Vous êtes sur la page 1sur 66

7

INTRODUÇÃO

Apresento este trabalho com base comparativa do filme Matrix a partir dos
estudos de Carl Gustav Jung1, sendo necessário ter um pouco de conhecimento
prévio do filme para melhor compreensão e análise quanto a idéia central da
pesquisa que é sobre o mundo real ou irreal que vivemos.
A sinopse do filme anexado a esta monografia, (p. 78).
Quando sonhamos estamos vivenciando uma realidade que envolve todos os
nossos sentidos: tato, paladar, olfato, visão e audição.
Os sonhos de Jung eram as respostas às suas reflexões. Remontava às
bases da história das civilizações que é a história dos estados sucessivos da
consciência.
Jung ao analisar os seus sonhos e de seus pacientes, começou a se
interessar pela Arqueologia, Mitologia, Religião e Gnosticismo.
Vivemos no mundo real carregados de várias personas, complexos
conscientes e inconscientes, experimentamos e vivenciamos coisas que não são
nossas, herdadas de nossos pais, nos adaptamos a essas crenças dando valores a
elas como se fossem nossos. Vivemos uma realidade que nós acreditamos ser,
afinal sempre foi assim.
Quando nascemos somos acolhidos por pessoas que cuidam de nós e nos
apresentam um mundo dito como a única realidade palpável e verdadeira.
Passamos acreditar em muitas crenças e damos valores a elas que em sua maioria
não nos pertence. Somos inseridos ao mundo real, consciente e limitado.
Quando dormimos entramos em outro mundo que se apresenta a nós como
real e inconsciente. Nesse momento nos libertamos das nossas limitações externas,
permitimos a manifestação dos nossos desejos reprimidos, os medos são muitas
vezes forçosamente enfrentados.
Como no filme Matrix, estamos enfrentando internamente e externamente
duras realidades possíveis e imaginárias em nossa consciência.

1
Carl Gustav Jung, Psiquiatra - Médico Psiquiatra - Fundador da Psicologia Analítica. (1875 – 1961)
8

Sem que percebamos vivenciamos diversas realidades, ou seja, vivemos em


uma Matrix.
Há perguntas que não temos respostas claras e definidas e por esse motivo
escolhi o filme Matrix como base comparativa nos estudos de Carl Gustav Jung,
para compreender o que vem a ser a realidade ou irrealidade que vivenciamos de
forma consciente ou não.
Os sonhos nos trazem mensagens para aprendermos a lidar com a realidade
ou com a irrealidade que enfrentamos diariamente.
Quando sonhamos vivemos uma realidade, uma Matrix, onde tudo é possível,
nossos sentidos são aguçados profundamente, percebemos e sentimos. Há o
envolvimento da energia psíquica, os arquétipos, transferências de personalidades e
reações conscientes e inconscientes.
Somos prisioneiros do mundo real no mundo da matéria e em nos nossos
sonhos permitimos a liberdade total de nossa inconsciência para o irreal existente
em nossa consciência. Talvez estejamos vivendo o irreal, aquilo que chamamos de
uma realidade tangível e ao adormecermos entramos no mundo real através dos
nossos sonhos, um filme de nós mesmos, representados por vários papeis,
máscaras, mitologias, contos de fadas, transferências, contato direto com a sombra,
Ego e o contato direto com o Self.
No desenvolvimento deste trabalho será enfocado os sonhos como
mecanismos de levantar possibilidades relevantes à pesquisa sobre o que é real ou
irreal.
Será dividido por capítulos, subtítulos e anexos, destinados a apresentar
metodologia de pesquisa com parâmetros, critérios, análise e comparações positivas
e negativas.
No primeiro capítulo será apresentado o objetivo do estudo, conceitos e
descrição sobre o que é real, irreal e verdade.
No segundo capítulo destaca-se o contexto da analogia do filme Matrix com
base comparativa nas obras e estudos científicos de Jung.
No terceiro capitulo enfoca a importância dos mitos, ritos, religiões e
arquétipos que dão sentido ao desenvolvimento da personalidade humana.
No quarto capítulo fala-se sobre o significado dos sonhos e como eles podem
contribuir para o processo de individuação.
9

No quinto capítulo retrata a questão dos significados dos sonhos em sua


essência psicológica.
No sexto capítulo destaca as funções psicológicas e suas representações.
No sétimo capítulo aborda a questão dos sonhos e conexões acausais, a
sincronicidade, com a finalidade de definir acontecimentos paranormais.
No oitavo capítulo estuda a questão do real, sonho real ou supra-real,
baseados nos estudos de Jung.
No último capítulo relata-se o resultado da pesquisa e suas características na
totalidade dos estudos de Jung.
Para essa perspectiva, compreender os processos de autoconhecimento do
individuo é fundamental se basear na teoria arquetípica de Jung, quando o conceito
arquétipo ganha profundidade: do pessoal para o universal, da consciência para o
inconsciente, do particular para o coletivo, enfim, dos tipos para os arquétipos.
A importância dos sonhos é tão importante quanto à contribuição mais radical
de Jung para a história do pensamento psicológico sobre o conceito de arquétipo e o
inconsciente coletivo. O conceito parece fundamental não só porque reflete a
profundidade do trabalho de Jung, mas também porque leva a reflexão psicológica
para além da preocupação clínica e dos modelos científicos.
Acredito que o trabalho contribuirá para a descoberta e o sentido das
projeções humanas quanto às funções psicológicas: pensamento, sentimento,
sensação e intuição. Embora tenhamos as quatro funções, elas não são
desenvolvidas em sua totalidade. Geralmente uma delas é predominante na nossa
consciência e as demais agem de forma inferior por ficarem reprimidas
profundamente em nossa inconsciência.
O ideal é que todas as funções se interagissem, harmonizassem e fossem
conscientes, assim o Self seria plenamente realizado e desenvolveria a sua missão
juntamente com o Ego.
Esta monografia propiciará uma discussão e espero contribuir para uma
reflexão profunda sobre os temas nos diversos capítulos, objetivando assimilação
das informações com raciocínio crítico para as suas aplicações com sabedoria e
criatividade, relacionada a outros conhecimentos, possibilitando ao leitor, orientação
quanto à forma que vivemos e que mundo estamos criando em nossas mentes para
nos conduzir a um determinado objetivo individual ou coletivo.
10

O meu convite é de aceitar este trabalho como um desafio em conjunto,


buscar respostas para construir possibilidades de aprendizagem de forma ativa,
superando lacunas, pois o bom pesquisador é aquele que levanta os
questionamentos, procura informações para formular e organizar os seus
pensamentos e chega a conclusões próprias sobre os seus questionamentos e os
problemas formulados. Este trabalho pretende ser um incentivo nesse caminho do
autoconhecimento, buscar a verdadeira identidade do indivíduo e permitir viver a
transformação interior e no ambiente em que vive, olhar para trás e verificar que o
passado é uma ferramenta importante para respostas para os atuais problemas e
entendermos que os fenômenos através dos nossos sonhos sempre nos ajudarão a
investigar de forma metódica e organizada, a realidade da essência de nós mesmos
e as leis que regem a casualidade como propriedades das coisas e dos processos
naturais em benefício do aprendizado humano.

Tema

O mundo real e irreal, com base comparativa no filme Matrix e os estudos de


Carl Gustav Jung.

Delimitação do Tema

Analogia do filme Matrix.

Problema

Atualmente percebe-se que as pessoas têm apresentado problemas de


saúde, neuroses, transtornos psicológicos e desvios de condutas morais,
decorrentes da falta de equilíbrio psíquico e emocional. Observa-se que em sua
grande maioria vive um mundo real que não é real, verdades que não são verdades.
Diante dos conflitos que a civilização enfrenta há séculos, pergunta-se: Onde
vivenciamos a realidade, no mundo da matéria ou o mundo dos sonhos? Vivemos
em uma Matrix? Como sabermos o que é real ou irreal em nossas experiências?
11

Objetivo Geral

Pesquisar até que ponto os sonhos podem ser mecanismos importantes para
o processo de individuação, destruindo e reconstruindo realidades internas e
externas do indivíduo.

Objetivos Específicos

- Relatar o envolvimento da energia psíquica, arquétipos, transferências de


personalidades, através das reações dos sonhos;
- Identificar qual o mundo real e irreal que vivemos;
- Descrever o processo de individuação através dos sonhos, a capacidade do
indivíduo entender os seus próprios sentimentos, buscando o autoconhecimento
como ferramenta para atingir a totalidade existencial.

Justificativa

Estamos em busca do equilíbrio, paz, saúde e bem-estar. A humanidade


convive diariamente com diversos tipos de conflitos no mundo: guerras, poluição,
terremotos, etc. Esses conflitos geram outros conflitos internos. Surgem as doenças,
problemas psicológicos e mortes.

Desde que a humanidade existe, sempre teve dificuldade em compreender


que os processos de autoconhecimento são dolorosos, mas necessários para
ampliar a sua consciência.

Buscam a si próprios de forma tão distante e inequívoca. Sofrem. A sua


maioria não consegue encontrar a si mesmo e tão pouco manifestar a sua essência
divina.

Hipótese

A hipótese deste trabalho é descobrir a relação entre o mundo real e irreal


que vivemos, seja de forma consciente ou inconsciente. Apresentar mensagens e
12

revelações através dos sonhos, representados por símbolos, mitos e arquétipos que
levam o sujeito ao processo de individuação.

Metodologia

- Quanto à ciência:
Pesquisa Teórica

- Quanto à natureza:
Resumo de assunto.

- Quanto aos objetivos:


Pesquisa exploratória.
Pesquisa descritiva.

- Quanto aos procedimentos:


Pesquisa documental.

- Quanto ao objeto:
Pesquisa bibliográfica e documental.

- Quanto à forma de abordagem:


Pesquisa qualitativa (descritiva).

- Quanto ao método: Indutivo. Instrumento para coletas de dados e


referências bibliográficas.

A construção do conhecimento original, de acordo com certas exigências


cientificas, define o estudo deste trabalho como instrumento e montagem de uma
teoria, voltada à questão empírica, dedicada à coleta de dados de outros autores
como complemento para medir o comportamento humano e suas diferenças quanto
ao tipo de sonhos e a forma de encarar o mundo real e irreal em que vivemos.
13

As técnicas mais utilizadas foram às observações, análises dos sonhos,


questionamentos, abordagens complexas, estudo de caso (analogia do filme Matrix),
coleta de dados empíricos.
O caráter da pesquisa esclarece o que se pretende alcançar, com a
característica de pesquisa exploratória e explicativa, com o objetivo de esclarecer,
desenvolver, modificar conceitos e idéias.
Como aprendiz, desenvolvi esta monografia para buscar subsídios sobre o
tema a ser investigado, aprofundando e pesquisando outras bibliografias que
contribuíram na construção e elaboração do trabalho. Seria complicado medir o
comportamento humano da mesma maneira que se mede o comportamento da
matéria. Isso porque os fenômenos sociais envolvem pessoas. E as pessoas estão
em constante mudança, pois são dotadas de consciência e de subjetividade.
Assim, nem sempre é possível submeter o comportamento humano a
situações de experiência e controle, mas baseado em algumas obras,
principalmente de Carl Gustav Jung, grande pesquisador das técnicas que
promovem o desenvolvimento humano, foi possível enxergar e analisar a escolha do
tema e os pressupostos filosóficos da obra de Willian Irwin, o livro Matrix: bem-vindo
ao deserto do real.
O objetivo da metodologia foi estudar, examinar as possibilidades explicativas
dos diferentes métodos, situando algumas de suas particularidades, as diferenças,
divergências, bem como os aspectos comuns e exemplos dos sonhos de Carl
Gustav Jung e do Personagem do filme Matrix, Neo.
Para facilitar a execução desta monografia, busquei a percepção e atitudes
dos Personagens com relação aos processos dos sonhos e a recuperação e
preservação de algumas informações valiosas para construção de uma conclusão
cientifica quanto ao fenômeno.
14

CAPITULO I

REAL, IRREAL OU VERDADE

O filme é uma análise psicológica e filosófica quanto às categorias do real e do


irreal que logicamente está ligado à verdade do que experimentamos ou
vivenciamos. Uma das realidades que vivenciamos é a nossa mente consciente e
inconsciente. Conceitualmente, mente é inteligência, espírito, pensamento,
concepção, imaginação, intuito e tensão. (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 2002).
A mente consciente e inconsciente também está relacionada aos nossos
sentidos fisiológicos: audição, visão, paladar, olfato e tato. Portanto, pode-se definir a
mente como uma energia psíquica fundamentada ao nosso corpo, pensamento,
espírito com o intuito de nos trazer a percepção da realidade e irrealidade que
vivemos.

1.1 O Real

É algo que existe de fato, verdadeiro, aquilo que é tangível, real, deflacionado.
(Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 2002).
Conhecemos as fontes, ou causas, de muitas coisas no mundo real.
Sabemos que máquinas e sinais elétricos são produzidos por humanos e por
máquinas artificialmente inteligentes. Sabemos que os seres humanos
nascidos na cidade de Zion tiveram pais que os geraram. Mas não
conhecemos a fonte primária de todas essas coisas. Isto é, ninguém nos diz
de onde vem a questão, de que são feitas as máquinas e como os humanos
se reproduzem. Tão pouco nos dizem de onde vem a mente, embora
saibamos que Neo é a reencarnação do primeiro homem que podia torcer as
regras da Matrix e que libertou os primeiros prisioneiros. O que sabemos, de
fato, é que a Matrix não é a causa das coisas no mundo real. Quaisquer que
sejam as causas das coisas que podemos categorizar em “real”, elas não
têm a ver com as causas responsáveis por criar o mundo irreal da Matrix.
(Willinam Irwin – Matrix Bem-Vindo ao Deserto do Real, pág. 94).

A citação do autor, narra um fato real que ocorre na história do filme Matrix, os
seres humanos acreditam que a realidade é algo que eles podem sentir através dos
sentidos, mas não questionam as suas origens verdadeiras, ou seja, as causas de
15

tudo que ocorre pode ser gerado por uma realidade que para eles é irreal por
pertencer a Matrix, um programa de computador.
Entende-se desta forma que o real é aquilo que podemos sentir e irreal é algo
que não conseguimos ter contato pelos nossos sentidos.
Mas quando sonhamos, os nossos sentidos são automaticamente ativados de
forma natural e espontânea. Conseguimos visualizar ou sentir sensações reais, como
se estivéssemos acordados. Quando despertamos, observamos que a experiência
vivenciada foi uma ilusão.
Quando os sonhos se tornam pesadelos, a reação é ainda mais real, para
todos os efeitos orgânicos a experiência que foi vivenciada era real.
O que é irreal para a nossa mente?
A nossa mente é uma Matrix e estamos lidando com o real e irreal o tempo
todo.
Assim, ocorre no filme Matrix, todos os seres humanos pertencem ao mundo
real, porém dentro da Matrix pertencem ao mundo irreal, mas esquecem que se um
dos integrantes morrerem no mundo irreal que eles dizem ser a “mente”, o corpo que
é dito como “real” também morre. Portanto, a mente seria a Matrix e o corpo a Matriz.
Se para Jung o Ego é responsável por nossos sentimentos de identidade e
continuidade, do ponto de vista da própria pessoa, passa a ser o centro da
personalidade. O ego não foi produzido pela natureza para seguir ilimitadamente os
seus próprios impulsos arbitrários, mas sim para ajudar a realizar, verdadeiramente,
a totalidade da Psique.
Jung (Memórias, Sonhos, Reflexões, pág. 18), em sua vivência confrontou
com os processos do inconsciente, descobriu progressivamente que eles convergem
para um certo ponto, o meio. Portanto, o Self, fundamento da psicologia analítica,
não é uma idéia nascida duma reflexão, mas apresentou-se primeiro a Jung como
uma realidade vivida, aliás, inesperada, que o sustentou e o ajudou a colocar em
ordem os elementos surgidos durante suas provações. Dispondo-se a ser ao mesmo
tempo sujeito e objeto da experiência, ele chegou à vivência do Self.

Então, Ego é o corpo e o Self é o espírito?


16

Se mente e corpo não podem viver separados, logicamente corpo não pode
viver sem o espírito. Ambos os sistemas estão interligados um ao outro, ou seja,
precisamos da nossa mente, do nosso corpo e do nosso espírito.
Leon Bonaventure (Memórias, Sonhos, Reflexões, pág. 18), comenta que o
homem moderno, enquanto fica prisioneiro do seu ego, dificilmente chegará a
compreender o verdadeiro alcance da experiência vívida de Jung.
O homem moderno vive em conflito consigo próprio e com os outros. Somente
conseguirá estabelecer uma comunicação com o seu Self quando passar pelo
processo de individuação.
A maioria dos homens modernos não possui consciência o quanto é
importante ampliar a sua consciência, assumindo por toda uma vida apenas o Ego e
boicotando a si próprio para não confrontar a sombra que tanto o incomoda.
Seria o Ego a nossa realidade consciente? O espírito a nossa realidade
inconsciente?
No meu entendimento, acredito que seja possível as duas situações, o Ego é
nossa realidade consciente e inconsciente, como também, o espírito é nossa
realidade consciente e inconsciente.
No meu ponto de vista, o real é tudo aquilo que acredito e vivencio no meu
presente, agora o que estou sentindo, percebendo e ao mesmo tempo essas
percepções são encaminhadas para a minha memória, tudo fica registrado na minha
mente.
Toda experiência é armazenada, processada e desdobrada em nossa mente,
quando sonhamos estamos vivendo uma realidade que nossa mente está criando.
São mensagens de nossa mente inconsciente para o nosso consciente,
representados pelos arquétipos.
Baseado nos estudos e obras de Jung, a totalidade do individuo só é possível
com a união do Ego, Persona, Sombra, Arquétipos, Anima, Animus, Self, Consciente
e Inconsciente individual e coletivo.
Para atingirmos o estado real da totalidade, precisamos entender que a
totalidade se refere ao equilíbrio que todos buscamos no decorrer de nossa
existência humana.
No filme Matrix, o personagem Morpheus diz: “a mente não pode viver sem o
corpo e nem o corpo pode viver sem a mente”.
17

Em outras palavras ele quer dizer que não podemos viver só a realidade
(tangível), precisamos também viver a irrealidade (intangível), eles estão interligados
e fazem parte de nós. Da mesma forma, precisamos da nossa mente consciente e
inconsciente para vivermos a realidade dos fatos e acontecimentos.

1.2 O Irreal

É algo imaginário, não real, intangível. (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira,


2002).
Willian Irwin (2005, pág. 93), expõe sua visão real e irreal baseado na trilogia
do filme The Matrix, sendo a mente uma subcategoria, como as máquinas, o
corpo humano ou órgão humano, itens que não são uma coisa nem outra. O
principal exemplo de máquina mencionado é um computador, mas há
outros, tais como a nave de Morpheus, armas e assim por diante. O principal
exemplo da segunda categoria é o nosso corpo ou o seu, nosso cérebro ou
o seu. O exemplo de terceira categoria são como a terra, prédios e sinais
elétricos. O principal elétrico da terceira categoria do real é composto da
mente e do corpo de um ser humano. O corpo não vive sem a mente e a
mente não vive sem o corpo.

Conforme explica o autor, existem algumas subcategorias do mundo irreal ou


sonhos: simulação (neuro-interativa); Imagem (de si próprio); Entidade digital (uma
pessoa); Sonhos; Aparências; Projeção mental; Matrizes das quais a Matrix é um
exemplo, programas gerais de computadores quando considerados.
Parte da realidade é virtual. É importante observar o comentário do autor,
pois a sua percepção é baseada na experiência filosófica e psicológica, baseado na
analogia do filme Matrix.
Em seu livro (Psicologia do Inconsciente, pág. 5 e 6), Carl Gustav Jung,
aborda o sintoma histérico como uma doença psíquica, provocada por algum
trauma, resultando em sintomas patológicos, persistindo de forma inconsciente por
vários anos as impressões produzidas.
A intensidade de um trauma, em si, tem pouca determinação patogênica,
mas este deve ter para com o paciente um significado particular. Em outras
palavras não é o choque em si que provoca invariavelmente a doença, mas
esta ocorre quando ele encontra uma determinada disposição psíquica,
que poderia ser o fato de o paciente atribuir inconscientemente um
significado específico ao choque. (Carl Gustav Jung)

Nesta argumentação, Jung deixa claro que os traumas que eram uma
realidade consciente, passam para outra realidade inconsciente. Desse trauma são
18

gerados alguns complexos e palavras chave que de forma inconsciente levam ao


consciente sofrimento ou dor.
Quando o indivíduo sofre determinado tipo de trauma, sonha e vivencia de
forma real algumas revelações perturbadoras. São incômodos gerados por
símbolos, que começam abrir novos caminhos para o processo de cura. No sonho
vivenciamos uma Matrix, ou seja, todos os procedimentos são reais para o nosso
cérebro que, por sua vez, envia uma programação às células que tomam
providências de enviar substâncias químicas para o nosso corpo, gerando uma
outra realidade no nosso estado fisiológico, pois tudo que se passa na tela mental
para o cérebro é uma realidade, não existe o irreal para o nosso cérebro. Todo
pensamento, toda imaginação, toda afirmação seja ela positiva ou não é uma
realidade.
Certa vez, sonhei que estava fugindo desesperadamente de um avião que
estava caindo. Por mais que fugisse, parecia que ele me perseguia. Ao despertar,
acordei gritando, angustiada, chorando. As batidas do meu coração estavam
aceleradas, suava frio e minhas mãos estavam trêmulas.
O processo de medo provocou ansiedade em excesso. Entendi que para o
meu cérebro eu estava vivendo uma realidade que foi criada pela minha mente
inconsciente para a minha mente consciente.
O avião era um símbolo representativo, um arquétipo que gerou de forma
inconsciente uma realidade. Havia algum bloqueio ou trauma que estava
armazenado em minha memória. As palavras-chave desse sonho consideradas
foram: fugir, avião, cair, perseguição, medo, caminho, transformação e mudança.
Quando houve o enfrentamento consciente dos complexos e sombra,
consegui superar o medo de avião. Não tive mais sonhos com aviões.
Nesta época estava atravessando dificuldades no meu relacionamento
afetivo, queria fugir da relação, mas tinha medo de não dar conta de sustentar os
meus filhos, sabia que precisava mudar e aprender a ter amor próprio e elevar
minha auto-estima.
Quando enfrentei a crise os pesadelos com os aviões sumiram.
A vida do homem é uma tentativa aleatória. Ela só é um fenômeno
monstruoso. Por causa de seus números e de sua exuberância. É tão
fugitiva, tão imperfeita, que a existência de seres e seu desenvolvimento
parece um prodígio. Isto já me impressionava quando era inda um jovem
19

estudante de medicina e julgava um milagre o fato de não ser destruído


antes de minha hora.
A vida sempre se me afigurou uma planta que extrai sua vitalidade do
rizoma; a vida propriamente dita não é visível, pois jaz no rizoma. O que se
torna visível sobre a terra dura um só verão, depois fenece... Aparição
efêmera. Quando se pensa no futuro e no desaparecimento infinito da vida
e das culturas, não podemos nos furtar a uma impressão de total futilidade;
mas nunca perdi o sentimento da perenidade da vida sob a eterna
mudança. O que vemos é a floração, e ela desaparece. Mas o rizoma
persiste. (CARL GUSTAV JUNG, 2006, p. 32. Grifos do autor).

Conforme Jung, a nossa vida não pode ser medida, não é tangível, está
representada simbolicamente pela nossa existência corpórea, esquecendo-se da
sua verdadeira essência. Quando nascemos somos representados através do
nosso corpo (Ego), mas ao morrermos deixamos de ter o nosso corpo, deixamos de
existir no mundo real, mas continuamos com a nossa essência (espírito) em outro
mundo, visto pela humanidade como mundo irreal.

1.3 O que seria a consciência?

Atributo pelo qual o homem pode conhecer e julgar sua própria realidade.
Faculdade de estabelecer julgamentos morais dos atos realizados. Cuidado com
que se executa um trabalho se cumpre um dever, senso de responsabilidade.
Conhecimento, noção. Percepção imediata dos acontecimentos e da própria
atividade psíquica. (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 2002).
Conforme definição de Jung, as partes integrantes Ego e Persona, são
criações cruciais para o entendimento e desenvolvimento da natureza humana.
Graças à sua percepção e valiosas pesquisas, observou em seus pacientes
variadas situações que exprimiam através dos sonhos, desenhos, temas
mitológicos e longínquos, surgindo assim à existência de camadas da psique
inconsciente, pessoal e coletiva.
Como Jung era um médico psiquiatra e cientista, totalmente desapegado e
desconfiado de certas crenças e verdades, para ele materialismo e ciência não
eram sinônimos de realidade.
Jung detectou que o inconsciente é independente das leis do espaço, tempo
e causalidade, sempre deu lugar aos fenômenos paranormais como clarividência e
20

precognição. A estes fenômenos que aconteciam de forma interna ou externa, ele


deu o nome de sincronicidade. Fatos que aconteciam independente da vontade do
indivíduo.
O mundo moderno se tornou uma Matrix consciente, envolvida pelo sistema
do poder (governantes, leis, competitividade, dinheiro, fama, violência,
criminalidade, consumismo, etc.).
A humanidade é inserida nesse mundo e aumenta gradativamente a cada dia
os conflitos da civilização.

1.4 A Verdade

A verdade é a conformidade com o real. Coisa verdadeira. Princípio certo.


(Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 2002).
Jung acreditava que os sonhos apresentavam uma verdade através de um
diálogo interno para o externo, ou seja, do inconsciente para o consciente. Os
sonhos pessoais de seus pacientes o intrigavam na medida em que os temas de
certos sonhos individuais eram muito semelhantes aos grandes temas culturais ou
mitológicos, universais, ainda mais quando o seu paciente não tinha nenhum
conhecimento a respeito sobre mitos ou mitologias.
Enquanto o inconsciente pessoal consiste em um material reprimido e de
complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de arquétipos e
instintos.
Dessa forma, ele passou acreditar que o inconsciente também poderia ser
coletivo como uma faixa intrapsíquica e interpsíquica. Repletas de materiais
representativos com motivos fortes de uma carga afetiva comum a toda a
humanidade, como, por exemplo, a associação do feminino com características
maternas e ao mesmo tempo, o seu lado escuro, cruel ou forte de sensação intuitiva
para proteger seus filhos do perigo, uma existência comum que transcendia entre
os humanos.
Os sonhos são apenas uma forma de pensar, jamais se pode alcançar uma
compreensão dessa forma tomando como ponto de referência o conteúdo
dos pensamentos, somente uma apreciação do trabalho dos sonhos nos
levará a essa compreensão. (2006, C. G. Jung – Memórias, Sonhos,
Reflexões).
21

Os sonhos revelam grandes verdades ocultas em nossa mente inconsciente,


por meio de mensagens representativas para a nossa consciência.
Certa vez, estava em minha residência quando o telefone tocou, era um final
de semana. Atendi a ligação, era uma ex-paciente chorando, dizendo que os
pesadelos haviam voltado a tormenta-la, por três dias sonhava o mesmo conteúdo e
estava pensando em tomar remédio para não dormir. Conversei com aquela
senhora que não suportava enfrentar os seus complexos guardados a sete chaves
na sua mente inconsciente.
Os sonhos que estava tendo era referente a um curto período em que ela
está lavando o banheiro todo sujo de fezes e ela não consegue sair daquele lugar
sujo e nojento. Ela se desespera e começa a chorar.
De certa forma, estava se punindo por ter reprimido desejos sexuais por toda
a sua vida. Naquela semana havia retomado suas aulas de hidroginástica com seu
professor particular e quando o professor a tocava para ajudá-la em seus
exercícios, ela tinha arrepios e sua libido foi reativada.
Quando houve o enfrentamento consciente de todo material reprimido, essa
senhora conseguiu superar e não se puniu por ter tido desejos secretos em sua
mente com aquele professor. Deixou de ter os pesadelos que a tormentavam.
Nem sempre estamos prontos para lidarmos com a verdade dos fatos e
acontecimentos em nossa volta, mas em algum momento precisamos lidar com os
incômodos conscientes e inconscientes.
Nem sempre a verdade é real e nem o que é real é verdade. Deduzimos que
conceitualmente ambas são a mesma coisa, mas as circunstâncias exteriores não
podem substituir as de ordem interior. A nossa vida é baseada em fatos e
acontecimentos exteriores. Podemos compreender a verdade a partir do momento
em que nos baseamos nas ocorrências interiores.
Jung considerou a psique uma verdade sobre a personalidade vista como um
todo. Além de acreditar que o homem nasce um todo e sua vida se baseia em
desenvolver essa totalidade.
22

CAPÍTULO II

ANALOGIA DO FILME MATRIX COM O MUNDO REAL E IRREAL

2.1 As Crenças

No primeiro filme, Neo2, aprende a viver por sua aspiração, liberta-se de algo
que ele não conseguia ver ou saber, mas cuja opressão ele podia sentir em sua
alma. Neo buscou a sua libertação inconsciente e foi ajudado pelos seus amigos
Morpheus e Trinity que já viviam fora da Matrix3 na realidade. Neo acreditava viver
em um mundo real, quando descobre pelos seus amigos, que vivia em um casulo
de gosma, uma Matriz criada pelas máquinas de inteligência artificial, onde recebia
pelos tubos conectados em seu corpo, comandos para a sua inconsciência de
experiências de um supercomputador, criando uma realidade que ele acreditara
estar vivendo. Quando foi salvo pelos seus novos amigos, passa a vivenciar um
outro mundo dito ser real e com muitas limitações. Antes dele se adaptar à nova
realidade, oferecem a ele duas pílulas, ditas como sendo a azul a pílula do mundo
irreal que ele viverá por muitos anos e a pílula vermelha seria a da sua nova
realidade, o mundo real.
Neo opta em tomar a pílula vermelha, pois Morpheus havia lhe dito que não
se pode dizer a ninguém o que é a Matrix. Você terá que vê-la por si mesmo. Ele
não explica o porquê, mas pode ser que Morpheus acreditasse que Neo precisava
experimentar para vivenciar e tirar por si mesmo o que seria a sua realidade.
Diante desse fato, acredito que o conhecimento é uma crença verdadeira
justificada por nós e que tradicionalmente passamos acreditar, dita por outra pessoa
e justificada, assim crescemos acreditando em muitas coisas que não vivenciamos,
experimentamos e embora tenhamos dúvidas persistimos neste admirável mundo
dito real, pelo menos acreditamos ser o método correto para a evolução de nossas

2
Neo – Principal personagem do filme The Matrix, considerado o salvador da humanidade.
3
Matrix – Mundo virtual criado pelas máquinas, inteligências artificiais, programa de computador para proteger
a Matrix de invasores e de inimigos.
23

vidas, pois a maioria das pessoas segue os mesmos padrões impostos pela
sociedade.
O que seria realmente real ou irreal é algo que precisamos refletir
profundamente, pois depende da forma que interpretamos as nossas experiências
ou vivências. Neo viveu vinte e cinco anos para acreditar em um novo mundo que
lhe fora apresentado ser o verdadeiro mundo real, mas nunca teve certeza sobre o
que era real ou irreal.
Assim somos nós quando vivenciamos uma experiência seja ela dita como
real no mundo dos sentidos ou irreal no mundo dos sonhos. As pessoas não
mentem de modo geral, por isso, se alguém parece estar lhe dizendo a verdade,
você pode acreditar ou não, mas geralmente acredita.
Se alguém parece estar falando uma língua diferente da sua, provavelmente
você irá acreditar que está mesmo, pois você não entenderá o que ele está lhe
dizendo, caso não tenha conhecimento específico daquele tipo de linguagem.
Quando tocamos alguém ou objetos, acreditamos que estamos tocando e é
provável que estejamos mesmo, mas quando sonhamos também acreditamos e
temos a mesma certeza que estamos tocando em algo ou alguém.
Assim, acreditamos e não paramos para pensar, apenas acreditamos que
vivemos num mundo material dito ser real por ser mais razoável. O que justificaria
nossa crença de que o irreal seria o real? Somos de certa forma obrigados a
acreditar nessas crenças, pois elas existem há milhares de anos e não temos
motivos aparentes para não confiarmos em nossas próprias experiências. Se você
não pode confiar em suas experiências, passadas ou presentes, então não têm
motivos para acreditar naqueles princípios que lhe ensinaram acreditar. Os
princípios são especialmente importantes para ajudar a interpretar as nossas
experiências atuais, de forma como iremos interpretar o que estamos vivenciando
no atual momento.
Podemos justificar o que nos acontece porque acreditamos nesses
princípios. Neo, no filme The Matrix, acreditou que todas as suas experiências
foram transmitidas por um computador maldoso que só queria aproveitar-se de sua
energia como fonte de alimento para a sobrevivência das máquinas consideradas
artificialmente inteligentes. Então, ele passou a ter motivos para acreditar que de
fato estava a viver no mundo real dito pelos seus amigos Morpheus e Trinity, pois
24

ele viu pessoalmente a Matrix dentro da nave e por causa de sua experiência ele
optou tomar a pílula vermelha, passando a viver e fazer parte do mundo dito real do
que viver para sempre num mundo irreal dito ser real.
Por causa das experiências que temos em nossas vidas, determinadas
coisas parecem normais e outras inesperadas. Pareceria muito estranho e
inesperado (para nós) descobrir que algumas pessoas com quem
conversamos não falam inglês, por exemplo, e sim outra língua que soa
como inglês, mas na qual todas as palavras têm significado diferente. Seria
de fato estranho e inesperado descobrir que certas pessoas sempre
mentem as terças e quintas-feiras. Ou que a cabeça de algumas pessoas
sai quando elas ficam zangadas. O que é estranho e inesperado (bem
como o que é normal e esperado) é apenas uma função do que
vivenciamos, daquilo a que estamos acostumados. Se Neo não pode
confiar em suas experiências passadas, então tem mais justificativas para
afirmar que isso seria normal, e aquilo seria estranho, inesperado e
improvável. Se alguém (digamos, Morpheus) começasse a produzir sons
que parecessem com a língua inglesa, Neo pensaria – por força do hábito
– que Morpheus está falando inglês, pois se acostumou a um mundo em
que as pessoas que parecem estar falando inglês geralmente estão. Mas
Neo não pode confiar nesse mundo, se ele acredita que o mundo foi
gerado por computadores malignos. Então ele não estaria justificado em
acreditar que Morpheus de fato está falando inglês, ou que está falando a
verdade, que a cabeça dele não vai sair se ele ficar zangado, pois a
justificativa para acreditar nessas coisas depende de experiências em que
ele pode confiar. (Willian Irwin, pág. 68)

Todos sabem que o mundo é programado por uma Matrix, essa Matrix
seriam as leis, os governantes, o poder, as regras, as limitações, as verdadeiras ou
falsas crenças e valores que damos a elas, enfim, a Matrix está presente na nossa
vida o tempo todo, vivemos num mundo real e irreal ao mesmo tempo. Assumimos
diversos papéis na vida, imaginamos e acreditamos em certas coisas que
precisamos para sobreviver e nos adaptarmos ao meio ambiente em que vivemos.
Somos origem de uma Matrix internamente e externamente. O nosso cérebro é uma
Matrix onde tudo é possível sem barreiras e sem limitações. De acordo com Willian
Irwin (2005, pág. 26) “A física atual não concebe mais o universo composto por
partes aleatórias, mas sim um fato coeso, em que as relações entre seus
componentes fazem brotar a realidade”.
A física quântica é uma ciência que busca explicações da natureza daquilo
que ela tem de menor: os constituintes básicos da matéria e tudo que possa ter um
tamanho igual ou menor. Ela tem buscado algumas experiências com partículas que
estão a enormes distâncias, por exemplo, uma partícula que está no Brasil
consegue se interagir com outra que está nos Estados Unidos, elas conseguem se
interagir da mesma maneira sincronizada, independente da distância, mesmo longe,
25

elas conseguem se manter unidas. Ainda da mesma forma, pois é possível um


pósitron ir para o passado e um elétron ir para o futuro.
Ao analisarmos esses aspectos, a noção da questão de espaço e tempo fica,
no mínimo, bastante abalada, pois vai contra todas as nossas crenças e
conhecimentos adquiridos durante a nossa existência terrestre.
Assim, a ciência tem buscado explicações quanto ao sistema e suas
ligações, pois o universo é como um organismo vivo está presente em forma de
energia e passamos a viver em uma encruzilhada histórica e ficamos perdidos entre
o que vem a ser real e irreal. Afinal vivemos em um mundo real ou irreal ou as duas
coisas ao mesmo tempo?
Os sonhos são uma realidade, são diálogos internos que são representados
por símbolos e que nos trazem respostas para ajudar no processo de cura da
doença psíquica ou os incômodos que estavam reprimidos no nosso inconsciente.
Uma das formas importantes para compreendermos melhor a ilusão do que é
real ou o que é irreal, seria a religião Hindu. Nela há quatro pilares: Karma, Maya,
Yoga e Nirvana. Estes conceitos podem ser aplicados à trajetória de Neo.
O karma é uma evidência, como ele é o escolhido tem uma tarefa a ser
cumprida. Ele pode também mudar o seu destino, mas o Karma fica ligado ao
indivíduo. Assim, cedo ou tarde ele terá que cumprir a sua missão.
O Maya é um tipo de ilusão que envolve a nós todos, é a própria Matrix,
digamos que é a fonte geradora e mantenedora do Cosmos. Os seres humanos a
têm como uma realidade.
A Yoga é uma união, a autodisciplina, os meios de atingirmos a libertação, os
treinamentos que Neo enfrentou.
O Nirvana é a realidade além da ilusão de Maya e dos condicionamentos do
Karma, a libertação.
Jung, estudou várias religiões, chegando à conclusão de que toda religião é
uma espécie de terapia, ela leva o indivíduo a ter contato com o eu “sagrado”, um
processo de individuação que transforma e amplia a consciência do ser humano.
A figura de Jesus seria como Neo, o enviado por Deus para salvar a
humanidade com a missão do despertar e iluminar, ou seja, promover a ampliação
de sua consciência.
26

Jesus mencionava que veio para dividir. Um grande filosofo que revolucionou
aquela época com palavras e analogias curiosas a serem feitas e, comparando ao
filme The Matrix, Neo passa a ter uma figura como a de Jesus, o salvador, um
homem com domínio profundo que levará a humanidade a integrar-se com a sua
totalidade e com todos os seres vivos e ao Cosmos.
27

CAPITULO III

A IMPORTÂNCIA DOS MITOS, RITOS, RELIGIÕES E ARQUÉTIPOS

3.1 Mito

É uma relação sobre seres e acontecimentos imaginários, que fala dos


primeiros tempos ou das épocas heróicas. Narrativa de significação
simbólica, transmitida de geração em geração dentro de determinado
grupo e considerada verdadeira por ele. Idéia falsa, que distorce a
realidade ou não que corresponde a ela. Pessoa, fato ou coisa real
valorizados pela imaginação popular, pela tradição, etc. Coisa ou pessoa
fictícia, irreal, fábula, parábola. (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira,
2002).

Para Carl Gustav Jung, os mitos seriam manifestações dos arquétipos ou


modelos que surgem do inconsciente colectivo da humanidade e que constituem a
base da psique humana. A existência do inconsciente colectivo permite
compreender a universalidade dos símbolos e dos mitos, pois que estes se revelam
em todas as culturas e em todas as épocas de modo idêntico.
Jung sentia necessidade de estudar a mitologia para melhor compreender a
simbologia de uma psicose latente (Jung, 1963).
Nas obras de Jung, podemos verificar personagens mitológicos com fontes
de compreensão para o entendimento humano, manifestações dos arquétipos.
Quando Jung estudou Hermes, chegou a explicar alguns vínculos com os
fenômenos paranormais, ele tinha como base que Hermes teria sido o intérprete do
oráculo, poderia considerar uma situação arquétipica com os videntes.
No filme Matrix, Morpheus acreditava que o oráculo poderia ajudar Neo a
salvar a humanidade com situações arquétipicas pelas vidências que lhe eram
apresentadas. Mesmo porque o oráculo já havia revelado que Neo poderia ser o
divino, o sagrado que todos esperavam para salvar a humanidade.
Acredito que a humanidade sempre precisou de histórias e contos mágicos
para obter respostas e significados em suas vidas. Alguma coisa sai da memória
da coletividade, chega ao indivíduo através de formas próprias, transcende a
consciência, mas registra, influencia o seu mundo.
28

Com os ensinamentos de Jung, fica mais fácil compreendermos de forma


clara como funciona a mitologia e como ela pode nos influenciar com os seus
simbolos. Os sonhos trabalham com simbolos, mesmo que não sejam bem
definidos, mas cada história tenta interpretar de forma ampla como o individuo se
encontra na sua consciência e inconsciência.
Jung foi ousado ao valorizar o estudo da mitologia, das religiões e também
da sabedoria oriental, pois o seu modo de pensar interpretava de forma distinta a
realidade.
Quando Jung deu o conceito de sincronicidade entre estados psíquicos e
acontecimentos físicos sem relação causal entre si, trouxe de forma cientifica a
chance de conhecer o mecanismo das grandes coincidências, dos óraculos e
eventos que eram ditos ocultos. Chegou a corajosa conclusão que a humanidade
guarda em seu inconsciente registros de todas as suas vivências, mesmo as mais
arcaicas, mitos e arquétipos.
Em 1958, em seu livro Um mito moderno, Jung alerta que é preciso pensar
nesse disco-voadores e entender de forma metafórica as suas aparições, sejam
elas verdadeiras ou não. É preciso compreender o drama dessas pessoas à luz dos
arquétipos e da mitologia, pois o mito da jornada do herói, vai além da importância
de tentar provar que a realidade física do fenômeno.
O fenômeno dos disco-voadores, mito recente de nosso século, será então
uma projeção, nos céus, de um intenso anseio coletivo de salvação num momento
crucial de desespero. De certa forma será a representação simbólica do mais
profundo arquétipo de unificação e totalidade psíquica dos homens de todos os
tempos e lugares.
Jung não prentendia com isso reduzir o fenômeno ao seu aspecto inferior,
mas alertar quanto a relação entre o que ocorre na alma da humanidade e o que
está acontecendo nos céus de nosso planeta.
Jung revela que a própria natureza da alma, são metáforas de nossa
realidade interna, mais profunda e essencial. O mito do herói é o mais conhecido,
surge nas mais distantes e diferentes culturas e todas as suas versões, embora
sejam diferentes nos detalhes, são estruturalmente muito semelhantes, obedecem a
uma forma, padrão universal.
29

Mitos não são mentiras, talvez sejam a grande verdade que podemos ter,
num mundo relativo. Mitos possuem a moral, credo e explicações temporárias que
dão sentido ao mundo. A verdade de hoje é o mito de amanhã, sempre foi assim,
para quem não estagnou. A própria ciência caminha nesse sentido, ao abandonar
suas crenças em favor de algo que explique melhor a realidade.
Os mitos só falam daquilo que realmente aconteceu e se manifestou, sendo
as saus personagens principais os efeitos sobrenaturais, conhecidos nos tempos
primordios. Os mitos revelam a sua atividade criadora e mostram o sagrado de suas
obras. Em suma, os mitos revelam e descrevem as diversas e frequentes situações
dramáticas do mundo.

3.2 Ritos

São regras e cerimônias próprias da prática de uma determinada religião,


culto, liturgia ou cerimonial. (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 2002).
Desde tempos imemoriais, os ritos de iniciação têm sido formas de
transmissão de uma preparação com transições significativas da vida que envolve o
corpo como o espírito, como também a energia psíquica que precisa ser desviada
de um hábito adquirido para uma atividade nova e inabitual. Nos rituais o iniciado
pode ser desviado de um hábito adquirido para uma atividade nova e inabitual.
Como exemplo, cito um menino que vai crescendo e se tornando um homem,
assumindo novas responsabilidades e se afastando dos seus pais em um processo
natural. De um modo significativo, o indivíduo é iniciado no seu autoconhecimento,
um mistério adquirido por uma iniciação consciente ou inconsciente que envolve
uma condição instintiva no decorrer de sua existência.
Os rituais são mistérios que levam o indivíduo frente a frente (Ego e Self), ou
seja, em direção à consciência e inconsciência, produzindo sofrimento, tortura e o
estado liminar, transitório do que irá se tornar, um tipo de projeção que toma como
forma o envolvimento da matéria (corpo) e espírito (energia psíquica).
A iniciação é de fundamental importância na nossa vida psicológica, todas as
cerimônias externas adaptam-se a padrões de comportamentos de mudança e
30

crescimento. O rito ou cerimônia salva de certa forma as pessoas contra a


desintegração de forma profunda sobre a mudança que se pretende realizar.
Jung escreveu:
A transformação do inconsciente que ocorre sob a ANÁLISE que a torna
um análogo natural das cerimônias religiosas de iniciação, que, entretanto,
em princípio, diferem do processo natural no fato de que antecipam o curso
natural do desenvolvimento e substituem a produção espontânea de
símbolos por um conjunto de símbolos deliberadamente selecionados,
prescritos pela tradição. (CW 11, parág. 854).

Jung havia chamado atenção para o fato de que a iniciação está ligada ao
processo de cura, ou seja, quando uma orientação psicológica ultrapassa sua vida
útil, mas não lhe é permitido transformar-se e infectando todo o organismo psíquico.

3.3 Religião

Crença na existência de força ou forças sobrenatuais, manifestação de tal crença


pela doutrina e ritual próprios, devoção. (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 2002).
Para Jung, o conceito de religião, seria uma realidade dinâmica e psicológica
de trazer a ordem mais complexa, elemento vivo, exigente no contexto de
experiência que o indivíduo experimenta como terapia profunda em busca de si
mesmo, um autoconhecimento que leva o Ego ao encontro do Self, ampliando a sua
consciência.
Jung encarou a religião ou religiosidade, como uma atitude do espírito
humano, um emprego original do termo religioso que poderia ser considerada como
uma observação cuidadosa de fatores dinâmicos, concebidos como potências que
influenciam a consciência e a experiência de vida do indivíduo. Uma forma de
observar elementos ou forças inconscientes que foram projetados como deuses.
Forças que precisam de forma religiosa as tornar parte da vida do indivíduo. Esse
sentido original caracteriza a religiosidade um particular de consciência
transformada em experiência do numinoso4. (Jung, 1938;1990, p. 10).
Em outras palavras, Jung distingue a confissão ou profissão de fé,
experiência mediada por um sistema de símbolos e rituais que fornecem

4
Numinoso – É uma instância ou efeito dinâmico não causado por um ato arbitrário da vontade, tanto uma
qualidade pertinente a um objeto visível, como a influência de uma presença invisível que causa uma peculiar
alteração da consciência.
31

significados coletivos para a vivência do numinoso. A mediação pressupõe a


crença, ou fé, pois é um estabelecimento de dogmas. Jung descreve experiência
primordial de uma relação individual, um processo de individuação que leva o
indivíduo a vivenciar um sentimento de totalidade de sua alma.
A religiosidade para Jung era definida como uma característica arquetípica,
onde aparece caráter consciente com valores e sentimentos que levam o indivíduo
a experimentar de forma subjetiva o benefício de uma direção ou sentido, atraindo o
indivíduo pelo fascínio, manifestação de uma plenitude de sentido, que o conduzem
a uma meta predeterminada de sua vida.
Jung percebia que o homem moderno ansiava por restaurar a dimensão
espiritual perdida e considerava que o sofrimento psíquico que as pessoas
padeciam, tinha origem na perda da dimensão religiosa de suas vidas.
Em seu livro C. G. Jung, Psicologia e Religião Oriental, escreveu:
Há trinta anos minha clientela provém, um pouco, de quase todos os
países civilizados do mundo. .De todos os meus pacientes que tinham
ultrapassado meio da vida, isto é, que contavam mais de trinta e cinco
anos, não houve um só cujo problema mais profundo que não fosse o de
uma atitude religiosa. Aliás, todos estavam doentes, em última análise, por
terem perdido aquilo que as religiões vivas ofereciam em todos os tempos,
a seus adeptos, e nenhum se curou sem ter realmente readquirido uma
atitude religiosa própria, o que, evidentemente, nada tinha a ver com a
questão de confissão (credo religioso) ou com a pertença a uma
determinada igreja. (Pág. 335/336).

Jung trata aqui da questão do significado como fator principal para a


personalidade humana. Ao examinar a atitude religiosa do homem, Jung identifica
fatos que apontam para a existência de uma função religiosa natural no
inconsciente, disposições arquetípicas resultante da religião. Ele chega a comparar
os dogmas religiosos com os arquétipos. Dessa forma, considera a espiritualidade,
o misticismo e a religião como realidades psíquicas não patológicas. Jung introduz
no estudo do fenômeno religioso instrumentos de análise que permitem o exame do
tema de uma perspectiva psicológica, sem assumir qualquer postura de validação
de algum credo.
32

3.4 Arquétipos

Arquétipo é o modelo de ser criado, exemplar, protótipo, símbolos. (Aurélio Buarque


de Holanda Ferreira, 2002).
Carl Gustav Jung definiu mito como a conscientização de arquétipos do
inconsciente coletivo, quer dizer, um elo entre o consciente e o inconsciente
coletivo, bem como as formas através das quais o inconsciente se manifesta.
Jung retrata a importância do arquétipo como um núcleo de complexos que
atrai experiências relacionadas ao comportamento do indivíduo. O indivíduo poderá
tomar consciência de sua Sombra por meios dessas experiências associadas em
seus sonhos, pois os arquétipos da morte, do herói, de Deus, da grande mãe ou do
velho sábio, são exemplos de algumas das numerosas imagens primordiais
existentes no nosso inconsciente coletivo.
O processo que é observado nos sonhos é de total importância para o
terapeuta avaliar o seu paciente pelas associações e amplificações, como se ele
fosse um detetive que busca os detalhes que serão significativos para o
desenvolvimento consciente das fantasias e histórias criadas no inconsciente do
indivíduo.
Na teoria de Jung, o que possibilita uma interpretação sobre o fenômeno
religioso é a noção de arquétipo, devido as suas características. (Jung, Tipos
Psicológicos: 1927/1991).
Jung confere à noção de arquétipo um valor histórico. Tal noção implica em
uma diferenciação entre arquétipo e representação ou imagem arquetípica. O
arquétipo em si, como fator estrutural inconsciente, da mesma forma que o instinto,
é inapreensível, inacessível à consciência.
Essa força coerciva e ordenadora do arquétipo deriva necessariamente de
uma energia libidinal intensa. Com efeito, Jung propõe os conceitos de instinto e
arquétipo como dois opostos de uma mesma polaridade. Os arquétipos caracterizam
os instintos, imagens inconscientes dos próprios instintos. (Jung, 1954/1975, pág.
91).
Jung usou o termo arquétipo para se referir aos modelos inatos que servem
de matriz para o desenvolvimento da psique. Os arquétipos criam imagens ou
visões que correspondem a alguns aspectos da situação consciente. Jung deduz
33

que as imagens primordiais se originam de uma constante repetição de uma mesma


experiência, durante muitas gerações. Funcionam como centros autônomos que
tendem a produzir, em cada geração, a repetição e a elaboração dessas mesmas
experiências.
O estudo dos arquétipos foi mais uma das contribuições inovadoras de Jung
à psicologia.
34

CAPITULO IV

SIGNIFICADO DOS SONHOS COM ANALOGIA DO FILME MATRIX

“O indivíduo vive para os alvos, assim como pelas causas”. (Carl G. Jung)
O sonho dá margem para duvidarmos de nossas próprias opiniões sobre o
mundo físico, parece não afetar, por exemplo, as crenças a respeito de números ou
figuras geométricas. No filme The Matrix, sérios motivos nos levam a questionar se
devemos excluir a possibilidade de que as vidas significativas que pensamos viver
são, de fato, um conjunto de mentiras implantadas em nossos cérebros por
sistemas computadorizados inteligentes.
Sabemos que o nosso cérebro é uma espécie de computador inteligente,
mas capta informações através de todos os nossos sentidos e é interpretado pela
programação associada a outras informações existentes em nossa memória. Este
programa será criado, de um lado, pela seleção evolutiva natural de todas as
informações que possuímos (mitos, arquétipos, complexos, Sombras, ritos,
religiões, etc.), e por nossas próprias criações. Esses programas irão gerar outros
programas, dando origem ao que chamamos de sociedade. Quando olharmos em
nossa volta, veremos um reflexo de nós mesmos, de nossos sonhos e pesadelos
materializados, produzidos na Matrix (cérebro) e tornados reais, pois há uma
conexão com a energia psíquica (energia vibracional) que se interage mutuamente,
materializando ou sincronizando fatos e acontecimentos, como Jung interpretou ser
a explicação dessa comunicação vibracional.
A natureza produziu por si mesma uma série de informações e programas
que se materializarão no corpo, provocando sensações, sentimentos, emoções,
equilíbrio ou não ao meu estado mental.
A programação humana é desenvolvida a partir de todos os fatos que são
levados à enésima potência das suas combinações e mutações, formando
um infindável caleidoscópio.
O cérebro humano é um receptor de informações que cria uma realidade
com elementos não sujeitos às leis de tempo e espaço, são integrados em
um universo holográfico apreendido por uma mente holográfica. O
holograma é uma fotografia, tridimensional conseguida com a utilização de
radiação coerente refletida. Ao se expor à luz, surge a imagem
35

tridimensional. O importante para nós é lembrar que qualquer parte do


holograma contém a imagem inteira. Nós mesmos, de certa forma, somos
uns hologramas, e como tal, quanto mais compreendermos, mais
compreenderemos o holograma que nos deu origem. (WILLIAN IRWIN,
pág. 24 e 25).

Com essa afirmação de Willian Irwin, pode-se concluir que a consciência


provavelmente não está em um lugar específico do nosso cérebro, mas ela se
estenderia como uma onda vibracional por ser uma energia psíquica, fruto das inter-
relações computacionais dos neurônios. O sentido do eu individual - liberdade de
escolha, intuição, etc. – é um atributo quântico. Neste mesmo sentido, os estados
mentais poderão ser explicados pela física quântica, uma vez que o cérebro
funciona como um uníssono (teste feito com uso do eletroencefalograma),
integrando dois sistemas (analógico e digital). De acordo com alguns físicos, o
cérebro poderia ter acesso às informações que se encontrariam, de forma
holográfica, permeando todo o universo.
Pode-se compreender o universo e o ser humano sendo nele inserido como
uma totalidade, uma visão de Carl Gustav Jung. A física atual não concebe mais o
universo composto por partes aleatórias, mas sim um todo coeso, em que as
relações entre os seus componentes fazem brotar a realidade.
Entendo que o objeto está mais próximo de um símbolo, ou seja, de uma
noção de seu verdadeiro significado e não do que ele representa em si mesmo.
Podemos fazer a distinção entre estar acordado ou sonhando, se estivermos
realmente acordados, mas às vezes, somos capazes de distinguirmos entre os dois
mundos, a conclusão é que não há um motivo próprio para nos preocuparmos se
nossas vidas são feitas de seqüências inteiras de cenas reais ou não, pois quando
assistimos um filme concentrados, o nosso cérebro acredita que estamos dentro
daquele filme, como se fossemos os personagens inseridos de repente no novo
cenário, sentimos medo, pavor, ansiedade, alegria ou somos bombardeados de
sentimentos que nos levam à mudança de comportamento.
Essa talvez seja a missão dos sonhos, o mundo real ou irreal que precisamos
enfrentar dentro de nós mesmos, pois o mundo da consciência e da inconsciência
são coletivos e individuais. O sujeito é o espelho do mundo e o mundo é o espelho
do sujeito. Somos cobaias de nós mesmos e os nossos próprios curandeiros. Jung
conhecia todas essas dificuldades e também foi cobaia para poder compreender o
resultado das aplicações de suas teorias e vivenciou por algum tempo um mundo
36

real e outro mundo irreal. Tinha visões e considerou essas visões como arquétipos,
mas nunca obteve a resposta concreta. O inconsciente envia símbolos ao
consciente aos poucos e promove o aumento da compreensão de forma automática
através dos sonhos.
Criamos diariamente significados ao que ouvimos, visualizamos, sentimos,
contando histórias. Assim, a realidade é mais como a ficção, em termos de criação
de história, do que pensávamos, e a questão de termos ou não o componente da
crença para que se justifique uma emoção parece agora mal dirigida. Mesmo que
criemos nossas histórias, para que elas se tornem realidade, precisamos acreditar e
utilizarmos elementos como nossas crenças e valores que damos a essas crenças
e criamos uma situação e a vivenciamos como uma realidade.
Por exemplo: se eu tenho o complexo de que ninguém gosta de mim, tenho o
complexo de desprezo das pessoas, quando alguém se aproxima de mim, logo
pensarei que ela está interessada em algo que possuo (carros, casa, dinheiro, etc.),
pois falta um elemento principal para compor a verdadeira realidade, e diante desse
fato construo uma outra realidade, que aquela pessoa só se aproximou de mim pelo
objeto e não pela minha pessoa.
Criamos diversas realidades em conseqüência da forma como estamos nos
vendo no mundo real e imaginário, ou seja, dentro de nós mesmos.
Logo no início do filme surgem diversos tipos de problemas clássicos de
percepção, dos quais a referência em destaque é Neo que passa toda a sua vida
feita de ilusões causadas por estímulos ao cérebro, induzido num ser passível,
imóvel, para o qual a paralisia do sono é um estado permanente. Indivíduos
aprisionados na Matrix, um mundo de sonho gerado pelo computador, acreditam
estar experimentando a vida com todas as suas famílias, riquezas, poder, etc. Seus
receptores de sentidos estão conectados à Matrix, de modo que o paladar, olfato,
tato, visão e audição são estimulados e o cérebro acredita que tudo está
acontecendo.
Podemos dizer que o real seria aquilo que experimentamos, vivenciamos e
que nos proporciona a experiência mais vívida e prazerosa.
Quando Neo está submetido imóvel, sob os comandos da Matrix, acredita ser
Thomas Anderson, morador de um pequeno quarto, que recebe informações sobre
atraso de um trabalho até que seu computador começa a passar mensagens
37

espontâneas para ele, que fica sem compreender o processo e busca respostas do
que está acontecendo. Nesse momento é demonstrado que o programa falhou na
programação, gerando um código de acesso que Morpheus aproveita para fazer o
seu primeiro contato com Thomas Anderson (Neo).
Olhar para a Matrix é olhar para a nossa mente. Ela está programada par
anos dar as respostas, mesmo que sejam erradas, através dos nossos sonhos, com
uma capacidade de criação e autopreservação. Ao mesmo tempo em que realiza os
nossos mais profundos desejos ocultos, também nos escravizam diante deles.
Os sonhos são manifestações inconscientes de material reprimido que
promoverá ao indivíduo a libertação produtiva e a sua evolução, fazendo a conexão
entre o Self e o Ego de forma a explorar e enfrentar a Sombra, integrando os
sistemas internos, pois o objeto está mais próximo e pode ser representado por um
símbolo. Jung afirmava que a transferência em si nada mais é do que uma projeção
de conteúdos inconscientes onde são projetados os conteúdos chamados
superficiais do inconsciente, reconhecidos através de sonhos, sintomas e fantasias.
Jung acreditava que os sonhos representavam desejos não atendidos. Era
convicto de que o significado dos sonhos era maior, refletindo a riqueza e
complexidade de todo o inconsciente, tanto pessoal como coletivo. Acreditava que a
psique era um organismo auto-regulatório no qual as atitudes conscientes eram
provavelmente compensadas nos sonhos pelo inconsciente.
Jung acreditava que arquétipos como o animus (força masculina na mulher),
anima (força feminina no homem), a sombra, entre outros, se manifestavam nos
sonhos como símbolos ou figuras. Tais figuras poderiam tomar forma como um
homem velho, jovem donzela ou aranha gigante. Cada um representaria uma
atitude inconsciente que era escondida do pensamento consciente.
O sonhador é o protagonista em seu sonho, ele está representando o Ego,
lida com as forças malignas (a sombra), para se averiguar como, na vida desperta,
a pessoa lida com as adversidades, a autoridade e de igual maneira a oposição de
idéias.
Jung aponta os sonhos como forças naturais que, claro auxiliam o ser
humano no processo de individuação.
38

CAPITULO V

A ESSÊNCIA DOS SONHOS E OS FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS

A psicologia médica se distingue de todas as outras disciplinas científicas


pelo fato de que deve lidar com os problemas mais complexos sem poder recorrer a
dispositivos experimentais comprovados, a experiências sistematicamente repetidas
em laboratório ou a dados logicamente explicáveis. Ela vê diante de uma infinidade
de dados irracionais em perpétua mutação, porque a alma humana é talvez a coisa
opaca, mais impenetrável e mais inabordável que o pensamento jamais estudou.
Por certo, é preciso admitir que todos os fenômenos psíquicos estão ligados entre si
por uma espécie de encadeamento causal, entendido este termo em seu sentido
mais largo, entretanto, recomenda-se, precisamente neste domínio, não esquecer
que a causalidade, em última análise, nada mais é do que uma verdade estatística.
(C.G.Jung, A natureza da Psique, pub. Na Ciba Zeitschrifi (Revista Ciba), IX (1945)).
Jung retrata bem a questão dos significados dos sonhos em sua essência
psicológica por ser um assunto muito delicado, uma tarefa complicada e difícil de
ser examinada pela psicologia médica, uma vez que seus aspectos são baseados
nos sintomas e não nas causas em sua essência profunda a nível consciente ou
inconsciente.
O sonho traz ao indivíduo oportunidades de percepções com dados úteis que
o levam ao seu autoconhecimento.
O sonho é uma reação involuntária da atividade psíquica que reproduz em
estado de vigília, manifestações psíquicas armazenadas em nossa memória
inconsciente, caracterizando cenários com conteúdos reprimidos, montando uma
história, um quadro muitas vezes sem lógica, uma moral distorcida, crenças e
valores distorcidos, sensos ou manifestações absurdas. Por isto que algumas
pessoas quando sonham despertam angustiadas, desesperadas como se
estivessem vivenciando uma história real em um mundo dito irreal.
A interpretação desses sonhos será a chave fundamental para dar sentido
aos incômodos psíquicos. Revela sensações, sentimentos e sensibilidade do
39

sonhado. Porém, quando o próprio sonhador se esforça em interpretar sem a


colaboração do terapeuta, busca uma analogia própria e que poderá ser
determinante positivamente ou não para o progresso do processo de individuação.
Algumas revelações podem gerar regras que adentram nas crenças e valores
pessoais do indivíduo, interferindo com novos dados que serão reprimidos de forma
consciente ou inconsciente.
Jung apresenta explicações sobre pessoas que de tempos em tempos têm
repetidamente os mesmos sonhos. Tais fenômenos podem se prolongar por um
espaço de tempo e por várias vezes ou até mesmo anos. Neste caso, trata-se de
sonhos com sentidos definidos, levando a supor que algo significativo aconteceu e
um material ficou reprimido ou algo que poderá acontecer. Como não existe
nenhuma fórmula mágica para decifrar os sonhos, o ideal nos casos dos sonhos
repetitivos é avaliar as questões anteriores, revivendo o sonho e observando cada
detalhe narrado pelo sonhador.
As palavras compõem a narração do sonho e a ele dá sentido, sendo
importante fazer-se uma leitura corporal e da entonação da voz, com ênfase em
detalhes narrados pelo sonhador. É importante levar em conta a observação dos
pontos estratégicos que irão compor significados plausíveis e com maiores chances
de exatidão da interpretação.
Quando o sonho é examinado metodicamente às associações do sonhador,
é importante reconhecer que por mais que tenhamos dados suficientes importantes
não dá para ter uma prova concreta e com exatidão da sua natureza específica, são
suposições que vão ao encontro da situação em que o indivíduo vivencia no
momento, seja ela positiva ou não.
Certa vez, uma paciente me ligou desesperada pela manhã, narrando um
sonho onde ela se via como uma grande pecadora. Havia tido experiências sexuais
durante o sono com vários homens que ela não conhecia. No sonho sentiu prazer e
se permitiu ter contato físico com os homens sem nenhum preconceito, medo ou
idéia fixa de pecado. Darei o nome a essa paciente de M.X. por motivos éticos para
preservar a sua identidade. Ocorre que M.X. era uma mulher muito experiente de
vida, uma pessoa que sofreu muito na vida, se dedicando à família e abdicou-se de
sua própria vida em prol dos outros. Ao longo de sua vida reprimiu o desejo sexual,
dando-lhe o significado de pecado e não teve contato com homens, buscando como
40

foco principal os cuidados especiais com a sua família e a necessidade de ajudar o


próximo compartilhando o seu tempo na caridade, estudos e trabalho. Chegou a ter
marido e filhos, mas separou-se quando os seus filhos ainda eram bem pequenos,
jurou nunca mais ter relacionamentos com homens para não sofrer as decepções
que ocorreram durante a sua vida conjugal.
Desde então, M.X. dedicou-se a vida toda ao trabalho, estudos, filho e seus
pais. Aos 59 anos de idade teve o sonho que veio apresentar-lhe revelações
perturbadoras e geraram conflitos internos.
Por mais que explicasse a M.X. o sentido original do seu sonho, a mensagem
que ele enviara da sua inconsciência para o seu consciente, conclusões com
significados simbólicos de um desejo reprimido, M.X. não suportou e teve um
“choque”, pois foi diretamente ao encontro da Sombra, ou seja, enfrentou o
preconceito e a realização de desejos recalcados, originados pela idéia fixa do
pecado e o desvio de conduta moral.
Porém, observei que com o passar do tempo, M.X. passou a falar mais
abertamente sobre si mesma, revelando alguns desejos reprimidos em sua
juventude, conseguiu falar a palavra “sexo” sem se sentir constrangida e tão pouco
abalada.
A reconstituição é de fato um trabalho simples, mas que requer uma
produção contextual para a interpretação do sonho, uma tarefa exigente que requer
uma empatia psicológica, uma penetração intuitiva para compreender as limitações
do indivíduo.
Por mais que os sonhos se refiram a uma determinada atitude da consciência
do sonhador e a uma situação psíquica particular, suas raízes mergulham
profundamente no subsolo obscuro e dificilmente conhecível de onde emergem os
fenômenos do inconsciente.
Por falta de uma expressão mais precisa, damos a este pano de fundo
obscuro o nome de inconsciente. Não conhecemos sua essência em si mesma,
nem é possível observar senão determinados efeitos seus, cuja textura nos permite
arriscar certas conclusões a respeito da natureza da psique inconsciente. Como o
sonho constitui uma expressão extremamente freqüente e normal da psique
inconsciente, é ele que nos fornece a maior parte do material empírico para a
exploração do inconsciente”. (C.G.Jung, A natureza da Psique, pág. 229).
41

Todos os sonhos possuem seus dados significativos para uma análise, sejam
eles grande, médios ou pequenos. Jung retrata o sonho importante como um
tesouro que fica gravado na memória por toda a vida e constitui experiências
psíquicas vividas. Ele considerou os sonhos mais importantes como fatos e dados
profundos que envolvem o inconsciente individual e coletivo, pois esses sonhos
ocorrem geralmente nos momentos mais cruciais da vida do indivíduo.
Jung também acreditava que os sonhos produziam formas de compensações
essenciais para fornecer frutos gradativamente importantes para a contribuição do
conteúdo essencial da ação onírica e uma atitude unilateral, levando o indivíduo
para ao processo de individuação.
As etapas da vida do ser humano são uma das tarefas mais exigentes,
significativas, pois ao avaliarmos a sua história de vida, precisamos traçar um
quadro de toda a vida psíquica, desde o berço até à idade atual.
Se a sua vida psíquica é constituída de fatos naturais, o homem do Século
XXI enfrenta muitos problemas e a maior parte dos processos é constituída de
reflexões, dúvidas, experimentos, o afastamento do homem em relação aos
instintos e a sua posição (Persona) que assume perante a sociedade e o mundo
moderno.
O instinto é uma natureza inata e sempre irá perpetuar pela sua própria
natureza e, por mais que o homem evolua intelectualmente e tecnologicamente,
continuará a viver de forma instintiva que se relaciona com o medo, quando nos
deparamos com a possibilidade de caminhos diferentes, porque a consciência
chama o homem a fazer tudo aquilo que a natureza se encarrega por si só
encaminhar ao processo natural da vida.
42

CAPITULO VI

FUNÇÕES PSICOLÓGICAS E SUAS REPRESENTAÇÕES

De acordo com Carl Gustav Jung, as funções psicológicas são ferramentas


que representam o modo como o ser humano funciona na sua interação com o
mundo externo e com o seu mundo interno. Desde que nascemos, temos uma pré-
disposição a desenvolvermos mais uma função do que as outras e a educação que
recebemos reforça ainda mais essas pré-disposições. Embora todo ser humano
possui as quatro funções, nem sempre elas são desenvolvidas da forma igual.
Pode-se dizer que a função mais predominante, ou seja, a mais desenvolvida no
indivíduo é chamada de “função principal” e a que é menos desenvolvida é
chamada de “função inferior”. As quatro funções são: Intuição; Pensamento;
Sensação e Sentimento. Assim, Jung explica detalhadamente como funcionam as
quatro funções.

6.1 Função Intuição

É a função que transmite a percepção de forma inconsciente do que pode


acontecer, ou seja, tudo pode ser percebido, coisas internas ou externas
automaticamente. É um sistema que o indivíduo possui e que vão além de sua
vontade, fatos, sentimentos ou idéias. É uma construção de realidades que mostra
a direção para onde ir, voltar ou ficar. É uma das funções mais irracionais que
possuímos.

6.2 Função Pensamento

É a função que o indivíduo compreende intelectualmente a sua própria


natureza, compreende como se deve viver no mundo externo dito como mundo real
43

e dentro de si mesmo, dito como mundo interno ou irreal. É umas das nossas
funções consideradas como a função da racionalidade.

6.3 Função Sensação

É a função que percebemos o mundo exterior pelos nossos cinco sentidos:


tato, audição, olfato, visão e paladar. Esses sentidos produzem representações,
uma comunicação do mundo. Esse tipo de comunicação produz algumas realidades
que podemos sentir, como por exemplo: uma criança pegar um objeto e colocá-lo
diretamente em sua boca. Por outro lado, a criança não tendo ainda percepção ou
noção do perigo, coloca o objeto na boca sem avaliar riscos, então passa a ser uma
função irracional.

6.4 Função Sentimento

É a função que se realiza entre o eu e um dado conteúdo que atribui um valor


definido no sentido de aceitação ou rejeição, prazer ou desprazer. É considerada
uma função racional por estar associada ao uso da razão, do juízo, da abstração e
da generalização. Neste aspecto é muito parecida com a função pensamento.
Diferem das funções sensação e intuição por não estar aberta à irracionalidade, à
causalidade das coisas e fatos.
44

CAPITULO VII

SONHOS E CONEXÕES ACAUSAIS – SINCRONICIDADE

A sincronicidade é um conceito que foi desenvolvido por Carl Gustav Jung


com a finalidade de definir acontecimentos que se relacionam não por relação
causal, mas por significado, ou seja, a sincronicidade é uma coincidência
significativa.
Jung utilizou esse termo “sincronicidade” em uma das suas publicações
científicas no ano de 1929, ele levou 21 anos para acabar o seu livro:
“Sincronicidade: um princípio de conexões acausais”, quando expôs o conceito e
deu significado para a discussão do assunto. Jung dizia que demorou a escrever o
livro porque se tratava de um assunto muito complexo e precisava de tempo para
suas pesquisas por causa dos eventos que ele acreditava controlar.
Jung acreditava que a sincronicidade é a necessidade da compreensão dos
fatos ditos paranormais, geralmente predominante e de difícil interpretação
científica, pelo menos naquela época.
Jung cita um exemplo de sincronicidade de um escritor francês Emile
Deschamps, no ano de 1805, quando Emile foi recebido com um pudim de ameixas
pelo desconhecido Monsieur de Fontgibu.
Depois de 10 anos, ele encontrou pudim de ameixas no menu de um
restaurante em Paris, e fez o pedido, mas o garçom lhe disse que o último pudim
tinha sido servido a outro cliente, M. de Fontgibu.
Passaram alguns anos e em 1832, Emile Deschamps estava participando de
um jantar, e mais uma vez, foi oferecido a ele o tal pudim de ameixas. O escritor
recordou do fato ocorrido anos atrás e comentou: só falta agora chegar o M. de
Fontgibu para comer o pudim e completar a coincidência. No mesmo instante, como
mágica, aparece M. de Fontgibu que entra no recinto para jantar.
A esse fenômeno Jung tentou estabelecer uma psicologia baseada em
crenças pseudocientíficas como: astrologia, espiritismo, telepatia, telecinesia e
clarividência.
45

Jung acreditava que vários fatores levavam a causalidade que ligava os


acontecimentos, não era um fato único. Acreditava que a mente se conectava com
o mundo fenomenológico da percepção.
A sincronicidade para Jung, fornecia acesso livre aos arquétipos que se
localizavam no inconsciente coletivo, caracterizando predisposições mentais
universais, como um imã que atrai o metal. A energia psíquica de um ser humano
se conectava a energia psíquica coletiva e universal, atraindo para si
acontecimentos bons ou não. Dependia da sua vibração individual para com a
coletiva.
O mesmo pode ocorrer nos sonhos. O indivíduo sonha que está visualizando
um acontecimento e no dia seguinte esse acontecimento ocorre diante dos seus
olhos sem ter como explicar, são chamados sonhos de premonição.
O indivíduo acessa a energia psíquica do inconsciente coletivo e traz para a
sua consciência acontecimentos individuais ou universais que ainda irão acontecer,
como se não existisse uma barreira entre o mundo irreal e o mundo real.
A sincronicidade veio dar significados para explicação de alguns fatos sobre
a supra-realidade. A realidade que contém um saber, daquilo que acreditamos
existir, tangível e que age ou atua como real. Se não age, não se move, não se
realiza é considerado um fato irreal, ou seja, ele não existe ou não existiu.
46

CAPITULO VIII

REAL E O SUPRA-REAL

Falar da realidade é o mesmo que falar de algo que está acontecendo neste
exato momento, como o fato de estar escrevendo esta monografia e em seguida
entrega-la ao orientador da monografia. Assim, estou acreditando que essa
realidade é um fato existencial e isso limita o conceito da realidade, pois passa a ser
uma realidade material ou concreta dos objetos percebidos pelos sentidos, um
produto do modo de pensar subjacente ao chamado senso comum.
Porém, é importante observar que existe outra realidade que vivenciamos e
que não é percebida pelos nossos sentidos. Sob esse aspecto o pensamento seria
real?
Conforme o livro “A natureza da psique”, C.G.Jung, cita que a limitação da
imagem do mundo é reflexo da unilateralidade do homem ocidental, da qual muitas
vezes se tem culpado, mas injustamente, o espírito grego. A limitação do
conhecimento à realidade material arranca um pedaço excessivamente grande,
ainda que fragmentário, da realidade total, substituindo-o por uma zona de
penumbra que poderíamos chamar de irreal ou supra-real. A visão oriental do
mundo desconhece esta perspectiva por demais estreita e, por isto, não tem
necessidade de uma supra-realidade filosófica. Nossa realidade, arbitrariamente
circunscrita, acha-se ameaçada pelo “supra-sensível”, pelo “supranatural”, pelo
“supra-humano” e outras coisas semelhantes. A realidade oriental, evidentemente,
inclui tudo isto. Entre nós, a zona de perturbação começa já com o conceito de
psíquico. Em nossa realidade, o psiquismo não pode exprimir senão um efeito de
terceira mão, produzido originariamente por causas físicas, uma “secreção do
cérebro” ou alguma outra coisa igualmente saborosa. (Pág. 331-332, A natureza da
Psique por C.G. Jung).
Assim deduzo que Jung acreditava que vivemos em mundos reais e irreais
ao mesmo tempo, atribuindo os acontecimentos a um mundo material e imaterial, a
capacidade de superar o desconhecido, aprender a conhecer os mistérios do
47

mundo físico, mas também a si próprio, pois a mente é uma realidade que é
percebida pelos sentidos e também por uma energia psíquica que nem todos a
sentem ou percebem. Deduz que ela não existe, mas hoje a física quântica
consegue provar que existem ondas vibratórias na energia psíquica que agem de
forma individual ou coletiva.
Apesar de Jung não ter como provar cientificamente as ondas vibratórias da
energia psíquica, ele conseguiu referir-se a elas como algo que pode ser percebido
independente dos sentidos.
Jung vai mais longe afirmando que a realidade é um mundo psíquico que só
nos permite tirar conclusões indiretas e hipotéticas acerca da verdadeira natureza
da matéria. (Pág. 333, A natureza da Psique por C.G. Jung).
Temos como idéia fixa de que o mundo irreal é aquele em imaginamos ou é
uma ilusão.
Jung retrata bem quando afirma que as potências cósmicas regem os
destinos de toda a humanidade, tanto para o bem quanto para o mal, são fatores
psíquicos inconscientes e são eles que produzem a consciência, ou seja, a
realidade. Nós somos subjugados por um mundo que foi criado por nossa psique.
Isso permite avaliarmos e julgarmos as proporções errôneas de que a nossa
consciência ocidental atribuem a realidade somente aos fatos concretos, materiais e
não fundados em uma realidade originada ou derivada da essência da psique.

8.1 Sonho Real ou Supra-Real

Jung referia-se aos sonhos como caminhos de explicações e informações no


tratamento psicoterapêutico. Quando um paciente o procurava e lhe narrava seus
casos e sonhos, mais ele se esforçava para avaliar melhor o seu paciente e
apresentar um material ora reprimido.
48

Dá exemplo de um dos seus pacientes (Fundamentos de Psicologia


Analítica, C.G. Jung 12ª edição, Ed. Vozes – Petrópolis/2004, pág. 72), de um
homem de quarenta anos, casado, que antes nunca estivera doente. A sua
aparência era boa, dirigia uma escola pública, era muito inteligente estudou uma
psicologia naquela época ultrapassada, a psicologia de Wundt, que nada tem a ver
com os detalhes de vida humana, movendo-se na estratosfera das idéias abstratas.
Este homem que Jung avaliava, foi perturbado por sintomas neuróticos, uma
espécie de vertigem que o dominava de tempos em tempos. O homem sentia
palpitações, náuseas e um estranho ataque de fraqueza e exaustão. Esta síndrome
é o quadro de uma doença muito comum na Suíça, à doença das montanhas, mal
que frequentemente acometia as pessoas não acostumadas a grandes alturas. Mas
Jung perguntou a este homem: o senhor não estará sofrendo dessa doença? E o
homem respondeu: sim, o senhor tem razão. É exatamente como a doença das
montanhas.
Jung, intrigado, novamente perguntou: O senhor sonhou nos últimos dias? E
o homem respondeu: sim, sonhei. Contara então a Jung o sonho.
No sonho o paciente de Jung, se encontrava numa pequena cidade suíça.
Ele surgia como uma figura muito solene, de casaco negro e longo; debaixo dos
seus braços, carregava vários livros volumosos. Havia um grupo de rapazes, que
ele reconhecia como ex-colegas de classe. Esse grupo dizia: olhem o paciente, não
é sempre ele que aparece por aqui?
Jung ficava intrigado em desvendar o mistério desse sonho, avaliando cada
detalhe. Dizia que a nossa consciência é apenas uma superfície, a vanguarda de
nossa vida psicológica. A cabeça é apenas uma parte, mas atrás dela vem uma
longa cauda histórica de hesitações e fraquezas, de complexos, preconceitos e
heranças, e sempre tomamos nossas decisões sem levá-la em consideração.
Sempre acreditamos que poderemos andar em linha reta, apesar de nossa pobreza,
que, entretanto, tem um peso oneroso, e freqüentemente derrapamos antes de
atingirmos nossos objetivos exatamente por ignoramos nossa cauda (história da
família, nação, continente, mundo). Somos humanos e não podemos esquecer que
carregamos um pesado fardo por sermos apenas humanos. Se fôssemos somente
cérebro, seríamos como esses pequenos anjos que têm apenas asas e cabeça.
49

(Fundamentos de Psicologia Analítica, C.G. Jung 12ª edição, Ed. Vozes –


Petrópolis/2004, pág. 75, 76 e 77).
50

CAPITULO IX

SOMBRA, COMPLEXOS, EGO, PERSONA, SELF, ANIMA/ANIMUS:


PRISÃO DA MENTE NO MUNDO REAL E IRREAL

9.1 Sombra

Para Jung a Sombra é todo o conteúdo do inconsciente pessoal, o núcleo do


material que foi reprimido da consciência. A Sombra inclui aquelas tendências,
desejos, memórias e experiências que são rejeitadas pelo indivíduo como
incompatíveis com a Persona e contrárias aos padrões e ideais sociais.
Em sonhos, a Sombra aparece como um animal, um anão, um vagabundo ou
qualquer imagem ou figura de categoria mais baixa, inferior ou vulgar. Mas também
e principalmente com alguém do mesmo sexo.
Jung descobriu que o material reprimido se organiza e se estrutura ao redor
da Sombra, que se torna, em certo sentido, um Self negativo, a Sombra do Ego. A
Sombra é, portanto, vivida em sonhos como uma figura escura, primitiva, hostil ou
repelente, porque seus conteúdos foram violentamente retirados da consciência e
aparecem como antagônicos à perspectiva consciente. Se o material da Sombra for
trazido à consciência, ele perde muito de sua natureza de medo, de desconhecido e
de escuridão. Mas também pode ser luz, depende da consciência.
A Sombra é mais perigosa quando não é reconhecida pelo seu portador. O
indivíduo tende a projetar suas qualidades indesejáveis em outros ou a deixar-se
dominar pela Sombra sem o perceber. Quanto mais o material da Sombra tornar-se
consciente, menos ele pode dominar. A Sombra não é uma pessoa completa, mas
uma natureza e nunca pode ser eliminada. Uma pessoa sem Sombra não é uma
pessoa completa, mas uma caricatura bidimensional que rejeita a mescla do bom e
do mal e a ambivalência presente em todos nós.
51

Cada porção reprimida da Sombra representa uma parte de nós mesmos.


Nós nos limitamos na mesma proporção que mantemos este material inconsciente.
À medida que a Sombra se faz mais consciente, recuperamos partes previamente
consideráveis de energia instintiva, espontaneidade e vitalidade, que são as fontes
principais de nossa criatividade. Como também existem tesouros na sombra.
Assim, como todos os arquétipos, a Sombra se origina no inconsciente
coletivo e pode permitir acesso individual a grande parte do valioso material
inconsciente que é rejeitado pelo Ego e pela Persona. No momento em que
acharmos que a compreendemos, a Sombra aparecerá de outra forma. Lidar com a
Sombra é um processo que dura a vida toda, consiste em olhar pra dentro de si
mesmo e refletir honestamente sobre aquilo que vemos lá e muitas vezes fugimos
ou argumentamos para não enfrentarmos o que tememos em nós mesmos.
No duplo sentido, Buda a respeito do reflexo no espelho, simplesmente
reflete. Ele personifica com clareza, revelando o que está diante dele. Por
esse motivo, o espelho é uma metáfora comum nos ensinamentos taoístas
e budistas, particularmente no zen-budismo. Esses ensinamentos nos
impelem a ser como um espelho, ter uma mente clara, uma “mente-
espelho, limpa, livre e vazia. Exatamente como o espelho, uma mente-
espelho simplesmente reflete o que está diante dela, ela não discrimina.
Nem se apega às suas imagens. (Willian Irwin – Matrix Bem-vindo ao
deserto do real, pág. 131).

Carl Jung lembra que o psiquismo humano é um espaço de lutas íntimas:


É sabido que os dramas mais emocionantes e mais estranhos não são os
que se passam no teatro, mas sim no coração de todos os homens e
mulheres. Estes vivem sem chamar a atenção e não deixam transparecer
de forma alguma os conflitos tumultuosos que os habitam, a não ser que se
tornem vítimas de uma depressão cujas causas eles próprios ignoram.

É fundamental avaliarmos as palavras de Jung, uma vez que recusar as


nossas deficiências é fugir de si mesmo, é não ser uma pessoa completa, pois
precisamos de todas as nossas qualidades, dons, talentos, mas também
precisamos de nossas deficiências para nos completarmos como seres humanos.
É através da Sombra que vamos nos polindo, nos moldando, ou seja, é um
processo de individuação que nos levará ao nosso mais sagrado, o acesso
individual em direção ao Self. Lidar com a Sombra será um processo que irá durar a
vida toda e precisamos desse processo, pois faz parte natural de um processo
existencial e divino.
Hoje, no século XXI, é muito comum encontrarmos pessoas com alto índice
de estresse, insatisfação com trabalho, família, amigos e consigo mesmo, procuram
52

ajuda terapêutica, buscando o seu autoconhecimento, buscando a si próprio através


do outro, para poder ter condições de lidar com o que ele mais teme, a si próprio, ou
seja, a Sombra.
Algumas pessoas fogem tanto de si próprias, que se entregam
desesperadamente à alguns vícios, como o alcoolismo e toxicodependência, que
trazem tantos danos à saúde e prejuizos irreparáveis à alma humana.
A dependência é um problema fortemente ligado com a Sombra. De fato, a
atração compulsiva pelo vício provém da busca desesperada do indivíduo por não
saber lidar com a Sombra, foge e acusa outras pessoas pelo seu fracasso, se faz
de vítima de um processo obsessivo que ele mesmo construiu por negar o seu Ego,
sua Persona e o seu mais sagrado, Self. Assim, o indivíduo identifica-se sem que
perceba de forma inconsciente com o seu lado sombrio, porém, ele irá acusar todo
o sistema que o levou para o mundo do alcoolismo ou das drogas, passando a ser
uma bengala sombria, uma causa indireta, pois permite o indivíduo justificar suas
falhas, fraquezas e se fazer de vítima.
No filme The Matrix vemos o reflexo do espelho quando o Sr. Rhineheart
repreende Neo. Ali, os limpadores da janela vão retirando a espuma, que escorre
pelo vidro lembrando também o código da Matrix. Enquanto os óculos escuros do
agente Smith refletem as duas identidades de Thomas Anderson e Neo de uma
forma sombria, os óculos espelhados de Morpheus as refletem com mais clareza.
Notamos ali que os óculos representam uma espécie de objeto de espelho que são
usados pela Matrix para apresentar diante deles um mundo real e também a
Sombra de cada um. A Sombra de Neo era o agente Smith. A profundeza que esta
cena específica representa é o fato do reflexo entre um e outro, como se ambos
fossem o espelhamento do outro.
Quantas vezes nos encontramos em situações parecidas e nos chocando
com o outro e suas atitudes o que nos incomoda profundamente, não só suas
atitudes, mas também palavras ou até mesmo gestos. São Sombras profundas
armazenadas em nossa inconsciência e também complexos que possuimos e
acabamos nos vendo no outro sem termos consciência do processo de
espelhamento e acusando o outro, pois é muito mais fácil acusar do que se auto-
acusar.
53

Jung, Freud e Adler não conheceram durante a sua existência e na história


qualquer ser humano que tenha conseguido enfrentar sozinho as potências do seu
inconsciente, pois o indivíduo precisa de ajuda externa seja ela qual for, religião,
ritos, em suma, de algo que o ajude a ir ao encontro da conscientização e a
confrontação com a Sombra.

9.2 Complexos

A repressão é um dos processos que se inicia na primeira infância, sob a


influência do ambiente em que vivemos e posteriormente pelo processo e percurso
natural da vida. O inconsciente é esvaziado, como que abolido, mas na realidade a
produção de fantasias sexuais infantis prossegue até a velhice, segundo teoria
freudiana. Em sua totalidade o inconsciente compreende não só os materiais
reprimidos, mas todo tipo de material psíquico que subjaz ao limiar da consciência.
O inconsciente jamais se acha em repouso, jamais é anestesiado, está
sempre empenhado em agrupar e reagrupar informações que recebemos através
dos nossos sentidos e da energia psíquica individual e coletiva.
O segredo partilhado em nós é tão construtivo quanto destrutivo, é um
segredo estritamente pessoal. Este tem ao mesmo tempo efeito de sentimentos
como a culpa, a infelicidade, a angústia e muitos são portadores conscientemente
dos seus complexos, mas a maioria deles são inconscientes.
O complexo desenvolve uma atividade própria.
A psicologia moderna tem em comum com a Física moderna o fato de que
seu método dá um significado maior ao objeto, ou seja, explica como funciona a
questão da energia psíquica com conceitos limitados, quando na verdade é ilimitado
nas suas definições, difíceis de serem interpretadas.
Dependendo da experiência de vida de cada pessoa, o valor dessas
experiências vai somatizando-se naturalmente, mecanismo pelos quais os
complexos tivessem vida própria, vão assimilando os fatos e começa o indivíduo a
experimentar desagradáveis sensações perturbadoras.
A situação exterior desencadeia no indivíduo determinados conteúdos, ou
pode-se dizer também que constela. A constelação é um processo automático que
54

ninguém pode deter por própria vontade. Quando a experiência vivenciada está
associada, os complexos em geral influenciam no comportamento do sujeito em alto
ou médio grau, provocando reações perturbadoras e provocam no indivíduo um
determinado tipo de reação, ou seja, uma defesa própria que pode até ser notada
por outras pessoas em sua volta, pelo fato de não mais ser psiquicamente
individual, pois ela passa a ser coletiva, outros captam tais complexos, percebem e
às vezes até comentam.
Conforme Jung, na sua obra “A Natureza da Psique”, é a imagem de uma
determinada situação psíquica de forte carga emocional, incompatível com as
disposições ou atitude habitual da consciência. Esta imagem é dotada de poderosa
coerência interior e tem sua totalidade própria e goza de um grau relativamente
elevado de autonomia, vale dizer: está sujeita ao controle das disposições da
consciência até certo limite e se comporta na esfera do consciente, como um corpo
estranho, animado de vida própria. Com algum esforço de vontade, pode-se em
geral, reprimir o complexo, mas é impossível negar a sua existência, e na primeira
ocasião favorável ele volta à tona com toda a sua força original. (A natureza da
psique – C.G. Jung – Ed. Vozes, pág. 31).
Em Matrix, Neo busca a escolha moral pela verdade, a liberdade simbolizada
pela humanidade, vive uma crise que ao desenrolar do compromisso ora assumido,
ou seja, a Persona que ele assume, decide despertar e viver de acordo com a
verdade que ele passa acreditar, passando a ser prático e objetivo em suas
escolhas. Mas há momentos em que ele se depara com os seus complexos que
estão associados a sua Sombra, quando enfrenta Smith em diversas situações.
Enquanto isso, Morpheus tem em mente uma separação da Matrix, não a
simples liberdade individual para lutar pela felicidade individual separada, mas a
participação de um destino cuja meta final é a liberação maior da humanidade. Essa
meta não pode ser meramente replicação na realidade de nosso assim chamado
mundo moderno, mas o auge da civilização, um mundo diferente, um mundo
melhor, um mundo de perfeição humana que combina com a liberdade e felicidade.
Trinity distingue apenas entre a ilusão da sua existência por ser um programa
da realidade virtual da Matrix e a mera existência física com suas ilusões e paixão
pelo Neo, de forma egocêntrica ela toca numa realidade a qual lhe convém, o
contraste do mundo ilusório da Matrix e o mundo das percepções comuns das
55

pessoas que estão a bordo da nave, como ponto de partida para a exploração do
mundo irreal, dito como Matrix, onde ela é completada pelo Ego e sua Persona e a
sua força que é a Anima de Neo. Neo apresenta-se como o Animus de Trinity. Mas
ambos possuíam também complexos que só eram percebidos quando entravam no
mundo virtual por conviverem com espelhamentos em outros Personagens no
desenrolar da história.
Neo preservava a sua liberdade e a coloca em perigo na beira do edifício
onde ele trabalha. Ele deixa o temor governar sua mente e suas ações. A segunda
vez que ele enfrenta o medo de cair ocorre na construção da realidade virutal. Ele
está sendo iniciado no poder de manipular a ilusão. Está descobrindo a excitação
de viver conscientemente na ilusão.
Morpheus diz a Neo: você precisa desapegar-se do medo, o segredo está em
descobrir o seu poder pessoal e liberar o medo, dúvida e descrença. Liberte a sua
mente.
Neo cai no abismo, somente para descobrir a natureza ilusória de seus
temores. E, no entanto, na forma física, Neo ainda sangra. Por quê? Neo: “Achei
que não era real”.
Morpheus explica: “A sua mente torna isso real, não existe o irreal para a
mente.” Se você é morto na Matrix, morre aqui também no mundo virtual ou vice
versa. O corpo não pode viver sem a mente. (Willian Irwin – Matrix Bem-vindo ao
deserto do real, pág. 175).
Não é difícil ver que os complexos indubitavelmente pudessem ser
inventados ou imaginados pelo sujeito, pois o doente precisa se empenhar de
alguma forma para assegurar a sua saúde e sua sobrevivência, buscará recursos
externos e internos para promover a cura. Assim, ocorreu com Neo no filme The
Matrix, ele precisou sofrer, fazer o enfrentamento da Sombra e dos complexos para
poder se libertar deles de forma que eles não o abandonariam, mas ele saberia lidar
com todas as situações munido com os seus recursos internos conscientes e
inconscientes. O enfrentamento é a cura de muitos complexos.
9.3 Ego

De acordo com Jung, a princípio a psique é apenas o inconsciente. O Ego


emerge dele e reúne numerosas experiências e memórias, desenvolvendo a divisão
56

entre o inconsciente e o consciente. Não há elementos inconscientes no Ego, só


conteúdos conscientes derivados da experiência pessoal.
O Ego é o representante da consciência na psique e costuma ser
representado nos mitos e lendas na figura de um herói.
O Ego é a identidade pessoal, aquilo que chamamos de “eu”. É o centro
ordenador do nível consciente, mas representa uma pequena parte da psique.
O Ego é responsável por nossos sentimentos de identidade e continuidade.
Do ponto de vista da própria pessoa é encarado como sendo o centro da
personalidade. O Ego não foi produzido pela natureza para seguir ilimitadamente os
seus próprios impulsos arbitrários, mas sim para ajudar a realizar, verdadeiramente
a totalidade da psique.
O Ego irá reclamar quando suas vontades ou desejos forem tolhidos e
projetará essa frustração sobre qualquer objeto exterior (a economia, Deus, vizinho,
trabalho, etc.). Algumas vezes tudo parece estar bem com a Persona, mas no
íntimo ela sente tédio e um vazio mortal. Há também o perigo de identificação com
a Persona. Aqueles que o fazem tendem a tentar tornarem-se perfeitos demais,
incapazes de aceitar seus erros ou fraquezas, ou quaisquer desvios de sua auto-
imagem idealizada. Aqueles que se identificam totalmente com a Persona tenderão
a reprimir todas as tendências que não se ajustam e a projetá-las nos outros,
atribuindo a eles a tarefa de representar aspectos de sua identidade negativa
reprimida.
A consciência reflete sempre a individualidade e unidade do ser humano, ela
é o campo mental onde o individuo se dá conta de si e do mundo através da
percepção pela sensorialidade (senso-percepção). Ela é composta por um conjunto
integrado de sistemas mais ou menos autônomos: vontade, desejo, lógica e
emoção. São sistemas volitivos os quais muitas vezes temos vontade de fazer algo,
mas temos medo. Sentimos desejo por algo que reconhecemos nos ser prejudicial,
sabemos que uma da atitude é a mais lógica ou moralmente correta, mas tomamos
atitude oposta, etc.
O complexo do ego, entretanto, é diferente dos outros complexos, porque se
impõe como centro da consciência e atrai para si os demais conteúdos conscientes,
visa também, mais do que outro complexo, a totalidade.
57

No segundo filme, Neo é alçado a um patamar de semi-Deus pelos seus


amigos e habitantes da cidade Zion. Não apenas ele libertou-se, como dominou o
código da Matrix. Neo fica um pouco desconfortável com o assédio, mas seu Ego se
acomoda bem à posição de herói e sua autoconfiança dentro da Matrix é visível e
perigosa.
Para Jung (JUNG, Murray Stein. O Mapa da Alma. São Paulo: Cultrix, 2000.), o
Ego é o sujeito da ação consciente. O primeiro complexo a se formar, sendo o
centro da consciência. Estrutura-se com base no inconsciente e é muitas vezses,
confundido com o centro organizador do aparelho psíquico. Conhecer a si mesmo,
para Jung, não é conhecer o Ego, mas o centro organizador, que é o Self. O
processo de desenvolvimento da individuação consiste em diferenciar o Ego de
suas estruturas arquetípicas auxiliares.
Embora Jung estivesse mais interessado em descobrir o que havia por baixo
da consciência, nas regiões interiores da psique, ele também assumiu a tarefa de
descrever e explicar a consciência humana.
Jung tinha uma noção perfeita de que a consciência do Ego é a ferramenta
perfeita para investigação psicológica. O nosso conhecimento como seres humanos
sobre qualquer coisa é condicionado pelas capacidades e limitações da nossa
consciência.
Murray Stein (2000, pág. 22), diz que a importância de estudar e entender a
natureza da consciência do Ego é a necessidade de proceder os ajustes para a
distorção.
Disse Jung que toda a psicologia é uma confissão pessoal. Nem tudo parece
ser verdadeiro até para a consciência do mais sério e mais sincero investigador
constitui necessariamente um conhecimento preciso. Muito do que passa por ser
conhecimento entre os seres humanos é na realidade, após inspeção mais rigorosa
e mais crítica, mero preconceito ou crença baseada em distorção, prevenção,
boato, especulação ou pura fantasia.
Jung, portanto, escreve muito sobre consciência do Ego em grande
parte de suas obras publicadas. Refere-se frequentemente ao Ego como um
complexo.
O termo Ego refere-se à experiência que a pessoa tem de si mesma
como um centro de vontade, de desejo, de reflexão e ação. Essa definição do Ego
58

como o centro da consciência mantém-se constante do começo ao fim dos escritos


de Jung.

9.4 Persona

A Persona é a forma pela qual nos apresentamos ao mundo. É o caráter que


assumimos, através de máscaras, papéis que desenvolvemos desde o momento
em acordamos ao deitarmos. Jung retrata bem esse conceito como a função
psíquica relacional voltada ao mundo externo, na busca de adaptação social. A
Persona inclui nossos papéis sociais, o tipo de roupa que iremos usar, nosso estilo
de vida, o nosso vocabulário, a nossa imagem positiva ou negativa. O termo
Persona é derivado da palavra latina equivalente a máscara, se refere às máscaras,
usadas pelos atores no drama grego para dar significado aos papéis que estavam
representando. As palavras “pessoa” e “Personalidade” estão relacionadas a este
termo.
A Persona possui aspectos tanto positivos quanto negativos. Um indivíduo
pode ser dominado pela Persona e abafar a sua verdadeira identidade, se
identificando com aquele tipo de Persona em termos superficiais, assumindo papéis
sociais ou apenas por fachada. A esse tipo de comportamento, Jung chamou de
Persona e Arquétipo da conformidade. A Persona não é totalmente negativa. Ela
serve para proteger o Ego e a Psique das diversas forças e atitudes sociais que nos
invadem diariamente.
A Persona é um instrumento precioso para a comunicação tanto verbal,
quanto não-verbal. Nos dramas gregos, as máscaras dos atores, eram desenhadas
de forma audaciosas, elas informavam a toda platéia a forma ou tipo de papel
predominante naquele ator, se era positivo ou não. À medida em que começamos a
agir de determinada forma, desempenhamos um papel, ou seja, usamos uma
máscara, o nosso Ego se altera gradualmente em conseqüência do papel que
estamos assumindo naquele momento.
Por exemplo: se eu sou gerente de operações em uma fábrica de calçados,
me dedico de corpo e alma, sou promovida para Diretora de vendas, ou seja, irei
assumir uma nova postura tanto profissional, quanto social e pessoal. Isso irá
59

interferir de forma natural no Ego que mudará a sua conduta em conformidade


como o que estou vivenciando.
Os símbolos também influenciam a Persona, pois inclui objetos que usamos
para nos cobrir, como: roupas, sapatos, toalhas, etc. Os símbolos de um papel tipo
um documento oficial com logomarca de uma empresa, e símbolos de status como:
carros, jóias, casa, etc. São símbolos que podem enfraquecer o Ego. Uma pessoa
com a Persona forte pode aparecer vestida de forma exagerada ou constrangida
por um excesso de roupas. Uma pessoa com Persona fraca poderia aparecer
despida e exposta. Uma expressão possível de uma Persona extremamente
inadequada seria o fato de não ter pele.
No filme surge um combate de Neo com o agente Smith. Neo fica espantado
ao ver como ele está mais forte, e tem de fugir para não perder o combate. Esta
cena deixa claro que há uma relação complicada entre os dois, que ambos podem
usar sua intuição, mas ambos se detestam, como visto anteriormente um é a
Sombra do outro e isso implica que um é o instrumento de evolução do outro. Ao se
atacarem, ambos necessitam provar que um deles é mais forte e poderoso. A
Persona toma conta do Ego de tal forma que ambos se sentem semi-deuses
dominando o território e buscando uma posição de super-homem. Necessitam
assumir papéis com o propósito de produzir uma impressão definitiva para simular a
sua verdadeira identidade e natureza como indivíduo.

9.5 Self

Para Jung, Self é o arquétipo central, uma ordem e totalidade da


Personalidade do indivíduo. Segund Jung, consciente ou inconsciente não estão
necessariamente em oposições um ao outro, mas se completam mutuamente para
forma uma totalidade.
Para Jung, o Self é uma figura que aparece em muitos sonhos ou imagens
de forma impessoal, como um círculo, mandala, cristal ou pedra, ou até mesmo a
forma pessoal como um casal real, uma criança divina, ou na forma de outro
símbolo que represente a divindade. Todos os símbolos para Jung formam a
60

totalidade, unificação, reconciliação de polaridades, equilíbrio dinâmico, objetivos de


um processo de individuação. O Self é um fator interno e não externo, mas precisa
do Ego como consciência quanto o inconsciente, pois ele é o centro dessa
totalidade, tal como o Ego é o centro da nossa consciência.
Segundo Jung, todo indivíduo precisa passar pelo processo de individuação
para alcançar o seu desenvolvimento, polimento, ou seja, a individuação significa
tornar-se um ser humano único, como se unisse corpo, mente e espírito em um
único sistema.
Podemos resumir que o processo de individuação é uma forma de levar o
sujeito ao encontro de si mesmo, ou seja, a sua verdadeira identidade, a realização
de si mesmo, liberdade, integração entre Ego, Persona, Sombra, Anima, Animus e
outros arquétipos inconscientes. Em suma, o equilíbrio de ambos os sistemas. De
acordo com Carl Gustav Jung: “Não posso lhe dizer como é um homem que goza de
uma completa auto-realização, nunca vi nenhum...Antes de buscar a perfeição, devemos
viver o homem comum, sem mutilação”.

9.6 Anima e Animus

C.G. Jung postulou como sendo uma estrutura inconsciente que representa a
parte sexual oposta de cada indivíduo, pois denomina estrutura de Anima no
homem e Animus na mulher. Esta estrutura psíquica básica funciona como um
ponto de convergência para todo material psíquico que não se adapta à auto-
imagem consciente de um indivíduo como homem ou mulher.
Na medida em que uma mulher define a si mesma em termos femininos, o
seu Animus vai incluir algumas tendências e experiências dissociadas ao que ela
definiu como masculinas.
Jung dizia que todo homem carrega dentro de si uma eterna imagem da
mulher, não a imagem desta ou aquela mulher, mas uma imagem feminina
definitiva. Essa imagem pode ser uma marca ou arquétipo de todas as experiências
ancestrais do feminino, um depósito de todas as impressões doadas pela mulher.
61

Essas imagens são inconscientes e ela é sempre projetada na pessoa amada e é


uma das principais razões pelas atrações ou aversões apaixonadas.
De acordo com a teoria de Jung, o pai do sexo oposto ao da criança é uma
importante influência no desenvolvimento da Anima ou Animus, e todas as relações
com o sexo oposto, incluindo os pais, são intensamente afetadas pela projeção das
fantasias da Anima ou Animus. O arquétipo do Anima ou Animus foi considerado
por Jung sendo um dos mais influentes reguladores do comportamento humano. Ele
aparece em sonhos e fantasias como figuras do sexo oposto, funciona como um
mediador fundamental entre os processos inconscientes e conscientes do indivíduo.
Ele é orientado para os processos internos, da mesma forma como a Persona é
orientada para processos externos.
Quando o inconsciente mistura o masculino e o feminino, tudo se torna
indiferenciado, não é mais possível estabelecer diferenças de espécie alguma, da
mesma forma que Cecrops veio de uma distância tão mítica, que ninguém poderia
dizer se ele era homem ou mulher, humano ou ofídio. Vemos então que o fundo da
cisterna é caracterizado pela completa união dos opostos. Aí está a condição
primordial das coisas e que é também por si um fim ideal, por ser a integração de
elementos eternamente opostos. O conflito chegou ao fim, tudo está parado, ou
mais uma vez no estado inicial de harmonia indistinta. A mesma idéia encontra-se
na antíga filosofia chinesa. A condição ideal é denominada Tao, e consiste na total
harmonia entre o céu e a terra.
No anexo, a figura nº 2 representa o símbolo do equilíbrio, ou seja, de um
lado é branco com um ponto preto e o outro é preto com um ponto branco. O lado
claro representa o calor, o seco, o princípio de fogo, o sul; o lado escuro é o
princípio frio, negro, úmido, o norte.
A imagem representa o começo do mundo, onde ainda nada teve princípio. É
também a condição a ser alcançada pela atitude da sabedoria superior. A união dos
dois princípios, masculino e feminino, é a imagem arquetípica. (Fundamentos de
Psicologia Analitica – C. G. Jung – Ed. Vozes).
No filme The Matrix, observamos que Neo fica cego em uma das cenas, que
representa simbolicamente perdido, cercado pela escuridão e é guiado pela mão de
Trinity, que pilota a nave até atingirem o objetivo da sua missão que é ir ao encontro
das cidades das máquinas. Trinity seria a Anima de Neo por ter uma Personalidade
62

oposta a dele, estimulando o desejo de união. Geralmente a Sombra leva a pessoa


ao encontro com a parte indesejada da Psique total, as suas qualidades inferiores.
Mas a estrutura da Anima e Animus leva a pessoa a níveis muito mais profundos do
Self, por estar ancorada nos aspectos do inconsciente coletivo e arquétipos.
Portanto, ao meu modo de interpretar, deduzo que a Trinity era de fato a Anima e
salvação, a luz no fim do túnel, o caminho que gerou em Neo a força e coragem que
ele precisava para lidar com os seus inimigos, levando-o à redenção, ou seja, à luz.
Foi através dela que ele conseguiu manifestar as suas verdadeiras potencialidades
inatas.

9.7 Prisão da Mente no Mundo Real e Irreal

O que seria a prisão da mente em um mundo real ou irreal? Antes de


responder a essa pergunta, é necessário irmos ao encontro de alguns conceitos
básicos, como conceito do mundo real. Como vimos no início deste trabalho,
entendemos que o mundo real é de forma geral um conteúdo de consciência
constituída por algo concreto, imagem que é percebida pelos nossos sentidos e
mediada pelo sentimento ou pensamentos conscientes.
Depois temos o conceito do inconsciente coletivo como material reprimido de
conteúdos e percepções de processos reais exteriores que passam para um lado,
como se fossem resíduos reconstruindo uma imagem do mundo inconsciente que
resultará numa imagem que mostrará outra realidade para o exterior, ou seja, para
a consciência. O inconsciente coletivo contém uma imagem especular do mundo.
Um mundo de imagens.
Outro conceito a darmos é sobre a consciência coletiva como uma ampla
medida de mundo inconsciente. O indivíduo coloca-se de certa forma, no meio,
entre a parte consciente e a parte inconsciente da Psique coletiva. O indivíduo
passa a ser uma espécie de superfície do espelho, na qual o mundo da consciência
pode ver refletida sua imagem histórica inconsciente, da mesma forma que, no dizer
de Schopenhauer, o intelecto coloca o espelho diante da vontade. O indivíduo seria
um ponto ou uma linha divisória, nem consciente e nem inconsciente, ou melhor,
dizendo, ambas as coisas, algo de consciente e de inconsciente.
63

No filme The Matrix, Neo experimenta a não-mente, ou o não-refletir. Quando


uma bala disparada pelo agente Smith o atinge no coração e ele morre, Trinity não
aceita o fato e abandona o medo e ali revela o seu verdadeiro amor por Neo. Esse
amor faz com que ele ressuscite. O abandono do medo, um produto de reflexão, é
uma centelha que emana dela e dá poder a ele para abandonar também suas
antigas dúvidas e despertar de novo, porque agora ele passa acreditar que é o
Escolhido.
Nesta cena específica, observa-se um exemplo de o amor que pode salvar
vidas. A crença de Trinity em si mesma afetou a crença de Neo em si mesmo. As
crenças de ambos são um abandono do medo e da dúvida que acompanham suas
mentes detidas por reflexão.
O filme Matrix mostra dois lados do espelhamento, um que é refletir e não
refletir sobre a questão do mundo real sendo uma ilusão e a liberdade da mente
para distinguir o que é o mundo dos sonhos e o mundo real, pois deduz que o
mundo dos sonhos é o mundo irreal.
Acredito que a prisão da mente está fortemente ligada às nossas crenças e
como estamos nos vendo ou vendo o mundo em nossa volta.
Podemos dizer que a nossa mente e os nossos sonhos são uma Matrix. O
mundo moderno é furto da Matrix.
Vivemos no século XXI com enfrentamento de nossas sombras e nos
espelhamos no outro, quando não fugimos desesperadamente de nós mesmos.
Supomos que vivemos num mundo real porque estamos usando a nossa
percepção através dos nossos sentidos: audição, paladar, olfato, visão e audição.
Somos prisioneiros das nossas mentes, acreditamos que o mundo existe de modo
como se mostra, ou soa ou é captado.
Deve ser levado em consideração também, a questão da imaginação em
inibir os estímulos sensoriais que leva para o cérebro induções com aquilo que foi
imaginado, quando a pessoa está, por exemplo, em estado de fluxo ou uma
sincronização mental.
Este fato é de real importância, pois vem provar que o neurônio age quando
induzido e dá inicio ao exercício funcional, isto é, indução de neurônios.
Quando uma criança se machuca, por exemplo, ela chora e vai em direção à
sua mãe. Logo a sua mãe vai acalmá-lo, beijar a área machucada e dirá a ele que
64

já passou. A criança acredita nas palavras de sua mãe e os seus neurônios são
estimulados, isto significa que a criança foi induzida pelos neurônios, pela indução
do beijo e este anulou a dor, voltando a brincar.
Quando induzimos os neurônios, estes reagem verdadeiramente, inclusive
contra a verdade captada pelos órgãos sensoriais.
Quando pensamos, estamos afirmando, para o cérebro são programas
mentais, logo os neurônios são estimulados e passamos acreditar em um mundo
real ou irreal, dependendo do contexto em que estamos vivenciando naquele
momento, seja acordado ou dormindo.
Quando estamos assistindo um filme, por exemplo, os nossos neurônios são
estimulados, se o filme é de drama, logo sentiremos angustia, medo, depressão,
podemos inclusive chorar, dependendo dos efeitos sensoriais estimulados. É como
se passássemos a sermos os próprios personagens do filme.
The Matrix ainda hoje faz sucesso pelo fato de ser um espelho que todos nós
possuímos, não importa a crença, raça ou formação que tenhamos, mas
constituindo-se em um eco de nossas mentes, um eco de nossas almas que fala em
silêncio.
65

CONCLUSÃO

O trabalho apresentou uma análise da trilogia do filme The Matrix baseado


nos estudos de Carl Gustav Jung, a contribuição dos sonhos para o
desenvolvimento do autoconhecimento, com a finalidade de buscar a integração do
individuo em sua totalidade: o movimento dos conteúdos emocionais, a
transformação e o polimento através do processo de individuação.
Vivemos a época da emulação, da criação de novos sistemas e de
parâmetros cada vez mais complexos, esquecendo, por vezes, que o homem é
antes de tudo um vertebrado, mamífero, da ordem dos primatas, “homo erectus” e
que só muito tempo depois tornou-se “homo sapiens”. A compreensão inteligente do
desenvolvimento humano precisa basear-se no esclarecimento da natureza da
ciência emergente do crescimento humano, e na percepção dos métodos para
investigar a continuidade e transições do desenvolvimento.
O homem moderno vive num estado de baixa auto-estima e vitalidade. O seu
mundo externo lhe oferece amplas oportunidades de enriquecimento e diversão,
apesar de tantas possibilidades, mas a maioria não sabe o que realmente quer de
sua vida, por isso, se sente incapacitado de imaginar como alcançar a verdadeira
felicidade. Sequer aborda a aventura de viver em excitação ou interesse. Parece
sentir que o tempo é o caminho para a diversão, prazer, crescimento e
aprendizagem, e abdica da vida em si. Quando este atinge a maturidade, reduz a
vida em uma série de exercícios verbais e intelectuais. Substiui o processo de viver
pelas explicações psiquiátricas da vida.
Compreender o comportamento humano é uma meta da Psicologia
Junguiana, visando atingir o processo de individuação que levará o individuo ao seu
autoconhecimento e logicamente a satisfação e a auto-sustentação.
Outro aspecto importante a ser levado em consideração são as inúmeras
crenças e valores que possuímos e na maioria não são nossas, mas adquirimos ao
decorrer de nossa existência, somos preparados desde a infância a encararmos um
mundo dito para nós como um mundo real e é assim que tudo funciona, o que
chamarei de Matrix. Somos prisioneiros de nós mesmos, assumimos diversos papeis
66

na vida, usamos muitas máscaras e tentamos disfarçar o que é real ou irreal. Então
pergunto: afinal quem somos nós?
Deduzimos que o real é aquilo que é valioso e vivenciamos, aspectos
positivos ou negativos através dos nossos sentidos. Os nossos sentidos (visão,
audição, tato, paladar e olfato), retratam uma estrutura física, tangível e consciente
sobre as nossas emoções. O irreal também envolve todos os nossos sentidos e
assumem funções interessantes quando sonhamos. Assim, baseado na trilogia do
filme Matrix, busquei avaliar o comportamento humano, quando este se encontra no
mundo real ou irreal, os sonhos e as suas reações, transferências, psique e
informações arquetípicas.
Para facilitar a execução desta monografia, busquei a percepção e atitudes
dos personagens do filme The Matrix e particularmente alguns sonhos meus e de
uma paciente, com relação aos processos dos sonhos, a recuperação e
preservação de algumas informações valiosas para construção de uma conclusão
cientifica quanto ao fenômeno.
Na terapia Junguiana, exploramos os sonhos e fantasias, pois para nós terapeutas
Junguianos, os sonhos são diálogos internos que estabelecem uma ligação com a
consciência (corpo). A doença psíquica é uma separação rígida do Ego e do Self.
Todos sabem que o mundo é programado por uma matriz, essa matriz seria a lei, os
governantes, o poder, as regras, as limitações, as verdadeiras ou falsas crenças e valores
que damos a elas, enfim, a matriz está presente na nossa vida o tempo todo, vivemos num
mundo real e irreal ao mesmo tempo. Assumimos diversos papeis na vida, imaginamos e
acreditamos em certas coisas que precisamos para sobrevivermos e nos adaptarmos ao
meio ambiente em que vivemos. Somos origem de uma matriz internamente e
externamente. O nosso cérebro é uma Matrix onde tudo é possível sem barreiras e sem
limitações.
A nossa imaginação inibe os estímulos sensoriais e leva o cérebro a reagir com as
auto-induções, com aquilo que foi imaginado, principalmente quando a pessoa está em
estado de fluxo, uma sincronização mental. Quando uma criança se machuca, por exemplo,
ela vem chorando em direção a sua mãe, mas esta beija o local machucado (o neurônio é
estimulado), anulando a sensação de dor e a criança volta a brincar. Isto significa que foi
induzido o neurônio, pela indução do beijo, e este anulou a dor.
A imaginação, o pensamento, as afirmações positivas ou negativas, seriam, portanto,
uma indução, onde os neurônios providenciam a anestesia, certo fenômeno de neutralizar
67

os sentidos. Quando induzimos os neurônios, estes reagem verdadeiramente, inclusive


contra a verdade captada pelos órgãos sensoriais.
Portanto, concluo a minha monografia acreditando que o nosso corpo, mente e
espírito é um sistema único, que forma a totalidade de nossa existência como ser
existencial, onde a mente se interage como uma energia psíquica consciente e inconsciente
com todos os sistemas. Quando um desses sistemas é afetado, todos os demais também
são automaticamente. Estão ligados por uma energia psíquica que forma a totalidade.
Porém, para que haja harmonia entre os sistemas, é preciso que o indivíduo tome
consciência da importância da união dessa totalidade: Ego, Persona, Sombra, Anima,
Animus, Self, mente Consciente e Inconsciente (individual e coletiva), Sonhos, Símbolos,
Arquétipos, Complexos e Psique.
Essa talvez seja a missão dos sonhos, o mundo real ou irreal que precisamos
enfrentar dentro de nós mesmos, pois o mundo da consciência e da inconsciência
são coletivos e individuais. O sujeito é o espelho do mundo e o mundo é o espelho
do sujeito. Somos cobaias de nós mesmos e os nossos próprios curandeiros. Jung
conhecia todas essas dificuldades e também foi cobaia para poder compreender o
resultado das aplicações de suas teorias e vivenciou por algum tempo um mundo
real e outro mundo irreal. Tinha visões e considerou essas visões como arquétipos,
mas nunca obteve a resposta concreta. O inconsciente envia símbolos ao
consciente aos poucos e promove o aumento da compreensão de forma automática
através dos sonhos.
Observando a minha vida particular, compreendi que também vivo num
mundo real que criei acreditando ser real, mas quando comecei a desenvolver este
trabalho cientifico, percebi que vivo em algumas particularidades um mundo irreal
que se tornou uma realidade e compreendi o porquê de algumas insatisfações
interiores, porque estava justificando uma irrealidade a qual faz parte da minha
realidade, mas que não aceito fazer parte do mundo real, portanto, criei uma outra
realidade sobre está e que hoje entendo ser irreal.
Para melhor compreender, descobri que a profunda angustia que sentia, estava
baseada em camuflar o conflito interno, não fazer o enfrentamento com a sombra,
não permitir o processo de individuação e assim criei mecanismos próprios de
defesa, ou seja, um mundo irreal que passou a ser real, como forma de justificar ou
ocultar a sombra.
68

Acredito que muitos de nós passamos por processos parecidos, buscando


justificativas, formas de se criarmos mundos reais e irreais para lidarmos com nós
mesmos e com todos em nossa volta.
Somente quando aceitarmos de fato quem somos, ficarmos conscientes que
precisamos nos harmonizar com os nossos sistemas, nos tornarmos únicos,
seremos uma totalidade completa, então conseguiremos obter a nossa verdadeira
identidade.
69

REFERÊNCIAS

IRWIN, W. Matrix Bem-Vindo ao Deserto Real. São Paulo: Madras, 2005.

JUNG, Gustav C. A Natureza da Psique. Petrópolis: Vozes, 1971.

_____________ AB-Reação, Análise dos Sonhos, Transferência. Petrópolis:


Vozes, 1999.

_____________ Fundamentos de Psicologia Analítica. Petrópolis: Vozes, 2004.

_____________ Psicologia do Inconsciente. Petrópolis: Vozes, 2004.

_____________ Memórias, Sonhos e Reflexões. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 2006.

STEIN, Murray. JUNG O Mapa da Alma. São Paulo: Cultrix, 2000.


70

ANEXO

1. Figura nº 1

Representa os sistemas: corpo, mente e espírito. Sistemas ligados que


formam a totalidade do ser humano: Sombra, Complexos, Ego, Persona, Self,
Anima e Animus (Capitulo IX, pág. 46 a 59).

2. Figura 2 –
Sinopse do filme

E se tudo o que você vê for apenas uma simulação de computador? O filme


Matrix provoca esta idéia... Existem duas realidades: uma que consiste na vida que
levamos todos os dias e, outra, no que está por trás disso. Uma é um sonho. A outra
é a "Matrix". "Neo, você já teve um sonho que achasse que foi real? E se você fosse
71

incapaz de acordar desse sonho, Neo? Como saberia diferenciar o mundo do sonho
do mundo real?"
Neste filme, a personagem Neo está procurando desesperadamente a verdade
sobre a "Matrix" - algo que ele ouviu através de sussurros - algo misterioso e
desconhecido -, algo que, Neo tem certeza, exerce um controle impensável e sinistro
sobre a sua vida.
O que é "Matrix"?
Neo acredita que Morpheus, uma pessoa que ele conhece apenas através da lenda,
uma figura fugitiva considerada o homem vivo mais perigoso, pode dar-lhe a
resposta.
Uma noite, Neo é contatado por Trinity, uma bela estranha que o leva para um outro
mundo, um submundo onde ele finalmente encontra Morpheus e descobre, sozinho,
a verdade sobre "Matrix". Ninguém lhe contará o que é "Matrix". Você tem que
descobrir sozinho. Afinal, Morpheus apenas conhece o caminho. Neo é quem terá
que percorrê-lo.
Lá, Neo depara-se com outra pergunta, tão perplexa quanto a primeira:
Será que ele é Ele?
Antes que consiga compreender o que isso significa, Neo tem certeza de que a
resposta é "não". Alguns, como o colega de Morpheus, Cypher, concordam. Outros,
não têm muita certeza. Há, ainda, aqueles que protegem a "Matrix". Liderados pelo
obstinado e, literalmente, indomável Agente Smith, eles têm métodos para obter
informações que surpreendem e aterrorizam.
Neo, Morpheus e Trinity precisam lutar brutalmente por suas vidas contra esse
bando poderoso para encontrarem as respostas que procuram, para entenderem
seus papéis nesse drama épico que se desdobra em volta deles, para conhecerem
suas verdadeiras forças e para reconhecerem seus destinos. Cada movimento, cada
segundo, cada pensamento é crucial se quiserem se libertar da "Matrix" e da
existência que ela representa. De acordo com Thomas H. Huxley (1868): “O
tabuleiro de xadrez é o mundo; as peças são os fenômenos do Universo; as regras
do jogo são o que chamamos de Leis da Natureza.O jogador no outro lado está
oculto a nós” (grifos do autor).
72

Vous aimerez peut-être aussi