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O bom para o desenvolvimento humano é ruim para a natureza

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

O maior paradoxo dos tempos modernos é que o avanço da qualidade de vida humana tem
ocorrido em função do recuo da qualidade da vida natural. As sociedades progridem e os
ecossistemas regridem. Isto pode ser visto no gráfico acima.

O impacto ambiental cresce na medida em que os diversos países avançam no Índice de


Desenvolvimento Humano (IDH). A Pegada Ecológica mede a quantidade de recursos naturais
necessários para manter o padrão de consumo dos seres humanos. Tudo o que usamos e o ar
que respiramos vem da natureza e jamais deixará de pertencer à natureza. Mas a injustiça é que
a civilização tem uma relação egoísta e desigual com o meio ambiente, pois, com a riqueza da

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“Mãe natureza”, produz bens de subsistência e de luxo, mas descarta sujeira e lixo. O avanço
humano tem ocorrido em detrimento da saúde do Planeta.

O desenvolvimento humano está altamente correlacionado com o aumento da pegada


ecológica. Países com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) possuem pegada ecológica
elevada e países com baixo IDH possuem pegada ecológica baixa. Isto quer dizer que o estilo de
desenvolvimento adotado tem ocorrido às custas da degradação ambiental e em prejuízo da
biocapacidade.

No quadrante superior direito da figura acima estão principalmente os países do Oriente Médio
produtores de petróleo (com destaque para o Qatar, sede da próxima Copa do Mundo), da
Europa (com destaque para Luxemburgo), e da América do Norte (com destaque para os EUA).
Todos estes países possuem alto IDH e também alta pegada ecológica.

No quadrante inferior esquerdo estão, principalmente, os países da África que possuem baixo
IDH e baixa pegada ecológica. No atual padrão de desenvolvimento, se os países africanos
avançarem no desenvolvimento, terão uma pegada ecológica mais elevada, mas a riqueza
natural estará cada vez mais ameaçada pelos países que saíram na frente na apropriação dos
serviços ecossistêmicos.

A China e a Índia são dois países em destaque (círculos verdes maiores da figura). Cada um
destes dois países possui uma população maior do que a de todo o continente africano, com um
impacto ecológico imenso. Todo o continente africano tinha uma pegada ecológica de 1,45
bilhão de hectares globais (gha), para um biocapacidade de 1,36 bilhão de gha, em 2014. No
mesmo ano, a Índia tinha uma pegada ecológica de 1,46 bilhão de gha, mas com uma
biocapacidade de somente 0,59 bilhão de gha. Já a China tinha uma pegada ecológica total de
5,2 bilhões de gha, para uma biocapacidade de 1,37 bilhão de gha. Isto quer dizer que o maior
IDH da China implica em um grande déficit ambiental (o maior déficit entre todos os países do
mundo).

Evidentemente, este caminho é insustentável, pois enquanto cada país tenta avançar com o
padrão de vida de sua população, o meio ambiente global reduz a capacidade de sustentar os
avanços da civilização. Atualmente, a humanidade só consegue manter seu modelo de produção
e consumo devido à herança acumulada no passado. Por exemplo, ao avançar com as atividades
antrópicas e utilizar montantes crescentes de energia, o ser humano está esgotando as reservas
de combustíveis fósseis. A queima desta herança fóssil, reduz os estoques de hidrocarbonetos
do subsolo e aumenta a emissão de gases de efeito estufa que provocam o aquecimento global.
As futuras geração vão herdar menos riquezas naturais e maiores problemas ambientais e
climáticos.

A perda da biocapacidade ocorre devido ao desmatamento, à degradação dos solos, à sobre


utilização das nascentes, dos rios, lagos e aquíferos, à redução do montante de peixe, à
acidificação dos mares, à poluição generalizada, etc. Óbvio, são as parcelas mais ricas da
população que mais contribuem para o aumento da pegada ecológica, como mostra o gráfico
do IDH. Porém, mesmo que houvesse uma justa distribuição da riqueza dentro dos países e entre
os países, a pegada ecológica média superaria ainda assim a biocapacidade média global. Existe
um conflito social internacional e nacional, pois alguns países possuem alto IDH e a maioria

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possui baixo IDH, assim como no plano nacional uma parcela da população possui alto IDH e
outra parcela excluída ou parcialmente incluída possui baixo IDH.

Sem dúvida, para evitar o colapso ambiental é preciso reduzir a pegada ecológica e para evitar
as injustiças sociais é preciso reduzir os níveis de desigualdade. A solução não pode ser o
crescimento econômico ilimitado. Ao contrário, será necessário não só o decrescimento da
população mundial, mas também o decrescimento do padrão de consumo médio das pessoas,
com equidade social. Acima de tudo, a humanidade precisa sair do déficit ecológico e voltar para
o superávit ambiental, resgatando as reservas naturais, para o bem de todos os seres vivos da
Terra.

Referências:

ALVES, JED. A crise do capital no século XXI: choque ambiental e choque marxista. Salvador,
Revista Dialética Edição 7, vol 6, ano 5, junho de 2015 http://revistadialetica.com.br/wp-
content/uploads/2016/04/005-a-crise-do-capital-no-seculo-xxi.pdf

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