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Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos
SENTENÇA
Autos nº 000711-13.2018.8.16.0047
Ação Previdenciária de Concessão de Aposentadoria por Tempo de
Contribuição
Autor(a): Luiz Fernandes
Réu: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS
1. Relatório:
A parte autora, nominada e qualificada na inicial, ajuizou a
presente ação previdenciária contra o réu, também nominado e qualificado,
arguindo, em síntese, que: a) desde a adolescência executou suas atividades laborais
nas terras de seu pai; b) requereu, junto à autarquia o benefício de aposentadoria
por tempo de contribuição, com averbação tempo de serviço rural, que foi
indeferido; c) preenche os requisitos necessários para a concessão de aposentadoria
por tempo de contribuição.
Pediu, ao final, a procedência da pretensão aduzida, para que
se determine ao INSS que proceda a averbação do tempo de serviço rural do autor,
em regime de economia familiar, na condição de segurado especial, o período de
02.02.1974 a 21.03.1993; a condenação do INSS a conceder o benefício de
aposentadoria por tempo de contribuição à parte autora, tendo como início de
benefício a data do requerimento administrativo 11.05.2017, bem como ao
pagamento das parcelas vencidas, acrescidas de correção monetária a partir do
vencimento de cada prestação até a efetiva liquidação, respeitada a prescrição
quinquenal e ao pagamento de honorários advocatícios.
Atribuiu à causa o valor de R$75.600,00. Juntou os
documentos de seq. 1.2-1.18.
Ao autor foi determinado que apresentasse o comprovante de
residência atualizado em seu nome (seq. 12.1; 22.1) decisão cumprida em seq. 25.1-
25.2.
O feito foi recebido, determinando-se, em sequência, a citação
do INSS (seq. 27.1).
O réu citado (seq. 42.0), apresentou contestação (seq. 44.1)
alegando, em resumo, a comprovação da atividade rural deve ser feita com
observância das regras inseridas os arts. 55, § 3º, da Lei 8.213/91 e que o pedido da
parte autora não merece prosperar.
Bateu-se, ao final, pela improcedência dos pedidos feitos na
exordial.
Juntou documentos de seqs. 44.2-44.5.
A parte autora apresentou impugnação à contestação (seq.
48.1), na qual repisou o quanto constante em sua peça de abertura.
O feito foi saneado, decisão na qual foram fixados os pontos
controvertidos, deliberou-se sobre as provas (seq. 58.1), designando-se, em
sequência, audiência de instrução e julgamento, a qual foi realizada na presente data.
PODER JUDICIÁRIO
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Relatei. Decido.
2. Fundamentação:
Reputo, de partida, que o feito se encontra apto para
julgamento, já que foram resolvidas todas as questões controvertidas fixadas na
decisão saneadora, inexistindo qualquer empecilho para a solução meritória do
caso, respeitando, nesse ínterim, o contraditório, a ampla defesa, e o devido
processo legal (formal e substancial).
Não havendo questões processuais pendentes, preliminares ou
prejudiciais a serem enfrentadas, passo à análise do mérito próprio da pendenga
judicial instalada. A parte autora alega que trabalhou em atividade rural (polivalente,
boia-fria ou diarista) e que esse período deveria ser averbado para, somado aos
demais vínculos empregatícios, propiciar a concessão da aposentadoria por tempo
de contribuição.
O benefício previdenciário de aposentadoria por tempo de
contribuição, que encontra previsão constitucional no artigo 201, § 7o, da Carta da
República, é garantido ao segurado que completar 35 (trinta e cinco) anos de
contribuição, se homem, e 30 (trinta) anos, se mulher.
São requisitos de tal benefício, o tempo de contribuição, na
forma anteriormente exposta e carência.
A carência para o benefício de aposentadoria por tempo de
contribuição é de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais, devendo ser observada a
tabela de transição do artigo 142 da LBPS, para os segurados já filiados à Previdência
Social até 24 de julho de 1991.
Nos casos de aposentadoria por tempo de
serviço/contribuição, o art. 55, § 2º, da Lei n.º 8.213/91, permite o aproveitamento
do tempo de atividade rural, quando anterior à sua vigência, independentemente
do recolhimento das respectivas contribuições previdenciárias e exceto para efeito
de carência.
Aliás, a súmula 24, da Turma Nacional de Uniformização dos
Juizados Especiais Federais, dispõe que: O tempo de serviço do segurado
trabalhador rural anterior ao advento da Lei nº 8.213/91, sem o recolhimento de
contribuições previdenciárias, pode ser considerado para a concessão de benefício
previdenciário do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), exceto para efeito
de carência, conforme a regra do art. 55, §2º, da Lei nº 8.213/91.
Contudo, para utilização do período posterior a vigência
da Lei 8.213 de 24 de julho de 1991, para todos os fins RGPS (v.g.
aposentadoria por tempo de contribuição), é imprescindível o recolhimento
das contribuições.
No que tange ao termo inicial dessas contribuições,
tratando-se de tributo para custeio do sistema de benefícios da Previdência
Social como integrante da espécie contribuição social, a sua incidência deve
observar o ditame do art. 195, §6.º, da Constituição Federal, ou seja, é exigível
após 90 (noventa) dias da data da publicação da lei que as instituiu. O art.
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184, inc. V, do Decreto n.º 2.172/97 e no art. 127, inc. V, do Decreto n.º
3.048/1999, expressamente refere que o tempo de contribuição do segurado
trabalhador rural anterior à competência de novembro de 1991 será computado.
Desta forma, possível a extensão daquela data até 31.10.1991.
O tempo de serviço rural posterior a vigência da Lei 8.213/91,
sem as respectivas contribuições previdenciárias, podem ser computadas
somente para os fins do art. 39, inciso I, deste diploma.
O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito ao período que
a autora alega ter desenvolvido atividade rural, desde os 14 (quatorze) anos de
idade, período este compreendido de 02.02.1974 a 21.03.1993.
Segundo se extrai da lei previdenciária e pelo que já está
consolidado na jurisprudência do TRF4, é devido o reconhecimento do tempo de
serviço rural, em regime de economia familiar, a partir dos 12 (doze) anos de idade
e desde que demonstrado através de início de prova material, complementado por
prova testemunhal idônea.
Nesse sentido:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE
CONTRIBUIÇÃO/SERVIÇO. REQUISITOS. ATIVIDADE RURAL
ANTERIOR AOS 14 ANOS DE IDADE. ARRIMO DE FAMÍLIA.
DESNECESSIDADE. CONTRIBUIÇÕES. DESNECESSIDADE.
INÍCIO DE PROVA MATERIAL. 1. É devido o reconhecimento do
tempo de serviço rural, em regime de economia familiar, quando
comprovado mediante início de prova material corroborado por
testemunhas. 2. Comprovado o exercício da atividade rural, em
regime de economia familiar, no período anterior aos 14 anos, é de
ser reconhecido para fins previdenciários o tempo de serviço
respectivo. Precedentes do STJ. 3. A Lei de Benefícios da
Previdência Social expressamente assegurou a contagem do tempo
de serviço rural anterior à sua vigência, prestado por qualquer
membro do grupo familiar, para fins de aposentadoria por tempo
de serviço/contribuição (§ 2.º do art. 55 da LBPS) . 4. Não sendo caso
de contagem recíproca, o art. 55, § 2.º, da Lei n. 8.213/91 permite o cômputo do
tempo de serviço rural, anterior à data de início de sua vigência, para fins de
aposentadoria por tempo de serviço ou contribuição, independentemente do
recolhimento das contribuições a ele correspondentes, exceto para efeito de carência. 5.
Comprovado o tempo de serviço/contribuição suficiente e implementada a carência
mínima, é devida a aposentadoria por tempo de serviço/contribuição integral,
computado o tempo de serviço até a DER, a contar da data do requerimento
administrativo, nos termos do art. 54 c/c art. 49, II, da Lei n. 8.213/91. (TRF4,
AC 0000283-98.2010.404.9999, Sexta Turma, Relatora Eliana Paggiarin
Marinho, D.E. 25/07/2011).
exigido em lei por qualquer outro meio de prova idôneo, dentre elas a testemunhal. 2.
A valoração da prova testemunhal da atividade de trabalhador
rural é válida se apoiada em início razoável de prova material,
assim considerado o Título de Eleitor, onde consta expressamente
sua profissão. 3. Recurso conhecido e provido (STJ - REsp: 246060 SP
2000/0006156-5, Relator: Ministro EDSON VIDIGAL, Data de Julgamento:
28/03/2000, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJ 02.05.2000
p. 175).
voltando a trabalhar na roça depois de sair de lá; que não sabe o que o autor faz hoje
em dia”.
3. Dispositivo:
Ante o exposto, resolvendo esse processo de Ação
Previdenciária de Concessão de Aposentadoria por Tempo de Contribuição movida
por Luiz Fernandes contra Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, com
resolução de mérito, nos termos do art. 487, I, do NCPC, julgo parcialmente
procedente os pedidos formulados na inicial para os fins de:
a) averbar como tempo de atividade rural para todos os fins
previdenciários, em favor da parte autora os períodos compreendidos entre
02.02.1974 a 31.10.1991, equivale à 17 (dezessete) anos e 08 (oito) meses e 29
(vinte e nove) dias de tempo de serviço/contribuição;
b) conceder o benefício de aposentadoria por tempo de
contribuição integral a parte autora, com data de início de benefício (DIB) em
11.05.2017, ou seja, data do requerimento administrativo, acrescido de juros legais
desde a citação e correção monetária pelo índice fixado abaixo, dada a natureza
alimentar da verba, a partir do vencimento de cada prestação (Súmulas nºs 43 e 148
do STJ).
Nessa quadra, lembro que a demanda foi proposta em
05.03.2018, depois, portanto, da Lei n.º 11.690/2009, que alterou as regras de juros
de mora e correção monetária.
Não se pode pretender, porém a incidência indiscriminada dos
consectários legais, cabendo a adequação dos cálculos àquilo que já decidido sobre
o tema pelo STF e pelo TJPR.
Nesse espeque, há recente decisão do TJPR acerca de tais
temas:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO
EXTRAJUDICIAL. HONORÁRIOS ADVOGADO DATIVO.
DECISÃO QUE ACOLHEU PARCIALMENTE A EXCEÇÃO DE
PRÉEXECUTIVIDADE. PRESENÇA DE TÍTULO EXECUTIVO.
ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. CORREÇÃO MONETÁRIA.
DECISÃO CORRETA (PELO IPCA, CONTADO DO
ARBITRAMENTO). TERMO INICIAL DOS JUROS DE MORA.
CITAÇÃO. PERÍODO DE GRAÇA, COMPREENDIDO ENTRE A
HOMOLOGAÇÃO DO CÁLCULO E A EXPEDIÇÃO DO
PRECATÓRIO OU RPV. NÃO INCIDÊNCIA. TERMO INICIAL
DOS JUROS ALTERADO DE OFÍCIO. 1. Na execução de honorários
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não se justifica a incidência do art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela
Lei 11.960/2009), nem para compensação da mora nem para remuneração do
capital. 3.2. Condenações judiciais de natureza previdenciária. As
condenações impostas à Fazenda Pública de natureza previdenciária sujeitam-se à
incidência do INPC, para fins de correção monetária, no que se refere ao período
posterior à vigência da Lei 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na Lei
8.213/91. Quanto aos juros de mora, incidem segundo a remuneração oficial da
caderneta de poupança (art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação dada pela Lei n.
11.960/2009). 3.3. Condenações judiciais de natureza tributária. A
correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na repetição de indébitos
tributários devem corresponder às utilizadas na cobrança de tributo pago em atraso.
Não havendo disposição legal específica, os juros de mora são calculados à taxa de
1% ao mês (art. 161, § 1º, do CTN). Observada a regra isonômica e havendo
previsão na legislação da entidade tributante, é legítima a utilização da taxa Selic,
sendo vedada sua cumulação com quaisquer outros índices. 4. Preservação da coisa
julgada. Não obstante os índices estabelecidos para atualização monetária e
compensação da mora, de acordo com a natureza da condenação imposta à Fazenda
Pública, cumpre ressalvar eventual coisa julgada que tenha determinado a aplicação de
índices diversos, cuja constitucionalidade/legalidade há de ser aferida no caso concreto
(retirado de https://goo.gl/9AcXxr). (grifos meus).
inferior a mil salários mínimos, não estando, portanto, a sentença sujeita a reexame
necessário. 5. Considerando a substancial mudança do patamar mínimo da
condenação para submeter as sentenças judiciais à remessa necessária, impõe-se
reconhecer que, doravante, o duplo grau obrigatório será a exceção, especialmente nas
ações previdenciárias, o que impõe também responsabilidade ao INSS de demonstrar
concretamente as hipóteses em que deverá ocorrer o reexame. (TRF4, REOAC n.º
0012316-13.2016.404.9999, 5ª Turma, Rel.ª Taís Schilling Ferraz, j. em
31.01.2017).