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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR DO


MANDADO DE SEGURANÇA Nº 1004084-88.2016.8.11.0000 –
SEGUNDA TURMA DE CÂMARAS CÍVEIS REUNIDAS DE DIREITO
PRIVADO DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO
GROSSO.

Mandado de segurança nº 1004084-88.2016.8.11.0000

Impetrante: ESPÓLIO DE EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA BONINI

Autoridade coatora: Exmo. Sr. Des. DIRCEU DOS SANTOS

Litisconsorte passivo necessário: TIGRE INVESTIMENTOS S.A.

Objeto da petição: apresentação de impugnação à petição que altera a


causa petendi e o pedido do mandado de segurança, em grave violação ao
art. 329 do CPC.

TIGRE INVESTIMENTOS S.A., pessoa jurídica de


direito privado já devidamente qualificada nos autos do MANDADO DE
SEGURANÇA acima epigrafado, em que figura como impetrante O
ESPÓLIO DE EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA BONINI, representado
por sua inventariante Vanessa França Bonini Panico, tendo em vista a
petição protocolada pelo impetrante que altera substancialmente a causa
de pedir e o pedido veiculado no Mandado de Segurança 1004084-
88.2016.8.11.0000, Classe 120, vem, com o devido acato a Vossa
Excelência, com fundamento no art. 329 do Estatuto Processual,
MANIFESTAR-SE nos termos que seguem, haja vista os relevantes
motivos fáticos e fundamentos jurídicos que, de ora avante, passa
articuladamente a alinhar:
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PRELIMINARES ACERCA DO NÃO


CABIMENTO DO WRIT
Nobre Relator: o mandado de segurança
impetrado pelo Espólio de Evandro Alberto de Oliveira Bonini não tem a
menor condição de prosperar, uma vez que é manifestamente incabível a
impetração do mandamus em situações como a retratada no caso sub
judice, de modo que a litisconsorte passiva necessária reitera as
preliminares que foram arguidas na CONTESTAÇÃO, a saber:

a) A preliminar de carência da ação mandamental em razão da


inadequação da via eleita (carência por falta de interesse
processual), pois a medida cabível para atribuir efeito suspensivo
ao Recurso de Agravo Interno é a medida cautelar inominada e
não o mandado de segurança.

Com efeito, a jurisprudência pátria é


absolutamente uníssona no sentido de que a via adequada para atribuir
efeito suspensivo a recurso interposto – seja ele recurso especial, recurso
extraordinário, apelação, agravo interno (como é o caso) – é a MEDIDA
CAUTELAR INOMINADA. JAMAIS O MANDADO DE SEGURANÇA que
não serve para fazer as vezes nem de recurso, e muito menos de ação!!!

A propósito, calha à fiveleta a jurisprudência do


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA que, na condição de guardião da
legislação infraconstitucional, tem reiteradamente decidido que:

I-) “MEDIDA CAUTELAR – Atribuição de efeito suspensivo a recurso


especial – Admissibilidade – Relevância da matéria discutida em juízo
– Caracterização. Ementa da Redação: É pacífica a jurisprudência do STJ
no sentido de que é viável a concessão de CAUTELAR para dar EFEITO
SUSPENSIVO a recurso especial cujo exame de admissibilidade não foi
ainda realizado pelo Tribunal a quo, tendo-se em vista a relevância da
matéria discutida na demanda” (MC 4.290/SP, 1ª Turma do STJ, rel. Min. JOSÉ
DELGADO, DJU 29.04.2002, RT 803/160).

II-) “MEDIDA CAUTELAR INOMINADA – Preparatória que visa a obter


efeito suspensivo a recurso especial que será interposto –
Admissibilidade, desde que devidamente satisfeitos os pressupostos
do fumus boni juris e do periculum in mora. Ementa da Redação:
Admite-se seja proposta, perante o STJ, MEDIDA CAUTELAR
INOMINADA que visa atribuir EFEITO SUSPENSIVO a recurso especial
que ainda não foi interposto, desde que devidamente satisfeitos os
pressupostos do fumus boni juris e do periculum in mora” (MC 4.385/ES, 4ª
Turma do STJ, rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJU 10.06.2002, RT
808/195).
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Ora, restando sobejamente demonstrado que a


medida cabível no caso em tela é a MEDIDA CAUTELAR INOMINADA
PARA EMPRESTAR EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO, salta aos olhos
que a Impetrante não pode lançar mão do writ, mesmo porque esse, na
expressiva e sempre lembrada lição de KAZUO WATANABE “... não é
panacéia para todos os males...”.

Já não bastassem os fundamentos aqui veiculados


para afastar o uso do mandado de segurança para atribuir efeito suspensivo
a recurso – é certo que a leitura da Lei nº 12.016, de 2009, que disciplina o
instituto do writ – NÃO CONTÉM NENHUM ARTIGO ADMITINDO A
IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA PARA ATRIBUIR EFEITO
SUSPENSIVO A RECURSO.

Não por outra razão, o egrégio TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO não admitiu o writ, escorado no
argumento da “falta de base legal”, isto é, ausência de previsão legal na
lei de regência do mandado de segurança, consoante se pode aquilatar do
seguinte aresto, verbis:

“RECURSO – Agravo de instrumento – Efeito suspensivo


pretendido em mandado de segurança – Inadmissibilidade – Falta
de base legal – Ordem não concedida. Inadmissível a impetração de
mandado de segurança para se dar efeito suspensivo a recurso de agravo
de instrumento. O efeito legal do recurso decorre da lei, e o juiz não pode
mais que esta. O limite do juiz é a própria lei. Dar maior efeito do que o
nela previsto é constituir-se o magistrado em legislador, o que feriria o
disposto no art. 6º da Constituição Federal de 1969” (MS 391.426, 7ª Câmara
do TJSP, rel. Des. RÉGIS DE OLIVEIRA, j. 07.06.1988, RT 633/111).

Por todo o exposto, restando patente o não


cabimento de mandado de segurança para atribuir efeito suspensivo a
recurso de agravo interno aviado pela Impetrante, deve ser EXTINTA A
AÇÃO MANDAMENTAL, sem resolução do pedido de efeito
suspensivo, por inadequação manifesta da via eleita, já que inexiste
previsão legal de cabimento do writ na lei de regência do instituto (Lei nº
12.016, de 2009), de modo que a pretensão almejada pela impetrante
esbarra na redação do art. 17 do Código de Processo Civil, sendo patente a
CARÊNCIA DA AÇÃO MANDAMENTAL aviada.

SEGUNDA PRELIMINAR

DA PERDA DO OBJETO DO MANDADO DE SEGURANÇA

IMPOSSIBILIDADE DE ATRIBUIÇÃO DE EFEITO


SUSPENSIVO A ATO JÁ CONSUMADO
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Caso o nobre Relator, em vosso elevado


descortino e alto saber jurídico admita o mandado de segurança impetrado
– o que só se coloca ad argumentandum tantum, mas sem qualquer adesão
à premissa – é certo que o writ impetrado perdeu o objeto, em virtude
do cumprimento do ato coator.

Deveras, a litisconsorte passiva necessária TIGRE


INVESTIMENTOS S.A. já foi reintegrada na posse do imóvel rural, de
modo que, se o objetivo do mandamus é agregar efeito suspensivo ao
agravo interno para impedir o cumprimento do ato coator, tal
desideratum não é mais possível, em virtude do exaurimento da ordem
judicial.

Nem se objete, data maxima venia, com o


argumento de que o impetrante formulou pedido expresso no sentido de
que, caso a ordem já estivesse sido cumprida, que fosse “... expedido
contra mandado com o escopo de manter o Impetrante na posse do imóvel
até o julgamento final do agravo interno, protocolizado nesta data...”, pois
é cediço que o writ não pode fazer as vezes da pretensão recursal.

A expedição de contra mandado só tem cabimento


se o impetrante vir a lograr êxito no julgamento do mérito do recurso de
agravo interno. É cediço que o mandado de segurança não pode ter a
dimensão pretendida no referido pedido, uma vez que mandado de
segurança não é via adequada para fazer as vezes de recurso.

Por todo o exposto, tendo em vista que não se


pode conceder efeito suspensivo a ato já consumado, pois não se pode
impedir aquilo que já se exauriu, já se consumou, deve ser decretada a
PERDA DE OBJETO DO MANDADO DE SEGURANÇA, JULGANDO-O
MANIFESTAMENTE PREJUDICADO.

TERCEIRA PRELIMINAR

INADMISSIBILIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA EM MANDADO DE


SEGURANÇA, DADA A SUA INCOMPATIBILIDADE COM A NATUREZA
DO WRIT

A equivocada impetração de mandado de


segurança para atribuir efeito suspensivo a recurso de agravo interno – pois
o caso era de interposição de uma medida cautelar inominada como
mero INCIDENTE PROCESSUAL – esbarra, outrossim, em outro
fundamento que inviabiliza, por completo, a escolha do writ of mandamus.

É que, da maneira como foi impetrado o mandado


de segurança – em que o impetrante pretende revolver discussão referente
a “detenção” em confronto com a “posse” – implicaria na abertura de
inadmissível dilação probatória em sede mandamental.
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Com efeito, como é de trivial sabença, o mandado


de segurança é u’a ação de natureza constitucional destinada à proteção de
direito líquido e certo, exigindo, para o seu cabimento, a prova pré-
constituída da pretensão deduzida em juízo.

Se tal se sucede, é cediço que não se pode


pretender pela via mandamental discutir se a litisconsorte passiva
necessária TIGRE INVESTIMENTOS S.A. exercia “posse” ou “mera
detenção”, pois para se chegar a uma ou outra conclusão, isso demandaria
dilação probatória, quando é certo e indiscutível que em sede
mandamental não cabe a produção de qualquer tipo de prova, já que a
mesma deve, necessariamente, acompanhar a impetração: daí falar-se em
prova documental pré-constituída.

Não por outra razão, ao discorrer acerca da


liquidez e certeza do direito, a jurista MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO
doutrina que:

“O direito comprovado de plano, ou seja, o direito comprovado juntamente com


a petição inicial. No mandado de segurança inexiste a fase de instrução, de modo
que, havendo dúvidas quanto às provas produzidas na inicial, o juiz extinguirá o
processo sem julgamento do mérito, por falta de um pressuposto básico, ou seja, a
certeza e liquidez do direito” (Direito Administrativo, 17ª ed. São Paulo: Ed.
Atlas, p. 663).

Expressivo, no ponto, julgado da lavra do


eminente Des. JUVENAL PEREIRA DA SILVA, que destacou:

“MANDADO DE SEGURANÇA – Ausência de prova pré-constituída


do direito líquido e certo – Segurança denegada – Extinção do
processo. Mandado de segurança não instruído com a prova pré-
constituída do direito alegado constitui-se em via eleita
inadequada por impossibilidade de dilação
probatória” (MS nº 31860/2011, Turma de Câmaras Cíveis Reunidas de
Direito Público e Coletivo do eg. TJMT, rel. Des. JUVENAL PEREIRA DA SILVA, data
de julgamento: 04.07.2013).

Essa orientação da colenda Corte local tem o aval


do egrégio SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, consoante se pode
aquilatar de julgado de relatoria do Min. GILSON DIPP, verbis:

“MANDADO DE SEGURANÇA – Dilação probatória –


Inadmissibilidade – Incompatibilidade com a natureza de ação
mandamental – Ação que visa a proteger direito líquido e certo
sempre que alguém sofrer violação ou houver justo receio de
sofrê-la por ilegalidade ou abuso de poder – Prova pré-constituída
– Exigência.
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Ementa Oficial: Consoante entendimento desta Corte, o mandado de


segurança é ação constitucionalizada para proteger direito líquido e certo,
sempre que alguém sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por
ilegalidade ou abuso de poder, exigindo-se prova pré-constituída como
condição essencial à verificação da pretensa ilegalidade, sendo a dilação
probatória incompatível com a natureza da ação mandamental” (Ag Rg no
RO em MS 12.415/RJ, Quinta Turma, rel. Min. GILSON DIPP, DJU 23.09.2002, RT
813/205).

QUARTA PRELIMINAR

INEXISTÊNCIA DE DECISÃO ‘TERATOLÓGICA’


Uma outra preliminar que inviabiliza por completo
o vertente mandado de segurança, é que a decisão proferida pelo Exmo. Sr.
Des. DIRCEU DOS SANTOS – que foi levianamente atacado pelo impetrante
de “favorecer” a litisconsorte passiva necessária – não é teratológica.

Como é de trivial sabença – ainda que se admita o


cabimento do writ no caso em testilha, o que só se coloca por amor aos
debates – é certo, absolutamente certo, que a decisão proferida pela
autoridade coatora não é absurda, teratológica, escalafobética, como
quer fazer crer o impetrante.

Muito pelo contrário!!! A digna autoridade coatora


foi tão zelosa no estrito cumprimento de devido processo legal, que
condicionou o cumprimento da medida ao oferecimento de caução real
idônea, de modo a garantir qualquer prejuízo que possa vir a ter a parte
contrária!!!

Não por outra razão, a ilustre Desembargadora


MARIA HELENA G. PÓVOAS observou, com a proverbial acuidade, in
verbis:

“... é de se ter em conta que a decisão agravada que deferiu a liminar na


Ação Rescisória n. 157.206/2016, encontra-se respectivamente
fundamentada, INEXISTINDO NA MESMA QUALQUER TERATOLOGIA.

Da análise da decisão recorrida, resta evidenciado que a referida empresa


vinha explorando a área litigiosa desde 2009, inclusive realizado inúmeras
benfeitorias.

Não obstante a isso, a fim de se evitar eventuais prejuízos porventura a ser


sofrido pelo Impetrante, o Relator da Ação Rescisória CONDICIONOU A
EFICÁCIA DA DECISÃO À APRESENTAÇÃO DE CAUÇÃO IDÔNEA.
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Dentro disso, tem-se que a atribuição de efeito suspensivo ao Agravo


Interno n. 179.351/2016 somente deve ser conferida desde que
comprovada manifesta ilegalidade da decisão recorrida e para se evitar
dano de difícil ou impossível reparação; todavia, não é o que se constata
dos autos.

Assim, da análise dos autos, não vislumbro no caso em apreço a presença


dos requisitos necessários à concessão da liminar, dentre eles o periculum
in mora, haja vista que o Agravo Interno tem sua tramitação célere perante
este Tribunal, bem como eventuais prejuízos estarão mitigados com a
apresentação da caução.

Portanto, balizada nas considerações expendidas, INDEFIRO a liminar ora


pleiteada pelo Impetrante” (trecho da decisão da Plantonista Desa. Maria
Helena G. Póvoas).

Ora, se a r. decisão proferida pela autoridade


coatora não configura, nem de longe, modalidade de decisão
teratológica, é patente a inviabilidade do presente writ, pois somente se
admite a impetração de mandado de segurança (cujo cabimento aqui é
colocado apenas ad argumentandum tantum, pois a medida cabível é a
tutela cautelar, como destacado na primeira preliminar) quando a decisão
atacada é, indisputavelmente, teratológica, escalafobética, o que não é
caso dos autos, como bem consignado pela ilustre e conceituada
Desembargadora oriunda do Quinto Constitucional da OAB, que ilumina com
as suas luzes esse colendo Sodalício.

Não por outra motivo a decisão proferida pela


Desembargadora MARIA HELENA GARGAGLIONE PÓVOAS está em
sintonia fina com a jurisprudência pátria, que é useira e vezeira em afirmar,
em alto e bom som, que é inadmissível a impetração de mandado de
segurança se a decisão não apresenta ilegalidade ou arbitrariedade; em
suma: não é decisão ‘teratológica’.

Assim, para reforçar o entendimento que


INDEFERIU O PEDIDO LIMINAR, pedimos vênia para trazer à colação os
seguintes julgados:

I-) “MANDADO DE SEGURANÇA – Efeito suspensivo pretendido a agravo de


instrumento – Writ restrito a atos judiciais atingidos por erro manifesto,
ilegalidade, abuso ou configuração de casos conhecidos como teratológicos –
Ordem denegada. A admissibilidade do mandado de segurança contra ato judicial,
do qual caiba recurso sem efeito suspensivo é limitada aos casos de erro manifesto,
ilegalidade, abuso ou configuração de casos conhecidos como teratológicos” (MS
558.349-9, 8ª Câmara do TJSP, rel. Des. MAURÍCIO FERREIRA LEITE, RT 697/101).
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II-) “MANDADO DE SEGURANÇA – Ato judicial – Impetração com dispensa da


interposição de recurso próprio – Admissibilidade somente em casos
excepcionais de dano dificilmente reparável e teratologia manifesta da
decisão.
Ementa Oficial: Consoante jurisprudência assente, em face da legislação em vigor,
somente em casos excepcionais, de dano dificilmente reparável e teratologia
manifesta da decisão, se admite da impetração de segurança contra ato judicial com
dispensa de interposição do recurso próprio. O mandado de segurança contra ato
judicial é medida anômala de caráter acautelatório, NÃO SE PRESTANDO A
SERVIR DE SUCEDÂNEO RECURSAL OU PANACÉIA JURÍDICA” (REsp 13.484-
0/SP, 4ª Turma do STJ, rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJU 20.02.1995, RT
715/270).

Também a jurisprudência do egrégio TRIBUNAL


DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO possui orientação firme e
segura no sentido de que não se admite mandado de segurança se não
houver comprovação inequívoca de que o ato coator atacado é uma decisão
teratológica.

A esse respeito, o julgado mais mencionado e


citado em diversos precedentes nesta Corte, é da lavra do culto Des.
ORLANDO DE ALMEIDA PERRI, assim ementado:

“AGRAVO REGIMENTAL – Mandado de segurança – Decisão judicial –


Turma recursal – Competência dos Juizados Especiais – Aventada
teratologia – Decisão monocrática – Extinção do writ – Ausência de
teratologia – Incompetência do Tribunal de Justiça – Agravo Regimental
desprovido. O mandado de segurança só pode ser manejado quando, vencidas
as vedações legais, entre elas a existência de recurso previsto na lei processual,
a decisão atacada for evidentemente teratológica. A impetração da referida
ação constitucional, portanto, somente se tolera em situações realmente
excepcionais, como meio último de extirpar verdadeiras aberrações praticadas
no exercício da jurisdição” (AgRg 112442/2012, Primeira Turma de Câmaras
Cíveis Reunidas de Direito Privado, rel. Des. ORLANDO DE ALMEIDA PERRI,
DJe 09/11/2012).

E, do corpo desse lapidar aresto, acerca da


necessidade de demonstração inequívoca da teratologia da decisão judicial
objeto da ação mandamental, consignou o Exmo. Sr. Des. ORLANDO DE
ALMEIDA PERRI no julgamento retromencionado:

“Não prospera a alegação de que a decisão é teratológica, entendendo-se como tal


a decisão que afronta gravemente a lei, que não se coaduna com as regras mais
básicas do ordenamento jurídico. Não basta, pois, a mera ilegalidade, a simples
violação à lei: é preciso que o erro na interpretação e aplicação do direito seja
grosseiro, extremo, ofensivo à essência da Justiça.
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Caso a decisão judicial não se mostre absurda, ou manifestamente contrária à lei,


não cabe ao julgador da ação mandamental imiscuir-se na análise do mérito das
razões nela expendidas.

Destarte, somente comportará acolhida a pretensão mandamental quando o ato


atacado (decisão judicial) reste caracterizado como teratológico, ou seja, que
conflite, direta e manifestamente, com a lei ou com o entendimento dos Tribunais,
sob pena de não ser cabível a suspensão da medida impugnada.

Desse modo, o mandado de segurança só pode ser manejado quando, vencidas as


vedações legais, entre elas a existência de recurso previsto na lei processual, a
decisão judicial atacada for evidentemente teratológica. A impetração da referida
ação constitucional, portanto, somente se tolera em situações realmente
excepcionais, como meio último de extirpar verdadeiras aberrações praticadas no
exercício da jurisdição”.

Também a ilustre Desa. SERLY MARCONDES


ALVES comunga da mesma orientação, consoante se pode aquilatar da
ementa do seguinte aresto:

“MANDADO DE SEGURANÇA – Decisão judicial – Teratologia


indemonstrada – Direito líquido e certo inexistente – Segurança
denegada. As decisões judiciais apenas são suscetíveis de Mandado de
Segurança quando, além de irrecorríveis, ainda possam ser assacadas de
teratológicas” (MS nº 137540/2013, Segunda Turma de Câmaras Cíveis Reunidas
de Direito Privado, redatora designada Desa. SERLY MARCONDES ALVES, data
de julgamento: 03.07.2014).

À VISTA DO EXPOSTO, não tendo o impetrante


demonstrado, em nenhum momento, que a decisão proferida pela
autoridade coatora é teratológica, é patente o não cabimento da
segurança para emprestar ‘efeito suspensivo’ a recurso de agravo interno,
uma vez que a demonstração de plano de que se trataria de uma decisão
teratológica é condição sine qua non para a admissibilidade do mandamus.

II – DA PETIÇÃO PROTOCOLADA PELO


IMPETRANTE VISANDO ALTERAR A
CAUSA PETENDI E O PEDIDO
Já não bastassem as preliminares acima
articuladas – que demonstram o total incabimento da pretensão
mandamental – é certo que o impetrante, em sua última manifestação, dá
uma guinada de 180 graus em seu writ of mandamus, visando a inserção de
nova causa petendi e de novo pedido, quando é sabido e ressabido que não
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se pode alterar tais elementos da ação após as Informações e a


Contestação apresentada pelo litisconsorte passivo necessário.

Com efeito, o objetivo primordial do mandado de


segurança era apenas atribuir efeito suspensivo ao Recurso de Agravo
Interno interposto. Como tal pedido já perdeu o objeto, o impetrante, numa
manobra processual, pretende agora que seja apreciado uma causa petendi
e um pedido que NUNCA FORAM FORMULADOS NA PETIÇÃO INICIAL
DO WRIT.

Deveras, lendo-se atentamente a petição percebe-


se claramente que o impetrante inseriu uma nova causa de pedir e um novo
pedido, visando a decretação da “nulidade da distribuição” em sede de
mandado de segurança, quando é certo que tal pretensão somente é cabível
em sede recursal, jamais pela via mandamental, conforme se vê da leitura
do pedido veiculado na petitio simplex, vazado nestes termos:

“Ante ao exposto, com fundamento no que dispõe o §3º do art. 485 c/c
§1º, inciso IV, do art. 488, ambos do CPC-2015, REQUER que a questão
posta – nulidade da distribuição – seja devidamente analisada nestes
autos, pois estamos diante de uma nulidade de ordem pública, não podendo
o Impetrante sofrer as consequências de uma liminar deferida em um
processo totalmente nulo, consequentemente, nova distribuição deverá
ocorrer, anulando-se todos os atos processuais realizados nos autos, ou se
assim não se entender, seja acolhida a impetração, suspendendo a liminar
concedida, na forma pleiteada”.

Ora, a singela leitura do novo pedido formulado


deixa claro que se trata de uma inovação, totalmente incabível após a
formação do contraditório, com a prestação de Informações pela autoridade
coatora, e de Contestação pelo litisconsorte passivo necessário.

Nesse diapasão é a redação do art. 329, incisos I e


II, do Código de Processo Civil, que vaticina:

“Art. 329. O autor poderá:


I – até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir,
independentemente de consentimento do réu;
II – até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de
pedir, com consentimento do réu”.

Como o mandado de segurança é uma demanda


célere, a doutrina e a jurisprudência são unânimes no sentido de que não se
pode formular “novo pedido” após as Informações prestadas pela
autoridade coatora, pois é sabido que o writ não admite dilação probatória.
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Expressivo, no ponto, aresto do egrégio


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA, vazados
nestes expressivos termos:

“PETIÇÃO INICIAL – Mandado de segurança – Aditamento da exordial


após o fornecimento de informações pela autoridade coatora –
Inadmissibilidade – Inteligência do art. 264 do CPC/1973
(correspondente ao art. 329 do CPC).
Ementa Oficial: Aditamento da inicial, formulado pelo impetrante após as
informações – Inadmissibilidade – Art. 264 do CPC/1973 – Manutenção da
ordem apenas para a apresentação dos documentos pleiteados na inicial –
Recurso desprovido – Sentença parcialmente reformada em reexame
necessário.
“Em mandado de segurança, após as informações da autoridade tida como
coatora, não se admite o aditamento à petição inicial” (RMS 22.801/SP, rel.
Ministro CASTRO MEIRA)” (ApCív em MS 2007.001958-1, 3ª Câmara de Direito
Privado do TJSC, rel. Des. RUI FORTES, DJSC 09.02.2009, RT 883/337).

E, do corpo desse lapidar julgado, colhe-se a


seguinte passagem que cai como uma luva ao caso em testilha:

“Na espécie, constata-se que o impetrante solicitou tanto administrativamente (f.)


quanto na inicial da presente ação (f.), cópia “das receitas e despesas do exercício
de 2005 da Câmara de Vereadores do Município de Jacinto Machado”.

Contudo, após as informações, o impetrante aditou o pedido inicial, solicitando


“cópias de todos os contratos, notas fiscais e recibos que geraram os respectivos
lançamentos fiscais, cujos documentos jamais lhe foram apresentados ou
estiveram disponíveis a quem quer que fosse” (f.)

Embora os pedidos possuam o mesmo objetivo – verificar a utilização e a aplicação


dos recursos repassados ao órgão Legislativo Municipal – verifica-se que a
concessão da segurança “para determinar que sejam apresentadas cópias de todos
os contratos, notas fiscais e recibos que geraram os respectivos lançamentos
fiscais”, não podiam ter sido determinado pelo magistrado a quo.

Isso porque, o impetrante modificou o pedido após as informações, quando


já estava estabelecida a relação processual, o que é vedado pelo art. 264
do CPC-1973, sendo esta, inclusive, a orientação da jurisprudência: “Em
mandado de segurança, após as informações da autoridade tida como
coatora, não se admite o aditamento da petição inicial” (RMS 22.801/SP,
rel. Min. CASTRO MEIRA, j. 08.05.2007).

Também:
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“A notificação, no mandado de segurança, tem a natureza de


citação. Assim, prestadas as informações que constituem o modo através
do qual a autoridade se defende, a impetrante não podia alterar o pedido
ou a causa de pedir” (RMS 2.591/GO, 5ª Turma do STJ, rel. Min. JESUS
COSTA LIMA, DJ 01.08.1994).

Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso e, em reexame necessário,


reforma-se parcialmente a r. sentença para manter a concessão da
segurança apenas no que se refere à apresentação de “cópias das receitas e
despesas da Câmara Legislativa efetuadas no exercício financeiro de 2005”
(RT 883/340).

A jurisprudência do SUPERIOR TRIBUNAL DE


JUSTIÇA – que foi reiteradas vezes citada no julgado do E. TJSC – deixa
claro que a Corte Superior, na condição de guardiã da legislação
infraconstitucional, não admite o aditamento da petição inicial do
mandado de segurança para modificação do pedido no curso da lide,
após as Informações.

Consoante orientação do STJ sufragada no RMS


2591/GO, de relatoria do Ministro JESUS COSTA LIMA, o limite para se
alterar ou aditar o pedido é a resposta dada pela autoridade coatora, ou
seja, as Informações, conforme se vê da EMENTA do julgado, verbis:

“ADITAMENTO DA INICIAL – Aditamento à petição inicial para


modificação do pedido no curso da lide, após a fase de informações.
Impossibilidade. Consolidado no Superior Tribunal de Justiça que a
notificação, no mandado de segurança, tem natureza de citação; assim,
prestadas as informações que constituem o modo através do qual a
autoridade se defende, NÃO HÁ COMO ALTERAR O PETITUM OU A
CAUSA PETENDI” (RMS 2591/GO, Quinta Turma, j. 22/06/1994, DJ
01.08.1994, rel. Ministro JESUS COSTA LIMA).

À VISTA DO EXPOSTO, tendo em vista que é


inadmissível alterar a causa petendi e o pedido em sede de mandado de
segurança após as Informações, não deve ser conhecido o absurdo e
inusitado pedido de “nulidade da distribuição”, cujo pleito sem forma
nem figura de Juízo não fazia e não faz parte do mandado de segurança,
pois o que se objetivou com a impetração foi apenas impedir o
cumprimento da medida liminar de antecipação da tutela concedida na ação
rescisória, que já ocorreu, aspecto esse que também torna prejudicado o
mandado de segurança por perda do objeto, como já destacado.
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Ademais disso, o PLENO desse colendo Sodalício já


mandou fazer nova distribuição da Exceção de Impedimento arguida pelo
Impetrante, tendo INDEFERIDO O PLEITO DE NULIDADE DA
DISTRIBUIÇÃO, de modo que, o pedido aqui postulado pelo impetrante,
além de manifestamente incabível, encontra-se prejudicado.

II – MERITORIAMENTE

Se a tanto chegar

O IMPETRANTE NÃO SE DESINCUMBIU DO ÔNUS DE


COMPROVAR OS REQUISITOS DO ‘DIREITO LÍQUIDO
E CERTO’ E DANO IRREPARÁVEL
Caso sejam ultrapassadas todas as preliminares
acima articuladas que tem o respaldo da jurisprudência do STJ e do STF e
da doutrina especializada – o que só se admite por amor aos debates, mas
sem qualquer adesão à premissa – de meritis o mandado de segurança
impetrado deve ser DENEGADO, uma vez que o impetrante não se
desincumbiu do ônus de comprovar prima facie os requisitos do direito
líquido e certo e do dano irreparável.

Como é cediço, para que se possa conceder a


segurança para emprestar o almejado ‘efeito suspensivo’ – situação essa
faticamente impossível, uma vez que o mandado de segurança perdeu o
objeto em razão do cumprimento da ordem judicial – seria
absolutamente necessário e imprescindível que o impetrante comprovasse,
de plano, os requisitos previstos no art. 7º da Lei de Regência do instituto
(Lei nº 12.016, de 2009).

E, no caso em apreço, salta aos olhos que


NENHUM DOS REQUISITOS LEGAIS FOI CUMPRIDO. Com efeito, a
própria decisão monocrática proferida no plantão pela eminente Desa.
MARIA HELENA GARGAGLIONE PÓVOAS já sepulta, prima facie, a
pretensão mandamental, pois a fundamentação lançada no r. decisum deixa
claro que o impetrante não comprovou nem o direito líquido e certo e nem
o requisito do periculum in mora.

Confira, a propósito, a fundamentação lançada


pela plantonista:

“... é de se ter em conta que a decisão agravada que deferiu a


liminar na Ação Rescisória n. 157.206/2016, encontra-se
respectivamente fundamentada, INEXISTINDO NA MESMA
QUALQUER TERATOLOGIA.
14

Da análise da decisão recorrida, resta evidenciado que a


referida empresa vinha explorando a área litigiosa desde 2009,
inclusive realizado inúmeras benfeitorias.

Não obstante a isso, a fim de se evitar eventuais prejuízos


porventura a ser sofrido pelo Impetrante, o Relator da Ação
Rescisória CONDICIONOU A EFICÁCIA DA DECISÃO À
APRESENTAÇÃO DE CAUÇÃO IDÔNEA.

Dentro disso, tem-se que a atribuição de efeito suspensivo ao


Agravo Interno n. 179.351/2016 somente deve ser conferida
desde que comprovada manifesta ilegalidade da decisão
recorrida e para se evitar dano de difícil ou impossível
reparação; todavia, não é o que se constata dos autos.

Assim, da análise dos autos, não vislumbro no caso em apreço


a presença dos requisitos necessários à concessão da liminar,
dentre eles o periculum in mora, haja vista que o Agravo
Interno tem sua tramitação célere perante este Tribunal, bem
como eventuais prejuízos estarão mitigados com a
apresentação da caução.

Portanto, balizada nas considerações expendidas, INDEFIRO a


liminar ora pleiteada pelo Impetrante” (trecho da decisão da
Plantonista Desa. Maria Helena G. Póvoas).

Como se nota, a fundamentação da r. decisão


acima reproduzida deixa claro que o Impetrante não se desincumbiu do
ônus de provar os requisitos legais.

Em primeiro lugar, porque a decisão proferida pela


autoridade coatora não é teratológica, aspecto esse fundamental para que
o writ fosse admitido.

Com efeito, a ação mandamental deve ser julgada


extinta, com a denegação da segurança, quando a decisão judicial
questionada não se apresenta como teratológica ou violadora de norma
positivada. Foi o que decidiu esse colendo Sodalício, em julgado da lavra
do respeitado Des. SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS, in verbis:
15

“MANDADO DE SEGURANÇA – Decisão judicial – Liminar – Agravo de


instrumento – Preliminar de não cabimento do writ que se confunde com
o mérito – Ausência de teratologia – Interpretação livre e decisão
motivada do Relator – Extinção da ação mandamental – Denegação da
ordem.
Por força de restrição legal, apenas em casos excepcionais, a saber: quando a
decisão judicial combatida é de natureza teratológica, ou se apresenta
inequivocamente ilegal ou abusiva, ou, ainda, resulta em lesão grave ou de
difícil reparação, é que se torna possível a propositura de mandado de
segurança para combater provimento jurisdicional desta natureza.
A ação mandamental deve ser julgada extinta, com a denegação da
segurança, quando a decisão judicial questionada não se apresenta como
teratológica ou violadora de norma positivada. É o caso dos autos” (MS nº
110005/2009, Turma de Câmaras Cíveis Reunidas de Direito Público e Coletivo, rel.
Des. SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS, data de julgamento: 18.03.2013).

Ademais disso, a litisconsorte passiva necessária


TIGRE INVESTIMENTOS S.A. demonstrou, com sólida e consistente
fundamentação, que exercia a posse do imóvel rural há mais de uma
década, tendo realizado no imóvel inúmeras benfeitorias, bem como
juntado farta prova documental de que exercia a posse do bem sem a
oposição de quem quer que seja.

Ora, é cediço que a via mandamental não


comporta dilação probatória. Se tal se sucede – para que se possa
demonstrar que a litisconsorte não tinha posse (o que só se admite para
argumentar) seria necessário revolver todo o quadro fático, o que é
impossível em sede mandamental, como já enfatizado em uma das
preliminares arguidas.

De outra banda, o requisito do periculum in mora


também não foi demonstrado pelo Impetrante, especialmente porque o
oferecimento de caução real idônea afastou o risco de qualquer prejuízo, já
que, se ao final da lide rescisória ficar demonstrado que o litisconsorte não
tem razão, a caução prontamente ofertada assegurará eventual prejuízo
que possa vir a sofrer a Impetrante.

A propósito, vale ressaltar que o requisito do


periculum in mora inverso foi afastado com a prestação de caução real
idônea, como bem destacou a ilustre Desa. MARIA HELENA
GARGAGLIONE PÓVOAS na decisão monocrática que indeferiu o pedido
de liminar de efeito suspensivo, verbis:

“Não obstante a isso, a fim de se evitar eventuais prejuízos


porventura a ser sofrido pelo Impetrante, o Relator da Ação
Rescisória CONDICIONOU A EFICÁCIA DA DECISÃO À
APRESENTAÇÃO DE CAUÇÃO IDÔNEA.
16

Dentro disso, tem-se que a atribuição de efeito suspensivo ao


Agravo Interno n. 179.351/2016 somente deve ser conferida
desde que comprovada manifesta ilegalidade da decisão
recorrida e para se evitar dano de difícil ou impossível
reparação; todavia, não é o que se constata dos autos” (trecho
extraído da decisão monocrática).

Assim, não demonstrada a ocorrência de prejuízo


irreparável, não se concede efeito suspensivo a recurso de agravo interno –
ou a qualquer outro tipo de recurso – através da via mandamental.

Foi o que brilhantemente decidiu o egrégio


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO, em julgado que
cai como uma luva ao caso em testilha:

“MANDADO DE SEGURANÇA – Ato judicial – Pretendido efeito


suspensivo a recurso de agravo de instrumento – Indeferimento
– Inexistência de prejuízo irreparável. Não demonstrada a
ocorrência de prejuízo irreparável, não se concede efeito suspensivo
a agravo, através de mandado de segurança” (MS 40.682-1, 6ª Câmara
do TJSP, rel. Des. MACEDO BITTENCOURT, j. 02.02.1984, RT 584/79).

Dentro desse quadro, caso se admita o uso da via


mandamental, salta aos olhos que o mandado de segurança deve ser
DENEGADO, em razão da não comprovação dos requisitos legais, seja em
razão da inexistência de direito líquido e certo, na medida em que a decisão
proferida pelo Exmo. Sr. Des. DIRCEU DOS SANTOS não é teratológica,
não podendo ser acoimada com a pecha de decisão aberrante, absurda,
impossível juridicamente, seja em virtude da não comprovação do requisito
do periculum in mora, na medida em que a litisconsorte passiva necessária
TIGRE INVESTIMENTOS S.A. prestou caução real idônea, o que afasta
esse requisito legal.

Assim, ausentes os requisitos legais, deve ser


denegada a ordem, como bem pontuou o Exmo. Sr. Des. MÁRCIO
VIDAL, em expressivo e lapidar aresto que bem demonstra a aventura em
que se constitui o presente writ:

“CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL – Mandado de segurança – Ação de


repetição de indébito – Turma Recursal única – Ação extinta ao fundamento de
entendimento de incompetências dos Juizados Especiais para causas com cálculos
complexos – Recurso ordinário ao STJ – Determinação ao Tribunal de Justiça para
rejulgar o writ – Direito líquido e certo inexistente – Falta de demonstração de decisão
teratológica – Ordem denegada.
17

Não há possibilidade de impetração de mandado de segurança se a decisão impugnada


não é teratológica ou ilegal, cujo conteúdo não revelar-se absurdo ou ilógico.
O mandado de segurança só pode ser manejado quando vencidas as vedações legais, entre
elas a existência de recurso previsto na lei processual, a decisão judicial atacada for
evidentemente teratológica.
É necessária a demonstração de inequívoca teratologia para justificar a impetração do
mandamus contra decisão judicial.
A impetração da ação constitucional somente se tolera em situações excepcionais, como
meio último de extirpar verdadeiras aberrações praticadas no exercício da jurisdição, o que
não é o caso dos autos” (MS 111507/2012, Turma de Câmaras Cíveis Reunidas de Direito Público
e Coletivo, rel. Des. MÁRCIO VIDAL, data de julgamento: 03.03.2016).

III – DOS PEDIDOS


A VISTA DO EXPOSTO, restando patente o
descabimento do vertente writ, requer a litisconsorte passiva necessária,
pela ordem, se digne Vossa Excelência de:

a) DECRETAR A EXTINÇÃO DA AÇÃO


MANDAMENTAL, em razão da inadequação da
via eleita, uma vez que a medida cabível para
conferir efeito suspensivo a recurso de agravo
interno é a medida cautelar inominada, uma
vez que a mesma encontra guarida e respaldo
legal nos artigos 300, 301, 303, 304, 305, c/c
§§ 3º e 4º do art. 1.012, todos do Código de
Processo Civil; aliado a esse fundamento, é de
se ressaltar que a Lei de Regência do mandado
de segurança (Lei nº 12.016/2009, não contém
nenhum artigo admitindo a impetração de
segurança para atribuir efeito suspensivo a
recurso, de modo que, patente a inadequação
da via eleita, deve o Impetrante ser julgador
CARECEDOR DA AÇÃO MANDAMENTAL, por
ausência da comprovação da condição da ação
denominada interesse processual (art. 17,
CPC), de modo a extinguir o writ com espeque
na redação do inciso V do art. 485 do novel
Diploma Processual.

b) Caso o nobre Relator, em vosso elevado


descortino e inegável saber jurídico admita o
writ, o que só se coloca ad argumentandum
tantum, mas sem qualquer adesão à premissa,
deve ser imediatamente decreta a EXTINÇÃO
DO MANDADO DE SEGURANÇA EM RAZÃO
18

DA PERDA DO OBJETO, JULGANDO-O


PREJUDICADO, dada a impossibilidade de se
atribuir efeito suspensivo a ato já consumado,
uma vez que a litisconsorte passiva necessária
já foi reintegrada na posse do imóvel rural
objeto da ação rescisória.

c) A equivocada impetração de mandado de


segurança para atribuir efeito suspensivo a
recurso de agravo interno – pois o caso é de
interposição de uma medida cautelar
inominada como mero incidente processual
– esbarra, outrossim, em outro fundamento
que inviabiliza, por completo, a escolha da via
mandamental, na medida em que o Impetrante
pretende revolver discussão referente a
‘detenção’ em confronto com a ‘posse’, aspecto
esse que implicaria em inadmissível abertura
de dilação probatória em sede mandamental,
já que este pressupõe prova documental
pré-constituída, aspecto esse que também
ressalta a falta de interesse processual na
propositura do vertente writ, a acarretar a sua
EXTINÇÃO SEM EXAME DO MÉRITO, com
fundamento no art. 485, V, do Código de
Processo Civil.

d) Requer, outrossim, que NÃO SEJA


CONHECIDA A PETIÇÃO formulada pelo
impetrante, em que o mesmo pugna pela
“nulidade da distribuição”, uma vez que não
se pode, em ação mandamental, alterar o
pedido ou a causa de pedir após as
Informações.

e) NO MÉRITO, caso sejam ultrapassadas todas


as preliminares veiculadas na presente
contestação à ação mandamental, é de rigor a
DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA, seja porque o
Impetrante não se desincumbiu do ônus de
provar o direito líquido e certo, na medida em
que a decisão proferida pela autoridade coatora
não é teratológica, nem causa dano
irreparável, de modo que, estando
completamente ausentes os requisitos legais, e
19

na esteira de iterativa jurisprudência desse


egrégio Sodalício e de precedentes também do
STJ, impõe-se a DENEGAÇÃO DA
SEGURANÇA, caso se chegue a avançar no
julgamento de mérito da ação constitucional,
pois só assim é que estará Vossa Excelência,
com a costumeira sabedoria, praticando ato da
mais lídima e sempre soberana J U S T I Ç A!!

Nesses termos,
Pede deferimento.
Cuiabá, 23 de maio de 2017.

JOÃO AUGUSTO CAPELETTI


ADVOGADO
20

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE


DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO.

Ação rescisória com pedido de tutela antecipada

ADALBERTO MACIEL METELLO, brasileiro, divorciado,


funcionário público aposentado, portador da cédula de identidade RG nº
33397-CTPS/MT, inscrito no CPF sob o nº 069.000.971-20, domiciliado e
residente na cidade de Barra do Garças, Estado de Mato Grosso, por seu
advogado in fine assinado, ut instrumento de mandato em anexo (doc. 1),
vem, com o devido acato a Vossa Excelência, promover a vertente AÇÃO
RESCISÓRIA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA em desfavor do
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO, na pessoa do
Promotor de Justiça responsável, com assento na Sede das Promotorias de
Justiça da Capital, sito na Rua Des. Milton Figueiredo Ferreira Mendes, s/nº,
Setor “D”, CPA, Edifício Dr. José Eduardo Faria, CEP 78.049-928, em
Cuiabá/MT; e do ESTADO DE MATO GROSSO, na pessoa do Procurador
Geral do Estado, com sede na Rua 06, s/nº, Centro Político e Administrativo
(CPA), sito nesta Capital, com fundamento nos artigos 5º, 10, caput, e 11,
caput, da Lei nº 8.429, de 02 de junho de 1992 (Lei de Improbidade
Administrativa), e artigos 833, inciso IV e seu §2º, do Código de Processo
Civil, haja vista os relevantes motivos fáticos e fundamentos jurídicos que,
de ora avante, passa articuladamente a alinhar:
21

I – DO CABIMENTO DA RESCISÓRIA
Antes de adentrarmos no meritum causae
da presente demanda rescisória, que visa a rescisão de v. acórdão
transitado em julgado da Quarta Câmara Cível do egrégio Tribunal de
Justiça do Estado de Mato Grosso (fls. 690 e ss. – vol. IV), é indispensável
demonstrar o cabimento da presente ação rescisória.

Prima facie, cabe ao Autor demonstrar o


preenchimento do disposto no art. 966, inciso V, do novo Código de
Processo Civil, consoante o qual: “A decisão de mérito, transitada em
julgado, pode ser rescindida quando: (...) V – violar manifestamente
norma jurídica”.

Pois bem. A decisão de mérito que se


pretende rescindir é o v. acórdão proferido pela colenda Quarta Câmara
Cível desta Corte, nos autos da Apelação nº 23097/2014, Comarca da
Capital, de relatoria da Exma. Sra. Desa. Nilza Maria Pôssas de Carvalho,
cuja fundamentação pedimos vênia para transcrever a EMENTA do v.
acórdão rescindendo, verbis:

“APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – RESSARCIMENTO DE


DANO CAUSADO AO ERÁRIO – CUMULAÇÃO DE CARGO EFETIVO E
EM COMISSÃO – SERVIDOR CEDIDO – CUMULAÇÃO DE
REMUNERAÇÃO – IMPOSSIBILIDADE – LEI QUE DETERMINA
OBRIGAÇÃO DO ÓRGÃO CESSIONÁRIO – EXISTÊNCIA DE PROVA
DE MÁ-FÉ E DOLO – COMPROVADO DANO AO ERÁRIO – DEVER DE
RESSARCIMENTO INTEGRAL DO DANO – RECURSO PROVIDO.
Tratando-se de recebimento de vencimentos pelo desempenho de função
em cargo comissionado, em virtude de cessão, cumulado com remuneração
do cargo efetivo, com regulamentação pelo órgão cedente, de que a
remuneração é a cargo do órgão ou entidade cessionária, fica caracterizado
o dolo e a má-fé do servidor público, portanto, demonstrado o prejuízo
aos cofres públicos, o que enseja o dever de ressarcimento integral do
dano”.

É supinamente relevante destacar que a


competência para apreciar e julgar a presente rescisória é do egrégio
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO.
22

Isso porque, malgrado tenha ocorrido a


interposição do Recurso Especial nº 110856/2015, é certo que a esse apelo
nobre foi NEGADO SEGUIMENTO, conforme se extrai da conclusão
proferida pela Exma. Sra. Dra. Desembargadora Vice-Presidente CLARICE
CLAUDINO DA SILVA, in verbis:

“Diante do exposto, NEGO SEGUIMENTO AO RECURSO


ESPECIAL” (vide decisão monocrática em anexo – fl. 749 – IV vol.).

Ora, o uso da locução “nego seguimento


ao Recurso Especial” não deixa margens a dúvidas no sentido de que o
egrégio STJ não examinou o mérito da pretensão recursal excepcional, pois
nem mesmo a interposição do recurso de AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
Nº 832.603-MT, de relatoria do Ministro SÉRGIO KUKINA, conduz a
conclusão diversa, pois a conclusão do Ministro foi a mesma, verbis:

“Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO AO AGRAVO” (vide


decisão monocrática em anexo – fl. 775 – IV vol.).

Em face dessa decisão do STJ – que não


apreciou o mérito do v. acórdão do TJMT – não foi interposto qualquer
recurso, de modo que foi certificado o trânsito em julgado no AREsp
832.603/MT pela Coordenadoria da Primeira Turma do STJ, conforme se vê
da Certidão vazada nestes termos:

“CERTIDÃO TRÂNSITO EM JULGADO E TERMO DE BAIXA

CERTIFICO que a r. decisão retro transitou em julgado em 21 de


março de 2016.

Remeto os presentes autos (da Certidão de Digitalização do


Trânsito em Julgado) ao TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
MATO GROSSO.

Brasília – DF, 31 de março de 2016.

COORDENADORIA DA PRIMEIRA TURMA


Assinado por Genésio Aparecido de Melo em 31 de março de 2016
às 11:02:21(vide fl. 776-TJMT – IV vol.).
23

Nesse contexto, salta aos olhos que a


última decisão de mérito foi proferida pela Quarta Câmara Cível deste
egrégio Sodalício, motivo pelo qual é competente esta Corte para apreciar a
vertente rescisória.

De outra banda, como a rescisória deve ser


veiculada no prazo decadencial de 2 (dois) anos, ex vi do disposto no art.
975 do novel Diploma Processual, temos que a demanda ora aforada está
dentro do prazo, pois, conforme CERTIDÃO DE TRÂNSITO EM JULGADO
E TERMO DE BAIXA subscrito pela Coordenadoria da Primeira Turma do
STJ, o v. acórdão rescindendo transitou em julgado na data de 31 de
março de 2016. Portanto, o prazo escoa somente em 31 de março de
2018.

De outro giro, no concernente à legitimidade


do Autor ela é incontroversa, na medida em que o mesmo faz parte da
relação jurídica processual desde o nascedouro do processo.

Destarte, tendo sido demonstrados os


requisitos de admissibilidade da presente ação rescisória, a saber:

(i) que a decisão de mérito transitou em julgado, e


corresponde ao v. acórdão rescindendo da Quarta Câmara Cível do TJMT
(art. 966, caput, e inc. V), sendo que o fundamento que autoriza a
rescisória é o inciso V do art. 966: “... violar manifestamente norma
jurídica”;

(ii) que ela está sendo aviada dentro do biênio


decadencial, em cumprimento ao art. 975 do CPC-2015;

(iii) que o autor tem legitimidade ad causam e


interesse processual no manejo da presente rescisória (art. 967, inc. I:
quem foi parte no processo), passa-se, doravante, ao exame do mérito da
presente actio, em que será demonstrada a violação ostensiva de normas
jurídicas da Lei de Improbidade Administrativa e do Código de
Processo Civil.
24

Em suma, por onde quer que se olhe, é


perfeitamente cabível a vertente ação rescisória, pois é patente que o v.
acórdão rescindendo fez tabula rasa de inúmeras normas jurídicas da Lei
nº 8.429, de 2 de junho de 1992 e do Código de Processo Civil.

II – DA VIOLAÇÃO MANIFESTA DE
NORMAS JURÍDICAS
O v. acórdão rescindendo proferido pela
Quarta Câmara Cível deste colendo Sodalício violou, de forma manifesta e
acintosa, as normas jurídicas de direito material e processual que vêm
expressas nos artigos 5º, e 10, caput, 11, caput, da Lei nº
8.429/1992, artigo 422 do Código Civil, e artigo 833, inciso IV c/c
§2º, do Código de Processo Civil, que possuem a seguinte redação:

“Art. 5º. Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, DOLOSA OU
CULPOSA, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano

Art. 10, caput. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao
erário qualquer ação ou omissão, DOLOSA OU CULPOSA, que enseje perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou
haveres das entidades referidas no artigo 1º desta lei.

Art. 11, caput. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres
de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições.

Art. 422 do Código Civil: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na
conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-
fé.

Artigo 833 do Código de Processo Civil. São impenhoráveis:


(...)
IV – os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como
as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinada ao sustento do
devedor e de sua família, os ganhos do trabalhador autônomo, e os honorários de
profissional liberal, ressalvado o §2º.
(...)
§2º. O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora
para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem,
bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais,
devendo a constrição observar o disposto no art. 528, §8º, e no art. 529, §3º.
25

A leitura do v. acórdão rescindendo na parte


em que julga o mérito da pretensão posta em juízo, deixa claro como a luz
do sol que essas normas jurídicas da Lei de Improbidade Administrativa, do
Código Civil e do Código de Processo Civil de 2015 foram manifestamente
violadas, de modo que cabe a rescisória com espeque na redação do inciso
V do art. 966 do novo Diploma Processual.

Prima facie, para que reste patente a


violação dessas normas jurídicas, é conditio sine qua non reproduzir os
fundamentos do v. acórdão rescindendo, para que fique claro que o julgado
cuja rescisão se pleiteia, afrontou as normas jurídicas dos artigos 5º, 10,
caput, 11, caput, da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, e artigo 833,
inciso IV e seu §2º, do CPC.

Diz o v. acórdão rescindendo, na parte que


interessa à presente actio, principiando pela EMENTA:

“APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – RESSARCIMENTO DE


DANO CAUSADO AO ERÁRIO – CUMULAÇÃO DE CARGO EFETIVO E
EM COMISSÃO – SERVIDOR CEDIDO – CUMULAÇÃO DE
REMUNERAÇÃO – IMPOSSIBILIDADE – LEI QUE DETERMINA
OBRIGAÇÃO DO ÓRGÃO CESSIONÁRIO – EXISTÊNCIA DE PROVA
DE MÁ-FÉ E DOLO – COMPROVADO DANO AO ERÁRIO – DEVER DE
RESSARCIMENTO INTEGRAL DO DANO – RECURSO PROVIDO.
Tratando-se de recebimento de vencimentos pelo desempenho de função
em cargo comissionado, em virtude de cessão, cumulado com remuneração
do cargo efetivo, com regulamentação pelo órgão cedente, de que a
remuneração é a cargo do órgão ou entidade cessionária, fica caracterizado
o dolo e a má-fé do servidor público, portanto, demonstrado o prejuízo
aos cofres públicos, o que enseja o dever de ressarcimento integral do
dano”.

E, do corpo do julgado rescindendo, colhe-


se a seguinte passagem, em que fica claro como água da fonte que o Autor
da presente rescisória NÃO AGIU COM DOLO OU CULPA na percepção de
suas remunerações, verbis:

“Conforme relatado, trata o recurso de irresignação contra sentença


proferida nos autos de Ação Civil Pública de ressarcimento de danos
causados ao erário movida contra Adalberto Maciel Metello, que julgou
improcedentes os pedidos iniciais, concernentes à condenação do réu a
recomposição integral do dano causado ao erário, com ressarcimento da
26

quantia de R$ 363.812,93 (trezentos e sessenta e três mil, oitocentos e doze


reais e noventa e três centavos), referente a salários líquidos acumulados e
percebidos indevidamente, com juros e correção monetária, desde os
pagamentos irregulares até o efetivo ressarcimento.

No caso em questão, consta dos autos que o apelado ADALBERTO


MACIEL METELLO é odontólogo e servidor público do Estado de Mato
Grosso desde 1974, e em janeiro de 2001 foi cedido pelo próprio Estado a
exercer cargo em comissão no Município de Barra do Garças.

Dessa forma, passou a exercer o cargo de Secretário Municipal de Saúde,


oportunidade que passou a cumular vencimentos dos respectivos cargos,
estadual e municipal, no período de 02.01.2001 a 31.12.2008.

O MM. Juiz singular entendeu pela improcedência da ação civil pública de


ressarcimento de danos causados ao erário, por INEXISTIR
COMPROVAÇÃO DE MÁ-FÉ DO SERVIDOR PÚBLICO apelado:

“Analisando os autos verifico que o réu tomou posse no cargo de


Odontólogo na Secretaria de Saúde do Estado em 25 de novembro de 1974 e
desde então exerce suas funções no Município de Barra do Garças/MT.
Em 02 de janeiro de 2001 o então Governador do Estado de Mato Grosso
concedeu ao requerido afastamento para exercer cargo comissionado no
referido município (fls. 221).
Verifica-se, desse modo, que o Estado, por intermédio do Governador,
manifestou-se concorde com a cessão do requerido ao Município de Barra do
Garças/MT, sendo certo também que o mesmo estava ciente que o requerido
não mais exerceria suas atividades pelo Estado de Mato Grosso, mas sim para
aquele município.
Sob tal perspectiva, TENHO QUE A MANUTENÇÃO DA REMUNERAÇÃO
DO SERVIDOR DECORREU DE ERRO EXCLUSIVO DO PRÓPRIO ESTADO, que
repita-se, estava ciente desde o início que o réu estava cedido ao Município de
Barra do Garças/MT para fins exercício de cargo em comissão.
27

Nesse passo, ficou perfeitamente definido que O RÉU NÃO CONCORREU


PARA TAL ERRO E PASSOU A RECEBER OS VALORES EM BOA-FÉ, ATÉ
MESMO PORQUE O CÁLCULO DOS SUBSÍDIOS ERA FEITO PELO PRÓPRIO
ESTADO QUE O REMUNERAVA.
NÃO SE PRODUZIU NOS AUTOS QUALQUER PROVA DE QUE O
SERVIDOR TIVESSE AGIDO DE MÁ-FÉ, OU TIVESSE SE PORTADO COM
DOLO OU CULPA. ALIÁS, O MINISTÉRIO PÚBLICO NA EXORDIAL SEQUER
MENCIONOU O ELEMENTO SUBJETIVO.
Embora exista norma vedando expressamente o acúmulo indevido de
cargos ou de remunerações, não me aparenta razoável ou proporcional a
condenação do réu ao ressarcimento integral de todas as VERBAS
ALIMENTARES RECEBIDAS POR ELE.
In casu, entendo que é necessário sobrelevar a segurança jurídica e A
BOA-FÉ DO ADMINISTRADO, em detrimento da legalidade estrita.

Nesse sentido é o preciso magistério de JUAREZ DE FREITAS:


[...] convalidáveis serão todos os atos administrativos que, a despeito da
ilegalidade formal originária, com o passar de largo lapso temporal, não se
mostram necessariamente ofensivos ao sistema de princípios, considerado em seu
conjunto e sob a ótica preponderante do interesse público. Em breves palavras,
nulo é apenas o ato administrativo que afronta irremediavelmente a íntegra dos
princípios juspublicistas, enquanto anulável aquele que não os afeta necessária e
gravemente, merecendo, em circunstâncias específicas, ser convalidados, em
respeito a este ou àquele princípio que seria afrontado pelo ato de anulação” (in “A
anulação dos atos administrativos em face do princípio da boa-fé. Boletim de Direito
Administrativo, fevereiro/1995, nº 045, p. 96-97).

A lei exige do intérprete a consideração do caso concreto, das situações


consolidadas, de modo a minorar as consequências do erro do Poder Público
sobre a sua própria esfera e a do SERVIDOR DE BOA-FÉ.

A respeito do tema – conclui a sentença do MM. Juiz – a jurisprudência do E.


Superior Tribunal de Justiça tem se orientado a favor da tese de que a
reposição de vencimentos pagos a maior a servidor SÓ SE MOSTRA POSSÍVEL
EM HIPÓTESE DE MÁ-FÉ DO BENEFICIÁRIO:
28

“DIREITO ADMINISTRATIVO – REPOSIÇÃO AO ERÁRIO –


VALORES RECEBIDOS INDEVIDAMENTE PELO SERVIDOR POR
INTERPRETAÇÃO ERRÔNEA DE LEI – RECURSO REPETITIVO (ART.
543-C DO CPC/1973 E RES. Nº 8/2008 STJ).
Não é possível exigir a devolução ao erário dos valores
recebidos de boa-fé pelo servidor público, quando pagãos
indevidamente pela Administração Pública, em função de interpretação
equivocada de lei. O art. 46, caput, da Lei n. 8.112/1990 deve ser
interpretado com alguns temperamentos, mormente em decorrência de
princípios gerais do direito, como a boa-fé.
Com base nisso, quando a Administração Pública interpreta
erroneamente uma lei, resultando em pagamento indevido ao servidor, cria-
se uma falsa expectativa de que OS VALORES RECEBIDOS SÃO
LEGAIS E DEFINITIVOS, IMPEDINDO, ASSIM, QUE OCORRA A
RESTITUIÇÃO, ANTE A BOA-FÉ DO SERVIDOR PÚBLICO. Precedentes
citados do STF: MS 25641, DJe 22/2/2008; do STJ: EDcl no RMS 32.706-
SP, DJe 9/11/2011; AgRg no Ag 1.397.674-RS, DJe 15/8/2011; AgRg no
REsp 1.266.592-RS, DJe 13/9/2011; REsp 1.190.740/MG, DJe 12/8/2010;
AgRg no AG 1.030.125-MA, DJe 1º/9/2008; AgRg nos EDcl no Ag 785.552-
RS, DJ 5/2/2007; MS 10.740-DF, DJ 12/3/2007, e EDcl no RMS 12.393-PR,
DJ 6/6/2005, REsp 1.214.182-PB, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES,
julgado em 10/10/2012”.

Em face dessas considerações não há falar em devolução dos valores recebidos


indevidamente pelo servidor Adalberto Maciel Metello, em OBSERVÂNCIA AO
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ E DA SEGURANÇA JURÍDICA” (trechos da r. sentença
que foram citados no v. acórdão rescindendo).

É fácil notar do trecho do v. acórdão acima


transcrito – em que são reproduzidas passagens da r. sentença de primeiro
grau – que o autor desta actio, o servidor público aposentado ADALBERTO
MACIEL METELLO não agiu, em nenhum momento, de má-fé, tendo a
sentença afastado, expressamente, qualquer conduta dolosa ou culposa
do referido servidor.
29

Para reformar a sentença e contornar a


inegável boa-fé do servidor público, o v. acórdão rescindendo violou
acintosamente as normas jurídicas dos artigos 5º, 10, caput, e 11,
caput, da Lei de Improbidade Administrativa, que somente admite o
ressarcimento ao erário quando restar provada a conduta dolosa ou
culposa do servidor público, o que jamais ocorreu, pois nem mesmo o v.
acórdão rescindendo fala em dolo ou culpa do autor desta actio, pois o v.
acórdão se limitou apenas a dizer que o valor percebido deveria ser
ressarcido, sem imputar qualquer responsabilidade derivada de DOLO
ou CULPA, conforme se pode aferir da seguinte passagem, verbis:

“[...]
De maneira que, sendo de conhecimento a lei, fica evidenciada a conduta
do apelado quanto ao percebimento das duas remunerações, pois, ao
apelado não impõe a máxima do desconhecimento da lei, que deveria por
prudência ter comunicado o fato a Administração Pública”.

Data maxima venia, como exigir do servidor


a “... comunicação do fato à Administração Pública...”, se foi a própria
Administração que publicou o ato no Diário Oficial??? Se o ato partiu do
Poder Público, como exigir que se comunique um ato ao ente público, se o
ato nasceu e derivou da própria Administração.

Para que fique bem claro que o v. acórdão


rescindendo fez tabula rasa dos artigos 5º, 10, caput, e 11, caput, da Lei de
Improbidade Administrativa, é fundamental levar em consideração dois
aspectos cardeais que o v. acórdão rescindendo não se apercebeu: 1º) que
em nenhum momento restou provado e/ou demonstrado que o servidor
público agiu com má-fé. Muito pelo contrário: a r. sentença de piso foi
enfática em sustentar a inequívoca boa-fé do servidor público; 2º-) se o
servidor público agiu de boa-fé, pois nem mesmo o Ministério Público
colocou em xeque o comportamento do autor desta actio, é cediço que deve
ser afastado o ressarcimento ao erário, pois o mesmo é exigido – de acordo
com a interpretação dos artigos 5º, 10, caput, e 11, caput, da Lei nº 8.429,
de 2 de junho de 1992 – somente nos casos em que o servidor age com
dolo ou culpa.
30

Ora, a jurisprudência pátria, na


interpretação das normas jurídicas dos artigos 5º, 10, caput, e 11, caput,
da Lei de Improbidade Administrativa, exige que o servidor público tenha
agido de má-fé, o que não é o caso objeto desta rescisória, pois o próprio
v. acórdão rescindendo, em nenhum instante fala que o servidor obrou de
má-fé, e muito menos com dolo ou culpa.

A única menção que o v. acórdão


rescindendo faz para sustentar “... o dolo e a má-fé do servidor
público” é na EMENTA do julgado, que não retrata o que está sustentado
no corpo do v. acórdão rescindendo, sendo patente a contradição entre a
EMENTA e o corpo do aresto da egrégia Quarta Câmara desta Corte.

Logo, se o servidor não agiu com dolo e


muito menos com má-fé, não cabe a condenação de ressarcimento ao
erário. Deveras, reforçando o entendimento da r. sentença de primeiro grau
– que foi surpreendentemente reformada por essa egrégia Corte – calha à
fiveleta aresto do egrégio TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO
PAULO, vazado nestes termos luzidios:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Improbidade administrativa – Inocorrência – Agente


público – Hipótese em que este NÃO COMETEU CONDUTA ILÍCITA COM DOLO OU
CULPA GRAVE, não obteve acréscimo de bens ou valores no seu patrimônio em
detrimento do erário público, não criou situação de insegurança jurídica aos
administrados e aos administradores e nem teve conduta imprudente e
desleixada grave a ponto de ocasionar lesão ao patrimônio público –
PRESUNÇÃO DE BOA-FÉ DO INDIVÍDUO – INEXISTÊNCIA DE PROVA DE QUE
TENHA AGIDO DE MÁ-FÉ.
Ementa Oficial: Não comete enriquecimento ilícito o agente público que, por ação
ou omissão, não cometeu conduta ilícita com dolo ou culpa grave e nem obteve
acréscimo de bens ou valores no seu patrimônio em detrimento do erário público.
No mesmo modo, não cria situação de insegurança jurídica aos administrados e
aos administradores quando o agente não agiu com espírito predeterminado à
prática do ato ilícito e nem teve conduta imprudente e desleixada grave a ponto de
ocasionar lesão ao patrimônio público. INEXISTINDO PROVA DE QUE O AGENTE
PÚBLICO AGIU DE MÁ-FÉ, PRESUME-SE A SUA BOA-FÉ, O QUAL DEVE SER
31

EXCLUÍDO DA CATEGORIA JURÍDICA TIPIFICADA COMO IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA” (EI 146.591-5/1, 7ª Câmara Cível do TJSP, rel. Des. GUERRIERI
REZENDE, j. 1º.09.2003, RT 820/240).

Ora, esse julgado cai como uma luva ao


caso em testilha. Primeiro, porque o autor da rescisória não cometeu
enriquecimento ilícito, já que os subsídios que recebeu era para seu próprio
sustento e de sua família, pois é inegável a natureza alimentar dos
vencimentos.

Segundo, não cometeu ação ou omissão


dolosa ou decorrente de culpa grave, como expressamente reconheceu
a r. sentença de primeiro grau. Aliás, nem o órgão do Parquet na ação
proposta sustenta o entendimento de que o servidor público agiu de má-fé.

Terceiro, não obteve o servidor acréscimo


de bens ou valores no seu patrimônio em detrimento do erário
público, já que o autor desta actio não possui bens, não tem fazenda, não
tem gado, não tem imóveis, à exceção de uma casa que é a sua residência.

Assim, inexistindo prova de que o agente


público agiu de má-fé, presente a sua boa-fé, de modo que – no
compasso do julgado acima transcrito – “... deve ser excluído da
categoria jurídica tipificada como improbidade administrativa...”.

Do exposto, salta aos olhos que o v.


acórdão rescindendo proferido pela Quarta Câmara Cível deste colendo
Sodalício violou, de forma manifesta e acintosa, as normas jurídicas
expressas nos artigos 5º, 10, caput, e 11, caput, da Lei nº
8.429/1992, que exigem a ação ou omissão dolosa ou culposa, para
que se configure o ressarcimento ao erário, conforme se vê dos trechos
negritados dos referidos artigos, verbis:

“Art. 5º. Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, DOLOSA OU
CULPOSA, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano

Art. 10, caput. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao
erário qualquer ação ou omissão, DOLOSA OU CULPOSA, que enseje perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou
ijhaveres das entidades referidas no artigo 1º desta lei.
32

Art. 11, caput. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres
de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições”.

A propósito, esse também tem sido o


entendimento sufragado pelo colendo TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
– TCU, conforme disposto nos autos do processo 64.167/59, que diz:

“É princípio, geralmente aceito o de que ninguém está obrigado a restituir


qualquer quantia que tenha recebido de boa-fé. Esse valor já foi
incorporado à economia do interessado que, em geral, não terá
possibilidade de devolvê-lo sem grandes sacrifícios em face de seus parcos
recursos. A devolução representaria, de fato, um castigo, uma pena. E
é imoral e injusto aplicar pena ou castigo a quem não cometeu dolo”
(Manual dos servidores do Estado, 13ª ed. Rio de Janeiro: Editora Freitas
Bastos, p. 990).

De igual modo, na interpretação dos artigos


5º, 10, caput, e 11, caput, da Lei de Improbidade Administrativa, a
jurisprudência pátria é unânime no sentido de se demonstrar o dolo ou
culpa grave do servidor para a configuração da prática de improbidade
administrativa pelo servidor. Nesse sentido:

I-) “ATO DE IMPROBIDADE – Necessidade de se perquirir elemento


subjetivo – Dolo. O nosso ordenamento jurídico propõe para a
caracterização do ato de improbidade que, além da prática do ato, há de se
perquirir a existência do elemento subjetivo, isto é, o dolo. Não há ato de
improbidade administrativa se dos elementos colhidos no caderno
processual não há comprovação de dolo ou culpa” (RT 820/242).

II-) “SERVIDOR – Remuneração – Caráter alimentar – Repetição –


Desconto – Recebimento indevido – Boa-fé – Devolução. A boa-fé
no recebimento de valores afasta a possibilidade de desconto automático na
remuneração dos servidores. O funcionário somente está sujeito a devolver
à Administração o que houver recebido de má-fé, e a indenizar o Estado por
eventuais prejuízos causados.
Desse modo, sem cogitar de dolo ou culpa, NÃO MERECE O
FUNCIONÁRIO SER OBRIGADO A RESSARCIR O QUE A
ADMINISTRAÇÃO LHE HOUVER PAGO POR EQUÍVOCO.
Embora correta a assertiva de que o ‘erro administrativo não gera em favor
do servidor nenhum direito’, sucede assentar que a remuneração do
servidor tem caráter alimentar, o que implica colocar-se A
IRREPETIBILIDADE COMO REGRA E A DEVOLUÇÃO COMO
EXCEÇÃO, dependente, por isso mesmo, de dispositivo legal
específico.
Recebendo o servidor, em caráter definitivo, determinados valores do ente
público, apenas nos estreitos limites da previsão legal adrede elaborada é
que se sujeita a devolver qualquer quantia para o Estado.
A VERBA DESTINADA À SOBREVIVÊNCIA DO FUNCIONÁRIO E DE
SUA FAMÍLIA NÃO PODE RESTAR COMPROMETIDA PELOS
33

CAPRICHOS DOS TITULARES DO ÓRGÃO OU MERCÊ DA


DESORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO PÚBLICO” (EI na Apelação nº
37.243/98, 1ª Câmara Cível do TJDF, rel. Des. VALTER XAVIER, j.
13.05.2998, RT 820/242).

O v. acórdão rescindendo também entra em


rota de colisão com a jurisprudência pacífica deste colendo Sodalício, que
sempre entendeu que para a caracterização de ato de improbidade
administrativa é imprescindível a presença de DOLO, haja vista que a
desonestidade é elemento intrínseco do instituto da improbidade.

Foi o que deixou assentado a TERCEIRA


CÂMARA CÍVEL desta Corte, em julgado de relatoria da EXMA. SRA. DRA.
VANDYMARA G. R. P. ZANOLO – com votos favoráveis dos
Desembargadores MÁRCIO VIDAL (Revisor) e SERLY MARCONDES
ALVES (Vogal convocada) – vazado nestes termos:

“APELAÇÕES CÍVEIS – AÇÃO CIVIL POR IMPROBIDADE - PRELIMINAR DE


PARCIAL INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL DA LEI Nº 8.492/92 –
REJEITADA – INAPLICABILIDADE DA REFERIDA LEI AOS AGENTES POLÍTICOS
– REJEITADA - IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DE EFEITO EX TUNC À
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE – NÃO CONHECIDA – NULIDADE
DA SENTENÇA POR AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO – REJEITADA – MÉRITO
– AUSÊNCIA DE DOLO NAS CONDUTAS – CONDENAÇÃO COM FULCRO NO
ART. 11 DA LEI 8.492/92 – IMPRESCINDÍVEL A CARACTERIZAÇÃO DE
DOLO – SENTENÇA REFORMADA – RECURSOS PROVIDOS – RECURSO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO – APLICAÇÃO DE MULTA CIVIL – DESCABIMENTO –
RECURSO DESPROVIDO – REEXAME NECESSÁRIO – PREJUDICADO.
A Lei nº 8.492/92 não traz qualquer inconstitucionalidade no caput dos arts.
10 e 11, pois referidos artigos não ferem o princípio da legalidade.
A aplicabilidade da Lei 8.492/92 encontra-se pacificada.
A matéria quanto aos efeitos de declaração de inconstitucionalidade constante
de sentença não se constitui como preliminar, mas como mérito do recurso.
A sentença encontra-se suficientemente fundamentada.
Para a caracterização de ato de improbidade administrativa previsto no
art. 11 da Lei 8.492/92 é imprescindível a presença do dolo, haja vista
que a desonestidade é elemento intrínseco do instituto da improbidade”
(Apelação/Reexame Necessário nº 164511/2014, Terceira Câmara, rela. Dra.
VANDYMARA G. R. P. ZANOLO, data de julgamento: 30.06.2015)

E do corpo desse lapidar aresto do Sodalício


mato-grossense, colhe-se a seguinte passagem, que cai como uma luva à
presente actio:

“A improbidade, como conduta a ser sancionada pela Lei


8.492/92, é a conduta eivada de má-fé, de dolo, não a
conduta daquele que, certo da legalidade, da necessidade
para a prestação de um serviço assegurado
34

constitucionalmente aos cidadãos, pratica visando


cumprir com a função estatal.
Não é qualquer irregularidade ou ilegalidade que
configura um ato ímprobo, somente o é aquele qualificado
pelo dolo, pois a improbidade é instituto inseparável da
desonestidade” (fl. 17 de 26 da Ap/RNec nº 164511/2014 –
grifos nos

Ora, a conduta do autor da presente


rescisória – que recebeu subsídios de natureza alimentar para o seu
sustento e o de sua família – não comporta a interpretação dada pelo v.
acórdão rescindendo, pois em nenhum momento restou comprovada a
conduta eivada de má-fé do servidor ADALBERTO MACIEL METELLO.

III – OS VENCIMENTOS PERCEBIDOS SÃO


IRREPETÍVEIS DADA A NATUREZA
ALIMENTAR DOS SUBSÍDIOS
O v. acórdão rescindendo também viola e
entra em rusgas com as normas jurídicas estampadas no art. 833, inciso IV,
e seu §2º, do Código de Processo Civil, que dispõe:

Artigo 833 do Código de Processo Civil. São impenhoráveis:


(...)
IV – os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como
as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinada ao sustento do
devedor e de sua família, os ganhos do trabalhador autônomo, e os honorários de
profissional liberal, ressalvado o §2º.
(...)
§2º. O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora
para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem,
bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais,
devendo a constrição observar o disposto no art. 528, §8º, e no art. 529, §3º.

No caso objeto desta rescisória, resta


incontroverso que a remuneração percebida pelo autor tem natureza
alimentar, pois dizia respeito ao seu subsídio quando estava na ativa.

Quanto à natureza alimentar do subsídio, é


absolutamente assente a jurisprudência pátria, consoante se pode aquilatar
do seguinte aresto, verbis:
35

“SERVIDOR – Remuneração – Caráter alimentar – Repetição –


Desconto – Recebimento indevido – Boa-fé – Devolução.
A boa-fé no recebimento de valores afasta a possibilidade de desconto
automático na remuneração dos servidores. O funcionário somente está
sujeito a devolver à Administração o que houver recebido de má-fé, e a
indenizar o Estado por eventuais prejuízos causados.
Desse modo, sem cogitar de dolo ou culpa, NÃO MERECE O
FUNCIONÁRIO SER OBRIGADO A RESSARCIR O QUE A
ADMINISTRAÇÃO LHE HOUVER PAGO POR EQUÍVOCO.
Embora correta a assertiva de que o ‘erro administrativo não gera em favor
do servidor nenhum direito’, sucede assentar que a remuneração do
servidor tem caráter alimentar, o que implica colocar-se A
IRREPETIBILIDADE COMO REGRA E A DEVOLUÇÃO COMO
EXCEÇÃO, dependente, por isso mesmo, de dispositivo legal
específico.
Recebendo o servidor, em caráter definitivo, determinados valores do ente
público, apenas nos estreitos limites da previsão legal adrede elaborada é
que se sujeita a devolver qualquer quantia para o Estado.
A VERBA DESTINADA À SOBREVIVÊNCIA DO FUNCIONÁRIO E DE
SUA FAMÍLIA NÃO PODE RESTAR COMPROMETIDA PELOS
CAPRICHOS DOS TITULARES DO ÓRGÃO OU MERCÊ DA
DESORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO PÚBLICO” (EI na Apelação nº
37.243/98, 1ª Câmara Cível do TJDF, rel. Des. VALTER XAVIER, j.
13.05.2998, RT 820/242).

Assentada a natureza alimentar dos


subsídios recebidos pelo servidor – autor desta actio – salta aos olhos que
isso acarreta, como é da tradição do nosso direito, A IRREPETIBILIDADE
DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR, mesmo porque o numerário recebido pelo
servidor ao longo de 8 (oito) anos foi para garantir a subsistência sua e de
sua família.

A propósito, o egrégio TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO excluiu o servidor do polo passivo
de uma ação de improbidade administrativa, exatamente em razão da
natureza alimentar dos subsídios, consoante se pode aquilatar da
seguinte passagem do v. acórdão da Corte paulista:

“Os serviços, o quanto é inquestionado, foram prestados e, estando


Aparecido Gomes de Carvalho, de boa-fé, máxime tratando-se de
verbas de natureza alimentar, deve prevalecer o entendimento
consagrado de que não são passíveis de repetição, motivo pelo qual,
apenas nesta parte, para excluir Aparecido Gomes de Carvalho da obrigação
solidária de restituir os valores indevidamente pagos, dá-se parcial
provimento ao recurso” (Apelação nº 246.245-1/6, Segunda Câmara do
TJSP, rel. Des. MARREY NETO, j. 14.05.1996, RT 735/268).

Não discrepa dessa orientação expressivo


aresto do TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO, que decidiu:
36

“SERVIDOR PÚBLICO – Restituição administrativa – Desconto em folha de


pagamento de parcelas remuneratórias percebidas de boa-fé, decorrentes de
equivocada interpretação da Administração sobre norma jurídica aplicável à
situação funcional – Inadmissibilidade – Inteligência da Súmula 106 do TCU.
[...]
4. Não estão sujeitas a restituição administrativa, mediante desconto em folha de
pagamento, as parcelas remuneratórias percebidas de boa-fé pelo servidor e
decorrentes de equivocada interpretação da Administração acerca da norma
jurídica aplicável à sua situação funcional. Súmula 106/TCU. Precedentes da Corte
(MAS 2000.01.00.008597-4/DF, rel. Juiz Federal KLAUS KUSCHEL (conv.), 1ª Turma,
DJ 06.02.2006, p. 14; MAS 2002.37.00.004886-3/MA, rel. Juiz Federal ITELMAR
RAYDAN EVANGELISTA (conv.), 1[ Turma, DJ 05.12.2005, p. 23)” (Apelação nº
2002.38.00.005121-2/MG, 1ª Turma do TRF da 1ª Região, rel. Des. Federal JOSÉ
AMILCAR MACHADO, DJU 01.04.2008, RT 873/347).

Assim, considerando que o pagamento


irregular do servidor ADALBERTO MACIEL METELLO decorreu de erro
imputável à própria Administração Pública e que o servidor recebeu os
referidos valores, de natureza alimentar, imbuído de boa-fé, afastada
resta a obrigatoriedade da devolução das quantias, segundo remansosa
orientação jurisprudencial dos Tribunais, verbis:

“ADMINISTRATIVO – Mandado de segurança – Servidor público


aposentado – Parcelas recebidas de boa-fé – Não exigência de restituição –
Sentença parcialmente reformada.
1. [...]
2. No que tange à devolução da quantia recebida indevidamente pelo
impetrante, este Tribunal tem se posicionado a respeito da questão,
DECIDINDO PELA IMPOSSIBILIDADE DE RESTITUIÇÃO AO
ERÁRIO, SEMPRE QUE, TRATANDO-SE DE VERBA ALIMENTAR, O
SERVIDOR TIVER RECEBIDO DE BOA-FÉ OS VALORES QUE LHE
FORAM INDEVIDAMENTE PAGOS PELA ADMINISTRAÇÃO e que o
pagamento efetivado tiver decorrido de equivocada interpretação da
administração acerca da norma jurídica aplicável à espécie (cf. TRF 1ª Reg.,
1ª Turma, AC 1998.34.00.029483-1/DF, rel. Juiz Federal ITELMAR
RAYDAN EVANGELISTA, DJ 27.09.2004; 1ª Turma, MAS
1998.01.00.013657-9, rel. JOÃO CARLOS MAYER SOARES, DJ 31.03.2005; 2ª
Turma, MAS 2001.37.00.00.6435-0-MA, rela. Desa. Federal NEUZA MARIA
ALVES DA SILVA, DJ 31.05.2005, p. 27; 2ª Turma, MAS 1999.01.00.113591-8-
37

MA, rel. Juiz Federal CARLOS ALBERTO SIMÕES DE TOMAZ, DJ


18.11.2004).
3. Apelação parcialmente provida” (1ª Turma, MAS 2000.01.00.008597-4-DF,
rel. Juiz Federal KLAUS KUSCHEL, DJ 06.02.2006, p. 14, RT 873/352).

Ora, restando assentado que os subsídios


recebidos a maior possuem natureza alimentar – além do fato do
servidor ter agido de boa-fé – mormente em razão do fato de que recebeu
por ato da Administração cuja presunção de legalidade é suficiente a
configurar a boa-fé do autor desta rescisória, salta aos olhos que a
manutenção do v. acórdão rescindendo fere de morte as normas jurídicas
estampadas no art. 833, inciso IV, e seu §2º, do Código de Processo Civil,
que dispõe:

Artigo 833 do Código de Processo Civil. São impenhoráveis:


(...)
IV – os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como
as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinada ao sustento do
devedor e de sua família, os ganhos do trabalhador autônomo, e os honorários de
profissional liberal, ressalvado o §2º.
(...)
§2º. O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora
para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem,
bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais,
devendo a constrição observar o disposto no art. 528, §8º, e no art. 529, §3º.

Com efeito, se o autor desta actio já está


aposentado, e se os seus proventos de aposentadoria são
impenhoráveis, é cediço que a manutenção do v. acórdão rescindendo
viola a norma do inciso IV do art. 833 do novel Diploma Processual.

E a situação do autor, vale destacar, não se


enquadra nas duas exceções previstas no §2º do mesmo dispositivo: (a)
primeiro porque a questão aqui não envolve pagamento de prestação
alimentar ao Estado de Mato Grosso; (b) porque a aposentadoria recebida
pelo autor não excede a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, pois
somente neste caso é que se autorizaria qualquer desconto e/ou penhora
nos proventos de aposentadoria do autor desta demanda.
38

Portanto, a manutenção do v. acórdão


rescindendo – que não faz qualquer ressalva quanto à impenhorabilidade
absoluta dos proventos do servidor público ADALBERTO MACIEL
METELLO – viola, de forma ostensiva, a norma jurídica do art. 833, inciso
IV, e seu §2º, do Código de Processo Civil.

A respeito desse ponto, a jurisprudência é


absolutamente tranquila – seja na vigência do CPC/1973, seja na vigência
do atual Código – consoante se pode aquilatar dos seguintes julgados, aqui
colacionados apenas a título de ilustração, pois são centenas de acórdãos
nesse diapasão, verbis:

I-) “PENHORA – Incidência sobre aposentadoria – Inadmissibilidade –


Impenhorabilidade absoluta – Verba de natureza alimentar –
Inteligência do art. 649, IV, do CPC/1973 (correspondente ao art. 833, IV,
do CPC-2015).
Ementa Oficial: Proventos de aposentadoria não podem ser objeto de
penhora, ainda que a requerimento do devedor, em razão do princípio da
impenhorabilidade absoluta, que por ser de ordem pública é irrenunciável.
Inteligência do art. 649, IV, do CPC-1973 (correspondente ao art. 833, IV,
do CPC-2015). Agravo improvido” (AI nº 435.252-00/8, 1ª Câmara do TJSP,
rel. Des. MAGNO ARAÚJO, j. 05.06.1995, RT 719/209).

II-) “SERVIDOR PÚBLICO – Vencimentos – Penhora – Nulidade


reconhecida – Hipótese em que aqueles são absolutamente
impenhoráveis – Aplicação do art. 649, IV, do CPC/1973
(correspondente ao art. 833, IV, do CPC-2015).
Ementa Oficial: Deve ser reconhecida a nulidade da penhora efetivada,
porquanto, aplicável à espécie, o inc. IV do art. 649 do CPC/1973
(correspondente ao art. 833, IV, do CPC-2015), que dispõe serem
absolutamente impenhoráveis, à exceção de prestação alimentícia, os
vencimentos dos funcionários públicos, que por ser matéria de ordem
pública, e em face de seu caráter alimentar, sequer são renunciáveis”
(AgIn 2001.04.01.052119-0-PR, 1ª Turma do TRF da 4ª Região, rela. Desa.
Federal MARIA LÚCIA LUZ LEIRIA, DJU 02.10.2002, RT 812/399).

III-) “PENHORA – Vencimentos de funcionário público – Parte variável


– Inadmissibilidade – Impenhorabilidade expressamente prevista em
lei – Recurso provido – Aplicação do art. 649, IV, do CPC-1973
(correspondente ao art. 833, IV, do CPC-2015).
Ementa Oficial: A determinação legal prevista no art. 649, IV, do CPC-1973
(correspondente ao art. 833, IV, do CPC-2015) é bastante ampla, de forma
a abranger todo e qualquer pagamento recebido pelo trabalhador
diretamente prestado a qualquer empresa ou entidade pública. Não há
como fazer qualquer exceção, sendo, portanto, inadmissível a incidência de
penhora sobre a parte variável dos vencimentos de funcionário público,
porque também ela compõe os “vencimentos”. Estes significam a prestação
pecuniária do Estado a seu servidor, impenhorável, de forma absoluta.
39

Supõe a lei que os vencimentos e salários constituem-se em requisito


mínimo para subsistência do empregado ou funcionário e sua família. Não
quer tirar-lhe o mecanismo imprescindível a uma vida digna. Daí a
restrição legal” (AI 363.565, 7ª Câmara do TJSP, rel. Des. RÉGIS DE
OLIVEIRA, j. 16.09.1986, RT 614/128).

IV-) “FUNCIONÁRIO PÚBLICO – Vencimentos – Percepção de parcelas


indevidas – Descontos que só poderão ser efetuados pela
Administração mediante autorização do funcionário – Remuneração
impenhorável, salvo as exceções legais previstas no art. 649, IV, do
CPC-1973 (correspondente ao art. 833, IV, do CPC-2015).
Ementa Oficial: Funcionário público. Vencimentos. Percepção de parcelas
indevidas. Desconto efetuado pela Administração sem autorização do
funcionário. Inadmissibilidade. Se lhe pagou, por esta ou aquela causa,
parcelas indevidas, não pode a Administração descontá-las dos
vencimentos do funcionário sem autorização dele. É que, sendo os
vencimentos impenhoráveis e inexpropriáveis, salvo as exceções legais
previstas no art. 649, IV, do CPC-1973 (correspondente ao art. 833, IV, do
CPC-2015), não podem, a fortiori, constituir objeto de desconto unilateral,
imposto pela Administração, a pretexto de exercício do poder de autotutela,
por satisfazer-se de algum crédito. Fora absurdo pudesse a
Administração obter fora do processo jurisdicional o que dentro deste
lhe é vedado” (AI 129.406-1, Segunda Câmara do TJSP, rel. Des. CEZAR
PELUSO, j. 20.03.1990, RT 661/73).

Essa plêiade de julgados deixa claro que os


vencimentos do servidor público são absolutamente impenhoráveis, mesmo
porque os proventos de aposentadoria percebidos pelo autor desta actio
não se enquadra em nenhuma das exceções do art. 833 do novel Diploma
Processual.

Portanto, a manutenção do v. acórdão


rescindendo, ao não fazer ressalva quanto aos proventos de
aposentadoria do servidor – que possui natureza alimentar e são
irrepetíveis – fere a norma jurídica inserta no art. 833, inc. IV, e seu §2º,
do CPC.

Vale destacar que a violação de literal


disposição de lei – pois a rescisória ora proposta se enquadra no
permissivo legal do art. 966, V, CPC (“A decisão de mérito, transitada em
julgado, pode ser rescindida quando: violar manifestamente norma
jurídica”) – independe de se tratar de norma de natureza processual ou
material.

Expressivo, no particular, o seguinte aresto:

“AÇÃO RESCISÓRIA – Violação de literal dispositivo de lei – Irrelevância


da categoria da norma violada – Interpretação do art. 485, V, do CPC/1973.
40

Ementa da Redação: Para que se caracterize o pressuposto da violação literal de


disposição legal, fundamento da rescisória prevista no art. 485, V, do CPC-1973, é
irrelevante a categoria da norma violada, se de direito material, se de direito
processual” (AR 18.051.4/3, 9ª Câmara de Direito Privado do TJSP, rel. Des.
RUITER OLIVA, j. 02.09.1997, RT 747/250).

De igual modo, não é requisito para o


cabimento da rescisória que a norma tenha sido prequestionada no
julgado rescindendo, como é de iterativa e pacífica jurisprudência:

“RESCISÓRIA – Violação de literal disposição de lei – Norma não


prequestionada no julgado rescindendo – Irrelevância. A ação
rescisória fundada em violação de literal disposição de lei não exige
que a indigitada norma infringida tenha sido prequestionada no
julgado rescindendo” (AR 112.038-2, 5ª Grupo de Câmaras Cíveis
Reunidas do TJSP, rel. Des. CARLOS ORTIZ, j. 01.12.1987, RT
627/117).

IV – DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA


Em casos excepcionais – como sói acontecer
com o vertente, em que os proventos de aposentadoria de servidor
público aposentado corre o risco de penhora manifestamente indevida, dada
a natureza alimentar dos proventos – admite-se o requerimento de
concessão de tutela provisória para suspensão da execução do julgado
rescindendo, pois a presunção decorrente da coisa julgada é juris tantum,
portanto, relativa.

Prova disso é que a norma do art. 969 do


novel Diploma Processual prevê, de forma expressa, o cabimento de tutela
provisória de natureza cautelar ou satisfativa no bojo da rescisória, verbis:

“Art. 969. A propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da


decisão rescindenda, ressalvada a concessão de tutela provisória”.

Portanto, para a concessão de tutela


provisória que visa a sustação de acórdão rescindendo, faz-se necessário o
preenchimento dos requisitos autorizadores previstos no caput do art. 300
do Estatuto Processual, que vaticina: “A tutela de urgência será concedida
quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”, ou seja, os
pressupostos de sempre: fumus boni juris e periculum in mora.

No caso em apreço, esses dois requisitos


autorizadores de concessão de tutela provisória de natureza cautelar
encontram-se presentes.
41

O requisito da probabilidade do direito


(fumus boni juris) decorre do fato de que restou sobejamente
demonstrado que o servidor público, quando percebeu dupla remuneração –
uma decorrente do cargo efetivo de odontólogo frente ao Estado e outro
decorrente de exercício de cargo em comissão – não agiu com dolo e
muito menos de má-fé, pois a única menção que se faz a tal
comportamento é apenas na EMENTA do julgado, que é absolutamente
dissonante não só de seu corpo, mas da prova coligida nos autos.

Ademais disso, como os subsídios


possuem natureza alimentar – pois se destinam à manutenção de uma
vida digna do servidor e de sua família – é cediço que não cabe devolução
ao erário, dada a natureza IRREPETÍVEL DOS ALIMENTOS.

Já o requisito do perigo de dano ou risco


ao resultado útil do processo – correspondente ao periculum in mora –
está sobejamente presente no caso vertente, na medida em que o autor
desta actio está tendo sua conta-corrente bancária penhorada de forma
indevida para ressarcir o Estado, quando é certo que os proventos de
aposentadoria são ABSOLUTAMENTE IMPENHORÁVEIS (art. 833, IV,
CPC), sendo certo, outrossim, que a situação do servidor público
aposentado ADALBERTO MACIEL METELLO não se enquadra em nenhuma
das duas exceções do §2º do art. 833, a saber: (i) não se trata de dívida
de alimentos em favor de filho ou qualquer outro parente; (ii) a pensão do
servidor – que é odontólogo – naturalmente não ultrapassa a casa de 50
salários mínimos (algo próximo a R$ 48.000,00), pois somente nesses dois
casos é que se justifica a penhora de vencimentos e/ou proventos.

O pedido de tutela provisória de natureza


cautelar ora formulado tem o tranquilo apoio da jurisprudência pátria,
consoante se pode aquilatar dos seguintes julgados:

I-) “PENHORA – Incidência sobre os vencimentos de servidor público –


Inadmissibilidade – Verba de natureza alimentar – Inteligência do art.
649, IV, do CPC/1973 (correspondente ao art. 833, IV, CPC-2015)
Ementa da Redação: Tratando-se de ação fundada em contrato bancário, é
incabível a penhora dos vencimentos de servidor público, uma vez que se trata
de verba de caráter alimentar, sendo considerado bem absolutamente
impenhorável, conforme o disposto no art. 649, IV, do CPC-1973
(correspondente ao art. 833, IV, CPC-2015)” (AgIn 1.179.764-9, Segunda
Câmara do TJSP, rel. Des. JOSÉ REYNALDO, j. 14.05.2003, RT 818/239).

II-) “EXECUÇÃO – Penhora on line – Incidência sobre conta-salário –


Inadmissibilidade – Impenhorabilidade prevista no art. 649 do CPC (art.
833 do CPC-2015) – Levantamento do gravame que se impõe. Como o
bloqueio dos ativos do recorrente abrangeu, sem ressalva, os ativos todos, até
mesmo daqueles da conta corrente em que depositados os proventos de
42

aposentadoria, a decisão entrou no vedado campo de impenhorabilidade


absoluta estabelecido no art. 649, IV, do CPC/1973 (correspondente ao art.
833, IV, do CPC/2015).
Destarte, cabe reforma da ordem reclamada, para liberar do bloqueio, na conta
indicada, os depósitos promovidos em favor do correntista pelo INSS” (AgIn
456.000-4/6-00, 4ª Câmara de Direito Privado do TJSP, rel. Des. J. G. JACOBINA
RABELLO, j. 1º.09.2006, RT 855/279).

III-) “PENHORA ON LINE – Inadmissibilidade – Incidência sobre valor


depositado em conta-salário – Não comprovação de que os valores
bloqueados não eram de natureza salarial – Impenhorabilidade –
Numerário que serve para a subsistência do devedor e de sua família –
Inteligência do art. 649, IV, do CPC/1973 (correspondente ao art. 833, IV, do
CPC/2015).
Ementa Oficial: Tratando-se de conta-corrente onde o executado recebe seus
vencimentos de servidor público, e não havendo prova de que os valores
bloqueados pelo Sistema BacenJud são oriundos de outros eventuais depósitos
que não tenham natureza salarial, aplica-se o art. 649, IV, do CPC/1973
(correspondente ao art. 833, IV, do CPC/2015), pois os valores depositados,
salvo prova em contrário, servem à subsistência do devedor e da sua
família, estando protegidos pelo manto da impenhorabilidade” (MS
2006.000794-7, Pleno do TJAC, rela. Desa. MARCELE LOPES, j. 15.08.2006, RT
855/296).

Ora, se os proventos de aposentadoria


do servidor público ADALBERTO MACIEL METELLO ‘... servem à sua
subsistência e de sua família, pois estão protegidos pelo manto da
impenhorabilidade...’, é indispensável a concessão de tutela provisória
para sustar os efeitos do v. acórdão rescindendo – até que ocorra o
julgamento de mérito da presente rescisória – pelo menos no tocante à
impenhorabilidade de sua conta-corrente, pois o servidor público
aposentado vive exclusivamente dos rendimentos de sua aposentadoria.

Nesse contexto, o bloqueio on line que


ocorreu em sua conta bancária junto ao Banco do Brasil – Agência de Barra
do Garças/MT – na data de 07 de abril de 2017 (vide doc. em anexo),
impediu o autor desta actio de pagar seus compromissos, além do
transtorno causado de ter que peticionar nos autos de cumprimento de
sentença para que o Juízo de origem suspenda o bloqueio, pois o servidor
aposentado NÃO POSSUI OUTRA RENDA QUE GARANTE SUA
SUBSISTÊNCIA.

Patentes, pois, os requisitos do fumus boni


juris e do periculum in mora para a concessão de tutela provisória de
natureza cautelar nesta rescisória.
43

V – DO PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA E


DE ISENÇÃO DO PAGAMENTO DE
DEPÓSITO PRÉVIO
Nobre Desembargador Relator: o autor desta actio
é um servidor público estadual aposentado que vive exclusivamente do
rendimento proporcionado pela sua aposentadoria, não tendo qualquer
outra fonte de renda alternativa que permita custear os elevados custos
desta rescisória.

Com efeito, como é que alguém que vive


exclusivamente de sua aposentadoria vai ter condições de bancar as custas,
despesas processuais e depósito prévio da rescisória?

Ora, dispõe o art. 98 do CPC/2015, in verbis:

“Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e
os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da
lei;
§1º. A gratuidade de justiça compreende:
I – as taxas ou as custas judiciais;
[...]
VIII – os depósitos previstos em lei para interposição de recurso, para
propositura de ação e para a prática de outros atos processuais inerentes
ao exercício da ampla defesa e do contraditório”.

Como se nota, a redação do art. 98, §1º, incisos I


e VIII do novel Diploma Processual é de uma clareza solar ao isentar a
pessoa natural com insuficiência de recursos do pagamento de taxas, custas
judiciais e depósitos previstos em lei para a propositura de ação, com sói
ocorrer com a ação rescisória, que possui depósito prévio.

Não por outra razão, o colendo SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA, antes mesmo da edição do novo CPC, já tinha
orientação firme e pacífica no sentido de isentar quem é beneficiário da
Justiça Gratuita do pagamento de custas e depósito prévio, consoante se
pode aquilatar do seguinte precedente:

“RESCISÓRIA – Autor beneficiário da Justiça Gratuita – Desobrigatoriedade do


depósito previsto no art. 488, II, do CPC/1973.
Ementa Oficial: A doutrina e a jurisprudência dos Tribunais afirmam entendimento
no sentido de que a parte beneficiária da Justiça Gratuita não está obrigada a fazer
o depósito de que trata o art. 488, II, do CPC/1973.
Recurso especial conhecido e provido” (REsp 40.794-0/RJ, 3ª Turma, rel. Min.
WALDEMAR ZVEITER, DJU 19.12.1994, RT 718/274).
44

A lição do festejado jurista BARBOSA MOREIRA –


citado no julgado do STJ acima reproduzido – bem retrata a situação:

“Posto que não se enquadre na enumeração do art. 3º da Lei 1.060, de


05.02.1950, o depósito é inexigível de quem faça jus ao benefício da justiça
gratuita. Entender diversamente seria tolher aos necessitados o
exercício da ação rescisória, com manifesta violação ao art. 153, §4º, da
Constituição da República” (RT 718/275).

ISTO POSTO, com espeque na redação do art.


98, §1º, incisos I e VIII, do CPC-2015, pugna o autor desta rescisória – que
é um servidor público aposentado que vive exclusivamente dos rendimentos
de sua aposentadoria – pela CONCESSÃO DA GRATUIDADE, que deve ser
estendida também ao depósito prévio, sob pena de se tolher do servidor
aposentado o exercício da ação rescisória, isto é, o exercício da jurisdição,
que é assegurado pelo Estado.

VI - PEDIDOS
Em harmonia com o exposto, requer a autora se
digne Vossa Excelência de:

a) Admitir, conhecer e determinar o regular


processamento da vertente ação rescisória, que
encontra fundamento expresso no inciso V do art.
966 do novo Código de Processo Civil, consoante o
qual “A decisão de mérito transitada em julgado,
pode ser rescindida quando: violar manifestamente
norma jurídica”; in casu, restou plenamente
demonstrado que foram violadas de forma ostensiva
os artigos 5º, 10, caput, 11, caput, da Lei nº 8.492,
de 2 de junho de 1992 (LIA), e artigo 833, inciso IV,
e seu §2º, do Código de Processo Civil, de modo que
a rescisória é plenamente cabível.
b) Seja concedido ao autor desta rescisória, que é um
servidor público aposentado que vive exclusivamente
do rendimento de sua aposentadoria, os benefícios de
que fala o art. 98, §1º, incisos I e VIII, do novel
Diploma Processual, de modo que ele seja
BENEFICIÁRIO DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA.
45

c) Uma vez admitida a actio, seja imediatamente


CONCEDIDA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
para o fim de sustar os efeitos do v. acórdão
rescindendo, de modo a determinar ao Juízo de
origem que não efetue qualquer tipo de bloqueio
ou penhora on line na conta do servidor, sob
pena de prejuízo irreparável e irreversível à garantia
de sua subsistência mínima, pois é certo que os
proventos de aposentadoria são absolutamente
impenhoráveis, na dicção do art. 833, IV, do
CPC/2015, além do que a situação do referido
servidor não se enquadra em nenhuma das exceções
que permitem o bloqueio judicial, pois o mesmo não
é (i) devedor de obrigação alimentar; (ii) e muito
menos possui proventos que ultrapassa a casa de 50
(cinquenta) salários mínimos.

d) Requer, outrossim, após a concessão da tutela


provisória de urgência cautelar, pois visa apenas a
impedir novos bloqueios na conta corrente do
servidor público aposentado ADALBERTO MACIEL
METELLO, seja ordenada a citação dos Réus,
“designando prazo nunca inferior a 15 (quinze) dias
nem superior a 30 (trinta) dias para, querendo,
apresentar resposta, ao fim do qual, com ou sem
contestação, observar-se-á, no que couber, o
procedimento comum” (redação do art. 970 do CPC-
2015).

e) NO MÉRITO, requer seja concedida a rescisória para


os seguintes escopos: (i) no âmbito do juízo
rescisório, seja decretada a rescisão do v. acórdão
proferido nos autos da Apelação 23097/2014, da
egrégia Quarta Câmara Cível desse Sodalício, uma
46

vez que o v. acórdão rescindendo violou de forma


manifesta e literal os artigos 5º, 10, caput, 11, caput,
da Lei nº 8.429, de 02/06/1992 (LIA), e art. 833, inc.
IV, e seu §2º, do CPC; (ii) uma vez decretada a
rescisão do v. acórdão, seja proferido novo
julgamento (dicção do inc. I do art. 968 do novo
CPC), para o fim de afastar a caracterização de “dolo
e má-fé do servidor público”, tal como o fez a r.
sentença de primeiro grau de jurisdição, que foi
incisiva em proclamar a boa-fé do servidor público
Adalberto Maciel Metello, pois a lei de improbidade
administrativa somente enseja o dever de
ressarcimento integral do dano ao erário, de modo
que, uma vez reconhecida a boa-fé e a inexistência
de dolo ou culpa grave, seja restabelecido os
efeitos da sentença de primeiro grau de jurisdição,
para o fim de JULGAR PROCEDENTE A AÇÃO
RESCISÓRIA e, via de consequência, improcedente
o pedido de ressarcimento contido na petição inicial
da Ação Civil Pública de Ressarcimento de Danos
causados ao erário, de modo a excluir qualquer
ressarcimento ao Estado de Mato Grosso, pois só
assim é que estará Vossa Excelência praticando ato
da mais lídima e sempre soberana
J U S T I Ç A!!!

f) O Autor requere provar o alegado por todos os meios


de prova em direito admitidos, especialmente juntada
de novos documentos, se necessário.

Dá-se à presente ação o valor de R$ 363.812,93


(trezentos e sessenta e três mil, oitocentos e doze
reais e noventa e três centavos), que corresponde ao
valor da demanda proposta pelo Ministério Público do
Estado de Mato Grosso.
47

Nestes termos,

Pede deferimento.

Cuiabá – MT, 13 de abril de 2017.

SARA DE LOURDES SOARES ORIONE E BORGES

Advogada
48

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR DO


MANDADO DE SEGURANÇA Nº 1004084-88.2016.8.11.0000 –
SEGUNDA TURMA DE CÂMARAS CÍVEIS REUNIDAS DE DIREITO
PRIVADO DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO
GROSSO.

Mandado de segurança nº 1004084-88.2016.8.11.0000

Impetrante: ESPÓLIO DE EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA BONINI

Autoridade coatora: Exmo. Sr. Des. DIRCEU DOS SANTOS

Litisconsorte passivo necessário: TIGRE INVESTIMENTOS S.A.

Objeto da petição: apresentação de contestação ao writ, dentro do prazo


legal de 15 (quinze) dias úteis (inteligência dos artigos 24 da Lei nº 12.016,
de 07.08.2009, c/c artigos 335, caput, 219 e 114, todos do NCPC).

TIGRE INVESTIMENTOS S.A., pessoa jurídica de


direito privado já devidamente qualificada nos autos do MANDADO DE
SEGURANÇA acima epigrafado, em que figura como impetrante O
ESPÓLIO DE EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA BONINI, representado
por sua inventariante Vanessa França Bonini Panico, tendo em vista a
abertura de prazo para manifestação no presente mandamus, vem, com o
devido acato a Vossa Excelência, apresentar, tempestivamente e dentro do
prazo legal de 15 (quinze) dias úteis, a vertente CONTESTAÇÃO, na
condição de litisconsorte passiva necessária, haja vista os relevantes
motivos fáticos e fundamentos jurídicos que, de ora avante, passa
articuladamente a alinhar:
49

PRELIMINARES ACERCA DO NÃO


CABIMENTO DO WRIT
Nobre Relator: o mandado de segurança
impetrado pelo Espólio de Evandro Alberto de Oliveira Bonini não tem a
menor condição de prosperar, uma vez que é manifestamente incabível a
impetração do mandamus em situações como a retratada no caso sub
judice, conforme passaremos a demonstrar, razão pela qual é de rigor a
extinção do writ sem apreciação do exame do mérito, mesmo porque
o meritum causae da presente segurança perdeu o seu objeto, como será
também veiculado na presente contestação, que é apresentada pela TIGRE
INVESTIMENTOS S.A. na condição de litisconsorte passiva necessária, na
medida em que ela figurou como beneficiária do ato coator.

PRIMEIRA PRELIMINAR

CARÊNCIA DA AÇÃO MANDAMENTAL EM RAZÃO DA


INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA

CABIMENTO DE MEDIDA CAUTELAR INOMINADA E


NÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA
Emérito Julgador: são inúmeros os fundamentos
legais que justificam a não apreciação do vertente writ. O primeiro que salta
aos olhos é, sem ressaibos de dúvidas, a inadequação da via eleita.

Deveras, na dicção do artigo 17 do novel Diploma


Processual: “Para postular em juízo é necessário ter interesse e
legitimidade”. Trata-se, in casu, do interesse processual, como modalidade
de condição da ação, e não do interesse do direito material, que respeita ao
mérito.

O interesse processual, como doutrina NELSON


NERY JR. e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, “... se consubstancia na
necessidade de o autor vir a juízo e na utilidade que o provimento jurisdicional
poderá lhe proporcionar” (Comentários ao CPC – Novo CPC, 2015, São Paulo: RT, p.
237).

No caso em testilha, houve erro grosseiro na


utilização da medida cabível, uma vez que o instrumento idôneo a atribuir
efeito suspensivo a recurso NÃO É O MANDADO DE SEGURANÇA, MAS
SIM A MEDIDA CAUTELAR INOMINADA.
50

Com efeito, a jurisprudência pátria é


absolutamente uníssona no sentido de que a via adequada para atribuir
efeito suspensivo a recurso interposto – seja ele recurso especial, recurso
extraordinário, apelação, agravo interno (como é o caso) – é a MEDIDA
CAUTELAR INOMINADA. JAMAIS O MANDADO DE SEGURANÇA que
não serve para fazer as vezes nem de recurso, e muito menos de ação!!!

A propósito, calha à fiveleta a jurisprudência do


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA que, na condição de guardião da
legislação infraconstitucional, tem reiteradamente decidido que:

I-) “MEDIDA CAUTELAR – Atribuição de efeito suspensivo a recurso


especial – Admissibilidade – Relevância da matéria discutida em juízo
– Caracterização.
Ementa da Redação: É pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que
é viável a concessão de CAUTELAR para dar EFEITO SUSPENSIVO a
recurso especial cujo exame de admissibilidade não foi ainda realizado
pelo Tribunal a quo, tendo-se em vista a relevância da matéria discutida na
demanda” (MC 4.290/SP, 1ª Turma do STJ, rel. Min. JOSÉ DELGADO, DJU
29.04.2002, RT 803/160).

II-) “MEDIDA CAUTELAR INOMINADA – Preparatória que visa a obter


efeito suspensivo a recurso especial que será interposto –
Admissibilidade, desde que devidamente satisfeitos os pressupostos
do fumus boni juris e do periculum in mora.
Ementa da Redação: Admite-se seja proposta, perante o STJ, MEDIDA
CAUTELAR INOMINADA que visa atribuir EFEITO SUSPENSIVO a
recurso especial que ainda não foi interposto, desde que devidamente
satisfeitos os pressupostos do fumus boni juris e do periculum in mora” (MC
4.385/ES, 4ª Turma do STJ, rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJU
10.06.2002, RT 808/195).

De igual modo, no âmbito do recurso


extraordinário, a jurisprudência da Suprema Corte é firme no sentido de
admitir somente medida cautelar inominada para atribuir efeito suspensivo
ao apelo excepcional, consoante se pode aferir do seguinte julgado de
relatoria do festejado Ministro CELSO DE MELLO, verbis:

“MEDIDA CAUTELAR INOMINADA – Interposição visando obter


efeito suspensivo a recurso extraordinário – Possibilidade, desde
que presente o juízo positivo de admissibilidade, a viabilidade
processual do recurso, a plausibilidade jurídica da pretensão e a
ocorrência de periculum in mora.
Ementa Oficial: A concessão de MEDIDA CAUTELAR, pelo STF, quando
requerida com o objetivo de atribuir EFEITO SUSPENSIVO a
recurso extraordinário, exige, para viabilizar-se, a cumulativa
observância dos seguintes pressupostos: (1) instauração da jurisdição
cautelar do STF, motivada pela existência de juízo positivo de
51

admissibilidade do recurso extraordinário, (2) viabilidade processual do


recurso extraordinário, caracterizada, dentre outros requisitos, pelas notas
da tempestividade, do prequestionamento explícito, da matéria
constitucional e da ocorrência de ofensa direta e imediata ao texto da
Constituição, (3) plausibilidade jurídica da pretensão de direito material
deduzida pela parte interessada e (4) ocorrência de situação configuradora
de periculum in mora” (Questão de Ordem 2.466-4/PR, 2ª Turma, rel. Min.
CELSO DE MELLO, DJU 26.04.2002, RT 805/162).

A leitura desses arestos deixa claro que somente a


MEDIDA CAUTELAR INOMINADA pode e deve ser utilizada para atribuir
efeito suspensivo ao recurso, não servindo para esse mister o manejo do
mandado de segurança, como equivocadamente utilizado pela impetrante.

Isso porque a tutela cautelar encontra previsão


expressa no ordenamento jurídico para atingir tal escopo, conforme se
deduz da interpretação sistemática dos artigos 300, 301, 303, 304 e 305,
c/c §§3º e 4º do art. 1.012, todos do Código de Processo Civil.

Também a doutrina especializada defende o uso


da medida cautelar – porque prevista em lei e não do mandado de
segurança – conforme se pode ver da lição do professor LUIZ ORIONE
NETO, que apresenta três motivos para o cabimento da tutela cautelar, em
alentado estudo sobre o tema, com apoio nos regimentos internos do STF e
do STJ, verbis:

“A nosso ver, o remédio judicial adequado e correto para atribuir efeito suspensivo
a recurso que não o possui, como é o caso, v.g., dos recursos de agravo regimental,
extraordinário e especial é, sem dúvida, a medida cautelar inominada com pedido
liminar de atribuição de efeito suspensivo.

Essa conclusão se justifica por três motivos. Primeiro, porque em todas as


situações em que se admite o mandado de segurança para evitar a eficácia
imediata do ato judicial recorrido, essa via constitucional mais se assemelha à
tutela cautelar, ou seja, caberia indisputavelmente a ação cautelar inominada.

Segundo, porque as decisões dos Tribunais Superiores exigem – para a concessão


do almejado efeito suspensivo – a comprovação dos requisitos do fumus boni juris
e do periculum in mora, que são pressupostos inerentes às medidas cautelares.
Para o cabimento do mandado de segurança, os pressupostos exigidos são
diferentes: direito líquido e certo e risco de ineficácia do provimento se concedido
somente a final.

Terceiro, porque os Regimentos Internos do STF e do STJ fazem inequívoca opção


pela utilização das medidas cautelares.
52

Com efeito, estabelece o art. 21, IV, do RISTF, que é atribuição do relator
“submeter ao Plenário ou à Turma, nos processos de competência respectiva,
medidas cautelares”. E o inciso V do mesmo preceito normativo acrescenta que
lhe cabe, outrossim, determinar, em caso de urgência, as medidas em tela, ad
referendum do Plenário ou da Turma.

Idêntica é a disciplina que o RISTJ dá à matéria (art. 34, incisos V e VI). E o art. 288
do RISTJ – que cuida das MEDIDAS CAUTELARES – complementa o sistema,
atribuindo ao relator o poder de deferir liminarmente as MEDIDAS CAUTELARES
propostas pelas partes, mas ad referendum do órgão julgador competente. Esses
mandamentos legais estão assim redigidos:

“Art. 34. São atribuições do relator:


V – submeter à Corte Especial, à Seção ou à Turma, nos
processos da competência respectiva, MEDIDAS
CAUTELARES necessárias a proteção de direito suscetível de
grave dano de incerta reparação, ou ainda destinadas a
garantir a eficácia de ulterior decisão da causa;
VI – determinar, em caso de urgência, as medidas do inciso
anterior, ad referendum da Corte Especial, da Seção ou da
Turma”.

“Art. 288. Admitir-se-ão medidas cautelares nas hipóteses e


na forma da lei processual” (cf. LUIZ ORIONE NETO, Tratado das
liminares, vol. II. São Paulo: Editora Lejus, 2000, , p. 408-409).

Essa lição do professor LUIZ ORIONE NETO – que


está ancorada na jurisprudência, na lei e nos regimentos internos do STF e
do STJ – tem o aval da jurisprudência do STJ, que NÃO ADMITE O
MANEJO DO MANDADO DE SEGURANÇA PARA ATRIBUIR EFEITO
SUSPENSIVO A RECURSO; mas apenas e tão somente a MEDIDA
CAUTELAR INOMINADA.

É o que noticia o festejado THEOTONIO NEGRÃO,


em seu conceituado repertório de jurisprudência, ao fazer anotações ao art.
288 do Regimento Interno do STJ, verbis:

“Para obter efeito suspensivo a recurso – ou seja, suspensão do


cumprimento do acórdão objeto do recurso especial – a medida específica é
a prevista no art. 288, e NÃO O MANDADO DE SEGURANÇA AO STJ
(STJ-3ª Seção, MS 2.221-8, rel. Min. ASSIS TOLEDO, j. 05.08.1993, DJU 30.08.1993)”
(THEOTONIO NEGRÃO et alli. Código de Processo Civil e legislação processual em
vigor, 2012. São Paulo: RT, 44ª ed., p. 1.998).

Também não discrepa dessa orientação o egrégio


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO.
53

Com efeito, no julgamento do Mandado de


Segurança nº 147071/2012, sob a relatoria do festejado Des. SEBASTIÃO
BARBOSA FARIAS, esta Corte deixou assentado que o “... mandado de
segurança NÃO SE PRESTA A SUBSTITUIR OUTRAS MEDIDAS
LEGAIS...”, in casu, a tutela cautelar, conforme se pode aferir da ementa
do julgado, abaixo reproduzida:

“MANDADO DE SEGURANÇA – Pedido liminar – Ato judicial –


Postergação da análise do pedido liminar – É pacífico o entendimento de
que é lícito ao magistrado postergar a análise da liminar – Inexistência de
teratologia ou ilegalidade manifesta – Ausência de prova pré-constituída
do prejuízo – Carência – Ordem denegada. O mandado de segurança
contra ato judicial só se justifica em casos de decisão teratológica ou de
não se
manifesta ilegalidade, com o requisito da irreparabilidade do ato,
prestando a SUBSTITUIR OUTRAS MEDIDAS LEGAIS,
como a que se apresenta na presente ação” (MS 147071/2012, Turma de
Câmaras Cíveis Reunidas de Direito Público e Coletivo do TJMT, rel. Des.
SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS, data de julgamento: 05.09.2013).

Ora, restando sobejamente demonstrado que a


medida cabível no caso em tela é a MEDIDA CAUTELAR INOMINADA
PARA EMPRESTAR EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO, salta aos olhos
que a Impetrante não pode lançar mão do writ, mesmo porque esse, na
expressiva e sempre lembrada lição de KAZUO WATANABE “... não é
panacéia para todos os males...”.

Já não bastassem os fundamentos aqui veiculados


para afastar o uso do mandado de segurança para atribuir efeito suspensivo
a recurso – é certo que a leitura da Lei nº 12.016, de 2009, que disciplina o
instituto do writ – NÃO CONTÉM NENHUM ARTIGO ADMITINDO A
IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA PARA ATRIBUIR EFEITO
SUSPENSIVO A RECURSO.

Não por outra razão, o egrégio TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO não admitiu o writ, escorado no
argumento da “falta de base legal”, isto é, ausência de previsão legal na
lei de regência do mandado de segurança, consoante se pode aquilatar do
seguinte aresto, verbis:

“RECURSO – Agravo de instrumento – Efeito suspensivo


pretendido em mandado de segurança – Inadmissibilidade – Falta
de base legal – Ordem não concedida. Inadmissível a impetração de
mandado de segurança para se dar efeito suspensivo a recurso de agravo
de instrumento. O efeito legal do recurso decorre da lei, e o juiz não pode
mais que esta. O limite do juiz é a própria lei. Dar maior efeito do que o
54

nela previsto é constituir-se o magistrado em legislador, o que feriria o


disposto no art. 6º da Constituição Federal de 1969” (MS 391.426, 7ª Câmara
do TJSP, rel. Des. RÉGIS DE OLIVEIRA, j. 07.06.1988, RT 633/111).

Por todo o exposto, restando patente o não


cabimento de mandado de segurança para atribuir efeito suspensivo a
recurso de agravo interno aviado pela Impetrante, deve ser EXTINTA A
AÇÃO MANDAMENTAL, sem resolução do pedido de efeito
suspensivo, por inadequação manifesta da via eleita, já que inexiste
previsão legal de cabimento do writ na lei de regência do instituto (Lei nº
12.016, de 2009), de modo que a pretensão almejada pela impetrante
esbarra na redação do art. 17 do Código de Processo Civil, sendo patente a
CARÊNCIA DA AÇÃO MANDAMENTAL aviada.

SEGUNDA PRELIMINAR

DA PERDA DO OBJETO DO MANDADO DE SEGURANÇA

IMPOSSIBILIDADE DE ATRIBUIÇÃO DE EFEITO


SUSPENSIVO A ATO JÁ CONSUMADO
Caso o nobre Relator, em vosso elevado
descortino e alto saber jurídico admita o mandado de segurança impetrado
– o que só se coloca ad argumentandum tantum, mas sem qualquer adesão
à premissa – é certo que o writ impetrado perdeu o objeto, em virtude
do cumprimento do ato coator.

Deveras, consoante comprova o mandado de


reintegração em anexo, a litisconsorte passiva necessária TIGRE
INVESTIMENTOS S.A. já foi reintegrada na posse do imóvel rural, de
modo que, se o objetivo do mandamus é agregar efeito suspensivo ao
agravo interno para impedir o cumprimento do ato coator, tal
desideratum não é mais possível, em virtude do exaurimento da ordem
judicial.

Ora, nas situações como a aqui retratada, a


jurisprudência é firme no sentido de decretar a perda do objeto da
segurança, conforme se pode aferir dos seguintes julgados, em que o writ
foi extinto por falta de objeto, verbis:

I-) “MANDADO DE SEGURANÇA – Pedido prejudicado – Impetração


visando à realização de prova vestibular em horário alternativo –
Concurso já efetuado – Fato que ensejou a perda de objeto do mandamus.
Ementa Oficial: Administrativo. Concurso vestibular. Horário alternativo. Motivo
religioso. Impossibilidade.
Discute-se nos autos o direito dos impetrantes (membros da Igreja Adventista
do Sétimo Dia) participarem de concurso vestibular realizado em novembro de
2006 em horário alternativo. Portanto, o pedido realizado na inicial era restrito
55

à participação no concurso, e tendo este sido realizado, perde o objeto a


presente ação” (Ap em MS 2006.70.00.028865-6/PR, 4ª Turma do TRF da 4ª Região,
rela. Desa. Federal MARGA INGE BARTH TESSLER, DJU 21.08.2007, RT 867/418).

II-) “MANDADO DE SEGURANÇA – Perda de objeto – Impetração contra ato


oriundo de Comissão Parlamentar de Inquérito – Continuidade do
procedimento mandamental após o término da investigação parlamentar
– Inadmissibilidade – Prejudicialidade do writ evidenciada.
A jurisprudência do STF considera prejudicadas as ações de mandado de
segurança e de habeas corpus, sempre que impetrados tais writs
constitucionais contra Comissões Parlamentares de Inquérito, vierem estas a
ser declaradas extintas, em virtude da conclusão de seus trabalhos
investigatórios e da aprovação de seu relatório final. Precedentes: RTJ
172/929, rel. Min. SEPULVEDA PERTENCE; RTJ 182/192, rel. Min. CELSO DE
MELLO; MS 21872/DF, rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA; MS 23.852-QO/DF, rel.
Min. CELSO DE MELLO; MS 23.926/DF, rel. Min. ELLEN GRACIE; MS 24022/DF,
rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, v.g.” (ApCiv 20103004180-4, 1ª Câmara Cível Isolada
do TJPA, rel. Des. LEONARDO DE NORONHA TAVARES, DJPA 01.03.2011, RT 909/931).

Destarte, se o objetivo da impetração era evitar o


cumprimento da ordem judicial proferida pela autoridade coatora, é cediço a
perda de objeto da impetração, em virtude do esgotamento do mandado
que fora cumprido.

Nem se objete, data maxima venia, com o


argumento de que o impetrante formulou pedido expresso no sentido de
que, caso a ordem já estivesse sido cumprida, que fosse “... expedido
contra mandado com o escopo de manter o Impetrante na posse do imóvel
até o julgamento final do agravo interno, protocolizado nesta data...”, pois
é cediço que o writ não pode fazer as vezes da pretensão recursal.

A expedição de contra mandado só tem cabimento


se o impetrante vir a lograr êxito no julgamento do mérito do recurso de
agravo interno. É cediço que o mandado de segurança não pode ter a
dimensão pretendida no referido pedido, uma vez que mandado de
segurança não é via adequada para fazer as vezes de recurso.

Por todo o exposto, tendo em vista que não se


pode conceder efeito suspensivo a ato já consumado, pois não se pode
impedir aquilo que já se exauriu, já se consumou, deve ser decretada a
PERDA DE OBJETO DO MANDADO DE SEGURANÇA, JULGANDO-O
MANIFESTAMENTE PREJUDICADO.

Não por outra razão o colendo SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL entende – vista a questão por outro ângulo – que a
concessão de efeito suspensivo também acarreta o exaurimento do
provimento jurisdicional, não sendo necessária sequer a citação da parte
para responder a pretensão veiculada, o que demonstra o total desacerto
56

na escolha do writ, em que foi determinada a citação da litisconsorte TIGRE


INVESTIMENTOS S.A., o que, a rigor, jamais poderia acontecer se o
objetivo da pretensão é a atribuição de efeito suspensivo a recurso de
agravo interno.

É o que se infere da leitura do seguinte aresto da


Suprema Corte, verbis:

“MEDIDA CAUTELAR INOMINADA – Recurso extraordinário – Outorga ou


recusa de eficácia suspensiva ao apelo extremo – Provimento
jurisdicional que se exaure em si mesmo, não dependendo de ulterior
efetivação do ato citatório.
A outorga ou recusa de eficácia suspensiva a
Ementa Oficial:
recurso extraordinário, em sede de medida cautelar
inominada, constitui provimento jurisdicional que se
exaure em si mesmo, não dependendo, por tal motivo, da
ulterior efetivação do ato citatório, posto que incabível,
em tal hipótese, o oferecimento de contestação, eis que a
providência cautelar em referência não guarda – enquanto mero incidente
peculiar ao julgamento do apelo extremo – qualquer vinculação com o litígio
subjacente à causa” (Pet. 2.466-4/PR, 2ª Turma do STF, rel. Min. CELSO DE MELLO,
DJU 26.04.2002, RT 800/195).

Como se nota, a jurisprudência do colendo Excelso


Pretório não admite, em se tratando de medida cautelar relacionada a
atribuição de efeito suspensivo a recurso, o procedimento cautelar previsto
nos artigos 300 e seguintes do novo Código de Processo Civil –
correspondente aos artigos 796 e seguintes do CPC-1973 – de modo que, a
outorga ou recusa de efeito suspensivo a recurso de agravo interno SE
EXAURE EM SI MESMO, NÃO DEPENDENDO, POR TAL MOTIVO, DA
ULTERIOR CITAÇÃO DO ATO CITATÓRIO, POSTO QUE INCABÍVEL,
EM TAL HIPÓTESE, O OFERECIMENTO DE CONTESTAÇÃO.

Ora, esse entendimento arraigado e consolidado


na Suprema Corte reforça a tese levantada na primeira preliminar, no
sentido da inidoneidade da via eleita para o caso em testilha, na medida em
que a atribuição ou não de efeito suspensivo a recurso NÃO PASSA DE UM
INCIDENTE PROCESSUAL.

Nas palavras do Ministro CELSO DE MELLO: “É que


a medida cautelar em referência nada mais traduz senão MERO INCIDENTE, peculiar,
exclusivamente, ao julgamento do recurso extraordinário, não guardando, por isso mesmo,
qualquer vinculação com o próprio litígio subjacente à causa em que interposto o apelo
extremo em questão” (RT 800/198).
57

Nesse contexto, salta aos olhos que a eleição da


via mandamental é manifestamente adequada, pois se a postulação de
efeito suspensivo NÃO PASSA DE UM INCIDENTE, como é que se justifica
a propositura do mandado de segurança, que é indisputavelmente uma
ação, uma demanda, e não um incidente? Se no incidente não há sequer
contestação, não há citação, pois a concessão ou recusa do efeito
suspensivo EXAURE O INCIDENTE, isso revela o total desacerto na
escolha do writ para os fins aqui pretendidos, aspecto esse que reforça
ainda mais a necessidade inadiável de imediata extinção do presente
mandado de segurança.

TERCEIRA PRELIMINAR

INADMISSIBILIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA EM MANDADO DE


SEGURANÇA, DADA A SUA INCOMPATIBILIDADE COM A NATUREZA
DO WRIT

A equivocada impetração de mandado de


segurança para atribuir efeito suspensivo a recurso de agravo interno – pois
o caso era de interposição de uma medida cautelar inominada como
mero INCIDENTE PROCESSUAL – esbarra, outrossim, em outro
fundamento que inviabiliza, por completo, a escolha do writ of mandamus.

É que, da maneira como foi impetrado o mandado


de segurança – em que o impetrante pretende revolver discussão referente
a “detenção” em confronto com a “posse” – implicaria na abertura de
inadmissível dilação probatória em sede mandamental.

Com efeito, como é de trivial sabença, o mandado


de segurança é u’a ação de natureza constitucional destinada à proteção de
direito líquido e certo, exigindo, para o seu cabimento, a prova pré-
constituída da pretensão deduzida em juízo.

Se tal se sucede, é cediço que não se pode


pretender pela via mandamental discutir se a litisconsorte passiva
necessária TIGRE INVESTIMENTOS S.A. exercia “posse” ou “mera
detenção”, pois para se chegar a uma ou outra conclusão, isso demandaria
dilação probatória, quando é certo e indiscutível que em sede
mandamental não cabe a produção de qualquer tipo de prova, já que a
mesma deve, necessariamente, acompanhar a impetração: daí falar-se em
prova documental pré-constituída.

Não por outra razão, ao discorrer acerca da


liquidez e certeza do direito, a jurista MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO
doutrina que:
58

“O direito comprovado de plano, ou seja, o direito comprovado juntamente com


a petição inicial. No mandado de segurança inexiste a fase de instrução, de modo
que, havendo dúvidas quanto às provas produzidas na inicial, o juiz extinguirá o
processo sem julgamento do mérito, por falta de um pressuposto básico, ou seja, a
certeza e liquidez do direito” (Direito Administrativo, 17ª ed. São Paulo: Ed.
Atlas, p. 663).

Expressivo, no ponto, julgado da lavra do


eminente Des. JUVENAL PEREIRA DA SILVA, que destacou:

“MANDADO DE SEGURANÇA – Ausência de prova pré-constituída


do direito líquido e certo – Segurança denegada – Extinção do
processo. Mandado de segurança não instruído com a prova pré-
constituída do direito alegado constitui-se em via eleita
inadequada por impossibilidade de dilação
probatória” (MS nº 31860/2011, Turma de Câmaras Cíveis Reunidas de
Direito Público e Coletivo do eg. TJMT, rel. Des. JUVENAL PEREIRA DA SILVA, data
de julgamento: 04.07.2013).

Essa orientação da colenda Corte local tem o aval


do egrégio SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, consoante se pode
aquilatar de julgado de relatoria do Min. GILSON DIPP, verbis:

“MANDADO DE SEGURANÇA – Dilação probatória –


Inadmissibilidade – Incompatibilidade com a natureza de ação
mandamental – Ação que visa a proteger direito líquido e certo
sempre que alguém sofrer violação ou houver justo receio de
sofrê-la por ilegalidade ou abuso de poder – Prova pré-constituída
– Exigência.
Ementa Oficial: Consoante entendimento desta Corte, o mandado de
segurança é ação constitucionalizada para proteger direito líquido e certo,
sempre que alguém sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por
ilegalidade ou abuso de poder, exigindo-se prova pré-constituída como
condição essencial à verificação da pretensa ilegalidade, sendo a dilação
probatória incompatível com a natureza da ação mandamental” (Ag Rg no
RO em MS 12.415/RJ, Quinta Turma, rel. Min. GILSON DIPP, DJU 23.09.2002, RT
813/205).

QUARTA PRELIMINAR

INEXISTÊNCIA DE DECISÃO ‘TERATOLÓGICA’


Uma outra preliminar que inviabiliza por completo
o vertente mandado de segurança, é que a decisão proferida pelo Exmo. Sr.
Des. DIRCEU DOS SANTOS – que foi levianamente atacado pelo impetrante
de “favorecer” a litisconsorte passiva necessária – não é teratológica.
59

Como é de trivial sabença – ainda que se admita o


cabimento do writ no caso em testilha, o que só se coloca por amor aos
debates – é certo, absolutamente certo, que a decisão proferida pela
autoridade coatora não é absurda, teratológica, escalafobética, como
quer fazer crer o impetrante.

Muito pelo contrário!!! A digna autoridade coatora


foi tão zelosa no estrito cumprimento de devido processo legal, que
condicionou o cumprimento da medida ao oferecimento de caução real
idônea, de modo a garantir qualquer prejuízo que possa vir a ter a parte
contrária!!!

Não por outra razão, a ilustre Desembargadora


MARIA HELENA G. PÓVOAS observou, com a proverbial acuidade, in
verbis:

“... é de se ter em conta que a decisão agravada que deferiu a liminar na


Ação Rescisória n. 157.206/2016, encontra-se respectivamente
fundamentada, INEXISTINDO NA MESMA QUALQUER TERATOLOGIA.

Da análise da decisão recorrida, resta evidenciado que a referida empresa


vinha explorando a área litigiosa desde 2009, inclusive realizado inúmeras
benfeitorias.

Não obstante a isso, a fim de se evitar eventuais prejuízos porventura a ser


sofrido pelo Impetrante, o Relator da Ação Rescisória CONDICIONOU A
EFICÁCIA DA DECISÃO À APRESENTAÇÃO DE CAUÇÃO IDÔNEA.

Dentro disso, tem-se que a atribuição de efeito suspensivo ao Agravo


Interno n. 179.351/2016 somente deve ser conferida desde que
comprovada manifesta ilegalidade da decisão recorrida e para se evitar
dano de difícil ou impossível reparação; todavia, não é o que se constata
dos autos.

Assim, da análise dos autos, não vislumbro no caso em apreço a presença


dos requisitos necessários à concessão da liminar, dentre eles o periculum
in mora, haja vista que o Agravo Interno tem sua tramitação célere perante
este Tribunal, bem como eventuais prejuízos estarão mitigados com a
apresentação da caução.
60

Portanto, balizada nas considerações expendidas, INDEFIRO a liminar ora


pleiteada pelo Impetrante” (trecho da decisão da Plantonista Desa. Maria
Helena G. Póvoas).

Ora, se a r. decisão proferida pela autoridade


coatora não configura, nem de longe, modalidade de decisão
teratológica, é patente a inviabilidade do presente writ, pois somente se
admite a impetração de mandado de segurança (cujo cabimento aqui é
colocado apenas ad argumentandum tantum, pois a medida cabível é a
tutela cautelar, como destacado na primeira preliminar) quando a decisão
atacada é, indisputavelmente, teratológica, escalafobética, o que não é
caso dos autos, como bem consignado pela ilustre e conceituada
Desembargadora oriunda do Quinto Constitucional da OAB, que ilumina com
as suas luzes esse colendo Sodalício.

Não por outra motivo a decisão proferida pela


Desembargadora MARIA HELENA GARGAGLIONE PÓVOAS está em
sintonia fina com a jurisprudência pátria, que é useira e vezeira em afirmar,
em alto e bom som, que é inadmissível a impetração de mandado de
segurança se a decisão não apresenta ilegalidade ou arbitrariedade; em
suma: não é decisão ‘teratológica’.

Assim, para reforçar o entendimento que


INDEFERIU O PEDIDO LIMINAR, pedimos vênia para trazer à colação os
seguintes julgados:

I-) “MANDADO DE SEGURANÇA – Efeito suspensivo pretendido a agravo de


instrumento – Writ restrito a atos judiciais atingidos por erro manifesto,
ilegalidade, abuso ou configuração de casos conhecidos como teratológicos –
Ordem denegada. A admissibilidade do mandado de segurança contra ato judicial,
do qual caiba recurso sem efeito suspensivo é limitada aos casos de erro manifesto,
ilegalidade, abuso ou configuração de casos conhecidos como teratológicos” (MS
558.349-9, 8ª Câmara do TJSP, rel. Des. MAURÍCIO FERREIRA LEITE, RT 697/101).

II-) “MANDADO DE SEGURANÇA – Ato judicial – Impetração com dispensa da


interposição de recurso próprio – Admissibilidade somente em casos
excepcionais de dano dificilmente reparável e teratologia manifesta da
decisão.
Ementa Oficial: Consoante jurisprudência assente, em face da legislação em vigor,
somente em casos excepcionais, de dano dificilmente reparável e teratologia
manifesta da decisão, se admite da impetração de segurança contra ato judicial com
dispensa de interposição do recurso próprio. O mandado de segurança contra ato
judicial é medida anômala de caráter acautelatório, NÃO SE PRESTANDO A
SERVIR DE SUCEDÂNEO RECURSAL OU PANACÉIA JURÍDICA” (REsp 13.484-
0/SP, 4ª Turma do STJ, rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJU 20.02.1995, RT
715/270).
61

Também a jurisprudência do egrégio TRIBUNAL


DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO possui orientação firme e
segura no sentido de que não se admite mandado de segurança se não
houver comprovação inequívoca de que o ato coator atacado é uma decisão
teratológica.

A esse respeito, o julgado mais mencionado e


citado em diversos precedentes nesta Corte, é da lavra do culto Des.
ORLANDO DE ALMEIDA PERRI, assim ementado:

“AGRAVO REGIMENTAL – Mandado de segurança – Decisão judicial –


Turma recursal – Competência dos Juizados Especiais – Aventada
teratologia – Decisão monocrática – Extinção do writ – Ausência de
teratologia – Incompetência do Tribunal de Justiça – Agravo Regimental
desprovido. O mandado de segurança só pode ser manejado quando, vencidas
as vedações legais, entre elas a existência de recurso previsto na lei processual,
a decisão atacada for evidentemente teratológica. A impetração da referida
ação constitucional, portanto, somente se tolera em situações realmente
excepcionais, como meio último de extirpar verdadeiras aberrações praticadas
no exercício da jurisdição” (AgRg 112442/2012, Primeira Turma de Câmaras
Cíveis Reunidas de Direito Privado, rel. Des. ORLANDO DE ALMEIDA PERRI,
DJe 09/11/2012).

E, do corpo desse lapidar aresto, acerca da


necessidade de demonstração inequívoca da teratologia da decisão judicial
objeto da ação mandamental, consignou o Exmo. Sr. Des. ORLANDO DE
ALMEIDA PERRI no julgamento retromencionado:

“Não prospera a alegação de que a decisão é teratológica, entendendo-se como tal


a decisão que afronta gravemente a lei, que não se coaduna com as regras mais
básicas do ordenamento jurídico. Não basta, pois, a mera ilegalidade, a simples
violação à lei: é preciso que o erro na interpretação e aplicação do direito seja
grosseiro, extremo, ofensivo à essência da Justiça.

Caso a decisão judicial não se mostre absurda, ou manifestamente contrária à lei,


não cabe ao julgador da ação mandamental imiscuir-se na análise do mérito das
razões nela expendidas.

Destarte, somente comportará acolhida a pretensão mandamental quando o ato


atacado (decisão judicial) reste caracterizado como teratológico, ou seja, que
conflite, direta e manifestamente, com a lei ou com o entendimento dos Tribunais,
sob pena de não ser cabível a suspensão da medida impugnada.

Desse modo, o mandado de segurança só pode ser manejado quando, vencidas as


vedações legais, entre elas a existência de recurso previsto na lei processual, a
decisão judicial atacada for evidentemente teratológica. A impetração da referida
ação constitucional, portanto, somente se tolera em situações realmente
62

excepcionais, como meio último de extirpar verdadeiras aberrações praticadas no


exercício da jurisdição”.

Também a ilustre Desa. SERLY MARCONDES


ALVES comunga da mesma orientação, consoante se pode aquilatar da
ementa do seguinte aresto:

“MANDADO DE SEGURANÇA – Decisão judicial – Teratologia


indemonstrada – Direito líquido e certo inexistente – Segurança
denegada. As decisões judiciais apenas são suscetíveis de Mandado de
Segurança quando, além de irrecorríveis, ainda possam ser assacadas de
teratológicas” (MS nº 137540/2013, Segunda Turma de Câmaras Cíveis Reunidas
de Direito Privado, redatora designada Desa. SERLY MARCONDES ALVES, data
de julgamento: 03.07.2014).

À VISTA DO EXPOSTO, não tendo o impetrante


demonstrado, em nenhum momento, que a decisão proferida pela
autoridade coatora é teratológica, é patente o não cabimento da
segurança para emprestar ‘efeito suspensivo’ a recurso de agravo interno,
uma vez que a demonstração de plano de que se trataria de uma decisão
teratológica é condição sine qua non para a admissibilidade do mandamus.

II – MERITORIAMENTE

Se a tanto chegar

O IMPETRANTE NÃO SE DESINCUMBIU DO ÔNUS DE


COMPROVAR OS REQUISITOS DO ‘DIREITO LÍQUIDO
E CERTO’ E DANO IRREPARÁVEL
Caso sejam ultrapassadas todas as preliminares
acima articuladas que tem o respaldo da jurisprudência do STJ e do STF e
da doutrina especializada – o que só se admite por amor aos debates, mas
sem qualquer adesão à premissa – de meritis o mandado de segurança
impetrado deve ser DENEGADO, uma vez que o impetrante não se
desincumbiu do ônus de comprovar prima facie os requisitos do direito
líquido e certo e do dano irreparável.

Como é cediço, para que se possa conceder a


segurança para emprestar o almejado ‘efeito suspensivo’ – situação essa
faticamente impossível, uma vez que o mandado de segurança perdeu o
objeto em razão do cumprimento da ordem judicial – seria
absolutamente necessário e imprescindível que o impetrante comprovasse,
de plano, os requisitos previstos no art. 7º da Lei de Regência do instituto
(Lei nº 12.016, de 2009).
63

E, no caso em apreço, salta aos olhos que


NENHUM DOS REQUISITOS LEGAIS FOI CUMPRIDO. Com efeito, a
própria decisão monocrática proferida no plantão pela eminente Desa.
MARIA HELENA GARGAGLIONE PÓVOAS já sepulta, prima facie, a
pretensão mandamental, pois a fundamentação lançada no r. decisum deixa
claro que o impetrante não comprovou nem o direito líquido e certo e nem
o requisito do periculum in mora.

Confira, a propósito, a fundamentação lançada


pela plantonista:

“... é de se ter em conta que a decisão agravada que deferiu a


liminar na Ação Rescisória n. 157.206/2016, encontra-se
respectivamente fundamentada, INEXISTINDO NA MESMA
QUALQUER TERATOLOGIA.

Da análise da decisão recorrida, resta evidenciado que a


referida empresa vinha explorando a área litigiosa desde 2009,
inclusive realizado inúmeras benfeitorias.

Não obstante a isso, a fim de se evitar eventuais prejuízos


porventura a ser sofrido pelo Impetrante, o Relator da Ação
Rescisória CONDICIONOU A EFICÁCIA DA DECISÃO À
APRESENTAÇÃO DE CAUÇÃO IDÔNEA.

Dentro disso, tem-se que a atribuição de efeito suspensivo ao


Agravo Interno n. 179.351/2016 somente deve ser conferida
desde que comprovada manifesta ilegalidade da decisão
recorrida e para se evitar dano de difícil ou impossível
reparação; todavia, não é o que se constata dos autos.

Assim, da análise dos autos, não vislumbro no caso em apreço


a presença dos requisitos necessários à concessão da liminar,
dentre eles o periculum in mora, haja vista que o Agravo
Interno tem sua tramitação célere perante este Tribunal, bem
como eventuais prejuízos estarão mitigados com a
apresentação da caução.

Portanto, balizada nas considerações expendidas, INDEFIRO a


liminar ora pleiteada pelo Impetrante” (trecho da decisão da
Plantonista Desa. Maria Helena G. Póvoas).

Como se nota, a fundamentação da r. decisão


acima reproduzida deixa claro que o Impetrante não se desincumbiu do
ônus de provar os requisitos legais.
64

Em primeiro lugar, porque a decisão proferida pela


autoridade coatora não é teratológica, aspecto esse fundamental para que
o writ fosse admitido.

Com efeito, a ação mandamental deve ser julgada


extinta, com a denegação da segurança, quando a decisão judicial
questionada não se apresenta como teratológica ou violadora de norma
positivada. Foi o que decidiu esse colendo Sodalício, em julgado da lavra
do respeitado Des. SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS, in verbis:

“MANDADO DE SEGURANÇA – Decisão judicial – Liminar – Agravo de


instrumento – Preliminar de não cabimento do writ que se confunde com
o mérito – Ausência de teratologia – Interpretação livre e decisão
motivada do Relator – Extinção da ação mandamental – Denegação da
ordem.
Por força de restrição legal, apenas em casos excepcionais, a saber: quando a
decisão judicial combatida é de natureza teratológica, ou se apresenta
inequivocamente ilegal ou abusiva, ou, ainda, resulta em lesão grave ou de
difícil reparação, é que se torna possível a propositura de mandado de
segurança para combater provimento jurisdicional desta natureza.
A ação mandamental deve ser julgada extinta, com a denegação da
segurança, quando a decisão judicial questionada não se apresenta como
teratológica ou violadora de norma positivada. É o caso dos autos” (MS nº
110005/2009, Turma de Câmaras Cíveis Reunidas de Direito Público e Coletivo, rel.
Des. SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS, data de julgamento: 18.03.2013).

Ademais disso, a litisconsorte passiva necessária


TIGRE INVESTIMENTOS S.A. demonstrou, com sólida e consistente
fundamentação, que exercia a posse do imóvel rural há mais de uma
década, tendo realizado no imóvel inúmeras benfeitorias, bem como
juntado farta prova documental de que exercia a posse do bem sem a
oposição de quem quer que seja.

Ora, é cediço que a via mandamental não


comporta dilação probatória. Se tal se sucede – para que se possa
demonstrar que a litisconsorte não tinha posse (o que só se admite para
argumentar) seria necessário revolver todo o quadro fático, o que é
impossível em sede mandamental, como já enfatizado em uma das
preliminares arguidas.

De outra banda, o requisito do periculum in mora


também não foi demonstrado pelo Impetrante, especialmente porque o
oferecimento de caução real idônea afastou o risco de qualquer prejuízo, já
que, se ao final da lide rescisória ficar demonstrado que o litisconsorte não
tem razão, a caução prontamente ofertada assegurará eventual prejuízo
que possa vir a sofrer a Impetrante.
65

A propósito, vale ressaltar que o requisito do


periculum in mora inverso foi afastado com a prestação de caução real
idônea, como bem destacou a ilustre Desa. MARIA HELENA
GARGAGLIONE PÓVOAS na decisão monocrática que indeferiu o pedido
de liminar de efeito suspensivo, verbis:

“Não obstante a isso, a fim de se evitar eventuais prejuízos


porventura a ser sofrido pelo Impetrante, o Relator da Ação
Rescisória CONDICIONOU A EFICÁCIA DA DECISÃO À
APRESENTAÇÃO DE CAUÇÃO IDÔNEA.

Dentro disso, tem-se que a atribuição de efeito suspensivo ao


Agravo Interno n. 179.351/2016 somente deve ser conferida
desde que comprovada manifesta ilegalidade da decisão
recorrida e para se evitar dano de difícil ou impossível
reparação; todavia, não é o que se constata dos autos” (trecho
extraído da decisão monocrática).

Assim, não demonstrada a ocorrência de prejuízo


irreparável, não se concede efeito suspensivo a recurso de agravo interno –
ou a qualquer outro tipo de recurso – através da via mandamental.

Foi o que brilhantemente decidiu o egrégio


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO, em julgado que
cai como uma luva ao caso em testilha:

“MANDADO DE SEGURANÇA – Ato judicial – Pretendido efeito


suspensivo a recurso de agravo de instrumento – Indeferimento
– Inexistência de prejuízo irreparável. Não demonstrada a
ocorrência de prejuízo irreparável, não se concede efeito suspensivo
a agravo, através de mandado de segurança” (MS 40.682-1, 6ª Câmara
do TJSP, rel. Des. MACEDO BITTENCOURT, j. 02.02.1984, RT 584/79).

Dentro desse quadro, caso se admita o uso da via


mandamental, salta aos olhos que o mandado de segurança deve ser
DENEGADO, em razão da não comprovação dos requisitos legais, seja em
razão da inexistência de direito líquido e certo, na medida em que a decisão
proferida pelo Exmo. Sr. Des. DIRCEU DOS SANTOS não é teratológica,
não podendo ser acoimada com a pecha de decisão aberrante, absurda,
impossível juridicamente, seja em virtude da não comprovação do requisito
do periculum in mora, na medida em que a litisconsorte passiva necessária
TIGRE INVESTIMENTOS S.A. prestou caução real idônea, o que afasta
esse requisito legal.
66

Assim, ausentes os requisitos legais, deve ser


denegada a ordem, como bem pontuou o Exmo. Sr. Des. MÁRCIO
VIDAL, em expressivo e lapidar aresto que bem demonstra a aventura em
que se constitui o presente writ:

“CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL – Mandado de segurança – Ação de


repetição de indébito – Turma Recursal única – Ação extinta ao fundamento de
entendimento de incompetências dos Juizados Especiais para causas com cálculos
complexos – Recurso ordinário ao STJ – Determinação ao Tribunal de Justiça para
rejulgar o writ – Direito líquido e certo inexistente – Falta de demonstração de decisão
teratológica – Ordem denegada.
Não há possibilidade de impetração de mandado de segurança se a decisão impugnada
não é teratológica ou ilegal, cujo conteúdo não revelar-se absurdo ou ilógico.
O mandado de segurança só pode ser manejado quando vencidas as vedações legais, entre
elas a existência de recurso previsto na lei processual, a decisão judicial atacada for
evidentemente teratológica.
É necessária a demonstração de inequívoca teratologia para justificar a impetração do
mandamus contra decisão judicial.
A impetração da ação constitucional somente se tolera em situações excepcionais, como
meio último de extirpar verdadeiras aberrações praticadas no exercício da jurisdição, o que
não é o caso dos autos” (MS 111507/2012, Turma de Câmaras Cíveis Reunidas de Direito Público
e Coletivo, rel. Des. MÁRCIO VIDAL, data de julgamento: 03.03.2016).

III – DOS PEDIDOS


A VISTA DO EXPOSTO, restando patente o
descabimento do vertente writ, requer a litisconsorte passiva necessária,
pela ordem, se digne Vossa Excelência de:

f) DECRETAR A EXTINÇÃO DA AÇÃO


MANDAMENTAL, em razão da inadequação da
via eleita, uma vez que a medida cabível para
conferir efeito suspensivo a recurso de agravo
interno é a medida cautelar inominada, uma
vez que a mesma encontra guarida e respaldo
legal nos artigos 300, 301, 303, 304, 305, c/c
§§ 3º e 4º do art. 1.012, todos do Código de
Processo Civil; aliado a esse fundamento, é de
se ressaltar que a Lei de Regência do mandado
de segurança (Lei nº 12.016/2009, não contém
nenhum artigo admitindo a impetração de
segurança para atribuir efeito suspensivo a
recurso, de modo que, patente a inadequação
da via eleita, deve o Impetrante ser julgador
CARECEDOR DA AÇÃO MANDAMENTAL, por
ausência da comprovação da condição da ação
denominada interesse processual (art. 17,
67

CPC), de modo a extinguir o writ com espeque


na redação do inciso V do art. 485 do novel
Diploma Processual.
g) Caso o nobre Relator, em vosso elevado
descortino e inegável saber jurídico admita o
writ, o que só se coloca ad argumentandum
tantum, mas sem qualquer adesão à premissa,
deve ser imediatamente decreta a EXTINÇÃO
DO MANDADO DE SEGURANÇA EM RAZÃO
DA PERDA DO OBJETO, JULGANDO-O
PREJUDICADO, dada a impossibilidade de se
atribuir efeito suspensivo a ato já consumado,
uma vez que a litisconsorte passiva necessária
já foi reintegrada na posse do imóvel rural
objeto da ação rescisória.

h) A equivocada impetração de mandado de


segurança para atribuir efeito suspensivo a
recurso de agravo interno – pois o caso é de
interposição de uma medida cautelar
inominada como mero incidente processual
– esbarra, outrossim, em outro fundamento
que inviabiliza, por completo, a escolha da via
mandamental, na medida em que o Impetrante
pretende revolver discussão referente a
‘detenção’ em confronto com a ‘posse’, aspecto
esse que implicaria em inadmissível abertura
de dilação probatória em sede mandamental,
já que este pressupõe prova documental
pré-constituída, aspecto esse que também
ressalta a falta de interesse processual na
propositura do vertente writ, a acarretar a sua
EXTINÇÃO SEM EXAME DO MÉRITO, com
fundamento no art. 485, V, do Código de
Processo Civil.

i) NO MÉRITO, caso sejam ultrapassadas todas


as preliminares veiculadas na presente
contestação à ação mandamental, é de rigor a
DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA, seja porque o
Impetrante não se desincumbiu do ônus de
provar o direito líquido e certo, na medida em
que a decisão proferida pela autoridade coatora
não é teratológica, nem causa dano
irreparável, de modo que, estando
68

completamente ausentes os requisitos legais, e


na esteira de iterativa jurisprudência desse
egrégio Sodalício e de precedentes também do
STJ, impõe-se a DENEGAÇÃO DA
SEGURANÇA, caso se chegue a avançar no
julgamento de mérito da ação constitucional,
pois só assim é que estará Vossa Excelência,
com a costumeira sabedoria, praticando ato da
mais lídima e sempre soberana J U S T I Ç A!!
69

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO


EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO.

URGENTE

Ação rescisória com pedido de medida liminar para sustar o cumprimento do v.


acórdão rescindendo.

Distribuição por dependência à AÇÃO RESCISÓRIA nº 157206/2016 – Comarca de


Feliz Natal, em razão da identidade de causa petendi e de pedido.

Fundamentos legais da distribuição por dependência: artigos 55, §3º, e 286, ambos do
novo Código de Processo Civil.

Relator prevento: Exmo. Sr. Des. DIRCEU DOS SANTOS

Ação rescisória visando a rescisão de v. acórdão da 6ª Câmara Cível deste egrégio


Tribunal, de competência da Segunda Turma de Câmaras Cíveis Reunidas de Direito
Privado.

ROTSON ANDRÉ ORLANDI, brasileiro, solteiro,


produtor rural, portador da cédula de identidade RG n. 49.677.693-SSP/PR, inscrito no
CPF/MF sob o n. 726.745.809-25, domiciliado na cidade de União do Sul/MT, onde
reside na Rua Xanxere, s/n, CEP 78.543-000; LEOMAR TÁPPARO, brasileiro, produtor
70

rural, solteiro, portador da CI/RG 12R 3.122.981-SSP/SC, inscrito no CPF sob o n.


816.984.709-59, domiciliado na cidade de Cláudia/MT, onde reside na Rua Generoso
Paes Lemes, 506, CEP 78.540-000; JADER ROBERTO DA SILVA, brasileiro, solteiro,
produtor rural, portador da cédula de identidade RG n. 5.201.992-3-SSP/PR, inscrito no
CPF sob o n. 810.679.179-34, domiciliado na cidade de União do Sul/MT, onde reside
na Rua Xanxere, s/nº, CEP 78.540-000; GILVANEI EDSON DE ALMEIDA, brasileiro,
solteiro, produtor rural, portador da cédula de identidade RG n. 65.155.419-SSP/PR,
inscrito no CPF sob o n. 789.312.901-87, domiciliado na cidade de Cláudia/MT, onde
reside na Rua Mario Correia da Costa, nº 371, CEP 78.540-000; JAIRO KRAUSE e sua
mulher MARIA VENZO KRAUSE, brasileiros, casados, ele produtor rural, portador da
cédula de identidade RG n. 1.897.544-SSP/PR, inscrito no CPF sob o n. 409.288.459-15,
ela do lar, portadora da cédula de identidade RG n. 1087084-9-SSP/MT, inscrito no CPF
sob o n. 594.420.851-15, domiciliados na cidade de Cláudia/MT, onde residem na Rua
Mario Correia da Costa, nº 664, CEP 78.540-000; RÔMULO AFFONSO ROHDEN e sua
mulher JOSEANE BROLO, brasileiros, ele produtor rural, portador da cédula de
identidade RG n. 7/R-1.896.288-SSP/MT, inscrito no CPF sob o n. 594.495.609-78, ela
do lar, portador da cédula de identidade nº 1147121-2-SSP/MT, inscrito no CPF sob o n.
698.365.741-15, domiciliados na cidade de Cláudia/MT, onde residem na Rua Costa e
Silva, s/nº, CEP 78.540-000; VILSON LUNKES, brasileiro, divorciado, produtor rural,
portador da cédula de identidade RG n. 3.953.731-1-SSP/PR, inscrito no CPF sob o n.
555.415.009-82, domiciliado na cidade de União do Sul/MT, onde reside na estrada Rio
Ouro, km 30, s/nº; RAIMUNDO APARECIDO DE SOUZA, brasileiro, produtor rural,
portador da cédula de identidade RG n. 750.649-SSP/MT, inscrito no CPF sob o n.
452.045.431-04, domiciliado e residente na Fazenda Nossa Senhora Aparecida, sito no
município de Feliz Natal, por seu advogado in fine assinado, ut instrumento de mandato
colacionado em anexo (docs. inclusos), vêm, com o devido acato a Vossa Excelência,
com fundamento nos artigos 966, V, 967, I, 968, I e II, 969, 974, caput, e 975, todos do
novo Código de Processo Civil, promover a vertente
71

AÇÃO RESCISÓRIA com pedido de medida liminar para


sustar os efeitos do v. acórdão rescindendo

em desfavor de ESPÓLIO DE EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA BONINI, na pessoa


de sua inventariante VANESSA FRANÇA BONINI PANICO, brasileira, casada,
administradora de empresa, portadora do CPF nº 062.635.828-04. residente e
domiciliada na Rodovia São Paulo, 328, no Km 310, Condomínio Veneza, casa 16, no
município de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo; podendo, outrossim, ser encontrada
no seguinte endereço: Av. Costábile Romano, 2201, Ribeirância, na cidade de Ribeirão
Preto, Estado de São Paulo; e FUNDAÇÃO FERNANDO EDUARDO LEE, pessoa
jurídica inscrita no CNPJ sob o n. 52.039.435/0001-43, com sede na Avenida Atlântica,
900, bairro Enseada, em Guarujá, Estado de São Paulo, CEP 11442-070, na pessoa de
seu representante legal, haja vista os relevantes motivos fáticos e fundamentos jurídicos
que, de ora avante, passam articuladamente a alinhar:

I – DO PEDIDO DE DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA

Em novembro do corrente ano foi distribuída a


AÇÃO RESCISÓRIA nº 157206/2016, em que figura como Requerente TIGRE
INVESTIMENTOS S.A. e como Réu ESPÓLIO DE EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA
BONINI, representado por sua inventariante VANESSA FRANÇA BONINI PANICO, cuja
causa petendi e pedido são rigorosamente idênticos aos veiculados no vertente caso, o
qual, em relação ao anterior, só muda os legitimados ativos, pois até os Réus são os
mesmos.

Ambas as ações rescisórias discutem posse


envolvendo uma mesma área, situada numa mesma região (comarca de Feliz Natal),
72

cujo pedido são os mesmos: reintegrar os Autores no imóvel rural do qual foram
indevidamente desalojados.

Por essa razão, salta aos olhos que o vertente


pedido de distribuição por dependência possui expresso amparo legal, sob pena de
violação ao princípio do juiz natural. Com efeito, o novel Diploma Processual, ao cuidar
da distribuição por dependência, dispõe, em seus artigos 55, caput, 55, §3º, e 286,
incisos I e III, in verbis:

“Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for
comum o pedido ou a causa de pedir.
(...)
§3º. Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar
risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos
separadamente, mesmo sem conexão entre eles.

Art. 286. Serão distribuídos por dependência as causas de qualquer natureza:


I – quando se relacionarem, por conexão ou continência, com outra já
ajuizada;
(...)
III – quando houver ajuizamento de ações nos termos do art. 55, §3º, ao juízo
prevento”.

No caso em testilha, além de haver identidade de


causa de pedir e pedido entre as rescisórias, como destacado acima, é certo que ambas
as rescisórias atacam acórdão de uma mesma Câmara (6ª), sob a relatoria de uma
mesma Desembargadora: Serly Marcondes Alves.

A identidade de Câmara Cível e de Relator se


deve ao fato de que, se os processos tivessem sido distribuídos para Relatores diversos,
de Câmaras Cíveis Isoladas diversas, poderia haver risco de decisões conflitantes ou
contraditórias caso decididos separadamente. Foi por essa razão que ambas as
73

ações de Embargos de Terceiro foram distribuídas para uma mesma Câmara, e uma
mesma Relatoria.

Destarte, ainda que não houvesse conexão entre as


ações rescisórias, caberia o pedido de distribuição por dependência, face ao texto
expresso do §3º do art. 55 do novel Estatuto Processual, que diz que “Serão reunidos
para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de decisões
conflitantes ou contraditórias caso DECIDIDOS SEPARADAMENTE, MESMO SEM
CONEXÃO ENTRE ELES”.

Vale dizer: ainda que não existisse conexão, o


pedido de distribuição se justificaria. A fortiori, isto é, com maior dose de razão, se existe
conexão, em razão da identidade de causa petendi e de pedido, sendo certo que o objeto
das ações rescisórias envolve a mesma área, as ações provêm de uma mesma
Comarca: Feliz Natal, além dos Réus de ambas as rescisórias serem os mesmos.

À VISTA DO EXPOSTO, com espeque na redação


dos artigos 55, caput, e seu §3º, c/c 286, incisos I e III, do Código de Processo Civil,
requer seja distribuída por dependência a vertente ação rescisória à AÇÃO RESCISÓRIA
Nº 157206/2016, Comarca de Feliz Natal – MT, de competência da Segunda Turma de
Câmaras Cíveis Reunidas de Direito Privado, sob a relatoria do Exmo. Sr. Dr. Des.
DIRCEU DOS SANTOS.

II – DO CABIMENTO DA RESCISÓRIA

Antes de adentrarmos no meritum causae da


presente demanda rescisória, que visa a rescisão de v. acórdão transitado em julgado da
74

Sexta Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso (fls. 1.438
e ss. – vol. VII), é indispensável demonstrar o cabimento da presente ação rescisória.

Prima facie, cabe aos Autores demonstrar o


preenchimento do disposto no art. 966, inciso V, do novo Código de Processo Civil,
consoante o qual: “A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida
quando: (...) V – violar manifestamente norma jurídica”.

Pois bem. A decisão de mérito que se pretende


rescindir é o v. acórdão proferido pela colenda Sexta Câmara Cível desta Corte, nos
autos da Apelação nº 72759/2013, Comarca de Feliz Natal – MT, de relatoria da Exma.
Sra. Desa. Serly Marcondes Alves, cuja fundamentação pedimos vênia para transcrever,
com destaque para as fls. 6-7 de 12; 10 de 12; e 11 de 12 do v. acórdão rescindendo,
verbis:

“O cerne da questão reside em saber se os apelantes possuem as posses


legítimas da área em questão.

Nos termos dos artigos 926 e 927 do Código de Processo Civil, o possuidor
tem o direito de ser mantido na posse em caso de turbação, incumbindo-lhe
provar a sua posse. Vejamos:

Art. 926. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação
e reintegrado no de esbulho.

Art. 927. Incumbe ao autor provar:


I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a
perda da posse, na ação de reintegração.

Na hipótese, como acertadamente entendeu o Juízo singular, extrai-se que os


apelantes não lograram êxito para demonstrarem os requisitos indispensáveis
75

a comprovarem as suas posses, nos termos do artigo 1.196 do Código Civil,


in verbis:

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

(...)

Ademais, como bem destacado pelo Juízo singular, outro fato que não
corrobora com as alegações dos apelantes, diz respeito aos documentos
carreados na exordial, sendo estes, somente requerimentos administrativos
para regularização de área junto ao INTERMAT, todos datados do ano de
2005, ou seja, posteriores a prolação da sentença nos autos principais.

(...)

Logo, em observância a regra sobre o ônus da prova, competiam aos


embargantes/apelantes (aqui Autores da demanda rescisória) fazerem prova
de que eram possuidores das áreas em questão, nos termos do artigo 333,
inciso I, do Código de Processo Civil de 1973, ônus que não se
desincumbiram, assim, perfeita a sentença do Juízo singular ao julgar pela
improcedência dos presentes embargos de terceiro” (cf. fls. 6-7 de 12; 10 de
12; e 11 de 12 do v. acórdão rescindendo, respectivamente – vol. VII dos
autos).

É supinamente relevante destacar que a


competência para apreciar e julgar a presente rescisória é do egrégio TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO. Isso porque, malgrado tenha ocorrido a
interposição do Recurso Especial nº 33.040/2015/MT, é certo que a esse apelo nobre foi
NEGADO SEGUIMENTO, conforme se extrai da conclusão proferida pela Exma. Sra.
Dra. Desembargadora Vice-Presidente CLARICE CLAUDINO DA SILVA, in verbis:

“Desse modo, NEGO SEGUIMENTO AO RECURSO ESPECIAL” (vide


julgado em anexo – fl. 1.536 – VIII vol).

Ora, o uso da locução “nego seguimento ao


Recurso Especial” não deixa margens a dúvidas no sentido de que o egrégio STJ não
examinou o mérito da pretensão recursal excepcional, mesmo porque não houve a
interposição de RECURSO DE AGRAVO NOS PRÓPRIOS AUTOS em face da decisão
proferida pela Vice-Presidência desta Corte.
76

Prova disso é que a decisão da Vice-Presidência


que negou seguimento ao Recurso Especial foi publicada no DJe nº 9623/2015, na
data de 23/09/2015 e, já no dia 05 de outubro de 2015, a Secretaria Auxiliar da Vice-
Presidência certificou o trânsito em julgado do v. acórdão rescindendo da Sexta Câmara
Cível, conforme faz prova a Certidão vazada nestes termos:

“CERTIDÃO TRÂNSITO EM JULGADO

CERTIFICO que a r. decisão transitou em julgado em 05/10/2015. Eu,


___________, digitei a presente, aos 27 dias do mês de novembro de 2015.
Eu, Paula Fernanda da Silva Xavier Paranaguá – Diretora do Departamento
da Secretaria da Vice-Presidência a conferi” (vide fls. 1.538 – VIII vol.).

Nesse contexto, salta aos olhos que a última


decisão de mérito foi proferida pela Sexta Câmara Cível deste egrégio Sodalício, motivo
pelo qual é competente esta Corte para apreciar a vertente rescisória.

De outra banda, como a rescisória deve ser


veiculada no prazo decadencial de 2 (dois) anos, ex vi do disposto no art. 975 do novel
Diploma Processual, temos que a demanda ora aforada está dentro do prazo, pois,
conforme CERTIDÃO DE TRÂNSITO EM JULGADO E TERMO DE BAIXA subscrito
pela Diretora do Departamento da Secretaria da Vice-Presidência, o v. acórdão
rescindendo transitou em julgado na data de 5 de outubro de 2015. Portanto, o prazo
escoa somente em 5 de outubro de 2017.

De outro giro, no concernente à legitimidade dos


Autores ela é incontroversa, na medida em que os mesmos fazem parte da relação
jurídica processual desde o nascedouro do processo.
77

Destarte, tendo sido demonstrados os requisitos de


admissibilidade da presente ação rescisória, a saber:

(i) que a decisão de mérito transitou em julgado, e corresponde ao v.


acórdão rescindendo da Sexta Câmara Cível do TJMT (art. 966, caput, e inc. V), sendo
que o fundamento que autoriza a rescisória é o inciso V do art. 966: “... violar
manifestamente norma jurídica”;

(ii) que ela está sendo aviada dentro do biênio decadencial, em


cumprimento ao art. 975 do CPC-2015;

(iii) que os autores tem legitimidade ad causam e interesse


processual no manejo da presente rescisória (art. 967, inc. I: quem foi parte no processo),
passa-se, doravante, ao exame do mérito da presente actio, em que será demonstrada a
violação ostensiva de normas jurídicas do Código Civil e do Código de Processo
Civil.

Em suma, por onde quer que se olhe, é


perfeitamente cabível a vertente ação rescisória, pois é patente que o v. acórdão
rescindendo fez tabula rasa de inúmeras normas jurídicas do Código Civil.

III – DA VIOLAÇÃO MANIFESTA DE NORMAS


JURÍDICAS

O v. acórdão rescindendo proferido pela Sexta


Câmara Cível deste colendo Sodalício violou, de forma manifesta e acintosa, as normas
jurídicas de direito material que vêm expressas nos artigos 926 e 927 do Código de
78

Processo Civil-1973 (que correspondem aos artigos 560 e 561 do novo CPC), e artigo
1.196, do Código Civil, que possuem a seguinte redação:

“Art. 560 do novo CPC. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em
caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho.

Art. 561. Incumbe ao autor provar:


I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a
perda da posse, na ação de reintegração.

Artigo 1.196 do Código Civil. Considera-se possuidor todo aquele que tem
de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.

A leitura do v. acórdão rescindendo na parte em


que julga o mérito da pretensão posta em juízo, deixa claro como a luz do sol que essas
normas jurídicas do Código de Processo Civil de 2015 e do Código Civil foram
manifestamente violadas, de modo que cabe a rescisória com espeque na redação do
inciso V do art. 966 do novo Diploma Processual.

Prima facie, para que reste patente a violação


dessas normas jurídicas, é conditio sine qua non reproduzir os fundamentos do v.
acórdão rescindendo, para que fique claro que o julgado cuja rescisão se pleiteia,
afrontou as normas jurídicas dos artigos 926 e 927 do CPC-1973 (correspondente aos
artigos 560 e 561 do novo CPC; e artigo 1.196 do Código Civil).

Diz o v. acórdão rescindendo, na parte que


interessa à presente actio:
79

“O cerne da questão reside em saber se os apelantes possuem as posses


legítimas da área em questão.

Nos termos dos artigos 926 e 927 do Código de Processo Civil-1973


(correspondente aos artigos 560 e 561, novo CPC), o possuidor tem o direito
de ser mantido na posse em caso de turbação, incumbindo-lhe provar a sua
posse. Vejamos:

Art. 926. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação
e reintegrado no de esbulho (correspondente ao art. 560, novo CPC).

Art. 927. Incumbe ao autor provar:


I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a
perda da posse, na ação de reintegração (correspondente ao art. 561, novo
CPC).

Na hipótese, como acertadamente entendeu o Juízo singular, extrai-se que os


apelantes não lograram êxito para demonstrarem os requisitos indispensáveis
a comprovarem as suas posses, nos termos do artigo 1.196 do Código Civil,
in verbis:

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

(...)

Ademais, como bem destacado pelo Juízo singular, outro fato que não
corrobora com as alegações dos apelantes, diz respeito aos documentos
carreados na exordial, sendo estes, somente requerimentos administrativos
para regularização de área junto ao INTERMAT, todos datados do ano de
2005, ou seja, posteriores a prolação da sentença nos autos principais.

(...)

Logo, em observância a regra sobre o ônus da prova, competiam aos


embargantes/apelantes (aqui Autores da demanda rescisória) fazerem prova
de que eram possuidores das áreas em questão, nos termos do artigo 333,
inciso I, do Código de Processo Civil de 1973, ônus que não se
desincumbiram, assim, perfeita a sentença do Juízo singular ao julgar pela
improcedência dos presentes embargos de terceiro” (cf. fls. 6-7 de 12; 10 de
12; e 11 de 12 do v. acórdão rescindendo, respectivamente – vol. VII dos
autos).
80

Por outro lado, como bem salientado pelo Juízo singular, ficou demonstrado,
através dos depoimentos das testemunhas arroladas pelo apelado, que os
apelantes não eram possuidores da propriedade em questão.

Vejamos:

“(...) 3. Em 1987, o Embargante já era responsável pela área, cuidava para a


família Bonini. 4. Quando foi contratado pelo Sr. Evandro, foi impedido de
entrar na área, no final de 2005. 5. Sabe que foi feito vendas de lotes da
área, pelo Embargante Geraldo Alberto Borges de Oliveira Junior. 6. Seu
Antonio gerenciou por uns três meses a área e também foi proibido de entrar
na área. (...) 10. O Evandro passou uma procuração para o Geraldo, porque
não tinha muito tempo disponível, para que ele cuidasse da área, com relação
aos projetos do IBAMA e da SEMA. 11. O responsável pela fazenda era o
Geraldo, mas o dono da posse era o Evandro. 12. O Evandro passou uma
procuração e uma escritura para que o Embargante fizesse projeto, mas
nunca vendeu nenhuma parte da área. 14. O Embargante nunca teve a posse
da área, quem detinha a posse era o Evandro Bonini. 15. Após a saída de
Geraldo da administração da fazenda ficou o Antônio por um curto período, de
três a quatro meses. 17. O Sr. Evandro nunca abandonou a área. 19. O Sr.
Geraldo não fez nenhuma benfeitoria na área” (depoimento prestado pela
testemunha Avenir Fernando Marques de Araújo à fl. 1160 – vide também fl.
8-9 de 12 do v. acórdão rescindendo).

“(...) 2. A área de 39 mil hectares foi adquirida por Evandro em 1973, tendo
como divisas o Rio Arraias e o Paralelo 54. 3. Em 1974 foi aberta uma pista
de pouso, em seguida o exército acertou a divisa dos índios, ampliou a pista,
após isto em posse pacífica até 1993, em que houve uma invasão por outras
pessoas, e veio pacífica até 2005. (...) 5. Inicialmente quem cuidava da área
era Orestes, em seguida Geraldo, que era procurador e administrador do
Evandro, até meados de 2005, depois o Antônio, o Avelino, final de 2005 veio
o Fernando e está até hoje na área. (...) 17. O Geraldo é primo do Evandro.
18. O Evandro colocou em nome do Geraldo um título, somente para que
fosse realizado um projeto de manejo; é uma área de 7.040 hectares e foi
feito em nome do Geraldo por conta das penhoras existentes na área. 21. De
1993 para cá era o Geraldo quem contratava empregados para a Fazenda, já
que era procurador. 22. Geraldo nunca teve a posse da fazenda, ele era tido
como funcionário ou procurador” (depoimento prestado pela testemunha João
Batista de Camargo às fls. 1161 – vide fls. 9-10 de 12 do v. acórdão
rescindendo).

“1. Trabalhou na área em 2005, para o Antonio Laurentino, tirando madeira,


lascas da Fazenda. 2. Sabe que “toda vida” a fazenda era do Evandro, e o
Geraldo era o gerente. Esse pessoal que comprou está na área, eles dizem
que foi o Geraldo que vendeu para eles em 2005; mas o Geraldo não era
dono, era Gerente, era a pessoa de confiança, não comprovou a venda. (...) 8.
81

O Evandro queria preservar a área, para não tirar madeira; os empregados


dele eram o Geraldo e o Antonio, eles cuidavam, tiravam lascas, tinham umas
casas lá. (...) 14. Nunca ouviu que Geraldo tinha a posse da fazenda, sabia
que ele era empregado” (depoimento prestado pela testemunha Nerio Ribeiro
às fls. 1159 – vide fls. 7-8 de 12 do v. acórdão rescindendo).

Ainda, como se vê destes depoimentos, constata-se que o apelante Geraldo


Alberto Borges de Oliveira Junior (que fazia parte da relação jurídica no
começo da lide de Embargos de Terceiro) era mero detentor da propriedade
em questão, consoante dispõe o artigo 1.198 do Código Civil, in verbis:
“Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência
para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de
ordens ou instruções suas”,

Assim, demonstrado que o apelante não era possuidor, mas mero detentor da
propriedade em questão, subordinado as ordens de outras pessoas, não pode
alegar posse e consequentemente ter a sua disposição proteção possessória.

(...)

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao apelo” (transcrição dos


fundamentos e parte dispositiva do v. acórdão rescindendo).

Para que fique bem claro que o v. acórdão


rescindendo fez tabula rasa dos artigos 926 e 927 do Código de Processo Civil-1973
(correspondente aos artigos 560 e 561, novo CPC); e artigo 1.196 do Código Civil, é
fundamental levar em consideração dois aspectos fundamentais que o v. acórdão
rescindendo não se apercebeu: 1º-) que os Autores da presente rescisória são terceiros
que jamais fizeram parte da Ação Possessória movida pelos réus Evandro Alberto de
Oliveira Bonini e Fundação Fernando Eduardo Lee (objeto do Processo nº 266/97); 2º-)
em decorrência dessa condição de terceiros, a posse dos Autores não decorreu de
negócio jurídico entabulado entre eles e os Réus da demanda possessória Plácido
Brolim, Sebastião de Matos e Jacy Ferminiano da Silveira, de modo que jamais poderia
ser autorizado o CUMPRIMENTO DE SENTENÇA em face dos Autores da presente
rescisória, sendo certo, nesse particular, como será demonstrado, que o v. acórdão
rescindendo violou manifestamente a norma jurídica do art. 506 do novo CPC.
82

Dada a relevância desses dois aspectos, eles serão


analisados detidamente a seguir.

IV – DA FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE EXERCIDA


PELOS AUTORES

Ilustre Desembargador Relator: o v. acórdão


rescindendo não se deu conta de alguns aspectos cardeais e de capital importância para
o desfecho favorável da presente ação rescisória.

O primeiro aspecto fundamental é que os Autores:

ROTSON ANDRÉ ORLANDI – 1.848,00 hectares;


LEOMAR TÁPPARO – 1.977,00 hectares;
JADER ROBERTO DA SILVA – 2.147,9983 hectares;
GILVANEI EDSON DE ALMEIDA – 2.151,9054 hectares;
JAIRO KRAUSE – 2.111.2450 hectares;
ROMULO AFONSO ROHDEN – 2.107,8821 hectares;
VILSON LUNKES – 2.451,1455 hectares; e
RAIMUNDO APARECIDO DE SOUZA – 1.736,2076
não adquiriram a posse dos imóveis rurais que perfazem aproximadamente 16.530 has
(dezesseis mil quinhentos e trinta hectares) dos Réus da Ação de Reintegração de
Posse movida por Evandro Alberto de Oliveira Bonini e Fundação Fernando Eduardo
Lee.

Deveras, nesta demanda possessória proposta em


desfavor de PLÁCIDO BROLIM, SEBASTIÃO DE MATOS e JACY FERMINIANO DA
83

SILVEIRA, a disputa envolve uma área de 39.000 hectares, portanto, mais do que o
dobro da área em disputa na presente rescisória.

Mas o aspecto mais relevante é que a aquisição da


posse dos Autores da rescisória NÃO DERIVA, NÃO DECORRE da posse dos
senhores PLÁCIDO BROLIM, SEBASTIÃO DE MATOS e JACY FERMINIANO DA
SILVEIRA.

Com efeito, a posse dos Autores decorreu de uma


ocupação sem resistência, em que os Autores tomaram posse de suas áreas na
quantidade acima discriminada de forma mansa e pacífica, ou seja, ocuparam a posse
em decorrência de um fenômeno puramente fático: a posse ius possessionis, isto é, a
posse que decorre de um fato oriundo de uma ocupação não resistida.

Bem percebeu esse fenômeno os ilustres civilistas


CRISTIANO CHAVES DE FARIAS e NELSON ROSENVALD, que ressaltam que a posse
puramente fática é aquela que cumpre, por excelência, a FUNÇÃO SOCIAL DA
POSSE. Confira:

“Há ainda uma terceira esfera da posse, que se afasta das duas concepções
patrimoniais tradicionais acima descritas (posse decorrente do direito real de
propriedade; e, posse decorrente de um direito obrigacional – v.g., contrato de
locação, de comodato etc.).
Cuida-se de uma dimensão possessória que não se localiza no universo dos
negócios jurídicos que consubstanciam direitos subjetivos reais ou
obrigacionais.
Trata-se de uma posse emanada exclusivamente de uma situação fática e
existencial, de apossamento e ocupação da coisa, cuja natureza
autônoma escapa do exame das teorias tradicionais. É aqui que reside a
função social da posse” (Curso de Direito Civil – Reais, 10ª ed. Salvador:
Editora JusPodivm, vol. 5, p. 61).
84

Como se nota, a posse não se identifica somente


com o exercício do direito de propriedade. Ela é mais do que isto, para EBERT
CHAMOUN “simboliza o poder fático exercido por uma pessoa sobre um bem, de
maneira a dela extrair proveito econômico. A posse se materializa na prática de
qualquer ato por meio do qual a propriedade se exterioriza, mas não se identifica com o
exercício do direito de propriedade” (Exposição de Motivos do Esboço do Anteprojeto do
Código Civil – Direito das Coisas, Revista Trimestral de Direito Civil, p. 28).

Ora, no caso em testilha, como a posse dos Autores


decorreu de um fenômeno puramente fático de ocupação dos imóveis rurais na
quantidade acima discriminada, os ocupantes são terceiros em relação à demanda de
Reintegração de Posse movida por Evandro Alberto de Oliveira Bonini e Fundação
Fernando Eduardo Lee (Réus desta rescisória) em desfavor de PLÁCIDO BROLIM,
SEBASTIÃO DE MATOS e JACY FERMINIANO DA SILVEIRA.

Não há entre os Autores desta rescisória e os


senhores Plácido, Sebastião e Jacy nenhum tipo de vínculo de natureza jurídica: (i)
nunca houve contrato de compra e venda de direitos possessórios; (ii) nunca houve
cessão de direito de posse; (iii) nunca houve arrendamento ou locação entre eles e assim
sucessivamente.

Não há nada, absolutamente nada, que vincula o


nome dos Autores desta rescisória com as pessoas que figuraram como Réus na
demanda possessória objeto do Processo nº 266/1997, exatamente porque os Autores
adquiriram a posse de forma autônoma.

E essa ocupação dos Autores que ocorreu no ano


de 2003 perdurou até o ano de 2016; portanto, perdurou pelo longo lapso temporal de
85

13 ANOS, quando os Autores foram injustamente desalojados dos imóveis rurais pelos
Réus da rescisória que jamais exerceram prática de atos possessórios sobre esses
imóveis.

Reforça esse argumento de que os Autores tinham


posse dos imóveis rurais desde os idos de 2003, as VISTORIAS IN LOCO realizadas
pelo INSTITUTO DE TERRAS DE MATO GROSSO – INTERMAT, em processos
protocolizados por terceiras pessoas desejando legalizar os imóveis objeto de disputa
nesta rescisória.

Com efeito, no processo administrativo objeto do


Protocolo nº 94513/2006, em que figurou como interessado o Sr. LAÉRCIO DE
ALMEIDA MARINI, visando a regularização de ocupação de imóvel rural, os técnicos
do INTERMAT emitiram o seguinte parecer:

“Processo nº 209.10.263.9422/03
Interessado: Laercio Almeida Marini
Senhora Gestora de Cadastro,
Após vistoria in loco constatamos que o Requerente Senhor Laercio
Almeida Marini não está de posse da referida área; foi encontrado o
Senhor Jader Roberto da Silva, vistoriado por técnico do Instituto em
fase final para titulação conforme mostra croqui em anexo.
Sugerimos o arquivamento do mesmo.
Cuiabá, 13 de dezembro de 2005
DELSON PEREIRA DA SILVA – Agente Fundiário
BENEDITO ARAÚJO DOS SANTOS – Técnico em Agropecuária” (vide
documento em anexo).

Por essa razão, a PROCURADORIA DO


INTERMAT, por meio de sua advogada Dra. Maria Saturnina da Silva opinou pelo
INDEFERIMENTO DA PRETENSÃO do interessado Laercio Almeida Marini, pois quem
estava na posse do imóvel rural era o Senhor JADER ROBERTO SILVA, que é um dos
Autores dessa rescisória.
86

Ora, esse documento que é oriundo do ano de


2005 reforça a tese de que os Autores sempre estiveram na posse mansa e pacífica do
imóvel desde o ano de 2003, pois, se em 2005 foi realizada inspeção que certificou a
posse de um dos Autores Sr. JADER ROBERTO SILVA, isso prova que o v. acórdão
rescindendo violou acintosamente as normas jurídicas insertas nos artigos 926 e
927 do CPC-1973 (correspondente aos artigos 560 e 561 do novo CPC; e artigo
1.196 do Código Civil).

De igual modo, o mesmo sucedeu em relação ao


Processo nº 209.10.263.9424/03, em que figurou como Interessado o Senhor
FERNANDO DE MELO ROSA, tendo o INSTITUTO DE TERRAS DE MATO GROSSO –
INTERMAT, emitido o seguinte parecer:

“Processo nº 209.10.263.9424/03
Interessado: Fernando de Melo Rosa
Senhora Gestora de Cadastro,
Após vistoria in loco constatamos que o Requerente Senhor Fernando
de Melo Rosa não está de posse da referida área; foi encontrado os
Senhores Vilson Lunkes e Raimundo Aparecido de Souza, vistoriado
por técnico do Instituto em fase final para titulação conforme mostra
croqui em anexo.
Sugerimos o arquivamento do mesmo.
Cuiabá, 13 de dezembro de 2005
DELSON PEREIRA DA SILVA – Agente Fundiário
BENEDITO ARAÚJO DOS SANTOS – Técnico em Agropecuária” (vide
documento em anexo).

Por essa razão, a PROCURADORIA DO


INTERMAT, por meio de sua advogada Dra. Maria Saturnina da Silva opinou pelo
INDEFERIMENTO DA PRETENSÃO do interessado Fernando de Melo Rosa, pois quem
estava na posse do imóvel rural eram os Senhores VILSON LUNKES e RAIMUNDO
87

APARECIDO DE SOUZA , que são Autores dessa rescisória, conforme se vê da


seguinte passagem do PARECER 536/ASJUR/2006, vazado nestes termos:

“FERNANDO DE MELO ROSA, qualificado nos autos, requer


do Instituto de Terras de Mato Grosso – INTERMAT, a
Regularização de Ocupação de uma área de terras com
2.496,5760 ha (dois mil, quatrocentos e noventa e seis hectares,
cinquenta e sete ares e sessenta centiares), denominada “GLEBA
SÃO PAULO”, localizada no município de FELIZ NATAL/MT.

Realizada a vistoria in loco, os técnicos Delson Pereira da Silva e


Benedito Araújo dos Santos, às fls. 60, informam que o
requerente Sr. FERNANDO DE MELO ROSA não estava na
posse da referida área, e que ENCONTRARAM NA POSSE
OS SENHORES VILSON LUNKES E RAIMUNDO
APARECIDO DE SOUZA; sugerem o arquivamento do
processo.

(...)

Diante do exposto, somos pelo INDEFERIMENTO DA


PRETENSÃO, notificação do requerente, após arquivamento do
presente processo.
É o Parecer, S. M. J.” (vide doc. em anexo).

Idêntica situação ocorreu no Processo


Administrativo nº 209.10.263.9429/03, em que figurou como interessada a Sra. GLÁUCIA
REGINA DA SILVA, tendo constatado os técnicos do INSTITUTO DE TERRAS DE
MATO GROSSO – INTERMAT que a área requerida estava sendo ocupada e possuída
pelos senhores VILSON LUNKES e RAIMUNDO APARECIDO DE SOUZA, que são
Autores nesta rescisória.
88

Idem, no Processo Administrativo nº


209.10.263.9426/03, em que figurou como interessado na regularização da área o Sr.
MANOEL DIVINO DE ARAÚJO, tendo os técnicos do INSTITUTO DE TERRAS DE
MATO GROSSO – INTERMAT, mais uma vez, vistoriado o imóvel e constatado que
estavam na posse do bem os Senhores GILVANEI EDSON DE ALMEIDA e JAIRO
KRAUSE, que são Autores nesta rescisória.

Ora, esses PROCESSOS ADMINISTRATIVOS EM


QUE TERCEIROS FIGURAM COMO INTERESSADOS JUNTO AO INTERMAT, cujo
órgão estatal constatou que os Autores desta rescisória GILVANEI EDSON DE
ALMEIDA, JAIRO KRAUSE, VILSON LUNKES, RAIMUNDO APARECIDO DE SOUZA
e JADER ROBERTO SILVA ESTAVAM NA POSSE MANSA E PACÍFICA, vistoria essa
realizada no ano de 2005 reforça a tese de que os Autores sempre estiveram na posse
mansa e pacífica do imóvel desde o ano de 2003, pois, se em 2005 foi realizada
inspeção que certificou a posse dos Autores desta rescisória, isso prova que o v. acórdão
rescindendo violou acintosamente as normas jurídicas insertas nos artigos 926 e
927 do CPC-1973 (correspondente aos artigos 560 e 561 do novo CPC; e artigo
1.196 do Código Civil), a saber:

“Art. 560 do novo CPC. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em
caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho.

Art. 561. Incumbe ao autor provar:


I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a
perda da posse, na ação de reintegração.

Artigo 1.196 do Código Civil. Considera-se possuidor todo aquele que tem
de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.

Ora, se é considerado possuidor – diz solenemente o art. 1.196 – “...


todo aquele que tem de fato o exercício de algum dos poderes inerentes à
89

propriedade...”, não pode sobejar dúvidas de que os Autores desta rescisória são
possuidores de fato, a ponto de o INTERMAT, em inspeção in loco realizadas em
Processos Administrativos requeridos por terceiros que cobiçavam a área dos Autores,
ter constatado que os AUTORES DESTA RESCISÓRIA ESTAVAM NA POSSE PLENA
DOS IMÓVEIS RURAIS OBJETO DESTA DEMANDA.

O que foi constatado nos Processos Administrativos


de um órgão estatal imparcial é uma prova irrefutável da POSSE DOS AUTORES, a
demonstrar, de forma cabal, que o v. acórdão rescindendo fez tabula rasa dos artigos
560 e 561 do novo Código de Processo Civil, bem como do art. 1.196 do Código Civil.

Não por outra razão, em situações desse jaez, a


jurisprudência pátria é absolutamente assente no sentido de que deve prevalecer a posse
dos Autores da rescisória, mormente porque eles jamais foram citados e/ou convocados
para fazer parte da Ação de Reintegração de Posse proposta pelos Réus da presente
rescisória, e muito menos podem ser considerados sucessores de Plácido Brolim e
Outros, já que nada liga os Autores da rescisória a essas pessoas, como bem o
demonstra os Processos Administrativos do INTERMAT.

Assim, por todos, expressivo julgado do TRF da 4ª


Região, verbis:

“AÇÃO POSSESSÓRIA – Reintegração de posse – Ocupação por mais


de 15 anos de área de terras que é parte de um todo maior
desapropriado pelo INCRA para fins de reforma agrária – Cultivo para a
retirada dos meios de subsistência – Circunstâncias que tornam legítima
a posse dos colonos.
Ementa Oficial: A ocupação pelos réus há mais de 15 anos de área de terras
que é parte de um todo maior desapropriado pelo INCRA para fins de reforma
agrária, e o seu cultivo para a retirada dos meios de subsistência, assim
constatado pela própria autarquia, associada à descaracterização da
presunção de que a área seria imprópria ao cultivo, torna legítima a posse dos
colonos, contestada pelo autor” (Ap 98.04.02226-5/PR, 3ª Turma do TRF da
4ª Região, rela. Juíza Federal Taís Schilling Ferraz, DJu 13.11.2002, RT
810/430).
90

Nessa mesma linha de entendimento, expressivo


aresto do eg. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO AMAPÁ, verbis:

“AÇÃO POSSESSÓRIA – Reintegração de posse – Admissibilidade –


Autor que comprova possuir de fato o exercício de um dos poderes
inerentes à propriedade – Deferimento da medida que se impõe.
1. A ação possessória tem por objetivo assegurar proteção interdital ao
possuidor destituído de sua posse por esbulho possessório, garantindo-lhe
sua recuperação do poder de quem injustamente a detinha em razão de ato
violento, clandestino ou precário.
2. Só é possuidor quem tenha, de fato, o exercício, pleno ou não, de algum
dos poderes inerentes à propriedade” (Ap 0038019-39.2008.8.03.0001,
Câmara Única do TJAP, rel. Juiz convocado Constantino Brahuna, DJe-AP
26.05.2011, RT 911/776).

Ora, a farta documentação acostada à presente


rescisória demonstra, com clareza solar, que os Autores estavam na posse dos imóveis
rurais há mais de 13 anos e, nessa condição, não poderiam ser atingidos pelo
cumprimento da sentença, mesmo porque nunca fizeram parte da Ação de Reintegração
de Posse movida pelos Réus da presente demanda: EVANDRO ALBERTO DE
OLIVEIRA BONINI e FUNDAÇÃO FERNANDO EDUARDO LEE.

Como o v. acórdão rescindendo negou a condição


de possuidores dos Autores desta rescisória, pedimos vênia para discriminar a posse
plena de cada um dos Autores, que tomou por base a divisão da documentação em 8
(oito) anexos, pois é absolutamente fora de propósito a conclusão a que chegou o v.
acórdão rescindendo, de que os Autores desta actio não se desincumbiram do ônus de
provar sua posse.

a) Posse do autor ROTSON ANDRÉ ORLANDI – Anexo I

Consoante comprova o ANEXO I – referente ao


possuidor ROTSON ANDRÉ ORLANDI – são inúmeros os atos que comprovam a sua
posse plena e efetiva.
91

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse Anexo,


temos uma Certidão Administrativa de nº 003/2005, expedida pelo INTERMAT, onde está
dito que o Sr. Rotson André Orlandi está na posse mansa e pacífica de uma área de
terras com 1.841,5239 has (hum mil, oitocentos e quarenta e um hectares, cinquenta
e dois ares e trinta e nove centiares).

Em razão dessa ocupação, a ASSEMBLEIA


LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO editou a Resolução nº 146, de 22 de
junho de 2006 (vide doc. 4 do Anexo I), em que está dito que:

“RESOLUÇÃO Nº 146, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Rotson André Orlandi.
A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base
no que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 1.841,5239 ha,
denominada “Fazenda Angelim”, conforme projeto específico do INTERMAT,
sob o n. 87.17.50.7574/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a leste: com terras da fazenda Tigre;
– a oeste: com terras de Leomar Tápparo” (vide doc. 4 do Anexo I).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte da


Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia Legislativa do Estado de
que o co-autor ROTSON ANDRÉ ORLANDI ocupa uma porção de terras de 1.841,5239
92

hectares é uma prova inequívoca da sua condição de possuidor pleno e efetivo, pois o
Parlamento Mato-grossense jamais baixaria uma Resolução de regularização fundiária
para uma pessoa que não estivesse na posse do bem; mais precisamente: cumprindo a
função social da posse.

Além desse documento de capital importância,


existem outros que comprovam que o Sr. Rotson André Orlandi exercia a posse plena da
Fazenda “Angelim”, a saber:

(i) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro Ambiental Rural


(cf. doc. 5 do Anexo I).

(ii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que o possuidor


Rotson André Orlandi desmatou 569,00 ha (quinhentos e sessenta e nove
hectares), onde investiu na produção de grãos de soja. A “dinâmica de
desmate” vem comprovada com documentos de imagem de satélite (vide doc.
6 com as fotos de satélite).

(iii) Documentos de Registros de Empregados, que mostra que existiam


pessoas que trabalhavam para o possuidor Rotson André Orlandi (vide docs.
10, 11 e 12 do Anexo I).

(iv) Documentos comprobatórios de recolhimento de INSS – Guia da


Previdência Social, FGTS, Contribuição Sindical de Assalariado Rural (docs.
13 usque 20 do Anexo I).

(v) Notas Fiscais referentes à aquisição dos mais diversos produtos para
investimento no imóvel rural Fazenda “Angelim’, que vão desde a aquisição
de parafusos, rolamentos, discos, até aquisição de sementes para plantação
de soja (docs. 22 a 29 do Anexo I).

Ademais disso, as 6 (seis) fotos que seguem abaixo


demonstram os vultosos investimentos que foram feitas na Fazenda “Angelim” pelo
possuidor Rotson André Orlandi.
93

Confira:

(...)

b) Posse do autor LEOMAR TÁPPARO – Anexo II

Consoante comprova o ANEXO II – referente ao


possuidor LEOMAR TÁPPARO – são inúmeros os atos que comprovam a sua posse
plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse Anexo,


temos uma Certidão Administrativa de nº 007/2005, expedida pelo INTERMAT, onde está
dito que o Sr. Leomar Tápparo está na posse mansa e pacífica de uma área de terras
com 1.993,7382 ha (hum mil, novecentos e noventa e três hectares, setenta e três
ares e oitenta e dois centiares), já que o MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda
“Tapajós” revelou que a área possuída efetivamente corresponde a 1.993,7382 ha.,
conforme comprovam os docs. 2 e 3, sendo este referente ao Memorial.

Em razão dessa ocupação, a ASSEMBLEIA


LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO editou a Resolução nº 144, de 22 de
junho de 2006 (vide doc. 2 do Anexo II), em que está dito que:

“RESOLUÇÃO Nº 144, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Leomar Tápparo.

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base


no que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:
94

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 1.993,7382 ha,
denominada “Fazenda Tapajós”, conforme projeto específico do INTERMAT,
sob o n. 87.17.50.7574/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a leste: com terras de Rotson André Orlandi;
– a oeste: com terras de Jáder Roberto da Silva” (vide doc. 2 do Anexo II).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte da


Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia Legislativa do Estado de
que o co-autor LEOMAR TÁPPARO ocupa uma porção de terras de 1.993,7382 hectares
é uma prova inequívoca da sua condição de possuidor pleno e efetivo, pois o
Parlamento Mato-grossense jamais baixaria uma Resolução de regularização fundiária
para uma pessoa que não estivesse na posse do bem; mais precisamente: cumprindo a
função social da posse.

Além desse documento de capital importância,


existem outros que comprovam que o Sr. Leomar Tápparo exercia a posse plena da
Fazenda “Tapajós”, a saber:

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado Fazenda


“Tapajós”, contendo Memorial Descritivo, Plantas, Comprovante de
pagamento de taxas do CREA/MT, Declarações de confinantes, relatórios etc.
(cf. docs. 4 usque 12 do Anexo II).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro Ambiental Rural


(cf. doc. 13 do Anexo II).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que o


possuidor Leomar Tápparo desmatou e investiu em parte do imóvel rural. A
“dinâmica de desmate” vem comprovada com documentos de imagem de
satélite (vide doc. 14 com as fotos de satélite).
95

(iv) Documentos de Registros de Empregados, que mostra que existiam


pessoas que trabalhavam para o possuidor Leomar Tápparo (vide docs. 18 e
30 do Anexo II).

(v) Documentos comprobatórios de recolhimento de INSS – Guia da


Previdência Social, FGTS, Contribuição Sindical de Assalariado Rural, Recibo
de Pagamento de Salário (docs. 19 usque 27 do Anexo II; idem docs. 31, 32 e
33).

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que seguem


abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitas na Fazenda “Tapajós”
pelo possuidor.

Confira as fotos que ilustram os investimentos feitos


pelo possuidor Leomar Tápparo no imóvel rural denominado Fazenda “Tapajós”:

(...)

c) Posse do autor JADER ROBERTO DA SILVA – Anexo III

Consoante comprova o ANEXO III – referente ao


possuidor JADER ROBERTO DA SILVA – são inúmeros os atos que comprovam a sua
posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o docs. 2 a 9 desse Anexo,


o Sr. Jader Roberto da Silva está na posse mansa e pacífica de uma área de terras com
2.147,9983 ha (dois mil, cento e quarenta e sete hectares, noventa e nove ares e
oitenta e três centiares), já que o MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda “Alvorada”
96

revelou que a área possuída efetivamente corresponde a 2.147,9983 ha., conforme


comprova o doc. 9 do Anexo III.

Em razão dessa ocupação, a ASSEMBLEIA


LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO editou a Resolução nº 142, de 22 de
junho de 2006 (vide doc. 1 do Anexo III), em que está dito que:

“RESOLUÇÃO Nº 144, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Jader Roberto da Silva.

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base


no que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 2.147,9983 ha,
denominada “Fazenda Alvorada”, conforme projeto específico do INTERMAT,
sob o n. 87.17.50.7563/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a leste: com terras de Leomar Tápparo;
– a oeste: com terras de Gilvanei Edson de Andrade” (vide doc. 1 do Anexo
III).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte da


Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia Legislativa do Estado de
que o co-autor JADER ROBERTO DA SILVA ocupa uma porção de terras de 2.147,9983
ha é uma prova inequívoca da sua condição de possuidor pleno e efetivo, pois o
Parlamento Mato-grossense jamais baixaria uma Resolução de regularização fundiária
para uma pessoa que não estivesse na posse do bem; mais precisamente: cumprindo a
função social da posse.
97

Além desse documento de capital importância,


existem outros que comprovam que o Sr. Jader Roberto da Silva exercia a posse plena
da Fazenda “Alvorada”, a saber:

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado Fazenda


“Alvorada”, situada no Município de Feliz Natal, Estado do Mato Grosso,
contendo Memorial Descritivo, Plantas, Comprovante de pagamento de taxas
do CREA/MT, Declarações de confinantes, relatórios, pedido de certidão para
fins tributários junto ao Município onde se situa o imóvel etc. (cf. docs. 2
usque 9 do Anexo III).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro Ambiental Rural


(cf. doc. 10 do Anexo III).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que o


possuidor Jader Roberto da Silva desmatou e investiu em parte do imóvel
rural. A “dinâmica de desmate” vem comprovada com documentos de imagem
de satélite (vide doc. 11 com as fotos de satélite).

(iv) Documento expedido pela Secretaria de Fazenda do Estado de Mato


Grosso, referente a Cartão de Identificação do Contribuinte, em que o
possuidor aparece como produtor rural (cf. docs. 14 e 15 do Anexo III).

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que seguem


abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitas na Fazenda “Alvorada”
pelo possuidor Jader Roberto da Silva.

Confira as fotos que ilustram os investimentos


feitos:

(...)
98

d) Posse do autor GILVANEI EDSON DE ALMEIDA – Anexo


IV

Consoante comprova o ANEXO IV – referente ao


possuidor GILVANEI EDSON DE ALMEIDA – são inúmeros os atos que comprovam a
sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse Anexo,


temos uma Certidão Administrativa de nº 008/2005, expedida pelo INTERMAT, onde está
dito que o Sr. Gilvanei Edson de Almeida está na posse mansa e pacífica de uma área
de terras com 2.151,9054 ha (dois mil, cento e cinquenta e um hectares, noventa
ares e cinquenta e quatro centiares), já que o MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda
“Tapajós” revelou que a área possuída efetivamente corresponde a essa porção de terra,
conforme comprovam os docs. 3 e 4, que se referem ao Memorial Descritivo e ao serviço
de Georreferenciamento, respectivamente.

Em razão dessa ocupação mansa, pacífica e


ininterrupta, a ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO editou a
Resolução nº 147, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 2 do Anexo IV), em que está dito
que:

“RESOLUÇÃO Nº 147, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Gilvanei Edson de Almeida.

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base


no que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:
99

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 2.151,9054 ha,
denominada “Fazenda Vale Verde”, conforme projeto específico do
INTERMAT, sob o n. 87.17.50.7580/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a leste: com terras de Jader Roberto da Silva;
– a oeste: com terras de Jairo Krause” (vide doc. 2 do Anexo IV).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte da


Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia Legislativa do Estado de
que o co-autor GILVANEI EDSON DE ALMEIDA ocupa uma porção de terras de
2.151,9054 ha é uma prova inequívoca da sua condição de possuidor pleno e efetivo,
pois o Parlamento Mato-grossense jamais baixaria uma Resolução de regularização
fundiária para uma pessoa que não estivesse na posse do bem; mais precisamente:
cumprindo a função social da posse.

Além desse documento de capital importância,


existem outros que comprovam que o Sr. Gilvanei Edson de Almeida exercia a posse
plena da Fazenda “Vale Verde”, a saber:

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado Fazenda


“Vale Verde”, contendo Memorial Descritivo, Plantas, Comprovante de
pagamento de taxas do CREA/MT, Declarações de confinantes, relatórios,
atestado de localização, pedido de certidão para fins tributário e fiscal junto ao
Município de Feliz Natal etc. (cf. docs. 4 usque 13 do Anexo IV).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro Ambiental Rural


(cf. doc. 14 do Anexo IV).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que o


possuidor Gilvanei Edson de Almeida desmatou e investiu em parte do imóvel
rural. A “dinâmica de desmate” vem comprovada com documentos de imagem
de satélite (vide doc. 15 com as fotos de satélite).
100

(iv) Notas Fiscais de aquisição de sementes junto à empresa Sementes


Aguilar, bem como de aquisição de produtos como arame liso, lona plástica,
pulverizador, enxadas, vacina aftosa oleosa (vide docs. 19 a 23 do Anexo IV).

(v) Documentos de Registros de Empregados, que mostra que existiam


pessoas que trabalhavam para o possuidor Gilvanei Edson de Almeida (vide
docs. 24, 25 e 26 do Anexo IV).

(vi) Documentos comprobatórios de recolhimento de INSS – Guia da


Previdência Social, FGTS, Contribuição Sindical de Assalariado Rural, Recibo
de Pagamento de Salário, Termo de Rescisão de Contrato de Trabalho,
Relatório Anual de Informações Sociais - RAIS (docs. 27 usque 44; bem como
docs. 54 a 62 do Anexo IV).

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que seguem


abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitos na Fazenda “Vale Verde”
pelo possuidor Gilvanei Edson de Almeida, sendo que a placa de identificação do Projeto
de Regularização Fundiária está até desgastada pelo tempo (só dá pra enxergar o
sobrenome “Almeida”. Confira:

(...)

e) Posse do autor JAIRO KRAUSE – Anexo V

Consoante comprova o ANEXO V – referente ao


possuidor JAIRO KRAUSE – são inúmeros os atos que comprovam a sua posse plena e
efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse Anexo,


temos uma Certidão Administrativa de nº 005/2005, expedida pelo INTERMAT, onde está
dito que o Sr. Jairo Krause está na posse mansa e pacífica de uma área de terras com
101

2.111,2450 ha (dois mil, cento e onze hectares, vinte e quatro ares e cinquenta
centiares), já que o MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda “Leão Negro” revelou que a
área possuída efetivamente corresponde a essa porção de terra, conforme comprovam
os docs. 3 e 5, que se referem ao serviço de Georreferenciamento e ao Memorial
Descritivo, respectivamente.

Em razão dessa ocupação mansa, pacífica e


ininterrupta, a ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO editou a
Resolução nº 143, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 2 do Anexo V), em que está dito
que:

“RESOLUÇÃO Nº 143, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Jairo Krause.

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base


no que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 2.111,2450 ha,
denominada “Fazenda Leão Negro”, conforme projeto específico do
INTERMAT, sob o n. 87.17.50.7566/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com terras de Gilvanei Edson de Almeida e o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rômulo A. Rohden;
– a leste: com terras de Gilvanei Edson de Almeida;
– a oeste: com terras de Rômulo A. Rohden” (vide doc. 2 do Anexo V).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte da


Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia Legislativa do Estado de
que o co-autor JAIRO KRAUSE ocupa uma porção de terras de 2.111,2450 ha é uma
102

prova inequívoca da sua condição de possuidor pleno e efetivo, pois o Parlamento


Mato-grossense jamais baixaria uma Resolução de regularização fundiária para uma
pessoa que não estivesse na posse do bem; mais precisamente: cumprindo a função
social da posse no desenvolvimento do imóvel rural denominado Fazenda “Leão
Negro”.

Além desse documento de capital importância,


existem outros que comprovam que o Sr. Jairo Krause exercia a posse plena da Fazenda
“Leão Negro”, a saber:

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado Fazenda


“Leão Negro”, contendo Memorial Descritivo, Plantas, Comprovante de
pagamento de taxas do CREA/MT, Declarações de confinantes, relatórios,
atestado de localização, pedido de certidão para fins tributário e fiscal junto ao
Município de Feliz Natal etc. (cf. docs. 3 usque 12 do Anexo V).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro Ambiental Rural


(cf. doc. 13 do Anexo V).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que o


possuidor Jairo Krause desmatou e investiu em parte do imóvel rural. A
“dinâmica de desmate” vem comprovada com documentos de imagem de
satélite (vide doc. 14 com as fotos de satélite).

(iv) Documentos de Registros de Empregados, que mostra que existiam


pessoas que trabalhavam para o possuidor Jairo Krause (vide docs. 18 a 22
do Anexo V).

(v) Documentos comprobatórios de recolhimento de INSS – Guia da


Previdência Social, FGTS, Contribuição Sindical de Assalariado Rural, Recibo
de Pagamento de Salário, Termo de Rescisão de Contrato de Trabalho,
Relatório Anual de Informações Sociais - RAIS (docs. 23 usque 26; idem,
docs. 28 a 34; idem docs. 37 a 45 do Anexo V).

(vi) Notas Fiscais de aquisição de vacina aftosa oleosa, barra de ferro,


carrinho de mão (vide docs. 27 e 35 do Anexo V).
103

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que seguem


abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitos na Fazenda “Leão Negro”
pelo possuidor Jairo Krause. Confira:

(...)

f) Posse do autor ROMULO AFFONSO ROHDEN – Anexo VI

Consoante comprova o ANEXO VI – referente ao


possuidor ROMULO AFFONSO ROHDEN – são inúmeros os atos que comprovam a sua
posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse Anexo,


temos uma Certidão Administrativa de nº 004/2005, expedida pelo INTERMAT, onde está
dito que o Sr. Romulo Affonso Rohden está na posse mansa e pacífica de uma área de
terras com 2.107,8821 ha (dois mil, cento e sete hectares, oitenta e oito ares e vinte
e um centiares), já que o MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda “Cambará” revelou que
a área possuída efetivamente corresponde a essa porção de terra, conforme comprovam
os docs. 3 e 10, que se referem ao serviço de Georreferenciamento e ao Memorial
Descritivo, respectivamente.

Em razão dessa ocupação mansa, pacífica e


ininterrupta, a ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO editou a
Resolução nº 145, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 2 do Anexo VI), em que está dito
que:
104

“RESOLUÇÃO Nº 145, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Rômulo Affonso Rohden.

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base


no que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 2.107,8821 ha,
denominada “Fazenda Cambará”, conforme projeto específico do INTERMAT,
sob o n. 87.17.50.7585/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com terras de Jairo Krause e com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Vilson Lunkes;
– a leste: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a oeste: com terras de Vilson Lunkes e com o rio arraias” (vide doc. 2 do
Anexo VI).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte da


Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia Legislativa do Estado de
que o co-autor RÔMULO AFFONSO ROHDEN ocupa uma porção de terras de
2.107,8821 ha é uma prova inequívoca da sua condição de possuidor pleno e efetivo,
pois o Parlamento Mato-grossense jamais baixaria uma Resolução de regularização
fundiária para uma pessoa que não estivesse na posse do bem; mais precisamente:
cumprindo a função social da posse no desenvolvimento do imóvel rural denominado
Fazenda “Cambará”.

Além desse documento de capital importância,


existem outros que comprovam que o Sr. Rômulo Affonso Rohden exercia a posse plena
da Fazenda “Cambará”, a saber:
105

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado Fazenda


“Cambará”, contendo Memorial Descritivo, Plantas, Comprovante de
pagamento de taxas do CREA/MT, Declarações de confinantes, relatórios,
atestado de localização, pedido de certidão para fins tributário e fiscal junto ao
Município de Feliz Natal etc. (cf. docs. 3 usque 12 do Anexo VI).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro Ambiental Rural


(cf. doc. 13 do Anexo VI).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que o


possuidor Rômulo Affonso Rohden desmatou e investiu em parte do imóvel
rural. A “dinâmica de desmate” vem comprovada com documentos de imagem
de satélite (vide doc. 14 com as fotos de satélite).

(iv) Documento expedido pela SECRETARIA DE FAZENDA DO GOVERNO


DO ESTADO DE MATO GROSSO em que aparece a Inscrição Estadual e o
CNPJ da Fazenda Cambará, com endereço na Rodovia da Soja, km 123,
município de Feliz Natal, Estado do Mato Grosso (vide docs. 17 e 18 do
Anexo VI).

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que seguem


abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitos na Fazenda “Cambará”
pelo possuidor Rômulo Affonso Rohden, no cumprimento da função social do instituto da
posse.

Confira:

(...)

g) Posse do autor VILSON LUNKES – Anexo VII


106

Consoante comprova o ANEXO VII – referente ao


possuidor VILSON LUNKES – são inúmeros os atos que comprovam a sua posse plena
e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse Anexo,


temos uma Certidão Administrativa de nº 006/2005, expedida pelo INTERMAT, onde está
dito que o Sr. Vilson Lunkes está na posse mansa e pacífica de uma área de terras com
2.451,1455 ha (dois mil, quatrocentos e cinquenta e um hectares, catorze ares e
cinquenta e cinco centiares), já que o MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda “Bom
Retiro” revelou que a área possuída efetivamente corresponde a essa porção de terra,
conforme comprovam os docs. 3 e 7, que se referem ao serviço de Georreferenciamento
e ao Memorial Descritivo, respectivamente.

Em razão dessa ocupação mansa, pacífica e


ininterrupta, nos idos de 30 de julho de 2010 foi lavrada uma ESCRITURA PÚBLICA
DECLARATÓRIA junto ao Serviço Notarial e Registral União do Sul – Cartório Villa, em
que o declarante e legítimo possuidor Vilson Lunkes atesta que: “... exerce a posse
mansa, pacífica e ininterrupta, sem coação de qualquer espécie ou natureza e de
conhecimento público desde 10 de janeiro de 2003, ou seja a mais de 7 (sete) anos,
sobre uma área de terras com 2.473,4943 ha, denominada FAZENDA BOM RETIRO,
localizada no município de Feliz Natal, Estado de Mato Grosso, dentro dos seguintes
limites e confrontações....”.

Ainda, dessa ESCRITURA PÚBLICA


DECLARATÓRIA vale destacar os seguintes excertos:

2º-) Que se encontra na referida posse, desde a sua aquisição, e que seus
confinantes respeitam seus limites e confrontações como a divisa correta
entre as propriedades; 3º-) Que a referida posse foi adquirida mansa e
107

pacificamente através de desbravamento destinado à exploração


agropecuária, não degradando, atingindo ou invadindo imóveis ou áreas de
posse de terceiros, cujo histórico resumidamente declarado é de
conhecimento dos confinantes de propriedades e justificam o direito
declarado” (cf. doc. 2 em anexo).

Essa passagem da Escritura Pública Declaratória


revela um aspecto de capital importância para a presente rescisória, que diz respeito à
origem da posse dos Autores, pois todas elas foram adquiridas motu proprio para fins
de desbravamento destinado à exploração agropecuária, não derivando a posse dos
Autores ROTSON ANDRÉ ORLANDI, LEOMAR TÁPPARO, JADER ROBERTO DA
SILVA, GILVANEI EDSON DE ALMEIDA, JAIRO KRAUSE, RÔMULO AFFONSO
ROHDEN, VILSON LUNKES e RAIMUNDO APARECIDO DE SOUZA de negócio jurídico
ou cessão de direito possessório de quem quer que seja.

Essa origem de aquisição da posse como


fenômeno puramente fático revela dois aspectos para os quais não se atentou o v.
acórdão rescisório, a saber: primeiro – que os Autores cumpriram zelosamente a função
social do instituto da posse, na medida em que os Réus desta rescisória – ao figurarem
apenas como “proprietários”, nunca tiveram a posse do imóvel rural de 39.000 ha (trinta e
nove mil hectares).

Tanto isso é uma verdade axiomática e irrefutável


que os Autores permaneceram tranquilamente na posse de 2003 a 2016, quando foram
atingidos por uma ordem judicial de um processo do qual NUNCA FIZERAM PARTE.

Ora, se a origem de aquisição da posse dos


Autores decorreu de um “fenômeno fático”, consistente na ocupação dos imóveis rurais
para fins agropecuários, é cediço que o v. acórdão rescindendo fez tabula rasa dos
108

artigos 560 e 561 do novel Diploma Processual – correspondente aos artigos 926 e 927
do Código de Processo Civil-1973, e 1.196 do Código Civil:

Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação
e reintegrado em caso de esbulho.

Art. 927. Incumbe ao autor provar:


I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; ou a
perda da posse, na ação de reintegração.

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

Ora, se se considera possuidor “... todo aquele


que tem de fato o exercício de algum dos poderes inerentes à propriedade” e, in
casu, os Autores tem o direito de uso e desfrute da posse como componente mais
expressivo da visibilidade do exercício da posse desde os idos de 2003, salta aos olhos
que o v. acórdão rescindendo feriu de morte os artigos acima alinhados.

No sentido de proteger a posse do possuidor de


fato, podemos trazer à colação, à guisa de exemplos, os seguintes arestos, verbis:

I-) “POSSESSÓRIA – Manutenção de posse – Proteção que independe de


alegação de domínio – Possibilidade de ser exercitada até mesmo contra
o proprietário, se comprovada a posse e sua origem. Comprovada a
posse e sua origem, a proteção possessória independe da alegação de
domínio e pode ser exercitada até mesmo contra o proprietário ou possuidor
indireto” (Ap 50.019-4, 4ª Câmara do TJMG, rel. Des. Mercêdo Moreira, j.
25.04.1990, RT 670/156).
109

E, do corpo desse lapidar aresto, colhe-se a


seguinte passagem que cai como uma luva à presente actio:

“Por fim, é necessário ficar claro que o documento de domínio, com o qual
pretendem os apelantes justificar seus atos e, inclusive, nele estribar sua
posse, que seria de mais de ano e dia, não tem qualquer validade para o
alcance do que objetivam. Nesse sentido é o acórdão deste Tribunal prolatado
na Ap 26.372, rel. Des. Haroldo Sodré (j. 09.11.1984), verbis:

“POSSE – Caracterização – Proteção possessória – Alegação de domínio


– Não dependência – Interditos contra o possuidor – Via ordinária. O
exercício da posse não se afirma por mera alegação, mas é caracterizado
pela prática de atos que, de fato, expressem alguns dos poderes inerentes à
propriedade. Desde que comprovada a posse e sua origem, a respectiva
proteção independe da alegação de domínio e pode ser exercida até mesmo
contra o proprietário ou possuidor indireto” (RT 670/158).

Por todos esses aspectos – conclui o julgado – não há que se falar em


propriedade, quando se trata de posse, como fato que é, valendo reprisar-se
que o simples título de propriedade, ainda que legítimo, não exclui a posse
dos possuidores que detém o imóvel de fato e nele exercem atividades
econômicas e sociais, cumprindo a função social do instituto da posse em
face de um proprietário que tem apenas o “título de domínio” (cf. RT 670/158).

Ora, esse aresto cai como uma luva ao caso em


testilha, já que a origem da posse dos Autores decorreu de um fenômeno puramente
fático, consistente na prática de atos que traduzem investimentos econômicos nos
imóveis rurais Fazendas ANGELIM, TAPAJÓS, ALVORADA, VALE VERDE, LEÃO
NEGRO, CAMBARÁ, BOM RETIRO e NOSSA SENHORA APARECIDA, a ponto da
Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso ter editado as Resoluções
reconhecendo a ocupação fundiária dos Autores.

A prova dos investimentos econômicos estão


demonstradas por documentos e fotos, tais como: lavoura de soja, lavoura de milho,
criação de gado, currais, casas, antenas parabólicas, tratores, compra de sementes,
vacina contra febre aftosa etc., para ficar aqui com alguns exemplos ilustrativos.
110

Portanto, a circunstância dos Réus desta rescisória


serem titulares do domínio é irrelevante para o reconhecimento da posse se eles nunca
investiram no imóvel rural de 39.000 ha (trinta e nove mil hectares), do qual os Autores
ocuparam uma parcela sem oposição de quem quer que seja.

Nesse contexto, o v. acórdão rescindendo está em


aberto conflito com o entendimento pacífico da jurisprudência pátria, que sempre decidiu
no sentido de que:

“POSSESSÓRIA – Reintegração de posse – Alegação de existência de


título dominial – Insuficiência – Demanda interdital de natureza defensiva
que exige a comprovação inequívoca do desfrute possessório.
Ementa da Redação: Na reintegração de posse, não basta a alegação da
existência de título dominial, a demanda interdital possessória é naturalmente
defensiva, exigindo, para que possa ser acolhida, a comprovação inequívoca
do desfrute possessório” (Ap 620.144-5, 6ª Câmara do TJSP, rel. Des. Evaldo
Veríssimo, j. 12.11.1996, RT 741/278).

Não discrepa dessa orientação julgado da 9ª


Câmara do eg. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO, que apostilou:

“AÇÃO POSSESSÓRIA – Manutenção de posse – Admissibilidade, pois


demonstrado o exercício contínuo da posse por longo período de tempo
– Desnecessidade do exame de títulos dominiais.
Ementa da Redação: Demonstrado o exercício contínuo da posse pela
autora, por longo período de tempo, somada à ausência de
demonstração pelo réu do exercício de qualquer ato possessório por ele
praticado antes da autora, deve esta ser mantida na posse, sendo
desnecessário o exame dos títulos dominiais” (Ap 668.212-2, 9ª Câmara do
TJSP, rel. Des. Armindo Freire Mármora, j. 21.10.1997, RT 752/201).

O trecho colocado em destaque cai como uma luva


na presente demanda rescisória, na medida em que os Autores exerceram posse
111

continuada de 2003 a 2016, portanto, pelo longo período de 13 anos, somado à ausência
de demonstração pelos Réus do exercício de qualquer ato possessório por eles
praticado, tanto que os Autores permaneceram no imóvel por mais de uma década.

Se os Réus estivessem na posse do imóvel rural no


ano de 2003, de duas uma: (i) ou eles teriam impedido a ocupação das áreas rurais pelos
Autores, por meio do desforço incontinenti; ou (ii) se não conseguissem impedir a
ocupação, teriam promovido em face deles uma Ação de Reintegração de Posse.

Sucede que os Réus não fizeram nem uma coisa


nem outra: não impediram a ocupação pacífica dos imóveis rurais pelos Autores, que ali
fizeram investimentos agropecuários de diversas ordens, além de vultosos investimentos
em benfeitorias.

Esse aspecto traz ao palco da rescisória outra


violação manifesta de norma jurídica, consistente no fato de que, como a posse dos
Autores é originária e não derivada dos Réus da Ação de Reintegração de Posse, eles
são terceiros em relação à coisa julgada formada na reintegração objeto do Processo nº
266/97, em que figura como Autor EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA BONINI e como
Réus PLÁCIDO BROLIM, SEBASTIÃO DE MATOS e JACY FERMINIANO DA SILVEIRA.

Deveras, não há o menor traço de que os Autores


ROTSON ANDRÉ ORLANDI & OUTROS, que integram o polo ativo da presente actio
tenha adquirido a posse através dos senhores PLÁCIDO BROLIM E OUTROS, réus da
possessória.
112

Se não há qualquer liame, qualquer ligação entre os


Autores desta rescisória e os Réus da Ação de Reintegração de Posse (Proc. nº 266/97),
salta aos olhos que, em relação à coisa julgada ocorrida na Ação de Reintegração de
Posse os Autores desta rescisória são terceiros e, por nunca terem sido convocados a
participar da lide, não podem ser atingidos pela eficácia da res iudicata, sob pena de
manifesta violação à norma jurídica insculpida no artigo 506 do novo Código de
Processo Civil, que dispõe:

“Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre


as quais é dada, não prejudicando terceiros”.

Ora, no caso em testilha, o v. acórdão rescindendo


violou de forma manifesta o estatuído no art. 506 do novel Diploma Processual, na
medida em que permitiu que o cumprimento de sentença da demanda possessória
pudesse atingir QUEM NUNCA FIGUROU COMO PARTE NA RELAÇÃO JURÍDICA
PROCESSUAL, com a agravante de que os Autores da rescisória também NÃO SÃO
SUCESSORES dos réus da possessória, pois jamais mantiveram qualquer vínculo e/ou
negócio jurídico com os mesmos (Plácido Brolim e Outros).

Em situações desse jaez, a doutrina especializada é


unânime no sentido de que os Autores da rescisória, por figurarem na condição de
terceiros na Ação de Reintegração de Posse, não podem ser atingidos pelo
cumprimento da sentença.

Nesse sentido é a lição de NELSON NERY JR. e


ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, que vaticinam:

“4. Coisa julgada inter partes. A regra geral é a de que a sentença somente
obriga as pessoas entre as quais foi dada, não prejudicando nem
113

beneficiando terceiros” (Comentários ao Código de Processo Civil – Novo


CPC. São Paulo: RT, 2015, p. 1238).

Não discrepa dessa linha de entendimento, a


segura lição de LUIZ GUILHERME MARINONI, SÉRGIO CRUZ ARENHART e DANIEL
MITIDIERO, que lecionam:

“1. Limites subjetivos. O art. 506, CPC, disciplina os limites subjetivos da


coisa julgada, demarcando a área de influência da autoridade da coisa
julgada. Apenas as partes e seus sucessores se submetem à coisa julgada.
Vale dizer: tão somente para as partes e para os seus sucessores a
declaração contida no dispositivo da sentença adquire imutabilidade e
indiscutibilidade” (Novo Código de Processo Civil comentado, 2ª ed. São
Paulo: RT, 2016, p. 604).

No caso em testilha, os Autores da rescisória


nunca figuraram nem como PARTES, nem como SUCESSORES na Ação de
Reintegração de Posse movida pelos Réus da vertente demanda. De fato, é impossível
estabelecer qualquer liame, união e/ou ligação entre os Autores Rotson André Orlandi,
Leomar Tápparo, Jader Roberto da Silva, Gilvanei Edson de Almeida, Jairo Krause,
Rômulo Affonso Rohden, Vilson Lunkes e Raimundo Aparecido de Souza com os réus da
possessória Plácido Brolim, Sebastião de Matos e Jacy Ferminiano da Silveira, pois a
posse daqueles jamais derivaram destes, pois nunca houve negócio jurídico entabulado
entre eles.

Se está inequivocamente provado e demonstrado


que os autores da rescisória são terceiros completamente alheios ao resultado da Ação
de Reintegração de Posse objeto do Processo nº 266/97, não pode sobejar dúvidas que
o cumprimento de sentença não poderia atingi-los, como lamentavelmente ocorreu,
de modo que resta patente a manifesta violação à norma jurídica do artigo 506 do
novo Código de Processo Civil.
114

Expressivo, no ponto, julgado da Terceira Turma do


STJ, que decidiu, in verbis:

“SENTENÇA – Coisa julgada – Decisão imutável e indiscutível que


vincula apenas as partes da respectiva relação jurídica – Terceiro que
não é alcançável, pois não foi parte no processo.
Ementa Oficial: A coisa julgada torna imutável e indiscutível a sentença, não
mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário e vincula apenas as partes
da respectiva relação jurídica. O terceiro não é alcançável por decisão em
processo de que não fora parte, ineficaz quanto a este a decisão” (REsp
158.097/RJ, 3ª Turma, rel. Min. WALDEMAR ZVEITER, DJU 15.03.1999, RT
766/196).

E, do corpo desse lapidar aresto, verdadeira arte


plástica de edificação jurídica, colhe-se a seguinte passagem que demonstra que o v.
acórdão rescindendo violou manifestamente a norma jurídica do artigo 506 do novo
CPC – correspondente ao art. 472 do CPC-1973 – ao não impedir que o cumprimento de
sentença pudesse atingir os autores da presente actio. Confira:

“Aduz o embargante que o v. acórdão recorrido, ao deixar de reconhecer o


seu direito à posse, obtida por meio de ocupação, admitindo a eficácia da
sentença prolatada em processo em que não foi parte, violou o artigo 472 do
CPC/1973 (correspondente ao art. 506 do novo CPC) e discrepou da
jurisprudência deste E. STJ, trazendo à colação os Recursos Especiais
28.618/GO, rel. Min. VICENTE CERNICCHIARO, e 53.480/SP, rel. Min.
FONTES DE ALENCAR.

Com razão o recorrente.

Assentado na jurisprudência da Corte o entendimento segundo o qual o


terceiro não é alcançável por decisão em processo de que não fora
parte.

Segundo o disposto no art. 472 do CPC/1973, “a sentença faz coisa julgada


às partes entre as quais é dada, não beneficiando nem prejudicando
terceiros”.
115

(...)

No precedente, REsp 28.618-GO, estabelece-se que: “A coisa julgada é a


eficácia que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a
recurso ordinário ou extraordinário. No plano da experiência, vincula apenas
as partes da respectiva relação jurídica. Relativamente a terceiros pode ser
utilizada como reforço de argumentação. Jamais como imposição” (rel. Min.
VICENTE CERNICCHIARO – DJ de 18.10.1993).

O mesmo entendimento restou consagrado no julgamento do REsp 16.979-


SP, rel. Min. BARROS MONTEIRO, e REsp 53.480-SP, rel. Min. FONTES DE
ALENCAR, assim ementados:

“EMBARGOS DE TERCEIRO EM AÇÃO DE DESPEJO –


Oferecimento após o trânsito em julgado da sentença proferida no
processo de conhecimento – Admissibilidade. A coisa julgada é fenômeno
que só diz respeito aos sujeitos do processo, pelo que não constitui ela
empecilho à defesa do terceiro, através desse remedium iuris, contra os
efeitos da sentença” (DJ 14.03.1994).

“IMÓVEL – Terceiro adquirente. O terceiro adquirente do


imóvel, a título oneroso e de boa-fé, não é alcançável por decisão em
processo de que não fora parte. Recurso especial atendido” (DJ 06.05.1996).

Nesse último precedente, Sua Excelência o Min. FONTES DE ALENCAR


assim consignou:

“Como efeito, o terceiro não é, no direito civil brasileiro,


alcançável por reivindicação do proprietário, sendo certo que o recorrente não
podia ter sido atingido por decisão emanada de processo de que não fora
ele parte, pois, nos termos do art. 472 do CPC-1973 (correspondente ao art.
506 do novo CPC), “A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é
dada, não beneficiando nem prejudicando terceiros”.

Referido dispositivo, na espécie, também teve sua vigência olvidada


pelo aresto recorrido, que opôs ao recorrente decisão que lhe não obrigava,
tirada em processo de que ele não participara” (RT 766/198-199).

E, continua o ilustre Min. WALDEMAR ZVEITER em


seu brilhante aresto que cai como uma luva ao caso em testilha, louvando-se na melhor
doutrina e nos precedentes do STJ, verbis:
116

“A sentença condenatória obtida no processo de conhecimento atuará como


título executivo judicial exclusivamente em face da parte derrotada, NÃO
TENDO EFICÁCIA EM RELAÇÃO AO TERCEIRO QUE NÃO INTEGROU A
LIDE, DESINFLUENTE O FATO DE TER TRANSITADO EM JULGADO A
DECISÃO. Não se trata de anular referida decisão através de embargos de
terceiro, apenas que ela não produz efeito no patrimônio daquele que não foi
parte no processo.

Confira-se a lição de HUMBERTO THEODORO JUNIOR, Curso de direito


processual civil, v. III, p. 1.809-1.810:

“Pela natureza dos embargos – remédio apenas de defesa de


terceiro – é bom lembrar que por seu intermédio não se invalida ou se
desconstitui a sentença dada em processo alheio. Apenas se impede que sua
eficácia atinja o patrimônio de quem não foi parte na relação processual.

Nesse sentido é irrelevante a circunstância de haver ou não


passado em julgado a sentença. A res iudicata é fenômeno que só diz
respeito aos sujeitos do processo, pelo que não representa empecilho algum
à defesa do terceiro contra os efeitos da sentença”.

(...)

Forte em tais lineamentos, conheço do recurso e dou-lhe provimento para no


ponto reformar o acórdão recorrido e para julgar totalmente procedente os
embargos de terceiro, ineficaz quanto a estes a decisão exequenda.

É como voto” (REsp 158.097/RJ, Terceira Turma do STJ, rel. Min.


WALDEMAR ZVEITER, DJU 15.03.1999, RT 766/198-199).

Ora, esse julgado da colenda Terceira Turma do


STJ – que tem amparo, inclusive, em diversos precedentes da Corte Superior, como
destacado – demonstra o total desacerto do v. acórdão rescindendo, que deixou de
acolher Embargos de Terceiro manejados pelos autores desta rescisória, pois, se está
sobejamente demonstrado que eles NUNCA FIZERAM PARTE DA AÇÃO DE
REINTEGRAÇÃO DE POSSE que acarretou o CUMPRIMENTO DE SENTENÇA para a
retirada dos mesmos dos imóveis rurais Fazendas Angelim, Tapajós, Alvorada, Vale
Verde, Leão Negro, Cambará, Bom Retiro e Nossa Senhora Aparecida aliado ao aspecto
de que ELES JAMAIS FIGURARAM COMO SUCESSORES E/OU ADQUIRENTES dos
réus da possessória, a saber: Plácido Brolim, Sebastião de Matos e Jacy Ferminiano da
117

Silveira, é cediço que a res iudicata proferida na Ação de Reintegração de Posse objeto
do Proc. nº 266/97 jamais poderia atingir os autores desta rescisória.

Afinal, como bem destacado pelo mestre


HUMBERTO THEODORO JR. – citado no aresto da 3ª Turma – “a res iudicata é
fenômeno que só diz respeito aos sujeitos do processo, pelo que não representa
empecilho algum à defesa do terceiro contra os efeitos da sentença”.

Por todo o exposto, é de tonitruante clareza que o v.


acórdão rescindendo violou manifestamente a norma jurídica inserta no art. 506 do
novo CPC – correspondente ao art. 472 do CPC-1973 – aspecto esse que reforça o
cabimento da ação rescisória com espeque na redação do art. 966, V, CPC-2015,
segundo o qual “A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida
quando: - violar manifestamente norma jurídica”.

Por derradeiro, outro aspecto que reforça a POSSE


DOS AUTORES É O FATO DELA SER PÚBLICA e, nessa condição, somente o
ESTADO DE MATO GROSSO tem competência para discriminar, arrecadar e promover
a regularização fundiária com a aprovação da Assembléia Legislativa do Estado de Mato
Grosso. Por esse motivo é que os Autores obtiveram junto ao Estado e à Assembléia
Legislativa a regularização fundiária de suas terras, o que reforça o elemento posse.

Com efeito, não é despiciendo indagar: como os


Embargados e Réus nesta Ação Rescisória poderiam estar na posse das terras que
disputam com os Embargantes, aqui Autores? A resposta é simples. Os Réus desta actio
NUNCA TIVERAM POSSE SOBRE AS TERRAS OCUPADAS POR ROTSON ANDRÉ
ORLANDI E OUTROS, porque a terra é pública do Estado de Mato Grosso e somente
ele tem competência, como já dito, para discriminar, arrecadar e promover a
regularização fundiária com a aprovação da Assembleia Legislativa do Estado.
118

Neste caso está provado que o Estado de Mato


Grosso discriminou e arrecadou as terras em seu nome, e que o domínio do imóvel
denominado Gleba Caubi, matrícula n. 7.542, livro nº 2, ficha nº 01, do Cartório de
Registro de Imóveis de Sinop/MT, é do Estado, que reconheceu a posse de ROTSON
ANDRÉ ORLANDI, JADER ROBERTO SILVA, VILSON LUNKES, RAIMUNDO
APARECIDO DE SOUZA, GILVANEI EDSON DE ALMEIDA, JAIRO KRAUSE,
LEOMAR TÁPPARO e RÔMULO AFFONSO ROHDEN como únicos ocupantes, fato
constatado in loco pelo INTERMAT, e posteriormente convalidado pela Assembléia
Legislativa do Estado de Mato Grosso, aprovado pela Comissão de Constituição e
Justiça e pela Comissão de Agricultura, como previsto nos artigos 323 e 327 da
Constituição do Estado de Mato Grosso, verbis:

“Art. 323. Compete ao Estado promover a discriminação ou


arrecadação de terras devolutas, através do órgão específico.
(...)
§2º. A destinação das terras mencionadas no parágrafo
anterior dependerá de autorização da Assembleia Legislativa,
mediante a aprovação de projeto específico de colonização,
assentamento ou REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA a ser
elaborado pelo órgão específico (Intermat), em que esteja
GARANTIDA A PERMANÊNCIA DE POSSEIROS QUE SE
ENCONTREM PRODUZINDO.

Art. 327. A alienação ou a concessão, a qualquer título, de


terras públicas à pessoa física ou jurídica, ainda que por
interposta pessoa, dependerá de prévia autorização da
Assembleia Legislativa, salvo se as alienações ou as concessões
forem para fins de reforma agrária”.
119

Ora, o trecho acima negritado cai como uma luva na


presente rescisória, na medida em que a Assembleia Legislativa aprovou o PROJETO
DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ELABORADO PELO INTERMAT EM QUE
FIGURAM COMO BENEFICIÁRIOS OS AUTORES DESTA RESCISÓRIA, pela exata e
precisa razão de que eles se encontravam na posse do imóvel, dando-lhe a
destinação social desejada, qual seja: ali estabelecendo a moradia e realizando
benfeitorias.

IV – DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA PARA RESTABELECER


O STATUS QUO ANTE

O art. 969 do novel Diploma Processual, ao tratar


da possibilidade de concessão de tutela antecipada no bojo da rescisória, dispõe que: “A
propositura de ação rescisória não impede o cumprimento da decisão rescindenda,
ressalvada a concessão de tutela provisória”.

Na sistemática do novo CPC, a locução “tutela


provisória” é o gênero, que compreende duas espécies: (i) a tutela cautelar; e (ii) a tutela
antecipada. Portanto, é perfeitamente possível a concessão de tutela antecipada no seio
de uma rescisória, como expressamente admite o art. 969 do novel Diploma.

Deveras, mantendo a tradição de nosso direito – o


art. 489 do CPC-1973 já admitia a concessão de tutela de urgência em sede de ação
rescisória – o novel Estatuto também admite a concessão de tutela provisória no âmbito
da ação rescisória.

Os requisitos para a obtenção da tutela provisória


de urgência vêm previstos no art. 300, caput, do novo CPC, consoante o qual:
120

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo”.

No caso em testilha, restou sobejamente provada e


demonstrada a posse mansa, pacífica, longa e ininterrupta dos Autores desde os idos de
2003, os quais só foram desalojados da posse dos imóveis rurais Fazendas Angelim,
Tapajós, Alvorada, Vale Verde, Leão Negro, Cambará, Bom Retiro e Nossa Senhora
Aparecida em virtude do cumprimento de sentença em uma demanda possessória na
qual os Autores desta rescisória jamais figuraram como partes e muito menos
sucessores, já que inexiste qualquer vínculo jurídico entre os Autores Rotson André
Orlandi e Outros com os senhores Plácido Brolim e Outros.

Pelo contrário!!! Restou sobejamente demonstrado


que a posse dos Autores Rotson André Orlandi, Leomar Tápparo, Jader Roberto da
Silva, Gilvanei Edson de Almeida, Jairo Krause, Rômulo Affonso Rohden, Vilson Lunkes
e Raimundo Aparecido de Souza não deriva, não decorre da posse dos réus da Ação de
Reintegração de Posse senhores Plácido Brolim, Sebastião de Matos e Jacy Ferminiano
da Silveira.

Logo, se a posse dos Autores é originária, ou seja,


não decorre de cessão, nem de contrato, nem de doação, nem de venda, nem de
compromisso de compra e venda, pois tem origem numa ocupação para fins de
assentamento agrário em que não houve oposição ou resistência de quem quer que
seja, é cediço que a coisa julgada da possessória objeto do Processo nº 266/97 jamais
poderia alcançar os Autores, como restou demonstrado.
121

Portanto, restando sobejamente demonstrada a


posse longeva dos Autores (2003 a 2016), aliado à ocupação dos imóveis rurais com
esteio na função social da posse – aspecto esse reconhecido por inúmeras Resoluções
baixadas pela Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso – é cediço que a
plausibilidade jurídica da rescisória é evidente, mesmo porque os Autores desta actio
jamais poderiam ter sido alcançados pelo cumprimento de sentença, como
lamentavelmente ocorreu.

Ademais disso, a análise da rescisória deixa claro


que existem “... elementos que evidenciem a probabilidade do direito”, uma vez que
restou patente a violação literal aos comandos normativos dos artigos 560 e 561 do
Código de Processo Civil, e artigo 1.196 do Código Civil brasileiro, que foram
manifestamente violados.

Outro reforço de peso que vem em favor da tese


dos Autores é a decisão monocrática proferida pelo ilustre e eminente Des. DIRCEU
DOS SANTOS que, em caso rigorosamente idêntico ao vertente, envolvendo a mesma
causa petendi, o mesmo pedido, os mesmos legitimados passivos – com a mudança
apenas da titularidade da ação – reconheceu a comprovação do requisito da
plausibilidade do bom direito (fumus boni juris) ao deferir pedido de medida liminar
na AÇÃO RESCISÓRIA nº 157206/2016, Comarca de Feliz Natal, cuja EMENTA vem
assim vazada:

“AÇÃO RESCISÓRIA – TUTELA DE URGÊNCIA – REINTEGRAÇÃO DE


POSSE – POSSE EXERCIDA HÁ MAIS DE SEIS ANOS – REQUISITOS DO
ARTIGO 300 DO CPC DEMONSTRADOS – PROBABILIDADE DO DIREITO
E O PERIGO DE DANO – POSSIBILIDADE DE REVERSIBILIDADE DA
MEDIDA – PRESTAÇÃO DE CAUÇÃO IDÔNEA – LIMINAR DEFERIDA.
Como disposto no artigo 969 do CPC, a propositura da ação rescisória não
impede o cumprimento da decisão rescindenda, ressalvada a concessão de
tutela provisória.
122

Presentes os requisitos do art. 300 do CPC, deve ser CONCEDIDA A


TUTELA DE URGÊNCIA pretendida pela parte autora mediante prévia e
idônea prestação de caução”.

E, do corpo dessa lapidar decisão unipessoal


proferida pelo eminente Des. DIRCEU DOS SANTOS, vale a pena destacar o seguinte
excerto, que cai como uma luva ao caso em testilha, verbis:

“[...]
No caso em apreço, numa cognição sumária inerente à espécie, constata-se
que a parte autora exerce a posse da área litigiosa desde 2009, e que, daí
em diante, realizou inúmeras benfeitorias, conforme fotografias de fls.
162/168, o que, a princípio, denota a presença dos requisitos legais para
concessão da tutela de urgência pretendida.

Não desconheço que a suspensão do cumprimento da decisão rescindenda é


excepcional, todavia, compete a parte autora da ação rescisória
comprovar os requisitos do artigo 300 do CPC, o que a toda evidência,
logrou êxito.

[...]
Assim, a luz do que preceitua o art. 300 do CPC, o grau de probabilidade será
apreciado pelo julgador, prudentemente e atento à gravidade da medida a
conceder. A exigência de perigo de dano significa que a mera aparência ou
expectativa não basta, devendo ser efetiva e contundente, o que, até o
momento, restou caracterizado.

Resumidamente, tem-se que o julgador deve estar convencido da


probabilidade – e não da certeza – do direito da parte cujos efeitos definitivos
pretende obter com a antecipação da tutela.

Por fim, ressalto que a medida satisfativa é plenamente reversível, inclusive,


no caso de ocorrência de dano ou prejuízo à parte contrária, será a autora
responsabilizada a ressarcir e indenizar eventuais perdas em sua totalidade.

Com essas considerações, nos termos do art. 300, §1º, do CPC, DEFIRO A
TUTELA DE URGÊNCIA VINDICADA, até ulterior decisão do órgão
Colegiado, a fim de determinar a reintegração da parte autora no imóvel rural,
Fazenda Rio Negro, na área de 6.632 hectares, condicionando, a prestação
de caução idônea, real ou fidejussória, a fim de ressarcir os danos que a parte
ré possa vir a sofrer, a ser prestada no prazo de 10 dias, sob pena de
revogação da liminar”.
123

Desembargador DIRCEU DOS SANTOS


Relator

No concernente ao requisito do periculum in mora,


ele é de uma evidência solar no caso sub judice: isso porque os Autores fizeram vultosos
investimentos nos imóveis rurais Fazendas Angelim, Tapajós, Alvorada, Vale Verde,
Leão Negro, Cambará, Bom Retiro e Nossa Senhora Aparecida, tais como: plantação de
lavoura de soja, de milho, cultivo de pastagens para assentamento de gado, benfeitorias,
casas, barracões, currais, tratores, colheitadeiras etc. e, em razão desses investimentos,
necessitam urgentemente retornar à porção de terras que ocupavam, que corresponde a
aproximadamente 16.530 has (dezesseis mil quinhentos e trinta hectares) de uma
área total de 39.000 has (trinta e nove mil hectares) alegada pelos Réus, assim
devidamente discriminada:

ROTSON ANDRÉ ORLANDI – 1.848,00 hectares;


LEOMAR TÁPPARO – 1.977,00 hectares;
JADER ROBERTO DA SILVA – 2.147,9983 hectares;
GILVANEI EDSON DE ALMEIDA – 2.151,9054 hectares;
JAIRO KRAUSE – 2.111.2450 hectares;
ROMULO AFONSO ROHDEN – 2.107,8821 hectares;
VILSON LUNKES – 2.451,1455 hectares; e
RAIMUNDO APARECIDO DE SOUZA – 1.736,2076 hectares.

Também comprova o requisito do periculum in mora


o ESTUDO DE SITUAÇÃO feito pela Polícia Militar no imóvel.

Com efeito, o ESTUDO DE SITUAÇÃO levado a


cabo pelo 3º Comando Regional da Polícia Militar sediado em Feliz Natal – MT, revelou,
dentre outros, os seguintes aspectos relevantes:
124

(i) – Todas as fazendas que fazem parte dessa possessória encontravam-se na posse
dos autores, sendo que a maioria esmagadora dos imóveis rurais possuem
trabalhadores braçais que labutavam nos imóveis. Assim, v.g., o ESTUDO DE
SITUAÇÃO registrou inúmeros trabalhadores braçais nos seguintes imóveis: a) Fazenda
Nossa Senhora Aparecida, de posse do co-Autor Raimundo Aparecido de Souza; b)
Fazenda Cambará, de posse do co-Autor Romulo Affonso Rohden.

(ii) – Em todos os imóveis rurais que estavam na posse dos Autores, haviam
benfeitorias e criações, a saber:

a) Fazenda Bom Retiro – Posseiro: VILSON LUNKE

- Benfeitorias – uma casa de madeira; um barracão de madeira; um curral; plantação de


pasto.

- Criações – 100 animais bovinos; 40 aves galináceas; 04 equinos. Plantação de


mandioca.

b) Fazenda Nossa Senhora Aparecida – Posseiro: RAIMUNDO APARECIDO DE


SOUZA

- Benfeitorias – uma casa de madeira; plantação de pasto.

- Criações – 68 animais bovinos.

c) Fazenda Cambará – Posseiro: ROMULO AFFONSO ROHDEN

- Benfeitorias – um barracão de madeira; um curral; plantação de pasto.

- Criações – 40 aves galináceas.


125

d) Fazenda Leão Negro – Posseiro: JAIRO KRAUSE

- Benfeitorias – uma casa de madeira; plantação de pasto.

- Criações – 50 animais bovinos.

e) Fazenda Vale Verde – Posseiro: GILVANEI EDSON DE ALMEIDA

- Benfeitorias – duas casas de madeira; plantações de mandiocas, batata doce,


verduras.

- Criações – 04 animais bovinos; 30 aves galináceas.

f) Fazenda Alvorada – Posseiro: JADER ROBERTO DA SILVA

- Benfeitorias – uma casa de madeira; plantação de mandioca.

g) Fazenda Tapajós – Posseiro: LEOMAR TAPPARO

- Benfeitorias – uma casa de madeira; 200 (duzentos) hectares de soja (arrendada aos
Srs. Paulo Justo e Paulo Justo Junior, de Sorriso/MT).

- Criações – 15 aves galináceas.

h) Fazenda Angelim – Posseiro: ROTSON ANDRÉ ORLANDI

- Benfeitorias – uma casa de madeira; 01 pista de pouso para aeronave; um curral;


400 (quatrocentos) hectares de soja (arrendada aos Srs. Paulo Justo e Paulo Justo
Junior, de Sorriso/MT).

- Criações – 10 aves galináceas.


126

Como se nota, o ESTUDO DE SITUAÇÃO levado a


efeito pelo 3º Comando Regional da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso – que vem
acompanhado de farta fotografias das benfeitorias e investimentos ultimados pelos
Autores – é um reconhecimento e uma prova cabal da posse incontroversa dos
Autores pelo período de 2003 a 2016, aspectos esses que reforçam o requisito do
periculum in mora.

Destarte, os dois requisitos necessários à


concessão da tutela provisória na ação rescisória – fumus boni juris e periculum in mora
– encontram-se presentes.

A propósito, a doutrina é assente no sentido de que


é perfeitamente possível a concessão de tutela antecipada em ação rescisória. Assim,
por todos, a lição de NELSON NERY JR. e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, verbis:

“2. Tutela provisória contra execução da decisão rescindenda. Em casos


excepcionais, admite-se o requerimento de concessão de tutela provisória
para suspensão da execução do julgado rescindendo, pois a presunção
decorrente da coisa julgada é relativa (juris tantum), até que seja ultrapassado
o prazo do CPC 975” (Comentários ao CPC – Novo CPC. São Paulo: RT,
2015, p. 1951).

Na mesma toada é o magistério de LUIZ


GUILHERME MARINONI, SÉRGIO CRUZ ARENHART e DANIEL MITIDIERO, que
vaticinam:

“2. Tutela cautelar ou tutela antecipada. O cumprimento da sentença ou


acórdão rescindendo só pode ser obstado se o demandante logra obter tutela
cautelar ou tutela antecipada nesse sentido. A concessão de tutela cautelar
ou tutela antecipada, conforme o caso, depende do preenchimento dos
pressupostos exigidos em lei para concessão da cada uma dessas medidas”
(Novo CPC comentado, 2ª ed. São Paulo: RT, 2016, p. 1.030).
127

De seu turno, o colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE


JUSTIÇA, na condição de guardião da legislação infraconstitucional, tem admitido a
concessão de tutela antecipada em ação rescisória, consoante se pode aquilatar dos
seguintes julgados:

“AÇÃO RESCISÓRIA – Art. 489 do CPC/1973 (art. 969 novo CPC) –


Suspensão da decisão rescindenda – Tutela antecipada –
Excepcionalidade – Pressupostos autorizadores – Art. 273 do CPC/1973
– Decisão deferitória – Verossimilhança da alegação – Existência –
Agravo desprovido.
I – Não obstante o disposto no art. 489 do Código de Processo Civil-1973 – “A
ação rescisória não suspende a execução da sentença rescindenda” - o
Superior Tribunal de Justiça tem entendido ser cabível a concessão da
antecipação dos efeitos da tutela em ação rescisória com o fito de suspender
a execução da decisão rescindenda, desde que presentes os requisitos do
artigo 273 do Código de Processo Civil de 1973.
II – Na hipótese dos autos resta configurada a existência de ocorrência de
fundado receio de dano de difícil reparação, bem como a existência de razões
suficientes, baseadas na prova inequívoca, capazes de convencer sobre a
existência da verossimilhança das alegações da autora” (AgRg na AR
2.995/RS, Terceira Seção do STJ, rel. Min. GILSON DIPP, DJ 19/04/2004).

Também a Primeira Seção do STJ, em julgado da


lavra do conceituado Min. LUIZ FUX – que hoje exorna com sua inteligência ímpar o
colendo STF – com apoio em diversos precedentes do STJ, e com votos favoráveis dos
Ministros João Otávio de Noronha, Teori Albino Zavascki, Castro Meira, Denise Arruda,
Francisco Peçanha Martins, José Delgado, Francisco Falcão e Franciulli Netto – admitiu
sem rebuços a concessão de tutela antecipada em ação rescisória, verbis:

“PROCESSUAL CIVIL – Ação rescisória – Tutela antecipada –


Excepcionalidade – Possibilidade – Artigos 273 e 489, do CPC/1973.
1. Revela-se cabível a antecipação dos efeitos da tutela em ação rescisória,
objetivando suspender a execução do acórdão rescindendo, desde que
presentes os requisitos do art. 273, do CPC-1973, mercê do disposto no art.
489, do mesmo diploma legal.
2. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça: AgRg na AR 2995/RS, rel.
Min. GILSON DIPP, Terceira Seção, DJ de 19.04.2004; AgRg na AR 1423/PE,
128

rel. Min. HAMILTON CARVALHIDO, Terceira Seção, DJ de 29.09.2003; AgRg


na AR 1664, rel. Min. JOSÉ DELGADO, Primeira Seção, DJ de 03.09.2001).
3. In casu, foi deferida, pela Primeira Turma em acórdão da relatoria do e.
Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, então relator da presente Ação Rescisória,
a realização de prova pericial destinada à demonstração de alegada falsidade
do laudo em que se baseou o acórdão rescindendo para a fixação da
indenização por desapropriação indireta, o que consubstancia o fumus boni
juris da antecipação dos efeitos da tutela. Por sua vez, o periculum in mora
evidencia-se no fato de que o Estado de São Paulo foi intimado em
27.04.2004 para se manifestar, no prazo de 5 (cinco) dias, quanto ao
levantamento da terceira parcela da quantia depositada em juízo dos valores
a que foi condenado a indenizar o expropriado.
4. Agravo regimental desprovido” (AgRg na AR 1.291/SP, Primeira Seção, rel.
Min. LUIZ FUX, DJ 27.09.2004).

In casu, tendo os Autores demonstrado, quantum


satis, os requisitos do fumus boni juris (plausibilidade do direito evidenciado nesta ação
rescisória), bem como o periculum in mora, já que os Autores foram privados da
utilização dos imóveis rurais depois de 13 anos de exercício ininterrupto de posse
mansa e pacífica, com cumprimento da função social da posse, é cediço que se
encontram presentes os pressupostos para o deferimento da tutela antecipada aqui
pleiteada.

Destarte, restando plena e sobejamente


demonstrados os requisitos para a concessão de tutela provisória em sede de ação
rescisória, de modo a preservar o resultado útil do processo, pugnam os Autores pela
concessão do provimento para o fito de sustar os efeitos do v. acórdão rescindendo,
até que ocorra o julgamento de mérito da rescisória, determinando-se a imediata
expedição de mandado de reintegração de posse em favor dos Autores Rotson André
Orlandi e Outros.

Afinal, entre tutelar os interesses de quem está no


desfrute do gozo e posse do bem há 13 (treze) anos e quem, durante todo esse tempo –
que são os Réus da ação rescisória – jamais pisaram o pé no imóvel rural, é cediço que,
129

salvo melhor e mais autorizado juízo, deve Vossa Excelência prestigiar a posse de quem
já estava assentado na posse do bem há quase um quartel de século, de modo a evitar
que se perpetre uma injustiça inominável contra os Autores da presente rescisória, que
investiu pesadamente no imóvel rural e atualmente se encontram fora dele.

V – OFERECIMENTO ESPONTÂNEO DE CAUÇÃO REAL


IDÔNEA

Nobre Desembargador Relator: visando assegurar


eventuais prejuízos que os Réus possam vir a sofrer, caso a rescisória seja julgada
improcedente – o que só se coloca por amor aos debates, mas sem qualquer adesão à
premissa – os Autores, espontaneamente, oferecem e ofertam em CAUÇÃO, uma
GARANTIA REAL, aqui prestada por TERCEIRO INTERESSADO, qual seja, a empresa
TIGRE INVESTIMENTOS S.A. – que também promove uma Ação Rescisória em face
dos Réus (AR nº 157206/2016), consistente numa área de terras devidamente registrada
em nome da TIGRE INVESTIMENTOS S.A., junto ao Cartório de Registro de Imóveis da
Comarca de Cláudia, Estado de Mato Grosso, objeto da Matrícula 707, Ficha n. 01, Livro
2, Registro Geral, a seguir descrita de forma abreviada, já que a descrição integral do
bem se encontra na própria matrícula colacionada em anexo, a saber:

“IMÓVEL: Uma área de terras com 2.669,1088 ha (dois mil, seiscentos e


sessenta e nove hectares, dez ares e oitenta e oito centiares), denominada de
Fazenda Cascavel, situada no município de União do Sul, Estado de Mato
Grosso, dentro dos seguintes limites e confrontações: (...) - vide Matrícula em
anexo.

Código do imóvel no INCRA: 901.164.182.532-2; CCIR nº 06029959054,


expedido em 03/04/2006 – Área total: 2.669,1000 hectares.

PROPRIETÁRIO: MADEIREIRA TIGRE LTDA., pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ sob o n. 83.231.555/0001-71, situada no município
de União do Sul/MT” (cf. Matrícula n. 707 em anexo).
130

É preciso aqui abrir um parênteses acerca da titularidade


de domínio da TIGRE INVESTIMENTOS S.A., que é a Autora da Ação Rescisória Nº
157206/2016, para evitar qualquer discussão em torno do assunto, principalmente pela
parte contrária.

Com efeito, conforme expressamente consta do R-2/707,


na data de 17 de março de 2009 foi efetuado o Protocolo n. 4.237, com os seguintes
dizeres:

“CISÃO: através do protocolo de cisão de 31 de agosto de 2004, e por


deliberação da 14ª alteração e consolidação de contrato social da empresa
Madeireira Tigre Ltda., de 06/09/2004, registrados na Junta Comercial do
Estado de Mato Grosso sob nº 20040584283, em 03/11/2004, a empresa
proprietária objeto de cisão parcial, com a versão do imóvel objeto desta
matrícula, dentre outros, à empresa TIGRE INVESTIMENTOS S.A., inscrita
no CNPJ/MF sob o n. 06.107.371/0001-53, com seu ato constitutivo registrado
na JUCEMAT sob nº 51300007801 em 21/01/2004, com sede na Estrada
Gladys, Município de Cláudia, Estado de Mato Grosso”.

Como se nota, por força da cisão que se operou, a


propriedade do imóvel rural dado em garantia real migrou a sua titularidade da empresa
MADEIREIRA TIGRE LTDA. para a empresa denominada TIGRE INVESTIMENTOS
S.A.. Já não bastasse isso, é de se ressaltar que os sócios proprietários da empresa
Tigre Investimentos S.A. são os mesmos da Madeireira Tigre Ltda., aspecto esse que
não deixa nenhuma dúvida quanto à garantia ofertada, aqui prestada por TERCEIRO
INTERESSADO, já que a Tigre tem interesse direto na vitória dos Autores.

De outra banda, para que não haja nenhuma dúvida e


muito menos se suscite qualquer discussão em torno da idoneidade da caução real
ofertada, no que diz respeito ao seu aspecto econômico e financeiro, foi elaborado um
131

LAUDO DE AVALIAÇÃO DE USO RESTRITO pelo conceituado Engenheiro Florestal


Ricardo Yotzchetz Junior, CREA n. 020610, que após profundo e meticuloso estudo,
chegou à seguinte conclusão acerca do imóvel que foi aqui ofertado em caução:

“7 – CONCLUSÃO

Admitindo a média dos dados homogeneizados como o valor que melhor


corresponde ao imóvel avaliado para o momento pode-se concluir que o valor
que melhor expressa é a quantia de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) por
hectare, o que totaliza R$ 40.648.800,00 (quarenta milhões, seiscentos e
quarenta e oito mil e oitocentos reais), valor esse que corresponde ao
preço de mercado do imóvel avaliado.

Entenda-se por valor de mercado a sua expressão monetária e teórica mais


provável a data de referência. Essa expressão corresponde teoricamente em
condições rotineiras e normais de mercado ao preço médio que será obtido
em negociações que atendam a lei de oferta e procura” (vide documento em
anexo).

Ora, o valor da caução real, que importa no montante de


R$ 40.648.800,00 (quarenta milhões, seiscentos e quarenta e oito mil, oitocentos
reais) dá para cobrir com folga as duas Ações Rescisórias, motivo pelo qual é prestada a
mesma garantia.

VI – DOS PEDIDOS

Em harmonia com o exposto, requer a autora se digne


Vossa Excelência de:

g) Admitir, conhecer e determinar o regular processamento da


vertente ação rescisória, que encontra fundamento expresso
no inciso V do art. 966 do novo Código de Processo Civil,
132

consoante o qual “A decisão de mérito transitada em julgado,


pode ser rescindida quando: violar manifestamente norma
jurídica”; in casu, restou plenamente demonstrado que foram
violadas de forma ostensiva os artigos 560 e 561 do Código de
Processo Civil, e artigo 1.196 do Código Civil, de modo que a
rescisória é plenamente cabível.

h) Uma vez admitida a actio, seja imediatamente CONCEDIDA


TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA para o fim de sustar
os efeitos do v. acórdão rescindendo, de modo a reintegrar os
Autores na posse dos imóveis rurais Fazendas Angelim,
Tapajós, Alvorada, Vale Verde, Leão Negro, Cambará, Bom
Retiro e Nossa Senhora Aparecida, cujas áreas perfazem o
montante de 16.530 has (dezesseis mil, quinhentos e trinta
hectares), de uma área maior de 39.000 has, estando os
imóveis dos Autores assim discriminados:
ROTSON ANDRÉ ORLANDI – 1.848,00 hectares – Faz. Angelim;

LEOMAR TÁPPARO – 1.977,00 hectares – Faz. Tapajós;

JADER ROBERTO DA SILVA – 2.147,9983 hectares – Faz. Alvorada;

GILVANEI E. DE ALMEIDA – 2.151,9054 hectares – Faz. Vale Verde;

JAIRO KRAUSE – 2.111.2450 hectares – Faz. Leão Negro

ROMULO AFONSO ROHDEN – 2.107,8821 hectares – Faz. Cambará;

VILSON LUNKES – 2.451,1455 hectares – Faz. Bom Retiro

RAIMUNDO A. DE SOUZA – 1.736,2076 hectares – Faz. Nossa Senhora Aparecida...

cujas delimitações e individuações encontram-se descritas nos


Memoriais Descritivos elaborados por profissional competente,
sendo certo que a posse remonta aos idos de 2003 e, estando
os Autores no imóvel há mais de 13 (treze) anos, não há
133

nenhum risco de que a medida seja irreversível para a parte


contrária, sendo certo, outrossim, que a não concessão do
provimento liminar causará danos irreparáveis para os
Autores, que não podem ser atingidos pelo cumprimento de
sentença de uma demanda possessória na qual jamais
figuraram como partes e/ou sucessores, uma vez que as áreas
rurais acima discriminadas foram ocupadas para fins de
regularização fundiária, aspecto esse, inclusive, que foi
reconhecido por inúmeras Resoluções editadas pela
Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso e
publicadas no Diário Oficial, como já demonstrado, de modo
que, se a posse dos Autores é originária, pois não decorre de
nenhum negócio jurídico, eles somente poderiam ser atingidos
pela decisão se fizessem parte do processo possessório, o que
nunca ocorreu;

i) Requer, outrossim, após a concessão da tutela provisória de


urgência satisfativa dos efeitos da decisão final, seja ordenada
a citação dos Réus, “designando prazo nunca inferior a 15
(quinze) dias nem superior a 30 (trinta) dias para, querendo,
apresentar resposta, ao fim do qual, com ou sem contestação,
observar-se-á, no que couber, o procedimento comum”
(redação do art. 970 do CPC-2015).

j) NO MÉRITO, requer seja concedida a rescisória para os


seguintes escopos: (i) no âmbito do juízo rescisório, seja
decretada a rescisão do v. acórdão proferido nos autos da
Apelação 72759/2013, da egrégia Sexta Câmara Cível desse
Sodalício, uma vez que o v. acórdão rescindendo violou de
forma manifesta e literal os artigos 560 e 561 do novo Código
de Processo e artigo 1.196 do Código Civil; (ii) uma vez
134

decretada a rescisão do v. acórdão, seja proferido novo


julgamento (dicção do inc. I do art. 968 do novo CPC), para o
fim de reconhecer a condição de possuidores originários dos
Autores, de forma a julgar procedente a pretensão de direito
material que foi veiculada na Ação de Embargos de Terceiro
objeto do Processo nº 0000597-46.2006.8.11.0093, que tinha a
numeração 143/2006, e objeto do Código 45237, para
assegurar, em definitivo, a posse dos imóveis rurais acima
individuados (v. item “b” supra), conforme as descrições
pormenorizadas constantes do Memorial Descritivo, imóveis
rurais esses situados no município e comarca de Feliz Natal,
Estado de Mato Grosso, pois só assim é que estará Vossa
Excelência praticando ato da mais lídima e sempre soberana
J U S T I Ç A!!!

k) Os Autores requerem provar o alegado por todos os meios de


prova em direito admitidos, especialmente juntada de novos
documentos, se necessário.

l) A presente ação rescisória vem acompanhada do depósito de


5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, cumprindo,
assim, a exigência imposta pelo inc. II do art. 968 do novel
Diploma Processual.
Dá-se à presente ação o valor de R$ 184.094,94 (cento e
oitenta e quatro mil, noventa e quatro reais e noventa e quatro
centavos), que corresponde ao valor atualizado atribuído à
ação principal (Embargos de Terceiro) cuja rescisão se pleiteia,
que, em 13/04/2006, correspondeu a R$ 100.000,00 (cem mil
reais), cuja planilha de cálculo atualizada acompanha a
documentação da presente actio.
135

Assim, acerca do valor da causa na ação rescisória, por


todos, julgado do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, que reflete o entendimento unânime da jurisprudência:
“Não há dúvida de que o valor a ser considerado na ação
rescisória é aquele atribuído à ação cujo acórdão ou sentença
se procura rescindir. Assim, deve-se aplicar a correção
monetária ao respectivo valor, recuperando-lhe o mesmo poder
primitivo que a inflação corroeu” (RT 653/145).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Cuiabá – MT, 08 de dezembro de 2016.

pp. João Augusto Capeletti

Advogado
136

PEÇAS:

2. AÇÃO RESCISÓRIA proposta pelos Autores ROTSON ANDRÉ


ORLANDI E OUTROS no caso de Feliz Natal (p. 2 a 62)

2. AÇÃO RESCISÓRIA proposta pela TIGRE INVESTIMENTOS S.A. no


caso de Feliz Natal (p. 60 e ss.)
137

3. AÇÃO RESCISÓRIA do caso do policial Fabrício, em parceria com o


advogado Dr. Valdriangelo Fonseca

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE


DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO.

URGENTE
138

Ação rescisória com pedido de medida liminar para sustar o


cumprimento do v. acórdão rescindendo.

Distribuição por dependência à AÇÃO RESCISÓRIA nº


157206/2016 – Comarca de Feliz Natal, em razão da identidade de
causa petendi e de pedido.

Fundamentos legais da distribuição por dependência: artigos 55 e 286,


ambos do novo Código de Processo Civil.

Relator prevento: Exmo. Sr. Des. DIRCEU DOS SANTOS

Ação rescisória visando a rescisão de v. acórdão da 6ª Câmara Cível deste


egrégio Tribunal, de competência da Segunda Turma de Câmaras Cíveis
Reunidas de Direito Privado.

ROTSON ANDRÉ ORLANDI, brasileiro,


solteiro, produtor rural, portador da cédula de identidade RG n. 49.677.693-
SSP/PR, inscrito no CPF/MF sob o n. 726.745.809-25, domiciliado na cidade
de União do Sul/MT, onde reside na Rua Xanxere, s/n, CEP 78.543-000;
LEOMAR TÁPPARO, brasileiro, produtor rural, solteiro, portador da CI/RG
12R 3.122.981-SSP/SC, inscrito no CPF sob o n. 816.984.709-59,
domiciliado na cidade de Cláudia/MT, onde reside na Rua Generoso Paes
Lemes, 506, CEP 78.540-000; JADER ROBERTO DA SILVA, brasileiro,
solteiro, produtor rural, portador da cédula de identidade RG n. 5.201.992-
3-SSP/PR, inscrito no CPF sob o n. 810.679.179-34, domiciliado na cidade
de União do Sul/MT, onde reside na Rua Xanxere, s/nº, CEP 78.540-000;
GILVANEI EDSON DE ALMEIDA, brasileiro, solteiro, produtor rural,
portador da cédula de identidade RG n. 65.155.419-SSP/PR, inscrito no CPF
sob o n. 789.312.901-87, domiciliado na cidade de Cláudia/MT, onde reside
na Rua Mario Correia da Costa, nº 371, CEP 78.540-000; JAIRO KRAUSE e
sua mulher MARIA VENZO KRAUSE, brasileiros, casados, ele produtor
rural, portador da cédula de identidade RG n. 1.897.544-SSP/PR, inscrito no
139

CPF sob o n. 409.288.459-15, ela do lar, portadora da cédula de identidade


RG n. 1087084-9-SSP/MT, inscrito no CPF sob o n. 594.420.851-15,
domiciliados na cidade de Cláudia/MT, onde residem na Rua Mario Correia
da Costa, nº 664, CEP 78.540-000; RÔMULO AFFONSO ROHDEN e sua
mulher JOSEANE BROLO, brasileiros, ele produtor rural, portador da
cédula de identidade RG n. 7/R-1.896.288-SSP/MT, inscrito no CPF sob o n.
594.495.609-78, ela do lar, portador da cédula de identidade nº 1147121-
2-SSP/MT, inscrito no CPF sob o n. 698.365.741-15, domiciliados na cidade
de Cláudia/MT, onde residem na Rua Costa e Silva, s/nº, CEP 78.540-000;
VILSON LUNKES, brasileiro, divorciado, produtor rural, portador da cédula
de identidade RG n. 3.953.731-1-SSP/PR, inscrito no CPF sob o n.
555.415.009-82, domiciliado na cidade de União do Sul/MT, onde reside na
estrada Rio Ouro, km 30, s/nº; RAIMUNDO APARECIDO DE SOUZA,
brasileiro, produtor rural, portador da cédula de identidade RG n. 750.649-
SSP/MT, inscrito no CPF sob o n. 452.045.431-04, domiciliado e residente
na Fazenda Nossa Senhora Aparecida, sito no município de Feliz Natal, por
seu advogado in fine assinado, ut instrumento de mandato colacionado em
anexo (docs. inclusos), vêm, com o devido acato a Vossa Excelência, com
fundamento nos artigos 966, V, 967, I, 968, I e II, 969, 974, caput, e 975,
todos do novo Código de Processo Civil, promover a vertente

AÇÃO RESCISÓRIA com pedido de medida


liminar para sustar os efeitos do v.
acórdão rescindendo
em desfavor de ESPÓLIO DE EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA
BONINI, na pessoa de sua inventariante VANESSA FRANÇA BONINI
PANICO, brasileira, casada, administradora de empresa, portadora do CPF
nº 062.635.828-04. residente e domiciliada na Rodovia São Paulo, 328, no
Km 310, Condomínio Veneza, casa 16, no município de Ribeirão Preto,
Estado de São Paulo; podendo, outrossim, ser encontrada no seguinte
endereço: Av. Costábile Romano, 2201, Ribeirância, na cidade de Ribeirão
Preto, Estado de São Paulo; e FUNDAÇÃO FERNANDO EDUARDO LEE,
pessoa jurídica inscrita no CNPJ sob o n. 52.039.435/0001-43, com sede na
Avenida Atlântica, 900, bairro Enseada, em Guarujá, Estado de São Paulo,
CEP 11442-070, na pessoa de seu representante legal, haja vista os
relevantes motivos fáticos e fundamentos jurídicos que, de ora avante,
passa articuladamente a alinhar:

I – DO PEDIDO DE DISTRIBUIÇÃO POR


DEPENDÊNCIA
140

Em novembro do corrente ano foi distribuída


a AÇÃO RESCISÓRIA nº 157206/2016, em que figura como Requerente
TIGRE INVESTIMENTOS S.A. e como Réu ESPÓLIO DE EVANDRO
ALBERTO DE OLIVEIRA BONINI, representado por sua inventariante
VANESSA FRANÇA BONINI PANICO, cuja causa petendi e pedido são
rigorosamente idênticos aos veiculados no vertente caso, o qual, em relação
ao anterior, só muda os legitimados ativos, pois até os Réus são os
mesmos.

Ambas as ações rescisórias discutem posse


envolvendo uma mesma área, situada numa mesma região (comarca de
Feliz Natal), cujo pedido são os mesmos: reintegrar os Autores no imóvel
rural do qual foram indevidamente desalojados.

Por essa razão, salta aos olhos que o


vertente pedido de distribuição por dependência possui expresso
amparo legal, sob pena de violação ao princípio do juiz natural. Com efeito,
o novel Diploma Processual, ao cuidar da distribuição por dependência,
dispõe, em seus artigos 55, 55, §3º, e 286, incisos I e III, in verbis:

“Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o
pedido ou a causa de pedir.
§3º. Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar
risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos
separadamente, mesmo sem conexão entre eles.

Art. 286. Serão distribuídos por dependência as causas de qualquer natureza:


I – quando se relacionarem, por conexão ou continência, com outra já ajuizada;
(,,,)
III – quando houver ajuizamento de ações nos termos do art. 55, §3º, ao juízo
prevento”.

No caso em testilha, além de haver


identidade de causa de pedir e pedido entre as rescisórias, como destacado
acima, é certo que ambas as rescisórias atacam acórdão de uma mesma
Câmara (6ª), sob a relatoria de uma mesma Desembargadora: Serly
Marcondes Alves.

A identidade de Câmara Cível e de


Relator se deve ao fato de que, se os processos tivessem sido distribuídos
para Relatores diversos, de Câmaras Cíveis isoladas diversas, poderia haver
risco de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos
separadamente. Foi por essa razão que ambas as ações de Embargos de
Terceiro foram distribuídas para uma mesma Câmara, e uma mesma
Relatoria.

Destarte, ainda que não houvesse conexão


entre as ações rescisórias, caberia o pedido de distribuição por
141

dependência, face ao texto expresso do §3º do art. 55 do novel Estatuto


Processual, que diz que “Serão reunidos para julgamento conjunto os
processos que possam gerar risco de decisões conflitantes ou
contraditórias caso DECIDIDOS SEPARADAMENTE, MESMO SEM
CONEXÃO ENTRE ELES”.

Vale dizer: ainda que não existisse conexão,


o pedido de distribuição se justificaria. A fortiori, isto é, com maior dose de
razão, se existe conexão, em razão da identidade de causa petendi e de
pedido, sendo certo que o objeto das ações rescisórias envolve a mesma
área, as ações provêm de uma mesma Comarca: Feliz Natal, além dos Réus
de ambas as rescisórias serem os mesmos.

À VISTA DO EXPOSTO, com espeque na


redação dos artigos 55, caput, e seu §3º, c/c 286, incisos I e III, do Código
de Processo Civil, requer seja distribuída por dependência a vertente ação
rescisória à AÇÃO RESCISÓRIA Nº 157206/2016, Comarca de Feliz Natal,
de competência da Segunda Turma de Câmaras Cíveis Reunidas de Direito
Privado, sob a relatoria do Exmo. Sr. Dr. Des. DIRCEU DOS SANTOS.

II – DO CABIMENTO DA RESCISÓRIA
Antes de adentrarmos no meritum causae
da presente demanda rescisória, que visa a rescisão de v. acórdão
transitado em julgado da Sexta Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça
do Estado de Mato Grosso (fls. 1.438 e ss. – vol. VII), é indispensável
demonstrar o cabimento da presente ação rescisória.

Prima facie, cabe aos Autores demonstrar o


preenchimento do disposto no art. 966, inciso V, do novo Código de
Processo Civil, consoante o qual: “A decisão de mérito, transitada em
julgado, pode ser rescindida quando: (...) V – violar manifestamente
norma jurídica”.

Pois bem. A decisão de mérito que se


pretende rescindir é o v. acórdão proferido pela colenda Sexta Câmara Cível
desta Corte, nos autos da Apelação nº 72759/2013, Comarca de Feliz
Natal-MT, de relatoria da Exma. Sra. Desa. Serly Marcondes Alves, cuja
fundamentação pedimos vênia para transcrever, com destaque para as fls.
6-7 de 12; 10 de 12; e 11 de 12 do v. acórdão rescindendo, verbis:

“O cerne da questão reside em saber se os apelantes possuem as


posses legítimas da área em questão.
142

Nos termos dos artigos 926 e 927 do Código de Processo Civil, o


possuidor tem o direito de ser mantido na posse em caso de
turbação, incumbindo-lhe provar a sua posse. Vejamos:

Art. 926. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de


turbação e reintegrado no de esbulho.

Art. 927. Incumbe ao autor provar:


I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de
manutenção; a perda da posse, na ação de reintegração.

Na hipótese, como acertadamente entendeu o Juízo singular, extrai-


se que os apelantes não lograram êxito para demonstrarem os
requisitos indispensáveis a comprovarem as suas posses, nos
termos do artigo 1.196 do Código Civil, in verbis:

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o


exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.

(...)

Ademais, como bem destacado pelo Juízo singular, outro fato que
não corrobora com as alegações dos apelantes, diz respeito aos
documentos carreados na exordial, sendo estes, somente
requerimentos administrativos para regularização de área junto ao
INTERMAT, todos datados do ano de 2005, ou seja, posteriores a
prolação da sentença nos autos principais.

(...)

Logo, em observância a regra sobre o ônus da prova, competiam aos


embargantes/apelantes (aqui Autores da demanda rescisória)
fazerem prova de que eram possuidores das áreas em questão, nos
termos do artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil de 1973,
ônus que não se desincumbiram, assim, perfeita a sentença do Juízo
singular ao julgar pela improcedência dos presentes embargos de
terceiro (cf. fls. 6-7 de 12; 10 de 12; e 11 de 12 do v. acórdão
rescindendo, respectivamente – vol. VII dos autos).

É supinamente relevante destacar que a


competência para apreciar e julgar a presente rescisória é do egrégio
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO. Isso porque,
malgrado tenha ocorrido a interposição do Recurso Especial nº
143

33.040/2015/MT, é certo que a esse apelo nobre foi NEGADO


SEGUIMENTO, conforme se extrai da conclusão proferida pela Exma. Sra.
Dra. Desembargadora Vice-Presidente CLARICE CLAUDINO DA SILVA, in
verbis:

“Desse modo, NEGO SEGUIMENTO AO RECURSO ESPECIAL” (vide


julgado em anexo – fl. 1.536 – VIII vol).

Ora, o uso da locução “nego seguimento


ao Recurso Especial” não deixa margens a dúvidas no sentido de que o
egrégio STJ não examinou o mérito da pretensão recursal excepcional,
mesmo porque não houve a interposição de RECURSO DE AGRAVO NOS
PRÓPRIOS AUTOS em face da decisão proferida pela Vice-Presidência
desta Corte.

Prova disso é que a decisão da Vice-


Presidência que negou seguimento ao Recurso Especial foi publicada no
DJe nº 9623/2015, na data de 23/09/2015 e, já no dia 05 de outubro de
2015, a Secretaria Auxiliar da Vice-Presidência certificou o trânsito em
julgado do v. acórdão rescindendo da Sexta Câmara Cível, conforme faz
prova a Certidão vazada nestes termos:

“CERTIDÃO TRÂNSITO EM JULGADO

CERTIFICO que a r. decisão transitou em julgado em 05/10/2015. Eu,


___________, digitei a presente, aos 27 dias do mês de novembro de 2015.
Eu, Paula Fernanda da Silva Xavier Paranaguá – Diretora do Departamento
da Secretaria da Vice-Presidência a conferi” (vide fls. 1.538 – VIII vol.).

Nesse contexto, salta aos olhos que a


última decisão de mérito foi proferida pela Sexta Câmara Cível deste
egrégio Sodalício, motivo pelo qual é competente esta Corte para apreciar a
vertente rescisória.

De outra banda, como a rescisória deve ser


veiculada no prazo decadencial de 2 (dois) anos, ex vi do disposto no art.
975 do novel Diploma Processual, temos que a demanda ora aforada está
dentro do prazo, pois, conforme CERTIDÃO DE TRÂNSITO EM JULGADO
E TERMO DE BAIXA subscrito pela Diretora do Departamento da
Secretaria da Vice-Presidência, o v. acórdão rescindendo transitou em
julgado na data de 5 de outubro de 2015. Portanto, o prazo escoa
somente em 5 de outubro de 2017.

De outro giro, no concernente à legitimidade


dos Autores ela é incontroversa, na medida em que os mesmos fazem parte
da relação jurídica processual desde o nascedouro do processo.
144

Destarte, tendo sido demonstrados os


requisitos de admissibilidade da presente ação rescisória, a saber:

(i) que a decisão de mérito transitou em julgado, e


corresponde ao v. acórdão rescindendo da Sexta Câmara Cível do TJMT
(art. 966, caput, e inc. V), sendo que o fundamento que autoriza a
rescisória é o inciso V do art. 966: “... violar manifestamente norma
jurídica”;

(ii) que ela está sendo aviada dentro do bienio


decadencial, em cumprimento ao art. 975 do CPC-2015;

(iii) que os autores tem legitimidade ad causam e


interesse processual no manejo da presente rescisória (art. 967, inc. I:
quem foi parte no processo), passa-se, doravante, ao exame do mérito da
presente actio, em que será demonstrada a violação ostensiva de normas
jurídicas do Código Civil e do Código de Processo Civil.

Em suma, por onde quer que se olhe, é


perfeitamente cabível a vertente ação rescisória, pois é patente que o v.
acórdão rescindendo fez tabula rasa de inúmeras normas jurídicas do
Código Civil.

III – DA VIOLAÇÃO MANIFESTA DE


NORMAS JURÍDICAS
O v. acórdão rescindendo proferido pela
Sexta Câmara Cível deste colendo Sodalício violou, de forma manifesta e
acintosa, as normas jurídicas de direito material que vêm expressas nos
artigos 926 e 927 do Código de Processo Civil-1973 (que
correspondem aos artigos 560 e 561 do novo CPC), e artigo 1.196, do
Código Civil, que possuem a seguinte redação:

“Art. 560 do novo CPC. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso
de turbação e reintegrado em caso de esbulho.

Art. 561. Incumbe ao autor provar:


I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a
perda da posse, na ação de reintegração.

Artigo 1.196 do Código Civil. Considera-se possuidor todo aquele que tem de
fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
145

A leitura do v. acórdão rescindendo na parte


em que julga o mérito da pretensão posta em juízo, deixa claro como a luz
do sol que essas normas jurídicas do Código de Processo Civil de 2015 e do
Código Civil foram manifestamente violadas, de modo que cabe a
rescisória com espeque na redação do inciso V do art. 966 do novo Diploma
Processual.

Prima facie, para que reste patente a


violação dessas normas jurídicas, é conditio sine qua non reproduzir os
fundamentos do v. acórdão rescindendo, para que fique claro que o julgado
cuja rescisão se pleiteia, afrontou as normas jurídicas dos artigos 926 e 927
do CPC-1973 (correspondente aos artigos 560 e 561 do novo CPC; e artigo
1.196 do Código Civil.

Diz o v. acórdão rescindendo, na parte que


interessa à presente actio:

“O cerne da questão reside em saber se os apelantes possuem as


posses legítimas da área em questão.

Nos termos dos artigos 926 e 927 do Código de Processo Civil-1973


(correspondente aos artigos 560 e 561, novo CPC), o possuidor tem o
direito de ser mantido na posse em caso de turbação, incumbindo-
lhe provar a sua posse. Vejamos:

Art. 926. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de


turbação e reintegrado no de esbulho (correspondente ao art. 560,
novo CPC).

Art. 927. Incumbe ao autor provar:


I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de
manutenção; a perda da posse, na ação de reintegração
(correspondente ao art. 561, novo CPC).

Na hipótese, como acertadamente entendeu o Juízo singular, extrai-


se que os apelantes não lograram êxito para demonstrarem os
requisitos indispensáveis a comprovarem as suas posses, nos
termos do artigo 1.196 do Código Civil, in verbis:

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o


exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.
146

(...)

Ademais, como bem destacado pelo Juízo singular, outro fato que
não corrobora com as alegações dos apelantes, diz respeito aos
documentos carreados na exordial, sendo estes, somente
requerimentos administrativos para regularização de área junto ao
INTERMAT, todos datados do ano de 2005, ou seja, posteriores a
prolação da sentença nos autos principais.

(...)

Logo, em observância a regra sobre o ônus da prova, competiam aos


embargantes/apelantes (aqui Autores da demanda rescisória)
fazerem prova de que eram possuidores das áreas em questão, nos
termos do artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil de 1973,
ônus que não se desincumbiram, assim, perfeita a sentença do Juízo
singular ao julgar pela improcedência dos presentes embargos de
terceiro (cf. fls. 6-7 de 12; 10 de 12; e 11 de 12 do v. acórdão
rescindendo, respectivamente – vol. VII dos autos).

Por outro lado, como bem salientado pelo Juízo singular, ficou demonstrado,
através dos depoimentos das testemunhas arroladas pelo apelado, que os
apelantes não eram possuidores da propriedade em questão.

Vejamos:

“(...) 3. Em 1987, o Embargante já era responsável pela área, cuidava para a


família Bonini. 4. Quando foi contratado pelo Sr. Evandro, foi impedido de
entrar na área, no final de 2005. 5. Sabe que foi feito vendas de lotes da área,
pelo Embargante Geraldo Alberto Borges de Oliveira Junior. 6. Seu Antonio
gerenciou por uns três meses a área e também foi proibido de entrar na área.
(...) 10. O Evandro passou uma procuração para o Geraldo, porque não tinha
muito tempo disponível, para que ele cuidasse da área, com relação aos
projetos do IBAMA e da SEMA. 11. O responsável pela fazenda era o Geraldo,
mas o dono da posse era o Evandro. 12. O Evandro passou uma procuração e
uma escritura para que o Embargante fizesse projeto, mas nunca vendeu
nenhuma parte da área. 14. O Embargante nunca teve a posse da área, quem
detinha a posse era o Evandro Bonini. 15. Após a saída de Geraldo da
administração da fazenda ficou o Antônio por um curto período, de três a
quatro meses. 17. O Sr. Evandro nunca abandonou a área. 19. O Sr. Geraldo não
fez nenhuma benfeitoria na área” (depoimento prestado pela testemunha
Avenir Fernando Marques de Araújo à fl. 1160 – vide também fl. 8-9 de 12 do v.
acórdão rescindendo).

“(...) 2. A área de 39 mil hectares foi adquirida por Evandro em 1973, tendo
como divisas o Rio Arraias e o Paralelo 54. 3. Em 1974 foi aberta uma pista de
pouso, em seguida o exército acertou a divisa dos índios, ampliou a pista, após
147

isto em posse pacífica até 1993, em que houve uma invasão por outras pessoas,
e veio pacífica até 2005. (...) 5. Inicialmente quem cuidava da área era Orestes,
em seguida Geraldo, que era procurador e administrador do Evandro, até
meados de 2005, depois o Antônio, o Avelino, final de 2005 veio o Fernando e
está até hoje na área. (...) 17. O Geraldo é primo do Evandro. 18. O Evandro
colocou em nome do Geraldo um título, somente para que fosse realizado um
projeto de manejo; é uma área de 7.040 hectares e foi feito em nome do
Geraldo por conta das penhoras existentes na área. 21. De 1993 para cá era o
Geraldo quem contratava empregados para a Fazenda, já que era procurador.
22. Geraldo nunca teve a posse da fazenda, ele era tido como funcionário ou
procurador” (depoimento prestado pela testemunha João Batista de Camargo
às fls. 1161 – vide fls. 9-10 de 12 do v. acórdão rescindendo).

“1. Trabalhou na área em 2005, para o Antonio Laurentino, tirando madeira,


lascas da Fazenda. 2. Sabe que “toda vida” a fazenda era do Evandro, e o
Geraldo era o gerente. Esse pessoal que comprou está na área, eles dizem que
foi o Geraldo que vendeu para eles em 2005; mas o Geraldo não era dono, era
Gerente, era a pessoa de confiança, não comprovou a venda. (...) 8. O Evandro
queria preservar a área, para não tirar madeira; os empregados dele eram o
Geraldo e o Antonio, eles cuidavam, tiravam lascas, tinham umas casas lá. (...)
14. Nunca ouviu que Geraldo tinha a posse da fazenda, sabia que ele era
empregado” (depoimento prestado pela testemunha Nerio Ribeiro às fls. 1159
– vide fls. 7-8 de 12 do v. acórdão rescindendo).

Ainda, como se vê destes depoimentos, constata-se que o apelante Geraldo


Alberto Borges de Oliveira Junior (que fazia parte da relação jurídica no
começo da lide de Embargos de Terceiro) era mero detentor da propriedade
em questão, consoante dispõe o artigo 1.198 do Código Civil, in verbis:
“Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para
com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou
instruções suas”,

Assim, demonstrado que o apelante não era possuidor, mas mero detentor da
propriedade em questão, subordinado as ordens de outras pessoas, não pode
alegar posse e consequentemente ter a sua disposição proteção possessória.

(...)

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao apelo” (transcrição dos fundamentos e


parte dispositiva do v. acórdão rescindendo).

Para que fique bem claro que o v. acórdão


rescindendo fez tabula rasa dos artigos 926 e 927 do Código de Processo
Civil-1973 (correspondente aos artigos 560 e 561, novo CPC); e artigo
1.196 do Código Civil, é fundamental levar em consideração dois aspectos
fundamentais que o v. acórdão rescindendo não se apercebeu: 1º-) que os
Autores da presente rescisória são terceiros que jamais fizeram parte da
148

Ação Possessória movida pelos réus Evandro Alberto de Oliveira Bonini e


Fundação Fernando Eduardo Lee (objeto do Processo nº 266/97); 2º-) em
decorrência dessa condição de terceiros, a posse dos Autores não decorreu
de negócio jurídico entabulado entre eles e os Réus da demanda
possessória Plácido Brolim, Sebastião de Matos e Jacy Ferminiano da
Silveira, de modo que jamais poderia ser autorizado o CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA em face dos Autores da presente rescisória, sendo certo, nesse
particular, como será demonstrado, que o v. acórdão rescindendo violou
manifestamente a norma jurídica do art. 506 do novo CPC.

Dada a relevância desses dois aspectos, eles


serão analisados detidamente a seguir.

IV – DA FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE


EXERCIDA PELOS AUTORES
Ilustre Desembargador Relator: o v.
acórdão rescindendo não se deu conta de alguns aspectos cardeais e de
capital importância para o desfecho favorável da presente ação rescisória.

O primeiro aspecto fundamental é que os


Autores:

ROTSON ANDRÉ ORLANDI – 1.848,00 hectares;


LEOMAR TÁPPARO – 1.977,00 hectares;
JADER ROBERTO DA SILVA – 2.147,9983 hectares;
GILVANEI EDSON DE ALMEIDA – 2.151,9054 hectares;
JAIRO KRAUSE – 2.111.2450 hectares;
ROMULO AFONSO ROHDEN – 2.107,8821 hectares;
VILSON LUNKES – 2.451,1455 hectares; e
RAIMUNDO APARECIDO DE SOUZA – 1.736,2076

não adquiriram a posse dos imóveis rurais que perfazem aproximadamente


16.530 has (dezesseis mil quinhentos e trinta hectares) dos Réus da
Ação de Reintegração de Posse movida por Evandro Alberto de Oliveira
Bonini e Fundação Fernando Eduardo Lee.

Deveras, nesta demanda possessória


proposta em desfavor de PLÁCIDO BROLIM, SEBASTIÃO DE MATOS e
JACY FERMINIANO DA SILVEIRA, a disputa envolve uma área de 39.000
hectares, portanto, mais do que o dobro da área em disputa na presente
rescisória.

Mas o aspecto mais relevante é que a


aquisição da posse dos Autores da rescisória NÃO DERIVA, NÃO
149

DECORRE da posse dos senhores PLÁCIDO BROLIM, SEBASTIÃO DE


MATOS e JACY FERMINIANO DA SILVEIRA.

Com efeito, a posse dos Autores decorreu


de uma ocupação sem resistência, em que os Autores tomaram posse de
suas áreas na quantidade acima discriminada de forma mansa e pacífica, ou
seja, ocuparam a posse em decorrência de um fenômeno puramente
fático: a posse ius possessionis, isto é, a posse que decorre de um fato
oriundo de uma ocupação não resistida.

Bem percebeu esse fenômeno os ilustres


civilistas CRISTIANO CHAVES DE FARIAS e NELSON ROSENVALD, que
ressaltam que a posse puramente fática é aquela que cumpre, por
excelência, a FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE. Confira:

“Há ainda uma terceira esfera da posse, que se afasta das duas concepções
patrimoniais tradicionais acima descritas (posse decorrente do direito real de
propriedade; e, posse decorrente de um direito obrigacional – v.g., contrato de
locação, de comodato etc.).
Cuida-se de uma dimensão possessória que não se localiza no universo dos
negócios jurídicos que consubstanciam direitos subjetivos reais ou obrigacionais.
Trata-se de uma posse emanada exclusivamente de uma situação fática e
existencial, de apossamento e ocupação da coisa, cuja natureza autônoma
escapa do exame das teorias tradicionais. É aqui que reside a função social da
posse” (Curso de Direito Civil – Reais, 10ª ed. Salvador: Editora JusPodivm, vol. 5, p. 61).

Como se nota, a posse não se identifica


somente com o exercício do direito de propriedade. Ela é mais do que isto,
para EBERT CHAMOUN “simboliza o poder fático exercido por uma
pessoa sobre um bem, de maneira a dela extrair proveito
econômico. A posse se materializa na prática de qualquer ato por meio do
qual a propriedade se exterioriza, mas não se identifica com o exercício do
direito de propriedade” (Exposição de Motivos do Esboço do Anteprojeto do
Código Civil – Direito das Coisas, Revista Trimestral de Direito Civil, p. 28).

Ora, no caso em testilha, como a posse dos


Autores decorreu de um fenômeno puramente fático de ocupação dos
imóveis rurais na quantidade acima discriminada, os ocupantes são
terceiros em relação à demanda de Reintegração de Posse movida por
Evandro Alberto de Oliveira Bonini e Fundação Fernando Eduardo Lee (Réus
desta rescisória) em desfavor de PLÁCIDO BROLIM, SEBASTIÃO DE
MATOS e JACY FERMINIANO DA SILVEIRA.
150

Não há entre os Autores desta rescisória e


os senhores Plácido, Sebastião e Jacy nenhum típico de vínculo de natureza
jurídica: (i) nunca houve contrato de compra e venda de direitos
possessórios; (ii) nunca houve cessão de direito de posse; (iii) nunca houve
arrendamento ou locação entre eles e assim sucessivamente.

Não há nada, absolutamente nada, que


vincula o nome dos Autores desta rescisória com as pessoas que figuraram
como Réus na demanda possessória objeto do Processo nº 266/1997,
exatamente porque os Autores adquiriram a posse de forma autônoma.

E essa ocupação dos Autores que ocorreu


no ano de 2003 perdurou até o ano de 2016; portanto, perdurou pelo
longo lapso temporal de 13 ANOS, quando os Autores foram
injustamente desalojados dos imóveis rurais pelos Réus da rescisória que
jamais exerceram prática de atos possessórios sobre esses imóveis.

Ora, em situações desse jaez, a


jurisprudência pátria é absolutamente assente no sentido de que deve
prevalecer a posse dos Autores da rescisória, mormente porque eles jamais
foram citados e/ou convocados para fazer parte da Ação de Reintegração de
Posse proposta pelos Réus da presente rescisória, e muito menos podem
ser considerados sucessores de Plácido Brolim e Outros, já que nada liga
os Autores da rescisória a essas pessoas.

Assim, por todos, expressivo julgado do TRF


da 4ª Região, verbis:

“AÇÃO POSSESSÓRIA – Reintegração de posse – Ocupação por mais


de 15 anos de área de terras que é parte de um todo maior
desapropriado pelo INCRA para fins de reforma agrária – Cultivo para
a retirada dos meios de subsistência – Circunstâncias que tornam
legítima a posse dos colonos.
Ementa Oficial: A ocupação pelos réus há mais de 15 anos de área de
terras que é parte de um todo maior desapropriado pelo INCRA para fins de
reforma agrária, e o seu cultivo para a retirada dos meios de subsistência,
assim constatado pela própria autarquia, associada à descaracterização da
presunção de que a área seria imprópria ao cultivo, torna legítima a posse
dos colonos, contestada pelo autor” (Ap 98.04.02226-5/PR, 3ª Turma do TRF
da 4ª Região, rela. Juíza Federal Taís Schilling Ferraz, DJu 13.11.2002, RT
810/430).

Nessa mesma linha de entendimento,


expressivo aresto do eg. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO AMAPÁ, verbis:

“AÇÃO POSSESSÓRIA – Reintegração de posse – Admissibilidade –


Autor que comprova possuir de fato o exercício de um dos poderes
inerentes à propriedade – Deferimento da medida que se impõe.
151

1. A ação possessória tem por objetivo assegurar proteção interdital ao


possuidor destituído de sua posse por esbulho possessório, garantindo-lhe
sua recuperação do poder de quem injustamente a detinha em razão de ato
violento, clandestino ou precário.
2. Só é possuidor quem tenha, de fato, o exercício, pleno ou não, de algum
dos poderes inerentes à propriedade” (Ap 0038019-39.2008.8.03.0001, Câmara
Única do TJAP, rel. Juiz convocado Constantino Brahuna, DJe-AP 26.05.2011, RT
911/776).

Ora, a farta documentação acostada à


presente rescisória demonstra, com clareza solar, que os Autores estavam
na posse dos imóveis rurais há mais de 13 anos e, nessa condição, não
poderiam ser atingidos pelo cumprimento da sentença, mesmo porque
nunca fizeram parte da Ação de Reintegração de Posse movida pelos Réus
da presente demanda: EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA BONINI e
FUNDAÇÃO FERNANDO EDUARDO LEE.

Como o v. acórdão rescindendo negou a


condição de possuidores dos Autores desta rescisória, pedimos vênia para
discriminar a posse plena de cada um dos Autores, que tomou por base a
divisão da documentação em 8 (oito) anexos, pois é absolutamente fora de
propósito a conclusão a que chegou o v. acórdão rescindendo, de que os
Autores desta actio não se desincumbiram do ônus de provar sua posse.

b) Posse do autor ROTSON ANDRÉ


ORLANDI – Anexo I
Consoante comprova o ANEXO I –
referente ao possuidor ROTSON ANDRÉ ORLANDI – são inúmeros os atos
que comprovam a sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse


Anexo, temos uma Certidão Administrativa de nº 003/2005, expedida pelo
INTERMAT, onde está dito que o Sr. Rotson André Orlandi está na posse
mansa e pacífica de uma área de terras com 1.841,5239 has (hum mil,
oitocentos e quarenta e um hectares, cinquenta e dois ares e trinta
e nove centiares).

Em razão dessa ocupação, a ASSEMBLEIA


LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO editou a Resolução nº
146, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 4 do Anexo I), em que está dito
que:

“RESOLUÇÃO Nº 146, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


152

Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no


Município de Feliz Natal, a Rotson André Orlandi.
A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base no
que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 1.841,5239 ha,
denominada “Fazenda Angelim”, conforme projeto específico do INTERMAT,
sob o n. 87.17.50.7574/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a leste: com terras da fazenda Tigre;
– a oeste: com terras de Leomar Tápparo” (vide doc. 4 do Anexo I).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte


da Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia
Legislativa do Estado de que o co-autor ROTSON ANDRÉ ORLANDI ocupa
uma porção de terras de 1.841,5239 hectares é uma prova inequívoca da
sua condição de possuidor pleno e efetivo, pois o Parlamento Mato-
grossense jamais baixaria uma Resolução de regularização fundiária para
uma pessoa que não estivesse na posse do bem; mais precisamente:
cumprindo a função social da posse.

Além desse documento de capital


importância, existem outros que comprovam que o Sr. Rotson André
Orlandi exercia a posse plena da Fazenda “Angelim”, a saber:

(i) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro


Ambiental Rural (cf. doc. 5 do Anexo I).

(ii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que


o possuidor Rotson André Orlandi desmatou 569,00 ha
(quinhentos e sessenta e nove hectares), onde investiu na
produção de grãos de soja. A “dinâmica de desmate” vem
comprovada com documentos de imagem de satélite (vide doc. 6
com as fotos de satélite).

(iii) Documentos de Registros de Empregados, que mostra que


existiam pessoas que trabalhavam para o possuidor Rotson André
Orlandi (vide docs. 10, 11 e 12 do Anexo I).
153

(iv) Documentos comprobatórios de recolhimento de INSS – Guia


da Previdência Social, FGTS, Contribuição Sindical de Assalariado
Rural (docs. 13 usque 20 do Anexo I).

(v) Notas Fiscais referentes à aquisição dos mais diversos


produtos para investimento no imóvel rural Fazenda “Angelim’,
que vão desde a aquisição de parafusos, rolamentos, discos, até
aquisição de sementes para plantação de soja (docs. 22 a 29 do
Anexo I).

Ademais disso, as 6 (seis) fotos que seguem


abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitas na Fazenda
“Angelim” pelo possuidor Rotson A. Orlandi.

Confira:
154
155
156

b) Posse do autor LEOMAR TÁPPARO –


Anexo II
Consoante comprova o ANEXO II –
referente ao possuidor LEOMAR TÁPPARO – são inúmeros os atos que
comprovam a sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse


Anexo, temos uma Certidão Administrativa de nº 007/2005, expedida pelo
INTERMAT, onde está dito que o Sr. Leomar Tápparo está na posse
mansa e pacífica de uma área de terras com 1.993,7382 ha (hum mil,
novecentos e noventa e três hectares, setenta e três ares e oitenta e
dois centiares), já que o MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda “Tapajós”
revelou que a área possuída efetivamente corresponde a 1.993,7382 ha.,
conforme comprovam os docs. 2 e 3, sendo este referente ao Memorial.

Em razão dessa ocupação, a ASSEMBLEIA


LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO editou a Resolução nº
144, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 2 do Anexo II), em que está dito
que:

“RESOLUÇÃO Nº 144, DE 22 DE JUNHO DE 2006.


157

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Leomar Tápparo.

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base no


que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 1.993,7382 ha,
denominada “Fazenda Tapajós”, conforme projeto específico do INTERMAT,
sob o n. 87.17.50.7574/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a leste: com terras de Rotson André Orlandi;
– a oeste: com terras de Jáder Roberto da Silva” (vide doc. 2 do Anexo II).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte


da Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia
Legislativa do Estado de que o co-autor LEOMAR TÁPPARO ocupa uma
porção de terras de 1.993,7382 hectares é uma prova inequívoca da sua
condição de possuidor pleno e efetivo, pois o Parlamento Mato-grossense
jamais baixaria uma Resolução de regularização fundiária para uma pessoa
que não estivesse na posse do bem; mais precisamente: cumprindo a
função social da posse.

Além desse documento de capital


importância, existem outros que comprovam que o Sr. Leomar Tápparo
exercia a posse plena da Fazenda “Tapajós”, a saber:

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado


Fazenda “Tapajós”, contendo Memorial Descritivo, Plantas,
Comprovante de pagamento de taxas do CREA/MT, Declarações
de confinantes, relatórios etc. (cf. docs. 4 usque 12 do Anexo II).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro


Ambiental Rural (cf. doc. 13 do Anexo II).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que


o possuidor Leomar Tápparo desmatou e investiu em parte do
imóvel rural. A “dinâmica de desmate” vem comprovada com
documentos de imagem de satélite (vide doc. 14 com as fotos de
satélite).
158

(iv) Documentos de Registros de Empregados, que mostra que


existiam pessoas que trabalhavam para o possuidor Leomar
Tápparo (vide docs. 18 e 30 do Anexo II).

(v) Documentos comprobatórios de recolhimento de INSS – Guia


da Previdência Social, FGTS, Contribuição Sindical de Assalariado
Rural, Recibo de Pagamento de Salário (docs. 19 usque 27 do
Anexo II; idem docs. 31, 32 e 33).

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que


seguem abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitas na
Fazenda “Tapajós” pelo possuidor.

Confira as fotos que ilustram os


investimentos feitos pelo possuidor Leomar Tápparo no imóvel rural
denominado Fazenda “Tapajós”:
159
160

c) Posse do autor JADER ROBERTO DA


SILVA – Anexo III
Consoante comprova o ANEXO III –
referente ao possuidor JADER ROBERTO DA SILVA – são inúmeros os
atos que comprovam a sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o docs. 2 a 9 desse


Anexo, o Sr. Jader Roberto da Silva está na posse mansa e pacífica de
uma área de terras com 2.147,9983 ha (dois mil, cento e quarenta e
sete hectares, noventa e nove ares e oitenta e três centiares), já que
o MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda “Alvorada” revelou que a área
possuída efetivamente corresponde a 2.147,9983 ha., conforme comprova o
doc. 9 do Anexo III.

Em razão dessa ocupação, a ASSEMBLEIA


LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO editou a Resolução nº
142, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 1 do Anexo III), em que está dito
que:

“RESOLUÇÃO Nº 144, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


161

Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no


Município de Feliz Natal, a Jader Roberto da Silva.

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base no


que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 2.147,9983 ha,
denominada “Fazenda Alvorada”, conforme projeto específico do
INTERMAT, sob o n. 87.17.50.7563/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a leste: com terras de Leomar Tápparo;
– a oeste: com terras de Gilvanei Edson de Andrade” (vide doc. 1 do Anexo
III).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte


da Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia
Legislativa do Estado de que o co-autor JADER ROBERTO DA SILVA
ocupa uma porção de terras de 2.147,9983 ha é uma prova inequívoca da
sua condição de possuidor pleno e efetivo, pois o Parlamento Mato-
grossense jamais baixaria uma Resolução de regularização fundiária para
uma pessoa que não estivesse na posse do bem; mais precisamente:
cumprindo a função social da posse.

Além desse documento de capital


importância, existem outros que comprovam que o Sr. Jader Roberto da
Silva exercia a posse plena da Fazenda “Alvorada”, a saber:

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado


Fazenda “Alvorada”, situada no Município de Feliz Natal, Estado do
Mato Grosso, contendo Memorial Descritivo, Plantas, Comprovante
de pagamento de taxas do CREA/MT, Declarações de confinantes,
relatórios, pedido de certidão para fins tributários junto ao
Município onde se situa o imóvel etc. (cf. docs. 2 usque 9 do
Anexo III).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro


Ambiental Rural (cf. doc. 10 do Anexo III).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que


o possuidor Jader Roberto da Silva desmatou e investiu em parte
162

do imóvel rural. A “dinâmica de desmate” vem comprovada com


documentos de imagem de satélite (vide doc. 11 com as fotos de
satélite).

(iv) Documento expedido pela Secretaria de Fazenda do Estado de


Mato Grosso, referente a Cartão de Identificação do
Contribuinte, em que o possuidor aparece como produtor rural
(cf. docs. 14 e 15 do Anexo III).

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que


seguem abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitas na
Fazenda “Alvorada” pelo possuidor Jader Roberto da Silva.

Confira as fotos que ilustram os


investimentos feitos:
163
164

d) Posse do autor GILVANEI EDSON DE


ALMEIDA – Anexo IV
Consoante comprova o ANEXO IV –
referente ao possuidor GILVANEI EDSON DE ALMEIDA – são inúmeros os
atos que comprovam a sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse


Anexo, temos uma Certidão Administrativa de nº 008/2005, expedida pelo
INTERMAT, onde está dito que o Sr. Gilvanei Edson de Almeida está na
posse mansa e pacífica de uma área de terras com 2.151,9054 ha
(dois mil, cento e cinquenta e um hectares, noventa ares e
cinquenta e quatro centiares), já que o MEMORIAL DESCRITIVO da
Fazenda “Tapajós” revelou que a área possuída efetivamente corresponde a
essa porção de terra, conforme comprovam os docs. 3 e 4, que se referem
ao Memorial Descritivo e ao serviço de Georreferenciamento,
respectivamente.

Em razão dessa ocupação mansa, pacífica e


ininterrupta, a ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO
GROSSO editou a Resolução nº 147, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 2
do Anexo IV), em que está dito que:

“RESOLUÇÃO Nº 147, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


165

Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no


Município de Feliz Natal, a Gilvanei Edson de Almeida.

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base no


que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 2.151,9054 ha,
denominada “Fazenda Vale Verde”, conforme projeto específico do
INTERMAT, sob o n. 87.17.50.7580/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a leste: com terras de Jader Roberto da Silva;
– a oeste: com terras de Jairo Krause” (vide doc. 2 do Anexo IV).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte


da Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia
Legislativa do Estado de que o co-autor GILVANEI EDSON DE ALMEIDA
ocupa uma porção de terras de 2.151,9054 ha é uma prova inequívoca da
sua condição de possuidor pleno e efetivo, pois o Parlamento Mato-
grossense jamais baixaria uma Resolução de regularização fundiária para
uma pessoa que não estivesse na posse do bem; mais precisamente:
cumprindo a função social da posse.

Além desse documento de capital


importância, existem outros que comprovam que o Sr. Gilvanei Edson de
Almeida exercia a posse plena da Fazenda “Vale Verde”, a saber:

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado


Fazenda “Vale Verde”, contendo Memorial Descritivo, Plantas,
Comprovante de pagamento de taxas do CREA/MT, Declarações
de confinantes, relatórios, atestado de localização, pedido de
certidão para fins tributário e fiscal junto ao Município de Feliz
Natal etc. (cf. docs. 4 usque 13 do Anexo IV).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro


Ambiental Rural (cf. doc. 14 do Anexo IV).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que


o possuidor Gilvanei Edson de Almeida desmatou e investiu em
parte do imóvel rural. A “dinâmica de desmate” vem comprovada
166

com documentos de imagem de satélite (vide doc. 15 com as


fotos de satélite).

(iv) Notas Fiscais de aquisição de sementes junto à empresa


Sementes Aguilar, bem como de aquisição de produtos como
arame liso, lona plástica, pulverizador, enxadas, vacina aftosa
oleosa (vide docs. 19 a 23 do Anexo IV).

(v) Documentos de Registros de Empregados, que mostra que


existiam pessoas que trabalhavam para o possuidor Gilvanei
Edson de Almeida (vide docs. 24, 25 e 26 do Anexo IV).

(vi) Documentos comprobatórios de recolhimento de INSS – Guia


da Previdência Social, FGTS, Contribuição Sindical de Assalariado
Rural, Recibo de Pagamento de Salário, Termo de Rescisão de
Contrato de Trabalho, Relatório Anual de Informações Sociais -
RAIS (docs. 27 usque 44; bem como docs. 54 a 62 do Anexo IV).

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que


seguem abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitos na
Fazenda “Vale Verde” pelo possuidor Gilvanei Edson de Almeida, sendo que
a placa de identificação do Projeto de Regularização Fundiária está até
desgastada pelo tempo (só dá pra enxergar o sobrenome “Almeida”.
Confira:
167
168

e) Posse do autor JAIRO KRAUSE –


Anexo V
Consoante comprova o ANEXO V –
referente ao possuidor JAIRO KRAUSE – são inúmeros os atos que
comprovam a sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse


Anexo, temos uma Certidão Administrativa de nº 005/2005, expedida pelo
INTERMAT, onde está dito que o Sr. Jairo Krause está na posse mansa e
pacífica de uma área de terras com 2.111,2450 ha (dois mil, cento e
onze hectares, vinte e quatro ares e cinquenta centiares), já que o
MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda “Leão Negro” revelou que a área
possuída efetivamente corresponde a essa porção de terra, conforme
comprovam os docs. 3 e 5, que se referem ao serviço de
Georreferenciamento e ao Memorial Descritivo, respectivamente.

Em razão dessa ocupação mansa, pacífica e


ininterrupta, a ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO
GROSSO editou a Resolução nº 143, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 2
do Anexo V), em que está dito que:

“RESOLUÇÃO Nº 143, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Jairo Krause.
169

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base no


que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 2.111,2450 ha,
denominada “Fazenda Leão Negro”, conforme projeto específico do
INTERMAT, sob o n. 87.17.50.7566/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com terras de Gilvanei Edson de Almeida e o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rômulo A. Rohden;
– a leste: com terras de Gilvanei Edson de Almeida;
– a oeste: com terras de Rômulo A. Rohden” (vide doc. 2 do Anexo V).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte


da Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia
Legislativa do Estado de que o co-autor JAIRO KRAUSE ocupa uma porção
de terras de 2.111,2450 ha é uma prova inequívoca da sua condição de
possuidor pleno e efetivo, pois o Parlamento Mato-grossense jamais
baixaria uma Resolução de regularização fundiária para uma pessoa que
não estivesse na posse do bem; mais precisamente: cumprindo a função
social da posse no desenvolvimento do imóvel rural denominado Fazenda
“Leão Negro”.

Além desse documento de capital


importância, existem outros que comprovam que o Sr. Jairo Krause exercia
a posse plena da Fazenda “Leão Negro”, a saber:

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado


Fazenda “Leão Negro”, contendo Memorial Descritivo, Plantas,
Comprovante de pagamento de taxas do CREA/MT, Declarações
de confinantes, relatórios, atestado de localização, pedido de
certidão para fins tributário e fiscal junto ao Município de Feliz
Natal etc. (cf. docs. 3 usque 12 do Anexo V).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro


Ambiental Rural (cf. doc. 13 do Anexo V).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que


o possuidor Jairo Krause desmatou e investiu em parte do imóvel
rural. A “dinâmica de desmate” vem comprovada com documentos
de imagem de satélite (vide doc. 14 com as fotos de satélite).
170

(iv) Documentos de Registros de Empregados, que mostra que


existiam pessoas que trabalhavam para o possuidor Jairo Krause
(vide docs. 18 a 22 do Anexo V).

(v) Documentos comprobatórios de recolhimento de INSS – Guia


da Previdência Social, FGTS, Contribuição Sindical de Assalariado
Rural, Recibo de Pagamento de Salário, Termo de Rescisão de
Contrato de Trabalho, Relatório Anual de Informações Sociais -
RAIS (docs. 23 usque 26; idem, docs. 28 a 34; idem docs. 37 a 45
do Anexo V).

(vi) Notas Fiscais de aquisição de vacina aftosa oleosa, barra de


ferro, carrinho de mão (vide docs. 27 e 35 do Anexo V).

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que


seguem abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitos na
Fazenda “Leão Negro” pelo possuidor Jairo Krause. Confira:
171
172

f) Posse do autor ROMULO AFFONSO


ROHDEN – Anexo VI
Consoante comprova o ANEXO VI –
referente ao possuidor ROMULO AFFONSO ROHDEN – são inúmeros os
atos que comprovam a sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse


Anexo, temos uma Certidão Administrativa de nº 004/2005, expedida pelo
INTERMAT, onde está dito que o Sr. Romulo Affonso Rohden está na
posse mansa e pacífica de uma área de terras com 2.107,8821 ha
(dois mil, cento e sete hectares, oitenta e oito ares e vinte e um
centiares), já que o MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda “Cambará”
revelou que a área possuída efetivamente corresponde a essa porção de
terra, conforme comprovam os docs. 3 e 10, que se referem ao serviço de
Georreferenciamento e ao Memorial Descritivo, respectivamente.

Em razão dessa ocupação mansa, pacífica e


ininterrupta, a ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO
GROSSO editou a Resolução nº 145, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 2
do Anexo VI), em que está dito que:

“RESOLUÇÃO Nº 145, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Rômulo Affonso Rohden.

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base no


que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:
173

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 2.107,8821 ha,
denominada “Fazenda Cambará”, conforme projeto específico do
INTERMAT, sob o n. 87.17.50.7585/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com terras de Jairo Krause e com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Vilson Lunkes;
– a leste: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a oeste: com terras de Vilson Lunkes e com o rio arraias” (vide doc. 2 do
Anexo VI).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte


da Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia
Legislativa do Estado de que o co-autor RÔMULO AFFONSO ROHDEN
ocupa uma porção de terras de 2.107,8821 ha é uma prova inequívoca da
sua condição de possuidor pleno e efetivo, pois o Parlamento Mato-
grossense jamais baixaria uma Resolução de regularização fundiária para
uma pessoa que não estivesse na posse do bem; mais precisamente:
cumprindo a função social da posse no desenvolvimento do imóvel rural
denominado Fazenda “Cambará”.

Além desse documento de capital


importância, existem outros que comprovam que o Sr. Rômulo Affonso
Rohden exercia a posse plena da Fazenda “Cambará”, a saber:

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado


Fazenda “Cambará”, contendo Memorial Descritivo, Plantas,
Comprovante de pagamento de taxas do CREA/MT, Declarações
de confinantes, relatórios, atestado de localização, pedido de
certidão para fins tributário e fiscal junto ao Município de Feliz
Natal etc. (cf. docs. 3 usque 12 do Anexo VI).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro


Ambiental Rural (cf. doc. 13 do Anexo VI).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que


o possuidor Rômulo Affonso Rohden desmatou e investiu em parte
do imóvel rural. A “dinâmica de desmate” vem comprovada com
documentos de imagem de satélite (vide doc. 14 com as fotos de
satélite).
174

(iv) Documento expedido pela SECRETARIA DE FAZENDA DO


GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO em que aparece a
Inscrição Estadual e o CNPJ da Fazenda Cambará, com endereço
na Rodovia da Soja, km 123, município de Feliz Natal, Estado do
Mato Grosso (vide docs. 17 e 18 do Anexo VI).

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que


seguem abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitos na
Fazenda “Cambará” pelo possuidor Rômulo Affonso Rohden, no
cumprimento da função social do instituto da posse.

Confira:
175
176

g) Posse do autor VILSON LUNKES –


Anexo VII
Consoante comprova o ANEXO VII –
referente ao possuidor VILSON LUNKES – são inúmeros os atos que
comprovam a sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse


Anexo, temos uma Certidão Administrativa de nº 006/2005, expedida pelo
INTERMAT, onde está dito que o Sr. Vilson Lunkes está na posse mansa
e pacífica de uma área de terras com 2.451,1455 ha (dois mil,
quatrocentos e cinquenta e um hectares, catorze ares e cinquenta e
cinco centiares), já que o MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda “Bom
Retiro” revelou que a área possuída efetivamente corresponde a essa
porção de terra, conforme comprovam os docs. 3 e 7, que se referem ao
serviço de Georreferenciamento e ao Memorial Descritivo, respectivamente.

Em razão dessa ocupação mansa, pacífica e


ininterrupta, nos idos de 30 de julho de 2010 foi lavrada uma ESCRITURA
PÚBLICA DECLARATÓRIA junto ao Serviço Notarial e Registral União do Sul
– Cartório Villa, em que o declarante e legítimo possuidor Vilson Lunkes
atesta que: “... exerce a posse mansa, pacífica e ininterrupta, sem
coação de qualquer espécie ou natureza e de conhecimento público desde
10 de janeiro de 2003, ou seja a mais de 7 (sete) anos, sobre uma área
de terras com 2.473,4943 ha, denominada FAZENDA BOM RETIRO,
localizada no município de Feliz Natal, Estado de Mato Grosso, dentro dos
seguintes limites e confrontações....”.
177

Ainda, dessa ESCRITURA PÚBLICA


DECLARATÓRIA vale destacar os seguintes excertos:

2º-) Que se encontra na referida posse, desde a sua aquisição, e que seus
confinantes respeitam seus limites e confrontações como a divisa correta
entre as propriedades; 3º-) Que a referida posse foi adquirida mansa e
pacificamente através de desbravamento destinado à exploração
agropecuária, não degradando, atingindo ou invadindo imóveis ou áreas
de posse de terceiros, cujo histórico resumidamente declarado é de
conhecimento dos confinantes de propriedades e justificam o direito
declarado” (cf. doc. 2 em anexo).

Essa passagem da Escritura Pública


Declaratória revela um aspecto de capital importância para a presente
rescisória, que diz respeito à origem da posse dos Autores, pois todas
elas foram adquiridas motu proprio para fins de desbravamento destinado à
exploração agropecuária, não derivando a posse dos Autores ROTSON
ANDRÉ ORLANDI, LEOMAR TÁPPARO, JADER ROBERTO DA SILVA, GILVANEI
EDSON DE ALMEIDA, JAIRO KRAUSE, RÔMULO AFFONSO ROHDEN, VILSON
LUNKES e RAIMUNDO APARECIDO DE SOUZA de negócio jurídico ou cessão
de direito possessório de quem quer que seja.

Essa origem de aquisição da posse


como fenômeno puramente fático revela dois aspectos para os quais
não se atentou o v. acórdão rescisório, a saber: primeiro – que os Autores
cumpriram zelosamente a função social do instituto da posse, na medida
em que os Réus desta rescisória – ao figurarem apenas como
“proprietários”, nunca tiveram a posse do imóvel rural de 39.000 ha (trinta
e nove mil hectares).

Tanto isso é uma verdade axiomática e


irrefutável que os Autores permaneceram tranquilamente na posse de 2003
a 2016, quando foram atingidos por uma ordem judicial de um processo do
qual NUNCA FIZERAM PARTE.

Ora, se a origem de aquisição da posse dos


Autores decorreu de um “fenômeno fático”, consistente na ocupação dos
imóveis rurais para fins agropecuários, é cediço que o v. acórdão
rescindendo fez tabula rasa dos artigos 560 e 561 do novel Diploma
Processual – correspondente aos artigos 926 e 927 do Código de Processo
Civil-1973, e 1.196 do Código Civil:

Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de


turbação e reintegrado em caso de esbulho.

Art. 927. Incumbe ao autor provar:


I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
178

III – a data da turbação ou do esbulho;


IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de
manutenção; ou a perda da posse, na ação de reintegração.

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o


exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.

Ora, se se considera possuidor “... todo


aquele que tem de fato o exercício de algum dos poderes inerentes
à propriedade” e, in casu, os Autores tem o direito de uso e desfrute da
posse como componente mais expressivo da visibilidade do exercício da
posse desde os idos de 2003, salta aos olhos que o v. acórdão rescindendo
feriu de morte os artigos acima alinhados.

No sentido de proteger a posse do


possuidor de fato, podemos trazer à colação, à guisa de exemplos, os
seguintes arestos, verbis:

I-) “POSSESSÓRIA – Manutenção de posse – Proteção que independe de


alegação de domínio – Possibilidade de ser exercitada até mesmo contra
o proprietário, se comprovada a posse e sua origem. Comprovada a posse e
sua origem, a proteção possessória independe da alegação de domínio e pode
ser exercitada até mesmo contra o proprietário ou possuidor indireto” (Ap
50.019-4, 4ª Câmara do TJMG, rel. Des. Mercêdo Moreira, j. 25.04.1990, RT 670/156).

E, do corpo desse lapidar aresto, colhe-se a


seguinte passagem que cai como uma luva à presente actio:

“Por fim, é necessário ficar claro que o documento de domínio, com o qual
pretendem os apelantes justificar seus atos e, inclusive, nele estribar sua posse,
que seria de mais de ano e dia, não tem qualquer validade para o alcance do
que objetivam. Nesse sentido é o acórdão deste Tribunal prolatado na Ap
26.372, rel. Des. Haroldo Sodré (j. 09.11.1984), verbis:

“POSSE – Caracterização – Proteção possessória – Alegação de domínio –


Não dependência – Interditos contra o possuidor – Via ordinária. O
exercício da posse não se afirma por mera alegação, mas é caracterizado pela
prática de atos que, de fato, expressem alguns dos poderes inerentes à
propriedade. Desde que comprovada a posse e sua origem, a respectiva
proteção independe da alegação de domínio e pode ser exercida até mesmo
contra o proprietário ou possuidor indireto” (RT 670/158).

Por todos esses aspectos – conclui o julgado – não há que se falar em


propriedade, quando se trata de posse, como fato que é, valendo reprisar-se
que o simples título de propriedade, ainda que legítimo, não exclui a posse dos
possuidores que detém o imóvel de fato e nele exercem atividades econômicas
179

e sociais, cumprindo a função social do instituto da posse em face de um


proprietário que tem apenas o “título de domínio” (cf. RT 670/158).

Ora, esse aresto cai como uma luva ao caso


em testilha, já que a origem da posse dos Autores decorreu de um
fenômeno puramente fático, consistente na prática de atos que traduzem
investimentos econômicos nos imóveis rurais Fazendas ANGELIM, TAPAJÓS,
ALVORADA, VALE VERDE, LEÃO NEGRO, CAMBARÁ, BOM RETIRO e NOSSA
SENHORA APARECIDA, a ponto da Assembléia Legislativa do Estado de
Mato Grosso ter editado inúmeras Resoluções reconhecendo a ocupação
fundiária dos Autores.

A prova dos investimentos econômicos


estão demonstradas por documentos e fotos, tais como: lavoura de soja,
lavoura de milho, criação de gado, currais, casas, antenas parabólicas,
tratores, compra de sementes, vacina contra febre aftosa etc., para ficar
aqui com alguns exemplos ilustrativos.

Portanto, a circunstância dos Réus desta


rescisória serem titulares do domínio é irrelevante para o reconhecimento
da posse se eles nunca investiram no imóvel rural de 39.000 ha (trinta e
nove mil hectares), do qual os Autores ocuparam uma parcela sem oposição
de quem quer que seja.

Nesse contexto, o v. acórdão rescindendo


está em aberto conflito com o entendimento pacífico da jurisprudência
pátria, que sempre decidiu no sentido de que:

“POSSESSÓRIA – Reintegração de posse – Alegação de existência de


título dominial – Insuficiência – Demanda interdital de natureza
defensiva que exige a comprovação inequívoca do desfrute possessório.
Ementa da Redação: Na reintegração de posse, não basta a alegação da
existência de título dominial, a demanda interdital possessória é
naturalmente defensiva, exigindo, para que possa ser acolhida, a
comprovação inequívoca do desfrute possessório” (Ap 620.144-5, 6ª Câmara
do TJSP, rel. Des. Evaldo Veríssimo, j. 12.11.1996, RT 741/278).

Não discrepa dessa orientação julgado da 9ª


Câmara do eg. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO,
que apostilou:

“AÇÃO POSSESSÓRIA – Manutenção de posse – Admissibilidade, pois


demonstrado o exercício contínuo da posse por longo período de tempo –
Desnecessidade do exame de títulos dominiais.
o exercício contínuo da posse
Ementa da Redação: Demonstrado
pela autora, por longo período de tempo, somada à
ausência de demonstração pelo réu do exercício de
180

qualquer ato possessório por ele praticado antes da


autora, deve esta ser mantida na posse, sendo desnecessário o
exame dos títulos dominiais” (Ap 668.212-2, 9ª Câmara do TJSP, rel. Des.
Armindo Freire Mármora, j. 21.10.1997, RT 752/201).

O trecho colocado em destaque cai como


uma luva na presente demanda rescisória, na medida em que os Autores
exerceram posse continuada de 2003 a 2016, portanto, pelo longo período
de 13 anos, somado à ausência de demonstração pelos Réus do exercício
de qualquer ato possessório por eles praticado, tanto que os Autores
permaneceram no imóvel por mais de uma década.

Se os Réus estivessem na posse do imóvel


rural no ano de 2003, de duas uma: (i) ou eles teriam impedido a ocupação
das áreas rurais pelos Autores, por meio do desforço incontinenti; ou (ii) se
não conseguissem impedir a ocupação, teriam promovido em face deles
uma Ação de Reintegração de Posse.

Sucede que os Réus não fizeram nem uma


coisa nem outra: não impediram a ocupação pacífica dos imóveis rurais
pelos Autores, que ali fizeram investimentos agropecuários de diversas
ordens, além de vultosos investimentos em benfeitorias.

Esse aspecto traz ao palco da rescisória


outra violação manifesta de norma jurídica, consistente no fato de que,
como a posse dos Autores é originária e não derivada dos Réus da Ação
de Reintegração de Posse, eles são terceiros em relação à coisa julgada
formada na reintegração objeto do Processo nº 266/97, em que figura como
Autor EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA BONINI e como Réus PLÁCIDO
BROLIM, SEBASTIÃO DE MATOS e JACY FERMINIANO DA SILVEIRA.

Deveras, não há o menor traço de que os


Autores ROTSON ANDRÉ ORLANDI & OUTROS, que integram o polo ativo da
presente actio tenha adquirido a posse através dos senhores PLÁCIDO
BROLIM E OUTROS, réus da possessória.

Se não há qualquer liame, qualquer ligação


entre os Autores desta rescisória e os Réus da Ação de Reintegração de
Posse (Proc. nº 266/97), salta aos olhos que, em relação à coisa julgada
ocorrida na Ação de Reintegração de Posse os Autores desta rescisória são
terceiros e, por nunca terem sido convocados a participar da lide, não
podem ser atingidos pela eficácia da res iudicata, sob pena de manifesta
violação à norma jurídica insculpida no artigo 506 do novo Código de
Processo Civil, que dispõe:
181

“Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes


entre as quais é dada, não prejudicando
terceiros”.

Ora, no caso em testilha, o v. acórdão


rescindendo violou de forma manifesta o estatuído no art. 506 do novel
Diploma Processual, na medida em que permitiu que o cumprimento de
sentença da demanda possessória pudesse atingir QUEM NUNCA
FIGUROU COMO PARTE NA RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL, com a
agravante de que os Autores da rescisória também NÃO SÃO
SUCESSORES dos réus da possessória, pois jamais mantiveram qualquer
vínculo e/ou negócio jurídico com os mesmos (Plácido Brolim e Outros).

Em situações desse jaez, a doutrina


especializada é unânime no sentido de que os Autores da rescisória, por
figurarem na condição de terceiros na Ação de Reintegração de Posse, não
podem ser atingidos pelo cumprimento da sentença.

Nesse sentido é a lição de NELSON NERY JR.


e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, que vaticinam:

“4. Coisa julgada inter partes. A regra geral é a de que a sentença


somente obriga as pessoas entre as quais foi dada, não prejudicando
nem beneficiando terceiros” (Comentários ao Código de Processo Civil – Novo
CPC. São Paulo: RT, 2015, p. 1238).

Não discrepa dessa linha de entendimento,


a segura lição de LUIZ GUILHERME MARINONI, SÉRGIO CRUZ ARENHART e
DANIEL MITIDIERO, que lecionam:

“1. Limites subjetivos. O art. 506, CPC, disciplina os limites subjetivos da coisa
julgada, demarcando a área de influência da autoridade da coisa julgada.
Apenas as partes e seus sucessores se submetem à coisa julgada. Vale dizer: tão
somente para as partes e para os seus sucessores a declaração contida no
dispositivo da sentença adquire imutabilidade e indiscutibilidade” (Novo Código
de Processo Civil comentado, 2ª ed. São Paulo: RT, 2016, p. 604).

No caso em testilha, os Autores da


rescisória nunca figuraram nem como PARTES, nem como
SUCESSORES na Ação de Reintegração de Posse movida pelos Réus da
vertente demanda. De fato, é impossível estabelecer qualquer liame, união
e/ou ligação entre os Autores Rotson André Orlandi, Leomar Tápparo, Jader
Roberto da Silva, Gilvanei Edson de Almeida, Jairo Krause, Rômulo Affonso
Rohden, Vilson Lunkes e Raimundo Aparecido de Souza com os réus da
possessória Plácido Brolim, Sebastião de Matos e Jacy Ferminiano da
Silveira, pois a posse daqueles jamais derivaram destes, pois nunca
houve negócio jurídico entabulado entre eles.
182

Se está inequivocamente provado e


demonstrado que os autores da rescisória são terceiros completamente
alheios ao resultado da Ação de Reintegração de Posse objeto do Processo
nº 266/97, não pode sobejar dúvidas que o cumprimento de sentença
não poderia atingi-los, como lamentavelmente ocorreu, de modo que
resta patente a manifesta violação à norma jurídica do artigo 506 do
novo Código de Processo Civil.

Expressivo, no ponto, julgado da Terceira


Turma do STJ, que decidiu, in verbis:

“SENTENÇA – Coisa julgada – Decisão imutável e indiscutível que vincula apenas


as partes da respectiva relação jurídica – Terceiro que não é alcançável, pois não
foi parte no processo.
Ementa Oficial: A coisa julgada torna imutável e indiscutível a sentença, não mais
sujeita a recurso ordinário ou extraordinário e vincula apenas as partes da
respectiva relação jurídica. O terceiro não é alcançável por decisão em processo de
que não fora parte, ineficaz quanto a este a decisão” (REsp 158.097/RJ, 3ª Turma, rel.
Min. WALDEMAR ZVEITER, DJU 15.03.1999, RT 766/196).

E, do corpo desse lapidar aresto, verdadeira


arte plástica de edificação jurídica, colhe-se a seguinte passagem que
demonstra que o v. acórdão rescindendo violou manifestamente a
norma jurídica do artigo 506 do novo CPC – correspondente ao art. 472
do CPC-1973 – ao não impedir que o cumprimento de sentença pudesse
atingir os autores da presente actio. Confira:

“Aduz o embargante que o v. acórdão recorrido, ao deixar de reconhecer o seu


direito à posse, obtida por meio de ocupação, admitindo a eficácia da sentença
violou o artigo 472 do
prolatada em processo em que não foi parte,
CPC/1973 (correspondente ao art. 506 do novo CPC) e discrepou da
jurisprudência deste E. STJ, trazendo à colação os Recursos Especiais 28.618/GO,
rel. Min. VICENTE CERNICCHIARO, e 53.480/SP, rel. Min. FONTES DE ALENCAR.

Com razão o recorrente.

Assentado na jurisprudência da Corte o entendimento segundo o qual o terceiro


não é alcançável por decisão em processo de que não fora
parte.

Segundo o disposto no art. 472 do CPC/1973, “a sentença faz coisa julgada às


partes entre as quais é dada, não beneficiando nem prejudicando terceiros”.

(...)
183

No precedente, REsp 28.618-GO, estabelece-se que: “A coisa julgada é a eficácia


que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso
ordinário ou extraordinário. No plano da experiência, vincula apenas as
partes da respectiva relação jurídica. Relativamente a terceiros pode ser
utilizada como reforço de argumentação. Jamais como
imposição” (rel. Min. VICENTE CERNICCHIARO – DJ de 18.10.1993).

O mesmo entendimento restou consagrado no julgamento do REsp 16.979-SP, rel.


Min. BARROS MONTEIRO, e REsp 53.480-SP, rel. Min. FONTES DE ALENCAR, assim
ementados:
“EMBARGOS DE TERCEIRO EM AÇÃO DE DESPEJO –
Oferecimento após o trânsito em julgado da sentença proferida no
processo de conhecimento – Admissibilidade. A coisa julgada é
fenômeno que só diz respeito aos sujeitos do processo, pelo que não
constitui ela empecilho à defesa do terceiro, através desse remedium iuris,
contra os efeitos da sentença” (DJ 14.03.1994).

“IMÓVEL – Terceiro adquirente. O terceiro adquirente do


imóvel, a título oneroso e de boa-fé, não é alcançável por decisão em
processo de que não fora parte. Recurso especial atendido” (DJ
06.05.1996).

Nesse último precedente, Sua Excelência o Min. FONTES DE ALENCAR assim


consignou:

“Como efeito, o terceiro não é, no direito civil brasileiro,


alcançável por reivindicação do proprietário, sendo certo que o recorrente
não podia ter sido atingido por decisão emanada de processo de que
não fora ele parte, pois, nos termos do art. 472 do CPC-1973
(correspondente ao art. 506 do novo CPC), “A sentença faz coisa julgada às
partes entre as quais é dada, não beneficiando nem prejudicando terceiros”.

Referido dispositivo, na espécie, também teve sua vigência


olvidada pelo aresto recorrido, que opôs ao recorrente decisão que lhe não
obrigava, tirada em processo de que ele não participara” (RT 766/198-199).

E, continua o ilustre Min. WALDEMAR


ZVEITER em seu brilhante aresto que cai como uma luva ao caso em
testilha, louvando-se na melhor doutrina e nos precedentes do STJ, verbis:

“A sentença condenatória obtida no processo de conhecimento atuará como título


executivo judicial exclusivamente em face da parte derrotada, NÃO TENDO
184

EFICÁCIA EM RELAÇÃO AO TERCEIRO QUE NÃO


INTEGROU A LIDE, DESINFLUENTE O FATO DE TER
TRANSITADO EM JULGADO A DECISÃO. Não se trata de anular
referida decisão através de embargos de terceiro, apenas que ela não produz
efeito no patrimônio daquele que não foi parte no processo.

Confira-se a lição de HUMBERTO THEODORO JUNIOR, Curso de direito processual


civil, v. III, p. 1.809-1.810:

“Pela natureza dos embargos – remédio apenas de defesa de


terceiro – é bom lembrar que por seu intermédio não se invalida ou se
desconstitui a sentença dada em processo alheio. Apenas se impede que
sua eficácia atinja o patrimônio de quem não foi parte na relação
processual.

Nesse sentido é irrelevante a circunstância de haver ou não


passado em julgado a sentença. A res iudicata é fenômeno que só diz
respeito aos sujeitos do processo, pelo que não representa empecilho
algum à defesa do terceiro contra os efeitos da sentença”.
(...)

Forte em tais lineamentos, conheço do recurso e dou-lhe provimento para no


ponto reformar o acórdão recorrido e para julgar totalmente procedente os
embargos de terceiro, ineficaz quanto a estes a decisão exequenda.

É como voto” (REsp 158.097/RJ, Terceira Turma do STJ, rel. Min. WALDEMAR
ZVEITER, DJU 15.03.1999, RT 766/198-199).

Ora, esse julgado da colenda Terceira


Turma do STJ – que tem amparo, inclusive, em diversos precedentes da
Corte Superior, como destacado – demonstra o total desacerto do v.
acórdão rescindendo, que deixou de acolher Embargos de Terceiro
manejados pelos autores desta rescisória, pois, se está sobejamente
demonstrado que eles NUNCA FIZERAM PARTE DA AÇÃO DE
REINTEGRAÇÃO DE POSSE que acarretou o CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA para a retirada dos mesmos dos imóveis rurais Fazendas
Angelim, Tapajós, Alvorada, Vale Verde, Leão Negro, Cambará, Bom Retiro
e Nossa Senhora Aparecida aliado ao aspecto de que ELES JAMAIS
FIGURARAM COMO SUCESSORES E/OU ADQUIRENTES dos réus da
possessória, a saber: Plácido Brolim, Sebastião de Matos e Jacy Ferminiano
da Silveira, é cediço que a res iudicata proferida na Ação de Reintegração
de Posse objeto do Proc. nº 266/97 jamais poderia atingir os autores desta
rescisória.
185

Afinal, como bem destacado pelo mestre


HUMBERTO THEODORO JR. – citado no aresto da 3ª Turma – “a res iudicata é
fenômeno que só diz respeito aos sujeitos do processo, pelo que não representa empecilho
algum à defesa do terceiro contra os efeitos da sentença”.

Por todo o exposto, é de tonitruante clareza


que o v. acórdão rescindendo violou manifestamente a norma jurídica
inserta no art. 506 do novo CPC – correspondente ao art. 472 do CPC-1973
– aspecto esse que reforça o cabimento da ação rescisória com espeque na
redação do art. 966, V, CPC-2015, segundo o qual “A decisão de mérito,
transitada em julgado, pode ser rescindida quando: - violar
manifestamente norma jurídica”.

IV – DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA


PARA RESTABELECER O STATUS QUO ANTE
O art. 969 do novel Diploma Processual, ao
tratar da possibilidade de concessão de tutela antecipada no bojo da
rescisória, dispõe que: “A propositura de ação rescisória não impede o
cumprimento da decisão rescindenda, ressalvada a concessão de tutela
provisória”.

Na sistemática do novo CPC, a locução


“tutela provisória” é o gênero, que compreende duas espécies: (i) a tutela
cautelar; e (ii) a tutela antecipada. Portanto, é perfeitamente possível a
concessão de tutela antecipada no seio de uma rescisória, como
expressamente admite o art. 969 do novel Diploma.

Deveras, mantendo a tradição de nosso


direito – o art. 489 do CPC-1973 já admitia a concessão de tutela de
urgência em sede de ação rescisória – o novel Estatuto também admite a
concessão de tutela provisória no âmbito da ação rescisória.

Os requisitos para a obtenção da tutela


provisória de urgência vêm previstos no art. 300, caput, do novo CPC,
consoante o qual:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou o risco ao resultado útil do processo”.

No caso em testilha, restou sobejamente


provada e demonstrada a posse mansa, pacífica, longa e ininterrupta dos
Autores desde os idos de 2003, os quais só foram desalojados da posse dos
imóveis rurais Fazendas Angelim, Tapajós, Alvorada, Vale Verde, Leão
Negro, Cambará, Bom Retiro e Nossa Senhora Aparecida em virtude do
186

cumprimento de sentença em uma demanda possessória na qual os


Autores desta rescisória jamais figuraram como partes e muito menos
sucessores, já que inexiste qualquer vínculo jurídico entre os Autores
Rotson André Orlandi e Outros com os senhores Plácido Brolim e Outros.

Pelo contrário!!! Restou sobejamente


demonstrado que a posse dos Autores Rotson André Orlandi, Leomar
Tápparo, Jader Roberto da Silva, Gilvanei Edson de Almeida, Jairo Krause,
Rômulo Affonso Rohden, Vilson Lunkes e Raimundo Aparecido de Souza não
deriva, não decorre da posse dos réus da Ação de Reintegração de Posse
senhores Plácido Brolim, Sebastião de Matos e Jacy Ferminiano da Silveira.

Logo, se a posse dos Autores é originária,


ou seja, não decorre de cessão, nem de contrato, nem de doação, nem de
venda, nem de compromisso de compra e venda, pois tem origem numa
ocupação para fins de assentamento agrário em que não houve
oposição ou resistência de quem quer que seja, é cediço que a coisa julgada
da possessória objeto do Processo nº 266/97 jamais poderia alcançar os
Autores, como restou demonstrado.

Portanto, restando sobejamente


demonstrada a posse longeva dos Autores (2003 a 2016), aliado à
ocupação dos imóveis rurais com esteio na função social da posse – aspecto
esse reconhecido por inúmeras Resoluções baixadas pela Assembléia
Legislativa do Estado de Mato Grosso – é cediço que a plausibilidade jurídica
da rescisória é evidente, mesmo porque os Autores desta actio jamais
poderiam ter sido alcançados pelo cumprimento de sentença, como
lamentavelmente ocorreu.

Ademais disso, a análise da rescisória deixa


claro que existem “... elementos que evidenciem a probabilidade do direito”,
uma vez que restou patente a violação literal aos comandos normativos dos
artigos 560 e 561 do Código de Processo Civil, e artigo 1.196 do Código
Civil brasileiro, que foram manifestamente violados.

Outro reforço de peso que vem em favor da


tese dos Autores é a decisão monocrática proferida pelo ilustre e eminente
Des. DIRCEU DOS SANTOS que, em caso rigorosamente idêntico ao
vertente, envolvendo a mesma causa petendi, o mesmo pedido, os mesmos
legitimados passivos – com a mudança apenas da titularidade da ação –
reconheceu a comprovação do requisito da plausibilidade do bom direito
(fumus boni juris) ao deferir pedido de medida liminar na AÇÃO
RESCISÓRIA nº 157206/2016, Comarca de Feliz Natal, cuja EMENTA vem
assim vazada:

“AÇÃO RESCISÓRIA – TUTELA DE URGÊNCIA – REINTEGRAÇÃO DE POSSE


– POSSE EXERCIDA HÁ MAIS DE SEIS ANOS – REQUISITOS DO ARTIGO
187

300 DO CPC DEMONSTRADOS – PROBABILIDADE DO DIREITO E O PERIGO


DE DANO – POSSIBILIDADE DE REVERSIBILIDADE DA MEDIDA –
PRESTAÇÃO DE CAUÇÃO IDÔNEA – LIMINAR DEFERIDA.
Como disposto no artigo 969 do CPC, a propositura da ação rescisória não
impede o cumprimento da decisão rescindenda, ressalvada a concessão de
tutela provisória.
Presentes os requisitos do art. 300 do CPC, deve ser CONCEDIDA A
TUTELA DE URGÊNCIA pretendida pela parte autora mediante prévia e
idônea prestação de caução”.

E, do corpo dessa lapidar decisão unipessoal


proferida pelo eminente Des. DIRCEU DOS SANTOS, vale a pena destacar
o seguinte excerto, que cai como uma luva ao caso em testilha, verbis:

“[...]
No caso em apreço, numa cognição sumária inerente à espécie, constata-se
que a parte autora exerce a posse da área litigiosa desde 2009, e
que, daí em diante, realizou inúmeras benfeitorias, conforme fotografias de
fls. 162/168, o que, a princípio, denota a presença dos requisitos legais para
concessão da tutela de urgência pretendida.

Não desconheço que a suspensão do cumprimento da decisão rescindenda


é excepcional, todavia, compete a parte autora da ação rescisória
comprovar os requisitos do artigo 300 do CPC, o que a toda
evidência, logrou êxito.

[...]
Assim, a luz do que preceitua o art. 300 do CPC, o grau de probabilidade
será apreciado pelo julgador, prudentemente e atento à gravidade da
medida a conceder. A exigência de perigo de dano significa que a mera
aparência ou expectativa não basta, devendo ser efetiva e contundente, o
que, até o momento, restou caracterizado.

Resumidamente, tem-se que o julgador deve estar convencido da


probabilidade – e não da certeza – do direito da parte cujos efeitos
definitivos pretende obter com a antecipação da tutela.

Por fim, ressalto que a medida satisfativa é plenamente reversível, inclusive,


no caso de ocorrência de dano ou prejuízo à parte contrária, será a autora
responsabilizada a ressarcir e indenizar eventuais perdas em sua totalidade.

Com essas considerações, nos termos do art. 300, §1º, do CPC, DEFIRO A
TUTELA DE URGÊNCIA VINDICADA, até ulterior decisão do órgão
Colegiado, a fim de determinar a reintegração da parte autora no imóvel
rural, Fazenda Rio Negro, na área de 6.632 hectares, condicionando, a
prestação de caução idônea, real ou fidejussória, a fim de ressarcir os danos
188

que a parte ré possa vir a sofrer, a ser prestada no prazo de 10 dias, sob
pena de revogação da liminar”.

Desembargador DIRCEU DOS SANTOS


Relator

No concernente ao requisito do periculum in


mora, ele é de uma evidência solar no caso sub judice: isso porque os
Autores fizeram vultosos investimentos nos imóveis rurais Fazendas
Angelim, Tapajós, Alvorada, Vale Verde, Leão Negro, Cambará, Bom Retiro
e Nossa Senhora Aparecida, tais como: plantação de lavoura de soja, de
milho, cultivo de pastagens para assentamento de gado, benfeitorias,
casas, barracões, currais, tratores, colheitadeiras etc. e, em razão desses
investimentos, necessitam urgentemente retornar à porção de terras que
ocupavam, que corresponde a aproximadamente 16.530 has (dezesseis
mil quinhentos e trinta hectares) de uma área total de 39.000 has
(trinta e nove mil hectares), assim devidamente discriminada:

ROTSON ANDRÉ ORLANDI – 1.848,00 hectares;


LEOMAR TÁPPARO – 1.977,00 hectares;
JADER ROBERTO DA SILVA – 2.147,9983 hectares;
GILVANEI EDSON DE ALMEIDA – 2.151,9054 hectares;
JAIRO KRAUSE – 2.111.2450 hectares;
ROMULO AFONSO ROHDEN – 2.107,8821 hectares;
VILSON LUNKES – 2.451,1455 hectares; e
RAIMUNDO APARECIDO DE SOUZA – 1.736,2076 hectares.

Também comprova o requisito do periculum


in mora o ESTUDO DE SITUAÇÃO feito pela Polícia Militar no imóvel.

Com efeito, o ESTUDO DE SITUAÇÃO


levado a cabo pelo 3º Comando Regional da Polícia Militar sediado em Feliz
Natal-MT, revelou, dentre outros, os seguintes aspectos relevantes:

(i) – Todas as fazendas que fazem parte dessa possessória encontravam-se


na posse dos autores, sendo que a maioria esmagadora dos imóveis rurais
possuem trabalhadores braçais que labutavam nos imóveis. Assim, v.g.,
o ESTUDO DE SITUAÇÃO registrou inúmeros trabalhadores braçais nos
seguintes imóveis: a) Fazenda Nossa Senhora Aparecida, de posse do co-
Autor Raimundo Aparecido de Souza; b) Fazenda Cambará, de posse do co-
Autor Romulo Affonso Rohden.

(ii) – Em todos os imóveis rurais que estavam na posse dos Autores,


haviam benfeitorias e criações, a saber:
189

a) Fazenda Bom Retiro – Posseiro: VILSON LUNKE

- Benfeitorias – uma casa de madeira; um barracão de madeira; um


curral; plantação de pasto.

- Criações – 100 animais bovinos; 40 aves galináceas; 04 equinos.


Plantação de mandioca.

b) Fazenda Nossa Senhora Aparecida – Posseiro: RAIMUNDO


APARECIDO DE SOUZA

- Benfeitorias – uma casa de madeira; plantação de pasto.

- Criações – 68 animais bovinos.

c) Fazenda Cambará – Posseiro: ROMULO AFFONSO ROHDEN

- Benfeitorias – um barracão de madeira; um curral; plantação de pasto.

- Criações – 40 aves galináceas.

d) Fazenda Leão Negro – Posseiro: JAIRO KRAUSE

- Benfeitorias – uma casa de madeira; plantação de pasto.

- Criações – 50 animais bovinos.

e) Fazenda Vale Verde – Posseiro: GILVANEI EDSON DE ALMEIDA

- Benfeitorias – duas casas de madeira; plantações de mandiocas, batata


doce, verduras.

- Criações – 04 animais bovinos; 30 aves galináceas.

f) Fazenda Alvorada – Posseiro: JADER ROBERTO DA SILVA

- Benfeitorias – uma casa de madeira; plantação de mandioca.

g) Fazenda Tapajós – Posseiro: LEOMAR TAPPARO

- Benfeitorias – uma casa de madeira; 200 (duzentos) hectares de soja


(arrendada aos Srs. Paulo Justo e Paulo Justo Junior, de Sorriso/MT).
190

- Criações – 15 aves galináceas.

h) Fazenda Angelim – Posseiro: ROTSON ANDRÉ ORLANDI

- Benfeitorias – uma casa de madeira; 01 pista de pouso para


aeronave; um curral; 400 (quatrocentos) hectares de soja (arrendada aos
Srs. Paulo Justo e Paulo Justo Junior, de Sorriso/MT).

- Criações – 10 aves galináceas.

Como se nota, o ESTUDO DE SITUAÇÃO


levado a efeito pelo 3º Comando Regional da Polícia Militar do Estado de
Mato Grosso – que vem acompanhado de farta fotografias das benfeitorias e
investimentos ultimados pelos Autores – é um reconhecimento e uma prova
cabal da posse incontroversa dos Autores pelo período de 2003 a
2016, aspectos esses que reforçam o requisito do periculum in mora.

Destarte, os dois requisitos necessários à


concessão da tutela provisória na ação rescisória – fumus boni juris e
periculum in mora – encontram-se presentes.

A propósito, a doutrina é assente no


sentido de que é perfeitamente possível a concessão de tutela antecipada
em ação rescisória. Assim, por todos, a lição de NELSON NERY JR. e
ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, verbis:

“2. Tutela provisória contra execução da decisão rescindenda.


Em casos excepcionais, admite-se o requerimento de concessão de
tutela provisória para suspensão da execução do julgado
rescindendo, pois a presunção decorrente da coisa julgada é relativa
(juris tantum), até que seja ultrapassado o prazo do CPC 975”
(Comentários ao CPC – Novo CPC. São Paulo: RT, 2015, p. 1951).

Na mesma toada é o magistério de LUIZ


GUILHERME MARINONI, SÉRGIO CRUZ ARENHART e DANIEL MITIDIERO,
que vaticinam:

“2. Tutela cautelar ou tutela antecipada. O cumprimento da


sentença ou acórdão rescindendo só pode ser obstado se o
demandante logra obter tutela cautelar ou tutela antecipada nesse
sentido. A concessão de tutela cautelar ou tutela antecipada,
conforme o caso, depende do preenchimento dos pressupostos
exigidos em lei para concessão da cada uma dessas medidas” (Novo
CPC comentado, 2ª ed. São Paulo: RT, 2016, p. 1.030).

De seu turno, o colendo SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA, na condição de guardião da legislação
191

infraconstitucional, tem admitido a concessão de tutela antecipada em


ação rescisória, consoante se pode aquilatar dos seguintes julgados:

“AÇÃO RESCISÓRIA – Art. 489 do CPC/1973 (art. 969 novo CPC) –


Suspensão da decisão rescindenda – Tutela antecipada –
Excepcionalidade – Pressupostos autorizadores – Art. 273 do CPC/1973 –
Decisão deferitória – Verossimilhança da alegação – Existência – Agravo
desprovido.
I – Não obstante o disposto no art. 489 do Código de Processo Civil-1973 – “A
ação rescisória não suspende a execução da sentença rescindenda” - o Superior
Tribunal de Justiça tem entendido ser cabível a concessão da antecipação dos
efeitos da tutela em ação rescisória com o fito de suspender a execução da
decisão rescindenda, desde que presentes os requisitos do artigo 273 do
Código de Processo Civil de 1973.
II – Na hipótese dos autos resta configurada a existência de ocorrência de
fundado receio de dano de difícil reparação, bem como a existência de razões
suficientes, baseadas na prova inequívoca, capazes de convencer sobre a
existência da verossimilhança das alegações da autora” (AgRg na AR 2.995/RS,
Terceira Seção do STJ, rel. Min. GILSON DIPP, DJ 19/04/2004).

Também a Primeira Seção do STJ, em


julgado da lavra do conceituado Min. LUIZ FUX – que hoje exorna com sua
inteligência ímpar o colendo STF – com apoio em diversos precedentes do
STJ, e com votos favoráveis dos Ministros João Otávio de Noronha, Teori
Albino Zavascki, Castro Meira, Denise Arruda, Francisco Peçanha Martins,
José Delgado, Francisco Falcão e Franciulli Netto – admitiu sem rebuços a
concessão de tutela antecipada em ação rescisória, verbis:

“PROCESSUAL CIVIL – Ação rescisória – Tutela antecipada –


Excepcionalidade – Possibilidade – Artigos 273 e 489, do CPC/1973.
1. Revela-se cabível a antecipação dos efeitos da tutela em ação rescisória,
objetivando suspender a execução do acórdão rescindendo, desde que
presentes os requisitos do art. 273, do CPC-1973, mercê do disposto no art.
489, do mesmo diploma legal.
2. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça: AgRg na AR 2995/RS, rel. Min.
GILSON DIPP, Terceira Seção, DJ de 19.04.2004; AgRg na AR 1423/PE, rel. Min.
HAMILTON CARVALHIDO, Terceira Seção, DJ de 29.09.2003; AgRg na AR 1664,
rel. Min. JOSÉ DELGADO, Primeira Seção, DJ de 03.09.2001).
3. In casu, foi deferida, pela Primeira Turma em acórdão da relatoria do e.
Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, então relator da presente Ação Rescisória, a
realização de prova pericial destinada à demonstração de alegada falsidade do
laudo em que se baseou o acórdão rescindendo para a fixação da indenização
por desapropriação indireta, o que consubstancia o fumus boni juris da
antecipação dos efeitos da tutela. Por sua vez, o periculum in mora evidencia-se
no fato de que o Estado de São Paulo foi intimado em 27.04.2004 para se
manifestar, no prazo de 5 (cinco) dias, quanto ao levantamento da terceira
parcela da quantia depositada em juízo dos valores a que foi condenado a
indenizar o expropriado.
192

4. Agravo regimental desprovido” (AgRg na AR 1.291/SP, Primeira Seção, rel. Min.


LUIZ FUX, DJ 27.09.2004).

In casu, tendo os Autores demonstrado,


quantum satis, os requisitos do fumus boni juris (plausibilidade do direito
evidenciado nesta ação rescisória), bem como o periculum in mora, já que
os Autores foram privados da utilização dos imóveis rurais depois de 13
anos de exercício ininterrupto de posse mansa e pacífica, com
cumprimento da função social da posse, é cediço que se encontram
presentes os pressupostos para o deferimento da tutela antecipada aqui
pleiteada.

Destarte, restando plena e sobejamente


demonstrados os requisitos para a concessão de tutela provisória em sede
de ação rescisória, de modo a preservar o resultado útil do processo,
pugnam os Autores pela concessão do provimento para o fito de sustar os
efeitos do v. acórdão rescindendo, até que ocorra o julgamento de
mérito da rescisória, determinando-se a imediata expedição de mandado
de reintegração de posse em favor dos Autores Rotson André Orlandi e
Outros.

Afinal, entre tutelar os interesses de quem


está no desfrute do gozo e posse do bem há 13 (treze) anos e quem,
durante todo esse tempo – que são os Réus da ação rescisória – jamais
pisaram o pé no imóvel rural, é cediço que, salvo melhor e mais autorizado
juízo, deve Vossa Excelência prestigiar a posse de quem já estava
assentado na posse do bem há quase um quartel de século, de modo a
evitar que se perpetre uma injustiça inominável contra os Autores da
presente rescisória, que investiu pesadamente no imóvel rural e atualmente
se encontram fora dele.

V – OFERECIMENTO ESPONTÂNEO DE
CAUÇÃO REAL IDÔNEA
Nobre Desembargador Relator: visando
assegurar eventuais prejuízos que os Réus possam vir a sofrer, caso a
rescisória seja julgada improcedente – o que só se coloca por amor aos
debates, mas sem qualquer adesão à premissa – os Autores,
espontaneamente, oferecem e ofertam em CAUÇÃO, uma GARANTIA
REAL, aqui prestada por TERCEIRO INTERESSADO, qual seja, a empresa
TIGRE INVESTIMENTOS S.A. – que também promove uma Ação
Rescisória em face dos Réus (AR nº 157206/2016), consistente numa área
de terras devidamente registrada em nome da TIGRE INVESTIMENTOS
S.A., junto ao Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Cláudia,
Estado de Mato Grosso, objeto da Matrícula 707, Ficha n. 01, Livro 2,
Registro Geral, a seguir descrita de forma abreviada, já que a descrição
193

integral do bem se encontra na própria matrícula colacionada em anexo, a


saber:

“IMÓVEL: Uma área de terras com 2.669,1088 ha (dois mil, seiscentos e


sessenta e nove hectares, dez ares e oitenta e oito centiares), denominada de
Fazenda Cascavel, situada no município de União do Sul, Estado de Mato
Grosso, dentro dos seguintes limites e confrontações: (...) - vide Matrícula em
anexo.

Código do imóvel no INCRA: 901.164.182.532-2; CCIR nº 06029959054,


expedido em 03/04/2006 – Área total: 2.669,1000 hectares.

PROPRIETÁRIO: MADEIREIRA TIGRE LTDA., pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ sob o n. 83.231.555/0001-71, situada no município
de União do Sul/MT” (cf. Matrícula n. 707 em anexo).

É preciso aqui abrir um parênteses acerca da


titularidade de domínio da TIGRE INVESTIMENTOS S.A., que é a Autora
da Ação Rescisória Nº 157206/2016, para evitar qualquer discussão em
torno do assunto, principalmente pela parte contrária.

Com efeito, conforme expressamente consta do R-


2/707, na data de 17 de março de 2009 foi efetuado o Protocolo n.
4.237, com os seguintes dizeres:

“CISÃO: através do protocolo de cisão de 31 de agosto de 2004, e por


deliberação da 14ª alteração e consolidação de contrato social da empresa
Madeireira Tigre Ltda., de 06/09/2004, registrados na Junta Comercial do
Estado de Mato Grosso sob nº 20040584283, em 03/11/2004, a empresa
proprietária objeto de cisão parcial, com a versão do imóvel objeto desta
matrícula, dentre outros, à empresa TIGRE INVESTIMENTOS S.A., inscrita
no CNPJ/MF sob o n. 06.107.371/0001-53, com seu ato constitutivo registrado
na JUCEMAT sob nº 51300007801 em 21/01/2004, com sede na Estrada
Gladys, Município de Cláudia, Estado de Mato Grosso”.

Como se nota, por força da cisão que se operou, a


propriedade do imóvel rural dado em garantia real migrou a sua
titularidade da empresa MADEIREIRA TIGRE LTDA. para a empresa
denominada TIGRE INVESTIMENTOS S.A.. Já não bastasse isso, é de se
ressaltar que os sócios proprietários da empresa Tigre Investimentos S.A.
são os mesmos da Madeireira Tigre Ltda., aspecto esse que não deixa
194

nenhuma dúvida quanto à garantia ofertada, aqui prestada por TERCEIRO


INTERESSADO, já que a Tigre tem interesse direto na vitória dos Autores.

De outra banda, para que não haja nenhuma


dúvida e muito menos se suscite qualquer discussão em torno da
idoneidade da caução real ofertada, no que diz respeito ao seu aspecto
econômico e financeiro, foi elaborado um LAUDO DE AVALIAÇÃO DE USO
RESTRITO pelo conceituado Engenheiro Florestal Ricardo Yotzchetz Junior,
CREA n. 020610, que após profundo e meticuloso estudo, chegou à
seguinte conclusão acerca do imóvel que foi aqui ofertado em caução:

“7 – CONCLUSÃO
Admitindo a média dos dados homogeneizados como o valor que melhor
corresponde ao imóvel avaliado para o momento pode-se concluir que o valor
que melhor expressa é a quantia de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) por
hectare, o que totaliza R$ 40.648.800,00 (quarenta milhões, seiscentos e
quarenta e oito mil e oitocentos reais), valor esse que corresponde ao
preço de mercado do imóvel avaliado.

Entenda-se por valor de mercado a sua expressão monetária e teórica mais


provável a data de referência. Essa expressão corresponde teoricamente em
condições rotineiras e normais de mercado ao preço médio que será obtido
em negociações que atendam a lei de oferta e procura” (vide documento em
anexo).
Ora, o valor da caução real, que importa no
montante de R$ 40.648.800,00 (quarenta milhões, seiscentos e
quarenta e oito mil, oitocentos reais) dá para cobrir com folga as duas
Ações Rescisórias, motivo pelo qual é prestada a mesma garantia.

VI – DOS PEDIDOS
Em harmonia com o exposto, requer a
autora se digne Vossa Excelência de:

m) Admitir, conhecer e determinar o regular


processamento da vertente ação rescisória, que
195

encontra fundamento expresso no inciso V do art.


966 do novo Código de Processo Civil, consoante o
qual “A decisão de mérito transitada em julgado,
pode ser rescindida quando: violar manifestamente
norma jurídica”; in casu, restou plenamente
demonstrado que foram violadas de forma ostensiva
os artigos 560 e 561 do Código de Processo Civil, e
artigo 1.196 do Código Civil, de modo que a
rescisória é plenamente cabível.

n) Uma vez admitida a actio, seja imediatamente


CONCEDIDA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
para o fim de sustar os efeitos do v. acórdão
rescindendo, de modo a reintegrar os Autores na
posse dos imóveis rurais Fazendas Angelim, Tapajós,
Alvorada, Vale Verde, Leão Negro, Cambará, Bom
Retiro e Nossa Senhora Aparecida, cujas áreas
perfazem o montante de 16.530 has (dezesseis
mil, quinhentos e trinta hectares), de uma área
maior de 39.000 has, estando os imóveis dos Autores
assim discriminados:

ROTSON ANDRÉ ORLANDI – 1.848,00 hectares – Faz. Angelim;

LEOMAR TÁPPARO – 1.977,00 hectares – Faz. Tapajós;

JADER ROBERTO DA SILVA – 2.147,9983 hectares – Faz. Alvorada;

GILVANEI E. DE ALMEIDA – 2.151,9054 hectares – Faz. Vale Verde;

JAIRO KRAUSE – 2.111.2450 hectares – Faz. Leão Negro

ROMULO AFONSO ROHDEN – 2.107,8821 hectares – Faz. Cambará;

VILSON LUNKES – 2.451,1455 hectares – Faz. Bom Retiro

RAIMUNDO A. DE SOUZA – 1.736,2076 hectares – Faz. Nossa


Senhora Aparecida...

cujas delimitações e individuações encontram-se


descritas nos Memoriais Descritivos elaborados por
profissional competente, sendo certo que a posse
remonta aos idos de 2003 e, estando os Autores no
imóvel há mais de 13 (treze) anos, não há nenhum
risco de que a medida seja irreversível para a parte
contrária, sendo certo, outrossim, que a não
concessão do provimento liminar causará danos
196

irreparáveis para os Autores, que não podem ser


atingidos pelo cumprimento de sentença de uma
demanda possessória na qual jamais figuraram
como partes e/ou sucessores, uma vez que as áreas
rurais acima discriminadas foram ocupadas para fins
de regularização fundiária, aspecto esse, inclusive,
que foi reconhecido por inúmeras Resoluções
editadas pela Assembléia Legislativa do Estado de
Mato Grosso e publicadas no Diário Oficial, como já
demonstrado, de modo que, se a posse dos Autores é
originária, pois não decorre de nenhum negócio
jurídico, eles somente poderiam ser atingidos pela
decisão se fizessem parte do processo possessório, o
que nunca ocorreu;

o) Requer, outrossim, após a concessão da tutela


provisória de urgência satisfativa dos efeitos da
decisão final, seja ordenada a citação dos Réus,
“designando prazo nunca inferior a 15 (quinze) dias
nem superior a 30 (trinta) dias para, querendo,
apresentar resposta, ao fim do qual, com ou sem
contestação, observar-se-á, no que couber, o
procedimento comum” (redação do art. 970 do CPC-
2015).

p) NO MÉRITO, requer seja concedida a rescisória para


os seguintes escopos: (i) no âmbito do juízo
rescisório, seja decretada a rescisão do v. acórdão
proferido nos autos da Apelação 72759/2013, da
egrégia Sexta Câmara Cível desse Sodalício, uma vez
que o v. acórdão rescindendo violou de forma
manifesta e literal os artigos 560 e 561 do novo
Código de Processo e artigo 1.196 do Código Civil;
(ii) uma vez decretada a rescisão do v. acórdão, seja
proferido novo julgamento (dicção do inc. I do art.
968 do novo CPC), para o fim de reconhecer a
condição de possuidores originários dos Autores,
de forma a julgar procedente a pretensão de direito
material que foi veiculada na Ação de Embargos de
Terceiro objeto do Processo nº 0000597-
46.2006.8.11.0093, que tinha a numeração
143/2006, e objeto do Código 45237, para assegurar,
em definitivo, a posse dos imóveis rurais acima
individuados (v. item “b” supra), conforme as
descrições pormenorizadas constantes do Memorial
197

Descritivo, imóveis rurais esses situados no município


e comarca de Feliz Natal, Estado de Mato Grosso,
pois só assim é que estará Vossa Excelência
praticando ato da mais lídima e sempre soberana

J U S T I Ç A!!!

q) Os Autores requerem provar o alegado por todos os


meios de prova em direito admitidos, especialmente
juntada de novos documentos, se necessário.

r) A presente ação rescisória vem acompanhada do


depósito de 5% (cinco por cento) sobre o valor
da causa, cumprindo, assim, a exigência imposta
pelo inc. II do art. 968 do novel Diploma Processual.

Dá-se à presente ação o valor de R$ 184.094,94


(cento e oitenta e quatro mil, noventa e quatro reais
e noventa e quatro centavos), que corresponde ao
valor atualizado atribuído à ação principal (Embargos
de Terceiro) cuja rescisão se pleiteia, que, em
13/04/2006, correspondeu a R$ 100.000,00 (cem mil
reais), cuja planilha de cálculo atualizada acompanha
a documentação da presente actio.

Assim, acerca do valor da causa na ação


rescisória, por todos, julgado do egrégio Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, que reflete o
entendimento unânime da jurisprudência: “Não há
dúvida de que o valor a ser considerado na ação
rescisória é aquele atribuído à ação cujo acórdão ou
sentença se procura rescindir. Assim, deve-se aplicar
a correção monetária ao respectivo valor,
recuperando-lhe o mesmo poder primitivo que a
inflação corroeu” (RT 653/145).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Cuiabá, 08 de dezembro de 2016.

JOÃO AUGUSTO CAPELETTI


198

ADVOGADO
199

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE


DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO.

URGENTE

Ação rescisória com pedido de medida liminar para sustar o


cumprimento do v. acórdão rescindendo.

Fundamentos legal: artigo 969 do novo CPC.

Ação rescisória visando a rescisão de v. acórdão da 6ª Câmara Cível deste


egrégio Tribunal.

TIGRE INVESTIMENTOS S.A., pessoa


jurídica de direito privado, com sede estabelecida na Estrada Gladys, s/nº,
Centro, no município de Cláudia, Estado do Mato Grosso, inscrita no CNPJ
sob o nº 06.107.371/0001-53, conforme Ata de Assembléia Geral de
Constituição de Sociedade Anônima registrada na JUCEMAT em 21/01/2004,
sob n. 51300007801, neste ato representada por seu sócio IVANI
ORLANDI, brasileiro, empresário, portador da cédula de identidade RG n.
1964357-SSP/PR e do CPF sob o n. 335.943.259-20, domiciliado na cidade
de Cláudia/MT, onde reside na Rua Campos Sales, 896, Centro, por seu
advogado in fine assinado, ut instrumento de mandato colacionado em
anexo (doc. incluso), vem, com o devido acato a Vossa Excelência, com
200

fundamento nos artigos 966, V, 967, I, 968, I e II, 969, 974, caput, e 975,
todos do novo Código de Processo Civil, promover a vertente...

AÇÃO RESCISÓRIA com pedido de medida


liminar para sustar os efeitos do v.
acórdão rescindendo
em desfavor de ESPÓLIO DE EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA
BONINI, na pessoa de sua inventariante VANESSA FRANÇA BONINI
PANICO, brasileira, casada, administradora de empresa, portadora do CPF
nº 062.635.828-04. residente e domiciliada na Rodovia São Paulo, 328, no
Km 310, Condomínio Veneza, casa 16, no município de Ribeirão Preto,
Estado de São Paulo; podendo, outrossim, ser encontrada no seguinte
endereço: Av. Costábile Romano, 2201, Ribeirância, na cidade de Ribeirão
Preto, Estado de São Paulo; e FUNDAÇÃO FERNANDO EDUARDO LEE,
pessoa jurídica inscrita no CNPJ sob o n. 52.039.435/0001-43, com sede na
Avenida Atlântica, 900, bairro Enseada, em Guarujá, Estado de São Paulo,
CEP 11442-070, na pessoa de seu representante legal, haja vista os
relevantes motivos fáticos e fundamentos jurídicos que, de ora avante,
passa articuladamente a alinhar:

I – DO CABIMENTO DA RESCISÓRIA
Antes de adentrarmos na preliminar de
nulidade absoluta da sentença em razão da inexistência de formação do
litisconsórcio passivo necessário; ou, caso ela não seja acolhida, no
meritum causae da presente demanda rescisória, que visa a rescisão de v.
acórdão transitado em julgado da Sexta Câmara Cível do egrégio Tribunal
de Justiça do Estado de Mato Grosso (fls. 1.207 a 1.213/verso – vol. VI em
anexo), é indispensável demonstrar o cabimento da presente ação
rescisória.

Prima facie, cabe ao Autor demonstrar o


preenchimento do disposto no art. 966, inciso V, do novo Código de
Processo Civil, consoante o qual: “A decisão de mérito, transitada em
julgado, pode ser rescindida quando: (...) V – violar manifestamente norma
jurídica”.

Pois bem.

A r. decisão de mérito transitada em


julgado que se pretende rescindir é o v. acórdão proferido pela colenda
Sexta Câmara Cível desta Corte, nos autos da Apelação nº 72757/2013,
Comarca de Feliz Natal-MT, de relatoria da Exma. Sra. Desa. Serly
201

Marcondes Alves, cuja ementa pedimos vênia para transcrever, com


destaque para os itens 5 e 6, verbis:

“E M E N T A

APELAÇÃO CÍVEL – POSSESSÓRIA – AÇÃO DE EMBARGOS DE


TERCEIRO – PRELIMINARES – SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL –
POSSIBILIDADE – ARTIGO 1061 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL –
AGRAVO RETIDO – REJEITADO – FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO
DA SENTENÇA – INOCORRÊNCIA – CERCEAMENTO DE DEFESA –
INCORRÊNCIA – CARACTERIZADO O POSSUIDOR COMO FÂMULO
DA POSSE – IMPOSSIBILIDADE DE INVOCAR PROTEÇÃO
POSSESSÓRIA – RECURSO IMPROVIDO.
1. Da exegese do artigo 1.061 do Código de Processo Civil de 1973, tem-se
que o adquirente do bem litigioso poderá substituir o alienante ou o
cessionário falecido, independentemente da parte contrária consentir, desde
que junte aos autos o título e prove a sua identidade.
2. Agiu com acerto o Juízo singular ao indeferir o pedido de reconsideração
do apelante, porquanto tendo sido devidamente intimado para especificar
as provas que pretendia produzir e deixando de atender a determinação do
juiz, houve preclusão temporal em face do decurso do tempo sem a prática
do ato.
3. Não há que se falar em falta de fundamentação, somente porque o
julgamento não está de acordo com o pleiteado pela parte.
4. Não há que se falar em cerceamento de defesa por não terem sido
julgadas simultaneamente esta ação e a ação declaratória negativa de
domínio, porquanto não ser comum o objeto e a causa de pedir.
5. Demonstrado que o apelante não era possuidor, mas mero
detentor da propriedade em questão, subordinado as ordens de
outra pessoa, não pode alegar posse e consequentemente ter a sua
disposição proteção possessória.
6. Em observância a regra sobre o ônus da prova, competia ao
embargante/apelante fazer prova de que era possuidor da
propriedade em questão, nos termos do artigo 331, inciso I, do
Código de Processo Civil de 1973, ônus que não se desincumbiu,
assim, perfeita a sentença do Juízo singular ao julgar pela
improcedência dos presentes embargos de terceiro” (vide v. acórdão
em anexo – VI vol. – fls. 1.207 e ss).

É supinamente relevante destacar que a


competência para apreciar e julgar a presente rescisória é do egrégio
202

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO. Isso porque,


malgrado tenha ocorrido a interposição do Recurso Especial nº
1.546.237/MT, é certo que esse apelo nobre não foi conhecido pelo colendo
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, consoante se pode aquilatar das
seguintes passagens do REsp, bem como de sua parte dispositiva, verbis:

“Consoante se verifica, as instâncias ordinárias, soberanas na análise das


circunstâncias fáticas, entenderam que ocorreu a preclusão temporal do
direito da recorrente especificar as provas. Ademais, os elementos dos autos
se mostraram suficientes para solucionar a demanda. Portanto, modificar tal
entendimento demandaria o reexame do contexto fático-probatório dos
autos, providência vedada no recurso especial pelo óbice da Súmula nº
7/STJ, conforme se observa nos precedentes aqui reproduzidos.
(...)
Ante o exposto, NEGO SEGUIMENTO AO RECURSO ESPECIAL” (vide
julgado em anexo – doc. nº 5).

Ora, o uso da locução “nego seguimento


ao Recurso Especial” não deixa margens a dúvidas no sentido de que o
egrégio STJ não examinou o mérito da pretensão recursal excepcional.
Tanto que o óbice da Súmula nº 7/STJ foi invocado.

Nesse contexto, salta aos olhos que a


última decisão de mérito foi proferida pela Sexta Câmara Cível deste
egrégio Sodalício, motivo pelo qual é competente esta Corte para apreciar a
vertente rescisória.

De outra banda, como a rescisória deve ser


veiculada no prazo decadencial de 2 (dois) anos, ex vi do disposto no art.
975 do novel Diploma Processual, temos que a demanda ora aforada está
dentro do prazo, pois, conforme CERTIDÃO DE TRÂNSITO EM JULGADO
E TERMO DE BAIXA subscrito pela Coordenadoria da Terceira Turma do
STJ, o processo rescindendo transitou em julgado na data de 10 de
novembro de 2015 (vide doc. nº 4). Portanto, o prazo escoa somente em
10 de novembro de 2017.

De outro giro, no concernente à legitimidade


da Requerente TIGRE INVESTIMENTOS S.A. para figurar no polo ativo da
ação rescisória, além de encontrar agasalho na redação do art. 967, inc. I,
do novo CPC, é certo que a sua legitimidade foi expressamente reconhecida
pelo v. acórdão rescindendo, conforme se extrai da seguinte passagem:

“Egrégia Câmara:

TIGRE INVESTIMENTOS S.A., pessoa jurídica de direito privado, peticionou às


folhas 937/938 pleiteando que lhe seja deferido substituir processualmente o
apelante/embargante GERALDO ALBERTO BORGES DE OLIVEIRA JÚNIOR,
203

sob o fundamento de que teria adquirido a propriedade em questão, conforme a


cópia da Escritura Pública de Venda e Compra (fls. 957/960).
Às folhas 969/973, o apelado peticionou informando que não concorda com a
substituição processual.
Determinou-se a intimação dos herdeiros do falecido GERALDO ALBERTO
BORGES DE OLIVEIRA JÚNIOR para dizerem a respeito da pretensa substituição
processual, sob pena de preclusão (fl. 990).
O espólio de Geraldo Alberto Borges de Oliveira, representado por seu
inventariante Marcelo Silveira Borges de Oliveira, peticionou informando que não
tem nada a opor quanto ao pedido de substituição processual (fls. 1142/1143).
O artigo 1.061 do Código de Processo Civil (1973) dispõe: “Art. 1.061. Falecendo
o alienante ou o cedente, poderá o adquirente ou o cessionário prosseguir na causa
juntando aos autos o respectivo título e provando a sua identidade”.
Da exegese do referido artigo, tem-se que o adquirente do bem litigioso poderá
substituir o alienante ou o cessionário falecido, independentemente da parte
contrária consentir, desde que junte aos autos o título e prove a sua identidade.
Na hipótese, constata-se que o pretenso substituto processual provou a sua
identidade com a cópia da ata de assembleia geral de constituição de sociedade
anônima, registrada na Junta Comercial (fls. 940/954), bem como juntou a cópia da
Escritura Pública de Transmissão de Domínio, Posse e Benfeitorias (fls.).
Ante o exposto, REJEITO a preliminar.
É como voto”.

Como se nota, a transcrição de parte do v.


acórdão rescindendo, no que toca à legitimidade ativa ad causam da
empresa TIGRE INVESTIMENTOS S.A., deixa patente a sua legitimidade
para a vertente rescisória.

Destarte, tendo sido demonstrados os


requisitos de admissibilidade da presente ação rescisória, a saber: (i) que a
decisão de mérito transitou em julgado, e corresponde ao v. acórdão
rescindendo da Sexta Câmara Cível do TJMT (art. 966, caput, e inc. V),
sendo que o fundamento que autoriza a rescisória é o inciso V do art. 966:
“... violar manifestamente norma jurídica”; (ii) que ela está sendo aviada
dentro do bienio decadencial, em cumprimento ao art. 975 do CPC-2015;
(iii) que o autor tem legitimidade ad causam (art. 967, inc. I: sucessor do
alienante), passa-se, doravante, ao exame da preliminar de nulidade
absoluta da sentença transitada em julgado; e, para a hipótese de não
acolhimento da questão preliminar, ad cautelam, passa-se ao exame do
mérito da presente actio, em que será demonstrada a violação ostensiva de
normas jurídicas do Código Civil.

II – DA PRELIMINAR DE NULIDADE
ABSOLUTA DA SENTENÇA
204

Nobre Desembargador Relator: a atenta


leitura dos autos de Embargos de Terceiro – Processo nº 2008/54 – Código
47358 – proposta pelo embargante Geraldo Alberto Borges de Oliveira Jr.
em desfavor de Espólio de Evandro Alberto de Oliveira Bonini revela, com
solar clareza, um vício de nulidade absoluta da sentença, por ausência de
citação de litisconsorte passivo necessário.

Com efeito, proposta a demanda de


Embargos de Terceiro, o Juiz de Direito em substituição legal na comarca de
Feliz Natal – Dr. WANDERLEI JOSÉ DOS REIS, reconhecidamente um dos
Magistrados mais brilhantes do nosso Estado – com a cautela, a sabedoria e
a prudência que lhe são peculiares, proferiu o seguinte despacho:

“Vistos etc.

1. Em que pesem os argumentos expostos na exordial,


entendo conveniente a justificação prévia do alegado, já que a
prova não se mostra, desde logo, segura para o deferimento
da proteção possessória intentada, cumprindo, assim, a
determinação contida no Ofício Circular nº 414/05 –
CGJ/DJA, de 16/08/2005, oriundo da Egrégia Corregedoria
Geral da Justiça deste Estado.

2. Dessarte, dada a urgência da medida anelada na peça de


ingresso, designo o dia 08/08/2008, às 16h, para tal
desiderato, devendo o embargante arrolar tempestivamente as
testemunhas que desejar que sejam ouvidas por este Juízo.

3. Intime-se e notifique-se o embargante e seu procurador,


salientando que as testemunhas a serem ouvidas por este
Juízo deverão comparecer independentemente de intimação.

4. A citação será determinada após a realização da audiência


designada, na decisão que apreciar o pedido de liminar.

5. Expeça-se o necessário.

Cumpra-se.

Pois bem. A decretação de nulidade


absoluta da sentença que ora se persegue nesta rescisória surgiu exata e
precisamente durante a realização da Audiência de Justificação de Posse dos
Embargos de Terceiro, mais precisamente na rubrica “Ocorrências”, no
momento em que foi dada a palavra ao advogado do Embargado Espólio de
Evandro Alberto de Oliveira Bonini – Dr. Juliano Tramontina, que requereu
expressamente e por escrito a seguinte providência:
205

OCORRÊNCIAS

“Iniciada a audiência, apregoadas as partes, compareceram os


acima indicados como presentes o embargado espólio
compareceu a audiência representado por seu procurador Juliano
Tramontina. Tentada a conciliação, esta restou infrutífera. Em
seguida foi colhido depoimentos de duas testemunhas trazidas
pelo embargante. (...) Dada a palavra ao advogado do
embargado: requer a citação do litisconsorte passivo
necessário, a FUNDAÇÃO FERNANDO EDUARDO LEE para figurar
no polo passivo da presente ação em face de ser a proprietária
em questão”.

Acerca desse pedido formulado pelo


embargado Espólio de Evandro Alberto de Oliveira Bonini, o Juiz de Direito
que presidiu a Audiência de Justificação de Posse proferiu a seguinte
decisão:

DELIBERAÇÕES

“Pelo MM. Juiz foi proferida a seguinte decisão: “Venham os


autos conclusos para apreciação dos pedidos. Saem os presentes
intimados” (fls. 34 dos autos – vol. I).

Não obstante o embargado ter requerido a


citação do litisconsorte passivo necessário, nada foi feito pelo advogado do
embargado – Dr. Juliano Tramontina, já que o mesmo saiu devidamente
intimado da Audiência de Justificação.

Com efeito, ao apresentar a longa


Contestação de fls. 39 usque 70 constante do vol. I da ação de Embargos
de Terceiro, não houve a habilitação na contestação da FUNDAÇÃO
FERNANDO EDUARDO LEE, nem foi juntado pelo embargado ou por seus
advogados qualquer instrumento de procuração dessa pessoa jurídica,
dando a impressão de que o que foi requerido em audiência tinha sido
relegado para momento posterior ou simplesmente caído no
“esquecimento”, não obstante a Fundação figurar como proprietária do
imóvel rural em disputa, o que tornava indispensável a sua participação no
processo, já que a mesma era litisconsorte passiva necessária.

Passados aproximadamente três (3) meses


da Audiência de Justificação, o Magistrado que proferiu a decisão liminar em
favor do embargante, ora Autor da presente rescisória, chamou a atenção
206

da defesa do embargado para a situação do litisconsorte passivo


necessário, consoante se pode aquilatar da seguinte passagem da decisão
interlocutória, verbis:

“[...]
Por outro lado, não encontro nos autos nenhuma defesa produzida pela
Fundação Fernando Eduardo Lee, pessoa jurídica de direito privado que,
salvo engano, com a morte da pessoa de Evandro Alberto de Oliveira
Bonini, veio a lhe suceder, assim como a sua citação.
Em virtude disso, determino a formalização do ato, oportunizando-lhe o
oferecimento de defesa dentro do prazo legal” (cf. fls. 11-12 da decisão
de fls. 119 inserida dentro do vol. I).

Ora, o que ocorreu a partir da prolação


dessa decisão? Por incrível que pareça, a Fundação Fernando Eduardo Lee,
não obstante já tivesse saído intimada do seu requerimento de ingresso no
feito na condição de litisconsorte passivo necessário (requerimento esse
feito na Audiência de Justificação) – já que ela figura como proprietária do
imóvel rural em disputa – mais uma vez, malgrado o Juízo da Comarca de
Feliz Natal lhe tivesse dado a oportunidade de regularizar e formalizar o
ato processual, oportunizando-lhe o oferecimento de defesa dentro
do prazo legal, a Fundação deixou escoar in albis a determinação judicial
expressa na decisão interlocutória, não requerendo absolutamente nada,
nem mesmo a regularização processual da Fundação Fernando Eduardo Lee,
pois até a prolação da sentença de fls. 785/792, inserida no vol. IV, não
existe a prática de nenhum, absolutamente nenhum ato processual
praticado pela Fundação, de modo que, se a sentença lhe beneficiou, como
se verá, é indiscutível que tal sentença de mérito é ineficaz, por ausência
de regularização no pólo passivo de formação de litisconsorte passivo
necessário.

Aliás, já não bastasse o fato de que em


duas oportunidades o Juízo da Comarca de Feliz Natal tivesse chamado a
atenção da Fundação para regularizar sua situação processual, também a
Juíza Dra. Paula Saide Biagi Messen Mussi Casagrande, ao atuar no
processo, igualmente chamou a atenção da Fundação para a questão da
regularização do pólo passivo, pois sendo a mesma litisconsorte passiva
necessária, a sentença, para ser eficaz, deve contar com a regularização
processual da Fundação, sob pena de nulidade absoluta da sentença de
mérito.

Com efeito, ao chamar o feito à ordem, a


ilustre Magistrada da comarca de Feliz Natal consignou em alto e bom som
a seguinte passagem:
207

“Autos nº 54/2008

Vistos etc.

Cuida-se de Embargos de Terceiro ajuizado por Geraldo Alberto


Borges de Oliveira Junior em desfavor do Espólio de Evandro
Alberto de Oliveira Bonini, o qual ajuizou ação possessória em
desfavor de Plácido Brolin.

Realizou-se audiência de justificação prévia, fls. 34/36, sendo que


nesta oportunidade, requereu-se a inclusão da Fundação Fernando
Eduardo Lee no polo passivo da demanda, além do que, o
embargado Espólio de Evandro Alberto de Oliveira Bonini
apresentou contestação, consoante se infere às fls. 39/70” (vide fls.
587 dos autos – vol. III).

Como se nota, não obstante a Fundação ter


tido três (3) oportunidades para regularizar sua situação processual de
litisconsorte passiva necessária, nas três oportunidades ela quedou-se
omissa e não tomou qualquer providência. Nem mesmo na peça de
MEMORIAL DE ALEGAÇÕES FINAIS feita pelo embargado Espólio de Evandro
Alberto de Oliveira Bonini – que era a última oportunidade processual
antes da prolação da sentença – aparece o nome da Fundação, e muito
menos a juntada de qualquer documento idôneo a regularizar sua situação.

Sucede que, para surpresa e perplexidade


da autora da presente actio, o Juízo de Direito da comarca de Feliz
Natal/MT, ao prolatar a sentença de mérito, consignou expressamente em
sua parte dispositiva, verbis:

“Pelo exposto e de tudo mais que dos autos consta, (I) JULGO
IMPROCEDENTE pedido formulado na inicial ajuizada por
Geraldo Alberto Borges de Oliveira Junior em face de Evandro
de Oliveira Bonini – Espólio e FUNDAÇÃO
FERNANDO EDUARDO LEE, todos devidamente
qualificados nos autos; (II) REVOGO A LIMINAR deferida nestes
autos; e (III) DETERMINO a retomada do curso normal do
processo principal, fixando o prazo de 30 (trinta) dias para
desocupação voluntária da área pelo embargante.

Por conseguinte, julgo extinto o processo com resolução do


mérito, o que faço com fulcro no art. 269, inciso I do CPC/1973.
208

Condeno o requerente ao pagamento das custas processuais e


honorários advocatícios que fixo em 15% do valor da causa, pro rata
entre os vencedores, o que faço com espeque no artigo 20, §3º, do
CPC/1973.

Traslade-se cópia da presente aos autos principais.

Considerando que a instrução da presente demanda foi realizada em


conjunto com os autos n. 143/2006 (45237), e que nestes autos
consta apenas a ata da audiência realizada, proceda-se à extração
de cópias dos termos de assentada e registro audiovisual encartados
às fls. 1159/1162 do feito suso mencionado, juntando-se a estes
autos.

Cumpra-se a decisão de fl. 654 no que pertine ao desentranhamento


da petição de fls. 106/107 (impugnação ao valor da causa) para seu
regular processamento, procedendo-se nos termos do art. 261 do
CPC/1973.

Dou esta por publicada com a entrega na escrivania. Dispensado o


registro na forma do Provimento nº 42/2008/CGJ/MT, intimem-se e
cumpra-se.

Às providências.

De Vera/MT, para Feliz Natal, 29 de maio de 2012.

Paula Saide Biagi M. Mussi Casagrande


Juíza de Direito

Ora, data maxima et maxima venia, a


sentença de mérito é absolutamente equivocada quando consigna: (i) que
a demanda foi aforada em face da Fundação Fernando Eduardo Lee; (ii)
que ela se “... encontra devidamente qualificada nos autos...”.

Longe disso, apesar de ter sido dada três


(3) oportunidades para a Fundação regularizar sua situação processual de
figurante no pólo passivo da demanda, em nenhum momento ela se
aportou aos autos, de modo que, figurando a Fundação como proprietária
do imóvel rural em disputa, ela não pode ser beneficiada por uma sentença
ineficaz, já que a sua situação de litisconsorte passivo necessário
exige, obrigatoriamente, para validade e eficácia da sentença, que ela
figurasse no processo de forma regular como litisconsorte passiva
necessária.
209

Deveras, o novo Código de Processo Civil é


de uma clareza solar ao consignar a necessidade de participação do
litisconsorte passivo necessário, sob pena de ineficácia da sentença em
relação ao mesmo, conforme se pode extrair da leitura dos artigos 114 e
155, II, e seu parágrafo único, verbis:

“Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou


quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia
da sentença depender da citação de TODOS QUE DEVAM SER
LITISCONSORTES.

Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração


do contraditório, será:
[...]
II – ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram
citados.
Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o
juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam
ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção
do processo”.

A inteligência desses dispositivos legais


deixa claro que a sentença de mérito proferida pelo d. Juízo da comarca de
Feliz Natal, para ter eficácia, isto é, para produzir efeitos no mundo
empírico, no mundo fenomênico, depende, como diz a parte final do art.
114, da citação de “... todos que devam ser litisconsortes...”.

III – O ASSUNTO NA JURISPRUDÊNCIA


POSCIONAMENTO DOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA
A jurisprudência dos Tribunais de Justiça de
norte a sul do país é uníssona no sentido de que, havendo litisconsorte
passivo necessário no processo, a sua ausência no feito acarreta a
nulidade absoluta da sentença, ou seja, a sentença é ineficaz, não
produzindo efeitos.

Assim, a título de ilustração, pedimos vênia


para trazer à colação os seguintes arestos, que demonstram que, em torno
desse tema, NÃO EXISTE DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. Confira os 5
(cinco) arestos selecionados (já que são centenas os julgados nesse
diapasão), verbis:

I-) “CONDOMÍNIO – Edifício de apartamentos – Garagem – Terreno


invadido pelo condomínio – Reivindicatória – Litisconsórcio passivo
necessário – Obrigatoriedade de citação pessoal de cada condômino.
210

No regime do condomínio em edifício a cada apartamento ou unidade


autônoma corresponde uma fração ideal sobre o terreno e partes comuns do
prédio.
Tratando-se de pretensão oponível à comunhão, é imprescindível a citação
pessoal de cada condômino, porque cada comunheiro tem interesse legítimo a
defender com exclusividade” (AI 88.434-1, Quinta Câmara do TJSP, rel. Des. MÁRCIO
BONILHA, j. 11.06.1987, RT 623/64).
II-) “SENTENÇA – Nulidade – Reivindicatória – Litisconsórcio necessário –
Falta de citação da mulher – Ineficácia – Apelação provida – Inteligência
do art. 47 do CPC/1973 (correspondente aos arts. 114 e 115, parágrafo
único).
A lei processual civil estabelece litisconsórcio necessário de marido e mulher
nas ações reais quando colocados no polo passivo da demanda. E, tratando-se
de litisconsórcio necessário, a eficácia da sentença depende da presença de
todos os litisconsortes no processo. A SENTENÇA PROFERIDA SEM ESSA
FORMALIDADE CONSIDERA-SE INUTILITER DATUR, NÃO PRODUZINDO
EFEITOS EM RELAÇÃO AOS QUE NÃO PARTICIPARAM DO PROCESSO
COMO, TAMBÉM, QUANTO AOS QUE DELE PARTICIPARAM” (Ap 62.616-1,
Segunda Câmara do TJSP, rel. Des. MORETZSOHN DE CASTRO, j. 06.08.1985, RT
602/92).

III-) “ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA – Litisconsórcio passivo necessário –


Obrigatoriedade – Imóvel gravado com hipoteca registrada em favor de
agente financeiro.
Ementa da Redação: O imóvel gravado com hipoteca, devidamente registrada
em cartório de registro de imóveis em favor de agente financeiro (credor
hipotecário) não pode ser adjudicado compulsoriamente sem a participação
daquele no pólo passivo como litisconsorte passivo necessário” (Ap 27309-
6/2001, Primeira Câmara do TJBA, rel. Desa. RUTH PONDÉ LUZ, j. 10.04.2002, RT
807/332).

IV-) “SENTENÇA – Nulidade – Ocorrência – Litisconsórcio necessário –


Usucapião – Decisão homologatória – Ausência de conhecimento do
processo ao terceiro interessado – Inadmissibilidade – INVALIDAÇÃO DE
TODOS OS ATOS DO PROCESSO, DEVENDO TER SEU TRÂMITE REGULAR –
Garantia à parte lesada do direito de contestar e usufruir da garantia do
contraditório e da ampla defesa.
Restando evidenciado que o terceiro interessado é litisconsorte necessário ao
qual não se deu conhecimento do processo, impõe-se a cassação da
sentença e o reconhecimento da nulidade do processo ab initio, que
deverá ter seu trâmite regular, garantindo-se à parte lesada o direito de
contestar e usufruir da garantia do contraditório e da ampla defesa” (Ap
101.004.2007.002764-8, Segunda Câmara do TJRO, rel. Des. RENATO MIMESSI, DJE-RO
25.06.2008, RT 877/333).

V-) BUSCA E APREENSÃO – Documento de registro de veículo automotor


devidamente assinado – Litisconsórcio passivo necessário – TITULAR DO
211

BEM QUE DEVE FIGURAR NO PÓLO PASSIVO DA LIDE, COMO


LITISCONSORTE, UMA VEZ QUE ESTARÁ SUJEITO AOS EFEITOS DA
DECISÃO.
Tendo a demanda de busca e apreensão por objeto documento de registro de
veículo automotor que se encontra inclusive assinado, deve o titular do bem
figurar na lide na condição de litisconsorte, eis que está sujeito aos efeitos da
decisão, que poderá refletir diretamente em sua órbita jurídica.
Na sua falta deve ser reconhecida a nulidade do processo desde a citação” (Ap
5752, Primeira Câmara do TJTO, rel. Des. AMADO CILTON, j. 23.01.2008, RT 871/377).

Ora, a conclusão que se extrai dos julgados


acima transcritos é a de que, em se tratando de litisconsórcio passivo
necessário, como decorre dos artigos 114 e 115, parágrafo único, ambos do
novo CPC, A EFICÁCIA DA SENTENÇA DEPENDE DA PRESENÇA DE
TODOS OS LITISCONSORTES NO PROCESSO. In casu, como restou
provado e demonstrado com esteio na prova documental e arrazoados da
Ação de Embargos de Terceiro, que a pessoa jurídica FUNDAÇÃO
FERNANDO EDUARDO LEE nunca participou da relação jurídica
processual em sede de primeiro grau – mesmo instada a participar em
três (3) oportunidades – é cediço que a sentença de mérito não pode
beneficiá-la, como equivocadamente incidiu o Juízo de Feliz Natal.

Na expressão do grande jurista italiano


GIUSEPPE CHIOVENDA, a sentença proferida sem essa formalidade –
presença do litisconsorte necessário no polo passivo – “... considera-se
inutiler datur, não produzindo efeitos em relação aos que não
participaram do processo, como também quanto aos que dele
participaram...”.

Por conseguinte, mostra-se insatisfatória a


conclusão da r. sentença proferida nos Embargos de Terceiro (Código
47358): se a sentença subsistisse em relação ao Espólio, como poderia a
Fundação Fernando Eduardo Lee, que é a proprietária do imóvel, beneficiar-
se dos efeitos da sentença, se a sentença em relação à Fundação é ineficaz?
De que lhe valeria a vitória obtida na demanda dos Embargos, se ela nunca
participou da relação jurídica processual? Como pode uma pessoa colher
frutos de uma decisão, se ela nunca interviu no processo em primeiro grau?
De outra parte, se a sentença prolatada na demanda de Embargos de
Terceiro é absolutamente ineficaz – como deflui dos artigos 114 e 115,
parágrafo único, novo CPC – como poderia o espólio executá-la em face de
Geraldo Alberto Borges de Oliveira Jr., que foi sucedido pela Tigre
Investimentos S.A.???

A solução que se impõe, s. m. j., só poderá


ser a ora postulada pela Autora da presente actio: a decretação da
NULIDADE ABSOLUTA DA SENTENÇA EXEQUENDA e,
212

consequentemente, A ANULAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS QUE A


PRECEDERAM.

Discute-se doutrinariamente se a sentença


assim proferida é nula ou inexistente. O fato é, porém, que é inútil, não
produz efeito algum. A propósito, o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, que
a par de endossar a tese da inexistência, concluiu que “... uma sentença dada sem
regular citação do réu é portadora de NULIDADE ABSOLUTA, insuscetível de ser sanada
pelo trânsito em julgado; e que, consequentemente, essa nulidade pode ser pronunciada não só
em sede de ação rescisória, mas igualmente através de embargos à execução ou de ação
declaratória de nulidade absoluta e insanável da sentença” (RE 97.589, Primeira Turma do STF,
rel. Min. MOREIRA ALVES, j. 17.11.1982, RT 588/245).

O fato de a sentença ter sido confirmada em


2º grau de jurisdição, nada altera a questão, uma vez que a matéria objeto
do cumprimento de sentença não foi questionada na Ação de Embargos de
Terceiro, inexistindo, assim, coisa julgada a respeito da relação jurídica
substancial que foi objeto daquele processo.

Ademais disso, como proclamou o colendo


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO: “O litisconsórcio
necessário é matéria de ordem pública, que deve ser reconhecida de ofício
pelo julgador” (Ap 169889-7, 3ª Câmara do TJPE, rel. Des. SILVIO DE ARRUDA BELTRÃO,
DJPE 02.02.2011, RT 907/1041).

À VISTA DO EXPOSTO, com espeque na


redação dos artigos 114 e 115, parágrafo único, ambos do novo Código de
Processo Civil, pugna a autora Tigre Investimentos S.A. pela decretação da
NULIDADE ABSOLUTA DA SENTENÇA DE MÉRITO QUE TRANSITOU
EM JULGADO, uma vez que, como restou sobejamente demonstrado, em
se tratando de litisconsórcio passivo necessário, em que a pessoa jurídica
proprietária do imóvel rural não integrou a relação jurídica processual,
apesar de instada em três (3) oportunidades para fazê-lo, a eficácia da
sentença depende da PRESENÇA DE TODOS OS LITISCONSORTES NO
PROCESSO DE EMBARGOS DE TERCEIRO, sendo certo que a sentença
proferida sem essa formalidade considera-se inutiler datur, não produzindo
efeitos em relação aos que não participaram do processo como, também,
quanto aos que dele participaram, de modo que, como corolário da
decretação da nulidade a partir da decisão liminar que propiciou à Fundação
Fernando Eduardo Lee sua intervenção no processo:

“[...]
Por outro lado, não encontro nos autos nenhuma defesa produzida pela
Fundação Fernando Eduardo Lee, pessoa jurídica de direito privado que,
salvo engano, com a morte da pessoa de Evandro Alberto de Oliveira
Bonini, veio a lhe suceder, assim como a sua citação.
213

Em virtude disso, determino a formalização do ato, oportunizando-lhe o


oferecimento de defesa dentro do prazo legal” (cf. fls. 11-12 da decisão
de fls. 119 inserida dentro do vol. I),

deve ser decretada a nulidade a partir desse ato processual de fls. 119 do
1º volume da Ação de Embargos de Terceiro, pois só assim é que estará
Vossa Excelência, praticando ato da mais lídima e sempre soberana
JUSTIÇA!!!

IV – DA VIOLAÇÃO MANIFESTA DE
NORMAS JURÍDICAS
O v. acórdão rescindendo proferido pela
Sexta Câmara Cível deste colendo Sodalício violou, de forma manifesta e
acintosa, as normas jurídicas de direito material que vêm expressas nos
artigos 1.196, 1.198 e 1.203, todos do Código Civil, que possuem a
seguinte redação:

“Artigo 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
Artigo 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de
dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de
ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este
artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o
contrário.
Artigo 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter
com que foi adquirida”.

A leitura do v. acórdão rescindendo na parte


em que julga o mérito da pretensão posta em juízo, deixa claro como a luz
do sol que essas normas jurídicas do Código Civil foram manifestamente
violadas, de modo que cabe a rescisória com espeque na redação do inciso
V do art. 966 do novo Diploma Processual.

Prima facie, para que reste patente a


violação dessas normas jurídicas, é conditio sine qua non reproduzir os
fundamentos do v. acórdão rescindendo, para que fique claro que o julgado
cuja rescisão se pleiteia, afrontou as normas jurídicas dos artigos 1.196,
1.198 e 1.203, todos do Código Civil.

Diz o v. acórdão rescindendo, na parte que


interessa à presente actio:
214

“Na hipótese, como acertadamente entendeu o Juízo singular, extrai-se que o


apelante não logrou êxito para demonstrar os requisitos indispensáveis a
comprovar a sua posse, nos termos do artigo 1..196 do Código Civil, in verbis:
“Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de
algum dos poderes inerentes à propriedade”.

Tal situação está evidente nos autos, porquanto em momento oportuno para
fazer valer o seu direito de produzir provas, o apelante não o fez, e, como
consequência o Juízo singular, na decisão de folhas 672/678, reconheceu a
preclusão temporal do embargante/apelante para apresentar as provas que
pretendia produzir.
Por outro lado, como bem salientado pelo Juízo singular, ficou demonstrado,
através dos depoimentos das testemunhas arroladas pelo apelado, que o
apelante não era possuidor da propriedade em questão.

Vejamos:

“(...) 3. Em 1987, o Embargante já era responsável pela área, cuidava para a


família Bonini. (...) 10. O Evandro passou uma procuração para o Geraldo,
porque não tinha muito tempo disponível, para que ele cuidasse da área, com
relação aos projetos do IBAMA e da SEMA. 11. O responsável pela fazenda era o
Geraldo, mas o dono da posse era o Evandro. 12. O Evandro passou uma
procuração e uma escritura para que o Embargante fizesse projeto, mas nunca
vendeu nenhuma parte da área. 14. O Embargante nunca teve a posse da área,
quem detinha a posse era o Evandro Bonini. 15. Após a saída de Geraldo da
administração da fazenda ficou o Antônio por um curto período, de três a
quatro meses. 17. O Sr. Evandro nunca abandonou a área. 19. O Sr. Geraldo não
fez nenhuma benfeitoria na área” (depoimento prestado pela testemunha
Avenir Fernando Marques de Araújo).

“(...) 2. A área de 39 mil hectares foi adquirida por Evandro em 1973, tendo
como divisas o Rio Arraias e o Paralelo 54. 3. Em 1974 foi aberta uma pista de
pouso, em seguida o exército acertou a divisa dos índios, ampliou a pista, após
isto em posse pacífica até 1993, em que houve uma invasão por outras pessoas,
e veio pacífica até 2005. (...) 5. Inicialmente quem cuidava da área era Orestes,
em seguida Geraldo, que era procurador e administrador do Evandro, até
meados de 2005, depois o Antônio, o Avelino, final de 2005 veio o Fernando e
está até hoje na área. (...) 17. O Geraldo é primo do Evandro. 18. O Evandro
colocou em nome do Geraldo um título, somente para que fosse realizado um
projeto de manejo; é uma área de 7.040 hectares e foi feito em nome do
Geraldo por conta das penhoras existentes na área. 21. De 1993 para cá era o
Geraldo quem contratava empregados para a Fazenda, já que era procurador.
22. Geraldo nunca teve a posse da fazenda, ele era tido como funcionário ou
procurador” (depoimento prestado pela testemunha João Batista de Camargo).

“1. Trabalhou na área em 2005, para o Antonio Laurentino, tirando madeira,


lascas da Fazenda. 2. Sabe que “toda vida” a fazenda era do Evandro, e o
215

Geraldo era o gerente. Esse pessoal que comprou está na área, eles dizem que
foi o Geraldo que vendeu para eles em 2005; mas o Geraldo não era dono, era
Gerente, era a pessoa de confiança, não comprovou a venda. (...) 8. O Evandro
queria preservar a área, para não tirar madeira; os empregados dele eram o
Geraldo e o Antonio, eles cuidavam, tiravam lascas, tinham umas casas lá. (...)
14. Nunca ouviu que Geraldo tinha a posse da fazenda, sabia que ele era
empregado” (depoimento prestado pela testemunha Nerio Ribeiro).

Ainda, como se vê destes depoimentos, constata-se que o apelante era mero


detentor da propriedade em questão, consoante dispõe o artigo 1.198 do
Código Civil, in verbis: “Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação
de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em
cumprimento de ordens ou instruções suas”,

Veja-se a lição de Maria Helena Diniz, no tocante ao fato de que a mera


detenção, exercida no interesse de outrem, não configura posse direta: “O
fâmulo da posse é aquele que, em virtude de sua situação de dependência
econômica ou de um vínculo de subordinação em relação a uma outra pessoa
(possuidor direto ou indireto), exerce sobre o bem não uma posse própria, mas a
posse desta última e em nome desta, em obediência a uma ordem ou instrução.
Aquele que assim se comportar em relação à coisa e à outra pessoa, presumir-se-
á detentor, até prova em contrário (CC, art. 1.198, parágrafo único)” (Curso de
direito civil brasileiro – Direito das coisas, vol. 4. São Paulo: Saraiva, 29ª ed., 2014, p.
55).

Assim, demonstrado que o apelante não era possuidor, mas mero detentor da
propriedade em questão, subordinado as ordens de outras pessoas, não pode
alegar posse e consequentemente ter a sua disposição proteção possessória.

(...)
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao apelo” (transcrição dos fundamentos e
parte dispositiva do v. acórdão rescindendo).

Para que fique bem claro que o v. acórdão


rescindendo fez tabula rasa dos artigos 1.196, 1.198 e 1.203, todos do
Código Civil, é fundamental distinguir o seguinte fenômeno que o v. acórdão
rescindendo não se apercebeu: pode ocorrer que uma situação de
detenção, em razão da posse precária exercida por procurador, gerente,
administrador etc., venha a se transformar em posse, em razão do
detentor deliberar por permanecer no bem, negando-se a entregar o
bem àquele que antes lhe dava ordens ou que lhe facultou a
detenção, por permissão ou tolerância, em razão do surgimento de
algum fato ou ato jurídico que fez incutir que o caso não era mais de
detenção, mas sim de posse.

Bem percebeu a existência desse fenômeno


de uma “detenção virar posse” os ilustres civilistas CRISTIANO CHAVES DE
216

FARIAS e NELSON ROSENVALD, que esclarecem, com a habitual


propriedade:

“A nosso sentir, não podemos classificar como posse


precária a situação que se configura quando aquele que
inicialmente era detentor delibera por permanecer no
bem, negando-se a entregar o bem àquele que antes lhe
dava ordens ou que lhe facultou a detenção, por
permissão ou tolerância. Basta supor que A, porteiro de
um prédio, seja demitido e recuse-se a abandonar o
aposento destinado aos funcionários do condomínio. Se,
inicialmente, era considerado servidor da posse (art.
1.198 do CC), passou a exercer POSSE injusta no ato de
indevida permanência no bem, no instante da extinção do
vínculo trabalhista. Todavia, essa posse injusta será
violenta ou clandestina, mas não precária, pois a
precariedade requer primariamente uma posse justa por
cessão do titular e, em um segundo momento, o abuso de
confiança do possuidor direto que se recusa a restituí-
la” (Curso de direito civil – Reais, vol. 5. Salvador: Ed.
JusPodivm, 10ª ed., 2014, p. 125).

Essa possibilidade de interversão ou


convalescimento da posse que começou como detenção pode ocorrer em
duas situações oriundas de fatos externos, que autorizam a mutação da
causa possessionis.

No caso em apreço, o Autor originário da


demanda de Embargos de Terceiro – que foi sucedido pela empresa TIGRE
INVESTIMENTOS S.A. – se enquadra nas duas situações oriundas de
fatos externos que autorizam a MUTAÇÃO da causa possessionis.

O primeiro deles é denominado pela


doutrina especializada de fato de natureza jurídica, assim exposto pelos
civilistas acima citados, verbis:

“Uma das regras mais comentadas na matéria em estudo é a concernente à


possibilidade de alteração no caráter da posse. De fato, estabelece o art. 1.203 do
Código Civil que, salvo prova em contrário, manterá a posse o mesmo caráter da
aquisição.

(...)

Isto significa que a mudança de comportamento de quem detém a coisa será


fundamental para a conversão da DETENÇÃO em POSSE injusta, mas não para
transformar a posse injusta em uma posse justa. Todavia, a doutrina preconiza
que, em duas situações oriundas de fatos externos, incide a mutação da causa
possessionis.
217

a) Fato de natureza jurídica

Em razão de uma relação jurídica de direito real ou obrigacional, é facultado ao


possuidor que mantenha posse objetiva ou subjetivamente viciada, alterar o seu
caráter, sanando os vícios de origem.

Suponha-se que alguém tenha obtido a posse ou a detenção da coisa e


posteriormente venha a adquirir o imóvel por contrato de compra e venda”
(FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil – Reais, cit., p.
134).

Ora, no caso que foi objeto da Ação de


Embargos de Terceiro – feito nº 2008/54, Código 47358 – que deu origem
ao v. acórdão rescindendo, é fácil notar que na data de 10 de agosto de
1994, a utilização da coisa pelo Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Jr. –
que, posteriormente, alienou a coisa adquirida para TIGRE INVESTIMENTO
S.A. – sofreu uma mudança radical: se até agosto/1994 ele era “detentor”,
dessa data para frente ele passou a ostentar, de forma indiscutível, a
condição de POSSUIDOR PLENO de uma parte da Fazenda Rio Negro,
correspondente ao imóvel rural de 6.632,1453 hectares.

Com efeito, os termos da ESCRITURA


PÚBLICA DE VENDA E COMPRA que se vê às fls. 22/23 dos autos (1º vol.
– v. doc. 8 incluso), não deixa margem a dúvidas no sentido de que o Sr.
Geraldo Alberto Borges de Oliveira Júnior adquiriu o imóvel do primeiro Réu,
Sr. Evandro Alberto de Oliveira Bonini, conforme se extrai da seguinte
passagem do referido documento:

“ESCRITURA PÚBLICA DE VENDA E COMPRA

S=A=I=B=A=M quantos esta virem, que aos 10 (dez) dias do mês de


agosto do ano da era Cristã de 1.994, nesta Vila e Distrito de Cândia,
Município de Pontal, comarca de Sertãozinho, Estado de São Paulo, em
Cartório, perante mim, Escrivã e Tabeliã, compareceram partes entre si,
justas e contratadas, a saber: de um lado, como outorgantes vendedores,
EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA BONINI (CIRG n. 3.679.842-SSP/SP,
CPF nº 296.178.128-00, administrador de empresa, neste ato assistido por
sua mulher, com quem é casado sob o regime da comunhão parcial de
bens, na vigência da Lei n. 6.515/1977, Maria Luiza Viana Bonini (CIRG nº
4.702.477-SSP/SP, CPF nº 055.818.848-62), publicitária, brasileiros,
juridicamente capazes, residentes e domiciliados na Rua Armindo Paiani, nº
51, Sumaré, na cidade de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo; e, de outro
lado, como outorgado comprador, GERALDO ALBERTO BORGES DE
OLIVEIRA JÚNIOR (CIRG nº 4.527.103-SSP/SP, CPF nº 343.743.538-87),
brasileiro, comerciante, divorciado, juridicamente capaz, residente e
domiciliado na Rua Iguapé, nº 12, apto. 42, na cidade de Ribeirão Preto,
218

Estado de São Paulo, sendo os comparecentes meus conhecidos, que se


identificaram perante mim, com a apresentação de seus documentos de
identidade retro citados e mais certidão de casamento, do que de tudo dou
fé.

E pelos outorgantes nomeados, me foi dito que a justo título, são senhores
e legítimos possuidores, UM IMÓVEL RURAL, com a atual denominação
de FAZENDA RIO NEGRO, constituído por uma gleba de terras com a área
de 7.040,0000 ha (sete mil e quarenta hectares) de terras, situada no
município de Vera, comarca de Sinop (antigo município de Chapada dos
Guimarães, Comarca de Cuiabá), Estado de Mato Grosso, confrontando na
sua integridade, pelos seus diversos lados, com o Rio Arraias, margem
direita, com propriedade de José Madureira, com propriedade de Aloísio G.
Melo e com terras devolutas, cadastrado no INCRA em maior área, em
nome do outorgante Evandro Alberto de Oliveira Bonini, em cujo
CERTIFICADO DE CADASTRO, que me foi apresentado e acompanha o
primeiro traslado desta escritura, constam os seguintes dados: Código do
Imóvel – 901032.007781-5, área total: 39.000 hectares; que referido imóvel
faz parte de uma gleba maior, com a área de 39.000 hectares, a qual foi
havida por eles outorgantes vendedores pelo preço de Cr$ 1.070.000,00,
por compra feita a Lauro de Camargo e sua esposa, conforme escritura
lavrada nas Notas do 2º Tabelionato da cidade de Goiânia, Estado de
Goiás, no Livro nº 426, fls. 136/138 e re-ratificada conforme escritura
lavrada no Cartório do Sexto Ofício da Comarca de Cuiabá, Estado de Mato
Grosso, em 24.10.1974, no Livro nº 45-A, fls. 62/65, registrada em referido
Cartório do Sexto Ofício da Comarca de Cuiabá/MT, sob o nº 2.165, no livro
3-C, em 25.10.1974, e posteriormente matriculado sob o n. 18.677, livro 2-
BH, em 21.08.1984, no mesmo CRI, autorizando todas as averbações
necessárias: que referido imóvel se acha livre e desembaraçado de
quaisquer ônus, judiciais ou não, inclusive de ações reais ou pessoais
reipersecutórias, conforme se constata da certidão de matrícula.

(...)

Que declaram já haver recebido integralmente em moeda corrente, do


outorgado comprador nomeado, dando-lhe, consequentemente, a mais
plena, geral e irrevogável quitação de pagos e satisfeitos para nunca
mais repetirem, VENDEM, como de fato e na verdade vendido têm, sem
restrições ou reserva alguma, ao mesmo outorgado comprador nomeado,
GERALDO ALBERTO BORGES DE OLIVEIRA JÚNIOR, o imóvel retro
descrito e confrontado, com todos os seus acessórios, transmitindo-lhe,
desde já, por força desta escritura e da cláusula constituti, toda a POSSE,
jus, domínio, direito, ação e servidões, ativas e passivas, que até hoje
tinham e exerciam sobre o mesmo, para que dele possa o mesmo
comprador usar, gozar e livremente dispor como coisa sua que fica sendo
de ora em diante, PROMETENDO FAZER ESTA VENDA SEMPRE BOA,
FIRME E VALIOSA E LIVRE DE DÚVIDAS FUTURAS, assim como a
responderem pela evicção de direito, se e quando chamados à autoria,
219

declarando, na forma e sob as penas da Lei, que são pessoas físicas não
equiparadas a empresa, não se achando vinculados como empregadores
ao INSS; que não mantém empregados sob sua responsabilidade no
imóvel ora vendido.

(...)

A seguir, pelo outorgado comprador GERALDO ALBERTO BORGES DE


OLIVEIRA JÚNIOR, me foi dito que aceita e recebe esta escritura, em
todos os seus expressos termos, tal como se acha redigida e que dispensa
os vendedores da obrigação de apresentarem os documentos e certidões
exigidos pela Lei 7.433/1985, regulamentada pelo Decreto nº 93.240/1986,
protestando recolher o Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis – ITBI,
devido por esta escritura, à Prefeitura Municipal de Vera/MT” (vide doc. 8
em anexo).

Ora, os termos claros e luzidios desta


ESCRITURA PÚBLICA DE VENDA E COMPRA, lavrada em Cartório,
gozando, portanto, de fé pública, afasta por completo a condição de “mero
detentor” do Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Júnior, que foi sucedido
em sua posse, direito e outros haveres pela empresa Tigre Investimentos
S.A.

E mais: já se passaram mais de 20 (vinte)


anos da lavratura dessa Escritura Pública, e os Réus da presente ação
rescisória jamais ajuizaram uma ação para anular referida escritura!!!

Logo, como dá sustentação ao v. acórdão


rescindendo que qualificou a condição do Sr. Geraldo Alberto Borges de
Oliveira Jr. – que, posteriormente alienou o imóvel rural para a Autora da
presente ação rescisória – de “mero detentor”, se está escrito na
ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA, com todas as letras, que
lhe era transmitido

“... desde já, por força desta escritura e da cláusula constituti,


toda a POSSE, jus, domínio, direito, ação e servidões, ativas e
passivas, que até hoje tinham e exerciam sobre o mesmo, para que dele
possa o mesmo comprador usar, gozar e livremente dispor como coisa sua
que fica sendo de ora em diante, PROMETENDO FAZER ESTA VENDA
SEMPRE BOA, FIRME E VALIOSA E LIVRE DE DÚVIDAS FUTURAS,
assim como a responderem pela evicção de direito”.

Ora, o uso da locução empregada pelos


outorgantes vendedores, Réus nesta rescisória, de que prometiam fazer
esta venda “... SEMPRE BOA, FIRME E VALIOSA E LIVRE DE DÚVIDAS
FUTURAS”, sepulta, por completo, a alegação tão defendida pelos Réus da
rescisória de que tudo isso não passou de uma “simulação”, já que lhe foi
220

transferida a propriedade e a posse apenas para fins de regularização do


imóvel junto ao IBAMA, SEMA etc.

Perceba Vossa Excelência outro dado de


suma importância: a transferência da posse plena – e não mais uma
condição de “mera detenção” – para o Sr. Geraldo Alberto Borges de
Oliveira Jr. ocorreu em 10 de agosto de 1994. Dessa data até 19 de
março de 2008 – portanto, pelo período de 14 (catorze) anos, referido
possuidor exerceu a posse de forma plena em torno da área de
6.632,1453, localizada no município de Feliz Natal/MT, conforme comprova
o Memorial Descritivo em anexo, onde está perfeitamente individuada e
delimitada a área, motivo pelo qual pedimos vênia para evitar referida
transcrição.

E foi exatamente em decorrência dessa


aquisição por meio de ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA que o
comportamento do adquirente originário – Sr. Geraldo – mudou da “água
para o vinho”, ou seja, de “detenção para posse”, pois a partir de 10 de
agosto de 1994 ele não mais reconheceu sua condição de “detentor’, mas
sim de “possuidor pleno”.

Prova disso é que ele se envolveu em


diversas disputas judiciais com o falecido outorgante Evandro Alberto de
Oliveira Bonini, brandindo sua condição de possuidor e não de mero
detentor, como procuram equivocadamente rotulá-lo.

Ora, além do fato de natureza jurídica


que autoriza a interversão e/ou convalescimento da posse – como sucedeu
no caso em testilha, em que o “detentor” veio a adquirir uma parcela da
Fazenda Rio Negro – que compreende a área maior de 39.000 hectares, é
certo que o comportamento do adquirente originário – que foi sucedido
pela empresa TIGRE INVESTIMENTOS S.A. – demonstra, de forma
inequívoca, que ele não cumpria ordens dos Réus, e muito menos era
gerente, administrador, peão, procurador ou qualquer coisa que o valha!!!

Vale dizer, por outras palavras: além do


fato de natureza jurídica, ocorreu também outra situação que autoriza a
mutação de detenção para posse, qual seja: fato de natureza
material, assim descrito pelos eminentes civilistas CRISTIANO CHAVES DE
FARIAS e NELSON ROSENVALD, in verbis:

“Fato de natureza material

É a manifestação por atos exteriores e prolongados do possuidor da


inequívoca intenção de privar o proprietário do poder de disposição sobre a
coisa” (ob. cit., p. 135).
221

No caso em apreço, houve uma mudança no


plano do direito material em razão dos Réus ter outorgado Escritura Pública
de Compra e Venda em favor do adquirente originário – Sr. Geraldo – que,
posteriormente, alienou seus direitos para a Autora da rescisória.

Com efeito, passados nada menos que 15


(quinze) anos na posse do imóvel rural, o Sr. Geraldo Alberto Borges
de Oliveira Júnior, na qualidade de outorgante/transmitente, firmou junto
ao Serviço Notarial e Registral de Capão Grande, município e comarca de
Várzea Grande, na data de 03 DE ABRIL DE 2009, uma ESCRITURA
PÚBLICA DE TRANSMISSÃO DE DOMÍNIO, POSSE E BENFEITORIAS
em favor da empresa TIGRE INVESTIMENTOS S.A., pelo preço certo e
ajustado de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), conforme comprova o
documento colacionado no corpo da própria exordial.

Veja Vossa Excelência com seus próprios


olhos o teor da ESCRITURA PÚBLICA DE TRANSMISSÃO DE DOMÍNIO,
POSSE E BENFEITORIAS firmada entre o falecido Sr. Geraldo Alberto
Borges de Oliveira Jr. e a autora da presente actio Tigre Investimentos S.A.
222
223
224
225

Ora, como é que alguém que é rotulado de


“detentor” pelo v. acórdão rescindendo fica na posse do imóvel rural que
ocupa uma parte da Fazenda Rio Negro pelo prazo de 15 (quinze) anos e,
depois, sem que os Réus da rescisória tomassem ou tivessem tomado
qualquer medida judicial no sentido de anular a primeira escritura pública
de compra e venda, aliena “... domínio, posse e benfeitorias...”, em
favor de um terceiro, no caso, a Autora da presente demanda rescisória???

Quem é mero “detentor” não possui


legitimidade para comparecer a um Serviço Notarial e Registral e transferir
para terceiro “... domínio, posse e benfeitorias...”, como sucedeu na
transmissão de domínio, posse e benfeitorias em que o falecido Sr. Geraldo
Alberto Borges de Oliveira Júnior alienou os direitos que possuía da área de
6.632,1453 hectares em favor da empresa TIGRE INVESTIMENTOS S.A.

Mas não é só a ESCRITURA PÚBLICA DE


VENDA E COMPRA firmada com os Réus da rescisória que conferia ao Sr.
Geraldo – que foi sucedido pela empresa TIGRE INVESTIMENTO S.A. – a
condição de possuidor e não de mero detentor.

existem
Deveras, outros
documentos relevantes que atestam a condição de
POSSUIDOR do Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Junior, bem
226

como da empresa que o sucedeu Tigre Investimentos S.A., que reforçam a


saber:

(i) Memorial Descritivo do imóvel rural denominado “Fazenda Rio Negro”,


com área de 6.632,1453 hectares, com sua descrição devidamente
caracterizada, situado no município e comarca de Feliz Natal, Estado de
Mato Grosso, tendo o Memorial Descritivo sido elaborado pelo Técnico
Agrimensor Aureo Campos Pinheiro, portador do CREA 7018-TD/MT.
Nesse MEMORIAL DESCRITIVO aparece e figura como PROPRIETÁRIO,
com todas as letras, o Sr. GERALDO ALBERTO BORGES DE OLIVEIRA JR.,
que foi sucedido pela TIGRE INVESTIMENTOS S.A.

Veja Vossa Excelência o teor do documento:


227
228
229

(ii) CERTIFICAÇÃO Nº 130508000017-26, expedida pelo INCRA, em que o


nome do Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Junior aparece como
interessado (cf. doc. 19 em anexo)
Dada a relevância e importância desse documento expedido pelo INCRA,
pedimos vênia para reproduzi-lo, pois o INCRA jamais expede esse tipo de
Certificação em favor de um “mero detentor”, mas sim em favor de
“possuidor” e/ou “proprietário” do imóvel rural.

Confira os termos do documento:


230
231

(iii) ESCRITURA PÚBLICA DE TRANSMISSÃO DE DOMÍNIO, POSSE


E BENFEITORIAS, em que figura como outorgante/transmitente o Sr.
Geraldo Alberto e como outorgada a empresa Tigre Investimento S.A.,
conforme comprova o doc. 11 incluso.
Ora, quem é detentor não teria legitimidade para comparecer a um Serviço
Notarial e Registral para fazer a transferência de “... domínio, posse e
benfeitorias”.

(iv) CERTIFICADOS DE CADASTRO DE IMÓVEL RURAL – CCIRs


referentes aos anos de 1998, 1999, 2003, 2004 e 2005, em que aparece como
Declarante do imóvel rural junto ao INCRA o Sr. Geraldo Alberto (vide
docs. 12 e 13 em anexo)

(v) RELATÓRIO TÉCNICO DE GEORREFERENCIAMENTO feito por


responsável competente, em favor do possuidor do imóvel rural (vide docs.
14, 15, 16, 17 e 18, sendo que no doc. 16 está dito com todas as letras que:

“Encaminhamos, anexo, à essa Administração


Executiva Regional da FUNAI, Planta Georreferenciada e
Declaração de Reconhecimento de Limite da Fazenda Rio
Negro, de propriedade do Sr. Geraldo Alberto Borges de
Oliveira Junior, localizada no município de Feliz
Natal/MT, na qual foram executados os serviços de
georreferenciamento para Certificação de Imóveis junto
232

ao INCRA, de acordo com o previsto na Lei n. 10.267, de


28/08/2001 e no Decreto 4.449, de 30/10/2002, que
regulam essas atividades” (v. doc. 16 incluso)

(vi) CERTIDÃO DE LEGITIMIDADE DE ORIGEM Nº 08531-5CD/2010


expedida pelo INSTITUTO DE TERRA DE MATO GROSSO –
INTERMAT, que foi expedida atendendo requerimento protocolado pela
Autora da presente Rescisória – TIGRE INVESTIMENTOS S.A.,
CERTIDÃO esta que foi expedida pelo INTERMAT para “... instruir processo
de licenciamento ambiental junto à Secretaria de Estado de Meio Ambiente”, sendo
certo que este importantíssimo documento foi assinado pelo Engenheiro
Agrônomo do INTERMAT – Sr. Celso Pereira de Oliveira; pelo Presidente
do INTERMAT – Sr. Afonso Dalberto; pelo Coordenador de Reg. Fundiária
Rural do INTERMAT – Sr. Edmir Leo Monteiro da Costa e pelo Diretor de
Reg. Fundiária/INTERMAT Sr. Clovilton Jaime de Miranda, o qual vai
aqui juntado, para ilustrar a prática inconteste de atos dominiais e
possessórios pela empresa requerente da presente demanda.

Veja o documento na íntegra na próxima folha da petição.


233

(vii) DECLARAÇÕES DE RECONHECIMENTO DE LIMITE firmadas por


diversos vizinhos e lindeiros, que reconhecem a posse e a divisa do imóvel
rural de posse da Autora (ver docs. 21, 22 e 23 em anexo)

(viii) RECIBO DE ENTREGA DE DECLARAÇÃO DE ITR – IMPOSTO


TERRITORIAL RURAL, em que o Ministério da Fazenda reconhece e
identifica como contribuinte o Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Junior
(v. doc. 24), documento esse que reforça a condição inequívoca de
possuidor daquele que transferiu os direitos de posse para a autora TIGRE
INVESTIMENTO S.A., sendo certo que os documentos 27 e 28 – aparecem
os DARFs com o recolhimento do tributo do ITR da Fazenda Rio Negro, na
parte em que pertence à autora.

(ix) GUIA DE ITBI expedida pelo Município de Feliz Natal, Estado do


Mato Grosso, em que houve o recolhimento no ano de 2001, da importância
de R$ 11.264,00 (onze mil, duzentos e sessenta e quatro reais) pelo Sr.
Geraldo Alberto Borges de Oliveira Junior, o que reforça ainda mais a sua
condição de possuidor, e não de “detentor”, como entendeu o v. acórdão
rescindendo (v. docs. 29 e 30 em anexo)

(x) Outro documento de capital importância que atesta, de forma


fulgurante, a prática de atos possessórios e dominiais por parte da autora da
demanda diz respeito ao RECIBO DE INSCRIÇÃO DO IMÓVEL RURAL
NO CAR – Cadastro Ambiental Rural, em que o nome da Autora TIGRE
234

INVESTIMENTOS S.A., inscrita no CNPJ sob o n. 06.107.371-0001-53 é


identificada em documento expedido pelo Estado de Mato Grosso como
proprietária e possuidora do imóvel rural objeto desta lide.

Veja Vossa Excelência este importantíssimo documento aqui juntado no


corpo da própria petição inicial em sua via original.
235
236
237

(xi) Mas a avalanche de documentos que comprovam, de forma induvidosa,


a posse e a propriedade do falecido Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira
Junior, que foi sucedido pela empresa TIGRE INVESTIMENTOS S.A. em
razão da aquisição da área rural por meio de Escritura Pública de Compra e
Venda não para por aí.

Outro documento de capital relevância é a LAU – LICENÇA AMBIENTAL


ÚNICA, que foi expedida pelo Governo do Estado de Mato Grosso, por
meio da SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE – SEMA/MT,
em que a empresa Autora aparece, com todas as letras, como proprietária
do imóvel rural denominado FAZENDA RIO NEGRO, situada no
município de Feliz Natal, Estado do Mato Grosso (vide a íntegra desse
documento na fl. 31 desta exordial)

(xii) De igual forma, o nome da TIGRE INVESTIMENTOS S.A. aparece na


condição de proprietária do imóvel rural Fazenda Rio Negro no documento
expedido pela RECEITA FEDERAL, referente ao seu CNPJ, que comprova
sua inscrição e situação cadastral (vide o teor do documento na fl. 32 desta
exordial).

(xiii) Não é somente perante a UNIÃO FEDERAL que a Autora TIGRE


INVESTIMENTOS S.A. tem sua situação dominial e possessória
consolidada.
238

O mesmo ocorre em relação a documento expedido pelo ESTADO DE


MATO GROSSO, por meio da SECRETARIA DE ESTADO DE
FAZENDA – SEFAZ, em que o imóvel rural Fazenda Rio Negro é
expressamente individuado e identificado no Cartão de identificação do
Contribuinte – CIC/CCE – Eletrônico, conforme se vê na terceira folha a
seguir.

(xiv) De igual modo, também perante o MUNICÍPIO DE FELIZ NATAL,


local onde se encontra situada a Fazenda Rio Negro, a SECRETARIA
MUNICIPAL DE AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE DA
PREFEITURA MUNICIPAL DE FELIZ NATAL, o nome da Tigre
Investimentos S.A. aparece como proprietária do imóvel rural na FICHA DE
RECADASTRAMENTO DE PROPRIEDADE E PRODUTOR RURAL,
conforme se vê claramente do documento que aparece daqui a quatro (4)
laudas da presente petição.

Os documentos foram juntados dentro da própria peça para que fique claro
e transparente a inequívoca condição de possuidora e proprietária da
Autora TIGRE INVESTIMENTOS S.A.

Veja Vossa Excelência os docs. xi, xii, xiii e xiv, pela ordem:
239
240
241
242

(xv) Por derradeiro, fotos que mostram as BENFEITORIAS feitas no imóvel


rural pelo possuidor anterior Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Junior
e mantida pelo possuidor atual Tigre Investimentos S.A. Essas fotografias
fazem jus ao argumentos de que “uma imagem vale mais do que mil palavras”.
243
244
245

Diante de tantas e tamanhas evidências de


que o falecido Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Júnior não era um
simples “detentor”, mas um legítimo e genuíno POSSUIDOR,
condição essa que foi transferida para a empresa TIGRE INVESTIMENTOS
S.A., em razão de sua condição de sucessora, decorrente da “Escritura
Pública de Transmissão de Domínio, Posse e Benfeitorias” firmado com o
antigo proprietário, é cediço que o v. acórdão rescindendo violou
acintosamente normas jurídicas do Código Civil brasileiro, o que
autoriza o aviamento da presente demanda rescisória com espeque na
redação do inciso V do art. 966 do novel Diploma Processual.

Com efeito, o v. acórdão rescindendo


proferido pela Sexta Câmara Cível deste colendo Sodalício violou, de forma
manifesta e acintosa, as normas jurídicas de direito material que vêm
expressas nos artigos 1.196, 1.198 e 1.203, todos do Código Civil, que
possuem a seguinte redação:

“Artigo 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

Artigo 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de


dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de
ordens ou instruções suas.
246

Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este
artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o
contrário.

Artigo 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter
com que foi adquirida”.

No caso em testilha, é fulgurante a condição


de possuidora e proprietária de fato da empresa TIGRE
INVESTIMENTOS S.A., uma vez que a mesma adquiriu de fato e de direito a
posse do imóvel rural do falecido alienante Sr. Geraldo Alberto Borges de
Oliveira Jr., que se encontra na posse da área alienada desde os idos de
1994, tendo transferido essa posse para a Autora em 2009, depois de 15
(quinze) anos de efetivo exercício, inclusive com a realização de benfeitorias
no imóvel.

Se a posse é ostensiva, tanto a que foi


exercida pelo Sr. Geraldo, como a que é hoje pela empresa TIGRE
INVESTIMENTOS S.A., não pode sobejar dúvidas que o artigo 1.196 do
Código Civil brasileiro foi claramente violado, já que o direito de uso, que
é a face mais expressiva do exercício da posse, vem sendo exercido sem
interrupção pelos mesmos e sem solução de continuidade há mais de 20
(vinte) anos.

Logo, se o artigo 1.196 do Código Civil


considera possuidor “... todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”, não
pode sobejar dúvidas no caso sub judice que o desfrute da coisa há quase
um quartel de século outorga à Autora da rescisória a condição de
possuidora, sendo inconcebível a leitura feita pelo v. acórdão rescindendo
acerca do caso, dizendo que a Autora, e quem ela sucedeu, não passam de
“meros detentores”!!!

Em abono do entendimento de que a


Autora, e quem ela sucedeu eram possuidores de fato e de direito,
pedimos vênia para trazer à colação expressivo julgado do Tribunal de
Justiça do Amapá, vazado nestes expressivos termos:

“AÇÃO POSSESSÓRIA – Reintegração de posse –


Admissibilidade – Autor que comprova possuir de
fato o exercício de um dos poderes inerentes à
propriedade e a ocorrência do esbulho – Domínio,
ademais, que se manifesta pela realização de
benfeitorias – Deferimento da medida que se impõe.
1)A ação possessória tem por objetivo assegurar
proteção interdital ao possuidor destituído de sua
posse por esbulho possessório, garantindo-lhe sua
247

recuperação do poder de quem injustamente a detinha


em razão de ato violento, clandestino ou precário.
2) Só é possuidor quem tenha, de fato, o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.
(...)
3) Estando a posse de quem invoca a tutela
jurisdicional fundada em JUSTO TÍTULO e manifestada
por BENFEITORIAS que denotem seu efetivo exercício
sobre a coisa, não há como deferir, a quem não
reúna essas condições, inversa proteção
possessória” (Ap 0038019-39.2008.8.03.0001, Câmara
Única do TJAP, rel. Juiz convocado Constantino Brahuna,
DJe-AP 26.05.2011, RT 911/776).

No caso sub oculi, a posse da Autora


decorre e vem fundada em JUSTO TÍTULO, pois ela legitimamente
adquiriu a posse velha do falecido Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira
Júnior, conforme atesta a ESCRITURA PÚBLICA DE TRANSMISSÃO DE
DOMÍNIO, POSSE E BENFEITORIAS firmada junto ao Serviço Notarial e
Registral do Distrito de Capão Grande, município e comarca de Várzea
Grande.

Ora, Excelência, como negar à empresa


TIGRE INVESTIMENTOS S.A., que sucedeu por meio de Escritura Pública
ao Sr. Geraldo a condição de possuidora, se os Réus expressamente
firmaram com o antigo possuidor Geraldo Alberto uma ESCRITURA
PÚBLICA DE VENDA E COMPRA que foi firmada há quase um quartel de
século, também perante um serviço notarial??? Se essa escritura não passa
de um “simulacro”, uma “fraude”, uma “simulação’ ou qualquer coisa que o
valha, por que os Réus não promoveram uma ação de anulação da
escritura pública de venda e compra firmada nos idos de 1994, a qual
perdurou incólume até dar azo a nova ESCRITURA PÚBLICA DE
TRANSMISSÃO DE DOMÍNIO, POSSE E BENFEITORIAS, em que
aparece como outorgante adquirente TIGRE INVESTIMENTOS S.A.???

Portanto, negar à Autora da presente


rescisória a condição de possuidora, é rasgar e jogar no “lixo” o art. 1.196
do Código Civil, com todo o respeito!!!

De igual modo, restaram amplamente


vulnerados os artigos 1.198 e 1.203, ambos do Código Civil.

Aliás, antes de demonstrar a violação literal


a essas normas jurídicas, vale ressaltar que os três artigos aqui referidos –
1.196, 1.198 e 1.203, todos do Código Civil – foram vulnerados e
248

atingidos de forma frontal e direta, como exige a jurisprudência do egrégio


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, em julgado de relatoria da culta e
eminente Ministra NANCY ANDRIGHI, verbis:

“A afronta deve ser direta – contra a literalidade


da norma jurídica – e não deduzível a partir de
interpretações possíveis, restritivas ou
extensivas, ou mesmo integração analógica” (STJ-2ª
Seção, AR 720-EI, rel. Ministra Nancy Andrighi, j.
09.10.2002, DJU 17.02.2003). No mesmo sentido: RJTJERGS
286/211 (AR 70049010077).

A violação direta e frontal ao artigo 1.198


do Código Civil – sem necessidade de argumentos retóricos ou
subterfúgios jurídicos – decorre da singela leitura da norma jurídica, que
vaticina:

Artigo 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de


dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de
ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este
artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o
contrário.

Ora, Excelência, o comportamento do


possuidor originário – Sr. Geraldo – e o comportamento a partir de 2009
da Autora Tigre Investimentos S.A., se enquadra nesse figurino descrito na
redação do art. 1.198 do Código Civil??? A leitura dos autos revela em
relação a essa parte do imóvel rural Fazenda Rio Negro – que ao todo tem
39.000 hectares – uma relação de “dependência para com outro” e de
“cumprimento de ordens ou instruções” emanadas de terceiros???

Como é possível um detentor ficar na posse


de um imóvel rural há mais de 20 anos? Como é possível que um simples
detentor (Sr. Geraldo) compareça perante um Serviço Notarial e Registral e
aliene a sua POSSE, DOMÍNIO E BENFEITORIAS para um terceiro
(Tigre Investimentos S.A.), sem que os Réus da demanda rescisória
tivessem promovido uma ação de anulação da primeira Escritura Pública de
Venda e Compra???

Resta evidente, pela leitura dos documentos


dos autos, que houve uma clara e inequívoca mutação no comportamento
do Sr. Geraldo, o qual, em razão e em decorrência da ESCRITURA
PÚBLICA DE VENDA E COMPRA deixou a condição de “detentor” e passou
a exercer em torno da área com aproximadamente 7.000 hectares a
inequívoca condição de possuidor pleno, efetivo, que ficou no desfrute e
gozo da coisa até sua alienação para a empresa TIGRE INVESTIMENTOS
S.A.
249

Assim, se houve mudança no


comportamento das partes, não pode ser negada à TIGRE INVESTIMENTOS
S.A. a condição de legítima possuidora do imóvel rural com a área de
6.632 hectares.

Prova irretorquível dessa assertiva, por


exemplo, pode ser demonstrada por meio de documento expedido pelo
GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO, através da SECRETARIA DE
ESTADO DO MEIO AMBIENTE – SEMA/MT.

Deveras, na data de 25 de janeiro de 2011,


referida Secretaria Estadual expediu o importantíssimo documento
denominado Licença Ambiental Única – LAU em favor da Autora TIGRE
INVESTIMENTOS S.A., sendo que o prazo de validade dessa licença LAU nº
7897/2011, vai até 23 de janeiro de 2019.

Ora, Excelência, “detentor” tem legitimidade


para conseguir LAU junto a órgão público???, como a TIGRE
INVESTIMENTOS S.A. o fez não só em relação à LAU, mas a todos os
documentos que foram juntados retro???

É por essa razão que os artigos 1.198 e


1.203 do Código Civil admitem a mudança de comportamento de
“detentor” para “possuidor”, pois a presunção firmada nessas normas
jurídicas admite prova em contrário, pois se trata de presunção juris
tantum, como reconhece a doutrina e a jurisprudência, além de decorrer da
singela leitura desses preceitos, verbis:

Artigo 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de


dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de
ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este
artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove
o contrário.

Artigo 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o


mesmo caráter com que foi adquirida”.

No caso em testilha, restou sobejamente


demonstrado que houve uma clara e inequívoca mutação no
comportamento do Sr. Geraldo, que deixou a condição de “detentor” e
passou a ser possuidor pleno de parcela do imóvel rural Fazenda Rio
Negro, ou seja, de um total de 39.000 hectares, ele passou a exercer a
posse plena no tocante a 6.632 hectares, aproximadamente 1/6 da área do
imóvel rural.
250

V – DESNECESSIDADE DE PRESQUESTIONAMENTO
DAS NORMAS JURÍDICAS VIOLADAS
Na presente ação rescisória, a Autora
alegou violação a literal disposição de três (3) normas jurídicas, a
saber: artigos 1.196, 1.198 e 1.203, todos do Código Civil.

Em relação a essas normas jurídicas, duas


delas – artigos 1.198 e 1.203 foram expressamente mencionados no v.
acórdão rescindendo – que deu uma interpretação que violou direta e
frontalmente essas normas legais, mas não fez qualquer menção ao art.
1.196 do mesmo Estatuto de direito material.

Pergunta-se: para que se alegue a violação


frontal e direta do art. 1.196 do Código Civil, é condição sine qua non
que ele tenha sido mencionado no v. acórdão rescindendo?

A resposta negativa se impõe, consoante se


pode aquilatar do seguinte precedente oriundo do egrégio TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO, verbis:

“RESCISÓRIA – Violação de literal disposição de lei – Norma não


prequestionada no julgado rescindendo – Irrelevância.
A ação rescisória fundada em violação de literal disposição de lei não
exige que a indigitada norma infringida tenha sido prequestionada no
julgado rescindendo” (AR 112.038-2, 5º Grupo de Câmaras do TJSP, rel. Des.
Carlos Ortiz, RT 627/117).

Também o conceituado repertório de


jurisprudência capitaneado por THEOTONIO NEGRÃO et alli, traz à ribalta
diversos julgados do STF e STJ, no sentido de que é irrelevante que, no
caso em testilha, o artigo 1.196 do Código Civil tenha sido prequestionado
no julgado rescindendo, conforme se vê em suas anotações ao art. 966 do
CPC-2015, que cuida do cabimento da rescisória, verbis:

“Art. 966: 25. É indiferente que a lei tenha sido invocada ou não no
processo principal, porque nem por isso terá deixado de ser violada: o
requisito do prequestionamento não se aplica à rescisória (RTJ
97/699-Pleno do STF, 116/451-Pleno, 116/870-Pleno; STF-Pleno: RT
550/207; STJ-2ª Seção, AR 3.234, rel. Min. Luiz Felipe Salomão, j.
27.11.2013, DJ 14.02.2-14; STJ-5ª Turma, REsp 468.299, rel. Min. Félix
Fischer, j. 08.06.2004, DJU 28.06.2004; STJ-2ª Turma, REsp 797.127,
rel. Min. Castro Meira, j. 25.11.2008, DJ 18.12.2008) (cf. THEOTONIO
NEGRÃO et alli. Novo CPC e legislação processual em vigor. 47ªed. São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 866).
251

VI – DO PEDIDO DE CONCESSÃO DE
TUTELA PROVISÓRIA PARA SUSTAR OS
EFEITOS DO V. ACÓRDÃO RESCINDENDO
O art. 969 do novel Diploma Processual, ao
cuidar da questão da tutela de urgência na ação rescisória, dispõe que: “A
propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da decisão
rescindenda, ressalvada a concessão de tutela provisória”.

Como se nota, mantendo a tradição de


nosso direito – o art. 489 do CPC-1973 já admitia a concessão de tutela de
urgência em sede de ação rescisória – o novel Estatuto também admite a
concessão de tutela provisória no âmbito da ação rescisória.

Os requisitos para a obtenção da tutela


provisória de urgência vêm previstos no art. 300, caput, do novo CPC,
consoante o qual:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo”.

O Ministro do STF – Teori Albino Zavascki –


ao discorrer sobre a possibilidade de concessão de provimento de urgência
em rescisória, é incisivo em sustentar que: “O art. 489 do CPC-1973 (art. 969 do
CPC-2015), segundo o qual ‘a ação rescisória não suspende a execução da sentença
rescindenda’, deve ser interpretado de modo a não inibir a incidência dos demais preceitos
legais, como o do art. 273 (art. 300, caput, novo CPC), a ele superveniente, que permite
antecipar os efeitos da tutela quando isso for indispensável à preservação do direito
afirmado na inicial, e, mais ainda, de modo a não inviabilizar a eficácia concreta do
direito à ação rescisória, assegurado na própria Constituição” (Antecipação da tutela.
São Paulo: Editora Saraiva, 1997, p. 188).

Ora, no caso sub judice, a concessão da


tutela provisória para sustar os efeitos do v. acórdão rescindendo é –
nas palavras do Ministro do Supremo Tribunal Federal – “... indispensável à
preservação do direito afirmado na inicial (...), de modo a não inviabilizar a
eficácia concreta do direito à ação rescisória”, na medida em que os
requisitos previstos no caput do art. 300 do novo Código encontram-se
sobejamente presentes.

Com efeito, a análise da rescisória deixa


claro que existem “... elementos que evidenciem a probabilidade do direito”,
uma vez que restou patente a violação literal aos comandos normativos dos
artigos 1.196, 1.198 e 1.203 do Código Civil brasileiro, que foram
manifestamente violados.
252

Já o requisito do periculum in mora, que


pode decorrer – na interpretação do caput do art. 300 do CPC-2015 – do
“perigo de dano” ou do “risco ao resultado útil do processo”, também resta
evidente, pois a empresa autora TIGRE INVESTIMENTOS S.A. foi alijada da
área da Fazenda Rio Negro, pois teve que desocupá-la em razão do
cumprimento do v. acórdão rescindendo, na parte que compreende a área
de 6.632 hectares, devidamente delimitada no Memorial Descritivo que
acompanha a documentação da rescisória.

Nesse contexto, é de rigor seja concedida


medida liminar de antecipação de tutela para determinar o imediato
retorno da empresa Autora à posse do imóvel rural, sob pena de prejuízo
irreparável e/ou de difícil reparação.

É de se ressaltar que a posse da Autora


remonta aos idos de 1994, portanto, lá se vai quase um quartel de século.
E se ela – somando sua posse com a do seu antecessor – sempre esteve no
desfrute e posse da Fazenda Rio Negro, não é crível que ela seja alijada da
posse do imóvel por todo o transcurso da ação rescisória, que pode levar
anos!!!

Em suma: se, somando-se a posse da


TIGRE INVESTIMENTOS S.A., que começou em 2009 e perdurou até 2016,
mais a posse do falecido Sr. Geraldo, que teve início há quase um quartel
de século atrás, mais precisamente em 1994, é cediço que, sendo a posse
da autora uma posse velha, ela deve permanecer na posse do imóvel rural
até que seja julgado o mérito da presente demanda rescisória, sob pena de
a não concessão da tutela provisória de natureza antecipatória colocar
“... em risco o resultado útil do processo”!!!

A propósito, o egrégio SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA tem jurisprudência firme e consolidada no sentido
de que é possível a concessão de tutela antecipada (agora tutela provisória
de urgência satisfativa, na linguagem do novo CPC) em sede de ação
rescisória.

Nesse diapasão expressivo julgado da lavra


do conceituado Ministro ARI PARGENDLER, verbis:

“PROCESSO CIVIL – Ação rescisória – Antecipação da


tutela. A antecipação da tutela pode ser deferida
na ação rescisória, para evitar danos até a
prolação do acórdão que venha a julgá-la
procedente” (STJ-3ª Turma, REsp nº 184.311/SP, rel.
Min. Ari Pargendler, DJ 27.05.2002).
253

Destarte, restando plena e sobejamente


demonstrados os requisitos para a concessão de tutela provisória em sede
de ação rescisória, de modo a preservar o resultado útil do processo, pugna
a Requerente pela concessão do provimento para o fito de sustar os
efeitos do v. acórdão rescindendo, até que ocorra o julgamento de
mérito da rescisória, determinando-se a imediata expedição de mandado
de reintegração de posse em favor da empresa TIGRE INVESTIMENTOS
S.A.

Afinal, entre tutelar os interesses de quem


está no desfrute do gozo e posse do bem há quase 25 (vinte e cinco)
anos e quem, durante todo esse tempo – que são os Réus da ação
rescisória – jamais pisaram o pé no imóvel rural, é cediço que, salvo melhor
e mais autorizado juízo, deve Vossa Excelência prestigiar a posse de quem
já estava assentado na posse do bem há quase um quartel de século, de
modo a evitar que se perpetre uma injustiça inominável contra a Autora
da presente rescisória, que investiu pesadamente no imóvel rural e
atualmente se encontra fora dele.

VII – DOS PEDIDOS


Em harmonia com o exposto, requer a
autora se digne Vossa Excelência de:

a) Admitir, conhecer e determinar o regular


processamento da vertente ação rescisória, que
encontra fundamento expresso no inciso V do art.
966 do novo Código de Processo Civil, consoante o
qual “A decisão de mérito transitada em julgado,
pode ser rescindida quando: violar manifestamente
norma jurídica”; in casu, restou plenamente
demonstrado que foram violadas de forma ostensiva
os artigos 1.196, 1.198 e 1.203, todos do Código
Civil, de modo que a rescisória é plenamente cabível.

b) Uma vez admitida a ação, seja imediatamente


CONCEDIDA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
para o fim de sustar os efeitos do v. acórdão
rescindendo, de modo a reintegrar a autora na posse
do imóvel rural Fazenda Rio Negro, na área adquirida
que compreende 6.632 hectares de uma área maior
de 39.000 hectares, cujo delimitação e individuação
254

encontra-se descrita no Memorial Descritivo


elaborado por profissional competente, sendo certo
que a posse remonta aos idos de 1994 e, estando a
Autora e mais quem lhe transferiu os direitos de
posse, domínio e benfeitorias no imóvel há mais
de 20 (vinte) anos, não há nenhum risco de que a
medida seja irreversível para a parte contrária, sendo
certo, outrossim, que a não concessão do provimento
liminar causará danos irreparáveis para a Autora.

c) Requer, outrossim, após a concessão da tutela


provisória de urgência satisfativa dos efeitos da
decisão final, seja ordenada a citação dos Réus,
“designando prazo nunca inferior a 15 (quinze) dias
nem superior a 30 (trinta) dias para, querendo,
apresentar resposta, ao fim do qual, com ou sem
contestação, observar-se-á, no que couber, o
procedimento comum” (redação do art. 970 do CPC-
2015).

d) NO MÉRITO, requer seja concedida a rescisória para


os seguintes escopos: (i) no âmbito do juízo
rescisório, seja decretada a rescisão do v. acórdão
proferido nos autos da Apelação 72757/2013, da
egrégia Sexta Câmara Cível desse Sodalício, uma vez
que o v. acórdão rescindendo violou de forma
manifesta e literal os artigos 1.196, 1.198 e 1.203,
todos do Código Civil; (ii) uma vez decretada a
rescisão do v. acórdão, seja proferido novo
julgamento (dicção do inc. I do art. 968 do novo
CPC), para o fim de reconhecer a condição de
possuidora da Autora, de forma a julgar procedente
a pretensão de direito material que foi veiculada na
Ação de Embargos de Terceiro objeto do Processo nº
0000226-59.2008.8.11.0093, que tinha a numeração
54/2008, e objeto do Código 47358, para assegurar,
em definitivo, a posse do imóvel rural de 6.632
hectares, denominado Fazenda Rio Negro, em favor
da empresa TIGRE INVESTIMENTOS S.A., conforme a
descrição pormenorizada constante do Memorial
Descritivo, imóvel este situado no município e
comarca de Feliz Natal, Estado de Mato Grosso, pois
255

só assim é que estará Vossa Excelência praticando


ato da mais lídima e sempre soberana

J U S T I Ç A!!!

e) A autora requer provar o alegado por todos os meios


de prova em direito admitidos, especialmente juntada
de novos documentos, se necessário.

f) A presente ação rescisória vem acompanhada do


depósito de 5% (cinco por cento) sobre o valor
da causa, cumprindo, assim, a exigência imposta
pelo inc. II do art. 968 do novel Diploma Processual.

Dá-se à presente ação rescisória o valor de R$


99.410,38 (noventa e nove mil, quatrocentos e dez
reais e trinta e oito centavos), que corresponde ao
valor atualizado atribuído à ação principal (Embargos
de Terceiro) cuja rescisão se pleiteia, que, em
19/03/2008, correspondeu a R$ 30.000,00 (trinta mil
reais), cuja planilha de cálculo atualizada acompanha
a documentação da presente actio.

Assim, acerca do valor da causa na ação


rescisória, por todos, julgado do egrégio Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, que reflete o
entendimento unânime da jurisprudência: “Não há
dúvida de que o valor a ser considerado na ação
rescisória é aquele atribuído à ação cujo acórdão ou
sentença se procura rescindir. Assim, deve-se aplicar
a correção monetária ao respectivo valor,
recuperando-lhe o mesmo poder primitivo que a
inflação corroeu” (RT 653/145).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Cuiabá, 26 de maio de 2016.

JOÃO AUGUSTO CAPELETTI


256

ADVOGADO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE


DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO.

URGENTE

Ação rescisória com pedido de medida liminar para sustar o


cumprimento do v. acórdão rescindendo.

Fundamentos legal: artigo 969 do novo CPC.

Ação rescisória visando a rescisão de v. acórdão da 6ª Câmara Cível deste


egrégio Tribunal.
257

ROTSON ANDRÉ ORLANDI, brasileiro,


solteiro, produtor rural, portador da cédula de identidade RG n. 49.677.693-
SSP/PR, inscrito no CPF/MF sob o n. 726.745.809-25, domiciliado na cidade
de União do Sul/MT, onde reside na Rua Xanxere, s/n, CEP 78.543-000;
LEOMAR TÁPPARO, brasileiro, produtor rural, solteiro, portador da CI/RG
12R 3.122.981-SSP/SC, inscrito no CPF sob o n. 816.984.709-59,
domiciliado na cidade de Cláudia/MT, onde reside na Rua Generoso Paes
Lemes, 506, CEP 78.540-000; JADER ROBERTO DA SILVA, brasileiro,
solteiro, produtor rural, portador da cédula de identidade RG n. 5.201.992-
3-SSP/PR, inscrito no CPF sob o n. 810.679.179-34, domiciliado na cidade
de União do Sul/MT, onde reside na Rua Xanxere, s/nº, CEP 78.540-000;

GILVANEI EDSON DE ALMEIDA, brasileiro, solteiro, produtor rural,


portador da cédula de identidade RG n. 65.155.419-SSP/PR, inscrito no CPF
sob o n. 789.312.901-87, domiciliado na cidade de Cláudia/MT, onde reside
na Rua Mario Correia da Costa, nº 371, CEP 78.540-000; JAIRO KRAUSE e
sua mulher MARIA VENZO KRAUSE, brasileiros, casados, ele produtor
rural, portador da cédula de identidade RG n. 1.897.544-SSP/PR, inscrito no
CPF sob o n. 409.288.459-15, ela do lar, portadora da cédula de identidade
RG n. 1087084-9-SSP/MT, inscrito no CPF sob o n. 594.420.851-15,
domiciliados na cidade de Cláudia/MT, onde residem na Rua Mario Correia
da Costa, nº 664, CEP 78.540-000; RÔMULO AFFONSO ROHDEN e sua
mulher JOSEANE BROLO, brasileiros, ele produtor rural, portador da
cédula de identidade RG n. 7/R-1.896.288-SSP/MT, inscrito no CPF sob o n.
594.495.609-78, ela do lar, portador da cédula de identidade nº 1147121-
2-SSP/MT, inscrito no CPF sob o n. 698.365.741-15, domiciliados na cidade
de Cláudia/MT, onde residem na Rua Costa e Silva, s/nº, CEP 78.540-000;
VILSON LUNKES, brasileiro, divorciado, produtor rural, portador da cédula
de identidade RG n. 3.953.731-1-SSP/PR, inscrito no CPF sob o n.
555.415.009-82, domiciliado na cidade de União do Sul/MT, onde reside na
estrada Rio Ouro, km 30, s/nº; RAIMUNDO APARECIDO DE SOUZA,
brasileiro, produtor rural, portador da cédula de identidade RG n. 750.649-
SSP/MT, inscrito no CPF sob o n. 452.045.431-04, domiciliado e residente
na Fazenda Nossa Senhora Aparecida, sito no município de Feliz Natal, por
seu advogado in fine assinado, ut instrumento de mandato colacionado em
anexo (docs. inclusos), vêm, com o devido acato a Vossa Excelência, com
fundamento nos artigos 966, V, 967, I, 968, I e II, 969, 974, caput, e 975,
todos do novo Código de Processo Civil, promover a vertente

AÇÃO RESCISÓRIA com pedido de medida


liminar para sustar os efeitos do v.
acórdão rescindendo
258

em desfavor de ESPÓLIO DE EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA


BONINI, na pessoa de sua inventariante VANESSA FRANÇA BONINI
PANICO, brasileira, casada, administradora de empresa, portadora do CPF
nº 062.635.828-04. residente e domiciliada na Rodovia São Paulo, 328, no
Km 310, Condomínio Veneza, casa 16, no município de Ribeirão Preto,
Estado de São Paulo; podendo, outrossim, ser encontrada no seguinte
endereço: Av. Costábile Romano, 2201, Ribeirância, na cidade de Ribeirão
Preto, Estado de São Paulo; e FUNDAÇÃO FERNANDO EDUARDO LEE,
pessoa jurídica inscrita no CNPJ sob o n. 52.039.435/0001-43, com sede na
Avenida Atlântica, 900, bairro Enseada, em Guarujá, Estado de São Paulo,
CEP 11442-070, na pessoa de seu representante legal, haja vista os
relevantes motivos fáticos e fundamentos jurídicos que, de ora avante,
passa articuladamente a alinhar:

I – DO CABIMENTO DA RESCISÓRIA
Antes de adentrarmos no meritum causae
da presente demanda rescisória, que visa a rescisão de v. acórdão
transitado em julgado da Sexta Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça
do Estado de Mato Grosso (fls. 1.438 e ss. – vol. VII), é indispensável
demonstrar o cabimento da presente ação rescisória.

Prima facie, cabe aos Autores demonstrar o


preenchimento do disposto no art. 966, inciso V, do novo Código de
Processo Civil, consoante o qual: “A decisão de mérito, transitada em
julgado, pode ser rescindida quando: (...) V – violar manifestamente
norma jurídica”.

Pois bem. A decisão de mérito que se


pretende rescindir é o v. acórdão proferido pela colenda Sexta Câmara Cível
desta Corte, nos autos da Apelação nº 72759/2013, Comarca de Feliz
Natal-MT, de relatoria da Exma. Sra. Desa. Serly Marcondes Alves, cuja
fundamentação pedimos vênia para transcrever, com destaque para as fls.
6-7 de 12; 10 de 12; e 11 de 12 do v. acórdão rescindendo, verbis:

“O cerne da questão reside em saber se os apelantes possuem as


posses legítimas da área em questão.

Nos termos dos artigos 926 e 927 do Código de Processo Civil, o


possuidor tem o direito de ser mantido na posse em caso de
turbação, incumbindo-lhe provar a sua posse. Vejamos:

Art. 926. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de


turbação e reintegrado no de esbulho.

Art. 927. Incumbe ao autor provar:


I – a sua posse;
259

II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;


III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de
manutenção; a perda da posse, na ação de reintegração.

Na hipótese, como acertadamente entendeu o Juízo singular, extrai-


se que os apelantes não lograram êxito para demonstrarem os
requisitos indispensáveis a comprovarem as suas posses, nos
termos do artigo 1.196 do Código Civil, in verbis:

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o


exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.

(...)

Ademais, como bem destacado pelo Juízo singular, outro fato que
não corrobora com as alegações dos apelantes, diz respeito aos
documentos carreados na exordial, sendo estes, somente
requerimentos administrativos para regularização de área junto ao
INTERMAT, todos datados do ano de 2005, ou seja, posteriores a
prolação da sentença nos autos principais.

(...)

Logo, em observância a regra sobre o ônus da prova, competiam aos


embargantes/apelantes (aqui Autores da demanda rescisória)
fazerem prova de que eram possuidores das áreas em questão, nos
termos do artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil de 1973,
ônus que não se desincumbiram, assim, perfeita a sentença do Juízo
singular ao julgar pela improcedência dos presentes embargos de
terceiro (cf. fls. 6-7 de 12; 10 de 12; e 11 de 12 do v. acórdão
rescindendo, respectivamente – vol. VII dos autos).

É supinamente relevante destacar que a


competência para apreciar e julgar a presente rescisória é do egrégio
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO. Isso porque,
malgrado tenha ocorrido a interposição do Recurso Especial nº
33.040/2015/MT, é certo que a esse apelo nobre foi NEGADO
SEGUIMENTO, conforme se extrai da conclusão proferida pela Exma. Sra.
Dra. Desembargadora Vice-Presidente CLARICE CLAUDINO DA SILVA, in
verbis:

“Desse modo, NEGO SEGUIMENTO AO RECURSO ESPECIAL” (vide


julgado em anexo – fl. 1.536 – VIII vol).
260

Ora, o uso da locução “nego seguimento


ao Recurso Especial” não deixa margens a dúvidas no sentido de que o
egrégio STJ não examinou o mérito da pretensão recursal excepcional,
mesmo porque não houve a interposição de RECURSO DE AGRAVO NOS
PRÓPRIOS AUTOS em face da decisão proferida pela Vice-Presidência
desta Corte.

Prova disso é que a decisão da Vice-


Presidência que negou seguimento ao Recurso Especial foi publicada no
DJe nº 9623/2015, na data de 23/09/2015 e, já no dia 05 de outubro de
2015, a Secretaria Auxiliar da Vice-Presidência certificou o trânsito em
julgado do v. acórdão rescindendo da Sexta Câmara Cível, conforme faz
prova a Certidão vazada nestes termos:

“CERTIDÃO TRÂNSITO EM JULGADO

CERTIFICO que a r. decisão transitou em julgado em 05/10/2015. Eu,


___________, digitei a presente, aos 27 dias do mês de novembro de 2015.
Eu, Paula Fernanda da Silva Xavier Paranaguá – Diretora do Departamento
da Secretaria da Vice-Presidência a conferi” (vide fls. 1.538 – VIII vol.).

Nesse contexto, salta aos olhos que a


última decisão de mérito foi proferida pela Sexta Câmara Cível deste
egrégio Sodalício, motivo pelo qual é competente esta Corte para apreciar a
vertente rescisória.

De outra banda, como a rescisória deve ser


veiculada no prazo decadencial de 2 (dois) anos, ex vi do disposto no art.
975 do novel Diploma Processual, temos que a demanda ora aforada está
dentro do prazo, pois, conforme CERTIDÃO DE TRÂNSITO EM JULGADO
E TERMO DE BAIXA subscrito pela Diretora do Departamento da
Secretaria da Vice-Presidência, o v. acórdão rescindendo transitou em
julgado na data de 5 de outubro de 2015. Portanto, o prazo escoa
somente em 5 de outubro de 2017.

De outro giro, no concernente à legitimidade


dos Autores ela é incontroversa, na medida em que os mesmos fazem parte
da relação jurídica processual desde o nascedouro do processo.

Destarte, tendo sido demonstrados os


requisitos de admissibilidade da presente ação rescisória, a saber:

(i) que a decisão de mérito transitou em julgado, e


corresponde ao v. acórdão rescindendo da Sexta Câmara Cível do TJMT
(art. 966, caput, e inc. V), sendo que o fundamento que autoriza a
261

rescisória é o inciso V do art. 966: “... violar manifestamente norma


jurídica”;

(ii) que ela está sendo aviada dentro do bienio


decadencial, em cumprimento ao art. 975 do CPC-2015;

(iii) que os autores tem legitimidade ad causam e


interesse processual no manejo da presente rescisória (art. 967, inc. I:
quem foi parte no processo), passa-se, doravante, ao exame do mérito da
presente actio, em que será demonstrada a violação ostensiva de normas
jurídicas do Código Civil e do Código de Processo Civil.

Em suma, por onde quer que se olhe, é


perfeitamente cabível a vertente ação rescisória, pois é patente que o v.
acórdão rescindendo fez tabula rasa de inúmeras normas jurídicas do
Código Civil.

II – DA VIOLAÇÃO MANIFESTA DE
NORMAS JURÍDICAS
O v. acórdão rescindendo proferido pela
Sexta Câmara Cível deste colendo Sodalício violou, de forma manifesta e
acintosa, as normas jurídicas de direito material que vêm expressas nos
artigos 926 e 927 do Código de Processo Civil-1973 (que
correspondem aos artigos 560 e 561 do novo CPC), e artigo 1.196, do
Código Civil, que possuem a seguinte redação:

“Art. 560 do novo CPC. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso
de turbação e reintegrado em caso de esbulho.

Art. 561. Incumbe ao autor provar:


I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a
perda da posse, na ação de reintegração.

Artigo 1.196 do Código Civil. Considera-se possuidor todo aquele que tem de
fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

A leitura do v. acórdão rescindendo na parte


em que julga o mérito da pretensão posta em juízo, deixa claro como a luz
do sol que essas normas jurídicas do Código de Processo Civil de 2015 e do
Código Civil foram manifestamente violadas, de modo que cabe a
rescisória com espeque na redação do inciso V do art. 966 do novo Diploma
Processual.
262

Prima facie, para que reste patente a


violação dessas normas jurídicas, é conditio sine qua non reproduzir os
fundamentos do v. acórdão rescindendo, para que fique claro que o julgado
cuja rescisão se pleiteia, afrontou as normas jurídicas dos artigos 926 e 927
do CPC-1973 (correspondente aos artigos 560 e 561 do novo CPC; e artigo
1.196 do Código Civil.

Diz o v. acórdão rescindendo, na parte que


interessa à presente actio:

“O cerne da questão reside em saber se os apelantes possuem as


posses legítimas da área em questão.

Nos termos dos artigos 926 e 927 do Código de Processo Civil-1973


(correspondente aos artigos 560 e 561, novo CPC), o possuidor tem o
direito de ser mantido na posse em caso de turbação, incumbindo-
lhe provar a sua posse. Vejamos:

Art. 926. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de


turbação e reintegrado no de esbulho (correspondente ao art. 560,
novo CPC).

Art. 927. Incumbe ao autor provar:


I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de
manutenção; a perda da posse, na ação de reintegração
(correspondente ao art. 561, novo CPC).

Na hipótese, como acertadamente entendeu o Juízo singular, extrai-


se que os apelantes não lograram êxito para demonstrarem os
requisitos indispensáveis a comprovarem as suas posses, nos
termos do artigo 1.196 do Código Civil, in verbis:

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o


exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.

(...)

Ademais, como bem destacado pelo Juízo singular, outro fato que
não corrobora com as alegações dos apelantes, diz respeito aos
documentos carreados na exordial, sendo estes, somente
requerimentos administrativos para regularização de área junto ao
263

INTERMAT, todos datados do ano de 2005, ou seja, posteriores a


prolação da sentença nos autos principais.

(...)

Logo, em observância a regra sobre o ônus da prova, competiam aos


embargantes/apelantes (aqui Autores da demanda rescisória)
fazerem prova de que eram possuidores das áreas em questão, nos
termos do artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil de 1973,
ônus que não se desincumbiram, assim, perfeita a sentença do Juízo
singular ao julgar pela improcedência dos presentes embargos de
terceiro (cf. fls. 6-7 de 12; 10 de 12; e 11 de 12 do v. acórdão
rescindendo, respectivamente – vol. VII dos autos).

Por outro lado, como bem salientado pelo Juízo singular, ficou demonstrado,
através dos depoimentos das testemunhas arroladas pelo apelado, que os
apelantes não eram possuidores da propriedade em questão.

Vejamos:

“(...) 3. Em 1987, o Embargante já era responsável pela área, cuidava para a


família Bonini. 4. Quando foi contratado pelo Sr. Evandro, foi impedido de
entrar na área, no final de 2005. 5. Sabe que foi feito vendas de lotes da área,
pelo Embargante Geraldo Alberto Borges de Oliveira Junior. 6. Seu Antonio
gerenciou por uns três meses a área e também foi proibido de entrar na área.
(...) 10. O Evandro passou uma procuração para o Geraldo, porque não tinha
muito tempo disponível, para que ele cuidasse da área, com relação aos
projetos do IBAMA e da SEMA. 11. O responsável pela fazenda era o Geraldo,
mas o dono da posse era o Evandro. 12. O Evandro passou uma procuração e
uma escritura para que o Embargante fizesse projeto, mas nunca vendeu
nenhuma parte da área. 14. O Embargante nunca teve a posse da área, quem
detinha a posse era o Evandro Bonini. 15. Após a saída de Geraldo da
administração da fazenda ficou o Antônio por um curto período, de três a
quatro meses. 17. O Sr. Evandro nunca abandonou a área. 19. O Sr. Geraldo não
fez nenhuma benfeitoria na área” (depoimento prestado pela testemunha
Avenir Fernando Marques de Araújo à fl. 1160 – vide também fl. 8-9 de 12 do v.
acórdão rescindendo).

“(...) 2. A área de 39 mil hectares foi adquirida por Evandro em 1973, tendo
como divisas o Rio Arraias e o Paralelo 54. 3. Em 1974 foi aberta uma pista de
pouso, em seguida o exército acertou a divisa dos índios, ampliou a pista, após
isto em posse pacífica até 1993, em que houve uma invasão por outras pessoas,
e veio pacífica até 2005. (...) 5. Inicialmente quem cuidava da área era Orestes,
em seguida Geraldo, que era procurador e administrador do Evandro, até
meados de 2005, depois o Antônio, o Avelino, final de 2005 veio o Fernando e
está até hoje na área. (...) 17. O Geraldo é primo do Evandro. 18. O Evandro
colocou em nome do Geraldo um título, somente para que fosse realizado um
264

projeto de manejo; é uma área de 7.040 hectares e foi feito em nome do


Geraldo por conta das penhoras existentes na área. 21. De 1993 para cá era o
Geraldo quem contratava empregados para a Fazenda, já que era procurador.
22. Geraldo nunca teve a posse da fazenda, ele era tido como funcionário ou
procurador” (depoimento prestado pela testemunha João Batista de Camargo
às fls. 1161 – vide fls. 9-10 de 12 do v. acórdão rescindendo).

“1. Trabalhou na área em 2005, para o Antonio Laurentino, tirando madeira,


lascas da Fazenda. 2. Sabe que “toda vida” a fazenda era do Evandro, e o
Geraldo era o gerente. Esse pessoal que comprou está na área, eles dizem que
foi o Geraldo que vendeu para eles em 2005; mas o Geraldo não era dono, era
Gerente, era a pessoa de confiança, não comprovou a venda. (...) 8. O Evandro
queria preservar a área, para não tirar madeira; os empregados dele eram o
Geraldo e o Antonio, eles cuidavam, tiravam lascas, tinham umas casas lá. (...)
14. Nunca ouviu que Geraldo tinha a posse da fazenda, sabia que ele era
empregado” (depoimento prestado pela testemunha Nerio Ribeiro às fls. 1159
– vide fls. 7-8 de 12 do v. acórdão rescindendo).

Ainda, como se vê destes depoimentos, constata-se que o apelante Geraldo


Alberto Borges de Oliveira Junior (que fazia parte da relação jurídica no
começo da lide de Embargos de Terceiro) era mero detentor da propriedade
em questão, consoante dispõe o artigo 1.198 do Código Civil, in verbis:
“Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para
com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou
instruções suas”,

Assim, demonstrado que o apelante não era possuidor, mas mero detentor da
propriedade em questão, subordinado as ordens de outras pessoas, não pode
alegar posse e consequentemente ter a sua disposição proteção possessória.

(...)

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao apelo” (transcrição dos fundamentos e


parte dispositiva do v. acórdão rescindendo).

Para que fique bem claro que o v. acórdão


rescindendo fez tabula rasa dos artigos 926 e 927 do Código de Processo
Civil-1973 (correspondente aos artigos 560 e 561, novo CPC); e artigo
1.196 do Código Civil, é fundamental levar em consideração dois aspectos
fundamentais que o v. acórdão rescindendo não se apercebeu: 1º-) que os
Autores da presente rescisória são terceiros que jamais fizeram parte da
Ação Possessória movida pelos réus Evandro Alberto de Oliveira Bonini e
Fundação Fernando Eduardo Lee (objeto do Processo nº 266/97); 2º-) em
decorrência dessa condição de terceiros, a posse dos Autores não decorreu
de negócio jurídico entabulado entre eles e os Réus da demanda
possessória Plácido Brolim, Sebastião de Matos e Jacy Ferminiano da
Silveira, de modo que jamais poderia ser autorizado o CUMPRIMENTO DE
265

SENTENÇA em face dos Autores da presente rescisória, sendo certo, nesse


particular, como será demonstrado, que o v. acórdão rescindendo violou
manifestamente a norma jurídica do art. 506 do novo CPC.

Dada a relevância desses dois aspectos, eles


serão analisados detidamente a seguir.

III – DA FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE


EXERCIDA PELOS AUTORES
Ilustre Desembargador Relator: o v.
acórdão rescindendo não se deu conta de alguns aspectos cardeais e de
capital importância para o desfecho favorável da presente ação rescisória.

O primeiro aspecto fundamental é que os


Autores:

ROTSON ANDRÉ ORLANDI – 1.848,00 hectares;


LEOMAR TÁPPARO – 1.977,00 hectares;
JADER ROBERTO DA SILVA – 2.147,9983 hectares;
GILVANEI EDSON DE ALMEIDA – 2.151,9054 hectares;
JAIRO KRAUSE – 2.111.2450 hectares;
ROMULO AFONSO ROHDEN – 2.107,8821 hectares;
VILSON LUNKES – 2.451,1455 hectares; e
RAIMUNDO APARECIDO DE SOUZA – 1.736,2076

não adquiriram a posse dos imóveis rurais que perfazem aproximadamente


16.530 has (dezesseis mil quinhentos e trinta hectares) dos Réus da
Ação de Reintegração de Posse movida por Evandro Alberto de Oliveira
Bonini e Fundação Fernando Eduardo Lee.

Deveras, nesta demanda possessória


proposta em desfavor de PLÁCIDO BROLIM, SEBASTIÃO DE MATOS e
JACY FERMINIANO DA SILVEIRA, a disputa envolve uma área de 39.000
hectares, portanto, mais do que o dobro da área em disputa na presente
rescisória.

Mas o aspecto mais relevante é que a


aquisição da posse dos Autores da rescisória NÃO DERIVA, NÃO
DECORRE da posse dos senhores PLÁCIDO BROLIM, SEBASTIÃO DE
MATOS e JACY FERMINIANO DA SILVEIRA.

Com efeito, a posse dos Autores decorreu


de uma ocupação sem resistência, em que os Autores tomaram posse de
suas áreas na quantidade acima discriminada de forma mansa e pacífica, ou
seja, ocuparam a posse em decorrência de um fenômeno puramente
266

fático: a posse ius possessionis, isto é, a posse que decorre de um fato


oriundo de uma ocupação não resistida.

Bem percebeu esse fenômeno os ilustres


civilistas CRISTIANO CHAVES DE FARIAS e NELSON ROSENVALD, que
ressaltam que a posse puramente fática é aquela que cumpre, por
excelência, a FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE. Confira:

“Há ainda uma terceira esfera da posse, que se afasta das duas concepções
patrimoniais tradicionais acima descritas (posse decorrente do direito real de
propriedade; e, posse decorrente de um direito obrigacional – v.g., contrato de
locação, de comodato etc.).
Cuida-se de uma dimensão possessória que não se localiza no universo dos
negócios jurídicos que consubstanciam direitos subjetivos reais ou obrigacionais.
Trata-se de uma posse emanada exclusivamente de uma situação fática e
existencial, de apossamento e ocupação da coisa, cuja natureza autônoma
escapa do exame das teorias tradicionais. É aqui que reside a função social da
posse” (Curso de Direito Civil – Reais, 10ª ed. Salvador: Editora JusPodivm, vol. 5, p. 61).

Como se nota, a posse não se identifica


somente com o exercício do direito de propriedade. Ela é mais do que isto,
para EBERT CHAMOUN “simboliza o poder fático exercido por uma
pessoa sobre um bem, de maneira a dela extrair proveito
econômico. A posse se materializa na prática de qualquer ato por meio do
qual a propriedade se exterioriza, mas não se identifica com o exercício do
direito de propriedade” (Exposição de Motivos do Esboço do Anteprojeto do
Código Civil – Direito das Coisas, Revista Trimestral de Direito Civil, p. 28).

Ora, no caso em testilha, como a posse dos


Autores decorreu de um fenômeno puramente fático de ocupação dos imóveis
rurais na quantidade acima discriminada, os ocupantes são terceiros em relação à
demanda de Reintegração de Posse movida por Evandro Alberto de Oliveira
Bonini e Fundação Fernando Eduardo Lee (Réus desta rescisória) em
desfavor de PLÁCIDO BROLIM, SEBASTIÃO DE MATOS e JACY
FERMINIANO DA SILVEIRA.

Não há entre os Autores desta rescisória e


os senhores Plácido, Sebastião e Jacy nenhum típico de vínculo de natureza
jurídica: (i) nunca houve contrato de compra e venda de direitos
possessórios; (ii) nunca houve cessão de direito de posse; (iii) nunca houve
arrendamento ou locação entre eles e assim sucessivamente.

Não há nada, absolutamente nada, que


vincula o nome dos Autores desta rescisória com as pessoas que figuraram
como Réus na demanda possessória objeto do Processo nº 266/1997,
exatamente porque os Autores adquiriram a posse de forma autônoma.
267

E essa ocupação dos Autores que ocorreu


no ano de 2003 perdurou até o ano de 2016; portanto, perdurou pelo
longo lapso temporal de 13 ANOS, quando os Autores foram
injustamente desalojados dos imóveis rurais pelos Réus da rescisória que
jamais exerceram prática de atos possessórios sobre esses imóveis.

Ora, em situações desse jaez, a


jurisprudência pátria é absolutamente assente no sentido de que deve
prevalecer a posse dos Autores da rescisória, mormente porque eles jamais
foram citados e/ou convocados para fazer parte da Ação de Reintegração de
Posse proposta pelos Réus da presente rescisória, e muito menos podem
ser considerados sucessores de Plácido Brolim e Outros, já que nada liga
os Autores da rescisória a essas pessoas.

Assim, por todos, expressivo julgado do TRF


da 4ª Região, verbis:

“AÇÃO POSSESSÓRIA – Reintegração de posse – Ocupação por mais


de 15 anos de área de terras que é parte de um todo maior
desapropriado pelo INCRA para fins de reforma agrária – Cultivo para
a retirada dos meios de subsistência – Circunstâncias que tornam
legítima a posse dos colonos.
Ementa Oficial: A ocupação pelos réus há mais de 15 anos de área de
terras que é parte de um todo maior desapropriado pelo INCRA para fins de
reforma agrária, e o seu cultivo para a retirada dos meios de subsistência,
assim constatado pela própria autarquia, associada à descaracterização da
presunção de que a área seria imprópria ao cultivo, torna legítima a posse
dos colonos, contestada pelo autor” (Ap 98.04.02226-5/PR, 3ª Turma do TRF
da 4ª Região, rela. Juíza Federal Taís Schilling Ferraz, DJu 13.11.2002, RT
810/430).

Nessa mesma linha de entendimento,


expressivo aresto do eg. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO AMAPÁ, verbis:

“AÇÃO POSSESSÓRIA – Reintegração de posse – Admissibilidade –


Autor que comprova possuir de fato o exercício de um dos poderes
inerentes à propriedade – Deferimento da medida que se impõe.
1. A ação possessória tem por objetivo assegurar proteção interdital ao
possuidor destituído de sua posse por esbulho possessório, garantindo-lhe
sua recuperação do poder de quem injustamente a detinha em razão de ato
violento, clandestino ou precário.
2. Só é possuidor quem tenha, de fato, o exercício, pleno ou não, de algum
dos poderes inerentes à propriedade” (Ap 0038019-39.2008.8.03.0001, Câmara
Única do TJAP, rel. Juiz convocado Constantino Brahuna, DJe-AP 26.05.2011, RT
911/776).

Ora, a farta documentação acostada à


presente rescisória demonstra, com clareza solar, que os Autores estavam
268

na posse dos imóveis rurais há mais de 13 anos e, nessa condição, não


poderiam ser atingidos pelo cumprimento da sentença, mesmo porque
nunca fizeram parte da Ação de Reintegração de Posse movida pelos Réus
da presente demanda: EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA BONINI e
FUNDAÇÃO FERNANDO EDUARDO LEE.

Como o v. acórdão rescindendo negou a


condição de possuidores dos Autores desta rescisória, pedimos vênia para
discriminar a posse plena de cada um dos Autores, que tomou por base a
divisão da documentação em 8 (oito) anexos, pois é absolutamente fora de
propósito a conclusão a que chegou o v. acórdão rescindendo, de que os
Autores desta actio não se desincumbiram do ônus de provar sua posse.

c) Posse do autor ROTSON ANDRÉ


ORLANDI – Anexo I
Consoante comprova o ANEXO I –
referente ao possuidor ROTSON ANDRÉ ORLANDI – são inúmeros os atos
que comprovam a sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse


Anexo, temos uma Certidão Administrativa de nº 003/2005, expedida pelo
INTERMAT, onde está dito que o Sr. Rotson André Orlandi está na posse
mansa e pacífica de uma área de terras com 1.841,5239 has (hum mil,
oitocentos e quarenta e um hectares, cinquenta e dois ares e trinta
e nove centiares).

Em razão dessa ocupação, a ASSEMBLEIA


LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO editou a Resolução nº
146, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 4 do Anexo I), em que está dito
que:

“RESOLUÇÃO Nº 146, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Rotson André Orlandi.
A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base no
que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 1.841,5239 ha,
269

denominada “Fazenda Angelim”, conforme projeto específico do INTERMAT,


sob o n. 87.17.50.7574/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a leste: com terras da fazenda Tigre;
– a oeste: com terras de Leomar Tápparo” (vide doc. 4 do Anexo I).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte


da Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia
Legislativa do Estado de que o co-autor ROTSON ANDRÉ ORLANDI ocupa
uma porção de terras de 1.841,5239 ha é uma prova inequívoca da sua
condição de possuidor pleno e efetivo, pois o Parlamento Mato-grossense
jamais baixaria uma Resolução de regularização fundiária para uma pessoa
que não estivesse na posse do bem; mais precisamente: cumprindo a
função social da posse.

Além desse documento de capital


importância, existem outros que comprovam que o Sr. Rotson André
Orlandi exercia a posse plena da Fazenda “Angelim”, a saber:

(i) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro


Ambiental Rural (cf. doc. 5 do Anexo I).

(ii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que


o possuidor Rotson André Orlandi desmatou 569,00 ha
(quinhentos e sessenta e nove hectares), onde investiu na
produção de grãos de soja. A “dinâmica de desmate” vem
comprovada com documentos de imagem de satélite (vide doc. 6
com as fotos de satélite).

(iii) Documentos de Registros de Empregados, que mostra que


existiam pessoas que trabalhavam para o possuidor Rotson André
Orlandi (vide docs. 10, 11 e 12 do Anexo I).

(iv) Documentos comprobatórios de recolhimento de INSS – Guia


da Previdência Social, FGTS, Contribuição Sindical de Assalariado
Rural (docs. 13 usque 20 do Anexo I).

(v) Notas Fiscais referentes à aquisição dos mais diversos


produtos para investimento no imóvel rural Fazenda “Angelim’,
que vão desde a aquisição de parafusos, rolamentos, discos, até
aquisição de sementes para plantação de soja (docs. 22 a 29 do
Anexo I).
270

Ademais disso, as 6 (seis) fotos que seguem


abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitas na Fazenda
“Angelim” pelo possuidor Rotson A. Orlandi.

Confira:
271
272
273

b) Posse do autor LEOMAR TÁPPARO –


Anexo II
Consoante comprova o ANEXO II –
referente ao possuidor LEOMAR TÁPPARO – são inúmeros os atos que
comprovam a sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse


Anexo, temos uma Certidão Administrativa de nº 007/2005, expedida pelo
INTERMAT, onde está dito que o Sr. Leomar Tápparo está na posse
mansa e pacífica de uma área de terras com 1.993,7382 ha (hum mil,
novecentos e noventa e três hectares, setenta e três ares e oitenta e
dois centiares), já que o MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda “Tapajós”
revelou que a área possuída efetivamente corresponde a 1.993,7382 ha.,
conforme comprovam os docs. 2 e 3, sendo este referente ao Memorial.

Em razão dessa ocupação, a ASSEMBLEIA


LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO editou a Resolução nº
144, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 2 do Anexo II), em que está dito
que:

“RESOLUÇÃO Nº 144, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Leomar Tápparo.

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base no


que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:
274

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 1.993,7382 ha,
denominada “Fazenda Tapajós”, conforme projeto específico do INTERMAT,
sob o n. 87.17.50.7574/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a leste: com terras de Rotson André Orlandi;
– a oeste: com terras de Jáder Roberto da Silva” (vide doc. 2 do Anexo II).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte


da Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia
Legislativa do Estado de que o co-autor LEOMAR TÁPPARO ocupa uma
porção de terras de 1.993,7382 ha é uma prova inequívoca da sua condição
de possuidor pleno e efetivo, pois o Parlamento Mato-grossense jamais
baixaria uma Resolução de regularização fundiária para uma pessoa que
não estivesse na posse do bem; mais precisamente: cumprindo a função
social da posse.

Além desse documento de capital


importância, existem outros que comprovam que o Sr. Leomar Tápparo
exercia a posse plena da Fazenda “Tapajós”, a saber:

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado


Fazenda “Tapajós”, contendo Memorial Descritivo, Plantas,
Comprovante de pagamento de taxas do CREA/MT, Declarações
de confinantes, relatórios etc. (cf. docs. 4 usque 12 do Anexo II).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro


Ambiental Rural (cf. doc. 13 do Anexo II).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que


o possuidor Leomar Tápparo desmatou e investiu em parte do
imóvel rural. A “dinâmica de desmate” vem comprovada com
documentos de imagem de satélite (vide doc. 14 com as fotos de
satélite).

(iv) Documentos de Registros de Empregados, que mostra que


existiam pessoas que trabalhavam para o possuidor Leomar
Tápparo (vide docs. 18 e 30 do Anexo II).
275

(v) Documentos comprobatórios de recolhimento de INSS – Guia


da Previdência Social, FGTS, Contribuição Sindical de Assalariado
Rural, Recibo de Pagamento de Salário (docs. 19 usque 27 do
Anexo II; idem docs. 31, 32 e 33).

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que


seguem abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitas na
Fazenda “Tapajós” pelo possuidor.

Confira as fotos que ilustram os


investimentos feitos pelo possuidor Leomar Tápparo no imóvel rural
denominado Fazenda “Tapajós”:
276
277

c) Posse do autor JADER ROBERTO DA


SILVA – Anexo III
Consoante comprova o ANEXO III –
referente ao possuidor JADER ROBERTO DA SILVA – são inúmeros os
atos que comprovam a sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o docs. 2 a 9 desse


Anexo, o Sr. Jader Roberto da Silva está na posse mansa e pacífica de
uma área de terras com 2.147,9983 ha (dois mil, cento e quarenta e
sete hectares, noventa e nove ares e oitenta e três centiares), já que
o MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda “Alvorada” revelou que a área
possuída efetivamente corresponde a 2.147,9983 ha., conforme comprova o
doc. 9 do Anexo III.

Em razão dessa ocupação, a ASSEMBLEIA


LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO editou a Resolução nº
142, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 1 do Anexo III), em que está dito
que:

“RESOLUÇÃO Nº 144, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Jader Roberto da Silva.

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base no


que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:
278

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 2.147,9983 ha,
denominada “Fazenda Alvorada”, conforme projeto específico do
INTERMAT, sob o n. 87.17.50.7563/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a leste: com terras de Leomar Tápparo;
– a oeste: com terras de Gilvanei Edson de Andrade” (vide doc. 1 do Anexo
III).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte


da Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia
Legislativa do Estado de que o co-autor JADER ROBERTO DA SILVA
ocupa uma porção de terras de 2.147,9983 ha é uma prova inequívoca da
sua condição de possuidor pleno e efetivo, pois o Parlamento Mato-
grossense jamais baixaria uma Resolução de regularização fundiária para
uma pessoa que não estivesse na posse do bem; mais precisamente:
cumprindo a função social da posse.

Além desse documento de capital


importância, existem outros que comprovam que o Sr. Jader Roberto da
Silva exercia a posse plena da Fazenda “Alvorada”, a saber:

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado


Fazenda “Alvorada”, situada no Município de Feliz Natal, Estado do
Mato Grosso, contendo Memorial Descritivo, Plantas, Comprovante
de pagamento de taxas do CREA/MT, Declarações de confinantes,
relatórios, pedido de certidão para fins tributários junto ao
Município onde se situa o imóvel etc. (cf. docs. 2 usque 9 do
Anexo III).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro


Ambiental Rural (cf. doc. 10 do Anexo III).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que


o possuidor Jader Roberto da Silva desmatou e investiu em parte
do imóvel rural. A “dinâmica de desmate” vem comprovada com
documentos de imagem de satélite (vide doc. 11 com as fotos de
satélite).
279

(iv) Documento expedido pela Secretaria de Fazenda do Estado de


Mato Grosso, referente a Cartão de Identificação do
Contribuinte, em que o possuidor aparece como produtor rural
(cf. docs. 14 e 15 do Anexo III).

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que


seguem abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitas na
Fazenda “Alvorada” pelo possuidor Jader Roberto da Silva.

Confira as fotos que ilustram os


investimentos feitos:
280
281

d) Posse do autor GILVANEI EDSON DE


ALMEIDA – Anexo IV
Consoante comprova o ANEXO IV –
referente ao possuidor GILVANEI EDSON DE ALMEIDA – são inúmeros os
atos que comprovam a sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse


Anexo, temos uma Certidão Administrativa de nº 008/2005, expedida pelo
INTERMAT, onde está dito que o Sr. Gilvanei Edson de Almeida está na
posse mansa e pacífica de uma área de terras com 2.151,9054 ha
(dois mil, cento e cinquenta e um hectares, noventa ares e
cinquenta e quatro centiares), já que o MEMORIAL DESCRITIVO da
Fazenda “Tapajós” revelou que a área possuída efetivamente corresponde a
essa porção de terra, conforme comprovam os docs. 3 e 4, que se referem
ao Memorial Descritivo e ao serviço de Georreferenciamento,
respectivamente.

Em razão dessa ocupação mansa, pacífica e


ininterrupta, a ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO
GROSSO editou a Resolução nº 147, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 2
do Anexo IV), em que está dito que:

“RESOLUÇÃO Nº 147, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Gilvanei Edson de Almeida.
282

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base no


que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 2.151,9054 ha,
denominada “Fazenda Vale Verde”, conforme projeto específico do
INTERMAT, sob o n. 87.17.50.7580/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a leste: com terras de Jader Roberto da Silva;
– a oeste: com terras de Jairo Krause” (vide doc. 2 do Anexo IV).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte


da Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia
Legislativa do Estado de que o co-autor GILVANEI EDSON DE ALMEIDA
ocupa uma porção de terras de 2.151,9054 ha é uma prova inequívoca da
sua condição de possuidor pleno e efetivo, pois o Parlamento Mato-
grossense jamais baixaria uma Resolução de regularização fundiária para
uma pessoa que não estivesse na posse do bem; mais precisamente:
cumprindo a função social da posse.

Além desse documento de capital


importância, existem outros que comprovam que o Sr. Gilvanei Edson de
Almeida exercia a posse plena da Fazenda “Vale Verde”, a saber:

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado


Fazenda “Vale Verde”, contendo Memorial Descritivo, Plantas,
Comprovante de pagamento de taxas do CREA/MT, Declarações
de confinantes, relatórios, atestado de localização, pedido de
certidão para fins tributário e fiscal junto ao Município de Feliz
Natal etc. (cf. docs. 4 usque 13 do Anexo IV).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro


Ambiental Rural (cf. doc. 14 do Anexo IV).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que


o possuidor Gilvanei Edson de Almeida desmatou e investiu em
parte do imóvel rural. A “dinâmica de desmate” vem comprovada
283

com documentos de imagem de satélite (vide doc. 15 com as


fotos de satélite).

(iv) Notas Fiscais de aquisição de sementes junto à empresa


Sementes Aguilar, bem como de aquisição de produtos como
arame liso, lona plástica, pulverizador, enxadas, vacina aftosa
oleosa (vide docs. 19 a 23 do Anexo IV).

(v) Documentos de Registros de Empregados, que mostra que


existiam pessoas que trabalhavam para o possuidor Gilvanei
Edson de Almeida (vide docs. 24, 25 e 26 do Anexo IV).

(vi) Documentos comprobatórios de recolhimento de INSS – Guia


da Previdência Social, FGTS, Contribuição Sindical de Assalariado
Rural, Recibo de Pagamento de Salário, Termo de Rescisão de
Contrato de Trabalho, Relatório Anual de Informações Sociais -
RAIS (docs. 27 usque 44; bem como docs. 54 a 62 do Anexo IV).

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que


seguem abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitos na
Fazenda “Vale Verde” pelo possuidor Gilvanei Edson de Almeida, sendo que
a placa de identificação do Projeto de Regularização Fundiária está até
desgastada pelo tempo (só dá pra enxergar o sobrenome “Almeida”.
Confira:
284
285

e) Posse do autor JAIRO KRAUSE –


Anexo V
Consoante comprova o ANEXO V –
referente ao possuidor JAIRO KRAUSE – são inúmeros os atos que
comprovam a sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse


Anexo, temos uma Certidão Administrativa de nº 005/2005, expedida pelo
INTERMAT, onde está dito que o Sr. Jairo Krause está na posse mansa e
pacífica de uma área de terras com 2.111,2450 ha (dois mil, cento e
onze hectares, vinte e quatro ares e cinquenta centiares), já que o
MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda “Leão Negro” revelou que a área
possuída efetivamente corresponde a essa porção de terra, conforme
comprovam os docs. 3 e 5, que se referem ao serviço de
Georreferenciamento e ao Memorial Descritivo, respectivamente.

Em razão dessa ocupação mansa, pacífica e


ininterrupta, a ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO
GROSSO editou a Resolução nº 143, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 2
do Anexo V), em que está dito que:

“RESOLUÇÃO Nº 143, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Jairo Krause.
286

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base no


que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 2.111,2450 ha,
denominada “Fazenda Leão Negro”, conforme projeto específico do
INTERMAT, sob o n. 87.17.50.7566/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com terras de Gilvanei Edson de Almeida e o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Rômulo A. Rohden;
– a leste: com terras de Gilvanei Edson de Almeida;
– a oeste: com terras de Rômulo A. Rohden” (vide doc. 2 do Anexo V).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte


da Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia
Legislativa do Estado de que o co-autor JAIRO KRAUSE ocupa uma porção
de terras de 2.111,2450 ha é uma prova inequívoca da sua condição de
possuidor pleno e efetivo, pois o Parlamento Mato-grossense jamais
baixaria uma Resolução de regularização fundiária para uma pessoa que
não estivesse na posse do bem; mais precisamente: cumprindo a função
social da posse no desenvolvimento do imóvel rural denominado Fazenda
“Leão Negro”.

Além desse documento de capital


importância, existem outros que comprovam que o Sr. Jairo Krause exercia
a posse plena da Fazenda “Leão Negro”, a saber:

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado


Fazenda “Leão Negro”, contendo Memorial Descritivo, Plantas,
Comprovante de pagamento de taxas do CREA/MT, Declarações
de confinantes, relatórios, atestado de localização, pedido de
certidão para fins tributário e fiscal junto ao Município de Feliz
Natal etc. (cf. docs. 3 usque 12 do Anexo V).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro


Ambiental Rural (cf. doc. 13 do Anexo V).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que


o possuidor Jairo Krause desmatou e investiu em parte do imóvel
287

rural. A “dinâmica de desmate” vem comprovada com documentos


de imagem de satélite (vide doc. 14 com as fotos de satélite).

(iv) Documentos de Registros de Empregados, que mostra que


existiam pessoas que trabalhavam para o possuidor Jairo Krause
(vide docs. 18 a 22 do Anexo V).

(v) Documentos comprobatórios de recolhimento de INSS – Guia


da Previdência Social, FGTS, Contribuição Sindical de Assalariado
Rural, Recibo de Pagamento de Salário, Termo de Rescisão de
Contrato de Trabalho, Relatório Anual de Informações Sociais -
RAIS (docs. 23 usque 26; idem, docs. 28 a 34; idem docs. 37 a 45
do Anexo V).

(vi) Notas Fiscais de aquisição de vacina aftosa oleosa, barra de


ferro, carrinho de mão (vide docs. 27 e 35 do Anexo V).

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que


seguem abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitos na
Fazenda “Leão Negro” pelo possuidor Jairo Krause. Confira:
288
289

f) Posse do autor ROMULO AFFONSO


ROHDEN – Anexo VI
Consoante comprova o ANEXO VI –
referente ao possuidor ROMULO AFFONSO ROHDEN – são inúmeros os
atos que comprovam a sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse


Anexo, temos uma Certidão Administrativa de nº 004/2005, expedida pelo
INTERMAT, onde está dito que o Sr. Romulo Affonso Rohden está na
posse mansa e pacífica de uma área de terras com 2.107,8821 ha
(dois mil, cento e sete hectares, oitenta e oito ares e vinte e um
centiares), já que o MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda “Cambará”
revelou que a área possuída efetivamente corresponde a essa porção de
terra, conforme comprovam os docs. 3 e 10, que se referem ao serviço de
Georreferenciamento e ao Memorial Descritivo, respectivamente.

Em razão dessa ocupação mansa, pacífica e


ininterrupta, a ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO
GROSSO editou a Resolução nº 145, de 22 de junho de 2006 (vide doc. 2
do Anexo VI), em que está dito que:

“RESOLUÇÃO Nº 145, DE 22 DE JUNHO DE 2006.

Autor: Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário


Autoriza a regularização de ocupação fundiária da área de terras, no
Município de Feliz Natal, a Rômulo Affonso Rohden.
290

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base no


que dispõe os arts. 323, §2º, e 327, da Constituição Estadual, combinados
com o art. 49, III, “c”, e §2º, do Regimento Interno:

R E S O L V E:

Art. 1º. Autorizar a regularização de ocupação fundiária da área de terras,


localizada no Município de Feliz Natal, com área de 2.107,8821 ha,
denominada “Fazenda Cambará”, conforme projeto específico do
INTERMAT, sob o n. 87.17.50.7585/11-2002-E.
Parágrafo único. O referido imóvel possui as seguintes confrontações:
– ao norte: com terras de Jairo Krause e com o rio Arraias;
– ao sul: com terras de Vilson Lunkes;
– a leste: com terras de Rogério Luiz Rodrigues;
– a oeste: com terras de Vilson Lunkes e com o rio arraias” (vide doc. 2 do
Anexo VI).

Ora, Excelência, o reconhecimento por parte


da Comissão de Terras e Desenvolvimento Agrário da Assembléia
Legislativa do Estado de que o co-autor RÔMULO AFFONSO ROHDEN
ocupa uma porção de terras de 2.107,8821 ha é uma prova inequívoca da
sua condição de possuidor pleno e efetivo, pois o Parlamento Mato-
grossense jamais baixaria uma Resolução de regularização fundiária para
uma pessoa que não estivesse na posse do bem; mais precisamente:
cumprindo a função social da posse no desenvolvimento do imóvel rural
denominado Fazenda “Cambará”.

Além desse documento de capital


importância, existem outros que comprovam que o Sr. Rômulo Affonso
Rohden exercia a posse plena da Fazenda “Cambará”, a saber:

(i) Processo de georreferenciamento do imóvel rural denominado


Fazenda “Cambará”, contendo Memorial Descritivo, Plantas,
Comprovante de pagamento de taxas do CREA/MT, Declarações
de confinantes, relatórios, atestado de localização, pedido de
certidão para fins tributário e fiscal junto ao Município de Feliz
Natal etc. (cf. docs. 3 usque 12 do Anexo VI).

(ii) Recibo de Inscrição do Imóvel Rural no CAR – Cadastro


Ambiental Rural (cf. doc. 13 do Anexo VI).

(iii) Documento denominado Dinâmica de Desmate demonstra que


o possuidor Rômulo Affonso Rohden desmatou e investiu em parte
do imóvel rural. A “dinâmica de desmate” vem comprovada com
291

documentos de imagem de satélite (vide doc. 14 com as fotos de


satélite).

(iv) Documento expedido pela SECRETARIA DE FAZENDA DO


GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO em que aparece a
Inscrição Estadual e o CNPJ da Fazenda Cambará, com endereço
na Rodovia da Soja, km 123, município de Feliz Natal, Estado do
Mato Grosso (vide docs. 17 e 18 do Anexo VI).

Ademais disso, as 4 (quatro) fotos que


seguem abaixo demonstram os vultosos investimentos que foram feitos na
Fazenda “Cambará” pelo possuidor Rômulo Affonso Rohden, no
cumprimento da função social do instituto da posse.

Confira:
292
293

g) Posse do autor VILSON LUNKES –


Anexo VII
Consoante comprova o ANEXO VII –
referente ao possuidor VILSON LUNKES – são inúmeros os atos que
comprovam a sua posse plena e efetiva.

Deveras, de acordo com o doc. 1 desse


Anexo, temos uma Certidão Administrativa de nº 006/2005, expedida pelo
INTERMAT, onde está dito que o Sr. Vilson Lunkes está na posse mansa
e pacífica de uma área de terras com 2.451,1455 ha (dois mil,
quatrocentos e cinquenta e um hectares, catorze ares e cinquenta e
cinco centiares), já que o MEMORIAL DESCRITIVO da Fazenda “Bom
Retiro” revelou que a área possuída efetivamente corresponde a essa
porção de terra, conforme comprovam os docs. 3 e 7, que se referem ao
serviço de Georreferenciamento e ao Memorial Descritivo, respectivamente.

Em razão dessa ocupação mansa, pacífica e


ininterrupta, nos idos de 30 de julho de 2010 foi lavrada uma ESCRITURA
PÚBLICA DECLARATÓRIA junto ao Serviço Notarial e Registral União do Sul
– Cartório Villa, em que o declarante e legítimo possuidor Vilson Lunkes
atesta que: “... exerce a posse mansa, pacífica e ininterrupta, sem
coação de qualquer espécie ou natureza e de conhecimento público desde
10 de janeiro de 2003, ou seja a mais de 7 (sete) anos, sobre uma área
de terras com 2.473,4943 ha, denominada FAZENDA BOM RETIRO,
294

localizada no município de Feliz Natal, Estado de Mato Grosso, dentro dos


seguintes limites e confrontações....”.

Ainda, dessa ESCRITURA PÚBLICA


DECLARATÓRIA vale destacar os seguintes excertos:

2º-) Que se encontra na referida posse, desde a sua aquisição, e que seus
confinantes respeitam seus limites e confrontações como a divisa correta
entre as propriedades; 3º-) Que a referida posse foi adquirida mansa e
pacificamente através de desbravamento destinado à exploração
agropecuária, não degradando, atingindo ou invadindo imóveis ou áreas
de posse de terceiros, cujo histórico resumidamente declarado é de
conhecimento dos confinantes de propriedades e justificam o direito
declarado” (cf. doc. 2 em anexo).

Essa passagem da Escritura Pública


Declaratória revela um aspecto de capital importância para a presente
rescisória, que diz respeito à origem da posse dos Autores, pois todas
elas foram adquiridas motu proprio para fins de desbravamento destinado à
exploração agropecuária, não derivando a posse dos Autores ROTSON
ANDRÉ ORLANDI, LEOMAR TÁPPARO, JADER ROBERTO DA SILVA, GILVANEI
EDSON DE ALMEIDA, JAIRO KRAUSE, RÔMULO AFFONSO ROHDEN, VILSON
LUNKES e RAIMUNDO APARECIDO DE SOUZA de negócio jurídico ou cessão
de direito possessório de quem quer que seja.

Essa origem de aquisição da posse


como fenômeno puramente fático revela dois aspectos para os quais
não se atentou o v. acórdão rescisório, a saber: primeiro – que os Autores
cumpriram zelosamente a função social do instituto da posse, na medida
em que os Réus desta rescisória – ao figurarem apenas como
“proprietários”, nunca tiveram a posse do imóvel rural de 39.000 ha (trinta
e nove mil hectares).

Tanto isso é uma verdade axiomática e


irrefutável que os Autores permaneceram tranquilamente na posse de 2003
a 2016, quando foram atingidos por uma ordem judicial de um processo do
qual NUNCA FIZERAM PARTE.

Ora, se a origem de aquisição da posse dos


Autores decorreu de um “fenômeno fático”, consistente na ocupação dos
imóveis rurais para fins agropecuários, é cediço que o v. acórdão
rescindendo fez tabula rasa dos artigos 560 e 561 do novel Diploma
Processual – correspondente aos artigos 926 e 927 do Código de Processo
Civil-1973, e 1.196 do Código Civil:

Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de


turbação e reintegrado em caso de esbulho.
295

Art. 927. Incumbe ao autor provar:


I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de
manutenção; ou a perda da posse, na ação de reintegração.

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o


exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.

Ora, se se considera possuidor “... todo


aquele que tem de fato o exercício de algum dos poderes inerentes
à propriedade” e, in casu, os Autores tem o direito de uso e desfrute da
posse como componente mais expressivo da visibilidade do exercício da
posse desde os idos de 2003, salta aos olhos que o v. acórdão rescindendo
feriu de morte os artigos acima alinhados.

No sentido de proteger a posse do


possuidor de fato, podemos trazer à colação, à guisa de exemplos, os
seguintes arestos, verbis:

I-) “POSSESSÓRIA – Manutenção de posse – Proteção que independe de


alegação de domínio – Possibilidade de ser exercitada até mesmo contra
o proprietário, se comprovada a posse e sua origem. Comprovada a posse e
sua origem, a proteção possessória independe da alegação de domínio e pode
ser exercitada até mesmo contra o proprietário ou possuidor indireto” (Ap
50.019-4, 4ª Câmara do TJMG, rel. Des. Mercêdo Moreira, j. 25.04.1990, RT 670/156).

E, do corpo desse lapidar aresto, colhe-se a


seguinte passagem que cai como uma luva à presente actio:

“Por fim, é necessário ficar claro que o documento de domínio, com o qual
pretendem os apelantes justificar seus atos e, inclusive, nele estribar sua posse,
que seria de mais de ano e dia, não tem qualquer validade para o alcance do
que objetivam. Nesse sentido é o acórdão deste Tribunal prolatado na Ap
26.372, rel. Des. Haroldo Sodré (j. 09.11.1984), verbis:

“POSSE – Caracterização – Proteção possessória – Alegação de domínio –


Não dependência – Interditos contra o possuidor – Via ordinária. O
exercício da posse não se afirma por mera alegação, mas é caracterizado pela
prática de atos que, de fato, expressem alguns dos poderes inerentes à
propriedade. Desde que comprovada a posse e sua origem, a respectiva
proteção independe da alegação de domínio e pode ser exercida até mesmo
contra o proprietário ou possuidor indireto” (RT 670/158).
296

Por todos esses aspectos – conclui o julgado – não há que se falar em


propriedade, quando se trata de posse, como fato que é, valendo reprisar-se
que o simples título de propriedade, ainda que legítimo, não exclui a posse dos
possuidores que detém o imóvel de fato e nele exercem atividades econômicas
e sociais, cumprindo a função social do instituto da posse em face de um
proprietário que tem apenas o “título de domínio” (cf. RT 670/158).

Ora, esse aresto cai como uma luva ao caso


em testilha, já que a origem da posse dos Autores decorreu de um
fenômeno puramente fático, consistente na prática de atos que traduzem
investimentos econômicos nos imóveis rurais Fazendas ANGELIM, TAPAJÓS,
ALVORADA, VALE VERDE, LEÃO NEGRO, CAMBARÁ, BOM RETIRO e NOSSA
SENHORA APARECIDA, a ponto da Assembléia Legislativa do Estado de
Mato Grosso ter editado inúmeras Resoluções reconhecendo a ocupação
fundiária dos Autores.

A prova dos investimentos econômicos


estão demonstradas por documentos e fotos, tais como: lavoura de soja,
lavoura de milho, criação de gado, currais, casas, antenas parabólicas,
tratores, compra de sementes, vacina contra febre aftosa etc., para ficar
aqui com alguns exemplos ilustrativos.

Portanto, a circunstância dos Réus desta


rescisória serem titulares do domínio é irrelevante para o reconhecimento
da posse se eles nunca investiram no imóvel rural de 39.000 ha (trinta e
nove mil hectares), do qual os Autores ocuparam uma parcela sem oposição
de quem quer que seja.

Nesse contexto, o v. acórdão rescindendo


está em aberto conflito com o entendimento pacífico da jurisprudência
pátria, que sempre decidiu no sentido de que:

“POSSESSÓRIA – Reintegração de posse – Alegação de existência de


título dominial – Insuficiência – Demanda interdital de natureza
defensiva que exige a comprovação inequívoca do desfrute possessório.
Ementa da Redação: Na reintegração de posse, não basta a alegação da
existência de título dominial, a demanda interdital possessória é
naturalmente defensiva, exigindo, para que possa ser acolhida, a
comprovação inequívoca do desfrute possessório” (Ap 620.144-5, 6ª Câmara
do TJSP, rel. Des. Evaldo Veríssimo, j. 12.11.1996, RT 741/278).

Não discrepa dessa orientação julgado da 9ª


Câmara do eg. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO,
que apostilou:

“AÇÃO POSSESSÓRIA – Manutenção de posse – Admissibilidade, pois


demonstrado o exercício contínuo da posse por longo período de tempo –
Desnecessidade do exame de títulos dominiais.
297

o exercício contínuo da posse


Ementa da Redação: Demonstrado
pela autora, por longo período de tempo, somada à
ausência de demonstração pelo réu do exercício de
qualquer ato possessório por ele praticado antes da
autora, deve esta ser mantida na posse, sendo desnecessário o
exame dos títulos dominiais” (Ap 668.212-2, 9ª Câmara do TJSP, rel. Des.
Armindo Freire Mármora, j. 21.10.1997, RT 752/201).

O trecho colocado em destaque cai como


uma luva na presente demanda rescisória, na medida em que os Autores
exerceram posse continuada de 2003 a 2016, portanto, pelo longo período
de 13 anos, somado à ausência de demonstração pelos Réus do exercício
de qualquer ato possessório por eles praticado, tanto que os Autores
permaneceram no imóvel por mais de uma década.

Se os Réus estivessem na posse do imóvel


rural no ano de 2003, de duas uma: (i) ou eles teriam impedido a ocupação
das áreas rurais pelos Autores, por meio do desforço incontinenti; ou (ii) se
não conseguissem impedir a ocupação, teriam promovido em face deles
uma Ação de Reintegração de Posse.

Sucede que os Réus não fizeram nem uma


coisa nem outra: não impediram a ocupação pacífica dos imóveis rurais
pelos Autores, que ali fizeram investimentos agropecuários de diversas
ordens, além de vultosos investimentos em benfeitorias.

Esse aspecto traz ao palco da rescisória


outra violação manifesta de norma jurídica, consistente no fato de que,
como a posse dos Autores é originária e não derivada dos Réus da Ação
de Reintegração de Posse, eles são terceiros em relação à coisa julgada
formada na reintegração objeto do Processo nº 266/97, em que figura como
Autor EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA BONINI e como Réus PLÁCIDO
BROLIM, SEBASTIÃO DE MATOS e JACY FERMINIANO DA SILVEIRA.

Deveras, não há o menor traço de que os


Autores ROTSON ANDRÉ ORLANDI & OUTROS, que integram o polo ativo da
presente actio tenha adquirido a posse através dos senhores PLÁCIDO
BROLIM E OUTROS, réus da possessória.

Se não há qualquer liame, qualquer ligação


entre os Autores desta rescisória e os Réus da Ação de Reintegração de
Posse (Proc. nº 266/97), salta aos olhos que, em relação à coisa julgada
ocorrida na Ação de Reintegração de Posse os Autores desta rescisória são
terceiros e, por nunca terem sido convocados a participar da lide, não
podem ser atingidos pela eficácia da res iudicata, sob pena de manifesta
298

violação à norma jurídica insculpida no artigo 506 do novo Código de


Processo Civil, que dispõe:

“Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes


entre as quais é dada, não prejudicando
terceiros”.

Ora, no caso em testilha, o v. acórdão


rescindendo violou de forma manifesta o estatuído no art. 506 do novel
Diploma Processual, na medida em que permitiu que o cumprimento de
sentença da demanda possessória pudesse atingir QUEM NUNCA
FIGUROU COMO PARTE NA RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL, com a
agravante de que os Autores da rescisória também NÃO SÃO
SUCESSORES dos réus da possessória, pois jamais mantiveram qualquer
vínculo e/ou negócio jurídico com os mesmos (Plácido Brolim e Outros).

Em situações desse jaez, a doutrina


especializada é unânime no sentido de que os Autores da rescisória, por
figurarem na condição de terceiros na Ação de Reintegração de Posse, não
podem ser atingidos pelo cumprimento da sentença.

Nesse sentido é a lição de NELSON NERY JR.


e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, que vaticinam:

“4. Coisa julgada inter partes. A regra geral é a de que a sentença


somente obriga as pessoas entre as quais foi dada, não prejudicando
nem beneficiando terceiros” (Comentários ao Código de Processo Civil – Novo
CPC. São Paulo: RT, 2015, p. 1238).

Não discrepa dessa linha de entendimento,


a segura lição de LUIZ GUILHERME MARINONI, SÉRGIO CRUZ ARENHART e
DANIEL MITIDIERO, que lecionam:

“1. Limites subjetivos. O art. 506, CPC, disciplina os limites subjetivos da coisa
julgada, demarcando a área de influência da autoridade da coisa julgada.
Apenas as partes e seus sucessores se submetem à coisa julgada. Vale dizer: tão
somente para as partes e para os seus sucessores a declaração contida no
dispositivo da sentença adquire imutabilidade e indiscutibilidade” (Novo Código
de Processo Civil comentado, 2ª ed. São Paulo: RT, 2016, p. 604).

No caso em testilha, os Autores da


rescisória nunca figuraram nem como PARTES, nem como
SUCESSORES na Ação de Reintegração de Posse movida pelos Réus da
vertente demanda. De fato, é impossível estabelecer qualquer liame, união
e/ou ligação entre os Autores Rotson André Orlandi, Leomar Tápparo, Jader
299

Roberto da Silva, Gilvanei Edson de Almeida, Jairo Krause, Rômulo Affonso


Rohden, Vilson Lunkes e Raimundo Aparecido de Souza com os réus da
possessória Plácido Brolim, Sebastião de Matos e Jacy Ferminiano da
Silveira, pois a posse daqueles jamais derivaram destes, pois nunca
houve negócio jurídico entabulado entre eles.

Se está inequivocamente provado e


demonstrado que os autores da rescisória são terceiros completamente
alheios ao resultado da Ação de Reintegração de Posse objeto do Processo
nº 266/97, não pode sobejar dúvidas que o cumprimento de sentença
não poderia atingi-los, como lamentavelmente ocorreu, de modo que
resta patente a manifesta violação à norma jurídica do artigo 506 do
novo Código de Processo Civil.

Expressivo, no ponto, julgado da Terceira


Turma do STJ, que decidiu, in verbis:

“SENTENÇA – Coisa julgada – Decisão imutável e indiscutível que vincula apenas


as partes da respectiva relação jurídica – Terceiro que não é alcançável, pois não
foi parte no processo.
Ementa Oficial: A coisa julgada torna imutável e indiscutível a sentença, não mais
sujeita a recurso ordinário ou extraordinário e vincula apenas as partes da
respectiva relação jurídica. O terceiro não é alcançável por decisão em processo de
que não fora parte, ineficaz quanto a este a decisão” (REsp 158.097/RJ, 3ª Turma, rel.
Min. WALDEMAR ZVEITER, DJU 15.03.1999, RT 766/196).

E, do corpo desse lapidar aresto, verdadeira


arte plástica de edificação jurídica, colhe-se a seguinte passagem que
demonstra que o v. acórdão rescindendo violou manifestamente a
norma jurídica do artigo 506 do novo CPC – correspondente ao art. 472
do CPC-1973 – ao não impedir que o cumprimento de sentença pudesse
atingir os autores da presente actio. Confira:

“Aduz o embargante que o v. acórdão recorrido, ao deixar de reconhecer o seu


direito à posse, obtida por meio de ocupação, admitindo a eficácia da sentença
violou o artigo 472 do
prolatada em processo em que não foi parte,
CPC/1973 (correspondente ao art. 506 do novo CPC) e discrepou da
jurisprudência deste E. STJ, trazendo à colação os Recursos Especiais 28.618/GO,
rel. Min. VICENTE CERNICCHIARO, e 53.480/SP, rel. Min. FONTES DE ALENCAR.

Com razão o recorrente.

Assentado na jurisprudência da Corte o entendimento segundo o qual o terceiro


não é alcançável por decisão em processo de que não fora
parte.
300

Segundo o disposto no art. 472 do CPC/1973, “a sentença faz coisa julgada às


partes entre as quais é dada, não beneficiando nem prejudicando terceiros”.

(...)

No precedente, REsp 28.618-GO, estabelece-se que: “A coisa julgada é a eficácia


que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso
ordinário ou extraordinário. No plano da experiência, vincula apenas as
partes da respectiva relação jurídica. Relativamente a terceiros pode ser
utilizada como reforço de argumentação. Jamais como
imposição” (rel. Min. VICENTE CERNICCHIARO – DJ de 18.10.1993).

O mesmo entendimento restou consagrado no julgamento do REsp 16.979-SP, rel.


Min. BARROS MONTEIRO, e REsp 53.480-SP, rel. Min. FONTES DE ALENCAR, assim
ementados:
“EMBARGOS DE TERCEIRO EM AÇÃO DE DESPEJO –
Oferecimento após o trânsito em julgado da sentença proferida no
processo de conhecimento – Admissibilidade. A coisa julgada é
fenômeno que só diz respeito aos sujeitos do processo, pelo que não
constitui ela empecilho à defesa do terceiro, através desse remedium iuris,
contra os efeitos da sentença” (DJ 14.03.1994).

“IMÓVEL – Terceiro adquirente. O terceiro adquirente do


imóvel, a título oneroso e de boa-fé, não é alcançável por decisão em
processo de que não fora parte. Recurso especial atendido” (DJ
06.05.1996).

Nesse último precedente, Sua Excelência o Min. FONTES DE ALENCAR assim


consignou:

“Como efeito, o terceiro não é, no direito civil brasileiro,


alcançável por reivindicação do proprietário, sendo certo que o recorrente
não podia ter sido atingido por decisão emanada de processo de que
não fora ele parte, pois, nos termos do art. 472 do CPC-1973
(correspondente ao art. 506 do novo CPC), “A sentença faz coisa julgada às
partes entre as quais é dada, não beneficiando nem prejudicando terceiros”.

Referido dispositivo, na espécie, também teve sua vigência


olvidada pelo aresto recorrido, que opôs ao recorrente decisão que lhe não
obrigava, tirada em processo de que ele não participara” (RT 766/198-199).
301

E, continua o ilustre Min. WALDEMAR


ZVEITER em seu brilhante aresto que cai como uma luva ao caso em
testilha, louvando-se na melhor doutrina e nos precedentes do STJ, verbis:

“A sentença condenatória obtida no processo de conhecimento atuará como título


NÃO TENDO
executivo judicial exclusivamente em face da parte derrotada,

EFICÁCIA EM RELAÇÃO AO TERCEIRO QUE NÃO


INTEGROU A LIDE, DESINFLUENTE O FATO DE TER
TRANSITADO EM JULGADO A DECISÃO. Não se trata de anular
referida decisão através de embargos de terceiro, apenas que ela não produz
efeito no patrimônio daquele que não foi parte no processo.

Confira-se a lição de HUMBERTO THEODORO JUNIOR, Curso de direito processual


civil, v. III, p. 1.809-1.810:

“Pela natureza dos embargos – remédio apenas de defesa de


terceiro – é bom lembrar que por seu intermédio não se invalida ou se
desconstitui a sentença dada em processo alheio. Apenas se impede que
sua eficácia atinja o patrimônio de quem não foi parte na relação
processual.

Nesse sentido é irrelevante a circunstância de haver ou não


passado em julgado a sentença. A res iudicata é fenômeno que só diz
respeito aos sujeitos do processo, pelo que não representa empecilho
algum à defesa do terceiro contra os efeitos da sentença”.
(...)

Forte em tais lineamentos, conheço do recurso e dou-lhe provimento para no


ponto reformar o acórdão recorrido e para julgar totalmente procedente os
embargos de terceiro, ineficaz quanto a estes a decisão exequenda.

É como voto” (REsp 158.097/RJ, Terceira Turma do STJ, rel. Min. WALDEMAR
ZVEITER, DJU 15.03.1999, RT 766/198-199).

Ora, esse julgado da colenda Terceira


Turma do STJ – que tem amparo, inclusive, em diversos precedentes da
Corte Superior, como destacado – demonstra o total desacerto do v.
acórdão rescindendo, que deixou de acolher Embargos de Terceiro
manejados pelos autores desta rescisória, pois, se está sobejamente
demonstrado que eles NUNCA FIZERAM PARTE DA AÇÃO DE
REINTEGRAÇÃO DE POSSE que acarretou o CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA para a retirada dos mesmos dos imóveis rurais Fazendas
Angelim, Tapajós, Alvorada, Vale Verde, Leão Negro, Cambará, Bom Retiro
e Nossa Senhora Aparecida aliado ao aspecto de que ELES JAMAIS
FIGURARAM COMO SUCESSORES E/OU ADQUIRENTES dos réus da
302

possessória, a saber: Plácido Brolim, Sebastião de Matos e Jacy Ferminiano


da Silveira, é cediço que a res iudicata proferida na Ação de Reintegração
de Posse objeto do Proc. nº 266/97 jamais poderia atingir os autores desta
rescisória.

Afinal, como bem destacado pelo mestre


HUMBERTO THEODORO JR. – citado no aresto da 3ª Turma – “a res iudicata é
fenômeno que só diz respeito aos sujeitos do processo, pelo que não representa empecilho
algum à defesa do terceiro contra os efeitos da sentença”.

Por todo o exposto, é de tonitruante clareza


que o v. acórdão rescindendo violou manifestamente a norma jurídica
inserta no art. 506 do novo CPC – correspondente ao art. 472 do CPC-1973
– aspecto esse que reforça o cabimento da ação rescisória com espeque na
redação do art. 966, V, CPC-2015, segundo o qual “A decisão de mérito,
transitada em julgado, pode ser rescindida quando: - violar
manifestamente norma jurídica”.

IV – DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA


PARA RESTABELECER O STATUS QUO ANTE
O art. 969 do novel Diploma Processual, ao
tratar da possibilidade de concessão de tutela antecipada no bojo da
rescisória, dispõe que: “A propositura de ação rescisória não impede o
cumprimento da decisão rescindenda, ressalvada a concessão de tutela
provisória”.

Na sistemática do novo CPC, a locução


“tutela provisória” é o gênero, que compreende duas espécies: (i) a tutela
cautelar; e (ii) a tutela antecipada. Portanto, é perfeitamente possível a
concessão de tutela antecipada no seio de uma rescisória, como
expressamente admite o art. 969 do novel Diploma.

Deveras, mantendo a tradição de nosso


direito – o art. 489 do CPC-1973 já admitia a concessão de tutela de
urgência em sede de ação rescisória – o novel Estatuto também admite a
concessão de tutela provisória no âmbito da ação rescisória.

Os requisitos para a obtenção da tutela


provisória de urgência vêm previstos no art. 300, caput, do novo CPC,
consoante o qual:
303

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou o risco ao resultado útil do processo”.

No caso em testilha, restou sobejamente


provada e demonstrada a posse mansa, pacífica, longa e ininterrupta dos
Autores desde os idos de 2003, os quais só foram desalojados da posse dos
imóveis rurais Fazendas Angelim, Tapajós, Alvorada, Vale Verde, Leão
Negro, Cambará, Bom Retiro e Nossa Senhora Aparecida em virtude do
cumprimento de sentença em uma demanda possessória na qual os
Autores desta rescisória jamais figuraram como partes e muito menos
sucessores, já que inexiste qualquer vínculo jurídico entre os Autores
Rotson André Orlandi e Outros com os senhores Plácido Brolim e Outros.

Pelo contrário!!! Restou sobejamente


demonstrado que a posse dos Autores Rotson André Orlandi, Leomar
Tápparo, Jader Roberto da Silva, Gilvanei Edson de Almeida, Jairo Krause,
Rômulo Affonso Rohden, Vilson Lunkes e Raimundo Aparecido de Souza não
deriva, não decorre da posse dos réus da Ação de Reintegração de Posse
senhores Plácido Brolim, Sebastião de Matos e Jacy Ferminiano da Silveira.

Logo, se a posse dos Autores é originária,


ou seja, não decorre de cessão, nem de contrato, nem de doação, nem de
venda, nem de compromisso de compra e venda, pois tem origem numa
ocupação para fins de assentamento agrário em que não houve
oposição ou resistência de quem quer que seja, é cediço que a coisa julgada
da possessória objeto do Processo nº 266/97 jamais poderia alcançar os
Autores, como restou demonstrado.

Portanto, restando sobejamente


demonstrada a posse longeva dos Autores (2003 a 2016), aliado à
ocupação dos imóveis rurais com esteio na função social da posse – aspecto
esse reconhecido por inúmeras Resoluções baixadas pela Assembléia
Legislativa do Estado de Mato Grosso – é cediço que a plausibilidade jurídica
da rescisória é evidente, mesmo porque os Autores desta actio jamais
poderiam ter sido alcançados pelo cumprimento de sentença, como
lamentavelmente ocorreu.

Ademais disso, a análise da rescisória deixa


claro que existem “... elementos que evidenciem a probabilidade do direito”,
uma vez que restou patente a violação literal aos comandos normativos dos
artigos 560 e 561 do Código de Processo Civil, e artigo 1.196 do Código
Civil brasileiro, que foram manifestamente violados.

No concernente ao requisito do periculum in


mora, ele é de uma evidência solar no caso sub judice: isso porque os
304

Autores fizeram vultosos investimentos nos imóveis rurais Fazendas


Angelim, Tapajós, Alvorada, Vale Verde, Leão Negro, Cambará, Bom Retiro
e Nossa Senhora Aparecida, tais como: plantação de lavoura de soja, de
milho, cultivo de pastagens para assentamento de gado, benfeitorias,
casas, barracões, currais, tratores, colheitadeiras etc. e, em razão desses
investimentos, necessitam urgentemente retornar à porção de terras que
ocupavam, que corresponde a aproximadamente 16.530 has (dezesseis
mil quinhentos e trinta hectares) de uma área total de 39.000 has
(trinta e nove mil hectares), assim devidamente discriminada:

ROTSON ANDRÉ ORLANDI – 1.848,00 hectares;


LEOMAR TÁPPARO – 1.977,00 hectares;
JADER ROBERTO DA SILVA – 2.147,9983 hectares;
GILVANEI EDSON DE ALMEIDA – 2.151,9054 hectares;
JAIRO KRAUSE – 2.111.2450 hectares;
ROMULO AFONSO ROHDEN – 2.107,8821 hectares;
VILSON LUNKES – 2.451,1455 hectares; e
RAIMUNDO APARECIDO DE SOUZA – 1.736,2076 hectares.

A propósito, a doutrina é assente no


sentido de que é perfeitamente possível a concessão de tutela antecipada
em ação rescisória. Assim, por todos, a lição de NELSON NERY JR. e
ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, verbis:

“2. Tutela provisória contra execução da decisão rescindenda.


Em casos excepcionais, admite-se o requerimento de concessão de
tutela provisória para suspensão da execução do julgado
rescindendo, pois a presunção decorrente da coisa julgada é relativa
(juris tantum), até que seja ultrapassado o prazo do CPC 975”
(Comentários ao CPC – Novo CPC. São Paulo: RT, 2015, p. 1951).

Na mesma toada é o magistério de LUIZ


GUILHERME MARINONI, SÉRGIO CRUZ ARENHART e DANIEL MITIDIERO,
que vaticinam:

“2. Tutela cautelar ou tutela antecipada. O cumprimento da


sentença ou acórdão rescindendo só pode ser obstado se o
demandante logra obter tutela cautelar ou tutela antecipada nesse
sentido. A concessão de tutela cautelar ou tutela antecipada,
conforme o caso, depende do preenchimento dos pressupostos
exigidos em lei para concessão da cada uma dessas medidas” (Novo
CPC comentado, 2ª ed. São Paulo: RT, 2016, p. 1.030).

De seu turno, o colendo SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA, na condição de guardião da legislação
305

infraconstitucional, tem admitido a concessão de tutela antecipada em


ação rescisória, consoante se pode aquilatar dos seguintes julgados:

“AÇÃO RESCISÓRIA – Art. 489 do CPC/1973 (art. 969 novo CPC) –


Suspensão da decisão rescindenda – Tutela antecipada –
Excepcionalidade – Pressupostos autorizadores – Art. 273 do CPC/1973 –
Decisão deferitória – Verossimilhança da alegação – Existência – Agravo
desprovido.
I – Não obstante o disposto no art. 489 do Código de Processo Civil-1973 – “A
ação rescisória não suspende a execução da sentença rescindenda” - o Superior
Tribunal de Justiça tem entendido ser cabível a concessão da antecipação dos
efeitos da tutela em ação rescisória com o fito de suspender a execução da
decisão rescindenda, desde que presentes os requisitos do artigo 273 do
Código de Processo Civil de 1973.
II – Na hipótese dos autos resta configurada a existência de ocorrência de
fundado receio de dano de difícil reparação, bem como a existência de razões
suficientes, baseadas na prova inequívoca, capazes de convencer sobre a
existência da verossimilhança das alegações da autora” (AgRg na AR 2.995/RS,
Terceira Seção do STJ, rel. Min. GILSON DIPP, DJ 19/04/2004).

Também a Primeira Seção do STJ, em


julgado da lavra do conceituado Min. LUIZ FUX – que hoje exorna com sua
inteligência ímpar o colendo STF – com apoio em diversos precedentes do
STJ, e com votos favoráveis dos Ministros João Otávio de Noronha, Teori
Albino Zavascki, Castro Meira, Denise Arruda, Francisco Peçanha Martins,
José Delgado, Francisco Falcão e Franciulli Netto – admitiu sem rebuços a
concessão de tutela antecipada em ação rescisória, verbis:

“PROCESSUAL CIVIL – Ação rescisória – Tutela antecipada –


Excepcionalidade – Possibilidade – Artigos 273 e 489, do CPC/1973.
1. Revela-se cabível a antecipação dos efeitos da tutela em ação rescisória,
objetivando suspender a execução do acórdão rescindendo, desde que
presentes os requisitos do art. 273, do CPC-1973, mercê do disposto no art.
489, do mesmo diploma legal.
2. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça: AgRg na AR 2995/RS, rel. Min.
GILSON DIPP, Terceira Seção, DJ de 19.04.2004; AgRg na AR 1423/PE, rel. Min.
HAMILTON CARVALHIDO, Terceira Seção, DJ de 29.09.2003; AgRg na AR 1664,
rel. Min. JOSÉ DELGADO, Primeira Seção, DJ de 03.09.2001).
3. In casu, foi deferida, pela Primeira Turma em acórdão da relatoria do e.
Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, então relator da presente Ação Rescisória, a
realização de prova pericial destinada à demonstração de alegada falsidade do
laudo em que se baseou o acórdão rescindendo para a fixação da indenização
por desapropriação indireta, o que consubstancia o fumus boni juris da
antecipação dos efeitos da tutela. Por sua vez, o periculum in mora evidencia-se
no fato de que o Estado de São Paulo foi intimado em 27.04.2004 para se
manifestar, no prazo de 5 (cinco) dias, quanto ao levantamento da terceira
306

parcela da quantia depositada em juízo dos valores a que foi condenado a


indenizar o expropriado.
4. Agravo regimental desprovido” (AgRg na AR 1.291/SP, Primeira Seção, rel. Min.
LUIZ FUX, DJ 27.09.2004).

In casu, tendo os Autores demonstrado,


quantum satis, os requisitos do fumus boni juris (plausibilidade do direito
evidenciado nesta ação rescisória), bem como o periculum in mora, já que
os Autores foram privados da utilização dos imóveis rurais depois de 13
anos de exercício ininterrupto de posse mansa e pacífica, com
cumprimento da função social da posse, é cediço que se encontram
presentes os pressupostos para o deferimento da tutela antecipada aqui
pleiteada.

Destarte, restando plena e sobejamente


demonstrados os requisitos para a concessão de tutela provisória em sede
de ação rescisória, de modo a preservar o resultado útil do processo,
pugnam os Autores pela concessão do provimento para o fito de sustar os
efeitos do v. acórdão rescindendo, até que ocorra o julgamento de
mérito da rescisória, determinando-se a imediata expedição de mandado
de reintegração de posse em favor dos Autores Rotson André Orlandi e
Outros.

Afinal, entre tutelar os interesses de quem


está no desfrute do gozo e posse do bem há 13 (treze) anos e quem,
durante todo esse tempo – que são os Réus da ação rescisória – jamais
pisaram o pé no imóvel rural, é cediço que, salvo melhor e mais autorizado
juízo, deve Vossa Excelência prestigiar a posse de quem já estava
assentado na posse do bem há quase um quartel de século, de modo a
evitar que se perpetre uma injustiça inominável contra os Autores da
presente rescisória, que investiu pesadamente no imóvel rural e atualmente
se encontram fora dele.

V – DOS PEDIDOS
Em harmonia com o exposto, requer a
autora se digne Vossa Excelência de:

s) Admitir, conhecer e determinar o regular


processamento da vertente ação rescisória, que
encontra fundamento expresso no inciso V do art.
966 do novo Código de Processo Civil, consoante o
qual “A decisão de mérito transitada em julgado,
pode ser rescindida quando: violar manifestamente
norma jurídica”; in casu, restou plenamente
demonstrado que foram violadas de forma ostensiva
os artigos 560 e 561 do Código de Processo Civil, e
307

artigo 1.196 do Código Civil, de modo que a


rescisória é plenamente cabível.

t) Uma vez admitida a actio, seja imediatamente


CONCEDIDA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
para o fim de sustar os efeitos do v. acórdão
rescindendo, de modo a reintegrar os Autores na
posse dos imóveis rurais Fazendas Angelim, Tapajós,
Alvorada, Vale Verde, Leão Negro, Cambará, Bom
Retiro e Nossa Senhora Aparecida, cujas áreas
perfazem o montante de 16.530 has (dezesseis
mil, quinhentos e trinta hectares), de uma área
maior de 39.000 has, estando os imóveis dos Autores
assim discriminados:

ROTSON ANDRÉ ORLANDI – 1.848,00 hectares – Faz. Angelim;

LEOMAR TÁPPARO – 1.977,00 hectares – Faz. Tapajós;

JADER ROBERTO DA SILVA – 2.147,9983 hectares – Faz. Alvorada;

GILVANEI E. DE ALMEIDA – 2.151,9054 hectares – Faz. Vale Verde;

JAIRO KRAUSE – 2.111.2450 hectares – Faz. Leão Negro

ROMULO AFONSO ROHDEN – 2.107,8821 hectares – Faz. Cambará;

VILSON LUNKES – 2.451,1455 hectares – Faz. Bom Retiro

RAIMUNDO A. DE SOUZA – 1.736,2076 hectares – Faz. Nossa


Senhora Aparecida...

cujas delimitações e individuações encontram-se


descritas nos Memoriais Descritivos elaborados por
profissional competente, sendo certo que a posse
remonta aos idos de 2003 e, estando os Autores no
imóvel há mais de 13 (treze) anos, não há nenhum
risco de que a medida seja irreversível para a parte
contrária, sendo certo, outrossim, que a não
concessão do provimento liminar causará danos
irreparáveis para os Autores, que não podem ser
atingidos pelo cumprimento de sentença de uma
demanda possessória na qual jamais figuraram
como partes e/ou sucessores, uma vez que as áreas
rurais acima discriminadas foram ocupadas para fins
de regularização fundiária, aspecto esse, inclusive,
308

que foi reconhecido por inúmeras Resoluções


editadas pela Assembléia Legislativa do Estado de
Mato Grosso e publicadas no Diário Oficial, como já
demonstrado, de modo que, se a posse dos Autores é
originária, pois não decorre de nenhum negócio
jurídico, eles somente poderiam ser atingidos pela
decisão se fizessem parte do processo possessório, o
que nunca ocorreu;

u) Requer, outrossim, após a concessão da tutela


provisória de urgência satisfativa dos efeitos da
decisão final, seja ordenada a citação dos Réus,
“designando prazo nunca inferior a 15 (quinze) dias
nem superior a 30 (trinta) dias para, querendo,
apresentar resposta, ao fim do qual, com ou sem
contestação, observar-se-á, no que couber, o
procedimento comum” (redação do art. 970 do CPC-
2015).

v) NO MÉRITO, requer seja concedida a rescisória para


os seguintes escopos: (i) no âmbito do juízo
rescisório, seja decretada a rescisão do v. acórdão
proferido nos autos da Apelação 72759/2013, da
egrégia Sexta Câmara Cível desse Sodalício, uma vez
que o v. acórdão rescindendo violou de forma
manifesta e literal os artigos 560 e 561 do novo
Código de Processo e artigo 1.196 do Código Civil;
(ii) uma vez decretada a rescisão do v. acórdão, seja
proferido novo julgamento (dicção do inc. I do art.
968 do novo CPC), para o fim de reconhecer a
condição de possuidores originários dos Autores,
de forma a julgar procedente a pretensão de direito
material que foi veiculada na Ação de Embargos de
Terceiro objeto do Processo nº 0000597-
46.2006.8.11.0093, que tinha a numeração
143/2006, e objeto do Código 45237, para assegurar,
em definitivo, a posse dos imóveis rurais acima
individuados (v. item “b” supra), conforme as
descrições pormenorizadas constantes do Memorial
Descritivo, imóveis rurais esses situados no município
e comarca de Feliz Natal, Estado de Mato Grosso,
pois só assim é que estará Vossa Excelência
praticando ato da mais lídima e sempre soberana
309

J U S T I Ç A!!!

w) Os Autores requerem provar o alegado por todos os


meios de prova em direito admitidos, especialmente
juntada de novos documentos, se necessário.

x) A presente ação rescisória vem acompanhada do


depósito de 5% (cinco por cento) sobre o valor
da causa, cumprindo, assim, a exigência imposta
pelo inc. II do art. 968 do novel Diploma Processual.

Dá-se à presente ação o valor de R$ 184.094,94


(cento e oitenta e quatro mil, noventa e quatro reais
e noventa e quatro centavos), que corresponde ao
valor atualizado atribuído à ação principal (Embargos
de Terceiro) cuja rescisão se pleiteia, que, em
13/04/2006, correspondeu a R$ 100.000,00 (cem mil
reais), cuja planilha de cálculo atualizada acompanha
a documentação da presente actio.

Assim, acerca do valor da causa na ação


rescisória, por todos, julgado do egrégio Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, que reflete o
entendimento unânime da jurisprudência: “Não há
dúvida de que o valor a ser considerado na ação
rescisória é aquele atribuído à ação cujo acórdão ou
sentença se procura rescindir. Assim, deve-se aplicar
a correção monetária ao respectivo valor,
recuperando-lhe o mesmo poder primitivo que a
inflação corroeu” (RT 653/145).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Cuiabá, 26 de maio de 2016.

JOÃO AUGUSTO CAPELETTI

ADVOGADO
310

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE


DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO.

URGENTE

Ação rescisória com pedido de medida liminar para sustar o


cumprimento do v. acórdão rescindendo.

Fundamentos legal: artigo 969 do novo CPC.

Ação rescisória visando a rescisão de v. acórdão da 6ª Câmara Cível deste


egrégio Tribunal.
311

TIGRE INVESTIMENTOS S.A., pessoa


jurídica de direito privado, com sede estabelecida na Estrada Gladys, s/nº,
Centro, no município de Cláudia, Estado do Mato Grosso, inscrita no CNPJ
sob o nº 06.107.371/0001-53, conforme Ata de Assembléia Geral de
Constituição de Sociedade Anônima registrada na JUCEMAT em 21/01/2004,
sob n. 51300007801, neste ato representada por seu sócio IVANI
ORLANDI, brasileiro, empresário, portador da cédula de identidade RG n.
1964357-SSP/PR e do CPF sob o n. 335.943.259-20, domiciliado na cidade
de Cláudia/MT, onde reside na Rua Campos Sales, 896, Centro, por seu
advogado in fine assinado, ut instrumento de mandato colacionado em
anexo (doc. incluso), vem, com o devido acato a Vossa Excelência, com
fundamento nos artigos 966, V, 967, I, 968, I e II, 969, 974, caput, e 975,
todos do novo Código de Processo Civil, promover a vertente

AÇÃO RESCISÓRIA com pedido de medida


liminar para sustar os efeitos do v.
acórdão rescindendo
em desfavor de ESPÓLIO DE EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA
BONINI, na pessoa de sua inventariante VANESSA FRANÇA BONINI
PANICO, brasileira, casada, administradora de empresa, portadora do CPF
nº 062.635.828-04. residente e domiciliada na Rodovia São Paulo, 328, no
Km 310, Condomínio Veneza, casa 16, no município de Ribeirão Preto,
Estado de São Paulo; podendo, outrossim, ser encontrada no seguinte
endereço: Av. Costábile Romano, 2201, Ribeirância, na cidade de Ribeirão
Preto, Estado de São Paulo; e FUNDAÇÃO FERNANDO EDUARDO LEE,
pessoa jurídica inscrita no CNPJ sob o n. 52.039.435/0001-43, com sede na
Avenida Atlântica, 900, bairro Enseada, em Guarujá, Estado de São Paulo,
CEP 11442-070, na pessoa de seu representante legal, haja vista os
relevantes motivos fáticos e fundamentos jurídicos que, de ora avante,
passa articuladamente a alinhar:

I – DO CABIMENTO DA RESCISÓRIA
Antes de adentrarmos no meritum causae
da presente demanda rescisória, que visa a rescisão de v. acórdão
transitado em julgado da Sexta Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça
do Estado de Mato Grosso (fls. 1.207 a 1.213/verso – vol. VI em anexo), é
indispensável demonstrar o cabimento da presente ação rescisória.
312

Prima facie, cabe ao Autor demonstrar o


preenchimento do disposto no art. 966, inciso V, do novo Código de
Processo Civil, consoante o qual: “A decisão de mérito, transitada em
julgado, pode ser rescindida quando: (...) V – violar manifestamente norma
jurídica”.

Pois bem. A decisão de mérito que se


pretende rescindir é o v. acórdão proferido pela colenda Sexta Câmara Cível
desta Corte, nos autos da Apelação nº 72757/2013, Comarca de Feliz
Natal-MT, de relatoria da Exma. Sra. Desa. Serly Marcondes Alves, cuja
ementa pedimos vênia para transcrever, com destaque para os itens 5 e 6,
verbis:

“E M E N T A

APELAÇÃO CÍVEL – POSSESSÓRIA – AÇÃO DE EMBARGOS DE


TERCEIRO – PRELIMINARES – SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL –
POSSIBILIDADE – ARTIGO 1061 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL –
AGRAVO RETIDO – REJEITADO – FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO
DA SENTENÇA – INOCORRÊNCIA – CERCEAMENTO DE DEFESA –
INCORRÊNCIA – CARACTERIZADO O POSSUIDOR COMO FÂMULO
DA POSSE – IMPOSSIBILIDADE DE INVOCAR PROTEÇÃO
POSSESSÓRIA – RECURSO IMPROVIDO.
1. Da exegese do artigo 1.061 do Código de Processo Civil de 1973, tem-se
que o adquirente do bem litigioso poderá substituir o alienante ou o
cessionário falecido, independentemente da parte contrária consentir, desde
que junte aos autos o título e prove a sua identidade.
2. Agiu com acerto o Juízo singular ao indeferir o pedido de reconsideração
do apelante, porquanto tendo sido devidamente intimado para especificar
as provas que pretendia produzir e deixando de atender a determinação do
juiz, houve preclusão temporal em face do decurso do tempo sem a prática
do ato.
3. Não há que se falar em falta de fundamentação, somente porque o
julgamento não está de acordo com o pleiteado pela parte.
4. Não há que se falar em cerceamento de defesa por não terem sido
julgadas simultaneamente esta ação e a ação declaratória negativa de
domínio, porquanto não ser comum o objeto e a causa de pedir.
5. Demonstrado que o apelante não era possuidor, mas mero
detentor da propriedade em questão, subordinado as ordens de
outra pessoa, não pode alegar posse e consequentemente ter a sua
disposição proteção possessória.
6. Em observância a regra sobre o ônus da prova, competia ao
embargante/apelante fazer prova de que era possuidor da
propriedade em questão, nos termos do artigo 331, inciso I, do
Código de Processo Civil de 1973, ônus que não se desincumbiu,
313

assim, perfeita a sentença do Juízo singular ao julgar pela


improcedência dos presentes embargos de terceiro” (vide v. acórdão
em anexo – VI vol. – fls. 1.207 e ss).

É supinamente relevante destacar que a


competência para apreciar e julgar a presente rescisória é do egrégio
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO. Isso porque,
malgrado tenha ocorrido a interposição do Recurso Especial nº
1.546.237/MT, é certo que esse apelo nobre não foi conhecido pelo colendo
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, consoante se pode aquilatar das
seguintes passagens do REsp, bem como de sua parte dispositiva, verbis:

“Consoante se verifica, as instâncias ordinárias, soberanas na análise das


circunstâncias fáticas, entenderam que ocorreu a preclusão temporal do
direito da recorrente especificar as provas. Ademais, os elementos dos autos
se mostraram suficientes para solucionar a demanda. Portanto, modificar tal
entendimento demandaria o reexame do contexto fático-probatório dos
autos, providência vedada no recurso especial pelo óbice da Súmula nº
7/STJ, conforme se observa nos precedentes aqui reproduzidos.
(...)
Ante o exposto, NEGO SEGUIMENTO AO RECURSO ESPECIAL” (vide
julgado em anexo – doc. nº 5).

Ora, o uso da locução “nego seguimento


ao Recurso Especial” não deixa margens a dúvidas no sentido de que o
egrégio STJ não examinou o mérito da pretensão recursal excepcional.
Tanto que o óbice da Súmula nº 7/STJ foi invocado.

Nesse contexto, salta aos olhos que a


última decisão de mérito foi proferida pela Sexta Câmara Cível deste
egrégio Sodalício, motivo pelo qual é competente esta Corte para apreciar a
vertente rescisória.

De outra banda, como a rescisória deve ser


veiculada no prazo decadencial de 2 (dois) anos, ex vi do disposto no art.
975 do novel Diploma Processual, temos que a demanda ora aforada está
dentro do prazo, pois, conforme CERTIDÃO DE TRÂNSITO EM JULGADO
E TERMO DE BAIXA subscrito pela Coordenadoria da Terceira Turma do
STJ, o processo rescindendo transitou em julgado na data de 10 de
novembro de 2015 (vide doc. nº 4). Portanto, o prazo escoa somente em
10 de novembro de 2017.

De outro giro, no concernente à legitimidade


da Requerente TIGRE INVESTIMENTOS S.A. para figurar no polo ativo da
ação rescisória, além de encontrar agasalho na redação do art. 967, inc. I,
do novo CPC, é certo que a sua legitimidade foi expressamente reconhecida
pelo v. acórdão rescindendo, conforme se extrai da seguinte passagem:
314

“Egrégia Câmara:

TIGRE INVESTIMENTOS S.A., pessoa jurídica de direito privado, peticionou às


folhas 937/938 pleiteando que lhe seja deferido substituir processualmente o
apelante/embargante GERALDO ALBERTO BORGES DE OLIVEIRA JÚNIOR,
sob o fundamento de que teria adquirido a propriedade em questão, conforme a
cópia da Escritura Pública de Venda e Compra (fls. 957/960).
Às folhas 969/973, o apelado peticionou informando que não concorda com a
substituição processual.
Determinou-se a intimação dos herdeiros do falecido GERALDO ALBERTO
BORGES DE OLIVEIRA JÚNIOR para dizerem a respeito da pretensa substituição
processual, sob pena de preclusão (fl. 990).
O espólio de Geraldo Alberto Borges de Oliveira, representado por seu
inventariante Marcelo Silveira Borges de Oliveira, peticionou informando que não
tem nada a opor quanto ao pedido de substituição processual (fls. 1142/1143).
O artigo 1.061 do Código de Processo Civil (1973) dispõe: “Art. 1.061. Falecendo
o alienante ou o cedente, poderá o adquirente ou o cessionário prosseguir na causa
juntando aos autos o respectivo título e provando a sua identidade”.
Da exegese do referido artigo, tem-se que o adquirente do bem litigioso poderá
substituir o alienante ou o cessionário falecido, independentemente da parte
contrária consentir, desde que junte aos autos o título e prove a sua identidade.
Na hipótese, constata-se que o pretenso substituto processual provou a sua
identidade com a cópia da ata de assembleia geral de constituição de sociedade
anônima, registrada na Junta Comercial (fls. 940/954), bem como juntou a cópia da
Escritura Pública de Transmissão de Domínio, Posse e Benfeitorias (fls.).

Ante o exposto, REJEITO a preliminar.


É como voto”.

Como se nota, a transcrição de parte do v.


acórdão rescindendo, no que toca à legitimidade ativa ad causam da
empresa TIGRE INVESTIMENTOS S.A., deixa patente a sua legitimidade
para a vertente rescisória.

Destarte, tendo sido demonstrados os


requisitos de admissibilidade da presente ação rescisória, a saber: (i) que a
decisão de mérito transitou em julgado, e corresponde ao v. acórdão
rescindendo da Sexta Câmara Cível do TJMT (art. 966, caput, e inc. V),
sendo que o fundamento que autoriza a rescisória é o inciso V do art. 966:
“... violar manifestamente norma jurídica”; (ii) que ela está sendo aviada
dentro do bienio decadencial, em cumprimento ao art. 975 do CPC-2015;
(iii) que o autor tem legitimidade ad causam (art. 967, inc. I: sucessor do
alienante), passa-se, doravante, ao exame do mérito da presente actio, em
que será demonstrada a violação ostensiva de normas jurídicas do
Código Civil.
315

II – DA VIOLAÇÃO MANIFESTA DE
NORMAS JURÍDICAS
O v. acórdão rescindendo proferido pela
Sexta Câmara Cível deste colendo Sodalício violou, de forma manifesta e
acintosa, as normas jurídicas de direito material que vêm expressas nos
artigos 1.196, 1.198 e 1.203, todos do Código Civil, que possuem a
seguinte redação:

“Artigo 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
Artigo 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de
dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de
ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este
artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o
contrário.
Artigo 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter
com que foi adquirida”.

A leitura do v. acórdão rescindendo na parte


em que julga o mérito da pretensão posta em juízo, deixa claro como a luz
do sol que essas normas jurídicas do Código Civil foram manifestamente
violadas, de modo que cabe a rescisória com espeque na redação do inciso
V do art. 966 do novo Diploma Processual.

Prima facie, para que reste patente a


violação dessas normas jurídicas, é conditio sine qua non reproduzir os
fundamentos do v. acórdão rescindendo, para que fique claro que o julgado
cuja rescisão se pleiteia, afrontou as normas jurídicas dos artigos 1.196,
1.198 e 1.203, todos do Código Civil.

Diz o v. acórdão rescindendo, na parte que


interessa à presente actio:

“Na hipótese, como acertadamente entendeu o Juízo singular, extrai-se que o


apelante não logrou êxito para demonstrar os requisitos indispensáveis a
comprovar a sua posse, nos termos do artigo 1..196 do Código Civil, in verbis:
“Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de
algum dos poderes inerentes à propriedade”.

Tal situação está evidente nos autos, porquanto em momento oportuno para
fazer valer o seu direito de produzir provas, o apelante não o fez, e, como
consequência o Juízo singular, na decisão de folhas 672/678, reconheceu a
preclusão temporal do embargante/apelante para apresentar as provas que
pretendia produzir.
316

Por outro lado, como bem salientado pelo Juízo singular, ficou demonstrado,
através dos depoimentos das testemunhas arroladas pelo apelado, que o
apelante não era possuidor da propriedade em questão.

Vejamos:

“(...) 3. Em 1987, o Embargante já era responsável pela área, cuidava para a


família Bonini. (...) 10. O Evandro passou uma procuração para o Geraldo,
porque não tinha muito tempo disponível, para que ele cuidasse da área, com
relação aos projetos do IBAMA e da SEMA. 11. O responsável pela fazenda era o
Geraldo, mas o dono da posse era o Evandro. 12. O Evandro passou uma
procuração e uma escritura para que o Embargante fizesse projeto, mas nunca
vendeu nenhuma parte da área. 14. O Embargante nunca teve a posse da área,
quem detinha a posse era o Evandro Bonini. 15. Após a saída de Geraldo da
administração da fazenda ficou o Antônio por um curto período, de três a
quatro meses. 17. O Sr. Evandro nunca abandonou a área. 19. O Sr. Geraldo não
fez nenhuma benfeitoria na área” (depoimento prestado pela testemunha
Avenir Fernando Marques de Araújo).
“(...) 2. A área de 39 mil hectares foi adquirida por Evandro em 1973, tendo
como divisas o Rio Arraias e o Paralelo 54. 3. Em 1974 foi aberta uma pista de
pouso, em seguida o exército acertou a divisa dos índios, ampliou a pista, após
isto em posse pacífica até 1993, em que houve uma invasão por outras pessoas,
e veio pacífica até 2005. (...) 5. Inicialmente quem cuidava da área era Orestes,
em seguida Geraldo, que era procurador e administrador do Evandro, até
meados de 2005, depois o Antônio, o Avelino, final de 2005 veio o Fernando e
está até hoje na área. (...) 17. O Geraldo é primo do Evandro. 18. O Evandro
colocou em nome do Geraldo um título, somente para que fosse realizado um
projeto de manejo; é uma área de 7.040 hectares e foi feito em nome do
Geraldo por conta das penhoras existentes na área. 21. De 1993 para cá era o
Geraldo quem contratava empregados para a Fazenda, já que era procurador.
22. Geraldo nunca teve a posse da fazenda, ele era tido como funcionário ou
procurador” (depoimento prestado pela testemunha João Batista de Camargo).

“1. Trabalhou na área em 2005, para o Antonio Laurentino, tirando madeira,


lascas da Fazenda. 2. Sabe que “toda vida” a fazenda era do Evandro, e o
Geraldo era o gerente. Esse pessoal que comprou está na área, eles dizem que
foi o Geraldo que vendeu para eles em 2005; mas o Geraldo não era dono, era
Gerente, era a pessoa de confiança, não comprovou a venda. (...) 8. O Evandro
queria preservar a área, para não tirar madeira; os empregados dele eram o
Geraldo e o Antonio, eles cuidavam, tiravam lascas, tinham umas casas lá. (...)
14. Nunca ouviu que Geraldo tinha a posse da fazenda, sabia que ele era
empregado” (depoimento prestado pela testemunha Nerio Ribeiro).

Ainda, como se vê destes depoimentos, constata-se que o apelante era mero


detentor da propriedade em questão, consoante dispõe o artigo 1.198 do
Código Civil, in verbis: “Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação
317

de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em


cumprimento de ordens ou instruções suas”,

Veja-se a lição de Maria Helena Diniz, no tocante ao fato de que a mera


detenção, exercida no interesse de outrem, não configura posse direta: “O
fâmulo da posse é aquele que, em virtude de sua situação de dependência
econômica ou de um vínculo de subordinação em relação a uma outra pessoa
(possuidor direto ou indireto), exerce sobre o bem não uma posse própria, mas a
posse desta última e em nome desta, em obediência a uma ordem ou instrução.
Aquele que assim se comportar em relação à coisa e à outra pessoa, presumir-se-
á detentor, até prova em contrário (CC, art. 1.198, parágrafo único)” (Curso de
direito civil brasileiro – Direito das coisas, vol. 4. São Paulo: Saraiva, 29ª ed., 2014, p.
55).

Assim, demonstrado que o apelante não era possuidor, mas mero detentor da
propriedade em questão, subordinado as ordens de outras pessoas, não pode
alegar posse e consequentemente ter a sua disposição proteção possessória.

(...)
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao apelo” (transcrição dos fundamentos e
parte dispositiva do v. acórdão rescindendo).

Para que fique bem claro que o v. acórdão


rescindendo fez tabula rasa dos artigos 1.196, 1.198 e 1.203, todos do
Código Civil, é fundamental distinguir o seguinte fenômeno que o v. acórdão
rescindendo não se apercebeu: pode ocorrer que uma situação de
detenção, em razão da posse precária exercida por procurador, gerente,
administrador etc., venha a se transformar em posse, em razão do
detentor deliberar por permanecer no bem, negando-se a entregar o
bem àquele que antes lhe dava ordens ou que lhe facultou a
detenção, por permissão ou tolerância, em razão do surgimento de
algum fato ou ato jurídico que fez incutir que o caso não era mais de
detenção, mas sim de posse.

Bem percebeu a existência desse fenômeno


de uma “detenção virar posse” os ilustres civilistas CRISTIANO CHAVES DE
FARIAS e NELSON ROSENVALD, que esclarecem, com a habitual
propriedade:

“A nosso sentir, não podemos classificar como posse


precária a situação que se configura quando aquele que
inicialmente era detentor delibera por permanecer no
bem, negando-se a entregar o bem àquele que antes lhe
dava ordens ou que lhe facultou a detenção, por
permissão ou tolerância. Basta supor que A, porteiro de
um prédio, seja demitido e recuse-se a abandonar o
aposento destinado aos funcionários do condomínio. Se,
inicialmente, era considerado servidor da posse (art.
318

1.198 do CC), passou a exercer POSSE injusta no ato de


indevida permanência no bem, no instante da extinção do
vínculo trabalhista. Todavia, essa posse injusta será
violenta ou clandestina, mas não precária, pois a
precariedade requer primariamente uma posse justa por
cessão do titular e, em um segundo momento, o abuso de
confiança do possuidor direto que se recusa a restituí-
la” (Curso de direito civil – Reais, vol. 5. Salvador: Ed.
JusPodivm, 10ª ed., 2014, p. 125).

Essa possibilidade de interversão ou


convalescimento da posse que começou como detenção pode ocorrer em
duas situações oriundas de fatos externos, que autorizam a mutação da
causa possessionis.

No caso em apreço, o Autor originário da


demanda de Embargos de Terceiro – que foi sucedido pela empresa TIGRE
INVESTIMENTOS S.A. – se enquadra nas duas situações oriundas de
fatos externos que autorizam a MUTAÇÃO da causa possessionis.

O primeiro deles é denominado pela


doutrina especializada de fato de natureza jurídica, assim exposto pelos
civilistas acima citados, verbis:

“Uma das regras mais comentadas na matéria em estudo é a concernente à


possibilidade de alteração no caráter da posse. De fato, estabelece o art. 1.203 do
Código Civil que, salvo prova em contrário, manterá a posse o mesmo caráter da
aquisição.

(...)

Isto significa que a mudança de comportamento de quem detém a coisa será


fundamental para a conversão da DETENÇÃO em POSSE injusta, mas não para
transformar a posse injusta em uma posse justa. Todavia, a doutrina preconiza
que, em duas situações oriundas de fatos externos, incide a mutação da causa
possessionis.

a) Fato de natureza jurídica

Em razão de uma relação jurídica de direito real ou obrigacional, é facultado ao


possuidor que mantenha posse objetiva ou subjetivamente viciada, alterar o seu
caráter, sanando os vícios de origem.

Suponha-se que alguém tenha obtido a posse ou a detenção da coisa e


posteriormente venha a adquirir o imóvel por contrato de compra e venda”
(FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil – Reais, cit., p.
134).
319

Ora, no caso que foi objeto da Ação de


Embargos de Terceiro – feito nº 2008/54, Código 47358 – que deu origem
ao v. acórdão rescindendo, é fácil notar que na data de 10 de agosto de
1994, a utilização da coisa pelo Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Jr. –
que, posteriormente, alienou a coisa adquirida para TIGRE INVESTIMENTO
S.A. – sofreu uma mudança radical: se até agosto/1994 ele era “detentor”,
dessa data para frente ele passou a ostentar, de forma indiscutível, a
condição de POSSUIDOR PLENO de uma parte da Fazenda Rio Negro,
correspondente ao imóvel rural de 6.632,1453 hectares.

Com efeito, os termos da ESCRITURA


PÚBLICA DE VENDA E COMPRA que se vê às fls. 22/23 dos autos (1º vol.
– v. doc. 8 incluso), não deixa margem a dúvidas no sentido de que o Sr.
Geraldo Alberto Borges de Oliveira Júnior adquiriu o imóvel do primeiro Réu,
Sr. Evandro Alberto de Oliveira Bonini, conforme se extrai da seguinte
passagem do referido documento:

“ESCRITURA PÚBLICA DE VENDA E COMPRA

S=A=I=B=A=M quantos esta virem, que aos 10 (dez) dias do mês de


agosto do ano da era Cristã de 1.994, nesta Vila e Distrito de Cândia,
Município de Pontal, comarca de Sertãozinho, Estado de São Paulo, em
Cartório, perante mim, Escrivã e Tabeliã, compareceram partes entre si,
justas e contratadas, a saber: de um lado, como outorgantes vendedores,
EVANDRO ALBERTO DE OLIVEIRA BONINI (CIRG n. 3.679.842-SSP/SP,
CPF nº 296.178.128-00, administrador de empresa, neste ato assistido por
sua mulher, com quem é casado sob o regime da comunhão parcial de
bens, na vigência da Lei n. 6.515/1977, Maria Luiza Viana Bonini (CIRG nº
4.702.477-SSP/SP, CPF nº 055.818.848-62), publicitária, brasileiros,
juridicamente capazes, residentes e domiciliados na Rua Armindo Paiani, nº
51, Sumaré, na cidade de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo; e, de outro
lado, como outorgado comprador, GERALDO ALBERTO BORGES DE
OLIVEIRA JÚNIOR (CIRG nº 4.527.103-SSP/SP, CPF nº 343.743.538-87),
brasileiro, comerciante, divorciado, juridicamente capaz, residente e
domiciliado na Rua Iguapé, nº 12, apto. 42, na cidade de Ribeirão Preto,
Estado de São Paulo, sendo os comparecentes meus conhecidos, que se
identificaram perante mim, com a apresentação de seus documentos de
identidade retro citados e mais certidão de casamento, do que de tudo dou
fé.

E pelos outorgantes nomeados, me foi dito que a justo título, são senhores
e legítimos possuidores, UM IMÓVEL RURAL, com a atual denominação
de FAZENDA RIO NEGRO, constituído por uma gleba de terras com a área
de 7.040,0000 ha (sete mil e quarenta hectares) de terras, situada no
município de Vera, comarca de Sinop (antigo município de Chapada dos
Guimarães, Comarca de Cuiabá), Estado de Mato Grosso, confrontando na
320

sua integridade, pelos seus diversos lados, com o Rio Arraias, margem
direita, com propriedade de José Madureira, com propriedade de Aloísio G.
Melo e com terras devolutas, cadastrado no INCRA em maior área, em
nome do outorgante Evandro Alberto de Oliveira Bonini, em cujo
CERTIFICADO DE CADASTRO, que me foi apresentado e acompanha o
primeiro traslado desta escritura, constam os seguintes dados: Código do
Imóvel – 901032.007781-5, área total: 39.000 hectares; que referido imóvel
faz parte de uma gleba maior, com a área de 39.000 hectares, a qual foi
havida por eles outorgantes vendedores pelo preço de Cr$ 1.070.000,00,
por compra feita a Lauro de Camargo e sua esposa, conforme escritura
lavrada nas Notas do 2º Tabelionato da cidade de Goiânia, Estado de
Goiás, no Livro nº 426, fls. 136/138 e re-ratificada conforme escritura
lavrada no Cartório do Sexto Ofício da Comarca de Cuiabá, Estado de Mato
Grosso, em 24.10.1974, no Livro nº 45-A, fls. 62/65, registrada em referido
Cartório do Sexto Ofício da Comarca de Cuiabá/MT, sob o nº 2.165, no livro
3-C, em 25.10.1974, e posteriormente matriculado sob o n. 18.677, livro 2-
BH, em 21.08.1984, no mesmo CRI, autorizando todas as averbações
necessárias: que referido imóvel se acha livre e desembaraçado de
quaisquer ônus, judiciais ou não, inclusive de ações reais ou pessoais
reipersecutórias, conforme se constata da certidão de matrícula.

(...)

Que declaram já haver recebido integralmente em moeda corrente, do


outorgado comprador nomeado, dando-lhe, consequentemente, a mais
plena, geral e irrevogável quitação de pagos e satisfeitos para nunca
mais repetirem, VENDEM, como de fato e na verdade vendido têm, sem
restrições ou reserva alguma, ao mesmo outorgado comprador nomeado,
GERALDO ALBERTO BORGES DE OLIVEIRA JÚNIOR, o imóvel retro
descrito e confrontado, com todos os seus acessórios, transmitindo-lhe,
desde já, por força desta escritura e da cláusula constituti, toda a POSSE,
jus, domínio, direito, ação e servidões, ativas e passivas, que até hoje
tinham e exerciam sobre o mesmo, para que dele possa o mesmo
comprador usar, gozar e livremente dispor como coisa sua que fica sendo
de ora em diante, PROMETENDO FAZER ESTA VENDA SEMPRE BOA,
FIRME E VALIOSA E LIVRE DE DÚVIDAS FUTURAS, assim como a
responderem pela evicção de direito, se e quando chamados à autoria,
declarando, na forma e sob as penas da Lei, que são pessoas físicas não
equiparadas a empresa, não se achando vinculados como empregadores
ao INSS; que não mantém empregados sob sua responsabilidade no
imóvel ora vendido.

(...)

A seguir, pelo outorgado comprador GERALDO ALBERTO BORGES DE


OLIVEIRA JÚNIOR, me foi dito que aceita e recebe esta escritura, em
todos os seus expressos termos, tal como se acha redigida e que dispensa
os vendedores da obrigação de apresentarem os documentos e certidões
321

exigidos pela Lei 7.433/1985, regulamentada pelo Decreto nº 93.240/1986,


protestando recolher o Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis – ITBI,
devido por esta escritura, à Prefeitura Municipal de Vera/MT” (vide doc. 8
em anexo).

Ora, os termos claros e luzidios desta


ESCRITURA PÚBLICA DE VENDA E COMPRA, lavrada em Cartório,
gozando, portanto, de fé pública, afasta por completo a condição de “mero
detentor” do Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Júnior, que foi sucedido
em sua posse, direito e outros haveres pela empresa Tigre Investimentos
S.A.

E mais: já se passaram mais de 20 (vinte)


anos da lavratura dessa Escritura Pública, e os Réus da presente ação
rescisória jamais ajuizaram uma ação para anular referida escritura!!!

Logo, como dá sustentação ao v. acórdão


rescindendo que qualificou a condição do Sr. Geraldo Alberto Borges de
Oliveira Jr. – que, posteriormente alienou o imóvel rural para a Autora da
presente ação rescisória – de “mero detentor”, se está escrito na
ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA, com todas as letras, que
lhe era transmitido

“... desde já, por força desta escritura e da cláusula constituti,


toda a POSSE, jus, domínio, direito, ação e servidões, ativas e
passivas, que até hoje tinham e exerciam sobre o mesmo, para que dele
possa o mesmo comprador usar, gozar e livremente dispor como coisa sua
que fica sendo de ora em diante, PROMETENDO FAZER ESTA VENDA
SEMPRE BOA, FIRME E VALIOSA E LIVRE DE DÚVIDAS FUTURAS,
assim como a responderem pela evicção de direito”.

Ora, o uso da locução empregada pelos


outorgantes vendedores, Réus nesta rescisória, de que prometiam fazer
esta venda “... SEMPRE BOA, FIRME E VALIOSA E LIVRE DE DÚVIDAS
FUTURAS”, sepulta, por completo, a alegação tão defendida pelos Réus da
rescisória de que tudo isso não passou de uma “simulação”, já que lhe foi
transferida a propriedade e a posse apenas para fins de regularização do
imóvel junto ao IBAMA, SEMA etc.

Perceba Vossa Excelência outro dado de


suma importância: a transferência da posse plena – e não mais uma
condição de “mera detenção” – para o Sr. Geraldo Alberto Borges de
Oliveira Jr. ocorreu em 10 de agosto de 1994. Dessa data até 19 de
março de 2008 – portanto, pelo período de 14 (catorze) anos, referido
possuidor exerceu a posse de forma plena em torno da área de
6.632,1453, localizada no município de Feliz Natal/MT, conforme comprova
322

o Memorial Descritivo em anexo, onde está perfeitamente individuada e


delimitada a área, motivo pelo qual pedimos vênia para evitar referida
transcrição.

E foi exatamente em decorrência dessa


aquisição por meio de ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA que o
comportamento do adquirente originário – Sr. Geraldo – mudou da “água
para o vinho”, ou seja, de “detenção para posse”, pois a partir de 10 de
agosto de 1994 ele não mais reconheceu sua condição de “detentor’, mas
sim de “possuidor pleno”.

Prova disso é que ele se envolveu em


diversas disputas judiciais com o falecido outorgante Evandro Alberto de
Oliveira Bonini, brandindo sua condição de possuidor e não de mero
detentor, como procuram equivocadamente rotulá-lo.

Ora, além do fato de natureza jurídica


que autoriza a interversão e/ou convalescimento da posse – como sucedeu
no caso em testilha, em que o “detentor” veio a adquirir uma parcela da
Fazenda Rio Negro – que compreende a área maior de 39.000 hectares, é
certo que o comportamento do adquirente originário – que foi sucedido
pela empresa TIGRE INVESTIMENTOS S.A. – demonstra, de forma
inequívoca, que ele não cumpria ordens dos Réus, e muito menos era
gerente, administrador, peão, procurador ou qualquer coisa que o valha!!!

Vale dizer, por outras palavras: além do


fato de natureza jurídica, ocorreu também outra situação que autoriza a
mutação de detenção para posse, qual seja: fato de natureza
material, assim descrito pelos eminentes civilistas CRISTIANO CHAVES DE
FARIAS e NELSON ROSENVALD, in verbis:

“Fato de natureza material

É a manifestação por atos exteriores e prolongados do possuidor da


inequívoca intenção de privar o proprietário do poder de disposição sobre a
coisa” (ob. cit., p. 135).

No caso em apreço, houve uma mudança no


plano do direito material em razão dos Réus ter outorgado Escritura Pública
de Compra e Venda em favor do adquirente originário – Sr. Geraldo – que,
posteriormente, alienou seus direitos para a Autora da rescisória.

Com efeito, passados nada menos que 15


(quinze) anos na posse do imóvel rural, o Sr. Geraldo Alberto Borges
de Oliveira Júnior, na qualidade de outorgante/transmitente, firmou junto
ao Serviço Notarial e Registral de Capão Grande, município e comarca de
323

Várzea Grande, na data de 03 DE ABRIL DE 2009, uma ESCRITURA


PÚBLICA DE TRANSMISSÃO DE DOMÍNIO, POSSE E BENFEITORIAS
em favor da empresa TIGRE INVESTIMENTOS S.A., pelo preço certo e
ajustado de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), conforme comprova o
documento colacionado em anexo (v. doc. 11).

Ora, como é que alguém que é rotulado de


“detentor” pelo v. acórdão rescindendo fica na posse do imóvel rural que
ocupa uma parte da Fazenda Rio Negro pelo prazo de 15 (quinze) anos e,
depois, sem que os Réus da rescisória tomassem ou tivessem tomado
qualquer medida judicial no sentido de anular a primeira escritura pública
de compra e venda, aliena “... domínio, posse e benfeitorias...”, em
favor de um terceiro, no caso, a Autora da presente demanda rescisória???

Quem é mero “detentor” não possui


legitimidade para comparecer a um Serviço Notarial e Registral e transferir
para terceiro “... domínio, posse e benfeitorias...”, como sucedeu na
transmissão de domínio, posse e benfeitorias em que o falecido Sr. Geraldo
Alberto Borges de Oliveira Júnior alienou os direitos que possuía da área de
6.632,1453 hectares em favor da empresa TIGRE INVESTIMENTOS S.A.

Mas não é só a ESCRITURA PÚBLICA DE


VENDA E COMPRA firmada com os Réus da rescisória que conferia ao Sr.
Geraldo – que foi sucedido pela empresa TIGRE INVESTIMENTO S.A. – a
condição de possuidor e não de mero detentor.

Deveras, existem outros


documentos relevantes que atestam a condição de
POSSUIDOR do Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Junior, a
saber:

(i) Memorial Descritivo do imóvel rural denominado “Fazenda Rio Negro”,


com área de 6.632,1453 hectares, com sua descrição devidamente
caracterizada, situado no município e comarca de Feliz Natal, Estado de
Mato Grosso, tendo o Memorial Descritivo sido elaborado pelo Técnico
Agrimensor Aureo Campos Pinheiro, portador do CREA 7018-TD/MT
(vide doc. 10 em anexo).

(ii) CERTIFICAÇÃO Nº 130508000017-26, expedida pelo INCRA, em que o


nome do Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Junior aparece como
interessado (cf. doc. 19 em anexo)
Dada a relevância e importância desse documento expedido pelo INCRA,
pedimos vênia para reproduzi-lo, pois o INCRA jamais expede esse tipo de
Certificação em favor de um “mero detentor”, mas sim em favor de
“possuidor” e/ou “proprietário” do imóvel rural.
324

Confira os termos do documento:

“MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO – MDA


INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA
– INCRA
SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DO MATO GROSSO – SR 13 (MT)

Processo nº 54240002608200598
Interessado: GERALDO ALBERTO BORGES DE OLIVEIRA JUNIOR
Imóvel: FAZENDA RIO NEGRO
Matrícula/Transcrição: 12.131
Código INCRA: 9020122012356
Área (ha): 6.632,1453
Município: FELIZ NATAL
Estado: Mato Grosso

CERTIFICAÇÃO Nº 130508000017-86

Certificamos que a poligonal referente ao memorial descritivo/planta do


imóvel acima mencionado, não se sobrepõe, nesta data, a nenhuma outra
poligonal constante de nosso cadastro georreferenciado e que a sua
execução foi efetuada em atendimento às especificações técnicas
estabelecidas na Norma Técnica para Georreferenciamento de Imóveis
Rurais aprovados pelo INCRA através da Portaria INCRA/P/Nº 1 101/03
de novembro de 2003, publicada no Diário Oficial da União no dia 20 de
novembro de 2003.
O profissional responsável técnico pelos trabalhos AUREO DE CAMPOS
PINHEIRO, credenciado no INCRA sob o código ATP, recolheu a Anotação
de Responsabilidade Técnica ART, nº 33M 257.522 CREA-MT.

Cuiabá, 08 de agosto de 2005.

GENUÍNO MAGALHÃES SORIANO


Engenheiro Agrimensor CREA nº 28330/D-MG
Código de Credenciamento junto ao INCRA ABZ
Ordem de Serviço SR – 13 (MT) G/Nº 206/2003 de 29 de dezembro de 2003.
(cf. doc. 19 em anexo)

(iii) ESCRITURA PÚBLICA DE TRANSMISSÃO DE DOMÍNIO, POSSE


E BENFEITORIAS, em que figura como outorgante/transmitente o Sr.
Geraldo Alberto e como outorgada a empresa Tigre Investimento S.A.,
conforme comprova o doc. 11 incluso.
325

Ora, quem é detentor não teria legitimidade para comparecer a um Serviço


Notarial e Registral para fazer a transferência de “... domínio, posse e
benfeitorias”.

(iv) CERTIFICADOS DE CADASTRO DE IMÓVEL RURAL – CCIRs


referentes aos anos de 1998, 1999, 2003, 2004 e 2005, em que aparece como
Declarante do imóvel rural junto ao INCRA o Sr. Geraldo Alberto (vide
docs. 12 e 13 em anexo)

(v) RELATÓRIO TÉCNICO DE GEORREFERENCIAMENTO feito por


responsável competente, em favor do possuidor do imóvel rural (vide docs.
14, 15, 16, 17 e 18, sendo que no doc. 16 está dito com todas as letras que:

“Encaminhamos, anexo, à essa Administração


Executiva Regional da FUNAI, Planta Georreferenciada e
Declaração de Reconhecimento de Limite da Fazenda Rio
Negro, de propriedade do Sr. Geraldo Alberto Borges de
Oliveira Junior, localizada no município de Feliz
Natal/MT, na qual foram executados os serviços de
georreferenciamento para Certificação de Imóveis junto
ao INCRA, de acordo com o previsto na Lei n. 10.267, de
28/08/2001 e no Decreto 4.449, de 30/10/2002, que
regulam essas atividades” (v. doc. 16 incluso)

(vi) CERTIDÃO DE LEGITIMIDADE expedida pelo INSTITUTO DE


TERRA DE MATO GROSSO – INTERMAT, em favor do Sr. Geraldo
Alberto, para fim exclusivo de registro de imóvel georreferenciado (v. doc.
20 em anexo)

(vii) DECLARAÇÕES DE RECONHECIMENTO DE LIMITE firmadas por


diversos vizinhos e lindeiros, que reconhecem a posse e a divisa do imóvel
rural de posse da Autora (ver docs. 21, 22 e 23 em anexo)

(viii) RECIBO DE ENTREGA DE DECLARAÇÃO DE ITR – IMPOSTO


TERRITORIAL RURAL, em que o Ministério da Fazenda reconhece e
identifica como contribuinte o Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Junior
(v. doc. 24), documento esse que reforça a condição inequívoca de
possuidor daquele que transferiu os direitos de posse para a autora TIGRE
INVESTIMENTO S.A., sendo certo que os documentos 27 e 28 – aparecem
os DARFs com o recolhimento do tributo do ITR da Fazenda Rio Negro, na
parte em que pertence à autora.

(ix) GUIA DE ITBI expedida pelo Município de Feliz Natal, Estado do


Mato Grosso, em que houve o recolhimento no ano de 2001, da importância
de R$ 11.264,00 (onze mil, duzentos e sessenta e quatro reais) pelo Sr.
326

Geraldo Alberto Borges de Oliveira Junior, o que reforça ainda mais a sua
condição de possuidor, e não de “detentor”, como entendeu o v. acórdão
rescindendo (v. docs. 29 e 30 em anexo)

(x) Por derradeiro, fotos que mostram as BENFEITORIAS feitas no imóvel


rural pelo possuidor anterior Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Junior
e mantida pelo possuidor atual Tigre Investimento S.A. (v. doc. 33 e ss.)

Diante de tantas e tamanhas evidências de


que o falecido Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Júnior não era um
simples “detentor”, mas um legítimo e genuíno POSSUIDOR, tanto
que foi expedido em seu favor pelo INCRA uma Certificação desde os idos
de 2005, é cediço que o v. acórdão rescindendo violou acintosamente
normas jurídicas do Código Civil brasileiro, o que autoriza o aviamento
da presente demanda rescisória com espeque na redação do inciso V do art.
966 do novel Diploma Processual.

Com efeito, o v. acórdão rescindendo


proferido pela Sexta Câmara Cível deste colendo Sodalício violou, de forma
manifesta e acintosa, as normas jurídicas de direito material que vêm
expressas nos artigos 1.196, 1.198 e 1.203, todos do Código Civil, que
possuem a seguinte redação:

“Artigo 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

Artigo 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de


dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de
ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este
artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o
contrário.

Artigo 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter
com que foi adquirida”.

No caso em testilha, é fulgurante a condição


de possuidor da empresa TIGRE INVESTIMENTO S.A., uma vez que a
mesma adquiriu de fato e de direito a posse do imóvel rural do falecido
alienante Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira Jr., que se encontra na
posse da área alienada desde os idos de 1994, tendo transferido essa
posse para a Autora em 2009, depois de 15 (quinze) anos de efetivo
exercício, inclusive com a realização de benfeitorias no imóvel.

Se a posse é ostensiva, tanto a que foi


exercida pelo Sr. Geraldo, como a que é hoje pela empresa TIGRE
INVESTIMENTO S.A., não pode sobejar dúvidas que o artigo 1.196 do
327

Código Civil brasileiro foi claramente violado, já que o direito de uso, que
é a face mais expressiva do exercício da posse, vem sendo exercida sem
interrupção pelos mesmos e sem solução de continuidade há mais de 20
(vinte) anos.

Logo, se o artigo 1.196 do Código Civil


considera possuidor “... todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”, não
pode sobejar dúvidas no caso sub judice que o desfrute da coisa há quase
um quartel de século outorga à Autora da rescisória a condição de
possuidora, sendo inconcebível a leitura feita pelo v. acórdão rescindendo
acerca do caso, dizendo que a Autora, e quem ela sucedeu, não passam de
“meros detentores”!!!

Em abono do entendimento de que a


Autora, e quem ela sucedeu eram possuidores de fato e de direito,
pedimos vênia para trazer à colação expressivo julgado do Tribunal de
Justiça do Amapá, vazado nestes expressivos termos:

“AÇÃO POSSESSÓRIA – Reintegração de posse –


Admissibilidade – Autor que comprova possuir de
fato o exercício de um dos poderes inerentes à
propriedade e a ocorrência do esbulho – Domínio,
ademais, que se manifesta pela realização de
benfeitorias – Deferimento da medida que se impõe.
1)A ação possessória tem por objetivo assegurar
proteção interdital ao possuidor destituído de sua
posse por esbulho possessório, garantindo-lhe sua
recuperação do poder de quem injustamente a detinha
em razão de ato violento, clandestino ou precário.
2) Só é possuidor quem tenha, de fato, o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.
(...)
3) Estando a posse de quem invoca a tutela
jurisdicional fundada em JUSTO TÍTULO e manifestada
por BENFEITORIAS que denotem seu efetivo exercício
sobre a coisa, não há como deferir, a quem não
reúna essas condições, inversa proteção
possessória” (Ap 0038019-39.2008.8.03.0001, Câmara
Única do TJAP, rel. Juiz convocado Constantino Brahuna,
DJe-AP 26.05.2011, RT 911/776).

No caso sub oculi, a posse da Autora


decorre e vem fundada em JUSTO TÍTULO, pois ela legitimamente
adquiriu a posse velha do falecido Sr. Geraldo Alberto Borges de Oliveira
Júnior, conforme atesta a ESCRITURA PÚBLICA DE TRANSMISSÃO DE
DOMÍNIO, POSSE E BENFEITORIAS firmada junto ao Serviço Notarial e
328

Registral do Distrito de Capão Grande, município e comarca de Várzea


Grande.

Ora, Excelência, como negar ao Sr. Geraldo


a condição de possuidor, se os Réus expressamente lhes outorgaram uma
ESCRITURA PÚBLICA DE VENDA E COMPRA que foi firmada há quase
um quartel de século, também perante um serviço notarial??? Se essa
escritura não passa de um “simulacro”, uma “fraude”, uma “simulação’ ou
qualquer coisa que o valha, por que os Réus não promoveram uma ação de
anulação da escritura pública de venda e compra firmada nos idos de
1994, a qual perdurou incólume até dar azo a nova ESCRITURA PÚBLICA
DE TRANSMISSÃO DE DOMÍNIO, POSSE E BENFEITORIAS, em que
aparece como outorgante adquirente TIGRE INVESTIMENTO S.A.???

Portanto, negar à Autora da presente


rescisória a condição de possuidora, é rasgar e jogar no “lixo” o art. 1.196
do Código Civil, com todo o respeito!!!

De igual modo, restaram amplamente


vulnerados os artigos 1.198 e 1.203, ambos do Código Civil.

Aliás, antes de demonstrar a violação literal


a essas normas jurídicas, vale ressaltar que os três artigos aqui referidos –
1.196, 1.198 e 1.203, todos do Código Civil – foram vulnerados e
atingidos de forma frontal e direta, como exige a jurisprudência do egrégio
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, em julgado de relatoria da culta e
eminente Ministra NANCY ANDRIGHI, verbis:

“A afronta deve ser direta – contra a literalidade da


norma jurídica – e não deduzível a partir de
interpretações possíveis, restritivas ou extensivas, ou
mesmo integração analógica” (STJ-2ª Seção, AR 720-EI, rel.
Ministra Nancy Andrighi, j. 09.10.2002, DJU 17.02.2003). No
mesmo sentido: RJTJERGS 286/211 (AR 70049010077)

A violação direta e frontal ao artigo 1.198


do Código Civil – sem necessidade de argumentos retóricos ou
subterfúgios jurídicos – decorre da singela leitura da norma jurídica, que
vaticina:

Artigo 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de


dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de
ordens ou instruções suas.
329

Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este
artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o
contrário.

Ora, Excelência, o comportamento do


possuidor originário – Sr. Geraldo – e o comportamento a partir de 2009
da Autora Tigre Investimento S.A., se enquadra nesse figurino descrito na
redação do art. 1.198 do Código Civil??? A leitura dos autos revela em
relação a essa parte do imóvel rural Fazenda Rio Negro – que ao todo tem
39.000 hectares – uma relação de “dependência para com outro” e de
“cumprimento de ordens ou instruções” emanadas de terceiros???

Como é possível um detentor ficar na posse


de um imóvel rural há mais de 20 anos? Como é possível que um simples
detentor (Sr. Geraldo) compareça perante um Serviço Notarial e Registral e
aliene a sua POSSE, DOMÍNIO E BENFEITORIAS para um terceiro
(Tigre Investimento S.A.), sem que os Réus da demanda rescisória
tivessem promovido uma ação de anulação da primeira Escritura Pública de
Venda e Compra???

Resta evidente, pela leitura dos documentos


dos autos, que houve uma clara e inequívoca mutação no comportamento
do Sr. Geraldo, o qual, em razão e em decorrência da ESCRITURA
PÚBLICA DE VENDA E COMPRA deixou a condição de “detentor” e passou
a exercer em torno da área com aproximadamente 7.000 hectares a
inequívoca condição de possuidor pleno, efetivo, que ficou no desfrute e
gozo da coisa até sua alienação para a empresa TIGRE INVESTIMENTO S.A.

Assim, se houve mudança no


comportamento das partes, não pode ser negada à TIGRE INVESTIMENTO
S.A. a condição de legítima possuidora do imóvel rural com a área de
6.632 hectares.

Prova irretorquível dessa assertiva, por


exemplo, pode ser demonstrada por meio de documento expedido pelo
GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO, através da SECRETARIA DE
ESTADO DO MEIO AMBIENTE – SEMA/MT.

Deveras, na data de 25 de janeiro de 2011,


referida Secretaria Estadual expediu o importantíssimo documento
denominado Licença Ambiental Única – LAU em favor da Autora TIGRE
INVESTIMENTO S.A., sendo que o prazo de validade dessa licença LAU nº
7897/2011, vai até 23 de janeiro de 2019.

Ora, Excelência, “detentor” tem legitimidade


para conseguir LAU junto a órgão público???
330

É por essa razão que os artigos 1.198 e


1.203 do Código Civil admitem a mudança de comportamento de
“detentor” para “possuidor”, pois a presunção firmada nessas normas
jurídicas admite prova em contrário, pois se trata de presunção juris
tantum, como reconhece a doutrina e a jurisprudência, além de decorrer da
singela leitura desses preceitos, verbis:

Artigo 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de


dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de
ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este
artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove
o contrário.

Artigo 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o


mesmo caráter com que foi adquirida”.

No caso em testilha, restou sobejamente


demonstrado que houve uma clara e inequívoca mutação no
comportamento do Sr. Geraldo, que deixou a condição de “detentor” e
passou a ser possuidor pleno de parcela do imóvel rural Fazenda Rio
Negro, ou seja, de um total de 39.000 hectares, ele passou a exercer a
posse plena no tocante a 6.632 hectares, aproximadamente 1/6 da área do
imóvel rural.

III – DESNECESSIDADE DE PRESQUESTIONAMENTO


DAS NORMAS JURÍDICAS VIOLADAS
Na presente ação rescisória, a Autora
alegou violação a literal disposição de três (3) normas jurídicas, a
saber: artigos 1.196, 1.198 e 1.203, todos do Código Civil.

Em relação a essas normas jurídicas, duas


delas – artigos 1.198 e 1.203 foram expressamente mencionados no v.
acórdão rescindendo – que deu uma interpretação que violou direta e
frontalmente essas normas legais, mas não fez qualquer menção ao art.
1.196 do mesmo Estatuto de direito material.

Pergunta-se: para que se alegue a violação


frontal e direta do art. 1.196 do Código Civil, é condição sine qua non
que ele tenha sido mencionado no v. acórdão rescindendo?

A resposta negativa se impõe, consoante se


pode aquilatar do seguinte precedente oriundo do egrégio TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO, verbis:
331

“RESCISÓRIA – Violação de literal disposição de lei – Norma não


prequestionada no julgado rescindendo – Irrelevância.
A ação rescisória fundada em violação de literal disposição de lei não
exige que a indigitada norma infringida tenha sido prequestionada no
julgado rescindendo” (AR 112.038-2, 5º Grupo de Câmaras do TJSP, rel. Des.
Carlos Ortiz, RT 627/117).

Também o conceituado repertório de


jurisprudência capitaneado por THEOTONIO NEGRÃO et alli, traz à ribalta
diversos julgados do STF e STJ, no sentido de que é irrelevante que, no
caso em testilha, o artigo 1.196 do Código Civil tenha sido prequestionado
no julgado rescindendo, conforme se vê em suas anotações ao art. 966 do
CPC-2015, que cuida do cabimento da rescisória, verbis:

“Art. 966: 25. É indiferente que a lei tenha sido invocada ou não no
processo principal, porque nem por isso terá deixado de ser violada: o
requisito do prequestionamento não se aplica à rescisória (RTJ
97/699-Pleno do STF, 116/451-Pleno, 116/870-Pleno; STF-Pleno: RT
550/207; STJ-2ª Seção, AR 3.234, rel. Min. Luiz Felipe Salomão, j.
27.11.2013, DJ 14.02.2-14; STJ-5ª Turma, REsp 468.299, rel. Min. Félix
Fischer, j. 08.06.2004, DJU 28.06.2004; STJ-2ª Turma, REsp 797.127,
rel. Min. Castro Meira, j. 25.11.2008, DJ 18.12.2008) (cf. THEOTONIO
NEGRÃO et alli. Novo CPC e legislação processual em vigor. 47ªed. São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 866).

IV – DO PEDIDO DE CONCESSÃO DE
TUTELA PROVISÓRIA PARA SUSTAR OS
EFEITOS DO V. ACÓRDÃO RESCINDENDO
O art. 969 do novel Diploma Processual, ao
cuidar da questão da tutela de urgência na ação rescisória, dispõe que: “A
propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da decisão
rescindenda, ressalvada a concessão de tutela provisória”.

Como se nota, mantendo a tradição de


nosso direito – o art. 489 do CPC-1973 já admitia a concessão de tutela de
urgência em sede de ação rescisória – o novel Estatuto também admite a
concessão de tutela provisória no âmbito da ação rescisória.

Os requisitos para a obtenção da tutela


provisória de urgência vêm previstos no art. 300, caput, do novo CPC,
consoante o qual:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo”.
332

O Ministro do STF – Teori Albino Zavascki –


ao discorrer sobre a possibilidade de concessão de provimento de urgência
em rescisória, é incisivo em sustentar que: “O art. 489 do CPC-1973 (art. 969 do
CPC-2015), segundo o qual ‘a ação rescisória não suspende a execução da sentença
rescindenda’, deve ser interpretado de modo a não inibir a incidência dos demais preceitos
legais, como o do art. 273 (art. 300, caput, novo CPC), a ele superveniente, que permite
antecipar os efeitos da tutela quando isso for indispensável à preservação do direito
afirmado na inicial, e, mais ainda, de modo a não inviabilizar a eficácia concreta do
direito à ação rescisória, assegurado na própria Constituição” (Antecipação da tutela.
São Paulo: Editora Saraiva, 1997, p. 188).

Ora, no caso sub judice, a concessão da


tutela provisória para sustar os efeitos do v. acórdão rescindendo é –
nas palavras do Ministro do Supremo Tribunal Federal – “... indispensável à
preservação do direito afirmado na inicial (...), de modo a não inviabilizar a
eficácia concreta do direito à ação rescisória”, na medida em que os
requisitos previstos no caput do art. 300 do novo Código encontram-se
sobejamente presentes.

Com efeito, a análise da rescisória deixa


claro que existem “... elementos que evidenciem a probabilidade do direito”,
uma vez que restou patente a violação literal aos comandos normativos dos
artigos 1.196, 1.198 e 1.203 do Código Civil brasileiro, que foram
manifestamente violados.

Já o requisito do periculum in mora, que


pode decorrer – na interpretação do caput do art. 300 do CPC-2015 – do
“perigo de dano” ou do “risco ao resultado útil do processo”, também resta
evidente, pois a empresa autora TIGRE INVESTIMENTO S.A. está na
iminência de ter que desocupar o imóvel rural Fazenda Rio Negro, na parte
que compreende a área de 6.632 hectares, devidamente delimitada no
Memorial Descritivo que acompanha a documentação da rescisória.

Destarte, se, somando-se a posse da TIGRE


INVESTIMENTO S.A., que começou em 2009 e perdura até hoje, mais a
posse do falecido Sr. Geraldo, que teve início há quase um quartel de século
atrás, mais precisamente em 1994, é cediço que, sendo a posse da autora
uma posse velha, ela deve permanecer na posse do imóvel rural até que
seja julgado o mérito da presente demanda rescisória, sob pena de a não
concessão da tutela provisória colocar “... em risco o resultado útil do
processo”!!!

A propósito, o egrégio SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA tem jurisprudência firme e consolidada no sentido
de que é possível a concessão de tutela antecipada (agora tutela provisória
de urgência satisfativa, na linguagem do novo CPC) em sede de ação
rescisória.
333

Nesse diapasão expressivo julgado da lavra


do conceituado Ministro ARI PARGENDLER, verbis:

“PROCESSO CIVIL – Ação rescisória – Antecipação da


tutela. A antecipação da tutela pode ser deferida
na ação rescisória, para evitar danos até a
prolação do acórdão que venha a julgá-la
procedente” (STJ-3ª Turma, REsp nº 184.311/SP, rel.
Min. Ari Pargendler, DJ 27.05.2002).

Destarte, restando plena e sobejamente


demonstrados os requisitos para a concessão de tutela provisória em sede
de ação rescisória, de modo a preservar o resultado útil do processo, pugna
a Requerente pela concessão do provimento para o fito de sustar os
efeitos do v. acórdão rescindendo, até que ocorra o julgamento de
mérito da rescisória.

V – DOS PEDIDOS
Em harmonia com o exposto, requer a
autora se digne Vossa Excelência de:

y) Admitir, conhecer e determinar o regular


processamento da vertente ação rescisória, que
encontra fundamento expresso no inciso V do art.
966 do novo Código de Processo Civil, consoante o
qual “A decisão de mérito transitada em julgado,
pode ser rescindida quando: violar manifestamente
norma jurídica”; in casu, restou plenamente
demonstrado que foram violadas de forma ostensiva
os artigos 1.196, 1.198 e 1.203, todos do Código
Civil, de modo que a rescisória é plenamente cabível.

z) Uma vez admitida a ação, seja imediatamente


CONCEDIDA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
para o fim de sustar os efeitos do v. acórdão
rescindendo, de modo a manter a autora na posse do
imóvel rural Fazenda Rio Negro, na área adquirida
que compreende 6.632 hectares de uma área maior
de 39.000 hectares, cujo delimitação e individuação
encontra-se descrita no Memorial Descritivo
elaborado por profissional competente, sendo certo
que a posse remonta aos idos de 1994 e, estando a
Autora e mais quem lhe transferiu os direitos de
334

posse, domínio e benfeitorias no imóvel há mais


de 20 (vinte) anos, não há nenhum risco de que a
medida seja irreversível para a parte contrária, sendo
certo, outrossim, que a não concessão do provimento
liminar causará danos irreparáveis para a Autora.

aa) Requer, outrossim, após a concessão da tutela


provisória de urgência satisfativa dos efeitos da
decisão final, seja ordenada a citação dos Réus,
“designando prazo nunca inferior a 15 (quinze) dias
nem superior a 30 (trinta) dias para, querendo,
apresentar resposta, ao fim do qual, com ou sem
contestação, observar-se-á, no que couber, o
procedimento comum” (redação do art. 970 do CPC-
2015).

bb) NO MÉRITO, requer seja concedida a rescisória


para os seguintes escopos: (i) no âmbito do juízo
rescisório, seja decretada a rescisão do v. acórdão
proferido nos autos da Apelação 72757/2013, da
egrégia Sexta Câmara Cível desse Sodalício, uma vez
que o v. acórdão rescindendo violou de forma
manifesta e literal os artigos 1.196, 1.198 e 1.203,
todos do Código Civil; (ii) uma vez decretada a
rescisão do v. acórdão, seja proferido novo
julgamento (dicção do inc. I do art. 968 do novo
CPC), para o fim de reconhecer a condição de
possuidora da Autora, de forma a julgar procedente
a pretensão de direito material que foi veiculada na
Ação de Embargos de Terceiro objeto do Processo nº
0000226-59.2008.8.11.0093, que tinha a numeração
54/2008, e objeto do Código 47358, para assegurar,
em definitivo, a posse do imóvel rural de 6.632
hectares, denominado Fazenda Rio Negro, conforme
a descrição pormenorizada constante do Memorial
Descritivo, imóvel este situado no município e
comarca de Feliz Natal, Estado de Mato Grosso, pois
só assim é que estará Vossa Excelência praticando
ato da mais lídima e sempre soberana

J U S T I Ç A!!!

cc) A autora requer provar o alegado por todos os meios


de prova em direito admitidos, especialmente juntada
de novos documentos, se necessário.
335

dd) A presente ação rescisória vem acompanhada do


depósito de 5% (cinco por cento) sobre o valor
da causa, cumprindo, assim, a exigência imposta
pelo inc. II do art. 968 do novel Diploma Processual.

Dá-se à presente ação rescisória o valor de R$


99.410,38 (noventa e nove mil, quatrocentos e dez
reais e trinta e oito centavos), que corresponde ao
valor atualizado atribuído à ação principal (Embargos
de Terceiro) cuja rescisão se pleiteia, que, em
19/03/2008, correspondeu a R$ 30.000,00 (trinta mil
reais), cuja planilha de cálculo atualizada acompanha
a documentação da presente actio.

Assim, acerca do valor da causa na ação


rescisória, por todos, julgado do egrégio Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, que reflete o
entendimento unânime da jurisprudência: “Não há
dúvida de que o valor a ser considerado na ação
rescisória é aquele atribuído à ação cujo acórdão ou
sentença se procura rescindir. Assim, deve-se aplicar
a correção monetária ao respectivo valor,
recuperando-lhe o mesmo poder primitivo que a
inflação corroeu” (RT 653/145).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Cuiabá, 30 de março de 2016.


336

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO


EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO.

URGENTE
Ação rescisória com pedido de antecipação de tutela para o fim de
manter na função público servidor público estadual concursado, até que se
julgue o mérito da pretensão veiculada.

Fundamento legal da ação rescisória: artigo 485, V, do CPC.

FABRÍCIO JOSÉ DOS SANTOS, brasileiro,


solteiro, investigador de polícia, portador da cédula de identidade RG n.
08860920-SSP/MT e inscrito no CPF sob o n. 815.457.381-49, domiciliado
337

na cidade de Cuiabá/MT, onde reside na Rua 83, quadra 79, casa 30, CPA
IV, 3ª etapa, por seus advogados in fine assinados, ut instrumento de
mandato anexo, vem, com o devido acato a Vossa Excelência, com espeque
no art. 485, inciso V, do Código de Processo Civil, promover a vertente
AÇÃO RESCISÓRIA com pedido de antecipação de tutela para o fito de
manter no cargo público de investigador de polícia o Requerente, de modo a
evitar dano irreparável de natureza alimentar, com grave repercussão no
plano material, sendo certo que a decisão atacada nesta rescisória é o v.
acórdão da Quarta Câmara Cível deste colendo Sodalício, de relatoria do
Exmo. Sr. Des. Luiz Carlos da Costa (relator designado), com votos
favoráveis à perda da função do Des. José Zuquim Nogueira e da Dra.
Helena Maria Bezerra Ramos, proferido nos autos da Ação Civil Pública por
ato de improbidade administrativa promovida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DE MATO GROSSO, aresto este que transitou em julgado
na data de ................................, haja vista os relevantes motivos fáticos
e fundamentos jurídicos que, de ora avante, passa articuladamente a
alinhar:

I – DO CABIMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA


A presente ação rescisória encontra guarida
na redação do artigo 485, inciso V, do Código de Processo Civil, consoante a
qual: “A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida
quando: (...) – violar literal disposição de lei”.

No caso em testilha, foi acintosamente


violado dois artigos da Lei de Improbidade Administrativa – Lei n. 8.429, de
02 de junho de 1992, na medida em que o v. acórdão rescindendo
enquadrou o Autor da demanda em ato de improbidade administrativa pelo
fato de ter solicitado a importância de módicos R$ 500,00 (quinhentos
reais) em razão de conversa com terceiro, sendo certo que essa conversa
telefônica foi objeto de uma interceptação ilícita em face do mesmo, de
modo que, em razão da função pública que exerce, não é crível que seja
decretada a perda da função pública seja pela inexpressividade do valor,
seja pela inexistência de lesão ao erário, seja pela ausência de dolo, seja
pela ausência de má-fé, seja porque a ficha funcional do Autor revela que
ele é um servidor público exemplar, sendo certo que tudo isso foi
desconsiderado pelo v. acórdão recorrido, que desprezou e ignorou todos
esses aspectos.

Portanto, os dispositivos que restaram


violados pelo v. acórdão rescindendo são os artigos 11, incisos I e III, c/c
338

12, inciso III e seu respectivo parágrafo único, da Lei 8.429/1992, como
será amplamente demonstrado.

É de se ressaltar que a jurisprudência do


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA admite o manejo da rescisória em
situações que revele grave desvirtuamento na aplicação de normas legais,
ou seja, em que a afronta é direta, como sucedeu no caso em testilha,
consoante se pode aquilatar do seguinte aresto de relatoria da Min. NANCY
ANDRIGHI, verbis:

“Para ser julgado procedente, o pedido rescindendo deduzido


em ação rescisória fundada no inc. V do art. 485 do CPC
depende, necessariamente, da existência de violação, pelo v.
acórdão rescindendo, a literal disposição de lei. A afronta deve
ser direta – contra a literalidade da norma jurídica – e não
deduzível a partir de interpretações possíveis, restritivas ou
extensivas, ou mesmo integração analógica” (STJ-2ª Seção, AR
720-EI, rel. Min. Nancy Andrighi, DJU de 17.02.2003).

Ademais disso, é supinamente relevante


destacar que o v. acórdão rescindendo violou o espírito e o sentido das
normas dos artigos 11, incisos I e III, c/c 12, inciso III, da Lei
8.429/1992, ao decretar a perda da função pública do servidor estadual
com base num suposto pedido de R$ 500,00 (quinhentos reais) decorrente
de uma interceptação telefônica absolutamente irregular em face do Autor,
o que mostra e revela, em toda sua plenitude, que o v. acórdão rescindendo
fez tabula rasa dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade na
aplicação dessas normas.

O festejado repertório de jurisprudência


capitaneado por THEOTONIO NEGRÃO, em suas anotações ao inciso V do
art. 485 do Estatuto dos Ritos, registra, com propriedade, a seguinte
passagem:

“Que se há de entender por violação de literal disposição de lei? Será


apenas o que ela diz, ou o que em seu preceito virtualmente se
compreende?
A nosso ver, o acórdão em RSTJ 27/247, unânime, situou exatamente a
questão, nestes termos:
“O que o art. 485, V, do CPC, reclama para a
procedência da rescisória é que o julgado rescindendo, ao aplicar
determinada norma na decisão da causa (portanto, ao fazer incidir sobre o
litígio norma legal estrita) tenha violado seu sentido, seu propósito:
sentido e propósito que, como não pode deixar de ser, admitem e até
339

mesmo impõem variada compreensão do conteúdo do imperativo legal,


ao longo do tempo e ao sabor de circunstâncias diversas da ordem social,
que a jurisprudência não pode supostamente ignorar ou mesmo
negligenciar” (do voto do relator, Min. BUENO DE SOUZA, p. 261) (cf.
NEGRÃO, Theotonio et alli. CPC e legislação processual civil, 44ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2012, nota 26 ao art. 485, p. 601).

No caso em testilha, o alvo da rescisória é


exatamente a parte do v. acórdão que decretou a perda da função
pública do demandante, pois tal penalidade para quem sugeriu o
pagamento de ínfimos R$ 500,00 (quinhentos reais) exorbita do sentido e
do alcance das normas da Lei de Improbidade Administrativa citadas, pois é
completamente irrazoável e desproporcional que alguém seja privado
de seu cargo público, obtido por meio de concurso, em razão de valor tão
inexpressivo resultado de uma interceptação telefônica.

Não por outro motivo que o parágrafo único


do art. 12 da Lei de Improbidade Administrativa dispõe que: “Na fixação
das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano
causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente”.

No caso em testilha, como será amplamente


demonstrado, não houve qualquer dano ao erário, não houve o recebimento
da importância de R$ 500,00 (quinhentos reais), portanto, não houve
proveito patrimonial obtido pelo agente, sem falar que a Ficha
Funcional do Autor é absolutamente exemplar, com coleção de elogios da
Polícia Civil e de diversos Delegados que trabalham ou trabalharam com o
demandante, que só coleciona “ótimos” e “excelentes” em sua ficha
funcional.

Destarte, demonstrado, quantum satis, o


cabimento da ação rescisória com esteio na redação do inciso V do art. 485
do Estatuto Processual, vamos aos fundamentos que justificam o
recebimento da ação rescisória (juízo rescindendo) e posterior decretação
de rescisão do v. acórdão transitado em julgado (juízo rescisório).

II – BREVE APANHADO DOS FATOS


Nobre Desembargador Relator: nos idos de
21 de fevereiro de 2005 – portanto, há mais de 10 (dez) anos –, o Parquet
340

Estadual promoveu u’a AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA em desfavor de Fabrício José dos Santos, ora Autor, em
razão do mesmo ter entabulado conversa com uma pessoa que era suspeita
da prática de furto num Condomínio no Bairro Boa Esperança, sendo certo
que essa conversa telefônica decorreu de uma interceptação feita no celular
do suposto praticante do furto, em que o demandante teria solicitado a
importância de “cinco pernas”, que, na linguagem vulgar, significa
R$ 500,00 (quinhentos reais).

Desprezando e ignorando completamente os


antecedentes e a ficha funcional do Autor, o Ministério Público formulou
pedido de perda da função pública, consoante se pode aquilatar da letra “g”
do requerimento, vazado nestes termos:

“g – ao final, seja julgada procedente em todos os


seus termos a presente ação, para condenar o
requerido Fabrício José dos Santos nas sanções
civis aplicáveis, quais sejam a perda da função
pública, a suspensão dos direitos políticos,

pagamento de multa civil e proibição de contratar


com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual sejam sócios majoritários, pelo
prazo de 3 (três) anos” (vide petição inicial em
anexo).

Para condenar o Autor na sanção de perda


da função pública, a sentença de primeiro grau de jurisdição lançou mão
do seguinte fundamento

“No tocante à perda da função pública, por ser a utilização de função


pública para prática de ato direcionado à corrupção conduta reprovada,
veementemente, pelo ordenamento jurídico e pela sociedade, que macula a
imagem do ente público a que pertence e viola os deveres deontológicos de
honestidade e lealdade exigíveis do agente público desde sua posse, reputo
o requerido inábil ao exercício da função pública que ocupava, afigurando-
se a perda da função pública como reprimenda proporcional à
reprovabilidade de sua conduta, a fim de que seu caráter educativo seja
efetivado” (fl. 17 do decisum).

Em razão desse único fundamento, o Juízo


da Vara Especializada em Ação Civil Pública e Ação Popular proferiu o
seguinte dispositivo:
341

“2. DISPOSITIVO

Ante o exposto, conheço da ação civil pública de improbidade


administrativa, JULGO PROCEDENTE o pedido movido pelo Ministério
Público Estadual e pelo Estado de Mato Grosso em desfavor de Fabrício
José dos Santos, condenando-o pela prática de ato de improbidade
administrativa, nos termos do art. 11 da Lei n. 8.492/1992, pela conduta
praticada em prejuízo da moralidade, legalidade e ética funcional, ao
fornecer informações sigilosas e solicitar vantagem indevida, em função do
cargo, aplicando-lhe, para tanto, as seguintes penas, ponderadas
concretamente de acordo com a extensão do dano causado ao patrimônio
público, à moralidade administrativa e o proveito patrimonial obtido
ilicitamente:

a) perda da função pública ocupada à época dos fatos (investigador de


polícia), se tal já não se deu; e
b) pagamento de multa civil no importe no valor de 05 (cinco) vezes o valor
da remuneração percebida pelo requerido à época do fato, montante esse a
ser aferido pela liquidação de sentença.

A multa revertará ao Estado de Mato Grosso (art. 18 da Lei n. 8.492/92,


pessoa jurídica lesada pelo ato de improbidade administrativa” (vide
fls. 17 e 18 da r. sentença – doc. anexo).

Data maxima venia, é fácil notar que o


dispositivo da sentença parte de premissas inexistentes, que não restou
demonstrado nos autos, a saber: (i) não houve dano ao patrimônio público;
(ii) não houve proveito patrimonial obtido ilicitamente, pois não há
qualquer prova no sentido de que o Autor tenha recebido um vintém.

Logo, força convir, o Estado de Mato


Grosso não foi lesado por ato de improbidade administrativa, já que não
houve qualquer prejuízo ao erário e muito menos apropriação de valor
indevido!!!

De qualquer sorte, dentro dos princípios da


razoabilidade e da proporcionalidade, de forma que seja preservado o
alcance e o sentido das normas dos artigos 11, incisos I e III, 12,
inciso III e seu respectivo parágrafo único, da Lei de Improbidade
Administrativa, o Autor não vai se insurgir contra a multa civil, por entendê-
la proporcional e razoável, para que sua conduta não fique impune e para
que não se advogue aqui a impunidade.
342

Mas daí dizer que o ato praticado pelo


demandante – objeto de uma interceptação telefônica feita à sua revelia –
deve acarretar a perda da função pública, não encontra amparo no
alcance e na interpretação que a doutrina e a jurisprudência dão aos artigos
violados.

De seu turno, o v. acórdão cuja rescisão se


pleiteia, não acrescentou praticamente nada no tocante à fundamentação
da r. sentença, limitando-se a Relatora sorteada Dra. Helena Maria Bezerra
Ramos a consignar que:

“Verifica-se que a decisão recorrida reconheceu as figuras previstas


no art. 11, I e III, da Lei n. 8.429/92 (fornecer informações sigilosas e
solicitar vantagem manifestamente indevida em função do cargo) e, em
razão disso, ponderando a extensão do dano causado à instituição
policial, à moralidade administrativa e, a vantagem patrimonial
obtida pelo Apelado/Fabrício, determinou a perda da função
pública ao agente infrator” (v. acórdão em anexo, fl. 8 de 23).

Igualmente, o voto do ilustre Des. Luiz


Carlos da Costa – que, posteriormente, foi designado relator para o caso em
razão de ter acolhido o apelo ministerial para estender as penalidades ao
Autor (v.g., suspensão dos direitos políticos, proibição de contratar com o
Poder Público, que a Relatora sorteada não tinha acolhido) – também nada
acrescentou em relação à r. sentença, limitando-se a reproduzi-la, o
mesmo acontecendo com o voto do eminente Des. José Zuquim Nogueira,
que se limitou a aderir ao voto do relator designado Luiz Carlos da Costa,
como se constata da leitura do inteiro teor do v. acórdão.

III – DOS DIVERSOS PRECEDENTES DOS TRIBUNAIS


QUE JUSTIFICAM O ACOLHIMENTO DA RESCISÓRIA
Nobre Desembargador Relator: uma
pesquisa levada a cabo pelos advogados do demandante, deixa claro que o
v. acórdão cuja rescisão se pleiteia foge completamente do alcance e do
sentido que a jurisprudência dos Tribunais tem dado na interpretação do
arts. 11, incisos I e III, c/c 12, inc. III e seu parágrafo único, da Lei de
Improbidade Administrativa, cujos dispositivos são aqui reproduzidos, pois a
violação a literal disposição de lei gravita em torno desses dispositivos,
verbis:
343

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta


contra os princípios da administração pública qualquer ação ou
omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou
diverso daquele previsto, na regra de competência;
(...)
III – revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das
atribuições e que deva permanecer em segredo.

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e


administrativas previstas na legislação específica, está o
responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes
cominações, que podem ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato
(...)
III – na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se
houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de
três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor
da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com

o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou


creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de
pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três
anos.
Parágrafo único. Na fixação das penas prevista nesta lei o juiz
levará em conta a extensão do dano causado, assim como o
proveito patrimonial obtido pelo agente”.

Na interpretação desses mandamentos


legais, é fácil notar que o v. acórdão rescindendo refoge completamente do
entendimento jurisprudencial, mormente da recomendação dada pelo
parágrafo único do art. 12 da Lei de Improbidade, que adverte no sentido
de que “... o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim
como o proveito patrimonial obtido pelo agente”.

No caso em testilha, não houve qualquer


tipo de proveito patrimonial e muito menos prejuízo ao erário, já que o
Autor nunca recebeu importância derivada da prática de ilícito, seja ele civil
ou criminal

O que houve foi apenas uma ligação


telefônica que foi gravada de forma ilícita, pois objeto de interceptação
344

telefônica que não guarda qualquer relação com o Autor da presente


demanda.

De qualquer sorte, para fins de cabimento


da rescisória, partindo-se do pressuposto de que ele sugeriu o pagamento
de “cinco pernas” (= R$ 500,00), é certo que a condenação imposta pelo v.
acórdão rescindendo é manifestamente desarrazoada e
desproporcional, ao impor ao demandante a sanção de perda da função
pública.

Com efeito, antes de adentrarmos no


alcance e extensão que a jurisprudência pátria tem dado aos dispositivos
legais aqui violados literalmente, é de rigor fazer algumas considerações em
torno do comportamento do Autor, pois a impressão falsa que o v. acórdão
rescindendo procura passar é que estamos diante de um funcionário “da
pior espécie”, um “bandido” na repartição pública, quando tal não ocorre.

Deveras, consoante comprova a


documentação que se refere à vida funcional do Autor Fabrício José dos
Santos, é fácil constatar que a sua conduta e o seu comportamento perante
a Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso é absolutamente
exemplar.

Assim, na ocasião em que foi avaliado o


estágio probatório, foi atribuído ao demandante as seguintes avaliações:

AVALIAÇÃO DO ESTÁGIO PROBATÓRIO REFERENTE AO MÊS DE


NOVEMBRO/2003

FATORES DE AVALIAÇÃO

I. Conduta: ÓTIMO
II. Aptidão: ÓTIMO
III. Disciplina: EXCELENTE
IV. Assiduidade: ÓTIMO
V. Dedicação: EXCELENTE
VI. Eficiência: ÓTIMO
VII. Responsabilidade: ÓTIMO

Passado um ano, novamente o Agente


Policial Fabrício José dos Santos foi submetido a nova avaliação de Estágio
Probatório, tendo obtido as seguintes notas:
345

AVALIAÇÃO DO ESTÁGIO PROBATÓRIO REFERENTE AO MÊS DE


OUTUBRO/2004

FATORES DE AVALIAÇÃO

I. Conduta: ÓTIMO
II. Aptidão: ÓTIMO
III. Disciplina: EXCELENTE
IV. Assiduidade: ÓTIMO
V. Dedicação: EXCELENTE
VI. Eficiência: ÓTIMO
VII. Responsabilidade: ÓTIMO

Em uma outra avaliação, o demandante


chegou a obter a nota “excepcional”, consoante se pode aquilatar da
avaliação de Estágio Probatório referente ao período AGOSTO/2001 a
AGOSTO/2003, in verbis:

AVALIAÇÃO DO ESTÁGIO PROBATÓRIO REFERENTE AO


PERÍODO DE AGOSTO DE 2002 A AGOSTO/2003:

FATORES DE AVALIAÇÃO

I. Conduta: ÓTIMA
II. Aptidão: EXCEPCIONAL
III. Disciplina: ÓTIMA
IV. Assiduidade: ÓTIMA
V. Dedicação: EXCEPCIONAL
VI. Eficiência: ÓTIMA
VII. Responsabilidade: ÓTIMA

Ora, Excelência, um Agente Policial que tem


essa avaliação no Estágio Probatório, a ponto de obter a nota
“excepcional” em aptidão e dedicação ao serviço público, não pode ser
346

inquinado e sofrer a penalidade extrema, em razão de um único


telefonema, numa conversa truncada e recheada de “gíria”.

Aliás, numa das avaliações consta a


seguinte observação: o Agente Policial Fabrício José dos Santos “...
demonstra profundo conhecimento para o exercício da profissão”.

Igualmente impressiona as Cartas de


Recomendação subscritas por nada menos do que 6 (seis) Delegados de
Polícia diferentes – Ana Paula de Farias Campos, Enio Carlos Lacerda,
Miguel Rogério Gualda Sanches, Antonio Carlos Garcia de Mattos, Hamilton
Cesar Vieira de Camargo, Christian Alessandro Cabral e Francisco Kunze Jr.,
todos atestando que:

“Venho através dessa, informar a quem de


interesse que Fabrício José dos Santos,
Investigador de Polícia Civil do Estado de
Mato Grosso, registro funcional nº 007.142-
PJC/MT, trabalhou sob minha subordinação e que
neste período desempenhou com ética,
honestidade, esmero, dedicação e
profissionalismo suas funções, nada havendo
que desabone sua conduta” (vide docs. em anexo,
referente à vida funcional do Autor).

Mas o que mais impressiona são os dois


ELOGIOS recebidos pelo Autor da rescisória Agente Policial Fabrício José
dos Santos, em razão de operações que teve sua decisiva colaboração: (i)
no empenho demonstrado nas operações Reverso da Fênix, Alto Volume,
dentre outras; e (ii) pelo profissionalismo, dedicação e esmero
demonstrado na investigação que culminou com a desarticulação de uma
quadrilha que vinha praticando furtos e roubos continuados em caixas de
auto-atendimento da rede bancária na região metropolitana.

Nesta última – em que a sua contribuição


foi decisiva para desbaratar uma quadrilha que vinha praticando furtos e
roubos em caixas eletrônicos da rede bancária – não deixa de impressionar
o tamanho do elogio recebido pelo Autor, consoante se vê da seguinte
passagem que tem o aval e a assinatura do Delegado de Polícia JOSÉ
LINDOMAR COSTA – Diretor-Geral e da Delegada de Polícia VERA
ROTILDE DA SILVA ALVES – Diretora Metropolitana da Polícia
Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso, verbis:
347

ELOGIO

A Polícia Judiciária Civil do Estado de


Mato Grosso, vem por meio deste, contemplar o servidor
FABRÍCIO JOSÉ DOS SANTOS, Investigador de Polícia do
Centro Integrado de Segurança e Cidadania – CISC OESTE,
com este ELOGIO, pelo relevante trabalho que vem
prestando junto à referida Unidade Policial, em especial, pelo
profissionalismo, dedicação e esmero demonstrado na
investigação que culminou com a desarticulação de uma
quadrilha que vinha praticando furtos e roubos continuados
em caixas de auto-atendimento da rede bancária na região
metropolitana.

O PRESENTE ELOGIO
SIGNIFICA POUCO PARA QUEM
SIGNIFICA MUITO COMO PESSOA E
PROFISSIONAL QUE É PARA A
POLÍCIA JUDICIÁRIA CIVIL É UM
GRANDE PRIVILÉGIO TÊ-LO COMO
INTEGRANTE DE SEUS QUADROS.
Encaminhe-se à Superintendência de
Gestão de Pessoas para fins de inscrição nos assentamentos
funcionais do servidor” (vide doc. em anexo).
348

Ora, Excelência, um Agente Policial que


recebe um elogio dessa magnitude e grandeza seguramente não é
bandido, não é mau caráter, não é corrupto, pois se o fosse ele teria
pedido “propina” para a quadrilha que arrombava caixas eletrônicos e
praticava furtos e roubos junto a cidadãos de bens nos pontos de auto-
atendimento!!! Pelo contrário, sua atuação e eficiência foi decisiva para
desbaratar a quadrilha.

Por isso o tamanho do ELOGIO recebido


pelo Autor, cuja Ficha Funcional revela um servidor de uma qualificação e
de uma grandeza moral que raramente se vê em vida funcional.

Não obstante tudo o que foi dito aqui sobre


a vida funcional do Autor, ela foi completamente desprezada e ignorada
pelo v. acórdão rescindendo, como se não fizesse parte do processo.

É muito cômodo “jogar lama” na vida


funcional de uma pessoa que tem comportamento irrepreensível junto à
Polícia Judiciária Civil há mais de 15 (quinze) anos, em virtude de um
único erro cometido na sua vida profissional.

Ainda que se admita que ele tenha


solicitado importância indevida – já que essa discussão não cabe em sede
de rescisória, no sentido de provar sua inocência – é certo que essa atitude
isolada, diante da magnitude de seu comportamento em 15 anos de
Polícia, não pode merecer a pecha de perda da função pública, pois essa

condenação é absolutamente desproporcional e desarrazoada face à vida


funcional do Autor Fabrício José dos Santos junto à instituição que pertence,
que se ORGULHA DE TÊ-LO EM SEUS QUADROS, como provado e
demonstrado cabalmente.

Demonstrado, quantum satis, o elevado


conceito e estima que o Agente Policial Fabrício José dos Santos desfruta
perante a Polícia Judiciária Civil, é fácil constatar – levando em conta sua
Ficha Funcional – que a interpretação dada pelo v. acórdão rescindendo
delira do alcance e sentido que a jurisprudência pátria tem dado à Lei de
Improbidade Administrativa.

IV – INTERPRETAÇÃO DO V. ACÓRDÃO RESCINDENDO


DISCREPA DO SENTIDO E ALCANCE QUE A
JURISPRUDÊNCIA TEM DADO À LEI DE IMPROBIDADE
349

A interpretação dada pelo v. acórdão


rescindendo, como se verá mais de espaço, delira do sentido e alcance que
a jurisprudência dos Tribunais tem dado ao art. 11 da Lei nº 8.429/1992.

Com efeito, vamos aqui fazer um paralelo


com alguns julgados envolvendo improbidade administrativa, de modo a
demonstrar que a solução que têm sido dada não tem o rigor draconiano
que se nota no v. acórdão rescindendo.

Assim, no julgamento de uma Ação Civil


Pública por improbidade administrativa em que uma servidora ocupou
irregularmente imóvel residencial da União por mais de quatro (4) anos, a
demanda foi julgada improcedente, em razão da servidora não ter agido
com má-fé e de que não houve prejuízo ao erário. Confira:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Improbidade administrativa – Descaracterização –


Utilização irregular de imóvel funcional por advogada da União ocupante de
cargo comissionado – Ausência de comprovação de dolo ou de má-fé por parte
da funcionária e da existência de concreto prejuízo ao Erário.
1. Configura ato de improbidade administrativa que cause lesão ao erário, previsto
na Lei 8.429/1992, a conduta de permitir que pessoa física se utilize de bens do
acervo patrimonial da União sem observar as regras pertinentes à espécie.
2. Para a caracterização do ato de improbidade administrativa que cause lesão ao
erário é mister a comprovação do dolo ou da má-fé do réu e da existência de
concreto prejuízo ao erário.
3. As provas carreadas aos autos não demonstram que a apelada agiu com má-fé e
que houve prejuízo ao erário.

4. Recursos de apelação não providos” (TRF-1ª Região, ApCiv 2008.34.00.019729-5/DF,


3ª Turma, rel. Des. Federal Tourinho Neto, DJF de 26.03.2010, RT 897/354).

Também calha à fiveleta julgado do


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ, que reputou
inexistente ato de improbidade administrativa de ex-Prefeito que teria
sonegado do erário a dedução do imposto de renda, causando um prejuízo
da ordem de R$ 110.496,00 (cento e dez mil, quatrocentos e noventa e seis
reais), importância esta 22 vezes maior do que a suposta tentativa feita
pelo Autor no caso concreto. Confira:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Improbidade administrativa – Inocorrência – Agente


público municipal que deixou de deduzir o Imposto de Renda diretamente na
fonte de seus agentes remunerados – Inexistência de prejuízo ao erário –
Hipótese em que, tendo os agentes feito a declaração anual da receita, cabia à
Receita Federal a fiscalização da correção da declaração de renda anual –
Inteligência do art. 17, §8º, da Lei n. 8.429/92.
350

Conforme a dicção do §8º do art. 17 da Lei 8.249/92 é de ser rejeitada a ação


quando houver convencimento da inexistência do ato de improbidade
administrativa, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita. Não há
que se falar em ato ímprobo se o agente público municipal deixou de deduzir o
Imposto de Renda diretamente na fonte de seus agentes remunerados, se não
houve prejuízo ao erário, tendo os agentes feito a declaração anual da receita,
cabendo à Receita Federal a fiscalização da correção da declaração de renda
anual” (TJPR-4ª Câmara, Ap 305.640-0, rel. Des. Marcos de Luca Fachin, RT 848/305).

Desse lapidar aresto, colhe-se a seguinte


passagem, que cai como uma luva ao caso em testilha:

“A Lei de Improbidade Administrativa é severa porque, ao administrador público,


aos agentes públicos e políticos em geral, se incumbe a tarefa de adotar postura
exemplar à sociedade, agindo honestamente, dentro dos padrões éticos
dominantes, com lisura, transparência, lealdade, moralidade, e probidade
administrativas.
Com efeito, a rigidez exigida decorre da necessidade de se impor à legislação um
caráter repreensivo e preventivo, pois não basta somente a aplicação das sanções,
mas, sobretudo, coibir a prática futura dos ilícitos administrativos.
Contudo, a aplicação deve ser sopesada com cautela, para que se evite EXCESSOS
OU INJUSTIÇAS. É que, das penas previstas, inclui-se perdas de bens,
ressarcimento de dano, perda da função pública, pagamento de multa civil,
proibição de contratar com o Poder Público ou de receber benefícios fiscais e a
suspensão dos direitos políticos” (RT 848/307).

Em outro caso, envolvendo a inteligência do


artigo 11 da Lei de Improbidade, a jurisprudência entendeu que não
comete ato de improbidade Prefeito Municipal que contrata prestação de
serviços advocatícios com dispensa de licitação em razão da singularidade
do trabalho e notória especialização, que permitem a inexigibilidade do
certame, conforme se vê da expressiva Ementa do v. aresto, verbis:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Improbidade administrativa – Inocorrência – Serviços


advocatícios – Contratação com dispensa de licitação pública – Singularidade do
trabalho e notória especialização que permitem a inexigibilidade do certame –
Ausência, ademais, de prova do dano ao erário, má-fé ou desonestidade do
agente público.
1. Não se pode enquadrar toda e qualquer falta administrativa na figura da
improbidade, avessa esta a eventuais faltas de caráter secundário, envolvendo
rotinas administrativas que, mesmo nas hipóteses de terem sido contrariadas, de
351

modo algum teriam sido de forma dolosa, requisito subjetivo reclamado pelo art.
11 da Lei de Improbidade.
2. Inexistindo, nos autos, prova com intuito de desonestidade, nem dano para o
erário, a hipótese é de improcedência da ação.
3. Ademais, há que se anotar a circunstância específica de contratação e prestação
de serviços advocatícios, que se baseiam na confiança e não só na aplicação
técnica dos conhecimentos, mas decorrente do mandato/outorga de poderes de
representação em juízo, entre as partes, conforme o Código Civil.
4. As sanções da Lei 8.429/1992 só podem ser aplicadas em casos de comprovado
dolo, má-fé ou desonestidade do agente público, capaz de caracterizar a
improbidade administrativa; caso contrário, não ocorrerá o ilícito previsto na lei”
(TJTO-4ª Turma Julgadora da 2ª Câmara Cível, ApCiv 5001281-93.2011.827.0000,
rel. Des. Jacqueline Adorno, RT 938/924).

V – DA NECESSIDADE DE APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA


RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE EM FACE DA LEI DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Douto Desembargador Relator: o egrégio


STJ, em acórdão leading case de relatoria do culto Min. HERMAN BENJAMIN,
ao apreciar caso concreto que “... envolvia a utilização de veículos e
funcionários do Poder Público para transportar utensílio e bens particulares”
patrocinada pelo Chefe de Gabinete do Município de Vacaria/RS, apesar de
ter enquadrado o servidor na prática de ato de improbidade, não lhe
aplicou a sanção da “perda da função pública”, mas sim a multa civil,
em razão da aplicação dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
pois não seria razoável que o servidor perdesse o cargo público em razão do
uso de veículos e funcionários, não obstante tal fato seja improbo.

Vale dizer, por outras palavras: quando a


sanção envolve perda da função pública, com o apenamento da perda do
cargo, como sucedeu no caso em testilha, os Tribunais são cautelosos –
inclusive o STJ – para evitar que um erro ou um desvio de conduta
decorrente da imprudência do servidor não chegue ao ponto de lhe custar o
seu trabalho obtido por meio de concurso público, mormente in casu em
que o Agente Policial é ostensivamente elogiado pela Polícia Judiciária Civil,
que chegou ao ponto de afirmar e mandar colocar nos seus assentos
funcionais que o Autor Fabrício José dos Santos é um orgulho para a Polícia
Civil, dado seu esmero, trabalho, dedicação e responsabilidade no
exercício do cargo.

Por essa razão, calha à ribalta o aresto da


2ª Turma do STJ, de relatoria do Ministro HERMAN BENJAMIN, quando
352

ponderou que o julgador não pode deixar de levar em consideração os


princípios da razoabilidade e da proporcionalidade na aplicação da Lei de
Improbidade, consoante se pode aquilatar dos seguintes trechos do v.
acórdão:

“IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – Caracterização – Chefe de gabinete de


município que utiliza veículo e funcionários do poder público para transportar
utensílio e bens particulares – Pequeno prejuízo ao erário que não afasta ofensa ao
princípio da moralidade administrativa.
(...)
3. A implementação judicial da Lei da Improbidade Administrativa segue uma
espécie de silogismo – concretizado em dois momentos, distintos e consecutivos,
da sentença ou acórdão – que deságua no dispositivo final de condenação: o juízo
de improbidade da conduta (premissa maior) e o juízo de dosimetria da sanção
(premissa menor).
4. Para que o defeito de uma conduta seja considerado mera irregularidade
administrativa, exige-se valoração nos planos quantitativo e qualitativo, com
especial atenção para os bens jurídicos tutelados pela Constituição Federal, pela
Lei da Improbidade Administrativa, pela Lei das Licitações, pela Lei da
Responsabilidade Fiscal e por outras normas aplicáveis à espécie.
(...)
7. O juiz, na medida da reprimenda (= juízo de dosimetria da sanção), deve levar
em conta a gravidade, ou não, da conduta do agente, sob o manto da
razoabilidade e da proporcionalidade, QUE TÊM NECESSÁRIA E AMPLA
INCIDÊNCIA NO CAMPO DA LEI DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
Nunca é demais alertar que iniqüidade é tanto punir como improbidade, quando
desnecessário (por atipicidade, por exemplo) ou além do necessário (= iniqüidade
individual” (STJ-2ª Turma, REsp 892.818/RS, rel. Min. Herman Benjamin, DJe
10.02.2010, RT 895/209).

Ora, no caso em testilha, ainda que se


admita que o Agente Policial Fabrício José dos Santos incidiu em ato de
improbidade administrativa, a sanção não pode chegar ao extremo de
acarretar a perda da função pública.

Não se questiona no v. acórdão rescindendo


a aplicação da multa civil no valor de cinco (5) vezes do seu vencimento,
que será pago pelo demandante, a título de sanção e para que ele não fique
impune, à semelhança do que julgou o STJ no julgado acima transcrito.

Deveras, o que o STJ fez com o Chefe de


Gabinete do Município de Vacaria/RS, diante do valor ínfimo de dano ao
erário apurado (R$ 8,47), foi lhe aplicar uma multa civil da ordem de R$
1.500,00 (hum mil e quinhentos reais).
353

Mas, não obstante o servidor público tenha


se valido de veículos e funcionários do Município para patrocinar seus
interesses pessoais e particulares – fato esse, sem dúvida, grave – nem por
isso o STJ o condenou à perda da função pública!!!

Nessa mesma toada, o Ministro LUIZ FUX –


à época Ministro do STJ – também chamou a atenção para o fato de que as
sanções e restrições impostas ao agente público devem ser realizadas cum
grano salis, sem exagero ou condenação excessiva, consoante se pode
aferir do julgado abaixo reproduzido, verbis:

“PROCESSUAL CIVIL – Administrativo – Ação civil pública –


Improbidade administrativa – Lei n. 8.429/1992 – Lesão a
princípios administrativos – Ausência de dano ao Erário –
Aplicação das penalidades – Princípio da proporcionalidade
– Violação ao artigo 535, incisos I e II, do Código de Processo
Civil – Não configurada.

1. O caráter sancionador da Lei 8.429/1992 é aplicável aos


agentes públicos que, por ação ou omissão, violem os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade, lealdade às instituições e
notadamente: (a) importem em enriquecimento ilícito (art. 9º);
(b) causem prejuízo ao erário (art. 10); (c) atentem contra os
princípios da Administração Pública (art. 11) compreendida
nesse tópico a lesão à moralidade administrativa.

2. A exegese das regras insertas no art. 11 da Lei 8.429/1992,


considerada a gravidade das sanções e restrições impostas ao
agente público, deve ser realizada cum granu salis, máxime porque
uma interpretação ampliativa poderá acoimar de ímprobas condutas
meramente irregulares, suscetíveis de correção administrativa, posto
ausente má-fé do administrador público, preservada a moralidade
administrativa e, a fortiori, ir além do que o legislador pretendeu”
(STJ:1ª Turma, REsp 831.178/MG, rel. Min. Luiz Fux, DJe 14.05.2008).

Ora, no caso sub judice, aplicando-se e


levando em consideração os princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, bem como a redação do parágrafo único do art. 12 da
Lei de Improbidade Administrativa, consoante a qual “Na fixação das penas
previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano, assim
354

como o proveito patrimonial obtido pelo servidor”, parece-nos de bom


tamanho que sejam mantidas as seguintes penalidades e sanções expressas
no dispositivo do v. acórdão rescindendo, a saber: (i) suspensão dos
direitos políticos pelo prazo de 3 (três) anos; (ii) pagamento de multa civil
de 5 (cinco) vezes o valor da remuneração do servidor; e (iii) proibição de
contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.

A manutenção dessas sanções e


penalidades está dentro dos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, na medida em que não deixa o Autor da rescisória
impune. Não se advoga aqui, é mister deixar isso muito claro, a tese da
impunidade. Longe disso!!!

Mas também não se justifica na dosimetria


das sanções que se chegue ao cúmulo de decretar a perda da função
pública do servidor estadual que tem uma Ficha Funcional irrepreensível,
com avaliações que variam entre ÓTIMO, EXCELENTE e EXCEPCIONAL.

A propósito, como consignado retro, o


servidor público estadual FABRÍCIO JOSÉ DOS SANTOS chegou mesmo ao
ponto de receber ELOGIO por escrito do Diretor-Geral da Polícia Judiciária
Civil – Delegado JOSÉ LINDOMAR COSTA e da Diretora Metropolitana da
Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso – Delegada Vera Rotilde da
Silva Alves, que o reputou imprescindível e necessário no múnus da
atividade policial que desempenha, consoante se pode aquilatar do seguinte
excerto:

O PRESENTE ELOGIO
SIGNIFICA POUCO PARA QUEM
SIGNIFICA MUITO COMO PESSOA E
PROFISSIONAL QUE É PARA A
POLÍCIA JUDICIÁRIA CIVIL É UM
GRANDE PRIVILÉGIO TÊ-LO COMO
INTEGRANTE DE SEUS QUADROS.
Ora, se o Autor da rescisória coleciona
elogios rasgados na Polícia Judiciária Civil, esse aspecto deve ser
355

levado em conta, como bem anotou THEOTONIO NEGRÃO com respaldo em


precedentes do STJ, verbis:

“Cabe ao juiz, à luz das nuanças do caso concreto, a tarefa de dosar a sanção
(STJ-1ª Turma, REsp 505.068, Min. Luiz Fux, DJU 29.09.2003; STJ-2ª Turma,
REsp 534.575, rel. Min. Eliana Calmon, DJU 29.03.2004).

A aplicação das sanções previstas no art. 12 da Lei de Improbidade deve


nortear-se pelas noções de proporcionalidade e razoabilidade, quer para a
seleção das penas a serem impostas, quer para o dimensionamento das
sanções de intensidade variável (multa civil e suspensão dos direitos
políticos). A atuação de cada um dos réus deve ser particularmente
analisada. A intenção do A EXISTÊNCIA DE
agente e
PRETÉRITAS CONDUTAS ÍMPROBAS TAMBÉM
DEVEM SER LEVADAS EM CONTA NA DOSIMETRIA
DA PENA” (NEGRÃO, Theotonio et alli, CPC e legislação processual em
vigor, 44ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, nota 3 ao art. 12, p. 1585).

Ora, Excelência, a leitura do v. acórdão


rescindendo deixa claro que não se levou em consideração, em nenhum
passagem do aresto, a vida pregressa do Autor, a sua ficha funcional, a sua
avaliação no Estágio Probatório, os rasgados ELOGIOS que recebeu do
corpo diretivo da Polícia Judiciária Civil.

Tudo isso foi ignorado, desprezado,


aviltado, como se a sua personalidade e caráter pudesse ser medida por
um único ato.

O v. acórdão rescindendo também delira e


viola literalmente o alcance e o espírito dos artigos 11, incisos I e
III e, especialmente, do art. 12, inciso III e seu parágrafo único, da
LIA, ao ignorar por completo o histórico funcional do agente
público. Com efeito, para a aplicação em bloco das sanções do artigo 12,
a jurisprudência do STJ possui precedentes no sentido de que o Juízo ou
Tribunal deve levar em consideração, dentre outros aspectos, o histórico
funcional do agente público.

Foi o que decidiu a SEGUNDA TURMA do


STJ, em julgado de relatoria do Min. FRANCIULLI NETTO, verbis:

“RECURSO ESPECIAL – Alíneas “a” e “c” – Administrativo –


Ação de improbidade administrativa – Pagamento indevido de
356

horas extras a ocupantes de cargos em comissão – Acórdão


que afastou a aplicação da sanção de suspensão de direitos
políticos por três anos determinada pela sentença – Alegação
do Ministério Público Estadual de que não há possibilidade de
excluir a sanção – Aplicação do princípio da proporcionalidade
– Possibilidade de incidência não cumulativa das sanções do
art. 12, inciso III, da Lei n. 8.429/1992 – Divergência
jurisprudencial não configurada.
A aplicação das sanções da Lei n. 8.429/92 deve ocorrer à luz do
princípio da proporcionalidade, de modo a evitar sanções
desarrazoadas em relação ao ato ilícito praticado, sem,
contudo, privilegiar a impunidade. Para decidir pela cominação
isolada ou conjunta das penas previstas no artigo 12 e incisos, da
Lei de Improbidade Administrativa, deve o magistrado atentar para
as circunstâncias peculiares do caso concreto, avaliando a
gravidade da conduta, a medida da lesão ao erário, O HISTÓRICO
FUNCIONAL DO AGENTE PÚBLICO etc.” (STJ-2ª Turma, REsp
300.184/SP, rel. Min. Franciulli Netto, DJ 03/11/2003 – vide íntegra do v.
acórdão em anexo).

A propósito, como consignado retro, o


servidor público estadual FABRÍCIO JOSÉ DOS SANTOS chegou mesmo ao

É fácil notar que esse aresto cai como uma


luva ao caso em testilha: (i) primeiro, porque não se advoga aqui a tese
da impunidade, tanto que de quatro sanções fixadas pelo v. acórdão
rescindendo, só se ataca uma das sanções, que é a “perda da função

pública”; (ii) segundo, a ação rescisória busca “evitar sanção


desarrazoada em relação ao ato praticado”, pois não é crível que um
único ato perpetrado pelo Autor acarrete como consequência a perda da
função pública, cuja sanção é absolutamente desarrazoada em relação aos
serviços prestados pelo Agente Policial, como atesta seu histórico funcional;
(iii) por fim, é fácil perceber que o v. acórdão rescindendo despreza,
ignora, faz “vistas grossas” para o histórico funcional do Agente Policial
Fabrício José dos Santos, que é irrepreensível, um verdadeiro exemplo de
“funcionário modelo” na Polícia Judiciária Civil.

Ademais disso, além do histórico


funcional irrepreensível, é de se destacar que o ato de improbidade
administrativa praticado pelo servidor (i) não causou lesão ao erário; e
357

(ii) nem houve apropriação de valor, pois a módica importância de R$


500,00 (quinhentos reais) não foi paga.

Não por outra razão o eg. SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA já decidiu no sentido de que “a simples
configuração do ato de improbidade administrativa não implica condenação
automática da perda da função pública”, consoante se vê do seguinte
aresto de relatoria da Min. ELIANA CALMON, verbis:

“ADMINISTRATIVO – Ação civil pública – Improbidade


administrativa – Art. 12 da Lei n. 8.429/1992 – Perda da função pública
– Abrangência da sanção – Parâmetros: extensão dos danos causados e
proveito obtido.
(...)
4. A simples configuração do ato de improbidade administrativa não
implica condenação automática da perda da função pública, pois a fixação
das penas previstas no art. 12 da Lei 8.429/1992 deve considerar a extensão
do dano e o proveito obtido pelo agente, conforme os parâmetros
disciplinados no parágrafo único desse dispositivo legal. Precedente do STJ.
5. É indispensável que se faça uma valoração da extensão dos danos
causados, bem como do proveito obtido pelo agente, ao aplicar a sanção de
perda da função pública. Análise obstaculizada, em recurso especial, em
razão da Súmula 7/STJ” (STJ-2ª Turma, REsp 924.439/RJ, rel. Min. Eliana
Calmon, DJe 19/08/2009).

Destarte, o fato de o Agente Policial Fabrício


José dos Santos ter praticado ato de improbidade administrativa NÃO
IMPLICA E NEM PODE IMPLICAR EM SUA CONDENAÇÃO
AUTOMÁTICA DE PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA!!!, como bem ponderou
a Segunda Turma do STJ.

Para o decreto da perda da função


pública, o v. acórdão rescindendo teria que levar em consideração: (i) a
extensão do dano; (ii) o prejuízo ao Erário; (iii) o histórico funcional do
agente público.

No tocante ao primeiro item, ainda que se


possa afirmar que o ato ímprobo é lesivo à sociedade e à instituição da
Polícia Judiciária Civil, é certo que o comportamento do Agente Policial –
analisado num contexto global de 15 anos de serviços prestados –
permite concluir que esse senão foi reparado, na medida em que o seu
histórico funcional coleciona ELOGIOS da Instituição ao qual pertence.
358

No concernente ao segundo item, o prejuízo


ao erário foi inexistente, pois não houve pagamento de “propina”, nem
apropriação de dinheiro público.

Por fim, no que tange ao último item, o v.


acórdão rescindendo ignorou por completo as provas documentais que
foram juntadas nos autos da Ação de Improbidade, pois sequer faz menção
a ela.

Por tudo isso, é lícito concluir que a


exclusão apenas da perda da função pública é aquela que é mais
compatível com a presente demanda, na medida em que ela não prestigia a
impunidade – pois as outras sanções serão mantidas, especialmente a
condenação no pagamento de multa civil – mas também não chega ao
exagero dessarrazoado e desproporcional de decretar a perda da função
pública de um Agente Policial que, tirando o único ato ilícito praticado em
sua vida funcional, tem uma carreira irrepreensível na Polícia Judiciária
Civil, ajudando-as nas operações e no desbaratamento de quadrilhas de
furtos e roubos.

V – DA APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Por derradeiro, para reforçar a tese de que
o ato de improbidade administrativa praticado pelo Autor não pode
acarretar a perda da função pública, pedimos vênia para estabelecer uma
correlação entre o princípio da insignificância ou da bagatela, haurido no
Direito Penal, e os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, de
modo a reforçar o entendimento de que a sanção da perda do cargo é
desarrazoada e excessiva.

Ab initio, é importante destacar que a


jurisprudência tem prestigiado o princípio da insignificância ou da bagatela
na seara das ações de improbidade, como critério para dosimetria e/ou
valoração das sanções, de modo a prestigiar os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, como expressamente recomenda o
parágrafo único do art. 12 da LIA.

É o que se infere da seguinte passagem do


trecho do Relatório do julgamento do REsp 892.818/RS, acima citado, de
relatoria do Min. HERMAN BENJAMIN, verbis:

“O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul não apelou da sentença.


359

O réu, por sua vez, recorreu para pleitear que a multa civil fosse relevada em
respeito aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
O Tribunal de Justiça, considerando que o dano ao Erário foi apurado em R$
8,47 (oito reais e quarenta e sete centavos), de pronto ressarcido pelo réu, bem
como seu pedido de exoneração da Chefia de Gabinete, concluiu que a conduta,
embora típica, não atingia de modo relevante o bem jurídico protegido. Assim,
aplicou à hipótese, por analogia do direito penal, o princípio da insignificância
para reformar a sentença e julgar improcedente a ação civil pública. Cito trecho
pertinente do acórdão recorrido:
“Custo acreditar que a prosaica importância de R$ 8,47, risível
mesmo, tenha ensejado toda a movimentação do aparato judiciário, desde o
inquérito civil até a propositura da ação civil pública, tanto mais quando
culmina em desproporcional sanção. Quando muito poderia ensejar multa do
mesmo porte, também por isso irrelevante. Certo é que a ação civil pública não
pode ser apequenada, diminuída, amesquinhada. Na verdade mais se gastou com
o processo do que com o ‘dano’ ao Erário.
Vem à pêlo, por isso, o princípio da insignificância cunhado pelos
penalistas, que têm como atípicas ações ou omissões que de modo ínfimo afetem o
bem jurídico tutelado. (...) Por isso condutas que do ponto de vista formal se
amoldam ao tipo não devem ensejar punição, quando de nenhuma relevância
material” (f.)
Do até aqui exposto se pode concluir que o fato imputado ao réu é incontroverso.
Entretanto, a ação civil pública foi extinta, sem aplicação de penalidade, ante o
princípio da insignificância” (RT 895/211-212).

No caso em testilha, como a ação rescisória


não admite revolvimento de matéria fática e muito menos discutir “a Justiça
ou injustiça da decisão”, de modo que tomaremos como certo o pedido de
R$ 500,00 (quinhentos reais) feito pelo Autor da pretensão.

É exatamente em torno da sugestão feita de


pagamento da importância de R$ 500,00 (quinhentos reais) que incide o
princípio da insignificância no caso concreto. Afinal de contas, a importância
de R$ 500,00, força convir, é absolutamente insignificante, irrisória, de
modo a afastar a ideia de prejuízo material, mesmo porque nem pagamento
desse valor ínfimo houve.

Ora, Excelência, se é certo que a Ação Civil


Pública difere da Ação Penal para fins de incidência do princípio da bagatela,
é certo que a aplicação analógica do Direito Penal ajuda e auxilia Vossa
Excelência na aplicação dos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade no tocante à manutenção ou exclusão da sanção de
360

“perda da função pública”, pois na seara criminal casos gravíssimos de


apropriação de dinheiro público tem merecido a invocação do princípio da
bagatela, em razão da inexpressividade do valor, em que o pese o delito
tenha natureza e repercussão social graves.

O Supremo Tribunal Federal, por exemplo,


aplicou o princípio da insignificância em um caso em que o Prefeito
municipal utilizou máquinas e caminhões de propriedade da Prefeitura para
fazer terraplanagem no terreno de sua propriedade, fato esse seguramente
muito mais grave do que aconteceu no caso em apreço. Veja Vossa
Excelência a Ementa do julgado:

“CRIME DE RESPONSABILIDADE – Princípio da insignificância


– Aplicabilidade – Prefeito municipal que utiliza máquinas e
caminhões, de propriedade da prefeitura, para efetuar
terraplanagem no terreno de sua propriedade – Direito penal
que, para fins de reconhecimento da bagatela, deve ocupar-se
do fato e não das condições subjetivas do acusado –
Elementos probatórios, ademais, que evidenciam o não
ferimento ao princípio da moralidade, eis que a prática
imputada ao agente era gratuita e usual entre os munícipes.
Ementa Oficial: 1. Habeas Corpus. 2. Ex-prefeito condenado pela
prática do crime previsto no art. 1º, II, do Decreto-lei 201/1967, por
ter utilizado máquinas e caminhões de propriedade da Prefeitura
para efetuar terraplanagem no terreno de sua residência. 3.
Aplicação do princípio da insignificância. Possibilidade. 4. Ordem
concedida” (STF-2ª Turma, HC 104.286/SP, rel. Min. Gilmar
Mendes, DJe 20.05.2011, RT 909/425).

Em outro caso, em que houve concessão


irregular de diárias de deslocamento, o TRF da 5ª Região também fez
incidir o princípio da bagatela, verbis:

“PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – Aplicabilidade – Concessão


irregular de diárias de deslocamento – Circunstância em que o
ínfimo valor do prejuízo acarretado ao Erário pela conduta
atribuída ao agente justifica a exclusão da tipicidade.
Ementa Oficial: O ínfimo valor do prejuízo acarretado ao Erário pela
conduta atribuída ao paciente – concessão irregular de diárias de
deslocamento – justifica a aplicação do princípio da insignificância,
excluindo-se a tipicidade daquela” (TRF-5ª Reg.-4ª Turma, HC
2003.05.00.020910-0/PE, rel. Des. Federal Luiz Alberto Gurgel de
Faria, DJU 02.09.2003, RT 821/725).
361

Por derradeiro, em outro caso grave em que


houve retirada indevida do seguro-desemprego da importância de
R$ 629,84 (seiscentos e vinte e nove reais e oitenta e quatro
centavos) – conduta esta que afeta a sociedade, já que o estelionato foi
perpetrado em detrimento do FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador, o
TRF da 4ª Região aplicou o princípio da bagatela, conforme se vê do
enunciado da Ementa abaixo transcrita:

“PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – Aplicabilidade – Estelionato –


Retirada indevida do seguro-desemprego – Valor auferido
irrisório e constatação de que não houve organização orquestrada
para lesar os cofres públicos – Ofensa ao bem jurídico que não se
revelou suficiente para justificar uma condenação.
Ementa Oficial: Em que pese a cautela a ser tomada no reconhecimento
do princípio da insignificância no estelionato praticado em detrimento
do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), mediante a retirada
indevida do seguro-desemprego, certas situações ensejam sua
incidência, sob pena de configurar-se excesso de penalização, em nítida
infringência ao caráter retributivo do direito criminal. O irrisório valor
auferido indevidamente (R$ 647,84) e a constatação de que não houve
o envolvimento de organização previamente orquestrada para lesar os
cofres públicos impõe a declaração da atipicidade dos fatos praticados,
porque a ofensa ao bem jurídico tutelado pela norma penal não se
revelou suficiente para justificar uma condenação” (TRF da 4ª Reg.-8ª
Turma, Ap 2000.71.10.000149-3/RS, rel. Des. Federal Luiz Fernando
Wowk Penteado, DJU 12.11.2003, RT 823/721).

Perceba Vossa Excelência que o valor de R$


647,84 (seiscentos e quarenta e sete reais e oitenta e quatro
centavos) – que é um pouco maior do que a sugerida pelo Agente Policial
frente ao meliante acusado de furto de toca-fitas de CDs (R$ 500,00) – foi
reputada de valor irrisório.

Assim, por força da analogia do Direito


Penal e, aplicando-se o princípio da insignificância ao caso em testilha, é
lícito concluir que a infração praticada pelo Autor da rescisória não pode
acarretar a absurda e desproporcional sanção de perda da função
pública, seja em razão do valor irrisório sugerido (R$ 500,00), seja em
razão de inexistência de lesão ao erário, seja em razão do histórico do
Autor.
362

Do exposto, demonstrado quantum satis a


violação a literal disposição de lei, a saber: os artigos 11, incisos I e III
e, especialmente, o art. 12, inciso III e seu parágrafo único, da Lei de
Improbidade Administrativa, é de rigor, salvo melhor juízo, a procedência
da rescisória.

VI – DOS PEDIDOS
Em harmonia com o exposto, requer o Autor
se digne Vossa Excelência de:

a) Com espeque na redação dos artigos 485, inciso V, c/c 488,


inciso I, ambos do CPC, se digne de receber, admitir e
determinar o regular processamento da vertente ação
rescisória, por afronta a literal violação aos artigos 11,
incisos I e III, c/c 12, inciso III e seu parágrafo
único, da Lei de Improbidade Administrativa, de modo
a rescindir parte do dispositivo do v. acórdão rescindendo,
consistente na exclusão da sanção de “perda da função
pública”, mantendo-se as demais sanções e penalidades,
uma vez que a perda do cargo é uma sanção absolutamente
desproporcional e desarrazoada em razão do ato de
improbidade praticado pelo Autor, já que é possível a
condenação não cumulativa das sanções, ou seja, não é
imperioso que a condenação seja “em bloco”, tal como
ocorreu no julgamento do v. acórdão rescindendo, de modo
a atender os reclamos dos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade e, por analogia ao Direito Penal, ao
princípio da insignificância, em face da irrisória importância
sugerida pelo Autor.

b) Tendo em vista que o v. acórdão rescindendo decretou a


perda da função pública, de modo que o risco de o Autor
perder o seu emprego adquirido a duras penas por meio de
concurso público é iminente e irreparável, seja concedida
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA por Vossa Excelência, com
esteio na redação do art. 489 do CPC para o fim de sustar
os efeitos do v. acórdão rescindendo na parte em que
decretou essa sanção, pois restou sobejamente
363

demonstrado a plausibilidade jurídica do bom direito (fumus


boni juris), bem como o periculum in mora, já que é
iminente a perda da função pública pelo Autor, de forma a
evitar dano irreparável e/ou de difícil reparação, mesmo
porque o vencimento percebido pelo Autor tem natureza
alimentar, aliado ao aspecto de que o Agente Policial
Fabrício José dos Santos permanece no cargo há mais de 10
(dez) anos da prática do ato de improbidade sem trazer
qualquer risco e/ou prejuízo para o Estado de Mato Grosso
e, mui especialmente para a imagem da Polícia Judiciária
Civil, que não tem poupado ELOGIOS à sua atuação nesse
período, até que se julgue o mérito da presente ação
rescisória.

c) Em homenagem ao princípio do contraditório e da ampla


defesa, seja ordenada a citação do representante do
Ministério Público do Estado de Mato Grosso, especialmente
a 22ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio
Público, com sede no Edifício Sede das Promotorias de
Justiça Reunidas, setor do Ministério Público, Rua 08, s/nº,
Centro Político Administrativo, em Cuiabá/MT, bem como o
Estado de Mato Grosso, na pessoa do ilustre Procurador
Geral do Estado, na sede da Procuradoria, no bairro
Goiabeiras, em Cuiabá/MT.

d) Após o regular contraditório e, uma vez ultrapassado o juízo


rescindendo, com a decretação de rescisão da parte do v.
acórdão que culminou na sanção de “perda da função
pública” do Autor, com a manutenção das demais
penalidades, requer o Autor, com fundamento no art. 488,
inciso I, do Estatuto Processual, que uma vez decretada a
rescisão da parte que o condenou à perda da função
pública, seja proferido novo julgamento da causa, para

o fim de JULGAR PROCEDENTE A AÇÃO RESCISÓRIA


para afastar da condenação suportada pelo Autor a parte
que decretou a perda da função pública, de modo a mantê-
lo no exercício de suas funções, pois, à exceção do ato
isolado praticado pelo Autor há mais de 10 (dez) anos, ele
jamais sofreu um “arranhão” em sua conduta junto à Polícia
Judiciária Civil do Estado, seja com aprovação com notas
espetaculares na sua avaliação no Estágio Probatório – com
364

notas que variam entre ótimo, excelente e excepcional –


seja em razão de sua dedicação à função, com valioso
auxílio em forças tarefas, seja desbaratando quadrilhas que
perpetram furtos e roubos em nossa Capital, pois o tempo
acabou dando provas inconcussas de que o Autor é um
Agente Policial exemplar e dedicado e, não é crível que um
único ato ilícito perpetrado pelo Autor na sua brilhante e
exemplar atuação de Investigador Policial, lhe custe o seu
emprego, a sua profissão, o seu trabalho, pois a
manutenção do v. acórdão rescindendo fere de morte a
inteligência, o alcance e a extensão dos artigos 11, incisos I
e III, c/c 12, inciso III e seu parágrafo único, da Lei de
Improbidade Administrativa, bem como os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade e, por analogia do
Direito Penal, o princípio da insignificância, pois só assim é
que estará Vossa Excelência, na penetrante sabedoria que o
caracteriza, praticando ato da mais lídima e sempre
soberana
J U S T I Ç A!!!

Dá-se à presente ação rescisória o valor de R$ 1.000,00


(hum mil reais), com a ressalva de que sobre esse valor o
Autor estará recolhendo a importância de cinco por cento
(5%) sobre o valor da causa, a título de multa para os
fins do disposto no art. 488, inciso II, do Código de
Processo Civil.

Nestes termos, pede deferimento.


Cuiabá/MT,

LUIZ ORIONE NETO

VALDRIANGELO FONSECA - Advogados


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