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ALOCAÇÃO DE RECURSOS
FINANCEIROS EM PROJETOS
DE RISCO NA EXPLORAÇÃO
DE PETRÓLEO
Francisco Nepomuceno Filho
Geofísico da Divisão de Exploração do Cenpes, Petrobras (Rio de Janeiro, Brasil).
E-mail: nepomuceno@braspetro.petrobras.com.br
Saul B. Suslick
Professor do Departamento de Administração e Política de Recursos Minerais,
Instituto de Geociências, Unicamp (Campinas, São Paulo, Brasil).
E-mail: suslick@ige.unicamp.br
RESUMO ABSTRACT
As recentes mudanças no setor petrolífero implicam um novo With the new changes in the petroleum sector in Brazil, the
ambiente de exploração de intensa competição no Brasil. As exploration will enter in an increasingly competitive and risky
tendências de internacionalização da exploração obrigam as business environment. The trends of internationalization of
empresas a adotarem técnicas padronizadas de avaliação e exploration and risk reducing recommend the use of
comparação de prospectos visando à redução do risco. Den- standardized techniques of evaluation and comparison of plays
tro dessa perspectiva, os indivíduos necessitam de um pro- and prospects. Under these circumstances, managers have a
cesso decisório que contemple os objetivos da empresa, as growing need to employ better and more systematic decision-
metas desejadas e as restrições orçamentárias. Este artigo processes that explicitly embody the firm’s objectives, desired
descreve um sistema teórico e prático de suporte à tomada goals, and resource constraints. In order to spread risk in ma-
de decisão baseada na teoria da utilidade e da análise da jor projects, oil companies will continue to engage in joint
decisão, com o objetivo de estimar a melhor alocação de ventures. This paper describes a theoretical and practical system
capital em uma bacia sedimentar. Além disso, esse sistema for decision support based upon the expected utility theory and
possibilita estimar o melhor nível de participação financeira decision analysis, in order to estimate the best capital allocation
de uma firma em um projeto de exploração de petróleo reali- and to define the best level of financial participation of a firm in
zado em parceria. the new ventures in petroleum exploration project.
PALAVRAS-CHAVE
Avaliação econômica de projetos, análise de risco, tomada de decisão, alocação de recursos, parcerias em exploração de petróleo.
KEY WORDS
Economic evaluation, risk analysis, decision making, budget allocation, petroleum exploration joint venture.
RAE
São Paulo,
• v. 40v. 40
• n.• 1n.• 1 Jan./Mar.
• p. 63-75
2000 RAE - Revista de Administração de Empresas • Jan./Mar. 2000 63
Economia de Empresas
Figura 3 – Curvas de comportamento dos gerentes diante ante, serão demonstradas algumas manei-
do risco ras de se calcular o coeficiente de aversão
ao risco.
U Gerente propenso
t ao risco Gerente RISCOS
i indiferente ao
l risco
Os projetos de E&P de petróleo envol-
i
vem geralmente três tipos de riscos: geoló-
d
gicos, econômicos e financeiros.
a Gerente
d A probabilidade de sucesso na perfura-
avesso ao
e risco
ção de poços de petróleo está associada aos
riscos geológicos (existência de um sistema
Valor monetário petrolífero), às estimativas de volumes de
óleo a serem descobertos e aos tamanhos
individuais dos campos de óleo e gás e de-
mentas robustas para se delinear um critério de ava- pende das ferramentas e tecnologias explo-
liação de prospectos de risco. Assim, a função ratórias utilizadas. Ultimamente, o aumento
exponencial do tipo U(x) = -e-cx é a mais utilizada de informações e o avanço tecnológico, so-
na indústria de exploração de petróleo, em que c é bretudo em sísmica, modelos geológicos,
o coeficiente de aversão ao risco característico de programas de modelagem e simulação nu-
cada gerente e tem uma forte relação com o tama- mérica, têm reduzido esses riscos.
nho da empresa, ou seja, com o capital exploratório Os riscos econômicos estão associados
anual da companhia (Walls, 1994). às expectativas futuras do preço do petró-
O coeficiente de aversão ao risco embutido na leo, aos custos operacionais e dos investi-
função utilidade U(x) é definido pela expressão: mentos, à avaliação acurada dos volumes
de óleo a serem produzidos e à realização
c = -U”(x)/U’(x) de seu fluxo de caixa previsto.
Os riscos financeiros estão associados à
em que U’(x) e U”(x) são a primeira e a segunda capacidade de investimentos da firma (ca-
derivadas de U(x), respectivamente. pital exploratório), ao número de prospec-
Esse coeficiente indica como varia o comporta- tos disponíveis, às ações políticas, sociais e
mento do investidor em relação ao risco com a mag- ambientais que podem embargar o processo
nitude dos valores monetários (x). Assim, c > 0 in- exploratório, ao risco de a probabilidade de
dica aversão ao risco, c = 0 indica indiferença ao sucesso estimada estar errada, etc.
risco e c < 0 indica propensão ao risco. A análise quantitativa do risco é funda-
A aversão ao risco financeiro depende do capi- mental neste trabalho. Aliás, essa metodo-
tal disponível e dos sentimentos do decisor diante logia só tem sentido quando se opera com
do risco. Julgar projetos coerentemente significa projetos de risco. Se o projeto não tem risco
avaliar diversos projetos usando o mesmo nível de e o tomador de decisão sabe com antecedên-
aversão ao risco. Grande nível de aversão ao ris- cia tudo o que vai acontecer no futuro, basta
co significa um grande esforço para diminuir as fazer uma análise econômica convencional
perdas e uma reduzida concentração em grandes e está tudo resolvido. No entanto, se o pro-
ganhos potenciais. Não existe um nível certo ou jeto envolve riscos, o gerente precisa de uma
errado de aversão ao risco. O nosso objetivo é es- tecnologia que reduza seus riscos e maxi-
tabelecer o nível de risco que uma firma está pre- mize seus ganhos; nesse caso, a teoria da
parada para assumir. preferência é importante.
Com o intuito de fornecer algum significado
para o coeficiente c, analistas de decisão utilizam FUNÇÃO UTILID ADE
UTILIDADE
o inverso do coeficiente de aversão ao risco, 1/c,
como a medida de tolerância ao risco. A unidade Uma forma conveniente de expressar a
de valor da medida de tolerância ao risco toma a preferência em relação ao risco é por meio
unidade da função utilidade de interesse, nesse das funções utilidade definidas por Von
caso, o valor monetário (US$, R$, etc.). Mais adi- Neumann e Morgenstern (1953).
pação que maximiza o valor do equivalen- preço de venda dos projetos, conforme mostra a
te certo. Tabela 1.
Eq(x) = -1/c ln(pe-cVPL1x + (1 - p)e-cVPL2x)
Tabela 1 – Modelo de questionário sobre o preço de venda
em que: x = nível de participação no dos projetos, a ser respondido pelo gerente de exploração
projeto (%) para se calcular o coeficiente de aversão ao risco da firma
Tomando-se a primeira derivada e igua-
Valor Prob. de Preço de
lando a zero, tem-se: Nome Resultado (US$ milhões) sucesso VME venda
Proj1 Sucesso 100 10% 5,5 ?
Insucesso -5
colha entre seis discretas opções de participação um gráfico toda a carteira de projetos da fir-
com amplitude variando entre 0% e 100%. Dessa ma versus o nível de tolerância ao risco re-
forma, ele deve escolher o nível de participação que querido por cada projeto para que a partici-
é preferido por sua companhia. Baseado na escolha pação ótima seja de 100% (Figura 5).
de participação do tomador de decisão para cada A partir da Figura 5, o gerente de explo-
uma das oportunidades de investimento de risco ofe- ração poderá definir de quais projetos, den-
recido, um nível de tolerância ao risco da corpora- tre os 21 disponíveis na carteira, ele gostaria
ção pode ser calculado aproximadamente, utilizan- de participar com 100%. Quando esses pro-
do-se uma função exponencial como a forma da fun- jetos estão estabelecidos, o nível de partici-
ção utilidade da firma. pação ótima em cada projeto é determinado
Exemplo: Ofereceram à sua firma perfurar um automaticamente, utilizando-se a Equação 6.
poço, sendo que os parâmetros são os seguintes:
chance de sucesso = 50%, VPL1 de sucesso = $ 13
milhões, VPL2 de insucesso = $ -4 milhões. Dessa
forma, escolha sua participação: 100%, 75%, 50%, SE O PROJETO NÃO TEM RISCO
25%, 12,5%, 0%.
E O TOMADOR DE DECISÃO
A aversão ao risco pode ser expressa pela esco-
lha do nível de participação em um projeto, confor- SABE COM ANTECEDÊNCIA
me mostrado na Equação 6. TUDO O QUE VAI ACONTECER
Assim, se sua seleção for: NO FUTURO, BASTA FAZER UMA
100%, seu nível de aversão ao risco será de 0,000693; ANÁLISE ECONÔMICA
75%, seu nível de aversão ao risco será de 0,000924; CONVENCIONAL E ESTÁ
50%, seu nível de aversão ao risco será de 0,001387; TUDO RESOLVIDO.
25%, seu nível de aversão ao risco será de 0,002773;
12,5%, seu nível de aversão ao risco será de 0,005547;
0%, seu nível de aversão ao risco será de >> 1.
Método 4: Níveis-padrão das companhias
Quando um gerente especifica o nível de parti- internacionais
cipação desejado em um projeto, ele define o coefi- Um estudo empírico de Walls e Dyer
ciente de aversão ao risco apresentado pela firma. (1992), no qual foi utilizado o modelo de
Por meio da aplicação do mesmo nível de aversão teoria da preferência, mediu o coeficiente de
ao risco em todos os projetos, é dada coerência ao aversão ao risco aplicado nas 18 maiores,
processo de tomada de decisão, preservando a fir- independentes e integradas companhias de
ma contra perdas financeiras que ela não seria ca- petróleo no período de 1981 a 1990, desco-
paz de suportar. brindo uma regra simples que relaciona a to-
lerância ao risco da firma com o seu nível
Método 3: Análise de decisões anteriores de orçamento anual. Essa relação indica que,
Nepomuceno (1997) introduziu um método para como primeira aproximação, o valor da to-
facilitar a determinação do coeficiente de aversão lerância ao risco de uma firma é igual a ¼
ao risco pelo gerente de exploração, expondo em do seu orçamento anual da exploração. Por
Tabela 2 – Modelo de questionário sobre nível de participação no projeto, a ser respondido pelo gerente de
exploração para se calcular o coeficiente de aversão ao risco da firma
Valor Prob. de Nível de participação
Nome Resultado (US$ milhões) sucesso desejado
Proj1 Sucesso 100 10% 100% 75% 50% 25% 12,5% 0%
Insucesso -5
Figura 5 – Tolerância ao risco dos projetos da carteira de projetos para uma participação ótima de 100%
Tolerância ao Risco (TR) requerida pelos projetos para que a participação ótima seja de 100%
400
Tolerância ao risco (US$ milhões)
Estatística TR AV
Moda P12 32.275 0.0310
300
Mediana P12 32.275 0.0310
Média 72.848 0.0137
200
100
0
P11
P19
P14
P10
P13
P20
P15
P16
P23
P21
P12
P18
P17
P07
P05
P01
P09
P04
P08
P02
P03
Carteira de projetos
Figura 6 – Agrupamento das diversas bacias sedimentares de um país em três grandes áreas (três grandes bacias)
para a construção de um modelo simplificado
Bacia A
Campos gigantes
300
Volume MM bbl
200
100
0
Número do Campo
Bacia B
Campos médios
50
Volume MM bbl
25
0
Número do Campo
Distribuição dos tamanhos
de campos na bacia B
Distribuição lognormal (20, 100)
Bacia C
Campos pequenos
20
Volume MM bbl
10
0
Número do Campo
Distribuição dos tamanhos
de campos na bacia C
Distribuição lognormal (10, 30)
de aversão ao risco. Assim, com a ajuda 3. O gráfico mostra claramente que, para uma par-
da Figura 7, construída a partir dessa equa- ticipação de 100%, a ordem de importância dos
ção, será feita a seguinte análise, visando projetos é: C > B > A. 4 Por outro lado, para um
a definir o coeficiente de aversão ao risco nível de participação financeira inferior a 60%,
da firma: tem-se uma ordem inversa: A > B > C. Isso mos-
1. Para uma situação de monopólio (100% tra a importância da associação tipo joint
de participação em todos os projetos, in- venture (participação fracionada) nos projetos
dependentemente do risco dos projetos), de risco.
o nível de aversão ao risco varia de pro-
jeto para projeto, tornando-se inconsis-
tente com a função de preferência defi-
nida anteriormente, U(x) = -e-cx, que es-
tabelece um coeficiente de aversão ao
A TEORIA DA PREFERÊNCIA
risco como uma constante (c) que será ESPECIFICA O NÍVEL ÓTIMO
aplicada a todos os projetos, independen-
temente do valor do projeto (x).
DE PARTICIPAÇÃO
FINANCEIRA EM UM
2. Adotando-se o nível de aversão igual a
c3, valor que define um nível ótimo de PROJETO, CONSIDERANDO
100% para os projetos da bacia C, a par- AS RESTRIÇÕES DE CAPITAL
ticipação nos projetos da bacia B será
ótima para 52% e, para os projetos da DA FIRMA E A DISPOSIÇÃO
bacia A, será de 18%. Esse dado pode ser DE SEUS GERENTES DE
extraído diretamente da Figura 7 ou cal-
culado analiticamente pela fórmula da CORRER RISCOS.
Equação 5. As Figuras 8 e 93 ilustram o
nível de participação ótimo para cada
bacia, quando se usa um coeficiente de
aversão ao risco c3 = 0,0314. Esse é um Para definir o nível ótimo de alocação de capital
dado surpreendente; o nível ótimo de par- exploratório para cada bacia, será considerado o ní-
ticipação nos melhores projetos não é, ne- vel de aversão ao risco como o inverso da tolerân-
cessariamente, 100%, como se pode pen- cia ao risco, que é igual a ¼ do capital exploratório
sar intuitivamente. anual da firma conforme discutido anteriormente.
Figura 7 – Coeficiente de aversão ao risco versus nível de participação financeira nos projetos médios das
bacias A, B e C
0,1
Coeficiente de aversão
Bacia C
0,05 Bacia B
Bacia A
C3
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Assim, é possível expressar a alocação ótima de bacia A, 50% na bacia B e 100% de partici-
recursos em exploração com o auxílio da Figura 9, pação nos projetos da bacia C.
ou seja, definindo-se qual o nível de participação O capital ótimo total da joint venture para
desejado em cada projeto de uma bacia, determina- cada uma dessas três bacias é: Ka = US$ 704
se qual é o capital exploratório anual ideal para essa milhões, Kb = US$ 254 milhões e Kc = US$
bacia. Reciprocamente, dado o capital exploratório 127 milhões. Como referido nos itens ante-
de uma firma, é possível definir o nível ótimo de riores, esse método aloca mais dinheiro nas
participação em cada uma das bacias aplicando di- melhores bacias, mas isso não significa que
retamente o gráfico da Figura 9. Assim, para uma o nível de participação de uma firma nos pro-
capital exploratório de US$ 127 milhões, os níveis jetos da melhor bacia deva necessariamente
ótimos de participação em cada bacia são: 18% na ser maior.
Figura 8 – Equivalente certo versus nível de participação financeira nos projetos médios das bacias A, B e C
8
Equivalente certo (US$ milhões)
7
Bacia C
6
4 Bacia B
2
Bacia A
1
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Figura 9 – Nível de participação desejada em cada projeto das bacias A, B e C versus alocação de capital
exploratório ideal para a firma
800
Ka 704
Bacia A
400
Kb 254
Bacia B
KC 127
Bacia C
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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NOTAS
Os autores gostariam de agradecer o apoio 2. Exemplo: em um jogo de moeda (cara ou 3. Comparação de perfis de risco dos projetos
do CNPq para a realização desta pesquisa. coroa), com 50% de chance de ganhar 10 reais médios das três regiões considerando como
ou 50% de chance de perder 5 reais, certamente
haverá muitos jogadores. Mas, se mudarmos índice de aversão ao risco o valor c3, que é o
os valores para ganhar 100 mil reais ou perder valor que maximiza o equivalente certo do
1. Na indústria de petróleo, o conceito de 50 mil reais, haverá poucos jogadores, projeto médio da bacia C para uma participação
prospecto refere-se a áreas que contêm evidenciando uma aversão ao risco dos de 100%.
indivíduos quando os valores são elevados
indícios ou possibilidades de acumulação de
comparativamente ao seu capital, muito embora
óleo e/ou gás que possam ser extraídos o VME seja 10 mil vezes maior que na situação 4. O símbolo “A > B” significa que os projetos
economicamente no futuro. anterior. da bacia “A são melhores do que os da B”.