Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Faculdade de Letras
Maio 2017
Antecedentes
O que é que leva a um país dilacerado pela guerra afundar-se ainda mais num abismo sem
fim? Quais foram os motivos para este país entrar numa luta pelo poder que o destruiu
por completo, quando no final de contas o que toda a gente deseja é a paz? Porque é que
não foi possível resolver os conflitos de forma politica?
Para todas estas questões temos que recuar até 1961, este ano marca o começo da guerra
colonial ou a guerra da Independência de Angola. Este conflito dá-se quando Portugal
ainda estava em regime ditatorial e foi travada entre as forças armadas portuguesas e
vários movimentos nacionalistas da época. Após de desejos de descolonização por parte
de intelectuais e países africanos vizinhos, frustração de abusos e maus tratos, varias
revoltas, descontentamentos, repressão e desejos de autodeterminação e nacionalismo
pelo o povo angolano, deu-se o ataque a uma esquadra da policia e uma prisão em Luanda
por parte do MPLA em 4 de Fevereiro de 1961, este acontecimento marca o início da
guerra colonial. Este movimento anticolonialista, o MPLA foi um dos três que combateu
contra as forças portuguesas e posteriormente contra os outros movimentos na guerra
civil. Estes partidos, intervenientes nesta primeira guerra e depois cabaça de cartaz da
guerra civil são: o Movimento de Libertação Popular de Angola (MPLA) liderada por
Agostinho Neto e depois por José Eduardo dos Santos, a União Nacional para a
Independência Total de Angola(UNITA) sendo Jonas Savimbi o líder e a Frente Nacional
de Libertação de Angola (FNLA) liderada por Roberto Holden, tendo sido fundados em
1956, 1966 e 1954 respetivamente. Ambos partilhavam um desejo, a liberdade, com
queda do regime salazarista em 1974 devido à famosa Revolução dos Cravos, esta ansia
parecia ser cada vez mais realista e com o acordo de cessar-fogo entre o MPLA e a FNLA
no mesmo ano as esperanças aumentam. Com a assinatura dos acordos de Alvor um
governo de transição foi instituído e a data da independência angolana foi marcada para
11 de novembro de 1975. Apesar da assinatura deste acordo a luta armada persistiu, desta
vez pelo o controlo da capital, Luanda e pelo controlo politico de Angola. Estes combates
após a assinatura dos acordos marcam o inicio da guerra civil.
A Guerra Civil
Apos o fim do período violento da guerra pela independência, houve um período de paz
e fé de que as coisas iriam tomar uma virada para o melhor. Essa virada de facto
aconteceu, mas foi para o lado negativo. Logo após o fim da guerra colonial havia uma
duvida, quem é que iria ficar com o poder? Apesar de varias negociações foi impossível
existir um consenso que envolvesse os três movimentos para a partilha conjunta do poder.
Com o falhanço dos acordos de Alvor e a incapacidade de Portugal fazer cumprir as regras
do mesmo e o consequentemente impedimento da guerra civil, toda a esperança e fé de
paz para Angola se tinha dissipado nos confrontos iminentes e intermitentes. Desta guerra
são considerados três grandes períodos: de 1975 a 1991, de 1992 a 1994 e de 1998 a 2002.
Este primeiro período é marcado pela inicio do conflito em março de 1975 com combates
entre o MPLA e a FNLA, mas também a proclamação da independência de Angola a 11
de novembro de 1975 pelos três movimentos, em que o governo de Luanda (MPLA) é o
único reconhecido, esta altura é também caracterizada pela internacionalização do
conflito com ajudas da antiga União Soviética, de Cuba ao MPLA, da China, do Estados
Unidos da América e da Africa do Sul a UNITA, do Zaire, da China e dos Estados Unidos
a FNLA. Ao analisar este grupo de países é possível ver a influência que a Guerra Fria
exerceu neste conflito, por exemplo o MPLA, partido que à partida se assume como
marxista-leninista é naturalmente apoiado pelas suas contrapartes comunistas. Os outros
dois movimentos assumiam-se como anticomunistas de forma a receberem o apoio bélico
de outros países. Com a forte intervenção internacional, as rivalidades políticas e as
diferenças tribais destes movimentos, podemos averiguar a dimensão destrutiva deste
conflito e a sua área de influência. O objetivo já não era só a obtenção do poder, e de
recursos, era também ver quem seria o vencedor da luta entre o comunismo e o
capitalismo.
Mas porque razão Portugal não teve capacidade para intervir? O que é que impossibilitou
tal ação? Será que a transição para o anticolonialismo seria mais suave se Portugal
estivesse envolvido? E quais as consequências desta abstenção portuguesa na guerra?
As repostas parecem ser simples, Portugal simplesmente perde o controlo da situação e
deixa de ter poder para agir.
Com a descolonização houve um grande desejo de regresso à pátria por grande parte do
exercito, isto quer dizer que os soldados alistados, o corpo de oficiais do exército e até as
forças armadas destacadas para ajudar a autoridade angolana dos acordos de Alvor,
queriam sair de Angola. Acompanhando este êxodo do exército estavam os colonos
portugueses, grande parte deles constituintes do setor terciário e também de
especializações na agricultura, nos serviços técnicos, industria e exploração mineira. Com
esta imigração dos colonos residentes, a economia angolana começa a deteriorar-se apesar
de tentativas de Cuba e da U.R.S.S. para compensar estes vazios. A autoridade portuguesa
restante é incapaz de manter a paz e posteriormente colapsa. Isto é claro quando os
portugueses no governo de transição, por decisão da metrópole, entregam a soberania,
não a um partido ou um governo, mas sim ao povo angolano, saindo pouco tempo depois
do país. Neste momento Portugal apercebe-se que já não há nada que possa fazer a não
ser afastar-se da situação da “melhor forma possível”.
Se Portugal foi incapaz de travar a guerra, então que outros motivos foram a génese deste
conflito? O surgimento de elevadas quantidades de armas após o 25 de Abril, o
armamento civil, a regionalização dos movimentos associado as tribos que pertenciam e
a respetiva defesa dessa região e a crescente polarização política. Estas razões por si
mesmas talvez não teriam sido o suficiente para desencadear este confronto bélico, mas
se tivermos em conta o agrupamento de todos estes fatores e o interesse internacional,
podemos ver que Angola era o cenário perfeito para o desenrolar da violenta guerra.
Em Março de 1976 o MPLA consegue derrotar e repelir os movimentos dos rivais e mais
uma vez vai-se afirmando e consolidando o seu sistema comunista, com esta vitória o
movimento ocupava pontos vitais no Norte, nos meses seguintes vai ocupando o centro e
o sul do país, fortalecendo o controlo do governo em pontos estratégicos vitais e também
a aceitação do governo a nível europeu que leva também, a aceitação do sistema
monopartidário implementado pelo MPLA. É igualmente neste ano que a FNLA é
derrotada e retira-se do conflito, deixando apenas dois protagonistas.
A guerra, após uma paragem mínima volta a estar ativa em 1978, consequências da
guerra, este período é caraterizado pela deterioração da agricultura, pesca, industria e
produção mineira.
Com o controlo da capital assegurado, o MPLA tenta impor um sistema de caráter
soviético ao nacionalizar toda a indústria, a indústria extrativa, as fábricas e uma porção
da agricultura. Esta tentativa de economia centralizada foi a oportunidade do governo
angolano estender toda o seu poderio a toda a economia não petrolífera, visto que não
havia ninguém que pegasse nas lacunas deixadas pelos colonos que fugiram da antiga
colónia. Esta ideologia marxista-leninista praticada pelo governo não esteve só presente
na economia, foi possível ver-se em prática no ensino, na constituição e nos sistemas
jurídicos.
No inicio dos anos 80 a UNITA rejuvenescida e com grandes apoios da Africa do Sul e
dos Estados Unidos, é beneficiada com os resultados da operação “Smokeshell” em que
os sul africanos aproveitam as bases no Norte da Namíbia, invadem o Cunene e ocupam
zonas do extremo meridional desde 1981 até 1985, com o pretexto de na região estarem
instaladas bases dos guerrilheiros da SWAPO, o movimento de libertação da Namíbia,
que na altura estava em guerra com os sul africanos.
À medida que o tempo passa é possível constatar que esta guerra tem uma grande
disponibilização de recursos por parte das potencias internacionais, estas sempre com as
suas próprias agendas e interesses em Angola.
Talvez o maior confronto militar desta guerra, o cerco de Cuíto Cuanavale que aconteceu
entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988 foi um dos pontos fulcrais desta
guerra. Este confronto começa com a primeira ação militar do governo angolano e a sua
derrota com a ocupação da antiga base portuguesa de Mavinga, onde estavam
estacionados 8.000 guerrilheiros da UNITA, porem até as forças angolanas chegarem a
base recebeu um reforço de 4.000 sul-africanos. Estima-se que as forças angolanas
tenham perdido 4000 homens. As três brigadas sobreviventes do governo barricaram-se
a leste do Rio Cuíto, do outro lado da povoação de Cuíto Cuanavale, resistindo os
inimigos durante três semanas, sem defesas nem artilharia e sem comida. Com a chegada
de 15.000 soldados enviados por Fidel Castro para a ajuda as hipóteses melhoram, ambos
os lados proclamaram a vitoria deste cerco.
Com o fim deste cerco ambos os movimentos, Cuba e Africa do Sul assinam em 1988 o
Acordo de Nova Iorque, concordando com a retirada das forças internacionais da guerra
civil, o que levou, à independência da Namíbia, e à democratização da África do Sul. Esta
retirada de forças foi supervisionada pela missão das nações unidas a UNAVEM.
A 11 de Maio de 1991, o governo angolano publica uma lei que autoriza a criação de
novos partidos, significando a abolição do monopartidarismo e da ilegalidade dos outros
partidos que anteriormente tinha sido imposta.
A medida que o tempo passa, a UNITA toma as cidades importantes de Caxito, Huambo,
Uíge, M’Banza-Congo e Ntalatando, efetuando um cerco nas cidades de Cuíto, Luena e
Malange. Com o apoio do Zaire e o lucro da venda de diamantes a UNITA é capaz de
segurar estas cidades. Até aqui a situação está bastante favorável para o movimento
liderado por Jonas Savimbi até que, em 1993 o Conselho de Segurança das Nações Unidas
emite um embargo às transferências de armas e petróleo para a UNITA. Com este ponto
de viragem da situação, o MPLA contra-ataca no fim do segundo período e expulsa o seu
inimigo da maior parte das cidades que tinha adquirido. Com o crescimento das receitas
do petróleo e um estatuto internacional mais favorável, o MPLA volta a afirmar-se como
o movimento preponderante.
A 4 de Abril de 2002, em Luanda foi assinado um acordo e tréguas e também planos para
a conclusão das tarefas de Lusaka.
GUIMARAES, Andresssen, Fernando, The origins of the angolan civil war: foreign
intervention and domestic political conflict, London, Macmillan, 2001