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Ficha Catalográfica
Psicomotricidade
São Paulo
2018
FICHA TÉCNICA
Prof. José Fernando Pinto da Costa
Presidência da Mantenedora
Car@ Alun@,
TEORIAS E CONCEITOS
SOBRE A
PSICOMOTRICIDADE
Conhecer a origem do termo Psicomotricidade.
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1. INTRODUÇÃO
Psicomotricidade é a ciência cujo objeto de estudo é observar o ser humano por meio
de seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interior e exterior. Está intimamente
relacionada ao processo de desenvolvimento, no qual o corpo é a origem das aquisições
cognitivas, afetivas, motoras e fisiológicas, aquisições estas profundamente afetadas e
influenciadas pela cultura e meio social no qual este ser humano está inserido.
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2. TEORIAS DA PSICOMOTRICIDADE:
Jean Le Boulch
O primeiro teórico que iremos estudar é o francês Jean Le Boulch. Ele era educador
físico, médico e psicólogo e em 1966, criou o Método da Psicocinética, uma ciência do
movimento aplicada ao desenvolvimento humano. Sua proposta era de uma educação pelo
movimento no contexto das ciências da educação. Podemos entender psicocinética como a
ligação entre a educação e o movimento. Defendeu uma Educação Física científica com
objetivos e métodos claramente definidos (propostos na França em 1947). Le Boulch afirmava
que a corrente educativa da Psicomotricidade surgiu, pelo fato dos professores de educação
física não conseguirem desenvolver uma educação integral do corpo. Para ele, muitos desses
professores, na França, centravam sua prática pedagógica nos fatores ligados à execução
dos movimentos, tendo como principal objetivo de sua ação educativa chegar à perfeição
desses movimentos, de forma mecânica, sem levar em conta outros aspectos humanos
importantes. A educação psicomotora de Le Boulch (1983) está interessada na prevenção
das dificuldades pedagógicas, e propõe uma educação corporal que busque um
desenvolvimento total da pessoa, tendo como principal papel na escola preparar seus
educandos para a vida. A visão de Le Bouch, quanto ao desenvolvimento psicomotor, possui
íntima relação com o momento escolar. O pesquisador percebe que o período em que a
criança frequenta a escola é primordial para sua base psicomotora, estando intimamente
relacionado com até 75% de seu desenvolvimento total. Sua teoria utiliza métodos
pedagógicos que possam ajudar a criança a se desenvolver da melhor maneira possível,
desenvolvendo afetividade; leitura e escrita; atenção; lateralidade e dominância lateral;
matemática e funções cognitivas; socialização e trabalhos em grupo. A Psicomotricidade na
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concepção de Le Boulch trabalha com base no esquema e imagem corporal, que é a
organização das sensações relativas ao seu próprio corpo com relação às impressões do
mundo exterior. A proposta de desenvolvimento psicomotor de Le Boulch apresenta algumas
etapas que são: do corpo imaginário à imagem do corpo operatório; imagem do corpo e
estruturação espaço-temporal; e do ajustamento global ao ajustamento com representação
mental. Na primeira etapa, a criança está começando a desenvolver a sua imagem do corpo,
que tem seu início por um lado, de conteúdos fantasmáticos e do outro, com uma imagem
figurativa, sendo ainda imprecisa, que vai amadurecendo com o tempo através da
confrontação com o real. Logo em seguida aparece a etapa da imagem do corpo e da
estruturação espaço-temporal, onde começa a acontecer a descentralização da criança e o
início das representações mentais dos eixos, onde ela começa a ter noções espaciais. Na
última etapa, que é do ajustamento global ao ajustamento com representação mental, a
criança está enriquecendo o seu esquema corporal, e por isso, começa a ter condições de
modificar os elementos de um movimento em automatismos bem estabilizados, tornando-se
capaz de tomar certa distância em relação ao objeto prático do movimento para voltar sua
atenção perceptiva sobre as modalidades da ação, desenvolvendo dessa maneira sua
percepção cinestésica. Nos anos finais do ensino fundamental, a educação psicomotora
utiliza as situações-problemas para trabalhar as funções perceptivas, que são as funções de
interiorização, percepção e estruturação do espaço, e a percepção temporal. Busca melhorar
e reforçar certos fatores de execução, como a força muscular, a flexibilidade articular,
velocidade, resistência e tolerância; e ainda procura melhorar as soluções posturais e
gestuais; utilizando também os jogos com regras e jogos esportivos, e por último as
atividades de expressão rítmica.
Pierre Vayer
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da inibição voluntária da respiração; a organização do esquema corporal e a organização no
espaço; uma estruturação espaço-temporal correta; e maiores possibilidades de adaptação
ao mundo exterior.
EXEMPLIFICANDO
Vitor da Fonseca
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a polivalência preventiva e terapêutica das dificuldades de aprendizagem. Nesse sentido, a
Psicomotricidade revela-se uma medida profilática que pode muito bem auxiliar as crianças
em dificuldades de aprendizagem, e também, em adaptações ou mudanças de
comportamento que o estar na escola pressupõem.
FIQUE ATENTO
As contribuições de Ajuriaguerra
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corpo e trata o corpo como uma unidade essencial para o desenvolvimento da esfera
cognitiva, afetiva e motora. No desenvolvimento do ser humano, as experiências corporais
experienciadas na infância, constroem e organizam sua personalidade. Com relação à
concepção de corpo, Ajuriaguerra acreditava que ele não seria apenas um instrumento
utilizado para a construção e para a ação, mas sim, como a forma pela qual o indivíduo se
comunica com o meio, com o social. Contrariamente à visão cartesiana do corpo, Ajuriaguerra
afirmava que a criança é seu corpo, ela se desenvolve a partir da consciência que tenha sobre
ele. É por meio de seu corpo que a criança expressa seus sentimentos, suas necessidades e
suas emoções, e que organiza seu psiquismo. Em outras palavras, a criança é o maior
exemplo da corporeidade viva e vibrante. Outra contribuição importantíssima de Ajuriaguerra
para a Psicomotricidade, está no termo somatognosia que, segundo FONSECA, 2008, pode
ser entendida como “a tomada de consciência do corpo na sua totalidade e respectivas partes,
intimamente ligadas e inter-relacionadas com a evolução dos movimentos intencionais, isto é,
a tomada de consciência do corpo como realidade vivida e convivida”. Outro aspecto
importante abordado por Ajuriaguerra, ainda no âmbito da consciência do corpo, refere-se à
Síndrome do Membro Fantasma, aquela em que uma pessoa que necessitou amputar um
membro, ainda possui a sensação daquele membro; a consciência da totalidade do corpo
ainda perdura. Ele define o membro fantasma como o resíduo cinestésico do membro (ou
parte do corpo) anatomicamente ausente. Ajuriaguerra segue adiante em suas inestimáveis
contribuições acerca da conscientização do corpo, abordando a questão da apraxia. A praxia
é entendida como a coordenação normal dos movimentos. A apraxia é uma desordem de
ordem neurológica que provoca a perda da habilidade ou capacidade de executar
movimentos; é a incapacidade de elaborar, controlar e de executar a ação propriamente dita.
Ele afirma que qualquer ação intencional pressupõe tanto um plano motor prévio, como uma
programação para sua execução. A apraxia, representa uma dificuldade em ordenar o plano
mental de ação com a efetivação da ação motora.
Ajuriaguerra descreve três fases na organização psicomotora da criança. A primeira é a
organização psicomotora de base, que tem como tema central a questão da função postural,
na qual o recém-nascido carrega consigo elementos fisiológicos e sensórios que ele
manifesta por meio de movimentos automáticos ou reflexos, uma “memória da espécie”. A
segunda é a fase da organização da planificação motora (somatognosia), sendo a fase de
incorporação das vivências e experiências e de motricidade já psiquicamente elaborada
ajustada na dimensão de tempo e espaço, com movimentos autorregulados, coordenando
informações interiores com dados exteriores de maneira suscinta, movimentos com
intencionalidade e de ordem social. A terceira é a fase da automatização da praxia: a
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interiorização das aquisições motoras que se adaptam e geram competências que se tornam
base do desenvolvimento psicomotor da criança. Concretiza-se em uma motricidade práxica,
dotada de inteligência, precisa e eficaz, que possibilita uma expressão tanto corporal como
motora mais ajustada e segura. (FONSECA, 2008).
3. CONCEITUALIZAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE
EXEMPLIFICANDO
Le Boulch (1987) define Psicomotricidade como uma ciência que estuda as condutas
motoras por expressão do amadurecimento e desenvolvimento da totalidade psicofísica do
homem, procurando fazer com que os indivíduos descubram o seu corpo por meio de uma
relação do mundo interior com o exterior, e a sua capacidade de movimento e ação,
permitindo tanto ao adulto quanto à criança, expressar movimentos de forma harmoniosa.
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Segundo Vitor da Fonseca (1996), “Psicomotricidade como ciência, é entendida como
o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e
sistêmicas, entre o psiquismo e o corpo, e, entre o psiquismo e a motricidade, emergentes da
personalidade total, singular e evolutiva que caracteriza o ser humano, nas suas múltiplas e
complexas manifestações biopsicossociais, afetivo emocionais e psicosócio cognitivas. Neste
parâmetro de enquadramento conceitual, a motricidade é entendida como o conjunto de
expressões corporais, gestuais e motoras, não verbais e não simbólicas, de índole tônico-
emocional, postural, somatognósica, ecognósica e práxica, que sustentam e suportam as
manifestações do psiquismo”. O psiquismo, nesta perspectiva, é entendido como sendo
constituído pelo conjunto do funcionamento mental que integra as sensações, as percepções,
as imagens, as emoções, os afetos, as representações, etc.
Segundo Ajuriaguerra (1980), “ A Psicomotricidade é a realização do pensamento
através do ato motor preciso, econômico e harmonioso”. Na visão da Psicomotricidade, o ser
humano é um ser em evolução, e essa evolução é encarada como uma sucessão de
integrações tônico-emocionais cognitivo motoras em formas cada vez mais organizadas, na
medida em que elas traduzem a evidência da dialética tônico-afetiva que preside a todas as
condutas do indivíduo. O organismo humano funciona globalmente, como um todo
indissociável, a uma situação dada (Fonseca, 1998).
Psicomotricidade é um termo empregado para uma concepção de movimento
organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante
de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização. A Psicomotricidade pode também
ser definida como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências
recíprocas e sistémicas entre o psiquismo e a motricidade. Baseada numa visão holística do
ser humano, a Psicomotricidade encara de forma integrada as funções cognitivas, sócio-
emocionais, simbólicas, psicolinguísticas e motoras, promovendo a capacidade de ser e agir
num contexto psicossocial. (Associação Brasileira de Psicomotricidade)
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4. REVISÃO DA AULA
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· Ajuriaguerra descreve três fases na organização psicomotora da criança:
organização psicomotora de base; organização da planificação motora;
automatização.
· A ciência que estuda as influências recíprocas entre motricidade e psiquismo
chama-se Psicomotricidade, e traduz a integração das funções motrizes e mentais
sob o efeito da educação e do desenvolvimento do sistema nervoso.
· Objetivos da Psicomotricidade: proporcionar estímulos sensoriais para
discriminar partes do corpo e exercer controle sobre elas; vivenciar por meio da
percepção do próprio corpo em relação aos objetos, a organização espacial e
temporal; facilitar o aprendizado da leitura e da escrita.
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5. REFERÊNCIAS
COSTALLAT, Dalila M.M. de. Exercícios psicomotores básicos de Educação Tônica para a
otimização da aprendizagem formal da escrita. In: A psicomotricidade otimizando as
relações humanas. São Paulo: Arte & Ciência, 2002. 2.ed. O.N.P. Ordem Nacional dos
Psicomotricistas.
FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade: psicologia e pedagogia. 2. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1988.
LE BOULCH, J. Rumo a uma Ciência do Movimento Humano. Porto Alegre: Artes Médicas,
1987.
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