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III.

Bacias Sedimentares da Margem Continental Brasileira 111

evaporítica é caracterizada por vários domínios tectônicos: os que se movem para a bacia profunda como jangadas, à
compartimentos extensionais com almofadas de sal, o semelhança do que ocorre na África (Duval et al. 1992). A
compartimento com diápiros de sal e a região de muralhas de Fig. III.16 mostra a formação de cascos de tartaruga e grandes
sal com grandes empurrões e dobramentos, localmente inver- anticlinais associados à tectônica de sal na plataforma e
tendo as mini-bacias (Szatmari e Demercian, 1993; Cobbold talude, e a Fig. III.17 mostra a tectônica de sal característica
et al. 1995; Mohriak e Nascimento, 2000; Meisling et al. 2001). da região de águas profundas de alguns segmentos da bacia
Dois tipos principais de falhamentos associados à evaporítica, com deformações compressionais da cobertura
halocinese são reconhecidos no Atlântico Sul: falhas normais sedimentar pós-sal.
de crescimento com cisalhamento basal sintético e antitético Um excepcional exemplo de falhamento com cisalhamento
(Mohriak, 1995a; Mohriak et al. 1995b; Mohriak e Szatmari, basal antitético (Mohriak et al. 1995b) pode ser identificado
2001). Na Bacia de Campos, a maior parte das falhas normais na região de Cabo Frio, entre a porção sul da Bacia de Campos
relacionadas à tectônica de sal apresenta rejeito sintético, e as porções norte e central da Bacia de Santos (Fig. III.18).
com mergulho do plano de falha na direção da bacia e rotação Nessa região caracteriza-se notável sistema de falhas normais
dos blocos na direção do continente, com a criação de cunhas antitéticas, associadas à tectônica de sal, resultado do colapso
de sedimentos que espessam para oeste. Também é comum o de estratos sedimentares junto da quebra da plataforma
fenômeno de descolamento de blocos da plataforma albiana, continental (Mohriak et al. 1995b; Mohriak e Szatmari, 2001).

Figura III.16 – Seção convertida em profundidade na Bacia de Campos, Figure III.16 – Depth-converted seismic section in the Campos Basin,
com interpretação geológica das principais seqüências tectonos- with geological interpretation of the main tectono-sedimentary
sedimentares, ilustrando feições halocinéticas em águas profundas sequences, illustrating halokinetic features in the deep water region
112 Parte I – Geologia

A Fig. III.19 (localizada na porção norte da Bacia de Santos) embasamento), formando leques submarinos em águas
mostra um notável estilo de tectônica de sal associada a profundas que estão altamente rotacionados devido à expulsão
falhamento antitético, caracterizado por cunhas de refletores do sal subjacente. As sucessivas progradações resultaram na
que correspondem a uma espessa seqüência sedimentar movimentação do sal na direção de águas profundas (Fig.
progradante de idade Cretáceo Superior a Terciário, com III.19), criando um imenso vazio de estratos sedimentares
depocentros espessando e ficando mais jovens para leste, albianos (Albian gap, Mohriak et al. 1995b). Modelagem física
controlados por falhas que descolam na base do sal e dessa feição (Szatmari et al. 1996) sugere que grandes
apresentam mergulho para o continente e que localmente se extensões poderiam estar associadas ao fluxo de sal
tornam falhas de baixo ângulo devido à expulsão do sal e ao (localmente excedendo 50 km), embora também haja
avanço da cunha sedimentar (Mohriak et al. 1995b; Mohriak e interpretações de que as progradações sejam devidas ao fluxo
Szatmari, 2001). A compressão observada na região de de sal controlado pela sobrecarga sedimentar, sem extensão
muralhas de sal, em águas profundas, aparentemente é dos estratos (Ge et al. 1997). Feições semelhantes, em menor
balanceada pela extensão sedimentar nas zonas de falhas da escala, também ocorrem em outras bacias sedimentares (e.g.,
plataforma continental (Cobbold et al. 1995). Bacia de Jequitinhonha, na Bahia).
A falha antitética de Cabo Frio resultou de progradação Segmentos da margem continental caracterizados por
clástica maciça de sedimentos siliciclásticos do Albiano Médio reentrâncias ou concavidades na bacia evaporítica (e.g., Santos
a Terciário Inferior, associados a soerguimento da Serra do e Cumuruxatiba) resultam em fluxo convergente de sal, na
Mar e Serra da Mantiqueira (Mohriak et al. 1995b). A sobrecarga direção do centro do arco, no qual são comuns estruturas
sedimentar resultou em mobilização da massa de sal, cujo compressionais, como empurrões e gotas de sal (Szatmari e
fluxo foi controlado por grande falha de rejeito antitético Demercian, 1993; Cobbold et al. 1995). Já os segmentos da
(provavelmente associada a reativações de falhas de margem caracterizados por convexidades ou saliências na bacia

Figura III.17 – Seção sísmica na Bacia de Campos, ilustrando feições Figure III.17 – Seismic section in the Campos Basin, illustrating exten-
halocinéticas extensionais e compressionais em águas profundas sional and compressional halokinetic features in the deep water region
III. Bacias Sedimentares da Margem Continental Brasileira 113

Figura III.18 – Mapa geológico esquemático da região sudeste Figure III.18 – Schematic geological map of the southeastern Brazilian
brasileira, mostrando as bacias tafrogênicas do continente, a região region, showing the onshore taphrogenic sedimentary basins, the Tertiary
de vulcanismo terciário ao longo do Alto de Cabo Frio e a região do volcanic region along the Cabo Frio High and the Albian gap associated
vazio albiano associado à zona de falha antitética de Cabo Frio with the antithetic Cabo Frio fault zone

Figura III.19 – Seção sísmica na Bacia de Santos, ilustrando feições Figure III.19 – Seismic section in the Santos Basin, illustrating
halocinéticas relacionadas à progradação clástica maciça no Cretáceo, halokinetic features associated with Cretaceous massive clastic
formando diápiros de sal em águas profundas progradation, forming salt diapirs in the deep water region
114 Parte I – Geologia

evaporítica (e.g., Bacia de Campos) apresentam fluxo condições de maior restrição à circulação oceânica, com
divergente de sal, onde são mais comuns as falhas ambiente deposicional caracterizado por hipersalinidade e
extensionais, seja na direção da bacia seja na direção paralela anoxia (Dias-Brito, 1987), definindo-se uma seqüência marinha
à linha de costa. restrita. Nesta seqüência podem ser reconhecidas as seguintes
Nas bacias da margem leste, particularmente em fácies, em função das características de ambiente deposicional
Cumuruxatiba e Jequitinhonha, destacam-se notáveis feições e de litologia: nerítica, hemipelágica e de águas profundas. A
compressionais, com grandes falhas de empurrão com fácies nerítica, que abrange idades do Albiano Inferior a Médio,
vergência para o mar (Mohriak e Nascimento, 2000). pode atingir mais de 1.000 m de espessura e é marcada por
Na Bacia Sergipe–Alagoas, feições diapíricas em águas uma sedimentação carbonática (calcarenitos e dolomitos) em
profundas têm interpretações opcionais de intrusões ígneas e água rasa, intercalados com folhelhos, com os estratos
diápiros de sal (Mohriak, 1995b). sedimentares depositados em domínios de rampa a plataforma
Registra-se também a ocorrência de sedimentos da de alta energia, com águas hiper-salinas e fundo oxigenado
megasseqüência transicional, localmente incluindo evaporitos, (Dias-Brito, 1982; Dias-Brito e Azevedo 1986; Koutsoukos e
nas bacias da margem equatorial, em particular, na Bacia do Dias-Brito, 1987; Azevedo et al. 1987). A coincidência geral
Ceará. Ocorrências esparsas de evaporitos aptianos são entre almofadas de sal e bancos carbonáticos de alta energia
também registradas nos riftes intracontinentais do norte– alongados segundo a direção NE–SE sugere um possível
nordeste, em particular nas bacias de São Luís, Bragança– controle dessas fácies por feições positivas (almofadas de
Viseu e Araripe, além das bacias intracratônicas (e.g., sal), enquanto os carbonatos de granulometria mais fina
Parnaíba). ocupavam as depressões entre os bancos (Guardado e Spadini,
1987).
Megasseqüência Pós-rifte As fácies hemipelágicas e de águas profundas representam
o afogamento da plataforma albiana. As litologias
A passagem da Megasseqüência Transicional (evaporítica) para predominantes são margas e calcilutitos de idade
a Megasseqüência pós-rifte ou marinha (carbonática a Cenomaniano–Turoniano, registrando-se também folhelhos
siliciclástica) é gradacional, pontuada por várias pequenas pretos, ricos em matéria orgânica, relacionados ao evento
discordâncias (Cainelli e Mohriak, 1998). O decaimento temporal anóxico mundial do Turoniano (Jenkyns, 1980). Em resposta
da anomalia térmica gerada durante a fase de estiramento ao afastamento das placas oceânicas, o Atlântico Sul tornou-
litosférico (McKenzie, 1978) e o progressivo movimento da se conectado ao Atlântico Norte e ao Oceano Índico apenas
placas sul-americana e africana, afastando-se do centro de no Turoniano Superior (Emery e Uchupi, 1984).
espalhamento ativo na cordilheira meso-oceânica, resultou Arenitos turbidíticos estão distribuídos nessas fácies e
no resfriamento e contração da litosfera e, como conseqüência, indicam quedas do nível do mar de terceira e quarta ordens
isostática, no aumento da subsidência termal na direção da durante a subida do nível do mar que prevalecia como variação
bacia profunda. A subsidência contínua resultou na dissipação relativa de segunda ordem (Guardado e Spadini, 1987; Cainelli
das barreiras de restrição no proto-oceano, com o ambiente e Mohriak, 1998, Guardado et al. 2000). No caso da Bacia de
tornando-se marinho aberto. Campos, os turbiditos albo-cenomanianos da super-seqüência
Essas mudanças permitem dividir a megasseqüência pós- marinha transgressiva formam extensos lençóis arenosos,
rifte ou marinha em duas super-seqüências, uma transgressiva enquanto os turbiditos do Cenomaniano–Turoniano estão
e outra regressiva (Cainelli e Mohriak, 1998). A super-seqüência confinados em calhas mais estreitas, controladas por falhas
marinha transgressiva compreende uma espessa seção durante uma fase de intensa halocinese (Bacoccoli et al. 1980;
sedimentar mais restrita, carbonática (ambiente marinho raso Guardado et al. 1989).
na plataforma e marinho profundo na bacia). A super-seqüência Condições de mar cada vez mais franco começaram a
marinha regressiva inclui espessa seção sedimentar predominar apenas no Turoniano Superior (Cainelli e Mohriak,
siliciclástica, em ambiente marinho aberto, com paleoba- 1998), sendo marcante a ocorrência de uma discordância
timetrias que atingem níveis batiais a abissais, na plataforma regional (e.g., discordância da base da Formação Calumbi na
e na região das muralhas de sal (Koutsoukos, 1984). Bacia Sergipe–Alagoas), separando os estratos pré-turonianos
A Super-seqüência Marinha Transgressiva é marcada por dessa seqüência inferior, de características mais anóxicas,
sedimentação francamente oceânica, sendo caracterizada por dos estratos superiores, depositados em ambientes mais
uma relativa estabilidade ambiental, por paleobatimetrias oxidados. Caracteriza-se uma típica transgressão até o
atingindo valores entre 1.000 e 2.000 m e por grande Santoniano–Campaniano, quando começa a ocorrer um
diversidade biológica (Koutsoukos, 1984; Koutsoukos, 1987). aumento do aporte sedimentar, formando uma típica regressão
Parte da megasseqüência marinha, englobando idades de marinha. A Super-seqüência Marinha Regressiva instala-se no
Albiano Inferior a Cenomaniano Superior, é marcada por Cretáceo Superior na Bacia de Santos (Pereira e Feijó, 1994)
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e no Terciário Inferior em grande parte das bacias da margem Vulcanismo pós-rifte


divergente, registrando-se notável discordância separando as Durante o Cretáceo Superior e Terciário Inferior, a região entre
duas super-seqüências (e.g., discordância da base do Terciário, a Bacia de Santos e a Bacia do Espírito Santo foi intrudida
na Bacia de Campos, Cainelli e Mohriak, 1998). por vários focos magmáticos alcalinos, tanto na região de
O preenchimento das bacias sedimentares da margem crosta oceânica como na região de crosta continental, atingindo
divergente é bastante semelhante entre si e caracteriza-se principalmente a região de Cabo Frio (Fig. III.20) e Abrolhos
por um estilo retrogradacional no Cretáceo Superior, com (Cainelli e Mohriak, 1998), notadamente ao longo de zonas
ambiente de deposição marinho profundo, seguido por uma de fraturas e lineamentos oceânicos e continentais, como,
progradação geral no Terciário, com feições offlap nas por exemplo, o lineamento Cruzeiro do Sul, que se estende
seqüências sismo-estratigráficas e vários cortes de cânions numa direção NW desde o Alto do Rio Grande até a borda
(Ricci e Becker, 1991). oeste da Bacia de Campos, no alto de Cabo Frio (Souza et al.
Na Bacia de Santos, ao contrário, grandes quantidades 1993).
de sedimentos associados ao soerguimento e à erosão da Os montes submarinos Jean Charcot (Fig. III.21) ocorrem
Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira excederam o espaço além do limite distal do sal, na transição de crosta continental
de acomodação criado pela subida do mar e desenvolveram para crosta oceânica, e ilustram a geometria dessas feições
cunhas clásticas progradantes, depositadas principalmente que ocorrem em vários segmentos da margem. Intrusões ígneas
entre o Campaniano e Maastrichtiano (Pereira et al. 1986; são também caracterizadas em zonas de fraturas, como, por
Pereira e Feijó, 1994). A seção progradante avançou dezenas exemplo, ao longo da Zona de Fratura do Rio Grande, que se
de quilômetros além da quebra da plataforma (Fig. III.19), estende com uma direção leste–oeste da crosta oceânica até
formando uma sobrecarga sedimentar que expulsou o sal a plataforma de Florianópolis, no limite entre as bacias de
subjacente (Mohriak et al. 1995b). Mais ao norte, na Bacia de Santos e Pelotas (Severino e Gomes, 1991).
Campos, uma menor influência do soerguimento da Serra do
Mar permitiu a deposição de folhelhos transgressivos que Turbiditos da Seqüência pós-rifte (marinha regressiva)
avançaram dezenas de quilômetros além da quebra de Durante o Terciário, maior aporte sedimentar numa área com
plataforma, na direção do continente (Guardado et al. 1989). cada vez menor espaço de acomodação resultou numa cunha
Na parte oeste da margem equatorial, mais especifica- progradante bem definida entre a plataforma e o talude,
mente na região da Foz do Amazonas, ocorreu um intenso alcançando espessuras de mais de 4.000 m na margem leste
aporte sedimentar no Mioceno, interrompendo a deposição brasileira (Cainelli e Mohriak, 1998). Estabeleceu-se na margem
da plataforma carbonática que se estendia ao longo da margem uma plataforma mista clástica-carbonática, com arenitos
norte da América do Sul. Essa plataforma carbonática atinge costeiros e plataformais gradando para carbonatos na direção
grandes espessuras nas bacias do Pará–Maranhão e do talude. Depósitos turbidíticos ocorrem extensivamente no
Barreirinhas (Caldeira et al. 1991). Terciário Inferior a Médio, particularmente acima de uma

Figura III.20 – Seção sísmica na Bacia de Campos (Alto de Cabo Figure III.20 – Seismic section in the Campos Basin (Cabo Frio High),
Frio), mostrando cones vulcânicos do Terciário (em detalhe) showing Tertiary volcanic plugs (inset with zoom)
116 Parte I – Geologia

Figura III.21 – Seção sísmica (com interpretação geológica) na região Figure III.21 – Seismic section (with geological interpretation) in the
de águas profundas da Bacia de Santos, mostrando altos vulcânicos deep water region of the Santos Basin, showing volcanic highs of the
dos Montes Jean Charcot Jean Charcot seamounts

discordância regional do Eoceno Médio que é bem caracteri- coalesceram lateralmente, formando uma relativamente
zada, particularmente na bacia de Campos (Rangel et al. 1994). espessa e extensa acumulação de areias sob forma de lençóis
Um amplo complexo turbidítico estabeleceu-se entre o e cunhas clásticas, limitadas por superfícies de erosão, as
Eoceno Médio e o Oligoceno nas bacias de Campos, Santos, quais estão provavelmente associadas a mudanças climáticas
Espírito Santo e Sergipe–Alagoas. Como a Bacia de Campos é e ao padrão de circulação oceânica (Souza Cruz, 1998).
marcada pela ocorrência dos únicos campos gigantes de A tectônica salífera, particularmente na região de diápiros
petróleo do Brasil, a análise dos parâmetros que controlaram e muralhas de sal, resultou em depressões acentuadas,
a formação dos reservatórios em águas profundas é de grande formando calhas de subsidência, grábens de evacuação e mini-
importância econômica e para a geologia do petróleo. bacias, nas quais empilharam-se sucessivamente diversos
A formação dos depósitos turbidíticos da Bacia de Campos sistemas turbidíticos que se amalgamaram verticalmente e
pode ser atribuída ao fato de que no intervalo Cretáceo coalesceram lateralmente, formando cunhas espessas que
Superior–Terciário Médio grandes áreas da parte externa da algumas vezes apresentam inversão de depocentros (chamado
plataforma e do talude tornaram-se instáveis, e o colapso efeito gangorra, causado por movimentação halocinética entre
gravitacional dos depósitos arenosos, movimentados por diápiros adjacentes).
tectônica de sal e eventos magmáticos, resultou numa maciça Registram-se espessas seqüências de turbiditos no
transferência de sedimentos como fluxos de massa na direção Maastrichtiano, no Eoceno Médio e no Oligoceno, várias delas
da bacia profunda, formando lençóis de turbiditos e de fluxos com acumulações gigantes de hidrocarbonetos (Rosa, 1987;
de detritos (Peres, 1993; Cainelli e Mohriak, 1998). A porção Guardado et al. 1989; Mohriak et al. 1990a; Candido e Costa,
erosional de cada limite de seqüência é expressa sismicamente 1990; Rangel et al. 1998). Subseqüentemente, mais de 1.000 m
por vales incisos, cânions, cicatrizes e colapso de talude de sedimentos pelíticos do Mioceno cobriram o complexo
(Carminatti e Scarton, 1991). turbidítico do Oligoceno, resultando em nova sobrecarga
Na direção do talude, os mais espessos depósitos sedimentar sobre a camada de sal e desenvolvimento de
turbidíticos acumularam-se onde a remobilização de sal, grandes falhas lístricas que estruturaram os turbiditos do
associada à sobrecarga sedimentar diferencial, ocorreu Oligoceno e criaram caminhos de migração para a acumulação
contemporaneamente com a deposição dos siliciclásticos nos de óleo nos reservatórios superiores (Guardado et al. 1989;
baixos contemporâneos (Figueiredo e Mohriak, 1984). Esse Pessoa et al. 1999).
processo resultou numa larga e relativamente rasa depressão Dados de litofácies para o sistema turbidítico do Oligoceno
no fundo do mar, para onde foram canalizados os cânions na região dos campos gigantes de Marlim e Albacora (Guardado
submarinos, que focalizaram a deposição de sucessivos et al. 1989; Dias et al. 1990; Candido e Costa, 1990; Carminatti
depósitos turbidíticos que se amalgamaram verticalmente e e Scarton, 1991; Peres, 1993; Cainelli e Mohriak, 1998) revelam
III. Bacias Sedimentares da Margem Continental Brasileira 117

três fácies arenosos, geneticamente relacionados a limites margem equatorial para a margem nordeste) e os segmentos
de seqüências: (1) a fácies proximal, caracterizada por divergentes das margens nordeste, leste, sudeste e sul, cada
conglomerados maciços, com matriz argilosa, e por arenitos qual com características estratigráficas e estruturais distintas
conglomeráticos, formando depósitos residuais nos canais e (Cainelli e Mohriak, 1998).
preenchendo superfícies erosionais irregulares; (2) a fácies Além das bacias oceânicas, ocorrem também alguns riftes
arenosa, consistindo de arenitos de granulação fina, sem abortados que são parte integrante da evolução tectono-
estruturas evidentes, com corpos variando em espessura entre sedimentar da margem continental, estando relacionados à
30 e 150 m; e (3) a fácies arena-argilosa, caracterizada por ruptura do Gondwana, tendo sua gênese associada a
intercalações de arenitos laminados bem selecionados, produto semelhantes processos formadores de bacias. Entre esses riftes
de retrabalhamento de depósitos anteriores por correntes de destacam-se os seguintes: Tacutu; Bragança–Viseu; São Luís–
fundo, com folhelhos hemipelágicos. Estas duas últimas fácies Ilha Nova; Jacaúnas; Potiguar (terrestre); Recôncavo–Tucano–
compreendem mais de 95% dos reservatórios do Oligoceno Jatobá; São Paulo–Taubaté–Resende–Volta Redonda–Itaboraí–
dos campos gigantes de Marlim e Albacora (Carminatti e Barra de São João.
Scarton, 1991). Sismicamente, o corpo arenoso aparece como A Fig. III.22 mostra a localização das principais bacias
uma feição tabular, mas em escala de reservatório. As análises oceânicas e continentais a serem discutidas a seguir. Da Fig.
de testemunhos e de dados sísmicos 3-D indicam que os III.23 até a Fig. III.26 apresenta-se uma sucessão de colunas
turbiditos são formados por (i) complexos de canais; (ii) lobos tectono-estratigráficas dos principais riftes abortados e das
amalgamados, relativamente espessos; e (iii) delgados lobos bacias sedimentares ao longo da margem continental.
amalgamados, com granulometria mais fina, e bastante
dissecados por canais (Bruhn et al. 1998; Bruhn, 1999).
Na Bacia de Santos, grandes depósitos turbidíticos podem Riftes abortados da margem continental
ser identificados na plataforma continental, estendendo-se
na direção do talude e da região de águas profundas (Pereira Vários riftes abortados (com reduzido desenvolvimento de
et al. 1986; Peres, 1993). Notadamente na parte centro-norte subsidência da fase termal e sedimentação marinha) são
da bacia, progradações do Eoceno são bastante características encontrados ao longo da margem continental e também no
nos dados sísmicos (Cainelli e Mohriak, 1998). interior do continente. São bacias relativamente pequenas,
Na Bacia do Espírito Santo, depósitos arenosos com grande mas que podem alcançar grandes espessuras, como é o caso
espessura concentram-se numa calha alongada segundo a da Bacia do Tucano. Alguns desses riftes (e.g., Tacutu e Marajó)
direção NW, aparentemente controlados por grandes estão associados à fase inicial de ruptura do Gondwana, com
descontinuidades no embasamento, notadamente o lineamento evolução tectono-sedimentar estendendo-se até o Triássico–
de Colatina, que atravessa a região continental na região do Jurássico, enquanto outros estão diretamente ligados à
Alto de Vitória e estende-se para o sul na direção da Bacia de formação dos riftes das bacias da margem continental, no
Campos (Cordani et al. 1984). Cretáceo Inferior (e.g., Recôncavo–Tucano–Jatobá). Outros
Na Bacia Sergipe–Alagoas, os turbiditos arenosos do ocorrem na plataforma continental rasa e são cobertos por
Cretáceo Superior a Terciário Inferior são eventos relativamente sedimentos da fase de subsidência termal das bacias marginais
comuns mas descontínuos e com pequena espessura, sendo (e.g., Cassiporé). Outros estão associados a reativações
ocasionalmente encontrados na perfuração de objetivos mais tectônicas tardias, durante a fase de deriva continental,
profundos. Normalmente as camadas arenosas atingem notadamente na região sudeste, onde ocorrem pequenas bacias
espessuras de poucos metros, e os sedimentos de granulometria com preenchimento sedimentar com idade terciária a
mais grosseira são interpretados como depósitos residuais de quaternária (e.g., bacia de Taubaté e outras bacias da região
fundo de canal, formando corpos isolados ou amalgamados, entre São Paulo e Rio de Janeiro).
com canais e levees migrando ao longo do talude (Cainelli e Os principais riftes abortados a serem discutidos são os
Mohriak, 1998). seguintes: Tacutu; Cassiporé; Bragança–Viseu; São Luís–Ilha
Nova; Jacaúnas; Potiguar (terrestre); Recôncavo–Tucano–
Jatobá; São Paulo–Taubaté–Resende–Volta Redonda–Itaboraí–

Características Estratigráficas
Barra de São João.
A Fig. III.23 apresenta uma sucessão de colunas
e Estruturais estratigráficas simplificadas dos principais riftes abortados
da margem continental.
A margem continental brasileira pode ser dividida em diversos A Bacia de Tacutu (Fig. III.22), situada na região de
domínios tectônicos, englobando o segmento transformante fronteira entre o Estado de Roraima e o distrito guianense de
da margem equatorial, o segmento transversal (passagem da Rupunini, estende-se por cerca de 300 km na direção NE e
118 Parte I – Geologia

Figura III.22 – Mapa simplificado com a


localização das bacias sedimentares brasileiras

Figure III.22 – Simplified map with location of


Brazilian sedimentary basins

Figura III.23 – Colunas estratigráficas das bacias sedimentares Figure III.23 – Stratigraphic columns of the Brazilian sedimentary
brasileiras associadas a riftes abortados basins associated with aborted rifts

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