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Doutoranda em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco. Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Per-
nambuco. Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará. Professora no curso de Serviço Social do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará. E-mail: roberta_menezes@hotmail.com
escravos” (p. 33), como também por certa pre- Ao colocarmos nossas lentes lilases 1
ferência sexual. para visualizar de maneira mais crítica a obra
A ideia recorrente na narrativa de Freyre, Casa-grande e Senzala, podemos perceber que
em diversas passagens de Casa-Grande e Sen- diferentemente do que relata Gilberto Freyre, a
zala, é de harmonia e naturalização dessas rela- expansão numérica do povoamento brasileiro
ções sexuais entre colonos, nativos e africanos. praticamente se deu pela dominação e arbitrarie-
A miscigenação ou mistura racial é caracterizada dade masculina no uso da violência sexual contra
como um processo de democracia racial e de as negras e índias. Saffioti (2004), ao tratar sobre
formação do povo brasileiro, se não vejamos: a gênese do escravismo, afirma que o racismo e
o sexismo são irmãos gêmeos e ambos se situam
A miscigenação que largamente se praticou
na base do escravismo:
aqui corrigiu a distância social que de outro
modo se teria conservado enorme entre casa- Quando um povo conquistava outro, subme-
grande e a mata tropical; entre a casa-grande tia-o a seus desejos e a suas necessidades.
e a senzala. O que a monocultura latifundiária Os homens eram temidos, em virtude de re-
e escravocrata realizou no sentido de presentarem grande risco de revolta, já que
aristocratização, extremando a sociedade dispõem, em média, de mais força física que
brasileira em senhores e escravos [...] foi em as mulheres, sendo, ainda, treinados para en-
grande parte contrariado pelos efeitos sociais frentar perigos. Assim, eram sumariamente
da miscigenação. A índia e a negra-mina eliminados, assassinados. As mulheres eram
a princípio, depois a mulata, a cabrocha, a preservadas, pois serviam a três propósitos:
quadrarona, a oitavona, tornando-se caseiras, constituíam força de trabalho, importante fator
concubinas e até esposas legítimas dos de produção em sociedades sem tecnologia
senhores brancos, agiram poderosamente no ou possuidoras de tecnologias rudimentares;
sentido da democratização social do Brasil. eram reprodutoras desta força de trabalho,
(FREYRE, 2006, p. 33). assegurando a continuidade da produção e
da própria sociedade; prestavam (cediam)
A luxúria dos indivíduos soltos sem família,
serviços sexuais aos homens do povo vitorio-
no meio da indiada nua, vinha a servir a
so. (SAFFIOTI, 2004, p. 124).
poderosas razões de Estado no sentido de
rápido povoamento mestiço da nova terra. E Freyre (2006) responsabiliza o sistema
é certo que sobre a mulher gentia fundou-se social e econômico que funcionou na aliança
e desenvolveu-se através dos séculos XVI e
entre escravidão e “depravação sexual”, “criando
XVII o grosso da sociedade colonial, em um
largo e profundo mestiçamento [...] O europeu nos proprietários de homens imoderado desejo
saltava em terra escorregando em índia nua de possuir o maior número possível de crias” (p.
[...] As mulheres eram as primeiras a se 399), ao considerarem o ventre gerador a parte
entregarem aos brancos, as mais ardentes mais produtiva da propriedade escrava, com a
indo esfregar-se nas pernas desses que finalidade de produzir mais mão de obra escrava.
supunham deuses. Davam-se ao europeu por De acordo com Saffioti (2004), o racismo,
um pente ou um caco de espelho. (p. 161). base do escravismo, nasceu no mesmo momento
Entre culturas de interesses e tendências que o sexismo, cada um presidido por uma lógica
tão antagônicos era natural que o contato se em separado, mas quando integrados ao nó,
verificasse com desvantagens para ambas. acrescida da classe social, enovelados e pre-
Apenas um conjunto especialíssimo de sididos por uma lógica contraditória, cada uma
circunstâncias impediu, no caso do Brasil, que dessas contradições adquire relevos distintos, ao
europeus e indígenas se extremassem em considerar as circunstâncias históricas.
inimigos de morte, antes se aproximassem
como marido e mulher, como mestre e
discípulo, daí resultando uma degradação
de cultura por processos mais sutis e em
ritmo mais lento do que em outras partes do 1
Utilizamos a palavra lentes para dar uma ideia da necessidade
continente. (p. 230). de uma aproximação maior com o objeto em visualização, com
função corretiva. E lente lilás por esta ser a cor que representa a
luta das mulheres por igualdade de gênero e transformação so-
cietária.
em seus estudos, a força persuasiva e de re- primeiros chefes de família que viveram antes
novação do mito generalizado de uma crença ou depois do Dilúvio (DELPHY, 2009). Na con-
de que o Brasil é um país sem preconceitos e cepção weberiana, refere-se a uma forma de
discriminações de raça, classe ou de credo, de dominação2 de caráter tradicional exercida por
povo pacífico, ordeiro, generoso, alegre, sen- um indivíduo normalmente determinado segundo
sual, acolhedor. Segundo Chauí, essa imagem regras fixas de sucessão, em que o senhor de-
positiva do país foi gerada por um mito que serve pende, em grande parte, da vontade de obedecer
como uma espécie de solução imaginária para dos associados, uma vez que não possui um
tensões, conflitos e contradições de uma realida- quadro administrativo (WEBER, 2000).
de permeada de contrastes, com determinações Porém, o uso do conceito de patriarcado
socioeconômicas, históricas e políticas. pelas teorias feministas distancia-se da con-
Mesmo diante da existência de diferentes cepção de Weber, pois esse autor inscreve a
graus de domínio exercidos pelos homens sobre legitimação da dominação “recorrendo a fatos
as mulheres e contextos sócio-históricos parti- sempre redutíveis à subjetividade” (SAFFOTI,
culares, a natureza do patriarcado é a mesma, 2004, p. 99). Para Saffioti, o conceito de domi-
sendo imprescindível historicizar e contextualizar nação (masculina) tem que estar associado ao
a dominação masculina para compreender e de exploração (capitalista), porque a realidade é
dimensioná-lo adequadamente. una, indivisível, não havendo territórios distintos
Para compreender as condições de perma- para estas duas dimensões.
nência e atualização do patriarcado, o próximo Nos marcos das reivindicações por direitos
tópico apresenta, de forma sucinta, a colabora- iguais, a luta das mulheres no século XIX e início
ção da teoria feminista às discussões sobre o do XX lançou uma pergunta central ao feminismo
tema, bem como suas manifestações contem- sobre a origem, subordinação e manutenção da
porâneas na sociedade brasileira, mostrando opressão contra a mulher, contribuindo para a
que, longe de ter sido superado, o patriarcado criação de um sujeito político coletivo e estraté-
dá sinais de que permanece vivo. gias para por fim à subordinação feminina.
Mesmo com as diversas correntes do
O patriarcado e as teorias feministas pensamento feminista e suas diferenças, as
abordagens teóricas desenvolvidas pós-1960
As diversas correntes do pensamento compartilharam algumas ideias centrais, a
feminista, após 1960, compartilharam alguns exemplo da desnaturalização da subordinação
pressupostos sobre a subordinação feminina, feminina, a sua universalidade e a construção
dentre eles a afirmação do caráter fundamental- social baseada nas desigualdades entre mulhe-
mente social das desigualdades entre homens res e homens. Algumas divergências entre as
e mulheres. A categoria patriarcado passa a ser vertentes feministas que diziam respeito a ques-
utilizada nos estudos sobre a mulher pelas femi- tões relativas às origens e causas da opressão e
nistas radicais na década de 1970 para explicar e aos mecanismos para livrarem-se da dominação
denunciar as relações de dominação masculina masculina (PISCITELLI, 2004).
sobre as mulheres, designando: Para as teóricas do patriarcado, as mu-
Uma formação social em que os homens de- lheres eram oprimidas pelo simples fato de
tem o poder, ou ainda, mais simplesmente, serem mulheres. As experiências de opressão
o poder é dos homens. Ele é, assim, quase
sinônimo de “dominação masculina” ou de
opressão das mulheres. Essas expressões, 2
Weber chama de dominação a probabilidade de encontrar obe-
contemporâneas dos anos 70, referem-se diência para ordens específicas ou não, dentro de um determina-
do grupo de pessoas, porém não é toda forma de exercer poder
ao mesmo objeto, designado na época pre- ou influência sobre as pessoas que pode ser caracterizada como
cedente pelas expressões “subordinação” ou dominação. Esta vai pressupor submissão, que varia desde for-
“sujeição” das mulheres, ou ainda “condição mas inconscientes, baseadas em hábitos, até formas racionais.
feminina”. (DELPHY, 2009, p. 173). Para haver uma relação autêntica de dominação deve ter o míni-
mo de vontade de obedecer, de interesse na obediência, reque-
rendo um quadro administrativo em que possa confiar cuja obe-
Antes do século XIX, patriarcado e patriar- diência possa contar para uma ação, na execução de disposições
cas tinham um sentido religioso, indicando os gerais e ordens concretas. (WEBER, 2000).
vivenciadas por elas ocorriam no cotidiano, nas gênero persistiram. As causas originárias da
relações mais íntimas, permeadas de poder opressão estariam na associação entre capita-
masculino. Afirmavam que todas as mulheres, lismo e patriarcado.
independentemente da classe social, sofriam Na academia, ao passo que as feministas
opressão e que esta fazia parte da experiência iniciaram a revisão das produções disciplinares
feminina. Suas questões políticas não podiam, e consolidaram os estudos da mulher, a partir
em grande parte, ser enquadradas no interior do de conceitos e categorias utilizados pelo pensa-
capitalismo e do Estado, por não estarem rela- mento feminista, começaram a ser questionadas,
cionadas com a esfera pública. Para o feminismo sobretudo em relação ao patriarcado como ca-
de então, estas relações eram exclusivamente tegoria de análise. Devido aos problemas desta
políticas, e o patriarcado seria, portanto, a ex- categoria referentes à apreensão da historicida-
pressão desse poder. Com a definição de que o de da condição feminina e à compreensão das
pessoal é político: diversas formas de discriminação organizadas
pelas relações sociais, de forma contextualizada,
[...] as feministas procuraram desvendar a
multiplicidade de relações de poder presentes As sociólogas feministas criaram termos como
em todos os aspectos da vida social e isto as “relações de sexo”, que são unicamente fran-
levou a tentar agir nas mais diversas esferas. cesas e intraduzíveis em outra língua. Esse
Em termos teóricos, elas trabalharam com a termo, agora o mais utilizado em Sociologia,
ideia global e unitária de poder, o patriarcado, foi inicialmente concebido como uma alterna-
numa perspectiva em que cada relacionamen- tiva a “patriarcado”, julgado insatisfatório, e
to homem/mulher deveria ser visto como uma mais tarde ao termo “gênero” (DELPHY, 2009,
relação política (PISCITELLI, 2004, p. 47). p. 177).
[...] único conceito que se refere muitos são os desafios para o movimento femi-
especificamente à sujeição da mulher, e que nista e de mulheres na atual conjuntura. Em con-
singulariza a forma de direito político que cordância com Saffioti (2004), sustenta-se que a
todos os homens exercem pelo fato de serem base material do patriarcado não foi destruída,
homens. Se o problema não for nomeado, o
patriarcado poderá muito bem ser habilmente [...] que não basta que uma parte das mulhe-
jogado na obscuridade, por debaixo das res ocupe posições econômicas, políticas,
categorias convencionais da análise política. religiosas etc., tradicionalmente reservadas
[...] Grande parte da confusão surge porque aos homens. [...] qualquer que seja a profun-
“patriarcado” ainda está por ser desvencilhado didade da dominação-exploração da catego-
das interpretações patriarcais sobre o ria mulheres pela dos homens, a natureza do
patriarcado. Abandonar o conceito significaria patriarcado continua a mesma. (p. 104).
a perda de uma história política que ainda
está para ser mapeada. (PATERMAN, 1993 O sistema patriarcal se faz presente na prá-
apud SAFFIOTI, 2004, p. 55). tica da violência contra as mulheres; no turismo,
tráfico e exploração sexual; no controle do corpo
O patriarcado, acrescenta Saffioti (2004), e de sua sexualidade; na participação desigual
enovelado pela clivagem de classes sociais e de homens e mulheres no mercado de trabalho e
racismo, “apresenta não apenas uma hierarquia no trabalho doméstico, bem como a precariedade
entre categorias de sexo, mas traz também, em e a flexibilização que atingem em maior medida
seu bojo, uma contradição de interesses” (p. as mulheres; nas desigualdades presentes na
107), não apenas conflitantes, mas contraditó- participação política, na feminização da pobreza,
rios. Este sistema “não se resume a um sistema dentre outras expressões.
de dominação, modelado pela ideologia machis-
ta. Mais do que isto, ele é também um sistema de Violência
exploração” (p. 50), expande-se por todo corpo
social, tanto na esfera privada como pública, e A violência contra as mulheres é uma das
sua máquina pode ser acionada por qualquer expressões mais explícitas das desigualdades
um (a), inclusive pelas mulheres imbuídas da de poder entre homens e mulheres, em geral
ideologia que envolve o patriarcado. De acordo legitimada socialmente e assumindo múltiplas
com a definição de Saffioti (2004), o patriarcado: formas, que englobam “todos os atos que, por
meio de ameaça, coação ou força, lhes infli-
1. não se trata de uma relação privada, mas
civil;
gem, na vida privada ou pública, sofrimentos
físicos, sexuais ou psicológicos com finalidade
2. dá direitos sexuais aos homens sobre as de intimidá-las, puni-las, humilhá-las, atingi-las
mulheres, praticamente sem restrição; na sua integridade física e na sua subjetividade
(ALEMANY, 2009, p. 271)”.
3. configura um tipo hierárquico de relação,
que invade todos os espaços da socieda- Geralmente os agressores são seus
de; maridos; namorados; pais; parentes e colegas
de trabalho. Segundo Alemany (2009, p. 271),
4. tem uma base material; todas as mulheres são vítimas em potencial,
5. corporifica-se; podendo serem privadas “da sua liberdade de ir
e vir, do seu sentimento de segurança, da sua
6. representa uma estrutura de poder basea- autoconfiança, de sua capacidade de construir
da tanto na ideologia quanto na violência. relacionamentos, de seu gosto pela vida”.
(p. 57-58). Muitos são os esforços empreendidos pe-
As expressões deste sistema de domina- las feministas no desenvolvimento de estudos
ção-exploração na contemporaneidade mostram teóricos sobre as violências praticadas contra as
que, longe de ter sido abolido, atualiza-se em um mulheres, para se opor aos “estudos criminológi-
processo contínuo de transformação ao longo cos que, com seus preconceitos androcêntricos,
da história da formação social brasileira. Não privilegiam as teorias vitimológicas (ou intera-
obstante os avanços dos direitos das mulheres, cionistas), que fazem da relação entre a vítima
são colocadas como intrusas e são adequadas apontar soluções reais para os problemas viven-
às normas dominantes; ou de maneira que rom- ciados pela população pobre, com um significati-
pem com o limite tradicional de seu papel de vo retrocesso no campo dos direitos sociais, em
gênero feminino (DELGADO, 2000, p. 44). Essa especial quando se trata do aumento do desem-
entrada é marcada por uma identidade que se prego e da precarização do trabalho, conjugado
baseia no cuidado e nas relações afetivo-sociais, à perda de vínculos com a previdência social.
ambas desvalorizadas social e politicamente, A pauperização passa a ser tratada como
pois são consideradas funções complementares uma questão de assistência (MOTA, 2008) e
ao trabalho dos homens, o que “aprofunda uma as mulheres corresponsabilizadas pelo “êxito e
divisão sexual do trabalho que determina as for- desenvolvimento dos programas de assistência
mas com que as mulheres se inserem no espaço social que têm a renda mínima como benefício”
público, privando-as das condições de exercer, (DUQUE-ARRAZOLA, 2008, p. 243-244), com
em igualdade de condições com os homens, a o reforço e aumento das responsabilidades e
participação social e política”. (GODINHO, 1991, tarefas na reprodução das famílias, ao serem
p. 37). consideradas melhores gestoras dos recursos
Na política, o padrão de socialização da governamentais e cuidadoras das famílias.
militância ainda é essencialmente masculino. Diante desse quadro, em concordância com
Há critérios de socialização, credenciamento Saffioti (2004, p. 107), “a contradição não encontra
e reconhecimento fundados em um modelo solução neste regime. Ela admite a superação, o
de militância ainda hegemônico, que, quando que exige transformações radicais no sentido da
analisado sob o ponto de vista de gênero, per- preservação das diferenças e da eliminação das
mite enxergar diferenças e desigualdades nas desigualdades”. Para as transformações radicais
vivências de homens e mulheres. Este padrão na sociedade faz-se necessário o resgate de
é identificado e associado às características his- um feminismo revolucionário. A eliminação das
toricamente atribuídas aos homens, as quais se desigualdades entre mulheres e homens deve
mantêm e se reproduzem nos espaço políticos, ser parte fundamental de um projeto radical
contribuindo para perpetuar a discriminação e a de mudanças na sociedade, sem opressões e
opressão de gênero, que além de se pautar em exploração, sendo imprescindível a articulação
determinações culturais, também “se embasa em entre projeto societário e projeto feminista na luta
questões materiais e opera na vida cotidiana, nas pela liberação das mulheres e pela igualdade
relações que se estabelecem entre os dois se- substantiva, como possibilidade de rompimento
xos, de forma individual, na família, perpassando com a sociedade patriarcal-racista-capitalista.
todas as estruturas da sociedade”. (GODINHO,
1991, p. 39). Considerações finais
Como um dos mecanismos de superação
da exclusão das mulheres da política, o movi- Gilberto Freyre, na obra Casa-Grande
mento feminista propõe a efetivação da paridade e Senzala, deu visibilidade e abordou muitas
nos processos eleitorais, com listas de candida- questões referentes às mulheres e às relações
turas com alternância paritária entre os sexos de gênero no Brasil Colonial: a vida sexual, a
e a garantia de divisão igualitária de recursos violência, o adultério, a prostituição, a virginda-
financeiros e tempo na TV para as campanhas de, os padrões de feminilidade, paternidade, a
das mulheres. Atualmente o Brasil está na 86º higiene corporal, dentre outros aspectos.
posição no que se refere ao acesso das mulheres Sua narrativa proporcionou a compreensão
ao Poder Executivo, parlamentos e ministérios. das diversas condições de vida das mulheres de
acordo com a classe ou condição social, raça
Assistência Social e geração, fornecendo subsídios para compre-
ender a constituição da sociedade patriarcal no
Para as mulheres das camadas mais em- Brasil, no que concerne à vida pública e privada.
pobrecidas, o Estado brasileiro passou a adotar Como categoria adotada pela teoria e
ações e programas de combate à pobreza aos movimento feminista, o patriarcado não explica
moldes dos organismos internacionais, sem todas as desigualdades de gênero presentes
ainda na sociedade brasileira, mas é uma fer- do partido dos trabalhadores. 2000. 154 f. Dissertação
ramenta de análise e explanação relevante dos (Mestrado em Ciências Sociais) – Pontifícia
efeitos da herança colonial e de seus mecanis- Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2000.
mos de reprodução presentes nas formas de DELPHY, C. Patriarcado (Teorias do). In: HIRATA, H.
sociabilidade do país. et al. (Orgs.). Dicionário crítico do feminismo. São
Longe de ter sido superado, o patriarcalis- Paulo: Ed. UNESP, 2009.
mo precisa ser explicado em suas transforma-
ções e expressões na sociedade brasileira atual. DUQUE-ARRAZOLA, L. S. O sujeito feminino nas
políticas de assistência social. In: MOTA, A. E. (Org.).
Como é reinventado, sustentado e perpetuado
O mito da assistência social: ensaios sobre Estado,
o patriarcado na contemporaneidade? Quais as política e sociedade. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo:
manifestações do patriarcado e as formas de re- Cortez, 2008.
sistência a este sistema na sociedade brasileira?
Corroboramos com o pensamento de Sa- FREYRE, G. Casa-grande e senzala: formação da
ffioti (2004) segundo o qual o conceito de patriar- família brasileira sob o regime da economia patriarcal.
cado ainda é uma ferramenta histórica e analítica São Paulo: Global, 2006.
necessária para enfatizar e explicar as desigual- GODINHO, Tatau. Mulher na direção. Teoria e
dades de gênero. É estruturante da opressão e Debate, São Paulo, p.36-9, mai.1991.
dominação da mulher como sistema, em reforço
mútuo com o capitalismo, e para sua superação HIRATA, H. S. Divisão sexual do trabalho: novas
tendências e problemas atuais. Gênero no mundo do
exige transformações radicais para preservar as
trabalho. I Encontro de Intercâmbio de experiências
diferenças e eliminar as desigualdades.
do Fundo de Gênero no Brasil, Brasília: CIDA: 2000.