores dos alunos com defici- A escolha dos materiais e equipa-
ências, estando mais voltada para o acu- mentos da sala de aula;

BOLETIM – PGM 1 - O QUE É INCLUSÃO SOCIAL ? 21


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
A disposição e a adequação do es- os alunos e o máximo de acesso aos que
paço disponível para os alunos têm necessidades educativas especiais”
(“densidade social” e “densidade Segundo a Declaração de Salamanca:
espacial”);
A revisão do papel do professor ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

“As escolas devem ajustar-se a todas as


como iniciador das interações so-
crianças, independentemente das suas
ciais ou como mero gestor dessas
condições físicas, sociais, lingüísticas ou
interações;
outras. Neste conceito devem incluir-se
A maior ou menor estruturação das
crianças com deficiência ou superdotadas,
atividades propostas na sala de aula.
crianças da rua ou crianças que trabalham,
crianças de populações imigradas ou nô-
Concluindo...
mades, crianças de minorias lingüísticas,
Resumindo o caminho percorrido até étnicas ou culturais e crianças de áreas
aqui, podemos dizer que uma das prin- ou grupos desfavorecidos ou marginais.”
cipais lições que podemos tirar é que não Declaração de Salamanca: UNESCO,
há um formato padronizado para a 1994.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
integração de alunos diferentes/defici-
entes na escola regular. Cada um dos
ASSIM, PRINCIPALMENTE NA ÁREA PEDAGÓ-
aspectos da integração – definição, mo-
GICA, NÃO PARECE CORRETO TER-SE COMO
tivos, objetivos, níveis, dificuldades, van-
PONTO DE REFERÊNCIA AS DEFICIÊNCIAS OU
tagens e desvantagens etc. – apresenta INCAPACIDADES ( ATITUDE INFELIZMENTE
uma enorme diversidade e, como diz o AINDA FREQÜENTE NAS NOSSAS ESCOLAS)
documento publicado pela Comissão MAS SIM COMPREENDER QUE O QUE É IM-

Européia, em 1996: PORTANTE É O SER HUMANO. TAL COMO A

“Deve reconhecer-se que a integra- ERGONOMIA JÁ FAZ NO DOMÍNIO DO TRABA-

ção dos alunos com necessidades LHO – COM A ADAPTAÇÃO DO POSTO DE TRA-
BALHO À PESSOA, ÀS SUAS HABILIDADES E
educativas especiais implica muito mais
CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS – NO CAMPO
do que colocar simplesmente o aluno
DA PEDAGOGIA TEREMOS DE EVITAR QUE A
numa escola regular. Trata-se de um pro-
DEFICIÊNCIA SE COLOQUE ENTRE O PROFES-
cesso em que o aluno tem oportunida- SOR E O ALUNO, IMPEDINDO-NOS DE VER A
des para se desenvolver e progredir em PESSOA QUE ESTÁ POR DETRÁS DESSA DEFI-
termos educativos para uma autonomia CIÊNCIA.

econômica e social. A integração é igual-


mente um processo em que as próprias Talvez seja este o momento de se
escolas necessitam de mudar e de se passar da idéia de que “todos devem ter
desenvolver com o objetivo de proporcio- as mesmas oportunidades” para a noção
nar um ensino de elevado nível a todos de que “todos deveriam ter oportunida-

BOLETIM – PGM 1 - O QUE É INCLUSÃO SOCIAL ? 22


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
des diferentes” para desenvolver as suas ência na escola regular, em outros paí-
potencialidades e satisfazer as suas ne- ses. Algumas ainda estão em fase de ex-
cessidades, dadas as nossas diferenças perimentação. Esperamos que possam
individuais. Fica aí o pensamento para trazer idéias aplicáveis em suas escolas.
reflexão...
Equipe de pré-classificação
Ao iniciarmos um novo século e um
novo milênio, está na hora de abando- Trata-se de equipes compostas por
narmos etiquetas e rótulos e de olhar- uma variedade de profissionais, especi-
mos além deles. almente professores de ensino regular e
professores de ensino especial, que tra-
Os professores e o processo de
balham em conjunto com o professor da
inclusão
classe no sentido de elaborar, recomen-
Estudos indicam que a atitude do dar e desenvolver estratégias para ensi-
professor é um dos fatores que mais con- nar as crianças ou jovens com deficiên-
tribui para o sucesso de qualquer medi- cia dessa classe.
da de integração da criança com defici- O principal objetivo destas equipes
ência. De fato, como o comprovam as prá- é o de influenciar o professor da classe
ticas do dia-a-dia nas nossas escolas, não regular, para que ele assuma a respon-
basta determinar legalmente a inte- sabilidade pela educação de todos os
gração para que ela aconteça. seus alunos, tentando todas as estraté-
A integração é, em última instância, gias de ensino necessárias e possíveis,
um processo de fornecer aos alunos com antes de enviar qualquer aluno para um
deficiência uma educação com o máximo programa de ensino especial.
de qualidade e de eficácia, no sentido da
Apoio consultivo
satisfação das suas necessidades indivi-
duais. Ora, este objetivo depende funda- Trata-se de um professor especializa-
mentalmente do papel do professor, no- do ou com experiência no ensino espe-
meadamente de variáveis como a sua von- cial que colabora com o professor da clas-
tade em levar a cabo as tarefas de ensino se regular, no sentido de descobrir e
destes alunos e a sua formação ou pre- implementar estratégias de ensino efi-
paração pedagógica para o fazer. cazes para os casos de alunos com defi-
ciência.
Estratégias para a integração/
Neste modelo, as relações entre o
inclusão
professor do ensino especial e o profes-
Gostaríamos de sugerir estratégias sor da classe regular baseiam-se nos
que estão sendo utilizadas para a inte- princípios da mutualidade – ou seja, da
gração de crianças e jovens com defici- partilha de responsabilidades entre os

BOLETIM – PGM 1 - O QUE É INCLUSÃO SOCIAL ? 23


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
dois profissionais pela escolha e mente ou em pequenos grupos;
implementação das estratégias adotadas 3. Ensino em equipe – o professor da
– e da reciprocidade – o que significa que classe regular e o professor do ensi-
qualquer um dos dois profissionais tem no especial planificam e ensinam em
idêntica autoridade, igualdade no aces- conjunto todos os conteúdos a todos
so à informação e as mesmas oportuni- os alunos, responsabilizando-se cada
dades para participarem na identifica- um deles por uma determinada parte
ção, discussão, tomada de decisão e do currículo ou por diferentes aspec-
implementação das medidas adotadas. tos das matérias de ensino.
O sucesso do “ensino cooperativo”
Ensino cooperativo
depende de dois fatores fundamentais:
Trata-se de uma estratégia em que o Necessidade de bastante tempo
professor da classe regular e o professor nos horários dos professores para
do ensino especial trabalham em con- fazerem o planejamento em con-
junto, dentro da sala de aula regular junto;
composta por alunos com deficiência e Compatibilidade entre os estilos de
por alunos ditos normais. Neste modelo trabalho e personalidades dos dois
existem, pelo menos, três formas dife- professores.
rentes de organização:
Aprendizagem Cooperativa
1. Atividades complementares – en-
quanto o professor do ensino regular Trata-se de uma estratégia em que o
assume, por exemplo, as atividades da professor da classe regular coloca os alu-
área acadêmica (conteúdos acadêmi- nos em grupos de trabalho, organizan-
cos), o professor do ensino especial do-os na base da heterogeneidade das
ensina alguns alunos a identificar as suas habilidades (por exemplo, juntando
idéias principais de um texto, a fazer alunos com dificuldades especiais numa
resumos – enfim, a dominar técnicas determinada área com alunos mais habi-
de estudo; lidosos no assunto em estudo).
2. Atividades de apoio à aprendizagem De acordo com os dados de investi-
– os dois professores ensinam os con- gação conhecidos, as estratégias de
teúdos acadêmicos, mas enquanto o aprendizagem cooperativa levam a uma
professor do ensino regular é respon- melhoria significativa das atitudes por
sável pelo núcleo central do conteú- parte dos alunos não-deficientes face aos
do, pela matéria essencial, o profes- seus colegas com dificuldades especiais
sor do ensino especial encarrega-se ou mesmo com deficiências graves, ao
de dar apoio suplementar a qualquer mesmo tempo em que permite a estes
aluno que dele necessite, individual- um aumento significativo da sua auto-

BOLETIM – PGM 1 - O QUE É INCLUSÃO SOCIAL ? 24


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
estima e das suas atitudes em face de si os seus colegas sem deficiência, embora
mesmos. numa reduzida dimensão. Neste tipo de
estratégia, o professor faz algumas adap-
Ensino por colegas
tações nas atividades a desenvolver, no
Trata-se de um método baseado na sentido de facilitar o mais possível a parti-
noção de que os alunos podem efetiva- cipação dos alunos com mais dificuldades,
mente ensinar os seus colegas. Neste alterando as regras do “jogo”, modifican-
método, o papel de aluno ou de profes- do a forma de apresentação ou de organi-
sor pode ser atribuído a qualquer aluno, zação da tarefa a fazer ou, mesmo, dando
com deficiência ou não, e alternada- alguma ajuda individual aos alunos com
mente, conforme as matérias em estudo dificuldades nas partes mais difíceis da
ou as atividades a desenvolver. No entan- atividade em causa.
to, quando um aluno com deficiência as-
Materiais curriculares específicos
sume o papel de mestre (professor), o
para a mudança de atitudes
aprendiz (aluno) é geralmente um aluno
mais novo e menos desenvolvido, ainda Trata-se de uma estratégia em que o
que sem dificuldades especiais em rela- professor organiza alguns materiais
ção ao seu nível de desenvolvimento. (como, por exemplo, marionetes) ou de-
senvolve atividades de simulação em que
Participação parcial
os alunos ditos normais representam o
Trata-se de uma estratégia em que os papel de alunos com deficiência, para
alunos com dificuldades especiais, quan- levar os alunos sem deficiência a modifi-
do freqüentam uma sala de aula regular, car as suas atitudes face aos seus cole-
se envolvem em algumas atividades com gas com dificuldades especiais.

BOLETIM – PGM 1 - O QUE É INCLUSÃO SOCIAL ? 25


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

PGM 2: DEFICIÊNCIA MENTAL E INCLUSÃO SOCIAL


MARTA GIL*

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

“Uma criança com necessidades educacionais especiais, antes de ser


alguém impedido por uma deficiência, é alguém capaz de aprender.”
(Prof. Dr. Hugo Otto Beyer
Universidade Federal doRio Grande do Sul)
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Apresentando a deficiência mental 50% do total das PPD – Pessoas Portado-


Segundo as estimativas da Organi- ras de Deficiência.
zação Mundial de Saúde, válidas para A definição de deficiência mental que
países do Terceiro Mundo, em tempos é mais aceita, atualmente, é a da Ame-
de paz, as pessoas com deficiência men- rican Association of Mental Retardation,
tal correspondem a, aproximadamente, datada de 1992:

DEFICIÊNCIA MENTAL É UM FUNCIONAMENTO INTELECTUAL SIGNIFICATIVAMENTE ABAIXO DA

MÉDIA, COEXISTINDO COM LIMITAÇÕES RELATIVAS A DUAS OU MAIS DAS SEGUINTES ÁREAS DE

HABILIDADES ADAPTATIVAS: COMUNICAÇÃO, AUTOCUIDADO, HABILIDADES SOCIAIS, PARTICI-

PAÇÃO FAMILIAR E COMUNITÁRIA, AUTONOMIA, SAÚDE E SEGURANÇA, FUNCIONALIDADE ACA-

DÊMICA, DE LAZER E DE TRABALHO. MANIFESTA-SE ANTES DOS 18 ANOS DE IDADE.

* Socióloga. Gerente da Rede SACI – Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação (www.saci.org.br).


Consultora desta série.

26
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Lendo com atenção esta definição, rem cedo, devido a “graves” e “in-
podemos concluir que deficiência men- contornáveis” problemas de saúde;
tal é uma condição diferente da doença Pessoas com deficiência mental pre-
mental, embora esta confusão seja feita cisam usar remédios controlados;
freqüentemente pelas pessoas. A doen- Pessoas com deficiência mental são
ça mental caracteriza-se por distúrbios agressivas e perigosas, ou dóceis e
de ordem emocional, psicoses e outros. cordatas;
Ao longo dos séculos, a pessoa com Pessoas com deficiência mental
deficiência mental era, muitas vezes, dis- são, em geral, incompetentes;
criminada e segregada, pois era consi- Existe um “culpado” pela condição
derada como “detentora de poderes so- de deficiência;
brenaturais”, “fruto de tragédia famili- O meio ambiente pouco pode fa-
ar”, “sangue ruim”, “depositária do mal” zer pelas pessoas com deficiência;
e outros rótulos, todos muito negativos. Pessoas com deficiência mental só
Até o século XVIII, a própria ciência estão “bem” com seus “iguais”;
confundia deficiência mental com doen- Para o aluno com deficiência men-
ça e, portanto, procurava tratamentos tal, a escola é apenas um lugar
que trouxessem uma “cura” para esta para exercer alguma ocupação fora
condição. A partir do século XIX surgiu de casa.
a abordagem educacional, que leva em
Como identificar a deficiência
conta as possibilidades e potencialidades
mental?
da pessoa portadora de deficiência men-
tal. Curiosamente, esta abordagem foi A deficiência mental pode ser iden-
uma iniciativa de médicos... tificada precocemente (às vezes, ainda
Aos poucos, educadores, psicólogos durante a gestação); porém, é bastante
e pedagogos se envolveram com esta comum que a suspeita surja na escola,
questão e a compreensão sobre este tipo quando se espera mais da criança e de
de deficiência vem aumentando. Infeliz- sua capacidade de aprendizagem.
1
mente, vários “mitos” e conceitos erra- Nestes casos, é de fundamental im-
dos ainda persistem, como: portância confirmar este diagnóstico,
Toda pessoa com deficiência men- antes de enviar a criança para a sala es-
tal é doente; pecial e de começar a tratá-la de forma
Pessoas com deficiência mental mor- pejorativa ou discriminatória. O diagnós-

1
Fonte: Cadernos da TV Escola - Educação Especial. Deficiência mental. Brasília, SEF/MEC, 1998, p. 9.

BOLETIM – PGM 2 - D EFICIÊNCIA MENTAL 27


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
tico de deficiência mental deve ser feito e o professor e a família devem buscar
por uma equipe de profissionais espe- orientação junto aos serviços especializa-
cializados (médico e psicólogo) e confir- dos de sua comunidade.
mado por um pedagogo. Além dos testes Estas dificuldades são um sinal de
específicos, estes profissionais devem alerta, que nos informa que algo talvez
levar em conta o momento de vida que a não vá bem.
criança atravessa e verificar o ambiente Alertamos, ainda, que há uma varie-
sociocultural em que ela vive. dade e uma complexidade de situações
Se for confirmada a condição de de- abrangidas pelo conceito “deficiência
ficiência mental, após todos estes pro- mental”. Assim, os sinais acima mencio-
cedimentos, a criança tem direito a re- nados não esgotam o assunto.
ceber apoio especializado e sua família
A escala da deficiência mental
deve ser orientada, a fim de favorecer sua
aprendizagem e seu desenvolvimento. O grau de comprometimento intelec-
tual das pessoas com deficiência mental
Que sinais podem ser observados?
pode ser distribuído em uma escala.
Em uma ponta estão as crianças que:
Desenvolvem habilidades sociais e
É IMPORTANTE TORNAR A ENFATIZAR
de comunicação de forma eficien-
QUE O DIAGNÓSTICO DE DEFICIÊNCIA
te e funcional;
MENTAL SÓ PODE SER FEITO POR ESPE-
Têm um prejuízo mínimo nas áre-
CIALISTAS, APÓS A REALIZAÇÃO DE EXA-
as sensório-motoras;
MES. HÁ CASOS, QUE ASSUMEM ASPEC- Podem ter comportamentos simi-
TOS TRÁGICOS, DE PESSOAS QUE PAS-
lares aos das crianças de sua ida-
SAM PELA VIDA CARREGANDO ESTE “RÓ-
de, não deficientes;
TULO”, SEM QUE SEJAM REALMENTE POR-
Representam, aproximadamente,
TADORAS DE DEFICIÊNCIA MENTAL.
85% dos portadores de deficiência
mental.
No centro da escala estão as crian-
Porém, ao observar que a criança ças que:
apresenta um comportamento diferente Têm nível de comprometimento
do de outras crianças – como dificulda- intelectual mais acentuado;
des em estabelecer relações de aprendi- Podem adquirir habilidades soci-
zagem no seu cotidiano (na sala de aula ais e de comunicação;
e em outros espaços, como no pátio, na Precisam de apoio e de acompa-
aula de Educação Física, nos passeios) – nhamento mais constantes;
tal fato deve ser relatado ao especialista Representam, aproximadamente,

BOLETIM – PGM 2 - D EFICIÊNCIA MENTAL 28


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
10% dos portadores de deficiência for receptivo e lançar mão de recursos
mental. educacionais adequados, ela poderá ab-
Na outra ponta da escala estão as sorver conhecimentos.
crianças Segundo a Profa. Lígia A. Amaral2:
Com rebaixamento intelectual sig-
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
nificativo;
“Se a deficiência for leve, a criança é
Este rebaixamento está, freqüen-
capaz de atingir uma estrutura cognitiva
temente, associado a outros com-
que lhe possibilite realizar operações ló-
prometimentos;
gicas de nível concreto, com apoio em
Nos primeiros anos de vida adqui-
objetos. Portanto, consegue operar men-
rem pouca (ou nenhuma) fala co- talmente e abstrair, tal como a criança
municativa; que não é deficiente. Piaget se refere à
Seu desenvolvimento sensório- estrutura cognitiva da criança como uma
motor também é bastante compro- ‘construção mental inacabada’. No caso
metido da deficiência leve, a estrutura cognitiva
Precisam de estimulação multis- não chega ao estágio das operações for-
sensorial; mais, ou seja, não chega à construção
Precisam de um ambiente estrutu- final – quarto e último estágio das estru-
rado, com apoio e acompanhamen- turas do conhecimento. Daí a expressão
to constantes. ‘construção mental inacabada’.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Se a criança com deficiência mental


CONCLUINDO: A MAIORIA DAS CRIAN-
leve é capaz de operar mentalmente,
ÇAS COM DEFICIÊNCIA MENTAL APRE-
embora numa idade posterior à das cri-
SENTA BAIXO COMPROMETIMENTO
anças não deficientes, ela é também ca-
COGNITIVO E , PORTANTO , PODE SE
paz de ser alfabetizada e de ter acesso a
BENEFICIAR MUITO DO PROCESSO DE
outros conhecimentos das sucessivas
APRENDIZAGEM.
seriações escolares.
Progressivamente, práticas inovado-
ras e integradas têm confirmado que,
Assim, se a criança com deficiência devidamente ‘trabalhadas’, as crianças
mental for corretamente estimulada, com deficiência mental leve podem sur-
desde cedo e se o ambiente educacional preender.”

2
Op. Cit., p. 37.

BOLETIM – PGM 2 - D EFICIÊNCIA MENTAL 29


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
A experiência de professores tem uma pessoa com deficiência men-
demonstrado que, ao buscar recursos tal;
educacionais que concretizem os concei- Trate-a com respeito e considera-
tos expostos, toda a classe se beneficia, ção, de acordo com sua idade;
não apenas o aluno portador de defi- Não a ignore. Cumprimente e des-
ciência. peça-se dela normalmente, como
Retomando a idéia de que a “educa- faria com qualquer pessoa;
ção não é uma fórmula de escola, mas Dê atenção a ela, converse e vai ver
sim uma obra de vida”, como dizia como pode ser agradável;
Freinet, lembramos que Educação é um Não superproteja. Deixe que ela
processo abrangente e complexo, que faça ou tente fazer sozinha tudo o
ultrapassa a escolarização e que tem, por que puder. Ajude apenas quando
objetivo final, preparar a pessoa para a for realmente necessário;
vida na família, na escola, no trabalho, Não subestime sua inteligência. As
no mundo.... pessoas com deficiência mental le-
vam mais tempo para aprender,
mas podem adquirir muitas habi-
É IMPORTANTE QUE O PROFESSOR E
lidades intelectuais e sociais.
TODA A COMUNIDADE ESCOLAR (DIRE-
É possível prevenir a deficiência
TOR, FUNCIONÁRIOS, ALUNOS) SE LEM-
mental?
BREM DE QUE TODO ALUNO PODE, A

SEU MODO E RESPEITANDO SEU TEM- Após a Ciência ter superado a no-
PO, BENEFICIAR-SE DE PROGRAMAS ção de que a deficiência mental é uma
EDUCACIONAIS , DESDE QUE TENHA doença, estudos têm sido realizados
OPORTUNIDADES ADEQUADAS PARA para conhecer os fatores de risco que
DESENVOLVER SUA POTENCIALIDADE. podem vir a determinar esta condição.
Esta mentalidade de prevenção está se
instalando gradualmente em todas as
áreas da Deficiência, além da mental.
Isso é muito importante, porque a Or-
Como tratar pessoas com deficiência
ganização Mundial de Saúde estima
3
mental
que aproximadamente 30% dos casos de
Aja naturalmente ao dirigir-se a deficiência poderiam ser evitados, se

3
Folheto “Quando você encontrar uma pessoa deficiente...”, publicado pelo CEDIPOD- Centro de Do-
cumentação e Informação do Portador de Deficiência.

BOLETIM – PGM 2 - D EFICIÊNCIA MENTAL 30


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
medidas adequadas de prevenção fos- ção Mundial de Saúde4, em relação a
sem adotadas. estes níveis de prevenção:
A origem da condição de deficiência
Prevenção primária
mental é complexa, pois envolve múlti-
plos fatores. Assim sendo, conhecê-los e As medidas de prevenção primária vi-
identificá-los é fundamental, para que sam diminuir a incidência de doenças e
programas de prevenção possam ser es- causas prováveis de deficiência; seu pú-
tabelecidos. Porém, é importante lem- blico-alvo é a população em geral. Elas são
brar que: de responsabilidade do Poder Público, nas
Muitas pessoas expostas a condi- esferas municipal, estadual e federal. Com-
ções de risco não apresentam de- pete aos governantes implantar programas
ficiência mental; preventivos, que estão garantidos no ECA
Muitas vezes, ainda não é possível – Estatuto da Criança e do Adolescente e
identificar qual foi o fator causal outros dispositivos legais, fazer campa-
da deficiência, infelizmente. nhas, distribuir material de divulgação e
Recorrendo mais uma vez à autori- tomar outras medidas semelhantes.
dade da Organização Mundial de Saú-
Medidas pré-natais
de, aprendemos que a prevenção pode
acontecer em três níveis: Condições adequadas de sanea-
Prevenção primária: medidas que mento básico;
podem ser tomadas antes de o fato Cuidados especiais em regiões de
acontecer; risco radiativo;
Prevenção secundária: medidas Planejamento familiar;
que reduzem a duração dos pro- Aconselhamento genético pré-natal;
blemas já existentes ou revertem Acompanhamento da gestação
seus efeitos; (saúde e nutrição materna);
Prevenção terciária: medidas volta- Diagnóstico pré-natal.
das para possibilitar o desenvolvi-
5
Medidas perinatais
mento da potencialidade da pes-
soa com deficiência mental, dimi- Atendimento médico – hospitalar
nuindo defasagens causadas por de qualidade na situação de parto;
esta condição. Atendimento de qualidade ao re-
A seguir, vamos enumerar algumas cém-nascido;
medidas recomendadas pela Organiza- PKU (teste do pezinho).

4
In Cadernos da TV Escola, op. cit., p. 11 e 12.
5
Estas medidas correspondem ao momento do parto.

BOLETIM – PGM 2 - D EFICIÊNCIA MENTAL 31


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Medidas pós-natais mento pedagógico (pré-escolar, escolar,

Condições de saneamento básico; preparação para o trabalho etc.).

Serviços de puericultura adequa- Apesar de todos os esforços de pro-

dos (incluindo campanhas de va- fissionais e familiares, infelizmente ain-

cinação); da é pouco o que se oferece à maior par-

Prevenção de acidentes domésticos. te das pessoas com deficiência mental.


Segundo alguns estudos, mais da meta-
Prevenção secundária de dos portadores de deficiência mental
Este nível de prevenção se refere às não recebem atendimento algum, o que
medidas que visam reduzir a duração dos é um índice muito preocupante.
problemas existentes ou os seus efeitos.
Dirigem-se às pessoas que já apresen- Educação Especial

tam uma deficiência ou manifestam pro-


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

blemas que, se não forem tratados ade-


“A educação, direito de todos e dever
quadamente, podem resultar em defici- do Estado e da família, será promovi-
ência. da e incentivada, com a colaboração
Neste nível de prevenção são ofere- da sociedade, visando ao pleno desen-
cidos programas voltados para conter a volvimento da pessoa, seu preparo
evolução de doenças que podem causar para o exercício da cidadania e sua
deficiência mental ou programas de qualificação para o trabalho.” (Consti-
estimulação que visam minimizar as con- tuição Federal, 19, Capítulo III, art. 205.)
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

seqüências de uma situação de defi-


ciência. Podemos citar, como exemplo:
diagnóstico precoce, estimulação essen- Podemos concluir que, se a Consti-
cial, orientação de dietas para crianças tuição assegura que a educação é um
com fenilcetonúria, leis que determinem direito de todos, a pessoa portadora de
a obrigatoriedade de rótulos nos alimen- deficiência mental está aí incluída. Esta
tos, alertando para a presença de glúten conclusão é reforçada pelo artigo 208,
e seus derivados e outros. inciso III, que enfatiza:

Prevenção terciária ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

“(...) o atendimento educacional especi-


Este nível de prevenção está voltado
alizado aos portadores de deficiência,
para as pessoas que já possuem a defici-
preferencialmente na rede regular de
ência mental e visa garantir o pleno de-
ensino”.
senvolvimento de suas potencialidades, ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

como indivíduos. São exemplos destas


medidas: atendimento clínico, atendi- Segundo a Profa. Lígia Assumpção

BOLETIM – PGM 2 - D EFICIÊNCIA MENTAL 32


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Amaral 6 “Compreende-se que, no contexto tamento igual para todos; é preciso ofere-
da Educação Especial, o termo ‘educacio- cer meios adequados às características e
nal’ se refere a todo espaço institucional necessidades de cada pessoa, para que ela
voltado para o desenvolvimento e a apren- possa desenvolver sua potencialidade. As-
dizagem do indivíduo. Esse espaço é com- sim, a escola deve oferecer oportunidades
prometido com os múltiplos e interde- educacionais diversificadas, para assegu-
pendentes aspectos do desenvolvimento – rar a igualdade de oportunidades de acesso
cognitivo, afetivo, socioemocional – tendo à educação.
como referência as diferenças individuais Temos presenciado, nos últimos anos,
e as possibilidades socioeducacionais de um debate sobre a questão da inclusão das
seus sujeitos. pessoas com deficiência, com ênfase em sua
Acredita-se que toda criança deve ter inclusão no ambiente escolar. Os profes-
o direito de estar inserida em um progra- sores, em especial, têm-se deparado com
ma educacional, independente de suas esta questão, que fica mais aguda no caso
possibilidades de aprendizagem acadêmi- de alunos com deficiência mental.
ca, até porque o sentido aqui atribuído ao Esta questão é realmente complexa
processo educacional ultrapassa, e mui- e merece ser tratada com cuidado.
to, os limites impostos a um programa res- Os professores, em geral, fazem per-
trito à educação formal, acadêmica. guntas e observações como estas:
Todo espaço educacional pressupõe Como posso receber um aluno com
a convivência entre os pares. A possibili- deficiência mental na minha sala,
dade de conviver, trocar e vivenciar situ- onde há 30 (ou mais) alunos?
ações do cotidiano é um objetivo implí- Não tenho habilitação em deficiên-
cito no processo de aprendizagem, bem cia mental.
como no desenvolvimento humano.” Como os outros colegas vão recebê-
lo?
Direitos iguais/oportunidades
Não pretendemos dar “receitas pron-
diferenciadas
tas” ou “soluções mágicas” para estas
Como assegurar o direito à educa- perguntas, pois não existem. Elas mere-
ção para pessoas que são diferentes? cem nossa reflexão, pois refletem uma
O Prof. Marcos Mazzota, estudioso des- situação que vem mudando ao longo da
ta área, nos ensina que assegurar oportu- História. Como o professor faz parte da
nidades iguais não significa garantir tra- sociedade e da época em que vive, ele

6
Cadernos da TV Escola. Deficiência mental e deficiência física. Brasília, MEC/Secretaria de Educa-
ção a distância, 1998, p. 13.

BOLETIM – PGM 2 - D EFICIÊNCIA MENTAL 33


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
também partilha as opiniões vigentes. sido modificado; posteriormente, surgiu
Vale a pena, pois, tentar descobrir o que o conceito de “integração social”, para
está na raiz destas perguntas. derrubar a prática de exclusão social a
que as pessoas portadoras de deficiên-
Preconceito e discriminação
cia estavam submetidas, em relação a
As pessoas com deficiência, especi-
qualquer atividade.
almente mental, foram perseguidas,
O movimento pela integração social
maltratadas, segregadas e discriminadas,
surgiu por volta do final da década de
durante séculos.
60 e procurava inserir as pessoas com
A partir do século XIX, esta situação
deficiência no trabalho, na escola, no
começa a mudar; médicos e educadores
lazer. A década de 80 impulsionou este
interessam-se por estas pessoas e per-
movimento; a ONU – Organização das Na-
cebem que elas têm capacidade de
ções Unidas – decretou 1981 como o Ano
aprendizagem. Passam, então, a desen-
Internacional das Pessoas Deficientes; a
volver métodos educacionais. As atitudes
luta pelos direitos ganhou força.
preconceituosas começam a ser revistas.
Em conseqüência das conquistas e da
Para a Cooperativa de Vida Indepen-
experiência acumuladas neste processo,
dente de Estocolmo (Suécia), entidade
estudiosos e organizações compostas por
formada por pessoas portadoras de defi-
pessoas com deficiência começaram a
ciência: “ (...) uma das razões pelas quais
perceber que a prática da integração so-
as pessoas deficientes estão expostas à
cial era insuficiente para acabar com a
discriminação é que os diferentes são
discriminação e para garantir a verdadei-
freqüentemente declarados doentes. Este
ra participação, com oportunidades iguais.
modelo médico da deficiência nos desig-
Isto porque a integração social repre-
na o papel desamparado e passivo de pa-
senta o esforço de inserir o portador de
cientes, no qual somos considerados de-
deficiência na sociedade, SE ele estiver
pendentes do cuidado de outras pesso-
capacitado a superar as barreiras exis-
as, incapazes de trabalhar, isentos dos
tentes. Assim, o esforço era feito apenas
deveres normais, levando vidas inúteis,
por parte do deficiente, sua família e pro-
como está evidenciado na palavra ainda
fissionais especializados – a sociedade
comum ‘ inválido’ [sem valor, em latim].”7
permanece do mesmo jeito, alterando
Integração social pouco (ou nada) suas atitudes, espaços
Gradualmente, este conceito tem físicos e práticas sociais.

7
STIL. Independent living: a Swedish definition. In: RATZKA, Adolf. Tools for power. Estocolmo:
Independent Living Committee of Disabled Peoples’ International, 1990, p. 30.

BOLETIM – PGM 2 - D EFICIÊNCIA MENTAL 34


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
É a partir destas constatações que tema, que é bastante desafiador para
surgem outros conceitos e movimentos, os educadores.
que falam de autonomia, independên- É consenso que temos um longo ca-
cia, empowerment e equiparação de minho a percorrer, por parte da socieda-
oportunidades, que foram objeto de nor- de e da própria pessoa com deficiência, e,
mas e resoluções internacionais, como principalmente, da portadora de deficiên-
as Normas sobre o Programa Mundial de cia mental, para que ela possa ser consi-
Ação Relativo às Pessoas com Deficiên- derada socialmente incluída, ou seja, pos-
cia (ONU, 1982), a Equiparação de Opor- sa assumir-se como indivíduo, que conhe-
tunidades para Pessoas com Deficiência ce e aceita suas potencialidades e limites.
(ONU, 1993), entre outros. Para trilhar este caminho, o ideal é
De forma geral, podemos dizer que começar o mais cedo possível, no mo-
estes conceitos, que apontam para a in- mento em que as relações iniciais são
clusão social, consideram que a socie- estabelecidas entre a criança e a família
dade deve ser modificada para atender e, posteriormente, na escola e na vizi-
às necessidades de todos os seus mem- nhança. Ora, para construir relações e
bros. O desenvolvimento das pessoas vivências de caráter inclusivo, é preciso
com deficiência deve ocorrer no proces- que a diversidade seja aceita, como par-
so de inclusão e não como um pré-re- te integrante da natureza humana. Até
quisito para que estas pessoas possam gêmeos são diferentes...
fazer parte da sociedade, como se elas A Profa. Maria Teresa Mantoan 8 nos
precisassem “pagar ingresso para inte- adverte que:
grar a comunidade”, como diz o Dr. An-
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

tonio S. Clemente Filho. “A inclusão causa uma mudança de


perspectiva educacional, pois não se li-
Educação e inclusão no Brasil
mita a ajudar somente os alunos que
Voltando para a questão da Educa- apresentam dificuldades na escola, mas
ção no Brasil, podemos constatar que a apóia a todos: professores, alunos, pes-
inclusão de pessoas com deficiência na soal administrativo, para que obtenham
educação geral está sendo sucesso na corrente educativa geral.”
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

implementada no Brasil há pouco tem-


po, mas já há discussões e uma signifi- Assim, é importante que a diversi-
cativa produção intelectual sobre este dade seja aceita com naturalidade e

8
MANTOAN, Maria Teresa Egler. A integração de pessoas com deficiência: contribuições para uma
reflexão sobre o tema. São Paulo, Memnon/SENAC, 1997, p. 145.

BOLETIM – PGM 2 - D EFICIÊNCIA MENTAL 35


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

tranqüilidade, desde o momento em que infelizmente, está associada à falta de es-

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
a deficiência é detectada; se a família agir colaridade e de acesso a determinadas
desta forma, a tendência é que “conta- informações, visando ao esclarecimento
minará” as pessoas ao redor. acerca da deficiência de seus filhos. Em
meu dia-a-dia, tenho encontrado desde
Como a escola pode se preparar mães que acham que o problema de seu
para incluir o aluno portador de filho não tem solução, àquelas que acham
deficiência que seu filho não tem problema algum, o
que é muito mais grave. Os pais que não
Sensibilizando e capacitando toda
aceitam a deficiência de seu filho e nem
a comunidade escolar;
acreditam em sua capacidade para supe-
Reorganizando seus recursos ma-
rar as limitações, impedem que este te-
teriais e físicos; nha acesso à estimulação e ao atendimento
Sensibilizando os pais de alunos educacional especializado.”9
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
deficientes e não deficientes, so-
bre a questão da inclusão;
Envolvendo entidades e órgãos da Benefícios da educação inclusiva para
10
comunidade no processo da inclu- todos os estudantes
são. Estudantes com deficiência:
Vale a pena enfatizar a importância Desenvolvem a apreciação pela di-
da comunicação entre a escola e a fa- versidade individual;
mília da criança portadora de deficiên- Adquirem experiência direta com
cia. Para isso, reproduzimos as palavras a variação natural das capacidades
de Maria Salomé Soares Dallan, mãe de humanas;
uma criança surda e aluna do curso de Demonstram crescente responsabi-
Pedagogia da PUC/Pontifícia Universida- lidade e melhorada aprendizagem
de Católica de Campinas, SP: através do ensino entre os alunos;
Estão mais bem preparados para a
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

“Hoje, na tentativa de assegurar a per- vida adulta em uma sociedade


manência de algumas crianças com ne- diversificada, através da educação
cessidades especiais no ensino regular, em salas de aula diversificadas;
percebo mais fortemente a importância de Freqüentemente experenciam
um trabalho junto às mães da população apoio acadêmico adicional da parte
de baixa renda, uma vez que pobreza, do pessoal de Educação Especial;

9
Dallan, Maria Salomé Soares. Fazendo do problema um desafio. In: Revista Integração, v. 13, p. 51,
2001.
10
Fonte: Programa da ONU em Deficiências Severas, 1994.

BOLETIM – PGM 2 - D EFICIÊNCIA MENTAL 36


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Podem participar como aprendizes sinar pessoas de várias culturas,
sob condições instrucionais diver- com inteligências múltiplas e en-
sificadas (aprendizado cooperativo, volvendo diferentes estilos de
uso de tecnologia baseada em cen- aprendizagem;
tros de aprendizagem etc.). A Educação deve contribuir para a
Estudantes sem deficiência: construção do “senso de comuni-
Têm acesso a uma gama mais am- dade” nas salas de aula e nas es-
pla de modelos de papel social, ati- colas como um todo.
vidades de aprendizagem e redes
Sugestões para adaptar salas
sociais;
comuns para receber alunos com
Desenvolvem, em escala crescen-
deficiência
te, o conforto, a confiança e a com-
preensão da diversidade individu- Todos os estudantes, não importa
al deles e de outras pessoas; se tiverem deficiência ou não, irão
Demonstram crescente responsa- beneficiar-se de aulas que se ba-
bilidade e crescente aprendizagem, searem menos em livros e mais em
através do ensino entre os alunos; experiências e vivências, que forem
Estão mais bem preparados para a mais cooperativas e mais multis-
vida adulta em uma sociedade sensoriais.
diversificada, através da educação Se for necessário adaptar o espaço
em salas de aula diversificadas; físico da sala para receber alunos
Recebem apoio instrucional adicio- com deficiência, estas adaptações
nal, por parte dos profissionais da devem ser feitas com o máximo de
Educação Especial; boa vontade e hospitalidade. Na
Beneficiam-se da aprendizagem maioria das vezes, estas adaptações
sob condições instrucionais diver- também irão beneficiar os alunos
sificadas. não deficientes. A deficiência não
Analisando os benefícios que a Edu- deve ser apontada de uma forma
cação Inclusiva pode trazer para todos constrangedora, não deve ser en-
os envolvidos, portadores ou não de de- fatizada nem ignorada.
ficiência, podemos concluir que eles Para estudantes com deficiência
apontam para as seguintes práticas, que mental, medidas como estas podem ser
são benéficas para todos: proveitosas:
Aprendizado cooperativo; Adotar o sistema de “companheiro”,
Instrução baseada em projeto/ati- ou seja, envolver os colegas com o
vidade; processo de aprendizagem do alu-
A Educação deve reconhecer e en- no portador de deficiência mental;

BOLETIM – PGM 2 - D EFICIÊNCIA MENTAL 37


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Formar grupos cooperativos de Dentre os recursos educacionais à
aprendizagem; disposição, gostaríamos de destacar o
Contar histórias e utilizar materiais computador, que está se tornando, cada
para ensinar conceitos abstratos; vez mais, um instrumento presente no
Preparar versões simplificadas do nosso quotidiano.
material didático; Segundo o Prof. Fausto José Villano-
O professor deve evitar o “discurso va, que leciona Música e Informática para
do não”, que enfatiza o que o alu- alunos deficientes auditivos, visuais,
no não pode, não sabe, não faz. É mentais e físicos no Instituto N. S. de
importante fazer um investimento Lourdes, na cidade do Rio de Janeiro11,
pedagógico nas possibilidades de “A Informática, hoje tão presente em,
aprendizagem do aluno. nossas vidas, é extremamente necessá-
ria aos portadores de necessidades edu-
A deficiência mental e as novas
cacionais especiais. (...)É necessário que
tecnologias
a comunidade escolar, o corpo docente,
Ao ingressarem na escola, seja regu- a família e os próprios alunos tenham
lar ou especial, as crianças com deficiên- consciência da importância de sua par-
cia mental freqüentemente vivem situa- ticipação efetiva nesta nova área, que
ções que reforçam uma postura de passi- engloba a educação, a tecnologia e o
vidade diante do ambiente. Assim, ao in- mercado de trabalho”.
vés de serem educadas para exercitar a O Prof. Fausto divide a utilização da
independência e a autonomia, na medi- Informática nas seguintes modalidades:
da de suas possibilidades, desenvolvem 1. Informática educativa
atitudes de dependência e submissão. Ela visa desenvolver o raciocínio lógi-
É exatamente pelas dificuldades e co, a percepção, a coordenação mo-
atrasos que estes alunos apresentam em tora, a noção de lateralidade, o reco-
seu desenvolvimento global que é neces- nhecimento de espaço, noções de co-
sário oferecer-lhes um ambiente de nhecimentos gerais, estímulos visuais
aprendizagem onde sua criatividade e e auditivos, estímulos competitivos e
iniciativa possam ser estimuladas e va- cooperativos, aquisição de conheci-
lorizadas, permitindo maior interação mentos e outras habilidades.
com as pessoas que os rodeiam e seu O ideal é que o aluno tenha acesso à
meio ambiente. Informática desde a pré-escola, através

11
“As diversas utilidades da informática, sua importância e influência no desenvolvimento, na edu-
cação, terapia, comunicação, integração e socialização dos portadores de necessidades especiais”,
Revista Integração, v. 13, n. 23/2001, p. 20-23.

BOLETIM – PGM 2 - D EFICIÊNCIA MENTAL 38


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
de jogos educativos. O computador tam- ção de pessoas com paralisia cerebral,
bém pode atuar no reforço escolar. deficiência visual ou outras necessi-
2. Informática musical dades especiais.
Utilizando um software para visualizar 7. Informática terapêutica
as freqüências sonoras, o aluno con- Esta modalidade beneficia especial-
segue distinguir sons graves, médios mente alunos com deficiência física e
e agudos, facilitando a aprendizagem auditiva, que utilizam o computador
de um instrumento musical. como uma “prótese” de comunicação.
3. Informática de parceria Esse processo acontece em função da
Nesta modalidade, a família tem aces- interação terapeuta/paciente/com-
so às aulas de seus filhos, havendo putador.
uma troca entre os softwares 8. Informática profissionalizante escolar
educativos usados em sala de aula e Tendo o professor como orientador, o
os utilizados em casa, permitindo que aluno pode atuar como monitor no la-
a família reveja os conteúdos minis- boratório de informática ou como au-
trados em sala de aula. xiliar de outros professores no prepa-
4. Informática participativa ro de aulas e testes.
Visa estimular a navegação na In- Importa ressaltar que já há experiên-
ternet, estimulando o aluno a parti- cias sobre a utilização da Informática
cipar de fóruns e debates. com alunos portadores de deficiência
5. Informática integradora social mental, com resultados positivos,
Permite aos alunos atuar de forma como os obtidos pela equipe do NIED
produtiva, criativa e eficiente na rea- – Núcleo de Informática aplicada à
lização de trabalhos, utilizando o com- Educação, da UNICAMP – Universida-
putador. Assim, a pessoa com defici- de Estadual de Campinas.12
ência pode provar sua capacidade de
realização, muitas vezes posta em A transição da escola para o trabalho
dúvida, devido a preconceitos.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

6. Informática de comunicação “Toda sociedade que exclui pessoas do


Vários softwares são desenvolvidos, no trabalho por qualquer motivo – sua defi-
Brasil e em outros países, visando fa- ciência ou sua cor ou seu gênero – está
cilitar a aprendizagem e a comunica- destruindo a esperança e ignorando ta-

12
VALENTE, José Armando. (org.). Liberando a mente: computadores na educação especial. Campinas:
UNICAMP, 1991. E também: Computadores e conhecimento: repensando a educação. Campinas:
UNICAMP, 1993.

BOLETIM – PGM 2 - D EFICIÊNCIA MENTAL 39


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
lentos. Se fizermos isso, colocaremos em Há diversas modalidades de traba-
risco o futuro.” lho para a pessoa com deficiência men-
Robert White, 1994. tal: em empresas, desempenhando tra-
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

balhos de cunho repetitivo, na equipe


de jardinagem, limpeza, como office boy
Constatamos que, gradualmente, o interno; em oficinas ocupacionais, na
mercado de trabalho está mais receptivo área rural ou em iniciativas familiares.
às pessoas com deficiência. Porém, ain- O fundamental é que a dignidade da
da há muito a ser conquistado, especial- pessoa seja preservada, ou seja, o traba-
mente quando tratamos com pessoas lho que ela executa deve ser remunera-
portadoras de deficiência mental. Em do, o ambiente deve ter condições ade-
geral, a carga de preconceitos e discri- quadas de salubridade e o tratamento
minação que recebem é maior que a re- deve ser respeitoso.
cebida por portadores de deficiência fí- Na área do trabalho o “discurso do
sica, auditiva ou visual. não” também deve ser evitado: podemos
Além disso, a família também con- testar possibilidades de trabalho, testar
tribui para esta situação, pois tem uma recursos atuais, como a informática, an-
forte tendência a proteger o filho dos pre- tes de decidir se determinado trabalho
conceitos sociais, tratando-o como uma pode ou não ser desempenhado por por-
“eterna criança”, tentando prolongar a tadores de deficiência mental. Como
infância e adiando a passagem para a exemplo, podemos citar o Zoológico do
vida adulta. Às vezes, os profissionais das Rio de Janeiro, que contratou jovens com
escolas e das oficinas também adotam deficiência mental leve para trabalhar na
este comportamento. cozinha, preparando alimentos para os
Ao assim fazerem, eles estão preju- animais. Cada espécie animal precisa
dicando o portador de deficiência men- que o alimento seja cortado sempre do
tal e não o ajudando, pois ele não con- mesmo jeito. Muitos profissionais não
quistará a autonomia possível desta for- deixariam que portadores de deficiência
ma; ao contrário, será sempre dependen- mental usassem facas, mas a experiên-
te dos que o rodeiam. cia tem demonstrado que eles são cui-
Ao atingir a adolescência, é fundamen- dadosos e não sofreram acidentes.
tal que a escola e a instituição busquem Assim, a escola deve estar atenta à
alternativas de propostas pedagógicas de modernização e à diversidade, adotando
atividades adequadas a sua idade cronoló- uma atitude positiva, com o compromis-
gica e que possibilitem conquistar a maior so de valorizar a potencialidade indivi-
autonomia possível e independência em dual e preparando seus alunos para a
relação ao seu meio ambiente. vida adulta.

BOLETIM – PGM 2 - D EFICIÊNCIA MENTAL 40


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

PGM 3: DEFICIÊNCIA VISUAL E INCLUSÃO SOCIAL


MARTA GIL*

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

BRAILLE
Markiano Charam Filho1

Da França para o mundo


Palavras tocadas
Seis pontos amigos
Parece um bordado
Bordado da vida
Nem todos entendem
Mas ele está aí.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Deficiência visual: alguns conceitos escala que vai da cegueira (ausência to-
Se quisermos utilizar poucas pala- tal de visão) até a visão subnormal.
vras, podemos definir deficiência visual Chama-se visão subnormal (ou bai-
como a perda total ou parcial da capaci- xa visão, como preferem alguns especi-
dade de enxergar. alistas) à alteração da capacidade funcio-
Explicando melhor: os graus de vi- nal decorrente de fatores como rebaixa-
são abrangem uma ampla escala de si- mento significativo da acuidade visual,
tuações, que vão desde a cegueira total redução importante do campo visual e
até a visão perfeita, também total. A ex- da sensibilidade aos contrastes e limita-
pressão “deficiência visual” se refere à ção de outras capacidades visuais.

* Socióloga. Gerente da Rede SACI – Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação (www.saci.org.br).


Consultora desta série.
1
Corpo, Alma & Cia., Projeto Arte sem Limites, São Paulo, 1997, p. 61.

41
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
duo visual nas atividades educacionais,
“TRADUZINDO” A DEFINIÇÃO ACIMA, na vida cotidiana e no lazer.
PODEMOS DIZER QUE A VISÃO SUB- Estão sendo desenvolvidas técnicas
NORMAL É A INCAPACIDADE DE EN- para trabalhar o resíduo visual, assim que
XERGAR COM CLAREZA SUFICIENTE a deficiência é constatada. Isso melhora
PARA CONTAR OS DEDOS DA MÃO A significativamente a qualidade de vida da
UMA DISTÂNCIA DE 3 METROS, À LUZ pessoa, embora não elimine a deficiência.
DO DIA; EM OUTRAS PALAVRAS, A PES- Em termos quantitativos, sabemos
SOA CONSERVA RESÍDUOS DE VISÃO, que a maioria das pessoas com deficiên-
NÃO SENDO TOTALMENTE CEGA. cia visual possui algum grau residual de
visão: poucas são totalmente cegas. In-
felizmente, muitas das que têm algum
Usando auxílios ópticos2 como ócu- grau de visão são consideradas cegas e
los, lupas etc., a pessoa com baixa visão tratadas como tal; dessa forma, perdem
distingue vultos, a claridade ou objetos os benefícios que o uso da visão residual
a pouca distância. A visão se apresenta poderia trazer a seu processo de desen-
embaçada, diminuída, restrita em seu volvimento e à sua qualidade de vida.
campo visual ou prejudicada de algum Entre os dois extremos da capacida-
modo. de visual estão situadas patologias como
Até recentemente, não se levava em miopia, estrabismo, astigmatismo,
conta a existência destes resíduos visu- ambliopia, hipermetropia, que não cons-
ais; a pessoa era tratada como se fosse tituem necessariamente deficiência visu-
cega, aprendendo a ler e escrever em al, mas que devem ser identificadas e tra-
Braille3, a movimentar-se com o auxílio tadas o mais rapidamente possível, pois
de bengala etc. Hoje em dia oftalmolo- podem interferir negativamente no pro-
gistas, terapeutas e educadores traba- cesso de desenvolvimento e na aprendi-
lham no sentido de aproveitar este resí- zagem da criança.

2
“Recursos ou auxílios ópticos para visão subnormal são lentes especiais ou dispositivos formados por
um conjunto de lentes, geralmente de alto poder, que se utilizam do princípio da magnificação da
imagem, para que possa ser reconhecida e discriminada pelo portador de baixa visão. Os auxílios
ópticos estão divididos em dois tipos, de acordo com sua finalidade: recursos ópticos para perto e
recursos ópticos para longe.”
Braga, Ana Paula. “Recursos ópticos para visão subnormal – seu uso pela criança e adolescente”.
Revista Con-tato, São Paulo, Laramara, agosto de 1997, p. 12.
3
Braille: sistema de escrita e de impressão para deficientes visuais, no qual as letras do alfabeto são
feitas de pontos em relevo, que as pessoas reconhecem pelo toque das pontas dos dedos. O sistema
foi inventado por Louis Braille, em 1829.

BOLETIM – PGM 3 - D EFICIÊNCIA VISUAL E INCLUSÃO SOCIAL 42


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Que sinais podem ser observados? nossos conhecimentos chegam até nós
Irritação constante nos olhos; pelos olhos, que podem ser considerados
Aproximação do papel junto ao ros- a nossa “janela para o mundo”.
to, quando escreve e lê; Estudos recentes revelam que enxer-
Dificuldade para copiar bem da gar não é uma habilidade inata, ou seja,
lousa a distância; ao nascer ainda não sabemos enxergar;
Olhos franzidos para ler o que está precisamos aprender a ver. Não é um pro-
escrito na lousa; cesso consciente. Embora nem pensemos
Cabeça inclinada para ler ou es- nisso, estamos ensinando um bebê a en-
crever, como se procurasse um xergar, ao carregá-lo no colo e ir mostran-
ângulo melhor para enxergar; do: Olha o gatinho; Onde está o seu irmão?
Tropeços freqüentes por não en- O desenvolvimento das funções visu-
xergar pequenos obstáculos no ais ocorre nos primeiros anos de vida.
chão; Graças a testes de acuidade visual recen-
Nistagmo (olho trêmulo); temente desenvolvidos, hoje é possível
Estrabismo (vesgo); fazer a avaliação funcional da visão de um
Dificuldade de enxergar em ambi- recém-nascido, ainda no berçário.
entes muito claros.
O que significa perder a visão?
O que o professor pode fazer? A cegueira (ou perda total da visão)
– Orientar os pais para que os mes- pode ser adquirida ou congênita (exis-
mos procurem um médico especi- tente desde o nascimento).
alista em visão (oftalmologista); O impacto da deficiência visual (con-
– Aplicar o Teste de Acuidade Visual gênita ou adquirida) sobre o desenvolvi-
no início do ano letivo, preferenci- mento individual e psicológico varia mui-
almente nas primeiras séries do to, de pessoa para pessoa. Depende da
Ensino Fundamental; idade em que ocorre, do grau da defici-
– Não usar colírio ou outros medica- ência, da dinâmica geral da família, das
mentos sem recomendação médica. intervenções que foram tentadas, da per-
sonalidade da pessoa – enfim, de mui-
A importância da visão
tos fatores. Quando a pessoa perde a vi-
A visão é o meio mais importante de são mais tarde na vida, guarda memórias
relacionamento com o mundo exterior. Ela visuais: ela se lembra de cores, rostos,
capta registros próximos ou distantes e paisagens, objetos e isso é útil para sua
permite organizar, no nível cerebral, as readaptação.
informações trazidas pelos outros órgãos Além da perda do sentido da visão, a
dos sentidos. Calcula-se que 80% dos cegueira adquirida também traz outras

BOLETIM – PGM 3 - D EFICIÊNCIA VISUAL E INCLUSÃO SOCIAL 43


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
perdas: emocionais, das habilidades bá- nas áreas de educação e saúde e se hou-
sicas (mobilidade, execução das ativida- vesse mais informação disponível para a
des diárias), da atividade profissional, da população.
comunicação e da personalidade como
Saber cuidar de si: caminhos para a
um todo. É uma experiência traumáti-
autonomia
ca, que deve ser acompanhada por
terapeutas, que tratem da pessoa e da Durante muitos anos, uma pessoa
família. cega que falasse bem, tivesse desempe-
Quando a deficiência visual aconte- nho acadêmico satisfatório e bom nível
ce na infância, pode trazer prejuízos ao de informação e verbalização era muito
desenvolvimento neuropsicomotor, com valorizada pela sociedade. Nada mais se
repercussões educacionais, emocionais esperava dela, em termos de autonomia
e sociais, que podem continuar ao longo e de independência. Assim, a educação
da vida, se não houver um tratamento de uma criança portadora de deficiência
adequado, o mais cedo possível. visual se voltava basicamente para os
aspectos intelectuais.
Causas dos problemas da visão
Analisando essa valorização de ape-
As causas mais freqüentes de ceguei- nas uma parte da potencialidade total
ra e baixa visão são: da pessoa, percebemos que a expectati-
Retinopatia da prematuridade – va quanto às possibilidades de uma pes-
causada pela imaturidade da reti- soa com deficiência visual era baixa: o
na, em decorrência de parto pre- preconceito impedia que a pessoa fosse
maturo ou de excesso de oxigênio considerada capaz de executar todas as
na incubadora; atividades que fazem parte do nosso dia-
Catarata congênita – em conseqü- a-dia: andar com independência, cuidar-
ência de rubéola ou de outras in- se e vestir-se de modo adequado, alimen-
fecções durante a gestação; tar-se, interagir socialmente, competir no
Glaucoma congênito – pode ser he- mercado de trabalho, casar-se – enfim,
reditário ou causado por infecções. exercer seu papel de cidadão.
A cegueira e a baixa visão também Felizmente, esta compreensão está
podem resultar de doenças como diabe- mudando, gradualmente. Muitos servi-
tes, descolamento de retina ou trau- ços de atendimento às crianças porta-
matismos oculares. doras de deficiência visual já incorporam
Os especialistas estimam que os ca- a seus programas um trabalho voltado
sos de deficiência visual poderiam ser para as atividades de vida diária e para a
reduzidos em até 30%, se fossem orientação e mobilidade.
adotadas medidas preventivas eficientes Desde cedo, as crianças que enxer-

BOLETIM – PGM 3 - D EFICIÊNCIA VISUAL E INCLUSÃO SOCIAL 44


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
gam vão aprendendo a lidar com as mais grau, compromete a capacidade da pes-
diversas situações, observando o ambi- soa de se orientar e de se movimentar no
ente a seu redor e relacionando-se com espaço, com segurança e independência.
as pessoas. É preciso possibilitar essa Na idade pré-escolar, quando a cri-
mesma relação com o meio à criança que ança está desenvolvendo sua capacida-
não enxerga ou enxerga pouco. de de socialização, isso prejudica (ou até
A independência alcançada graças a mesmo impede) o conhecimento do mun-
um bom programa de Atividades da Vida do ao seu redor e seu relacionamento
Diária vai muito além das necessidades com outras pessoas. É uma fase em que
pessoais básicas, como higiene, alimen- ela gosta de ter amigos, brincar e com-
tação, hábitos à mesa e etiqueta, cuida- partilhar os brinquedos. Se não puder
dos com a casa e atividades sociais. Sig- desempenhar estes papéis, ficará insa-
nifica desenvolvimento de autoconfiança tisfeita e isolada, e isso trará prejuízos à
e valorização das próprias capacidades, sua aprendizagem.
agir com naturalidade e eficiência no Para alguns autores, a limitação na
universo social. Ao assumir esta postura orientação e na mobilidade pode ser
de dignidade e autonomia, a pessoa com considerada o efeito mais grave da ce-
deficiência visual contribui para cons- gueira.
cientizar a sociedade em relação à sua Nos programas de estimulação pre-
potencialidade. coce há técnicas especializadas para de-
Há crianças que, além da deficiên- senvolver o sentido de orientação usan-
cia visual, apresentam outros comprome- do o tato, a audição e o olfato, para que a
timentos – da fala, da audição etc. Por criança possa se relacionar com os obje-
isso, o primeiro passo em qualquer aten- tos significativos que estão ao seu redor.
dimento consiste em fazer uma avalia- O treinamento da orientação e da
ção global, por uma equipe multidis- mobilidade permite que a pessoa se mo-
ciplinar, para decidir qual é o melhor vimente e se oriente com segurança na
caminho a seguir, na estimulação. escola, em casa, no trânsito, de acordo
A partir do diagnóstico, é elaborado com sua idade.
um programa de Educação Precoce, que
O papel da família
inclui atividades lúdicas, de acordo com
a idade da criança. A participação da fa- Embora não seja fácil, a família pre-
mília é fundamental para o bom desem- cisa entender que o portador de defici-
penho da criança. ência é, antes de mais nada e acima de
tudo, uma pessoa total, evitando focali-
Orientação e mobilidade
zar a atenção na sua condição visual.
A deficiência visual, em qualquer Assim, ela deve oferecer condições para

BOLETIM – PGM 3 - D EFICIÊNCIA VISUAL E INCLUSÃO SOCIAL 45


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
seu crescimento como indivíduo, tornan-
do-o capaz de ser feliz e produtivo den- PARA MUITOS PORTADORES DE DEFI-

tro de sua realidade, de sua potencia- CIÊNCIA, A MAIOR DIFICULDADE ESTÁ

lidade e seus limites. NA FALTA DE OPORTUNIDADES.

O depoimento da Profa. Rosana Glat


é esclarecedor: “De fato, a minha expe-
riência de 20 anos lidando com pesso-
O professor e o desenvolvimento da
as portadoras de deficiência e suas fa-
criança portadora de deficiência visual
mílias tem mostrado que os indivíduos
mais integrados socialmente, isto é, que Para entender o que acontece com o
levam uma vida mais ‘normalizada’, são processo de desenvolvimento da criança
aqueles que são tratados de maneira com deficiência visual, o professor deve
mais natural, mais ‘normal’ por suas fa- considerar, entre outros fatores:
mílias, que estão, enfim, mais integra- A idade em que a deficiência acon-
dos na constelação familiar. Isto é váli- teceu;
do não apenas para os casos de defici- Associação (ou não) com outras
ências congênitas, mas também para os deficiências;
que por doença ou acidente vieram a se Aspectos hereditários;
tornar deficientes na idade adulta. Aspectos ambientais;
Canejo (1996), em recente estudo com Tratamento recebido.
pessoas portadoras de cegueira adqui- A criança portadora de deficiência
rida, constatou que os sujeitos que pa- visual (com cegueira ou com baixa visão)
reciam ter maior grau de integração so- deve ser avaliada por profissionais da
cial eram justamente aqueles que ti- área da saúde e da educação, num tra-
nham um bom esquema de suporte fa- balho conjunto.
4
miliar.” É errado achar que uma criança com
A primeira atitude consiste em acre- deficiência visual também tenha deficiên-
ditar na potencialidade da criança, con- cia mental, por sua eventual dificuldade
siderando-a capaz de estudar, de ser in- ou atraso em realizar algumas tarefas.
dependente, de trabalhar, praticar es-
portes e tantas outras coisas que seus A escola e a sociedade

amigos fazem. Ao abrir suas portas para receber os

4
GLAT, Rosana. O papel da família na integração do portador de deficiência. Revista Brasileira de
Educação Especial, v. 2, 1996, n.4.

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
que enxergam e os que não enxergam, a A escola pode adotar diversas medi-
escola se torna um espaço de inclusão, das, para capacitar os professores e a
promovendo trocas enriquecedoras en- comunidade escolar para lidar com a
tre toda a equipe escolar, os alunos e deficiência visual, como:
suas famílias. Promover reuniões para discutir as
A fonte de informações mais impor- dificuldades encontradas;
tante para o professor é o próprio aluno Convidar especialistas para fazer
e sua família. É fundamental saber como palestras a professores e alunos;
ele é, como percebe, fala e sente. O defi- Ter material bibliográfico de apoio;
ciente visual percebe a realidade que Exibir vídeos sobre o assunto;
está a sua volta por meio de seu corpo, Convidar pais de crianças com de-
na sua maneira própria de ter contato ficiência ou professores que já ti-
com o mundo que o cerca. veram esta experiência para dar
Para conhecer o deficiente visual, depoimentos.
seus interesses e habilidades, o profes-
Mãos: os “olhos” dos deficientes
sor deve prestar atenção ao referencial
visuais
perceptual que ele revela. A partir daí, o
professor pode oferecer-lhe oportunida- As informações chegam até as pes-

des para entrar em contato com novos soas com deficiência visual por dois ca-

objetos, pessoas e situações, facilitando nais principais: pela linguagem e pela

seu processo de aprendizagem. exploração tátil, que envolve especial-

Para a Profa. Elcie Masini, estudiosa mente as mãos.

da temática da deficiência visual: Como as mãos são os “olhos” das pes-


soas com deficiência visual, seu uso como
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ instrumento de percepção deve ser in-
“Aprender é aqui entendido como a ca- tensamente estimulado, incentivado e
pacidade humana de receber, colaborar, aprimorado.
organizar novas informações e, a partir Desde o nascimento, é preciso des-
desse conhecimento transformado, agir pertar na criança cega o desejo de conhe-
de forma diferente do que se fazia an- cer e aprender. Os pais devem estimular
tes. Aprende-se numa relação com o ou-
e conversar mais com um bebê portador
tro ser humano e/ou com as coisas a
de deficiência do que se conversa, geral-
5
seu redor.”
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ mente, com os não deficientes.

5
MASINI, Elcie F. Salzano. “Conversas sobre deficiência visual”. Revista Con-tato. São Paulo, Laramara,
n. 3, p. 24, 1993.

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Durante toda a vida da pessoa com de- ral que a criança com deficiência visual
ficiência visual, as mãos serão um instru- severa, ou com cegueira, apresente defa-
mento privilegiado de conhecimento. Mas, sagens no seu processo de desenvolvimen-
nos primeiros anos de vida, enquanto a lin- to, em relação às crianças que enxergam.
guagem ainda está se desenvolvendo, elas Em geral, ela começa a compensar
têm uma função ainda mais importante. as discrepâncias a partir dos 6 ou 7 anos,
com o estabelecimento da linguagem
Educação pré-escolar
conceptual.
Nesta etapa da vida – 4 a 6 anos – a
O Ensino Fundamental
aprendizagem se dá pelas vivências cor-
porais no espaço e no tempo; daí a im- Entre 7 e 11 anos, a principal ativi-
portância de brincadeiras e jogos que es- dade da criança, com ou sem deficiên-
timulem a imaginação, de atividades cia, é estudar.
lúdicas e recreativas. A criança desta fai- A aprendizagem das técnicas de lei-
xa etária gosta de ouvir histórias e de tura e escrita depende do desenvolvimen-
ter amiguinhos; as atividades em grupo to simbólico e conceitual do aluno, de
são muito importantes. sua maturidade mental, psicomotora e
Estas atividades, jogos e brincadeiras emocional. Esse processo não acontece
ajudam a conhecer a potencialidade de de forma espontânea: é resultado da ori-
cada um, a desenvolver o raciocínio, a usar entação e do estímulo oferecidos pelo
os gestos para exprimir idéias, pensamen- professor, que escolhe um método e um
tos e emoções. Elas permitem que a cri- processo de alfabetização.
ança entre em contato com o seu próprio Logo de início, o aluno com defici-
corpo e com suas possibilidades de movi- ência visual apresenta uma desvantagem
mentação, desenvolvendo assim sua cons- básica: a perda (ou a redução) da visão.
ciência corporal e seu autoconhecimento. Falando de modo genérico, podemos des-
A adequação e a adaptação das ativi- tacar algumas características de seu pro-
dades para incluir a criança com defici- cesso de desenvolvimento, nesta faixa
ência visual serão feitas de acordo com a etária:
organização do cotidiano da escola. Para Ele precisa de mais tempo para
isso, é indispensável que o professor de assimilar alguns conceitos, espe-
apoio e o professor da classe comum tra- cialmente os abstratos;
balhem em conjunto. Ele precisa ter estimulação contí-
nua;
Defasagens no processo de
Ele tem dificuldade de interação,
desenvolvimento
de apreensão, de exploração e do-
Nesta faixa etária (4 a 6 anos), é natu- mínio do meio físico;

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Ele desenvolve mais lentamente a de cedo; já a criança deficiente visual não
consciência corporal. tem esta mesma oportunidade. Ela geral-
É importante que o professor e a fa- mente só entra em contato com o mundo
mília levem em conta as inevitáveis dife- das letras no período escolar, o que retar-
renças em relação à criança que enxer- da seu processo de alfabetização.
ga, evitando fazer comparações. O aprendizado da leitura e da escri-
A experiência e o aprendizado da cri- ta em Braille requer um elevado desen-
ança portadora de deficiência visual de- volvimento das habilidades motoras fi-
pendem muito de seus outros órgãos dos nas, além de flexibilidade nos punhos e
sentidos. A falta de estímulos e de expe- agilidade nos dedos.
riências que mobilizam os outros senti- Se tiver um aluno cego em sua sala,
dos pode prejudicar a compreensão das o professor deve tomar alguns cuidados:
relações espaciais e temporais e a aqui- Ler o que está escrito na lousa;
sição de conceitos necessários ao pro- Sempre que possível, passar a mes-
cesso de alfabetização. ma lição para ele que foi dada para
a classe;
Braille ou tipos ampliados?
Buscar o apoio do professor espe-
A criança com baixa visão deve utili- cializado, que ensinará à criança o
zar auxílios ópticos adequados e materi- sistema Braille e acompanhará o
ais pedagógicos adaptados, como textos processo de aprendizagem;
com letras ampliadas. Ela também deve Os estudantes e professores devem
sentar-se na melhor posição possível na ter o cuidado de não criarem bai-
sala de aula, de onde tenha o melhor xas expectativas, apenas com base
ângulo de visão da lousa. na deficiência visual;
Não há uma única regra que seja boa A mobilização de recursos pedagó-
para todos os alunos: tudo depende do gicos para o aluno com deficiência
grau de visão e do tipo de patologia de deve ser considerada um direito
cada um. Alguns terão maior facilidade dele;
com o sistema Braille e outros, com os O apoio ao aluno com deficiência
tipos ampliados, que são letras de tama- deve ser considerado de responsa-
nho maior que o comum e com mais es- bilidade de todos;
paço entre uma linha e outra. Disponibilizar com antecedência os
É preciso saber que a criança cega textos e livros para o curso, consi-
demora mais para conceber a idéia da lei- derando que a transcrição deste
tura e da escrita. A criança que enxerga para formatos alternativos (por
se habitua a ver letras, rótulos, palavras, a exemplo, a transcrição de textos
manusear livros e material impresso des- para áudio, Braille ou disquete) de-

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ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
manda tempo adicional; no, ou pelo contrário, ignorá-lo.
Se possível, o material de estudo
Como o aluno deficiente visual
deverá ser fornecido sob a forma
aprende Matemática?
de textos ampliados, textos em
Braille, textos e aulas gravadas em O aluno com deficiência visual tem
áudio ou em disquete, de acordo as mesmas condições para aprender
com as necessidades do aluno e a Matemática que uma criança não defici-
possibilidade da escola. O aluno ente. Porém, é preciso que o professor
poderá ainda precisar utilizar au- adapte as representações gráficas e os
xiliares ópticos e equipamento recursos didáticos que vai utilizar.
informático adaptado, assim como É importante ressaltar que, ao adaptar
apoio para trabalho de laboratório recursos didáticos para facilitar o aprendi-
e do pessoal da biblioteca; zado de alunos com deficiência, o profes-
Durante as aulas, é útil identificar sor acaba beneficiando todos os alunos, pois
os conteúdos de uma figura e des- recorre a materiais concretos, que são bons
crever a imagem e a sua posição para a compreensão dos conceitos.
relativa a itens importantes; Para ensinar Matemática, o instru-
Substituir os gráficos, fluxogramas mento mais utilizado é o ábaco – ou
e tabelas por outras questões ou sorobã – que é de origem japonesa. Seu
utilizar gráficos simples em relevo; manuseio é fácil e pode ajudar até mes-
Transcrever em Braille as provas e mo os alunos que enxergam, pois ele
outros materiais; concretiza as operações matemáticas.
Possibilitar usar formas alternati- Outra técnica complementar que
vas nas provas: o aluno pode ler o pode ser utilizada com bons resultados
que escreveu em Braille; fazer gra- é o cálculo mental, que deve ser esti-
vação em fita cassete ou escrever mulado desde o início da aprendizagem
com tipos ampliados; e que será útil, posteriormente, quando
Ampliar o tempo disponível para a o aluno estudar álgebra.
realização das provas;
Evitar dar um exame diferente, pois A Informática na educação

isso pode ser considerado discri- A área da Informática traz recursos


minatório e dificulta a avaliação com- valiosos para o processo de ensino –
parativa com os outros estudantes; aprendizagem: softwares que ampliam o
Ajudar só na medida do necessário; tamanho das letras ou o próprio texto
O professor deve ter um compor- (circuitos fechados de televisão) e
tamento o mais natural possível, softwares com sintetizadores de voz, que
não devendo super proteger o alu- lêem o que está na tela do computador.

BOLETIM – PGM 3 - D EFICIÊNCIA VISUAL E INCLUSÃO SOCIAL 50


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Há impressoras especiais, que impri- que a pessoa se sente sozinha;
mem em Braille, para uso individual ou Ao explicar direções para uma pes-
para produzir livros, em grande escala. soa cega, seja o mais claro e espe-
A informática tem-se revelado fun- cífico possível; de preferência, in-
damental para a educação, para a comu- dique a distância em metros;
nicação entre as pessoas e para a sua Algumas pessoas, sem perceber,
profissionalização. falam em tom de voz mais alto
quando conversam com pessoas
Como tratar pessoas com deficiência
cegas. A menos que a pessoa te-
visual
nha também uma deficiência au-
Nem sempre as pessoas cegas ou ditiva que justifique isso, não faz
com deficiência visual precisam de nenhum sentido gritar. Fale em
ajuda. Mas, se encontrar alguma tom de voz normal;
que pareça estar em dificuldades, Por mais tentador que seja acari-
identifique-se. Faça-a perceber que ciar um cão-guia, lembre-se de que
você está falando com ela e ofere- esses cães têm a responsabilidade
ça seu auxílio. Nunca ajude sem de guiar um dono que não enxer-
perguntar antes como deve fazê- ga. O cão nunca deve ser distraído
lo; do seu dever de guia;
Caso sua ajuda como guia seja As pessoas cegas ou com visão
aceita, coloque a mão da pessoa no subnormal são como você, só que
seu cotovelo dobrado. Ela irá acom- não enxergam. Trate-as com o mes-
panhar o movimento do seu corpo mo respeito e consideração com
enquanto você vai andando; que você trata todas as pessoas;
É bom avisar antecipadamente a No convívio social ou profissional,
existência de degraus, pisos escor- não exclua as pessoas com defici-
regadios, buracos e obstáculos em ência visual das atividades nor-
geral durante o trajeto; mais. Deixe que elas decidam
Num corredor estreito, onde só pas- como podem ou querem participar;
sa uma pessoa, coloque o seu bra- Proporcione às pessoas cegas ou com
ço para trás, de modo que a pessoa deficiência visual a mesma chance
cega possa continuar a seguir você; que você tem de ter sucesso;
Para ajudar uma pessoa cega a Fique à vontade para usar palavras
sentar-se, você deve guiá-la até a como “veja” e “olhe”. As pessoas
cadeira e colocar a mão dela sobre cegas as usam com naturalidade;
o encosto da cadeira, informando Quando for embora, comunique
se esta tem braço ou não. Deixe isto sempre ao deficiente visual.

BOLETIM – PGM 3 - D EFICIÊNCIA VISUAL E INCLUSÃO SOCIAL 51


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

PGM 4: DEFICIÊNCIA FÍSICA E INCLUSÃO SOCIAL


MARTA GIL*

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Bem-vindo à Holanda
Freqüentemente me pedem para descrever a experiência de dar à
luz uma criança com deficiência.
Seria como...
Ter um bebê é como planejar uma fabulosa viagem de férias PARA A
ITÁLIA.
Você compra montes de guias e faz planos maravilhosos ! O Coliseu.
O Davi de Michelangelo. As gôndolas em Veneza. Você pode até
aprender algumas frases em italiano. É tudo muito excitante.
Após meses de antecipação, finalmente chega o grande dia! Você
arruma as malas e embarca. Algumas horas depois, você aterrissa.
O comissário de bordo chega e diz: Bem-vindo à Holanda!
Holanda ?? diz você. O que quer dizer com Holanda?? Eu escolhi a
Itália ! Eu devia ter chegado à Itália. Toda a minha vida eu quis conhe-
cer a Itália !
Mas houve uma mudança no plano de vôo. Eles aterrissaram na
Holanda e é lá que você deve ficar.
O mais importante é que eles não levaram você para um lugar horrí-
vel e desagradável, com sujeira, fome e doença. É apenas um lugar
diferente.
Você precisa sair e comprar outros guias. Deve aprender uma nova

* Socióloga. Gerente da Rede SACI – Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação (www.saci.org.br).


Consultora desta série.

52
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

língua. E irá encontrar pessoas que jamais imaginara.


É apenas um lugar diferente. É mais baixo e menos ensolarado que
a Itália. Mas, após alguns minutos, você pode respirar fundo e olhar
ao redor. Começa a notar que a Holanda tem moinhos de vento,
tulipas e até Rembrandts e Van Goghs.
Mas, todos os que você conhece estão ocupados indo e vindo da
Itália, comentando a temporada maravilhosa que passaram lá. E por
toda a sua vida você dirá: Sim, era onde eu deveria estar. Era tudo
o que eu havia planejado.
A dor que isso causa nunca, nunca irá embora. Porque a perda
desse sonho é uma perda extremamente significativa.
Porém, se você passar toda a vida remoendo o fato de não ter chega-
do à Itália, nunca estará livre para apreciar as coisas belas e muito
especiais existentes na Holanda. (Emily Perl Knisley, 1987)
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Definição cidade motora, nos padrões considera-


dos normais para a espécie humana.
A deficiência física pode ser definida
como uma desvantagem, resultante de
um comprometimento ou de uma inca-
É IMPORTANTE SALIENTAR QUE A DE-
pacidade, que limita ou impede o desem-
FICIÊNCIA FÍSICA NÃO TEM NADA A VER
penho motor de uma determinada pes-
COM DEFICIÊNCIA MENTAL; A DEFICI-
soa, ocasionando alterações ortopédicas
ÊNCIA FÍSICA AFETA AS FUNÇÕES
e/ou neurológicas.
MOTORAS E NÃO A PARTE COGNITIVA
Ou, dito de outra forma:
DA PESSOA. NA MAIORIA DOS CASOS,
A deficiência física abrange uma va-
A INTELIGÊNCIA FICA PRESERVADA.
riedade de condições não sensoriais que
afetam o indivíduo em termos de mobili-
dade, de coordenação motora geral ou
Que sinais podem ser observados,
da fala, como decorrência de lesões neu-
nas pessoas com deficiência física?
rológicas, neuromusculares e ortopédi-
cas, ou ainda, de más-formações congê- Movimentação sem coordenação ou
nitas ou adquiridas. atitudes desajeitadas de todo o cor-
Assim, são considerados portadores po ou parte dele;
de deficiência física os indivíduos que Anda de forma não coordenada,
apresentam comprometimento da capa- pisa na ponta dos pés ou manca;

BOLETIM – PGM 4 - D EFICIÊNCIA FÍSICA


53
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Pés tortos ou qualquer deformida- turidade, bebê que entra em sofrimento
de corporal; na hora do nascimento por ter passado
Pernas em tesoura (uma estendi- da hora, cordão umbilical enrolado no
da sobre a outra); pescoço e outras;
Dificuldade em controlar os movi- Causas pós-natais: parada cardíaca,
mentos, desequilíbrios e quedas infecção hospitalar, meningite ou outra
constantes; doença infecto-contagiosa ou quando o
Dor óssea, articular ou muscular; sangue do bebê não combina com o da
Segura o lápis com muita ou pou- mãe (se esta for Rh negativo), trauma-
ca força; tismo craniano ocasionado por uma que-
Dificuldade para realizar encaixe da muito forte e outras.
e atividades que exijam coordena- No caso de jovens e adultos, a defici-
ção motora fina. ência física pode ocorrer após uma lesão
medular, aneurisma, acidente vascular
O que fazer?
cerebral ou outros problemas.
Se o professor perceber algo de diferente É importante destacar o papel que a
na movimentação da criança, ele deve: violência tem, como causa de deficiência
Orientar os pais para que procu- física: a violência urbana, que tem sido tão
rem profissionais especializados na focalizada pela mídia, acidentes no trân-
área (ortopedista, fisiatra e fisiote- sito ou de trabalho estão se tornando as
rapeuta); principais causas da deficiência física.
Providenciar as adaptações neces- No verão, a incidência de casos de
sárias, visando ao conforto e à in- deficiência física aumenta, principalmen-
dependência da criança. te entre os rapazes, que praticam espor-
tes radicais, sem tomar as devidas medi-
Causas da deficiência física das de segurança.
A deficiência física pode ter várias Uma das doenças que já foi a maior
causas e várias formas de manifestação. causa de deficiência física no Brasil é a
Podemos agrupá-las em: paralisia infantil (poliomielite), que atu-
Causas pré-natais: problemas du- almente está erradicada, graças às cam-
rante a gestação (remédios tomados pela panhas de vacinação e à tomada de cons-
mãe, tentativas de aborto malsucedidas, ciência dos pais, que compreenderam a
perdas de sangue durante a gestação, importância desta vacina.
crises maternas de hipertensão, proble-
Medidas de prevenção
mas genéticos e outras);
Causas perinatais: problema respi- Fazer acompanhamento médico
ratório na hora do nascimento, prema- pré-natal;

BOLETIM – PGM 4 - D EFICIÊNCIA FÍSICA


54
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Infra-estrutura adequada nos ber- As pessoas amputadas também são
çários, para atender recém-nasci- incluídas no grupo das portadoras de
dos (UTI para bebês com risco de deficiência física, tanto as que nasceram
vida, aparelhagem moderna, sem um membro, perderam-no em um
assepsia para evitar infecção hos- acidente ou precisaram tirá-lo por moti-
pitalar); vo de saúde, como um problema circula-
Pessoal treinado no resgate de ví- tório ou de gangrena.
timas de acidentes de trânsito; As pessoas com paralisia cerebral
Conscientização dos riscos da hi- pertencem a esta categoria de deficiên-
pertensão e da diabetes; cia física. A paralisia cerebral é um dis-
Adotar medidas de segurança no túrbio do movimento e/ou da postura
trânsito, no ambiente de trabalho que ocorre em conseqüência de uma le-
e na prática de esportes. são que pode ter ocorrido no cérebro
durante a gestação, na hora do parto ou
Tipos de deficiência física
logo após o nascimento, devido a uma
Hemiplegia: quando a metade es- interrupção no fornecimento de oxigê-
querda ou direita do corpo fica paralisa- nio para o cérebro. Esta denominação –
da, em decorrência da lesão de células “paralisia cerebral” – nos leva a acredi-
nervosas do cérebro que comandam o tar que estas pessoas têm suas funções
movimento desta parte do corpo; cognitivas afetadas, o que nem sempre é
Paraplegia: paralisia dos membros verdade. A lesão afeta, em graus varia-
inferiores (pernas); dos, a fala, a coordenação motora ou a
Tetraplegia: paralisia dos membros locomoção. Por falta de informações, as
superiores (braços) e dos inferiores (per- pessoas acham que, porque a fala ficou
nas). alterada, estas pessoas têm também uma
Hemiplégicos, paraplégicos e tetra- deficiência mental.
plégicos sofrem lesões no sistema ner- Há outros tipos de deficiência física,
voso (no cérebro ou na medula espi- como a esclerose múltipla (uma doença
nhal)1, que alteram o controle neuroló- degenerativa que ataca o sistema nervoso,
gico sobre os músculos, afetando os mo- provocando enrijecimento dos membros e
vimentos do corpo. Se a lesão afetar a dificuldades de locomoção), espinha bífida
área da linguagem, a pessoa pode não (ocasionada pela má formação da coluna
falar ou falar com dificuldade. vertebral e da medula espinhal, durante

1
A medula espinhal fica dentro da coluna e dela partem as terminações nervosas que vão para os
braços e pernas. Se há uma lesão na parte superior, os quatro membros podem ficar sem movimen-
tação. Se a lesão ocorrer em uma área mais baixa, somente a perna perde o movimento.

BOLETIM – PGM 4 - D EFICIÊNCIA FÍSICA


55
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
a formação do feto), poliomielite, que está cam muito rígidos, causando espas-
considerada erradicada, aqui no Brasil, ticidade.
distrofia muscular, que abrange um gru- O ser humano obedece um padrão
po de disfunções musculares com alguns de desenvolvimento motor, de acordo
sintomas em comum, resultantes de fa- com sua idade. Este padrão não é igual
lhas no desenvolvimento de fibras mus- para todos; há crianças que têm um de-
culares e outras. senvolvimento mais rápido, enquanto
outras são mais “preguiçosas”. A criança
O desenvolvimento muscular
com algum tipo de deficiência física tem
Uma vez constatada a deficiência fí- mais dificuldade de seguir estas etapas;
sica, a criança deve ser encaminhada daí a necessidade de fazer exercícios de
para um programa de estimulação; al- estimulação e de usar equipamentos e
guns profissionais usam o termo “es- aparelhos, que são de grande ajuda no
timulação precoce” e, outros, “estimu- seu dia-a-dia.
lação essencial”. Há diversos tipos de aparelhos e
É muito importante começar a esti- adaptações para o deficiente físico. Al-
mular o bebê o mais cedo possível, com guns são muito caros; neste caso, os por-
o objetivo de desenvolver suas capacida- tadores de deficiência física ou profissio-
des e sua independência nas atividades nais habilidosos vêem-se levados a usar
quotidianas, de acordo com a fase de a criatividade e fazer improvisações, uti-
desenvolvimento que ele está. lizando materiais disponíveis. O funda-
O tônus dos músculos, isto é, sua mental é que funcionem e garantam au-
elasticidade e sua capacidade de se con- tonomia à pessoa que os utiliza.
trair e de se esticar, obedecendo às or-
O papel da família
dens que o cérebro dá, é o que permite
nossos movimentos. À medida que os Segundo a psicóloga Rosana Glat: “A
músculos são exercitados, o tônus mus- influência da família no processo de in-
cular vai se fortalecendo. tegração social do deficiente é uma ques-
Para que o desenvolvimento motor do tão que deve ser analisada levando-se em
bebê aconteça, é preciso que o tônus consideração dois ângulos: a facilitação
muscular se fortaleça, juntamente com ou impedimento que a família traz para
o desenvolvimento do sistema nervoso. a integração da pessoa portadora de de-
Algumas crianças com deficiência física ficiência na comunidade e a integração
são hipotônicas: seus músculos são da pessoa com deficiência na própria fa-
flácidos, “moles”. mília.
Em alguns casos de paralisia cere- Estes dois aspectos são, sem dúvida,
bral, acontece o oposto: os músculos fi- interdependentes: quanto mais integra-

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56
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
da em sua família uma pessoa com defi- Pequenas adaptações podem fazer
ciência for, mais esta família vai tender muita diferença: por exemplo, se a cri-
a tratá-la de maneira natural ou “nor- ança não consegue segurar o papel para
mal” deixando que, na medida de suas escrever, este pode ser preso na carteira
possibilidades, participe e usufrua dos com fita crepe.
recursos e serviços gerais da sua comu- Como a criança com deficiência físi-
nidade; conseqüentemente, mais inte- ca em geral escreve mais lentamente, a
grada na vida social esta pessoa será. Pa- professora pode esperar mais tempo para
ralelamente, quanto mais ela estiver par- apagar a lousa ou estimular o trabalho
ticipando das atividades da comunidade cooperativo, no qual os colegas colabo-
e levando uma vida “normal” equivalen- ram sem, porém, fazer as tarefas pela
te à de outras pessoas da sua faixa etária, criança com deficiência. Outra alterna-
mais ela será vista pelos membros de sua tiva possível é a professora preparar fi-
2
família como “igual aos demais”. chas com o texto escrito na lousa, que a
criança possa levar para casa.
Entrando na escola
Na fase inicial de aprendizagem da
É muito importante que a criança com leitura, da escrita e do cálculo, as dife-
deficiência física freqüente a escola, onde renças entre crianças com deficiência fí-
ela pode desenvolver seu potencial inte- sica e crianças não deficientes é peque-
lectual e interagir com outras crianças. na, em geral. O desenvolvimento inte-
A família desempenha um papel fun- lectual é bastante semelhante, principal-
damental no processo de adaptação da mente se a criança teve uma estimulação
criança à escola: ela deve conversar com adequada; ela vai precisar de auxílio
a professora e com a equipe escolar, ori- para se locomover e para manusear o
entando sobre como tratar a criança, material escolar. Esta constatação é ver-
seus limites e potencialidades. dadeira também para as etapas posterio-
Pode ser necessário adaptar a car- res do processo de aprendizagem.
teira, verificar qual é a melhor posição Segundo Maria Christina B. T. Ma-
em relação à lousa e se o banheiro tem ciel 3:
condições de ser utilizado. É importante ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

consultar a criança sobre suas necessi- “É muito importante para uma criança
dades, com naturalidade. portadora de deficiência física apren-

2
Glat, Rosana. O papel da família na integração do portador de deficiência. In: Revista Brasileira de
Educação Especial, v. 2, n. 4, p. 111, 1996.
3
Deficiência física, In: Cadernos da TV Escola, p. 83.

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57
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
der, desde pequena, a não se dades de locomoção ou ao uso de
autolimitar. Ela precisa ter em mente que cadeira de rodas. Isto implica a
não é doente e que, apesar destas li- existência de percursos em que o
mitações, pode ter uma boa convivência aluno se possa movimentar mais
na sociedade. facilmente de uma aula para as
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

outras, ou seja, em que não tenha


A sociedade, por sua vez, precisa de se defrontar com barreiras
aprender a conviver com as diferenças arquitetônicas;
individuais de cada um. O professor e Estes estudantes podem eventual-
toda a equipe escolar devem criar uma mente atrasar-se, ao ir de uma sala
relação de confiança com o aluno, des- para outra, principalmente quan-
cartando a hipótese de ele vir a ter medo do as aulas não são todas no mes-
ou vergonha de não aprender imediata- mo complexo. Pode também haver
mente o que está sendo ensinado. a necessidade de fazer alguns
Na verdade, a diferença de ritmo ajustes que permitam ao aluno fre-
pode acontecer com qualquer criança, qüentar aulas laboratoriais;
portadora ou não de necessidades espe- As aulas em laboratórios podem
ciais. Assim, é fundamental criar uma requerer algumas adaptações do
relação de confiança com todos os alu- material e local de trabalho (altu-
nos.” ra do balcão, mesa, cadeiras, en-
A escola é muito importante para tre outros). Se puder proporcionar
qualquer criança, mas é ainda mais im- estas modificações, trabalhe dire-
portante para a criança com deficiên- tamente com o aluno para criar um
cia. É na escola que a criança aprende local o mais acessível possível, pro-
a confiar em si mesma, percebendo que movendo a participação dele em
é capaz de realizar a maioria das ativi- todas as tarefas;
dades, embora levando um pouco mais Na elaboração de viagens de estu-
de tempo. do, o aluno deverá assistir à sele-
ção dos locais a visitar e à seleção
Sugestões para adaptar o ambiente
dos meios de transporte;
escolar aos portadores de deficiência
Sempre que houver muita gente
física
(em corredores, bares, restauran-
A Secretaria de Educação Especial tes) e estiver ajudando um colega
do Ministério da Educação sugere: em cadeira de rodas, avance a ca-
O acesso físico é a preocupação deira com prudência; o aluno po-
fundamental no que diz respeito a der-se-á sentir incomodado se es-
estes estudantes, devido a dificul- barrar em outras pessoas.

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58
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
“ A praça é do povo...” tas facilidades em seus estabelecimen-
tos porque não pensaram no assunto e
Embora a escola seja um espaço fun-
não perceberam que o portador de defi-
damental para todas as pessoas, porta-
ciência também é um consumidor.
doras ou não de deficiência, ela não é o
Se as cidades fossem planejadas
único; a vida também acontece em ou-
para atender às necessidades de todas
tros espaços, igualmente ricos em opor-
as pessoas, incluindo os grupos acima
tunidades de convivência e outros tipos
enumerados, elas seriam assim:
de aprendizagem.
Os edifícios teriam os elevadores,
Para a pessoa com deficiência física,
sanitários e corredores acessíveis
o acesso a estes outros lugares é, mui-
e utilizáveis por portadores de de-
tas vezes, problemático, pois nem sem-
ficiência;
pre eles foram construídos levando em
Os deficientes físicos poderiam
conta suas necessidades. No caso de edi-
participar de eventos políticos, so-
fícios de uso público, há uma legislação
ciais e culturais;
determinando que eles sejam adaptados.
Os meios de transporte seriam
Infelizmente, nem sempre estas leis são
adaptados;
cumpridas. É hora, então, de municiar-
As cabinas telefônicas permitiriam
se com informações e reivindicar seus
sua utilização por pessoas em ca-
direitos de cidadão.
deira de rodas.
No dia em que estas mudanças ocor-
As adaptações arquitetônicas
rerem, a cidade realmente será do povo,
facilitam o acesso de muitas pessoas:
como sonhava o poeta, há muitos anos
Pessoas com deficiência física atrás...
Idosos
Além da escola, o mundo!
Gestantes
Mães com carrinho de bebê O portador de deficiência física é, em
Pessoas que quebraram a perna primeiro lugar, uma pessoa, com sonhos,
Obesos desejos, receios...
Cardíacos Embora a escola ocupe um lugar
Portanto, vale a pena investir em importante em sua vida, como na de ou-
adaptações arquitetônicas que, muitas tras crianças, não é o único espaço de
vezes, são de baixo custo (fazer uma ram- convivência e de aprendizagem. E, à
pa, por exemplo) e vão beneficiar muitas medida que ele entra na adolescência,
pessoas. Mas, para conseguir isso, é pre- também quer ter uma “turma”, paquerar,
ciso sair e ser visto pelos demais. Muitas se vestir da mesma forma. Estes desejos
vezes, as pessoas não providenciam es- são naturais e saudáveis.

BOLETIM – PGM 4 - D EFICIÊNCIA FÍSICA


59
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Aqui vai um depoimento de um jo- participação em atividades para jovens
vem portador de deficiência física e de e, conseqüentemente, maiores seriam
como ele viveu esta situação. minhas chances em relação ao amor.
Comecei a participar de festas, a ir pas-
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ sear no shopping, freqüentar barzinhos
“ Meus pais perceberam que eu andava e lanchonetes. Às vezes meu pai não
triste, mais quieto que o normal, e nem podia me levar e então aprendi a sair de
sempre aceitava convites para ir às festas. ônibus, com um amigo. Quase morri de
Um dia, consegui me abrir com eles e fa- medo na primeira vez!” 4

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
lar de meus medos e preocupações. (...)
Minha mão tomou providências: come-
çou a convidar meus amigos para fre- Dicas para se relacionar com pessoas
qüentar minha casa, às vezes organiza- com deficiência física
va festinhas e sempre nos deixava à von-
Para uma pessoa sentada em ca-
tade. Ela procurava fazer com que a tur-
deira de rodas, é incômodo ficar
ma me visse como um rapaz igual aos
olhando para cima por muito tem-
outros, para que eu também me sentisse
po. Portanto, se a conversa for de-
igual aos outros.
morar mais do que alguns minu-
(...) Porém, persistiam as dúvidas quan-
tos, se for possível sente-se, para
to a uma namorada. Será que eu preci-
que você e ela fiquem com os olhos
saria namorar uma menina também com
no mesmo nível;
deficiência física? Será que um dia eu
poderia me casar? E ter filhos?
A cadeira de rodas (assim como
bengalas e muletas) é parte do es-
(...) Aos poucos, fui descobrindo que
paço corporal da pessoa, quase
desejos e manifestações sexuais surgem
naturalmente em todas as pessoas, se-
uma extensão do seu corpo. Agar-
jam ou não portadoras de deficiência fí- rar ou apoiar-se na cadeira de ro-
sica. E que a necessidade de satisfazer das é como agarrar ou apoiar-se
estes impulsos é igualmente natural. Fi- numa pessoa sentada numa cadei-
quei sabendo que nada impede os defi- ra comum. Isso muitas vezes é sim-
cientes físicos de gerar filhos, criá-los e pático, se vocês forem amigos, mas
educá-los. não deve ser feito se vocês não se
Descobri que, quanto maior fosse meu conhecem;
círculo de amizades, maior seria minha Nunca movimente a cadeira de ro-

4
Maria Christina B. T. Maciel, op. cit., p. 86 e 87.

BOLETIM – PGM 4 - D EFICIÊNCIA FÍSICA


60
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
das sem antes pedir permissão lo. As pessoas têm suas técnicas
para a pessoa; pessoais para subir escadas, por
Empurrar uma pessoa em cadeira exemplo e, às vezes, uma tentativa
de rodas não é como empurrar um de ajuda inadequada pode até mes-
carrinho de supermercado. Quan- mo atrapalhar. Outras vezes, a aju-
do estiver empurrando uma pes- da é essencial. Pergunte e saberá
soa sentada numa cadeira de ro- como agir. Não se ofenda se a aju-
das, e parar para conversar com da for recusada;
alguém, lembre-se de virar a ca- Se você presenciar um tombo de
deira de frente, para que a pessoa uma pessoa com deficiência, ofe-
também possa participar da con- reça ajuda imediatamente. Mas
versa; nunca ajude sem perguntar se e
Ao empurrar uma pessoa em ca- como deve fazê-lo;
deira de rodas, faça-o com cuida- Esteja atento para a existência de
do. Preste atenção para não bater barreiras arquitetônicas quando
nas pessoas que caminham na for escolher uma casa, restauran-
frente. Para subir degraus, incline te, teatro ou qualquer outro local
a cadeira para trás, levante as que queira visitar com uma pessoa
rodinhas da frente e apoie-as so- com deficiência física;
bre o degrau. Para descer um de- Pessoas com paralisia cerebral po-
grau, é mais seguro fazê-lo de mar- dem ter dificuldades para andar,
cha à ré, sempre apoiando para podem fazer movimentos involun-
que a descida seja sem solavancos. tários com pernas e braços e po-
Para subir ou descer mais de um dem apresentar expressões estra-
degrau em seqüência, será melhor nhas no rosto. Não se intimide com
pedir a ajuda de mais uma pessoa; isso. São pessoas comuns como
Se você estiver acompanhando você. Geralmente, têm inteligência
uma pessoa deficiente que anda normal ou, às vezes, até acima da
devagar, com auxílio ou não de média;
aparelhos ou bengalas, procure Quando conversar com um estu-
acompanhar o passo dela; dante em cadeira de rodas lembre-
Mantenha as muletas ou benga- se de que uma pessoa sentada tem
las sempre próximas à pessoa de- um ângulo de visão diferente. Se
ficiente; quiser mostrar-lhe qualquer coisa,
Se achar que ela está em dificul- abaixe-se para que ela efetivamente
dades, ofereça ajuda. Caso seja a veja;
aceita, pergunte como deve fazê- Se a pessoa tiver dificuldade na

BOLETIM – PGM 4 - D EFICIÊNCIA FÍSICA


61
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
fala e você não compreender ime- como “andar” e “correr”. As pesso-
diatamente o que ela está dizen- as com deficiência física empregam
do, peça para que repita. Pessoas naturalmente essas mesmas pala-
com dificuldades desse tipo não se vras;
incomodam de repetir quantas ve- Trate a pessoa com deficiência fí-
zes seja necessário para que se fa- sica com a mesma consideração e
çam entender; respeito que você usa com as de-
Não se acanhe em usar palavras mais pessoas.

BOLETIM – PGM 4 - D EFICIÊNCIA FÍSICA


62
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

PGM 5: DEFICIÊNCIA AUDITIVA


MARTA GIL*

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

ARCO DA FLECHA
Suely Barbosa

O arqueiro
Retesa
O arco.

Dentro do arco
O limite
Que salta
Para o infinito.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Quem pode ser considerado surdo? da capacidade de compreender a fala atra-


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Se houver um problema em uma das vés do ouvido. De acordo com o grau de


partes do ouvido, a audição ficará preju- perda auditiva, avaliada em decibéis (dB),
dicada, em maior ou menor grau. Há di- a surdez manifesta-se como leve (perda
ferentes tipos de perda auditiva, confor- entre 20 e 40 dB), moderada (entre 40 e
me o local da perda (se foi no ouvido mé- 70 dB), severa (entre 70 e 90 dB) e pro-
dio, no interno etc.). Conseqüentemente, funda (acima de 90 dB de perda) – impe-
a conduta médica também será diferen- de o indivíduo de ouvir a voz humana e
te, conforme o caso. de adquirir, espontaneamente, o código
“Surdo é o indivíduo que tem a perda da modalidade oral da língua, mesmo com
total ou parcial, congênita ou adquirida, o uso de prótese auditiva.”1

* Socióloga. Gerente da Rede SACI – Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação (www.saci.org.br).


Consultora desta série.
1
Carvalho, Rosita Edler. “Integração, inclusão e modalidades da Educação Especial – mitos e fatos”.
Revista Integração, v. 2, n. 18, 1997, p. 23.

63
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Os graus de deficiência auditiva são O bebê não pára de chorar, quan-
caracterizados de diferentes formas, por do a mãe usa apenas a voz para
diferentes autores. acalmá-lo;
O que importa, aqui, é enfatizar que O bebê não procura a origem do
a escala da audição tem diferentes graus; barulho, virando a cabeça na dire-
portanto, há pessoas que escutam mui- ção da fonte sonora, isso já numa
to pouco, sendo incapazes de ouvir um fase posterior do desenvolvimento;
avião passando; outras conseguem ou- O bebê é exageradamente quieto.
vir a voz humana, mas não conseguem
Quando a criança tem mais de 1 ano
discriminá-la.
Pelo menos uma em cada mil crian- Alguns sinais podem ser observados,
ças nasce profundamente surda. Muitas quando a criança tem mais de 1 ano de
pessoas desenvolvem problemas auditi- idade:
vos ao longo da vida, por causa de aci- As primeiras palavras aparecem
dentes ou doenças. tarde (3 a 4 anos);
A deficiência auditiva traz muitas li- Não responde ao ser chamada em
mitações para o desenvolvimento do in- voz normal;
divíduo. Considerando que a audição é Quando de costas, não se volta
essencial para a aquisição da linguagem para a pessoa que lhe dirige a pa-
falada, sua deficiência influi no relacio- lavra;
namento com os outros e cria lacunas Apresenta:
nos processos psicológicos de integração Excesso de comunicação gestual e
de experiências, afetando o equilíbrio e pouca emissão de palavras;
a capacidade normal de desenvolvimen- Fala extremamente alta ou baixa;
to do indivíduo. Cabeça virada para ouvir melhor;
Olhar dirigido para os lábios de
Identificação da surdez
quem fala e não para os olhos;
Quando é possível detectar que uma Troca e omissão de fonemas na fala
criança tem perda auditiva? e na escrita.
O ideal seria avaliar a capacidade É mais fácil descobrir uma perda de
auditiva do bebê ainda na maternidade. audição de nível severo ou profundo do
Há alguns sinais que podem ser ob- que uma perda leve ou moderada.
servados logo nas primeiras semanas
Avaliação audiológica
após o nascimento, se o pediatra e os
familiares estiverem atentos às reações: Quando há suspeita de perda de
O bebê não acorda ou não se assus- audição, deve-se procurar um médico,
ta com um barulho forte e súbito; para que ele faça exames específicos,

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 64


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
para avaliar a situação do bebê ou da O desenvolvimento auditivo na cri-
pessoa. ança com perda auditiva não acontece
A avaliação audiológica, para cons- logo após a colocação e o uso do apare-
tatar se realmente houve perda de audi- lho. Ele vai se dar com o passar do tem-
ção, pode ser feita de mais de uma for- po. Mas os pais e os profissionais não
ma, dependendo da idade da criança. podem desanimar.
Não é suficiente usar o aparelho au-
O aparelho de amplificação sonora
ditivo durante algumas horas por dia.
individual
Deve-se colocá-lo ao acordar e retirá-lo
Em alguns casos, o exame audio- para dormir (com exceção do banho). O
métrico indica a possibilidade de usar aparelho é tão importante quanto comer.
um aparelho de amplificação sonora in-
Causas da deficiência auditiva
dividual (A.A.S.I.). Este é um equipamen-
to pequeno, usado junto ao ouvido da A deficiência auditiva pode ser con-
criança, que amplia a intensidade dos gênita ou adquirida.
sons e os traz para um nível confortável As principais causas da deficiência
para quem precisa usá-lo. Atualmente, congênita são: hereditariedade, viroses
ele possui um nível bastante alto de so- maternas (rubéola, sarampo), doenças
fisticação, ampliando o som de maneira tóxicas da gestante (sífilis, citomegalo-
cada vez mais seletiva, isto é, os sons da vírus, toxoplasmose), ingestão de medi-
fala têm “prioridade” sobre os ruídos camentos ototóxicos (que lesam o nervo
ambientais, nos momentos de comuni- auditivo) durante a gravidez.
cação. A deficiência auditiva pode ser ad-
Os benefícios advindos do uso do quirida, quando existe uma predisposi-
aparelho auditivo não são percebidos de ção genética (otosclerose), quando ocor-
imediato; é necessário um período de re meningite, ingestão de remédios
aprendizagem e de adequação auditiva ototóxicos, exposição a sons impactantes
que, às vezes, desanima a criança e seus (explosão) ou viroses, por exemplo.
familiares. Outra forma de classificar as causas
Os pais precisam entender o que potenciais da deficiência auditiva ou a
esse aparelho pode representar para o ela associadas é a seguinte:
filho, os benefícios que pode trazer e suas Causas pré-natais: a criança adqui-
limitações. Ele costuma gerar expectati- re a surdez através da mãe (no período
vas, como se fosse capaz de realizar mi- de gestação), devido à presença destes
lagres. Muitos pais imaginam que, usan- fatores, entre outros:
do o aparelho, seu filho deixará de ser Desordens genéticas ou hereditá-
surdo e se transformará em ouvinte. rias;

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 65


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

Causas relativas à consangüinida- muitos casos, que se identifique a causa


de; mais provável da perda auditiva, mas in-
Causas relativas ao fator Rh; felizmente nem sempre isso é possível.
Causas relativas a doenças infecto- A ocorrência de gestações e partos com
contagiosas, como a rubéola; histórico complicado, bem como a mani-
Sífilis, citomegalovírus, toxoplas- festação de doenças maternas no perío-
mose, herpes; do próximo ao nascimento da criança
Ingestão de remédios ototóxicos podem inviabilizar a identificação dessa
Ingestão de drogas, alcoolismo ma- causa.
terno; Por isso mesmo, em cerca de 50%
Desnutrição/subnutrição/carênci- dos casos, a origem da deficiência audi-
as alimentares; tiva é atribuída a ‘causas desconhecidas’.
Pressão alta, diabetes; Quando se consegue descobrir a causa,
Exposição à radiação. o mais freqüente é que ela se deva a do-
Causas perinatais: a criança fica sur- enças hereditárias, rubéola materna e
da, em decorrência de problemas no par- meningite.
to:
Surdocegueira
Pré-maturidade, pós-maturidade,
anóxia, fórceps; Vale a pena mencionar a surdoce-
Infecção hospitalar. gueira, que é uma deficiência múltipla.
Causas pós-natais: a criança fica Ela caracteriza-se pela perda parcial ou
surda, em decorrência de problemas total da visão e da audição, de tal forma
após seu nascimento: que a combinação das duas deficiências
Meningite; causa extrema dificuldade na conquista
Remédios ototóxicos, em excesso de metas educacionais, vocacionais, de
ou sem orientação médica; lazer e sociais.
Sífilis adquirida; Mas, apesar das dificuldades, é pos-
Sarampo, caxumba; sível educar a criança portadora desta
Exposição contínua a ruídos ou deficiência, através de métodos espe-
sons muito altos; cializados.
Traumatismos cranianos.
Devemos salientar que, atualmente, Que sinais podem ser observados na

sabemos que são várias e diferenciadas as surdocegueira?

causas que originam a surdez, embora o Déficit de audição e visão;


conhecimento científico atual seja ainda Atraso significativo no desenvolvi-
insuficiente para identificar todas elas. mento global (motor e cognitivo);
O diagnóstico médico permite, em Ausência de fala;

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 66


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Dificuldade em estabelecer rela- senvolvimento da criança.
ções com outro; Os pais (e, principalmente, a mãe,
Tendência ao isolamento pela fal- pois ela tem contato mais intenso e fre-
ta de comunicação; qüente com o bebê) devem compreen-
Comportamentos estereotipados der que há muitas formas de comunica-
ou autistas; ção com o bebê, além da linguagem oral:
Utilização do choro, gemidos e mo- toques, sorrisos, carinhos. Todas essas
vimentos corporais como formas de linguagens devem ser utilizadas no tra-
comunicação. to com o bebê, inclusive a oral. Deve-se
falar sempre de frente, para que a crian-
Quando a família percebe a surdez
ça possa ir percebendo que esta forma
É freqüente que os pais confirmem de comunicação também existe.
a existência da surdez por volta de 1 ou
O diagnóstico precoce
2 anos de idade da criança.
Isso implica uma dificuldade maior É de grande importância que a sur-
na transmissão de significados simbó- dez seja diagnosticada o mais cedo pos-
licos às experiências do bebê. Um sível. Assim que é constatada, é possível
exemplo: o bebê chora, e a mãe procu- começar seu atendimento, que inclui o
ra acalmá-lo conversando com ele – sem trabalho não só com a criança, mas tam-
que ela saiba, sua voz não chega até bém com os pais.
ele para tranqüilizá-lo, acalmá-lo e No trabalho de estimulação precoce,
marcar a presença materna. Somente o primeiro aspecto a ser lembrado é que
ao vê-la ele pode se assegurar de sua a criança surda, em seus primeiros me-
proximidade. ses de vida, é um bebê com necessida-
À medida que se repetem experiên- des peculiares, pois a ausência da audi-
cias desse tipo, o bebê pode desenvolver ção, interferindo na aquisição da lingua-
sentimentos de insegurança e abando- gem e na maneira de conhecer o mun-
no, o que mais tarde pode ter como con- do, deixará marcas para o resto da vida.
seqüência uma auto-estima rebaixada. Principalmente nos casos em que se
Por outro lado, quando descobre a pode suspeitar desse tipo de quadro –
surdez do filho, a grande maioria das como nascimento de alto risco, casos de
mães passa a usar menos a voz para se surdez hereditária na família, casamen-
comunicar com ele ou até deixam de uti- tos consangüíneos, ocorrência de rubé-
lizar a palavra. Todos caem no silêncio. ola na gravidez ou um quadro de me-
As atitudes maternas de desânimo ningite após o nascimento – é fundamen-
ou de superproteção podem ser com- tal que o bebê seja encaminhado para
preensíveis, mas não incentivam o de- avaliação médica o quanto antes.

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 67


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Como evitar/prevenir a perda criança (colocação do aparelho au-
auditiva em crianças? ditivo) e do atendimento fonoau-
Quando pensamos sobre a surdez e diológico;
as limitações que lhe são associadas, é na- Na área da Educação, por meio do
tural que procuremos conhecer as causas atendimento na Educação Infantil,
que a provocam e os meios de evitá-las. principalmente através do Progra-
O estudo das causas da deficiência ma de Estimulação Precoce (para
auditiva demonstra a importância da pre- crianças de zero a três anos).
venção primária na área da saúde uma A prevenção terciária refere-se às
vez que, segundo dados da Organização ações que limitam as conseqüências do
Mundial de Saúde - OMS, 1,5% da po- problema da surdez e melhoram o nível
pulação dos países em desenvolvimento de desempenho da pessoa como, por
têm problemas relativos à audição. exemplo, aquelas que compõem o aten-
A prevenção primária refere-se às dimento realizado pela Educação Espe-
ações que antecedem o problema da sur- cial.
dez, evitando sua ocorrência e deve ser
Depois do diagnóstico, o que fazer?
realizada por meio de:
Campanhas de vacinação das jo- É fundamental que a surdez seja
vens contra a rubéola; diagnosticada o mais cedo possível.
Acompanhamento à gestante (pré- Quando a perda auditiva é detectada pre-
natal); cocemente, a preocupação inicial do pro-
Campanhas de vacinação infantil fissional (médico, psicólogo ou fonoau-
contra: sarampo, meningite, ca- diólogo) deve ser a de fornecer informa-
xumba etc.; ções aos pais, para que eles saibam o
Não dar remédio sem receita mé- que fazer e, principalmente, possam aco-
dica; se for antibiótico, verificar se lher este filho e aprender a lidar com
contém aminoglicosídeo, substân- esta situação inesperada.
cia que geralmente prejudica a A estimulação precoce realizada no
audição de forma irreversível; ambiente doméstico, aliada ao trabalho
Palestras e orientações às mães. educacional de profissionais, permitirá
Já a prevenção secundária refere- que a criança adquira condições de se
se às ações que atenuam as conseqüên- comunicar da melhor forma possível, si-
cias da surdez e são realizadas tanto na tuando-se melhor na sociedade.
área da Saúde, como na área da Educa- Após o médico fazer o diagnóstico de
ção: que a criança tem uma perda auditiva e
Na área da Saúde, por meio do diag- de que grau, a família deve tomar as se-
nóstico, da protetização precoce da guintes medidas:

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 68


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Iniciar o tratamento fonoaudiológi- muitas vezes não falam, por medo que
co integrado, feito pelo fonoaudió- caçoem delas, por não ouvirem, por não
logo e a equipe que for considera- terem recebido treinamento para falar
da necessária; ou outro motivo.
Utilizar o aparelho auditivo, se for Saber em que momento se instalou
adequado para o caso. a surdez é fundamental para planejar
Infelizmente, nem sempre essa ava- as necessidades de estimulação da cri-
liação é feita precocemente; na maior ança, seja qual for a idade. Mas também
parte das vezes, a criança fica sem aten- são necessárias outras informações, tais
dimento até o momento de ir para a es- como:
cola. Quanto mais tempo passa, maio- Se a surdez foi detectada nos pri-
res são as dificuldades de desenvolvimen- meiros anos de vida e em que fase
to – tanto no campo da linguagem quan- isso aconteceu;
to nos níveis social, psíquico e cognitivo. Se aconteceu antes ou depois do
Inicialmente, a criança não precisa nascimento ou durante o parto;
utilizar a linguagem oral para comunicar- Qual o grau da perda auditiva – leve,
se com sua família; o fundamental é utili- moderada, severa ou profunda;
zar a sensibilidade, que se traduz em um Se recebeu atendimento especi-
toque, uma expressão de felicidade. Os pais alizado (e se foi indicada a utiliza-
devem compreender que, ao invés de fica- ção de aparelho de amplificação
rem desesperados, podem e devem parti- sonora individual);
cipar da educação de sua criança e que o Como a audição foi estimulada,
futuro dela vai depender de sua atuação desde o início;
em parceria com profissionais, como Qual a reação da família e que tipo
fonoaudiólogo e otorrinolaringologista. de assistência ela recebeu nesse
momento;
O processo de desenvolvimento da
Se a surdez está ou não associada
criança surda
a outra deficiência ou a problemas
Durante muito tempo e ainda mes- de saúde.
mo em nossos dias, a deficiência auditi- O profissional precisa conhecer a
va tem sido confundida com a deficiên- história de cada pessoa – época em que
cia mental; seus portadores são chama- ocorreu a surdez e qual foi o grau da
dos erroneamente de “mudos” ou “sur- perda, tipo de atendimento reabilitacio-
dos-mudos”. Sabemos, hoje, que a sur- nal recebido, oral ou oral com sinais/
dez não afeta o desenvolvimento cogni- gestos, estimulação feita para a aquisi-
tivo das pessoas e que estas pessoas não ção da linguagem, aproveitamento dos
são mudas, isto é, elas emitem sons; resíduos auditivos e outras informações

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 69


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
mais, para poder prestar o melhor aten- Que língua ensinar para a criança
dimento possível, tanto na área da Edu- surda?
cação quanto na de Saúde.
Esta é uma pergunta difícil e polê-
Assim, o grau e o tipo da perda de
mica. As respostas são várias e depen-
audição, assim como a idade em que esta
dem da postura assumida pelo profissi-
ocorreu, vão determinar importantes di-
onal, das expectativas da família, da na-
ferenças em relação ao tipo de atendi-
tureza da criança, do grau de deficiên-
mento que o aluno irá receber. Quanto
cia auditiva e dos recursos existentes no
maior for a perda auditiva, maiores se-
lugar onde que ela mora.
rão os problemas lingüísticos e maior
A educação da criança surda em fase
será o tempo em que o aluno precisará
de socialização, nos seus primeiros anos
receber atendimento especializado.
de vida, precisa se adequar a suas ca-
Existe uma diferença significativa no
racterísticas pessoais. A observação de
desenvolvimento da linguagem e da co-
suas respostas aos primeiros atendimen-
municação de crianças que sofrem per-
tos escolares e clínicos (estimulação au-
da auditiva antes dos 2 anos de idade,
ditiva, sociabilização etc.), servirá para
em comparação com as que ficam sur-
indicar o caminho a seguir: optar pelo
das após terem adquirido a linguagem
ensino especializado (escola e classe es-
(por exemplo, no caso de surdez causa-
pecial), ou pelo ensino comum.
da por meningite, depois dos 4 anos de
idade). As maiores já tiveram a oportu-
nidade de estruturar a memória auditi-
CADA CRIANÇA DEVE RECEBER ATENDI-
va e um sistema lingüístico próprio.
MENTO DE ACORDO COM SUA REALIDA-

DE, PARA PODER VIVENCIAR E EXPLO-

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RAR AO MÁXIMO SUAS POTENCIALIDADES.


“Embora não se possa afirmar que a sur-
dez afete o desenvolvimento intelectual
dos indivíduos, provoca neles, sem dú-
vida, dificuldades de conceituação, pela Algumas crianças surdas têm possi-
ausência do código lingüístico normal- bilidade de adquirir e desenvolver a lin-
mente usado no contexto social dos ou- guagem oral, utilizando a fala para se co-
vintes. O pensamento, em decorrência, municar. Outras, por características pes-
se organiza de forma bem distinta da soais e também em decorrência do ambi-
usual dos ouvintes, da mesma idade, ente familiar em que cresceram, apresen-
devido à privação da audição ou por ex-
tam linguagem oral mínima, que deve ser
periências frustrantes vividas pelos sur-
complementada com outras formas de
dos desde o contexto sócio-familiar.”
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ comunicação (escrita e por sinais).

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 70


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
A construção da linguagem oral no fala diferente e valorizam também seu
indivíduo com surdez profunda é uma direito de usar recursos variados para se
tarefa longa e bastante complexa, envol- comunicar, na busca de uma melhor par-
vendo aquisições como: tomar conheci- ticipação social. Rejeitam o termo ‘defi-
mento do mundo sonoro, aprender a uti- ciente’, que embute um conceito de dé-
lizar todas as vias perceptivas que po- ficit, e defendem uma atitude na qual
dem complementar a audição, perceber seja dado valor ao indivíduo e não à defi-
e conservar a necessidade de comunica- ciência da qual ele é portador.
ção e de expressão, compreender a lin-
A educação dos surdos no Brasil
guagem e aprender a expressar-se.
Na abordagem oralista, ainda hoje Até a década de 60, como na maio-
adotada por algumas instituições, a co- ria dos países, o Brasil seguia a orienta-
municação se baseia na fala; não se acei- ção dominante, considerando como me-
ta a utilização dos gestos ou sinais para lhor alternativa, para o ensino de crian-
representar ou indicar coisas, objetos etc. ças surdas, o atendimento em separa-
No oralismo, os resíduos de audição ser- do, já que seus problemas lingüísticos
vem como parâmetros para a aquisição as diferenciavam das crianças ouvintes.
da fala e da linguagem, sendo associa- Assim, apareceram muitas escolas
dos à leitura da expressão facial. especiais para surdos, onde os portado-
O bilingüismo é a abordagem mais res de deficiência auditiva eram educa-
recente e defende a idéia de que ambas dos, predominantemente, sob o aspecto
as línguas – de sinais (LSB – Língua de da reabilitação oral.
Sinais Brasileira) e a oral (português) A partir dos anos 80, seguindo a ten-
sejam ensinadas e usadas sem que uma dência mundial de integração, adotou-
interfira/prejudique a outra, em situa- se nova orientação no campo da educa-
ções diferentes. ção dos surdos: a meta que as escolas
Entre os mais jovens, e particular- passaram a se colocar ultrapassava o
mente entre aqueles que apresentam campo clínico/terapêutico, englobando
perdas auditivas severas e profundas, o campo pedagógico e lingüístico, numa
existe um movimento para que assumam perspectiva integracionista que encon-
a própria surdez. Lutam por seus direi- trou respaldo filosófico, legal e político-
tos e buscam divulgar a Língua de Si- educacional na Constituição da Repú-
nais Brasileira, mostrando que se trata blica Federativa do Brasil (1988) que ga-
de uma língua com regras próprias, como rante, em seu artigo 208, inciso III, “o
a Língua Portuguesa. atendimento educacional especializado
Os que adotam essa linha valorizam aos portadores de deficiência, preferen-
sua fala, levando em conta que é uma cialmente na rede regular de ensino”;

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 71


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
na Convenção sobre os Direitos da Cri- A aprendizagem da modalidade
ança (1989); na Declaração de oral e principalmente da modali-
Salamanca, resultante da “Conferência dade escrita do Português consti-
Mundial sobre Necessidades Educativas tui tarefa cotidiana dos professo-
Especiais: Acesso e Qualidade” (1994); res da classe especial, da sala de
na Política Nacional de Educação Espe- recursos e de classe comum do en-
cial (1994); no Plano Decenal de Educa- sino regular.
ção para Todos (1994). Sabe-se que a integração do porta-
Assim, a integração do aluno surdo ao dor de deficiência auditiva no sistema
sistema regular de ensino, entendida como regular de ensino representa um pro-
um processo resultante da evolução his- cesso individual (para o aluno) e acarre-
tórica da Educação Especial, calcada nos ta uma reorganização institucional (para
direitos humanos, constitui uma tendên- a escola).
cia que vem se acentuando nestes últi- Em se tratando do aluno, faz-se ne-
mos anos, no Brasil e em outros países. cessário estabelecer, para cada caso, o
Considerando que a meta atual da momento oportuno para que ele comece
educação dos portadores de deficiência a freqüentar a classe comum do ensino
auditiva passou a enfocar também o as- regular, se esta for a sua opção.
pecto acadêmico e lingüístico, as dire-
Aprendendo a conviver na escola
trizes que têm sido traçadas conduzem
às seguintes conclusões: O principal objetivo da educação in-
A educação dos surdos deve desen- fantil é favorecer o desenvolvimento físi-
volver-se, preferencialmente, na co, motor, emocional, cognitivo e social
rede regular de ensino; de todas as crianças – ouvintes ou sur-
O conteúdo programático a ser de- das. A escola promove experiências e
senvolvido é o mesmo do ensino conhecimentos, por meio de jogos e brin-
regular; cadeiras, bem como do convívio com ou-
A orientação educacional permite tras crianças e outros adultos, fora do
o acesso, pelo aluno, a duas lín- ambiente doméstico.
guas: a Língua de Sinais Brasilei- A socialização, que se inicia antes
ra e a Língua Portuguesa; dos 3 anos, vai se consolidando entre os
A reabilitação é parte do aprendi- 4 e os 6 anos de idade. Para que possa
zado de Língua Portuguesa, em expressar seus desejos e suas necessi-
sua modalidade oral, própria, prin- dades, utilizando gestos e/ou sons, a
cipalmente, para o caso de alunos criança surda deve ser exposta a uma
que iniciaram sua educação na fai- linguagem compreensível para ela, con-
xa etária de zero a seis anos; tribuindo assim para sua socialização.

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 72


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
O desafio do trabalho precoce com a tos e experiências de forma oral, escrita
criança surda está em criar situações de ou com sinais.
comunicação que favoreçam sua expres- Qualquer situação comum, especial-
são e sua interação contínua com as pes- mente as que se vinculam às idéias e
soas, utilizando-se do olhar, dos gestos, aos interesses da criança surda, pode ser
dos sinais, da linguagem oral etc. útil para estimular e desenvolver seu
A escola, comum ou especializada, processo de comunicação. Por exemplo:
deve preparar a criança surda para a vida se ela gosta de carros, de motos, ou de
em sociedade, oferecendo-lhe condições bonecas, seu brinquedo predileto pode
de aprender um código de comunicação servir de motivação para que aprenda
que permita seu ingresso na realidade seus nomes, reproduza o ruído que fa-
sociocultural, com efetiva participação na zem, experimente sentir as vibrações
sociedade. quando os veículos passam pela rua, ob-
O trabalho de linguagem, tanto em serve as cores das diferentes motos ou
Língua Portuguesa (oral) quanto na Lín- reproduza com suas bonecas o cuidado
gua de Sinais Brasileira (LSB), é desen- materno, dando nome aos sentimentos
volvido de forma a dar à criança surda – ‘eu gosto’, ‘eu choro’, ‘eu estou triste’,
um instrumento lingüístico que a torne ‘eu estou alegre’ etc.
capaz de se comunicar. É através da repetição das palavras e
Os principais recursos utilizados da vivência que as crianças aprendem a
nesse trabalho são atividades de imita- compreender uma língua e a usá-la. Isto
ção, jogos, desenho, dramatizações, brin- vale para crianças ouvintes e para as com
cadeiras de faz-de-conta, histórias infan- perda auditiva. Mas as crianças com per-
tis etc. Tais atividades possibilitam, ao da auditiva precisam de mais estímulos,
mesmo tempo, a aquisição de linguagem de mais repetições e de mais vivências.
e a aprendizagem de conceitos e regras A partir do momento em que a criança
de um código de comunicação, aspectos surda percebe que cada objeto tem um
importantíssimos para o processo de nome, o progresso torna-se mais rápido.
integração escolar.
A inclusão da criança surda na escola
A criança surda adquire sua lingua-
gem ao relacionar a experiência que está Quando recebe em sua classe (de ou-
vivendo com a verbalização e/ou os si- vintes) um aluno surdo, é freqüente que
nais que ela observa em outra pessoa (co- a primeira reação do professor seja:
lega, pais, professores etc.), bem como Como vou falar com esse aluno? Não sou
ao relacionar o que está sendo falado pelo especialista! Como posso ensiná-lo?
outro com suas próprias experiências e Não se pode ‘jogar’ a criança surda
também ao comunicar seus pensamen- em uma escola ou em uma classe co-

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 73


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
mum, alegando a necessidade de ‘inse- Para isso, o aluno, sua família e seus
ri-la’ na escola regular; essa atitude mos- professores precisam dispor de dados –
tra que não há um reconhecimento da parecer médico, resultados das avaliações
necessidade da criança surda de ter um audiológicas periódicas, informações da
atendimento cuidadoso, para que desen- fonoaudióloga e da família etc. – que per-
volva suas habilidades comunicativas. mitam entender melhor o que a falta de
Na proposta atual, mais inclusiva, a audição pode acarretar e que tipo de rea-
criança com surdez participa do siste- ção a criança terá no ambiente escolar.
ma educacional, não está fora dele. É Como condição para participar de
esperado que ela, bem como os profes- uma classe comum, o aluno surdo pre-
sores e toda a escola, conte com disposi- cisa ter adquirido um nível de lingua-
tivos que auxiliem seu pleno desenvolvi- gem suficiente para permitir um diálo-
mento escolar, sem sacrifícios. go, mesmo que simples, com professo-
No entanto, a inclusão na escola co- res e colegas, além de contar com um
mum, principalmente no Ensino Funda- bom vocabulário e com certo domínio de
mental, não é a única realidade para to- leitura e escrita. Com esse domínio da
dos os portadores de deficiência. Deve linguagem, ele pode expressar seus pen-
constituir um processo gradativo, que samentos e sentimentos, e consegue ain-
respeite as diferentes necessidades e da compreender os conceitos utilizados
interesses de cada um. nas diferentes disciplinas.
A escola comum, por sua vez, tam-
bém precisa dispor de recursos que tor-
A INCLUSÃO DA CRIANÇA COM SUR- nem viável o processo de inclusão, como
DEZ EM CLASSE COMUM DA ESCOLA por exemplo:
REGULAR TERÁ MAIS CHANCES DE SU- Assessoria em relação à língua de
CESSO SE FOR GRADATIVA E RESUL- sinais, se a criança tiver linguagem
TAR DE UM ESTUDO DE CADA CASO, oral restrita e às estratégias ade-
INDIVIDUALMENTE. quadas para propiciar o diálogo, na
linguagem oral e/ou escrita;
Material concreto e visual que sir-
Inicialmente, é necessário verificar se va de apoio para garantir a assimi-
a criança surda está preparada para fre- lação de conceitos novos;
qüentar uma classe comum, na qual as Contato com professores que te-
diferenças, principalmente as que se re- nham vivenciado situações seme-
ferem à linguagem, serão evidenciadas lhantes;
pela comparação com os colegas ouvin- Orientação de professores da Edu-
tes. cação Especial – itinerantes ou de

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 74


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
salas de recursos. Podem ser fei- O conteúdo curricular a ser desen-
tas reuniões para trocar experiên- volvido para o aluno surdo é exatamente
cias e esclarecer dúvidas. o mesmo trabalhado com os alunos ou-
vintes, com base nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN). São neces-
O QUE CARACTERIZA O ALUNO (SUR- sárias adaptações curriculares para aten-
DO OU NÃO) É SUA CAPACIDADE DE der à especificidade da clientela, seja na
APRENDIZAGEM E NÃO A DEFICIÊNCIA escola especial ou na regular. O uso de
QUE APRESENTA. EXISTE UM SUJEITO materiais variados (jornais, revistas, pro-
COM POTENCIAL, NO QUAL SE DEVE pagandas, noticiários de TV, computa-
INVESTIR. dores etc.) contribui para motivar os alu-
nos, mantê-los atualizados em relação
aos acontecimentos do mundo e dar-lhes
uma visão ampla dos acontecimentos.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Todos os alunos serão beneficiados
“O obstáculo sensorial auditivo cria situa-
se o professor proporcionar atividades a
ções comunicativas específicas para o sur-
partir de centros de interesse, integran-
do, porém não o impede de adquirir uma
do diferentes disciplinas.
linguagem, nem o desenvolvimento de sua
Na visão inclusiva, a criança com per-
capacidade de representação. Este pro-
da auditiva deve ser acolhida a partir de
cesso envolve mecanismos mentais dife-
uma proposta globalizadora, que valori-
rentes daqueles da pessoa ouvinte e, por
isso, tornam-se responsáveis pela cons- ze a escolaridade, os hábitos e as atitu-
trução de esquemas de pensamento e es- des preparatórios para a vida adulta e
tratégias intelectuais que dependem da que possibilite a ela se tornar responsá-
natureza do desenvolvimento lingüístico- vel pelo próprio processo escolar e cons-
cognitivo que lhes é próprio”.2 ciente de seus direitos, que são os mes-
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

mos dos ouvintes.


Os educadores devem considerar,
Tanto no ensino comum quanto no além da metodologia, as necessidades
especializado, o aluno precisa se sentir específicas dos alunos, com o objetivo de
envolvido no processo de aprendizagem, favorecer sua adaptação e sua integração.
participar de fato e ser capaz de fazer
escolhas com responsabilidade, progra- O papel do professor
mando-se para o futuro. Compete ao professor:

2
Carla Verônica Machado Marques, “Visualidade e surdez: a revelação do pensamento plástico”, In:
Espaço, INES, Rio de Janeiro, dez./1999, p. 38.

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 75


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
– Desenvolver o processo ensino- o aluno deve utilizar um recurso
aprendizagem com o aluno surdo, ado- acústico (Prótese Auditiva e/ou
tando a mesma proposta curricular do Sistema de FM), para amplificar o
ensino regular, com adaptações que pos- som da sala;
sibilitem: Há alunos que conseguem ler os
O acesso ao currículo, utilizando movimentos dos lábios. Assim, o
sistemas de comunicação alterna- professor e os colegas devem falar
tivos, como a Língua Brasileira de o mais claramente possível, evitan-
Sinais, a mímica, o desenho, a ex- do voltar-se de costas enquanto
pressão corporal; fala. É extremamente difícil para
A utilização de técnicas, procedi- estes alunos anotarem nas aulas,
mentos e instrumentos de avalia- durante a exposição oral da maté-
ção compatíveis com as necessida- ria, principalmente aqueles que fa-
des do aluno surdo, sem alterar os zem leitura labial enquanto o pro-
objetivos da avaliação e o seu con- fessor fala;
teúdo, como, por exemplo, maior É sempre útil fornecer uma cópia
valorização do conteúdo em detri- dos textos com antecedência, as-
mento da forma da mensagem ex- sim como uma lista da terminolo-
pressa; gia técnica utilizada na disciplina,
A supressão de atividades que não para o aluno tomar conhecimento
possam ser alcançadas pelo aluno das palavras e do conteúdo da aula
surdo devido à sua deficiência, a ser lecionada. Pode também jus-
substituindo-as por outras mais tificar-se a utilização de um intér-
acessíveis, significativas e básicas. prete (uso de linguagem sinais);
Por exemplo: O “ditado” cujo obje- Este estudante poderá necessitar
tivo para os alunos ouvintes é veri- de tempo extra para responder aos
ficar a ortografia das palavras, para testes;
o surdo transforma-se em “teste de O professor deve falar com natura-
leitura labial”. Porém, não se jus- lidade e clareza, não exagerando
tifica a eliminação de conteúdos no tom de voz;
curriculares. O professor deve evitar estar em
frente à janela ou outras fontes de
Sugestões de apoio ao aluno com
luz, pois o reflexo pode obstruir a
deficiência auditiva
visão;
Os alunos com deficiências auditi- Quando falar, não bloqueie a área
vas devem ficar sempre na primei- à volta da boca;
ra fila na sala de aula. Se possível, Quando utilizar o quadro ou ou-

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 76


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
tros materiais de apoio audiovisual, ra clara, pronunciando bem as pa-
primeiro exponha os materiais e só lavras, mas não exagere. Use a sua
depois explique ou vice-versa (ex.: velocidade normal, a não ser que
escreva o exercício no quadro ou lhe peçam para falar mais devagar;
no caderno e explique depois e não Use um tom normal de voz, a não
simultaneamente); ser que lhe peçam para falar mais
Repita as questões ou comentários alto. Gritar nunca adianta;
durante as discussões ou conver- Fale diretamente com a pessoa, não
sas e indique (por gestos) quem de lado ou atrás dela. Faça com que
está a falar, para uma melhor com- a sua boca esteja bem visível. Ges-
preensão por parte do aluno; ticular ou segurar algo em frente
Escreva no quadro ou no caderno à boca torna impossível a leitura
do aluno datas e informações im- labial. Usar bigode também atra-
portantes, para assegurar que fo- palha;
ram entendidas; Se você souber alguma linguagem
Durante os exames, o aluno deve- de sinais, tente usá-la. Se a pes-
rá ocupar um lugar na fila da fren- soa surda tiver dificuldade em en-
te para melhor ouvir esclarecimen- tender, avisará. De modo geral,
tos do docente. Um pequeno toque suas tentativas serão apreciadas e
no ombro do aluno poderá ser um estimuladas;
bom sistema para lhe chamar a Seja expressivo ao falar. Como as
atenção, antes de fazer um escla- pessoas surdas não podem ouvir
recimento. mudanças sutis de tom de voz que
indicam sentimentos de alegria,
Como tratar pessoas surdas
tristeza, sarcasmo ou seriedade, as
Não é correto dizer que alguém é expressões faciais, os gestos e o
surdo-mudo. Muitas pessoas sur- movimento do seu corpo serão ex-
das não falam porque não apren- celentes indicações do que você
deram a falar. Muitas fazem a lei- quer dizer;
tura labial, outras não; Enquanto estiver conversando,
Quando quiser falar com uma pes- mantenha sempre contato visual,
soa surda, se ela não estiver pres- se você desviar o olhar, a pessoa
tando atenção em você, acene para surda pode achar que a conversa
ela ou toque em seu braço leve- terminou;
mente; Nem sempre a pessoa surda tem
Quando estiver conversando com uma boa dicção. Se tiver dificulda-
uma pessoa surda, fale de manei- de para compreender o que ela está

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 77


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
dizendo, não se acanhe em pedir é se comunicar. O método não é
para que repita. Geralmente, as pes- tão importante;
soas surdas não se incomodam de Quando a pessoa surda estiver
repetir para que sejam entendidas; acompanhada de um intérprete,
Se for necessário, comunique-se dirija-se à pessoa surda, não ao in-
através de bilhetes. O importante térprete.

BOLETIM – PGM 5 - D EFICIÊNCIA AUDITIVA 78


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
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tema. São Paulo: Memnon, Edições ci- ção Especial, 1994. (Série: Atualida-
entíficas, 1997. des Pedagógicas 1).

BALIEIRO, Clay Rienzo et alii. Programa clí- _______, Ministério da Educação e do Des-
nico para deficientes auditivos de 0 a 5 porto - Secretaria de Educação Espe-
anos; atividades terapêuticas. São Pau- cial – Diretrizes Educacionais sobre
lo, PUC, 1985. 60 p. (Cadernos Dis- Estimulação Precoce. (Série: Diretrizes,
túrbios da Comunicação – Série Au- n.º 3).
diologia Educacional 4)
BRITO, L. F. Por uma gramática da Língua
BEVILACQUA, Maria Cecília & BALIEIRO, de Sinais. Rio de Janeiro, Tempo Bra-
Clay Rienzo. Programa Clínico para sileiro/ Departamento de Lingüísti-
deficientes auditivos de 0 a 5 anos. São ca e Filosofia – UFRJ, 1995.
Paulo, PUC, 1984. 47 p. (Cadernos
Distúrbios da Comunicação - Série _______, Integração social & educação de
Audiologia Educacional 1) surdos, 1. Rio de Janeiro, Babel Edi-
tora, 1993.
BRASIL, Ministério da Educação e Cultu-
ra. Centro Nacional de Educação Es- BUENO, José Geraldo da Silveira. A Educa-
pecial. Atividades e recursos pedagógi- ção do Deficiente Auditivo no Brasil -

79
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Situação atual e perspectivas (artigo REDONDO, Maria Cristina da Fonseca. “O
retirado do livro Tendências e Desafios deficiente auditivo e o mercado de
da Educação Especial - MEC/SEESP) trabalho”. São Paulo, Pontifícia Uni-
versidade Católica de São Paulo,
DORZIAT, A. Metodologias específicas ao 1990. (Tese de Mestrado).
ensino de surdos: análise crítica –
apostila. São Paulo, UFSCAR, 1995. ————. “Características do trabalhador porta-
dor de deficiência auditiva e as exigências
FERNANDEZ, S. M. M. A educação do defi- do mercado de trabalho: potencialidades
ciente auditivo: um espaço dialógico de e limitações”. Revista Integração, v. 5, no
produção de conhecimentos. Rio de 13. Brasília, MEC, 1994.
Janeiro, 1993. (Dissertação de Mes-
trado - Universidade do Estado do Rio SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: cons-
de Janeiro). truindo uma sociedade para todos. Rio
de Janeiro, WVA, 1997.
HUTZLER, C. Quem tem boca vai a Roma.
E quem não tem? (alternativas na RIBAS, João Baptista Cintra. O que são pes-
educação do surdo). Revista Brasileira soas deficientes. São Paulo, Brasi-
de Estudos Pedagógicos, Brasília, set./ liense, 1985.
dez., 1989.
FIGUEIRA, Emílio. Vamos conversar sobre
crianças deficientes? São Paulo,
MOURA, M. C. A língua de sinais na edu-
Memnon, 1993.
cação da criança surda. In: Moura,
M. C.; Lodi, A. C. B. e Pereira, M. C. MAZZOTTA, Marcos José da Silveira. Edu-
(orgs.). Língua de sinais e educação do cação especial no Brasil: história e políti-
surdo. São Paulo, Tec Art, 1993. cas públicas. São Paulo, Cortez, 1988.

OLIVEIRA, Suely Nascimento de Lemos. ____________________________. Educação


Monografia do curso de Especialização escolar: comum ou especial? São Pau-
em Ensino Especial. Brasília/DF, UnB, lo, Memnon, 1995.
1995.
____________________________. Fundamen-
EDLER CARVALHO, Rosita. A nova LDB e tos da educação especial. São Paulo,
a educação especial. Rio de Janeiro, Pioneira, 1982.
WVA, 1997.
MORAES, Zulca Rossetto de. Temas sobre
GODINHO, Eloysa. Surdez e significado so- desenvolvimento, v. 5 (27): 18-26. Fran-
cial. São Paulo, Cortez, 1982. cisco Alves, 1983.

Orientações para a Família e para a Escola.


Comunicar. Livro 1. Belo Horizonte,
Revistas
Clínica Escola FONO, s.d. Revista Integração
Editada pelo Ministério da Educa-
QUADROS, Ronice Müller de. Educação de
surdos: a aquisição da linguagem. Por- ção e do Desporto
to Alegre, Artes Médicas, 1997. Secretaria de Educação Especial

80
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Cadernos da TV Escola Revista Distúrbios da Comunicação
Editados pelo Ministério da Edu- Editada pela Faculdade de Fonoau-
cação diologia PUC/SP.
Secretaria de Educação a Distância
Sites
Revista da FENEIS
Editada pela Federação Nacional de www.saci.org.br
Educação e Integração de Surdos www.mec.gov.br
Revista Brasileira de Educação Es- www.mec.gov.br/seed/tvescola/ca-
pecial dernos/default.shtm
Editada pela Associação Brasileira www.defnet.org.br
de Pesquisadores em Educação Es- www.entreamigos.com.br
pecial www.feneis.com.br
Revista Con-Tato www.terravista.pt/copacabana/
Editada por Laramara – Associação www.niee.ufrgs.br/~lucila
Brasileira de Assistência ao Defi- http://penta.ufrgs.br:80/edu/
ciente Visual telelab/edusurdos
Revista Benjamin Constant www.ibcnet.org.br
Editada pelo Instituto Benjamin www.fundacaodorina.org.br
Constant www.apae.org.br
Jornal SuperAção www.aacd.org.br
Editado pelo Centro de Vida Inde- www.mj.gov.br/corde/
pendente do Rio de Janeiro webcorde.htm

81
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

TEXTOS COMPLEMENTARES

1. O QUE É, AFINAL, A ESCOLA INCLUSIVA?


A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Fonte: http://www.malhatlantica.pt/ modo mais inclusivo de educar todas as
ecae-cm/Filosofia.htm crianças. As palavras, por si só, têm sig-
Durante muitos anos, os docentes da nificados distintos conforme as pessoas
Educação Especial tentaram dar respos- que as interpretam; daí que a inclusão,
ta aos alunos com necessidades edu- mais que um termo, é uma filosofia. Não
cativas especiais retirando-os da sala de é um programa específico nem pode ser
aula e ministrando-lhes um ensino in- legislada.
dividual que, tecnicamente, considera- Vamos ver como nos aparece defini-
vam como sendo o mais adequado. Em do o conceito de inclusão:
muitos casos ainda se conseguiu esta- O que é educação inclusiva? A in-
belecer uma certa cooperação entre o clusão é uma atitude, uma convicção.
docente da Educação Especial e o do- Não é uma ação ou um conjunto de
cente das turmas “regulares” e os alu- ações. É um modo de vida, um modo de
nos foram integrados total ou parcial- viver juntos fundado na convicção que
mente, mas quase sempre sendo retira- cada indivíduo é estimado e pertence a
dos nas horas do “apoio”. Está provado um grupo (Mil & Vila, 1995).
que esta solução não resulta e que aca- Inclusão implica que as crianças e
ba por ser frustrante para todos e, mui- jovens freqüentem as mesmas escolas
to especialmente, devastadora para mui- com os seus irmãos e vizinhos e o resto
tas das crianças e jovens a ela submeti- da população em geral, com colegas do
dos. Os recursos disponíveis foram dis- mesmo nível etário, com objetivos de
tribuídos de uma forma desigual e os aprendizagem pertinentes e individua-
alunos nunca chegaram a alcançar a ver- lizados e com os apoios necessários para
dadeira sensação de “pertença” a um gru- o ajudar a aprender (por exemplo edu-
po/turma. Como resultado, muitos do- cação especial e serviços relacionados).
centes e pais começaram a desejar um Isto não significa que os estudantes não

82
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
possam trabalhar num pequeno grupo Muitas vezes o apoio de pessoal au-
de quando em vez ou que se limitem à xiliar é também fundamental para que o
aprendizagem de alguns objetivos do transfer da aprendizagem seja efetivo em
currículo normal que lhe sejam acessí- situações do dia-a-dia.
veis. (York, Kronberg e Doyle, Crianças Inclusão é a educação dos estudan-
Excepcionais, 1992). tes com necessidades educativas espe-
As crianças e jovens com necessida- ciais nas salas de aula e escolas que fre-
des educativas especiais deverão benefi- qüentariam se essas necessidades não
ciar dos apoios individuais e de todas as tivessem sido identificadas, com os apoi-
outras ajudas que os auxiliem a aproxi- os apropriados e os serviços necessários
mar-se dos comportamentos adaptativos que lhes permitam ter êxito educativo.
comuns à sua idade e ao meio em que (Associação de Escolas Inclusivas – Psi-
se inserem. Deverá ser feito todo o es- cólogos de Ilinois, EUA).
forço para satisfazer as necessidades in- Inclusão é uma consciência de co-
dividuais de todos os estudantes através munidade, uma aceitação das diferen-
de um currículo versátil aplicado na sala ças e uma co-responsabilização para
de aula regular. Planejamento compar- obviar às necessidades de outros
tilhado entre Escola, Família e Comuni- (Stainback e Stainback, 1990).
dade são fundamentais para o desenro- Ainda estamos a aprender como é
lar deste processo. que as escolas poderão proporcionar um
Uma escola inclusiva é uma institui- ambiente o menos restritivo possível para
ção educacional na qual todos os recur- as crianças com necessidades educativas
sos disponíveis são utilizados cooperati- especiais e, ao mesmo tempo, manter os
vamente para satisfazer as necessidades seus níveis instrucionais. No entanto,
educacionais de todas as crianças que a temos a certeza de que esta filosofia cria
freqüentam. Escolas inclusivas terão que escolas em que todos os alunos se sen-
ter uma gestão pedagógica forte que pro- tem incluídos. É um processo excitante
picia um planeamento conjunto dos pro- com benefícios generalizados.
gramas educativos, uma implementação
Metodologias específicas em
compartilhada e uma avaliação exigen-
Educação Especial
te. Numa escola inclusiva todos os alu-
nos freqüentam turmas adequadas ao Os alunos com necessidades edu-
seu nível etário. Aprender é um proces- cativas especiais aprendem através dos
so dependente de uma grande varieda- mesmos recursos metodológicos empre-
de de estratégias instrucionais usadas gados com os demais alunos embora, em
pelos docentes por forma a facilitar as alguns casos, adequações destes recur-
aprendizagens dos seus alunos. sos sejam necessárias com o objetivo de

TEXTO COMPLEMENTAR – O QUE É AFINAL , A E SCOLA I NCLUSIVA ? 83


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
atender às necessidades especiais dos ditiva; a máquina Perkins para imprimir
alunos. o código Braille e o sorobã (ábaco) para
É bem verdade que no trabalho com a contagem matemática para portadores
portadores de deficiência auditiva vários de deficiência visual, assim como as me-
métodos foram elaborados orais, sas, cadeiras e outras adaptações elabo-
gestuais, mistos - mas com o objetivo radas para os portadores de deficiência
apenas de desenvolver linguagem. Mes- física. Tais adaptações devem ser pensa-
mo assim, atualmente, para atender a das a partir das necessidades especiais
este objetivo específico a tendência é su- de cada um dos alunos pois um porta-
perar o emprego de métodos, por se acre- dor de deficiência física nem sempre
ditar que se torna muito restritivo. apresenta as mesmas necessidades de
No trabalho escolar, portanto, não um outro aluno que aparentemente apre-
existem métodos de atuação com alunos senta necessidades semelhantes.
cegos, surdos, portadores de deficiência
A importância que a aprendizagem
mental, etc. O que os alunos portadores
exerce no desenvolvimento dos
de necessidades educativas especiais ne-
alunos portadores de necessidades
cessitam, tanto quanto os demais alu-
educativas especiais
nos, é que tenham acesso a uma apren-
dizagem significativa, vivenciando um A aprendizagem exerce um papel de
processo de interação dialógica, com pro- grande importância no desenvolvimento
fessores que assumam o papel de medi- de todos os alunos, sejam eles portado-
adores deste processo e propiciem espa- res de necessidades educativas especi-
ços de mediação constantes, permitindo ais ou não.
que as necessidades sejam atendidas. De acordo com o teórico russo Lev
Vigotsky, desde o início da vida de uma
O trabalho com alunos da Educação
criança desenvolvimento e aprendizagem
Especial
encontram-se relacionados, sendo que
Os alunos portadores de necessida- a aprendizagem bem organizada põe em
des educativas especiais utilizam, geral- movimento vários processos de desenvol-
mente, os mesmos recursos materiais vimento; ela impulsiona o desenvolvi-
que os demais alunos. mento.
Existem, no entanto, alguns recur- Desta forma, a relação do sujeito com
sos materiais que auxiliam os alunos o objeto do conhecimento não se dá de
portadores de necessidades educativas forma mecânica. A partir da ação de di-
especiais, tais como: as próteses auditi- ferentes mediadores o sujeito vai se
vas e os aparelhos de amplificação sono- apropriando o conhecimento, o que pos-
ra para os portadores de deficiência au- sibilita a sua constituição.

TEXTO COMPLEMENTAR – O QUE É AFINAL , A E SCOLA I NCLUSIVA ? 84


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
O professor tem papel fundamental te, trabalhando dentro de critérios de
pois é um agente de mediação, um funcionalidade apenas que limitam as
interlocutor de seus alunos, ensinando- possibilidades dos alunos se desenvol-
lhes, não de forma mecânica, autoritá- verem.
ria ou distante, mas através de um pro-
A questão da diferença entre o
cesso de interação dialógica.
desenvolvimento de uma criança
Baixa expectativa dos professores e considerada normal e o de uma
prática pedagógica com alunos criança portadora de necessidades
portadores de necessidades educativas especiais
educativas especiais
Estamos acostumados a falar de dife-
Verdadeiramente, existe uma baixa renças de ordem quantitativa, a medir a
expectativa em relação às possibilidades diferença entre os indivíduos, classifican-
dos alunos portadores de necessidades do-os em menos ou mais desenvolvidos.
educativas especiais. Não se trata de uma É necessário, entretanto, mudar
questão restrita à escola, mas socialmen- nossa forma de entender a diferença e
te esta baixa expectativa ainda existe. passar a perceber que ela existe mas
Está no imaginário da sociedade, a es- não quantitativamente e sim qualitati-
cola reproduz este comportamento e a vamente.
família, em conseqüência, não consegue Os portadores de necessidades edu-
acreditar que os portadores de necessi- cativas especiais se desenvolvem tanto
dades educativas especiais possam cons- quanto os demais, só de uma outra ma-
tituir conhecimentos escolares. Já no neira, qualitativamente diferente. Seu
início do século o teórico russo Lev organismo se organiza de outra forma,
Vigotsky questionava a prática lenta e com base num processo de compensa-
reduzida dos professores da Educação ção, visando compensar a deficiência que
Especial, revelando, deste modo, que apresenta.
suas expectativas eram pequenas. Como afirma Vigotsky “do mesmo
Atualmente, vemos que muitos pro- modo que a criança em cada etapa do
fessores já perceberam que seus alunos desenvolvimento, em cada fase sua, re-
têm condição de se apropriar de conhe- presenta uma peculiaridade qualitativa,
cimentos escolares e procuram avançar uma estrutura específica do organismo e
com eles rumo a conhecimentos mais da personalidade, a criança com defici-
complexos. Outros, entretanto, por não ência representa um tipo peculiar, quali-
acreditarem, preocupam-se apenas com tativamente distinto de desenvolvimento”.
o desenvolvimento de habilidades que (Fundamentos de Defectologia, Ed.
permitam aos alunos operar socialmen- Pueblo y Educación, Havana, 1989, p. 6)

TEXTO COMPLEMENTAR – O QUE É AFINAL , A E SCOLA I NCLUSIVA ? 85


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
As condições para construção de dades de construir conceitos abstratos;
conhecimentos abstratos por alunos o plano concreto serve apenas de ponto
portadores de necessidades de partida para esta construção.
educativas especiais É necessário, no entanto, que o pro-
Há alguns anos atrás, acreditava- fessor desenvolva atividades que possi-
se que os alunos portadores de neces- bilitem este tipo de construção e que
sidades educativas especiais devido às conceba a aprendizagem como mola pro-
deficiências que apresentavam não ti- pulsora do desenvolvimento. Se o pro-
nham condições de atingirem níveis fessor permanecer com um trabalho ape-
mais complexos de desenvolvimento, nas no plano concreto estes alunos so-
não podendo lidar com conceitos abs- zinhos não terão condição de chegar à
tratos, o que direcionava o professor constituição de conhecimentos abstra-
para um trabalho apenas no plano con- tos. É necessário não estabelecer limi-
creto. tes, traçar metas elevadas e pensar numa
Hoje em dia já sabemos que a gran- aprendizagem prospectiva e que faça sen-
de maioria destes alunos tem possibili- tido para os alunos.

TEXTO COMPLEMENTAR – O QUE É AFINAL , A E SCOLA I NCLUSIVA ? 86


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

2. A INCLUSÃO NO BRASIL
F ONTE : http://www.rio.rj.gov.br/multirio/cime/edespec.html

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
O Brasil participou da Conferência 2º O termo Inclusão passou a ser
Mundial sobre Educação para Todos, em utilizado no sentido de ter acesso ao en-
Jomtien, Tailândia, em 1990, na qual sino regular que inicia um processo de
subscreveu a Declaração dela resultante reestruturação, mantendo os serviços de
assumindo assim, um conjunto de com- apoio da educação especial.
promissos que deveriam ser traduzidos O MEC propôs, então, algumas
em metas nacionais, a serem cumpridas ações que podem favorecer a inclusão,
inicialmente antes da virada do século. tais como:
Mas, somente em 1998, o MEC criou Elaboração de material de orien-
a diretriz básica para estimular uma tação;
melhoria pedagógica para essa popula- Flexibilização curricular (adapta-
ção. Produziu-se assim, o documento ções curriculares);
“Adaptações Curriculares” – uma estra- Adaptação das instalações físicas;
tégia para a educação de alunos com ne- Reorientação no processo de for-
cessidades especiais, que visava orien- mação do professor;
tar o sistema educacional para o proces- Reorientação às escolas especiali-
so de construção da “Educação na Uni- zadas para apoiar os programas de
versidade”. inclusão.
Assim posto, faz-se necessário es- Consistente com isso, o MEC pro-
clarecer que a inclusão, no Brasil, ain- moveu a Campanha Nacional pela
da está em processo de criação e por Integração do Aluno com Deficiência na
isso adquiriu conotações peculiares: Rede Regular de Ensino, a qual, tendo
1º O termo Inclusão passou a ser previsto atingir 1.500 municípios, na
utilizado no sentido de se ter acesso ao verdade alcançou 2.739.
sistema de ensino, e não exclusivamente A opção pela inclusão implica a real
ao ensino regular; e efetiva individualização do ensino e,

87
ESPAÇOS DE
INCLUSÃO


garantir essa inclusão para a pessoa tiva a partir de uma transformação da



com deficiência significa garanti-la para leitura social da prática das relações no



todos, já que ela somente se tornará efe- contexto da cidadania.

TEXTO COMPLEMENTAR – A INCLUSÃO NO B RASIL 88


ESPAÇOS DE
INCLUSÃO

Presidente da República
Fernando Henrique Cardoso

Ministro da Educação
Paulo Renato Souza

Secretário de Educação a Distância


Pedro Paulo Poppovic

MEC
Secretaria de Educação a Distância
Programa TV Escola – Salto para o Futuro

Diretora do Departamento de Coordenadora-Geral de Material


Política de Educação a Distância Didático-Pedagógico
Carmen Moreira de Castro Neves Vera Maria Arantes

Coordenadora-Geral de Supervisora Pedagógica


Planejamento e Rosa Helena Mendonça
Desenvolvimento de Educação a
Distância Coordenadoras de Utilização e
Tânia Maria Magalhães Castro Avaliação
Mônica Mufarrej e Leila Atta
Diretor de Produção e Abrahão
Divulgação
de Programas Educativos Copidesque e Revisão
Antonio Augusto Silva Magda Frediani Martins

Programadora Visual
Norma Massa

Consultoria Pedagógica
Marta Gil

e.mail: salto@tvebrasil.com.br
Abril de 2002
Home page: www.tvebrasil.com.br/salto

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