Vous êtes sur la page 1sur 16

PODER JUDICIÁRIO

Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

SENTENÇA

Autos nº 000711-13.2018.8.16.0047
Ação Previdenciária de Concessão de Aposentadoria por Tempo de
Contribuição
Autor(a): Luiz Fernandes
Réu: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS

1. Relatório:
A parte autora, nominada e qualificada na inicial, ajuizou a
presente ação previdenciária contra o réu, também nominado e qualificado,
arguindo, em síntese, que: a) desde a adolescência executou suas atividades laborais
nas terras de seu pai; b) requereu, junto à autarquia o benefício de aposentadoria
por tempo de contribuição, com averbação tempo de serviço rural, que foi
indeferido; c) preenche os requisitos necessários para a concessão de aposentadoria
por tempo de contribuição.
Pediu, ao final, a procedência da pretensão aduzida, para que
se determine ao INSS que proceda a averbação do tempo de serviço rural do autor,
em regime de economia familiar, na condição de segurado especial, o período de
02.02.1974 a 21.03.1993; a condenação do INSS a conceder o benefício de
aposentadoria por tempo de contribuição à parte autora, tendo como início de
benefício a data do requerimento administrativo 11.05.2017, bem como ao
pagamento das parcelas vencidas, acrescidas de correção monetária a partir do
vencimento de cada prestação até a efetiva liquidação, respeitada a prescrição
quinquenal e ao pagamento de honorários advocatícios.
Atribuiu à causa o valor de R$75.600,00. Juntou os
documentos de seq. 1.2-1.18.
Ao autor foi determinado que apresentasse o comprovante de
residência atualizado em seu nome (seq. 12.1; 22.1) decisão cumprida em seq. 25.1-
25.2.
O feito foi recebido, determinando-se, em sequência, a citação
do INSS (seq. 27.1).
O réu citado (seq. 42.0), apresentou contestação (seq. 44.1)
alegando, em resumo, a comprovação da atividade rural deve ser feita com
observância das regras inseridas os arts. 55, § 3º, da Lei 8.213/91 e que o pedido da
parte autora não merece prosperar.
Bateu-se, ao final, pela improcedência dos pedidos feitos na
exordial.
Juntou documentos de seqs. 44.2-44.5.
A parte autora apresentou impugnação à contestação (seq.
48.1), na qual repisou o quanto constante em sua peça de abertura.
O feito foi saneado, decisão na qual foram fixados os pontos
controvertidos, deliberou-se sobre as provas (seq. 58.1), designando-se, em
sequência, audiência de instrução e julgamento, a qual foi realizada na presente data.
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

Relatei. Decido.

2. Fundamentação:
Reputo, de partida, que o feito se encontra apto para
julgamento, já que foram resolvidas todas as questões controvertidas fixadas na
decisão saneadora, inexistindo qualquer empecilho para a solução meritória do
caso, respeitando, nesse ínterim, o contraditório, a ampla defesa, e o devido
processo legal (formal e substancial).
Não havendo questões processuais pendentes, preliminares ou
prejudiciais a serem enfrentadas, passo à análise do mérito próprio da pendenga
judicial instalada. A parte autora alega que trabalhou em atividade rural (polivalente,
boia-fria ou diarista) e que esse período deveria ser averbado para, somado aos
demais vínculos empregatícios, propiciar a concessão da aposentadoria por tempo
de contribuição.
O benefício previdenciário de aposentadoria por tempo de
contribuição, que encontra previsão constitucional no artigo 201, § 7o, da Carta da
República, é garantido ao segurado que completar 35 (trinta e cinco) anos de
contribuição, se homem, e 30 (trinta) anos, se mulher.
São requisitos de tal benefício, o tempo de contribuição, na
forma anteriormente exposta e carência.
A carência para o benefício de aposentadoria por tempo de
contribuição é de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais, devendo ser observada a
tabela de transição do artigo 142 da LBPS, para os segurados já filiados à Previdência
Social até 24 de julho de 1991.
Nos casos de aposentadoria por tempo de
serviço/contribuição, o art. 55, § 2º, da Lei n.º 8.213/91, permite o aproveitamento
do tempo de atividade rural, quando anterior à sua vigência, independentemente
do recolhimento das respectivas contribuições previdenciárias e exceto para efeito
de carência.
Aliás, a súmula 24, da Turma Nacional de Uniformização dos
Juizados Especiais Federais, dispõe que: O tempo de serviço do segurado
trabalhador rural anterior ao advento da Lei nº 8.213/91, sem o recolhimento de
contribuições previdenciárias, pode ser considerado para a concessão de benefício
previdenciário do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), exceto para efeito
de carência, conforme a regra do art. 55, §2º, da Lei nº 8.213/91.
Contudo, para utilização do período posterior a vigência
da Lei 8.213 de 24 de julho de 1991, para todos os fins RGPS (v.g.
aposentadoria por tempo de contribuição), é imprescindível o recolhimento
das contribuições.
No que tange ao termo inicial dessas contribuições,
tratando-se de tributo para custeio do sistema de benefícios da Previdência
Social como integrante da espécie contribuição social, a sua incidência deve
observar o ditame do art. 195, §6.º, da Constituição Federal, ou seja, é exigível
após 90 (noventa) dias da data da publicação da lei que as instituiu. O art.
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

184, inc. V, do Decreto n.º 2.172/97 e no art. 127, inc. V, do Decreto n.º
3.048/1999, expressamente refere que o tempo de contribuição do segurado
trabalhador rural anterior à competência de novembro de 1991 será computado.
Desta forma, possível a extensão daquela data até 31.10.1991.
O tempo de serviço rural posterior a vigência da Lei 8.213/91,
sem as respectivas contribuições previdenciárias, podem ser computadas
somente para os fins do art. 39, inciso I, deste diploma.
O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito ao período que
a autora alega ter desenvolvido atividade rural, desde os 14 (quatorze) anos de
idade, período este compreendido de 02.02.1974 a 21.03.1993.
Segundo se extrai da lei previdenciária e pelo que já está
consolidado na jurisprudência do TRF4, é devido o reconhecimento do tempo de
serviço rural, em regime de economia familiar, a partir dos 12 (doze) anos de idade
e desde que demonstrado através de início de prova material, complementado por
prova testemunhal idônea.
Nesse sentido:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE
CONTRIBUIÇÃO/SERVIÇO. REQUISITOS. ATIVIDADE RURAL
ANTERIOR AOS 14 ANOS DE IDADE. ARRIMO DE FAMÍLIA.
DESNECESSIDADE. CONTRIBUIÇÕES. DESNECESSIDADE.
INÍCIO DE PROVA MATERIAL. 1. É devido o reconhecimento do
tempo de serviço rural, em regime de economia familiar, quando
comprovado mediante início de prova material corroborado por
testemunhas. 2. Comprovado o exercício da atividade rural, em
regime de economia familiar, no período anterior aos 14 anos, é de
ser reconhecido para fins previdenciários o tempo de serviço
respectivo. Precedentes do STJ. 3. A Lei de Benefícios da
Previdência Social expressamente assegurou a contagem do tempo
de serviço rural anterior à sua vigência, prestado por qualquer
membro do grupo familiar, para fins de aposentadoria por tempo
de serviço/contribuição (§ 2.º do art. 55 da LBPS) . 4. Não sendo caso
de contagem recíproca, o art. 55, § 2.º, da Lei n. 8.213/91 permite o cômputo do
tempo de serviço rural, anterior à data de início de sua vigência, para fins de
aposentadoria por tempo de serviço ou contribuição, independentemente do
recolhimento das contribuições a ele correspondentes, exceto para efeito de carência. 5.
Comprovado o tempo de serviço/contribuição suficiente e implementada a carência
mínima, é devida a aposentadoria por tempo de serviço/contribuição integral,
computado o tempo de serviço até a DER, a contar da data do requerimento
administrativo, nos termos do art. 54 c/c art. 49, II, da Lei n. 8.213/91. (TRF4,
AC 0000283-98.2010.404.9999, Sexta Turma, Relatora Eliana Paggiarin
Marinho, D.E. 25/07/2011).

Registre-se que a controvérsia acerca da comprovação da


atividade em apreço deve ser analisada à luz do disposto no artigo 55, § 3º, da Lei
n° 8.213/91, em que preceitua que o tempo de serviço rural para fins
previdenciários deve ser comprovado com início de prova material, não sendo
admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de
força maior ou caso fortuito.
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

Este é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, através


da Súmula 149, que dispõe:
A prova exclusivamente testemunhal não basta à comprovação da atividade de
rurícola, para efeito da obtenção de benefício previdenciário.

Ressalto que a jurisprudência, mormente a do Tribunal


Regional Federal da 4a Região e do Superior Tribunal de Justiça, já se consolidou no
sentido de que em se tratando de trabalhador rural "boia-fria", a exigência de
início de prova material para efeito de comprovação do exercício da atividade
rurícola deve ser abrandada, podendo, inclusive, ser dispensada em casos
extremos, em razão da informalidade com que é exercida a profissão e da
dificuldade na comprovação documental do exercício da atividade rural nessas
condições.
O artigo 106, da Lei n° 8.213/91, enumera os documentos
aptos à demonstração do exercício da atividade rural, contudo, é entendimento
assente que tal rol é meramente exemplificativo, tendo em vista que outros
documentos, ali não arrolados, podem servir como início de prova material, que,
juntamente com a prova oral, possibilite um juízo de valor seguro acerca dos fatos
que se pretende comprovar.
Neste sentido:
PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. APOSENTADORIA POR IDADE. TRABALHADORA
RURAL. ART. 106 DA LEI N.º 8.213/91. ROL DE DOCUMENTOS
EXEMPLIFICATIVO. CERTIDÃO DE ÓBITO DO CÔNJUGE
LAVRADOR. CERTIDÃO DE CADASTRO DE IMÓVEL RURAL
DE EX-PATRÃO. INÍCIO DE PROVA MATERIAL
CORROBORADO POR IDÔNEA PROVA TESTEMUNHAL.
AMPLIAÇÃO DA EFICÁCIA PROBATÓRIA. COMPROVAÇÃO
DO TRABALHO RURÍCOLA POR TODO O PERÍODO DE
CARÊNCIA. PRECEDENTES. DECISÃO AGRAVADA
MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 1. O rol de
documentos descrito no art. 106 da Lei n.º 8.213/91 é meramente exemplificativo, e
não taxativo, podendo ser aceitos como início de prova material, para fins de concessão
de aposentadoria rural por idade, documentos como a Certidão de óbito do cônjuge
lavrador da requerente do benefício e o Certificado de Cadastro de Imóvel Rural -
CCIR de seu ex-patrão, desde que tais documentos sejam corroborados por robusta
prova testemunhal. 2. É prescindível que o início de prova material se refira a todo
período de carência legalmente exigido, se prova testemunhal for capaz de ampliar sua
eficácia probatória, como ocorre na hipótese. 3. Na ausência de fundamento relevante
que infirme as razões consideradas no julgado agravado, deve ser mantida a decisão
por seus próprios fundamentos. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp
944.487/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado
em 20/11/2007, DJ 17/12/2007, p. 330).

PREVIDENCIÁRIO. TRABALHADOR RURAL.


APOSENTADORIA ESPECIAL POR IDADE. INÍCIO DE PROVA
MATERIAL. 1. O início razoável de prova material, prescrito pela Lei 8.213/91
como condição para o reconhecimento do tempo de serviço, rural ou urbano, pode se
limitar à atividade profissional referida, conquanto se comprove o período mínimo
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

exigido em lei por qualquer outro meio de prova idôneo, dentre elas a testemunhal. 2.
A valoração da prova testemunhal da atividade de trabalhador
rural é válida se apoiada em início razoável de prova material,
assim considerado o Título de Eleitor, onde consta expressamente
sua profissão. 3. Recurso conhecido e provido (STJ - REsp: 246060 SP
2000/0006156-5, Relator: Ministro EDSON VIDIGAL, Data de Julgamento:
28/03/2000, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJ 02.05.2000
p. 175).

Como bem ensina Marisa Ferreira dos Santos, em sua obra


"Direito Previdenciário Esquematizado", com a coordenação de Pedro Lenza, 3ª.
edição, de acordo com a Lei n. 12.618/2012, São Paulo, editora Saraiva, 2013:
É raro os trabalhadores rurais terem os documentos exigidos pelo art. 106, pois, em
sua maioria, estão no mercado informal de trabalho. É conhecida a situação dos
"boias-frias", aliciados para trabalhos temporários, sem conseguir anotação do
contrato de trabalho na CTPS.

Ressalta-se que os documentos colacionados com o fim de


comprovar o exercício da atividade no período postulado devem ser
contemporâneos à época dos fatos que se pretende comprovar, mesmo que
parcialmente.
A propósito:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL. ATIVIDADE
LABORAL. NÃO COMPROVAÇÃO. AUSÊNCIA DE PROVA
MATERIAL NÃO CONTEMPORÂNEA À ÉPOCA DOS FATOS.
REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. IMPOSSIBILIDADE. 1.
Conquanto não se exija a contemporaneidade da prova material durante todo o
período que se pretende comprovar o exercício de atividade rural, deve haver ao menos
um início razoável de prova material contemporânea aos fatos alegados, admitida a
complementação da prova mediante depoimentos de testemunhas. 2. Na hipótese, a
Corte regional consignou que "se conclui que as provas produzidas nos autos não se
revelaram hábeis à comprovação do exercício de atividade rural pelo período exigido
pela legislação previdenciária em comento". A revisão desse entendimento implica
reexame de fatos e provas, obstado pelo teor da Súmula 7/STJ. Agravo interno
improvido. (AgInt no AREsp 917.977/PE, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/08/2016, DJe
18/08/2016).

O entendimento consolidado pela Primeira Seção do STJ, no


julgamento do REsp 1321493/PR, submetido ao rito dos recursos repetitivos, Rel.
Min. Herman Benjamin, é no sentido de que, considerando a inerente dificuldade
probatória da condição de trabalhador campesino, a apresentação de prova material
somente sobre parte do lapso temporal pretendido não implica violação da Súmula
149/STJ, cuja aplicação é mitigada se a reduzida prova material for complementada
por idônea e robusta prova testemunhal.
Ademais, a Súmula 577, do STJ elenca que:
É possível reconhecer o tempo de serviço rural anterior ao documento mais antigo
apresentado, desde que amparado em convincente prova testemunhal colhida sob o
contraditório.
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

Como início de prova material de sua atividade rural a parte


autora instruiu seu pedido com os seguintes documentos:
a) cópia da certidão de casamento dos genitores da parte
autora, ocorrido em 18.04.1936, constando a profissão de seu genitor como
lavrador e de sua genitora como doméstica (seq. 1.6);
b) cópia da certidão de nascimento da filha da parte autora,
Izabela Cristina Fernandes, nascida em 21.07.1993, constando a profissão de seu
genitor (parte autora) como lavrador e de sua genitora como funcionária pública
(seq. 1.9);
c) cópia da matrícula de imóvel rural sob o nº 917 no registro
de imóveis, constando a propriedade do genitor da parte autora em 04.12.1978,
posteriormente adquirido pelo autor a título de herança (seq. 1.10);
d) cópia de notas de produtor rural em nome da parte autora
emitidas em 12.06.1990 e 17.03.1991 (seq. 1.11, fls. 1-2 do Projudi);
e) cópia de uma notícia publicada pelo Jornal de Londrina, em
01.04.1991, constando a profissão do autor como agricultor (seq. 1.11, fls. 3 do
Projudi).
Os documentos juntados podem ser tidos como início de
prova documental da atividade agrícola desenvolvida pela parte autora, visto que
apresenta expressamente sua ocupação e de seu genitor como lavrador.
Ressalta-se que a Terceira Seção do Superior Tribunal de
Justiça já se manifestou no sentido de ser possível a utilização de documentos em
nome de terceiros (como marido e genitores), para efeito de comprovação da
atividade rural (Precedente: Resp. nº 155.300-SP, Rel. Min. José Dantas, DJU,
Seção I, de 25.09.1998, p. 52).
Neste sentido:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE.
RURÍCOLA. ATIVIDADE RURAL. COMPROVAÇÃO. ROL DE
DOCUMENTOS EXEMPLIFICATIVO. ART. 106 DA LEI 8.213/91.
DOCUMENTOS EM NOME DE TERCEIRO. INÍCIO DE PROVA
MATERIAL. CARÊNCIA. ART. 143 DA LEI 8.213/91.
DEMONSTRAÇÃO. EXERCÍCIO DE ATIVIDADE URBANA POR
MEMBRO DA FAMÍLIA. NÃO DESCARACTERIZAÇÃO DO
REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO. I - O rol de documentos hábeis à comprovação do exercício de
atividade rural, inscrito no art. 106, parágrafo único da Lei 8.213/91, é meramente
exemplificativo, e não taxativo, sendo admissíveis, portanto, outros documentos além
dos previstos no mencionado dispositivo. II - Na hipótese dos autos, houve o
necessário início de prova material, pois a autora apresentou
documentos em nome do marido, o que também lhe aproveita,
sendo despicienda a documentação em nome próprio, nos termos
da jurisprudência desta Corte. III - Consoante dispõe o artigo 143 da Lei
8.213/91, o trabalhador rural enquadrado como segurado obrigatório, na forma do
artigo 11, VII da Lei em comento, pode requerer a aposentadoria por idade, no valor
de um salário mínimo, durante quinze anos, contados a partir da data de vigência
desta Lei, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que descontínua, o
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

que restou comprovado pela Autora. IV - Este Superior Tribunal de Justiça


considera que o exercício de atividade remunerada por um dos membros da família,
mesmo que urbana, não descaracteriza a condição de segurado especial dos demais. V
- Agravo interno desprovido. (STJ - AgRg nos EDcl no REsp: 1132360 PR
2009/0061937-0, Relator: Ministro GILSON DIPP, Data de Julgamento:
04/11/2010, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe
22/11/2010). Grifei.

Além da prova documental carreada aos autos, a prova


testemunhal produzida em audiência de instrução foi determinante para
demonstração do trabalho rural exercido pela parte autora, nos períodos de
02.02.1974 a 21.03.1993.
Em seu depoimento pessoal a autora disse:
“Que nasceu na roça; que a propriedade era de seu pai; que a propriedade ficava em
São Sebastião da Amoreira; que o sítio chamava água escura; que na época plantava
algodão, milho, feijão, e tinham umas vacas leiteiras, que vendiam na cidade; que a
propriedade existe até hoje; que hoje a propriedade é dos herdeiros; que ela tem 8
alqueires; que seu pai faleceu em 1974; que seu irmão mais velho tomou conta dos
negócios; que seu irmão se chama Pedro José Fernandes; que desde os 9 anos ajudava
seu pai; que tratava do gado; que roçava pasto, carpia algodão; que trabalha
manualmente; que utilizava animal para toca lavoura; que só a família trabalhava
na propriedade; que são 13 irmãos; que contratavam gente na colheita; que eram
boias-frias; que o pessoal ia automaticamente procurar as fazendas na época das
colheitas; que seu irmão quem pagava; que seu pai faleceu ele tinha 14 anos; que ficou
ajudando seu irmão até 1993; que em 1993 foi trabalhar na cidade; que primeiro foi
ser vigilante no Banestado; que depois de 1993 não voltou para a roça; que ordenha o
gado e levava o leite para vender na cidade; que vendia o leite de porta em porta; que
dava para se sustentar tirando o leite; que o valor da venda do leite era entregue para
sua mãe; que no tempo de folga ajudava na fazenda; que entregava o leite de manhã,
e de tarde passava veneno, carpia, raleava algodão; que de 19974 a 1993 não
trabalhou na cidade; que a propriedade possui 8 alqueires, e uma parte dela,
provavelmente 3 alqueires, tão sendo loteados; que contratavam mais de 10 pessoas
na época da colheita; que a colheita durava 2 meses, e acontecia uma vez por ano; que
não sabe o número exato de pessoas, mas tinham mais de 10 e menos de 20
pessoas”.

Com efeito, a testemunha José Cilso Cinel disse:


“Que é frentista desde 1999; que o sítio do pai do autor fica na estrada indo para
Alto Alegre, descendo do Hospital, a uns 2 kms da cidade; que na época do algodão,
o autor trabalhava com o algodão, no preparo e na colheita; que o algodão colhe de
março até junho-julho, por aí; que passado o período de colheita, há prejuízo para o
agricultor; que é necessário contratar pessoas para ajudar na colheita do algodão; que
há troca de serviços entre vizinhos; que faziam serviços entre vizinhos; que o autor
tirava leite e entregava na cidade; que tinham um pasto no sítio; que indo para a
cidade passava na porta do autor; que a estrada cruza no meio do sítio do autor; que
o sítio do pai do autor teria algo como 6 alqueires; que plantavam milho; que já
trocou serviços com o autor; que colheu algodão; que nunca recebeu valores em
dinheiro; que não lembra se tinha bastante gente ajudando na colheita; que com
irmãos do autor, no máximo tinham 10 pessoas ajudando; que o autor saiu do sítio
quando se casou, e isso ocorreu de 1990 para frente; que não lembra do autor
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

voltando a trabalhar na roça depois de sair de lá; que não sabe o que o autor faz hoje
em dia”.

A testemunha Mario Kazuo Deguchi afirmou:


“Que mora no sítio Deguchi; que isso fica na Água Escura; que tem 78 anos; que
mora no sítio Deguchi desde 1950; que o pai do autor já tinha sítio no mesmo local
na época em que foi para lá; que o autor nasceu no sítio do pai; que o autor ajudava
o pai desde criança, desde pequenininho; que via o autor trabalhando quando era
criança; que na época plantavam mais algodão, mas tinha de tudo, arroz, milho,
feijão; que o algodão tem uma época para ser colhido; que se passava a época de
colheita, perdia o algodão; que passava o tipo do algodão; que a família do autor era
em bastante gente; que eles davam conta da colheita; que a família do autor colhia
entre si; que os vizinhos trocavam serviços entre si; que o autor foi para a cidade em
1992-1993; que o autor foi para a cidade para trabalhar como vigilante; que já
trocou serviços com o pai; que foi capinar algodão; que de manhã, o autor ia para a
escola e depois voltava do serviço; que o pai do autor faleceu faz tempo; que depois que
ele faleceu, os irmãos que passaram a tomar conta; que tinha criação; que tinha vaca;
que não tinham umas 2-3 cabeças de vaca; que acha que isso era para o gasto; que
nunca viu o autor vendendo leite; que o seu sítio fica a uns 300 metros do do autor;
que o autor fazia de tudo que precisava na roça, passava veneno, carpia, raleava,
plantava”.

A testemunha Rivanil Luiz de Araújo asseverou:


“Que mora no sítio Ikeda; que o sítio fica na água do pavão; que conhece o autor
desde 1970 para frente; que nessa época passou a ser vizinho de sítio do autor; que
nessa época viu o autor trabalhando na propriedade; que a propriedade do autor tinha
pasto; que tinham poucas cabeças de gado; que dava para tirar 10-12 litros de leite;
que não sabe dizer se família vendia leite na cidade; que além de ordenhar, o autor
trabalhava de modo braçal na cidade; que na propriedade tinha arroz, feijão, milho, e
algodão, na época; que o algodão tem época de ser colhido; que se passar da época de
colheita, ele perde o valor; que todo mundo se ajuda; que sempre aparece alguém que a
pessoa colocava para trabalhar na propriedade na época da colheita; que não sabe
dizer quantas pessoas; que junto com seus irmãos dava uma força; que tinha mais
troca de serviço na região; que o autor deixou de trabalhar na roça e foi para a cidade
de 1993 para frente; que quase casou na mesma época; que casou 10 anos depois”.

Em sendo assim e, conforme explicado acima, é devida a


averbação do tempo de serviço rural prestado como tempo de serviço/contribuição
nos períodos de 02.02.1974 a 31.10.1991 para todos os fins previdenciários.
No que tange ao período posterior a 31.10.1991, não houve
recolhimento das contribuições, de modo que o tempo de serviço rural exercido,
não pode ser averbado para fins de concessão do benefício de aposentadoria por
tempo de contribuição.
Assim, o período a que faz jus à averbação 02.02.1974 a
31.10.1991, equivale à 17 (dezessete) anos e 08 (oito) meses e 29 (vinte e nove)
dias de tempo de serviço/contribuição.
Ressalto que a parte autora teve reconhecido
administrativamente de contribuições equivalentes a 18 (dezoito) anos, 10 (dez)
meses e 29 (vinte e nove) dias (seq. 44.5), o recolhimento de tais contribuições é
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

ponto incontroverso nos autos.


No caso em tela, somando-se o período de atividade rural
reconhecida em sentença (17 anos, 08 meses e 29 dias) ao período de atividade
reconhecida administrativamente (18 anos, 10 meses e 29 dias), corresponde a
totalidade de 36 (trinta e seis) anos e 07 (sete) meses e 28 (vinte e oito) dias
de tempo de serviço/contribuição.
Ante o exposto, tendo em consideração que a parte autora
comprovou o preenchimento dos requisitos legais, quais sejam, o implemento do
tempo de contribuição, impõe-se a procedência de seu pedido para o fim de ser-lhe
concedida a aposentadoria por tempo de contribuição.

3. Dispositivo:
Ante o exposto, resolvendo esse processo de Ação
Previdenciária de Concessão de Aposentadoria por Tempo de Contribuição movida
por Luiz Fernandes contra Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, com
resolução de mérito, nos termos do art. 487, I, do NCPC, julgo parcialmente
procedente os pedidos formulados na inicial para os fins de:
a) averbar como tempo de atividade rural para todos os fins
previdenciários, em favor da parte autora os períodos compreendidos entre
02.02.1974 a 31.10.1991, equivale à 17 (dezessete) anos e 08 (oito) meses e 29
(vinte e nove) dias de tempo de serviço/contribuição;
b) conceder o benefício de aposentadoria por tempo de
contribuição integral a parte autora, com data de início de benefício (DIB) em
11.05.2017, ou seja, data do requerimento administrativo, acrescido de juros legais
desde a citação e correção monetária pelo índice fixado abaixo, dada a natureza
alimentar da verba, a partir do vencimento de cada prestação (Súmulas nºs 43 e 148
do STJ).
Nessa quadra, lembro que a demanda foi proposta em
05.03.2018, depois, portanto, da Lei n.º 11.690/2009, que alterou as regras de juros
de mora e correção monetária.
Não se pode pretender, porém a incidência indiscriminada dos
consectários legais, cabendo a adequação dos cálculos àquilo que já decidido sobre
o tema pelo STF e pelo TJPR.
Nesse espeque, há recente decisão do TJPR acerca de tais
temas:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO
EXTRAJUDICIAL. HONORÁRIOS ADVOGADO DATIVO.
DECISÃO QUE ACOLHEU PARCIALMENTE A EXCEÇÃO DE
PRÉEXECUTIVIDADE. PRESENÇA DE TÍTULO EXECUTIVO.
ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. CORREÇÃO MONETÁRIA.
DECISÃO CORRETA (PELO IPCA, CONTADO DO
ARBITRAMENTO). TERMO INICIAL DOS JUROS DE MORA.
CITAÇÃO. PERÍODO DE GRAÇA, COMPREENDIDO ENTRE A
HOMOLOGAÇÃO DO CÁLCULO E A EXPEDIÇÃO DO
PRECATÓRIO OU RPV. NÃO INCIDÊNCIA. TERMO INICIAL
DOS JUROS ALTERADO DE OFÍCIO. 1. Na execução de honorários
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

fixados em favor dos advogados dativos, a legislação aplicável não condiciona o


pagamento à constituição de título executivo obtido em nova ação ordinária. 2. (...) no
caso em apreço, como a matéria aqui tratada não ostenta matéria tributária, os juros
moratórios devem ser calculados com base nos juros que recaem sobre a caderneta de
poupança, nos termos da regra do art. 1º-F, da Lei 9.494/97, com redação dada
pela Lei 11.960/99, sendo que a correção monetária deverá ser calculada com base
no IPCA, índice que melhor reflete a inflação acumulada no período" (STJ - AgRg
no AREsp 535406/RS. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO.
PRIMEIRA TURMA. J: 23/06/2015. DJe 04/08/2015). 3. São devidos
juros de mora desde a citação, suspendendo-se a sua cobrança entre a elaboração dos
cálculos e a expedição do RPV e incidindo novos juros de mora após ultrapassado o
prazo de 60 dias para cumprimento da obrigação prevista na RPV pelo ente
federado. RECURSO NÃO PROVIDO, POR MAIORIA. (TJPR, 5ª
Câmara Cível, AI 1.429.816-9, Rel. Des. Nilson Mizuta, j. em 15.12.2015).

Do corpo do acórdão, extraio o seguinte:


A r. decisão interlocutória condiz com o entendimento sedimentado nesse E. Tribunal
de Justiça. Como é cediço, recentemente o Supremo Tribunal Federal declarou a
inconstitucionalidade da EC 62/09, no âmbito das ADI's nº 4.357 e 4.425, e, por
arrastamento, também declarou inconstitucional a regra do §12 do art. 100 da CF, e
o art. 5º, da Lei 11.960/2009 que havia alterado o art. 1º-F, da Lei 9.494/97.
Entendeu o STF que a expressão "índice oficial de remuneração básica da caderneta
de poupança", que vem a ser a TR (Taxa Referencial), é inconstitucional, pois não
mede a inflação acumulada no período, não servindo, portanto, de parâmetro para
atualização dos débitos da Fazenda Pública. Pois bem, declarada a
inconstitucionalidade, o STF entendeu necessário modular os efeitos da declaração,
fazendo-o em 25.03.2015. Cabe também consignar, como já feito pelo eminente Juiz
Subtituto em Segundo Grau, Dr. Rogério Ribas, que "(...) a atualização monetária
dos dbéitos fazendários ocorre em dois momentos distintos. O primeiro se dá ao final
de conhecimento com o trânsito em julgado da decisão condenatória. Aqui está
compreendido o lapso entre o dano (ou o ajuizamento da demanda) e a
responsabilização da Administração Pública, devendo a atualização ocorrer nos
termos determinados na sentença. O segundo momento ocorre na fase da execução, na
etapa em que haverá a satisfação efetiva do crédito com o valor sendo entregue ao
credor. O lapso aqui albergado é contado da inscrição do crédito (precatório) e o
pagamento, sendo o cálculo de atualização da alçada do Presidente do Tribunal. A
modulação procedida pelo STF refere-se apenas ao segundo
momento, ou seja, levando em consideração apenas o período que
medeia a inscrição do precatório e o efetivo pagamento. Assim, a
atualização relativa ao primeiro período entre o dano e a condenação da Fazenda não
foi objeto da referida modulção, de modo que impende solucionar a questã enquanto
não há manifestação do STF a respeito do tema" (...) (TJPR - AP nº 1434531-4.
Rel. Dr. Rogério Ribas. 5ª Câmara Cível. J.: 10/11/2015. DJ: 1698
26/11/2015). Assim, o primeiro ponto a se destacar é que a referida modulação se
deu, especificamente, em relação ao regime de pagamento mediante precatórios (já
expedidos), deixando de abarcar a atualização das condenações impostas à Fazenda
Pública que ainda não foram objeto de expedição de precatório (não transitaram em
julgado). (...). Na decisão agravada foi fixado como termo a quo dos juros de mora o
trânsito em julgado da decisão que fixou os honorários do advogado dativo. Sobre o
termo inicial dos juros de mora, importante observar que um dos efeitos da citação é
constituir o devedor em mora, nos termos do art. 219 do Código de Processo Civil. A
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

previsão do art. 2º da Lei estadual nº 12.601/99, que define o prazo de 60 dias, a


contar do requerimento, para pagamento da obrigação de pequeno valor, é aplicável
para o caso de atraso no pagamento da RPV. (...). De modo que se trata de dois
juros com finalidades distintas. São devidos juros de mora desde a
citação, suspendendo-se a sua cobrança entre a elaboração dos
cálculos e a expedição do RPV e incidindo novos juros de mora
após ultrapassado o prazo de 60 dias sem o cumprimento da
obrigação prevista na RPV pelo ente federativo.

A decisão mencionada cita, em seu corpo, os seguintes


precedentes no que toca à questão dos juros: STJ, 1ª Turma, AgRg no REsp n.º
1.478.970, Rel.ª Min.ª Marga Tessler - Juíza Federal Convocada do TRF4 -, j, em
10.02.2015; TJPR, 5ª Câmara Cível, AC 1.029.923-1, Rel. Paulo Hoberto Hapner, j.
em 19.11.2013; e TJPR, 5ª Câmara Cível, AC 1.158.818-2, Rel. Rogério Ribas, j. em
25.02.2014.
Lado outro, no que concerne a correção monetária e aos juros
de mora, a questão da aplicação da Lei n.º 9.494/97, em especial seu art. 1º-F, com
a redação que lhe foi dada pela Lei n.º 11.960/2009, foi resolvida pelo SFT na QO
na ADI 4425, proferida em 25.03.2015.
Ali se disse, de modo claro, que, os efeitos prospectivos da
decisão proferida atingiriam os precatórios (ou RPVS) expedidos até a data
da decisão, de modo que dali em diante (i.e., de 26.03.2015 para frente),
deveriam seguir o Índice de Preços do Consumidor Amplo Especial (IPCA-
E), e os créditos tributários repetidos aos contribuintes deveriam observar os
mesmos critérios pelos quais a Fazenda Pública corrige seus débitos, verbis:
QUESTÃO DE ORDEM. MODULÇÃO TEMPORAL DOS EFEITOS
DE DECISÃO DECLARATÓRIA DE
INCONSTITUCIONALIDADE (LEI 9.868/92, ART. 27).
POSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE ACOMODAÇÃO
OTIMIZADA DE VALORES CONSTITUCIONAIS
CONFLITANTES. PRECEDENTES DO STF. REGIME DE
EXECUÇÃO DA FAZENDA PÚBLICA MEDIANTE
PRECATÓRIO. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 62/2009.
EXISTÊNCIA DE RAZÕES DE SEGURANÇA JURÍDICA QUE
JUSTIFICAM A MANUTENÇÃO TEMPORÁRIA DO REGIME
ESPECIAL NOS TERMOS EM QUE DECIDIDO PELO PLENÁRIO
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. (...) 3. Confere-se efícia
prospectiva à declação de inconstitucionalidade dos seguintes aspectos da ADI,
fixando como marco inicial a data de conclusão do julgamento da presente questão de
ordem (25.03.2015) e mantendo-se válidos os precatórios expedidos ou pagos até esta
data, a saber: (i) fica mantida a aplicação do índice oficial de
remuneração básica da caderneta de poupança (TR), nos termos
da Emenda Constitucional nº 62/2009, até 25.03.2015, data após a
qual (a) os créditos em precatórios deverão ser corrigidos pelo
Índice de Preços do Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e (b) os
precatórios tributários deverão observar os mesmos critérios pelos quais a Fazenda
Pública corrige seus créditos tributários (...). (STF, Pleno, ADI 4425 QO, Rel.
Min. Luiz Fux, j. em 25.03.2015). (grifos meus).
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

Entretanto, a questão da constitucionalidade do uso da TR


como índice de correção teve sua repercussão geral reconhecida no RE 870.947,
que já teve decisão de mérito. O reconhecimento dessa repercussão se deu
principalmente diante das intepretações que surgiram por ocasião da aplicação das
ações diretas acima citadas.
Nela, o STF decidiu, em duas teses, que:
O artigo 1º-F da Lei 9.494/1997, com a redação dada pela Lei 11.960/2009, na
parte em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a condenações da
Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos oriundos
de relação jurídico-tributária, aos quais devem ser aplicados os mesmos juros
de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito tributário, em respeito
ao princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput); quanto às
condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação
dos juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta
de poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o
disposto no artigo 1º-F da Lei 9.494/1997 com a redação dada pela Lei
11.960/2009.
O artigo 1º-F da Lei 9.494/1997, com a redação dada pela Lei 11.960/2009, na
parte em que disciplina a atualização monetária das condenações impostas à
Fazenda Pública segundo a remuneração oficial da caderneta de
poupança, revela-se inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao
direito de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que não se qualifica como
medida adequada a capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a
promover os fins a que se destina. (grifos meus).

Em reclamações recentes que vinham sendo apresentadas, o


STF afirmava que nas ADI’s a questão decidida ficou restrita à inaplicabilidade
da TR em relação ao período de tramitação dos precatórios (ou RPV), de
modo que a decisão de inconstitucionalidade por arrastamento ficou limitada à
pertinência lógica entre o art. 100, §12, da CF/88 e o art. 1º- F, da Lei n.º
9.494/97, na redação dada pelo art. 5º, da Lei n.º 11.960/2009. Essas reclamações,
por seu turno, vêm sendo decididas para reconhecer que o pronunciamento de
inconstitucionalidade se referiu somente à aplicação das correções para após
a expedição do precatório, indicando, inclusive, eventual modulação dos efeitos,
caso reconhecida a inconstitucionalidade da TR para correção dos débitos devidos
pela Fazenda (cf., dentre outros, Rcl 19.050, Rel. Min. Roberto Barroso; Rcl 21.147,
Rel.ª Min.ª Cármen Lúcia; Rcl 19.095, Rel. Min. Gilmar Mendes).
Dito isso, porém, não se pode ignorar e não aplicar a
conclusão exposta pelo STF no julgado acima referido, de modo que,
considerada inconstitucional a correção monetária com base na
remuneração da caderneta de poupança, cabível aplicar, aqui, o que lá
decidido. Não ignoro, ademais, que recentemente, em EDcl apresentados no RE
870.947, o Min. Luiz Fux concedeu excepcionais efeitos suspensivos, para obstar a
incidência do que decidido no Tema mencionado até decisão final a ser proferida
sobre a questão da modulação dos efeitos da tese fixada, o que, a rigor, não implica
óbices à aplicação do que determinado pelo Supremo nas ADI’s acima
mencionadas, notadamente diante do que abaixo fundamentado.
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

Por outro lado, recentemente também chegou ao


conhecimento desse magistrado decisão proferida pelo STJ no REsps n.º
1.492.221, 1.495.146, e 1.495.144 (Tema n.º 905 dos repetitivos do STJ, publicados
em 02.03.2018 e 20.03.2018), mas que, julgado como repetitivo, decidiu quais os
índices corretos para fins de aplicação às verbas devidas pela Fazenda
Pública.
Fixaram-se, assim, as seguintes teses:
1. Correção monetária: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela Lei
11.960/2009), para fins de correção monetária, não é aplicável nas condenações
judiciais impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza. 1.1.
Impossibilidade de fixação apriorística da taxa de correção monetária. No presente
julgamento, o estabelecimento de índices que devem ser aplicados a título de correção
monetária não implica pré-fixação (ou fixação apriorística) de taxa de atualização
monetária. Do contrário, a decisão baseia-se em índices que, atualmente, refletem a
correção monetária ocorrida no período correspondente. Nesse contexto, em relação às
situações futuras, a aplicação dos índices em comento, sobretudo o INPC e o IPCA-
E, é legítima enquanto tais índices sejam capazes de captar o fenômeno inflacionário.
1.2. Não cabimento de modulação dos efeitos da decisão. A modulação dos efeitos da
decisão que declarou inconstitucional a atualização monetária dos débitos da Fazenda
Pública com base no índice oficial de remuneração da caderneta de poupança, no
âmbito do Supremo Tribunal Federal, objetivou reconhecer a validade dos precatórios
expedidos ou pagos até 25 de março de 2015, impedindo, desse modo, a rediscussão
do débito baseada na aplicação de índices diversos. Assim, mostra-se descabida a
modulação em relação aos casos em que não ocorreu expedição ou pagamento de
precatório. 2. Juros de mora: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela
Lei 11.960/2009), na parte em que estabelece a incidência de juros de mora nos
débitos da Fazenda Pública com base no índice oficial de remuneração da caderneta
de poupança, aplica-se às condenações impostas à Fazenda Pública, excepcionadas as
condenações oriundas de relação jurídico-tributária. 3. Índices aplicáveis a depender da
natureza da condenação. 3.1. Condenações judiciais de natureza
administrativa em geral. As condenações judiciais de natureza administrativa
em geral, sujeitam-se aos seguintes encargos: (a) até dezembro/2002: juros de mora
de 0,5% ao mês; correção monetária de acordo com os índices previstos no Manual de
Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de
janeiro/2001; (b) no período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à vigência
da Lei 11.960/2009: juros de mora correspondentes à taxa Selic, vedada a
cumulação com qualquer outro índice; (c) período posterior à vigência da Lei
11.960/2009: juros de mora segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança; correção monetária com base no IPCA-E. 3.1.1. Condenações
judiciais referentes a servidores e empregados públicos. As
condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos, sujeitam-se aos
seguintes encargos: (a) até julho/2001: juros de mora: 1% ao mês (capitalização
simples); correção monetária: índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça
Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001; (b)
agosto/2001 a junho/2009: juros de mora: 0,5% ao mês; correção monetária:
IPCA-E; (c) a partir de julho/2009: juros de mora: remuneração oficial da
caderneta de poupança; correção monetária: IPCA-E. 3.1.2. Condenações
judiciais referentes a desapropriações diretas e indiretas. No âmbito
das condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e indiretas existem regras
específicas, no que concerne aos juros moratórios e compensatórios, razão pela qual
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

não se justifica a incidência do art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela
Lei 11.960/2009), nem para compensação da mora nem para remuneração do
capital. 3.2. Condenações judiciais de natureza previdenciária. As
condenações impostas à Fazenda Pública de natureza previdenciária sujeitam-se à
incidência do INPC, para fins de correção monetária, no que se refere ao período
posterior à vigência da Lei 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na Lei
8.213/91. Quanto aos juros de mora, incidem segundo a remuneração oficial da
caderneta de poupança (art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação dada pela Lei n.
11.960/2009). 3.3. Condenações judiciais de natureza tributária. A
correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na repetição de indébitos
tributários devem corresponder às utilizadas na cobrança de tributo pago em atraso.
Não havendo disposição legal específica, os juros de mora são calculados à taxa de
1% ao mês (art. 161, § 1º, do CTN). Observada a regra isonômica e havendo
previsão na legislação da entidade tributante, é legítima a utilização da taxa Selic,
sendo vedada sua cumulação com quaisquer outros índices. 4. Preservação da coisa
julgada. Não obstante os índices estabelecidos para atualização monetária e
compensação da mora, de acordo com a natureza da condenação imposta à Fazenda
Pública, cumpre ressalvar eventual coisa julgada que tenha determinado a aplicação de
índices diversos, cuja constitucionalidade/legalidade há de ser aferida no caso concreto
(retirado de https://goo.gl/9AcXxr). (grifos meus).

Em sendo assim, os juros de mora, computados de acordo


com o art. 1º-F, da Lei n.º 9.494/97 (índice aplicável à remuneração da
caderneta de poupança), incidirão desde a data da citação na presente
demanda até a expedição do RPV ou precatório, quando, então, na hipótese
de RPV, se suspenderão pelo prazo estabelecido de período de graça, e, na
hipótese de não haver pagamento, voltarão a ser computados a partir do
primeiro dia subsequente ao final daquele prazo.
No pertinente aos juros moratórios, lembro que a decisão
do STF acerca da inconstitucionalidade do art. 1º-F, da Lei n.º 9.494/97 atingiu
somente as dívidas de natureza tributária; o presente caso, porém, trata de
obrigação que não ostenta essa estirpe.
Assim sendo, os juros deverão ser contados e calculados
na forma do art. 1º-F, da Lei n.º 9.494/97, aplicável à remuneração da caderneta
de poupança, com a redação dada pela Lei n.º 11.960/2009, na forma acima
fundamentada, a contar de citação.
Na forma da decisão acima referida, havendo
reconhecimento da inconstitucionalidade da consideração da remuneração
da poupança, para fins de atualização monetária, observe-se e aplique-se, para
todo o período, como decidido pelo STF e pelo STJ, o INPC, na forma da lei
11.430/2006.
Tendo em conta a sucumbência recíproca de cada parte e,
considerando que a parte autora não decaiu da parte mínima de seus pedidos (art.
86, §ún., do NCPC), dada, ademais, que após o advento do Estatuto da Advocacia
os honorários passaram a pertencer aos causídicos e não mais às partes, tornando-
se impossível mera compensação, já que não há identidade entre os sujeitos ativos e
passivos da obrigação (como, aliás, hoje consta no art. 85, §14º, do NCPC),
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

condeno a parte autora ao pagamento de 30% (trinta por cento) e a ré ao


pagamento de 70% (setenta por cento) das custas e despesas processuais, bem
como ao pagamento dos honorários advocatícios em favor dos advogados das
respectivas partes adversas, nas mesmas proporções, os quais fixo em 10% sobre o
valor atualizado da causa, na forma do art. 85, §3º, I, do NCPC, tendo em vista o
trabalho realizado pelo profissional, a pequena complexidade da lide e o mediano
tempo nela despendido.
Deixo de determinar a remessa necessária do presente feito, já
que, na forma do art. 496, §3º, I, do NCPC, somente estarão sujeitos à análise
imediata pelo segundo grau de jurisdição as condenações proferidas contra a União
que superem 1.000 salários mínimos. Soma-se à isso o fato de que a presente
decisão (a) determinou ao réu o pagamento de benefício, (b) estipulou a data a
partir do qual é devida a verba, e (c) aplicou os consectários legais.
Nessa linha, o TRF4 já deixou de conhecer da remessa
necessária em situações idênticas:
PREVIDENCIÁRIO. REMESSA NECESSÁRIA. CONDENAÇÃO
DE VALOR FACILMENTE DETERMINÁVEL. NÃO
CONHECIMENTO. AUXÍLIO-DOENÇA. TERMO INICIAL.
CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA. FASE DE
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DIFERIMENTO.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. Não está sujeita a reexame necessário
a sentença que condena a Fazenda Pública em quantia inferior a mil salários
mínimos (art. 496, §3º, do NCPC). 2. Se a sentença condena o INSS ao
pagamento de benefício de valor mínimo ou determinado nos autos, e define o período
a partir do qual são devidas as parcelas correspondentes, é possível, por simples
cálculos aritméticos, observados os critérios de correção monetária e juros definidos,
chegar-se ao montante da condenação, posicionando-o na data em que prolatada a
decisão. 3. Resultando da multiplicação do número de meses pelo valor da renda
mensal atualizada, com o acréscimo dos juros de mora, condenação manifestamente
inferior ao limite legal, não é caso de remessa necessária(...). (TRF4, ApelReex n.º
0014996-68.2016.404.9999, 5[ Turma, Rel.ª Taís Schilling Ferraz, j. em
31.01.2017).
AGRAVO INTERNO. REMESSA OFICIAL NÃO CONHECIDA.
CONDENAÇÃO INFERIOR A MIL SALÁRIOS MÍNIMOS.
DECISÃO LÍQUIDA. INCIDÊNCIA DO ART. 496, § 3º, I, DO
CPC.1. As sentenças proferidas contra a Fazenda Pública não estão sujeitas ao
duplo grau de jurisdição quando a condenação ou o proveito econômico obtido na
causa for de valor certo e líquido inferior a mil salários mínimos (CPC, art. 496,
§3º). 2. A sentença que condena ao pagamento de quantia que pode ser determinada
mediante cálculos aritméticos, a partir dos critérios por ela estabelecidos, como correção
monetária, juros, termo inicial do pagamento de parcelas vencidas, etc deve ser
considerada líquida e certa. Precedentes do STJ (REsp 937.082/MG). 3.
O legislador atribuiu liquidez à sentença condenatória ao permitir que o
credor deflagre diretamente os procedimentos para cumprimento do julgado, e
decidir pela supressão da própria necessidade de liquidação, de sentença, no caso de
valor aferível mediante cálculos simples e partir de critérios definidos, como os relativos
à correção monetária, juros de mora, termo inicial de pagamento de quantias e outros.
4. Hipótese em que o valor da condenação é facilmente determinável a partir dos
elementos já presentes nos autos e na sentença, e resulta manifestamente
PODER JUDICIÁRIO
Comarca de Assaí
Vara Cível e Anexos

inferior a mil salários mínimos, não estando, portanto, a sentença sujeita a reexame
necessário. 5. Considerando a substancial mudança do patamar mínimo da
condenação para submeter as sentenças judiciais à remessa necessária, impõe-se
reconhecer que, doravante, o duplo grau obrigatório será a exceção, especialmente nas
ações previdenciárias, o que impõe também responsabilidade ao INSS de demonstrar
concretamente as hipóteses em que deverá ocorrer o reexame. (TRF4, REOAC n.º
0012316-13.2016.404.9999, 5ª Turma, Rel.ª Taís Schilling Ferraz, j. em
31.01.2017).

Isso, portanto, e tendo em conta que a condenação foi


determinada a partir do requerimento administrativo, ocorrido em 11.05.2017, sem
considerar os consectários legais, somaria quinhão que, por simples cálculo
aritmético, atingiria, aproximadamente, 18 salários, devidos a parte autora a título
de atrasados.
Nem por extrapolação grosseira seria possível – com a
incidência dos juros e correção monetária – atingir o patamar de 1.000 salários
mínimos, de modo que, diante dessas circunstâncias deixo de determinar a
remessa necessária (que, com a alteração legal, como mencionado nas
decisões acima juntadas, se tornou exceção).
Publicada em audiência. Registre-se. Presentes intimados.
Evitando alegações posteriores de nulidade, determino a intimação do INSS, na
forma do art. 183, caput, do NCPC.
Assaí, 29 de abril de 2019

Alexandre Afonso Knakiewicz


Juiz Substituto

Vous aimerez peut-être aussi