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Resumo / Summary
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Professora Assistente Doutora da Disciplina de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP).
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Médico Residente da Disciplina de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP).
Trabalho realizado pela Disciplina de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP).
Endereço para Correspondência: Regina Helena Garcia Martins – Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP) – Departamento de
Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço Botucatu SP 18618-970.
Tel (0xx14) 6802-6256 – E-mail: rmartins@fmb.unesp.br
Artigo recebido em 06 de fevereiro de 2003. Artigo aceito em 04 de abril de 2003.
Estudos epidemiológicos apontam os nódulos vocais Foi realizado estudo retrospectivo dos prontuários
como sendo as principais causas das disfonias entre as médicos de 71 crianças (45 meninos e 26 meninas), idade
crianças, estando diretamente relacionados ao abuso vocal1- entre 3 e 13 anos, com queixas principais de distúrbios da
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. Entretanto, embora os nódulos despontem na incidência, voz, em seguimento nos ambulatórios de Foniatria da
a cada dia, na prática clínica, encontramos outras lesões Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina
laríngeas responsáveis pelas disfonias infantis como os cistos, de Botucatu (Unesp), nos últimos 5 anos. Foram excluídas
pontes, sulcos vocais, que, quando não diagnosticados as crianças com disfonias funcionais e aquelas com queixas
corretamente, podem justificar o insucesso da fonoterapia. predominantemente respiratórias, como as portadoras de
Essas lesões denominadas por Pontes et al.6, de alterações papilomatose de laringe, estenose glótica ou subglótica e
estruturais mínimas, correspondem a pequenas alterações paralisia bilateral de pregas vocais.
congênitas da configuração estrutural da laringe ou desvios Foram analisados: a prevalência sexual, a faixa etária,
anatômicos, cujo diagnóstico exige exame minucioso da os diagnósticos das disfonias (baseados nos achados da
cobertura mucosa das pregas vocais. Muitas dessas lesões laringoscopia indireta, nos exames de videoendoscopias e
podem ser diagnosticadas já na laringe infantil, sendo nas laringoscopias diretas), sintomas associados relacionados
responsáveis por grande porcentagem das disfonias entre à obstrução nasal (respiração bucal, roncos noturnos,
as crianças6. rinossinusites de repetição, alérgica nasal, etc.), os
Com os avanços tecnológicos das videoendosco- tratamentos preconizados e a evolução clínica.
pias nas últimas décadas, os diagnósticos das disfonias Todas as crianças haviam sido submetidas, inicial-
infantis estão sendo cada vez mais bem definidos, o que mente, a exame de laringoscopia indireta e exame
tem permitido um melhor direcionamento terapêutico 7. endoscópico da laringe por telescópio ou nasofibroscópio
Os exames endoscópicos detalhados das pregas vocais flexível, sendo este último reservado às crianças que não
permitem-nos observar pequenas lesões ou mesmo im- haviam permitido o exame com o telescópio. O telescó-
perfeições na cobertura mucosa, antes diagnosticadas, pio utilizado foi do tipo rígido, de 70º e 7 mm de diâme-
genericamente, de nódulos vocais. Entretanto, em mui- tro, marca Machida, modelo C4-C30. As imagens foram
tos casos, mesmos com as belas e nítidas imagens registradas através de microcâmera acoplada ao
endoscópicas, as dúvidas nos diagnósticos persistem, endoscópio (marca Olympus, modeloA10 –T2), fonte de
algumas vezes por falta de colaboração por parte das luz halogenada (marca Olympus, modelo CLV-U20),
crianças durante o exame, outras por se tratarem de di- monitor de vídeo (marca Sony 14 polegadas), videocassete
agnósticos difíceis que exigem a palpação e exploração (marca Sony, modelo SVO – 1450) e fita VHS, para gra-
das pregas vocais com instrumentos delicados, sendo vação do exame.
nestes casos necessária a indicação de exame de larin- As crianças que não permitiram o exame com o
goscopia direta sob anestesia geral para esclarecer o di- telescópio foram submetidas a exame com o nasofibroscópio
agnóstico. Este poderá ser favorecido com a inclusão flexível, marca Olympus, 3,5 mm de diâmetro, com anestesia
das endoscopias rígida e de contato, quando disponibili- tópica em fossas nasais e em oro e hipofaringe.
zadas para esses procedimentos8. Nos casos em que as os diagnósticos permaneceram
A dúvida quanto à melhor conduta terapêutica nas duvidosos, mesmo após os exames de videoendoscopias,
disfonias infantis sempre acompanha os profissionais que foi indicado exame de laringoscopia direta sob anestesia,
atuam nessa área. Em muitos casos, principalmente quando para confirmação do diagnóstico no intraoperatório.
há a hipótese de lesão estrutural mínima, a indicação da Nas crianças que apresentavam sintomas de obstrução
laringoscopia direta sob anestesia geral poderá não passar nasal, associados ao quadro de disfonia, foram analisados os
de um exame detalhado das pregas vocais, sem que seja achados do exame físico otorrinolaringológico geral, os laudos
realizado qualquer tipo de procedimento cirúrgico. Nestes dos exames endoscópicos prévios que porventura
casos, os pais devem ser esclarecidos e informados sobre constassem nos prontuários médicos, os resultados dos
essas possibilidades. exames radiológicos das fossas nasais e rinofaringe e os
A presente pesquisa tem como objetivo realizar procedimentos cirúrgicos e tratamentos clínicos pelos quais
um estudo retrospectivo das avaliações otorrinolaringo- as crianças já haviam sido submetidas.
lógicas e endoscópicas das crianças disfônicas, agendadas Na análise estatística dos dados, em relação aos
no ambulatório de Foniatria da Faculdade de Medicina diagnósticos encontrados, foi utilizado o teste de qui-
de Botucatu, nos últimos cinco anos, a fim de analisar a quadrado. Na comparação entre os sexos e a prevalência
prevalência sexual, a idade, os principais diagnósticos sexual em relação aos diagnósticos utilizou-se o teste de
das disfonias, os tratamentos adotados e a evolução clí- Goodman. O nível de significância utilizado foi de 5%
nica. (p<0,05).
Tabela I. Principais diagnósticos das disfonias observados Tabela II. Relação dos diagnósticos das disfonias infantis com
nas 71 crianças analisadas o sexo.
Figura 3. Ponte de mucosa e cisto em prega vocal esquerda. (seta). Figura 4. Sulco vocal bilateral (setas). Exame de telescopia.
Exame de telescopia.