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la ARTÍCULO T TÉCNICA
y UGÊNIO F oresti
Profesor del Departamento de Hidráulica y Saneamiento, Universidad de Sao Paulo - USP / São Carlos
L UIZ O. M ONTEGGIA
Profesor del Instituto de Investigaciones Hidráulicas de la Universidad Federal de Rio Grande do Sul - UFRGS
RESUMO ABSTRACT
Esse artigo apresenta uma revisão sobre os diferentes protoco- los para a This paper presents a review on the different methodologies to determine the
determinação da atividade metanogênica específica (AME) de lodos specific methanogenic activity (SMA) of anaerobic sludges. The protocols
anaeróbios. Os protocolos propostos se diferem tanto em relação aos available in the literature differ not only regarding the procedures adopted to
procedimentos adotados para a incubação do lodo, quanto ao método incubate the sludge, but also in relation to the method utilized to quantify the
utilizado para quanti- ficação do metano produzido durante o teste. São methane produced during the test. This paper discusses the principles of
discutidos os princípios dos métodos manométricos e volumétricos, e manometric and volumetric methods, and briefly describes the protocols
descritos brevemente os protocolos de incubação do lodo, de medição do mostly used by the Brazilian research community for sludge incubation,
metano e o procedimento para cálculo da AME obtida pelos métodos mais methane measurement and calculation of SMA.
utilizados pela comunidade científica nacional.
PALAVRAS-CHAVE: Lodo anaeróbio, dgestão anaeróbia, Atividade KEYWORDS: Anaerobic sludge, anaerobic digestion, Specific Methanogenic
Metanogênica Específica, Testes AME. Activity; SMA tests.
INTRODUÇÃO da demanda química de oxigênio (DQO), da determinado reator permite estabelecer, em última
água residuária a ser trata- da só ocorrerá de análise, a capacidade máxima de remoção de
A atividade metanogênica espe- cífica fato com a formação do metano, que por ser DQO da fase líquida, e por isso permite estimar a
(AME) pode ser definida como a capacidade praticamente insolúvel em água, escapa carga orgânica máxima que pode ser aplicada com
máxima de produção de metano por um facilmente da fase líquida. mi- nimização do risco de desbalanceamento do
consórcio de micror- ganismos anaeróbios, processo anaeróbio. Fazendo uma análise inversa,
realizada em condições controladas de Desta forma, a AME pode ser utilizada a AME permite determi- nar a massa mínima de
laboratório, para viabilizar a atividade como um parâmetro de moni- toramento da lodo anaeróbio a ser mantida no reator para a
bioquímica máxima de conversão de substratos “eficiência” da população metanogênica remoção de determinada carga orgânica aplicada.
orgânicos a biogás. A determinação da presente em um reator biológico e, como tal, Consequentemente o conhecimento da AME
capacidade do lodo anaeróbio em produzir constitui-se ainda em uma importante possibilitaria a adoção de procedi- mentos mais
metano é importante porque a remoção de ferramenta para o controle operacional de racionais para o descarte de lodo de sistemas
elétrons equivalentes, ou seja compostos reatores anaeróbios (Foresti et al, 1999). O anaeróbios.
Os trabalhos de Valcke & Verstraete medição do metano produzido, não se pode Os cerca de 30% restantes de metano são
A RTIGO T ÉCNICO
(1983), De Zeeuw (1984) e Dolfing & Bloemen sugerir nesse artigo, um procedi- mento único produzidos por microrganismos
(1985) foram pioneiros no desenvolvimento e para a determinação da AME. Sendo assim, o hidrogenotróficos a partir da redução do dióxido
uso dos testes de AME, como ferramenta de principal objetivo dessa revisão é apresentar os de carbono. Desta forma, muitos pesquisadores
caracterização e avaliação de reatores principais métodos utilizados pela comunidade utilizam comu- mente sais de acetato ou ácido
anaeróbios. No Brasil, pesquisas sobre o teste científica nacional e internacional para a acético como substrato. O cálculo da AME
de AME começaram a ser feitas cerca de dez determinação da AME, dedicando-se especial através do uso de apenas acetato como fonte
anos depois, e a tese de doutorado de Penna atenção ao princípio de cada método, aos de carbono e energia subestima em no mínimo
(1994) talvez te- nha sido o primeiro trabalho principais equipamentos necessários para sua 30% a capacidade má- xima de produção de
brasileiro devotado ao estudo das condições de implantação, bem como ao procedimento para metano, uma vez que microrganismos
incubação e implantação do teste de AME. Os cálculo da AME. hidrogenotróficos têm maiores taxas de
artigos de Penna et al (1995) e Monteggia crescimento que os acetoclásticos (Harper &
(1997) foram de fato as primeiras comunicações Poland, 1986 ; Pavlostathis & Giraldo-Gomez,
científicas nacionais que discutiram a Torna-se importante esclarecer que a
necessidade, e propuseram uma metodologia, falta de uma padronização in- ternacionalmente
para a harmonização do teste de AME. Não aceita para o teste de AME dificulta, de certa 1991) e certamente estarão presentes em
obstante as contribuições desses autores, o fato forma, a comparação dos resultados absolutos reatores reais devido à degradação de substrato
é que há, na literatura nacional e internacional, obtidos a partir de cada metodologia atualmente mais complexo (proteínas, carboidratos e
diferentes protocolos para a determinação da disponível. Nesse sentido, entende-se que os lipídeos) que resulta em produção de hidrogênio
atividade me- tanogênica de lodos anaeróbios. resultados obtidos a partir de cada um dos (H 2) e gás carbônico (CO 2).
Os protocolos diferem entre si tanto nos métodos ora descritos devam ser utilizados
procedimentos adotados para a incuba- ção do muito mais como base relativa de comparação No sentido de se avaliar a ativida- de
lodo (concentração de biomassa, tipo e em cada local em que vier a ser aplicado e metanogênica de ambos os grupos de
concentração de substrato, rela- ção levando-se em conta ainda o objetivo principal microrganismos, acetoclásticos e
alimento/microrganismo, tipo e concentração de de aplicação do resultado. Em outras palavras, hidrogenotróficos, alguns pesquisa- dores
nutrientes, tempo de incubação, etc), quanto uma vez escolhido um determinado método (Field et al, 1987; Florencio et al, 1993; Alves
para a quanti- ficação do metano produzido. para o teste de AME, os resultados obtidos et al, 2005) utilizam uma mistura de ácidos
através do mesmo serão muito mais úteis em graxos voláteis (AGVs), comumente
termos comparativos, por exemplo, entre constituída de acetato (C 2), propionato (C 3) e
determinadas condições e fases operacionais butirato (C 4), na proporção de 100:100:100 g/L,
de reatores anaeróbios. respectivamente. A DQO resultante da mistura
de AGVs tem a proporção de 24,3:34,4:41,3 %
Em relação aos procedimentos de para C 2, C 3 e C 4,
incubação, observa-se que a comunida- de
científica utiliza diferentes concen- trações Portanto, a maior contribuição deste artigo respectivamente. Nesse caso, o teste avaliará
iniciais de substrato e biomassa, sendo que será no sentido de fornecer subsídios para a não só a atividade dos micror- ganismos
alguns pesquisadores prefe- rem utilizar glicose comunidade científica e para os operadores de metanogênicos, mas também a capacidade
como substrato, ao passo que outros utilizam reatores ana- eróbios escolherem um sintrófica do sistema, ou seja, a atividade dos
ácido acético ou uma mistura dos principais determinado método para medição da AME do microrganismos que convertem propionato e
ácidos orgânicos intermediários da digestão lodo, além da proposição de algumas padro- butirato em acetato. É importante salientar que a
anaeróbia (ácidos acético, propiônico e butírico). nizações mínimas a serem empregadas por avaliação da atividade dos microrga- nismos
Em relação à quantificação de metano, há qualquer método que venha a ser escolhido. sintróficos é fundamental para a boa operação
métodos mais sofisticados, como os que se dos digestores anaeróbios. Como os
empregam cromató- grafos a gás e/ou microrganismos metanogê- nicos não produzem
respirômetros inter- faciados com metano a partir de propionato ou butirato, a
micro-computadores, bem como métodos CONSIDERAÇÕES SOBRE AS queda de eficiência de um reator anaeróbio pode
simplificados que se baseiam na purificação do estar mais relacionada à baixa atividade dos
CONDIÇÕES DO TESTE DE AME
metano do biogás seguida de sua determinação microrganismos sintróficos pro- dutores de
volumétrica.
Tipo e concentração de substrato acetato do que à atividade de microrganismos
metanogênicos consumidores de acetato.
metabólica de microrganismos fer- mentativos do teste. Ou seja, partindo-se de uma se faça análise dos sólidos suspensos voláteis
A RTIGO T ÉCNICO
(acidogênicos), sintróficos (acetogênicos) e concentração maior de biomassa, haverá uma (SSV) no lodo utilizado como inóculo. Outro
produtores de metano (metanogênicos), menor relação alimen- to/microrganimos (A/M), aspecto importante que se deve ter em mente é
permitindo avaliar a atividade do consórcio resultando em degradação mais rápida do o crescimento da biomassa durante o ensaio,
anaeróbio como um todo. Se o teste com substra- to disponível, sendo a análise inversa que interfere diretamente na determinação do
glicose evidenciar uma baixa produção de me- verdadeira. Como o resultado final da AME é valor de AME, uma vez que a con- centração de
tano, então novos testes com mistura de AGVs expresso de forma normalizada, ou seja, SSV é geralmente medida no início e não no
ou com acetato poderiam ser feitos para levando-se em conta a massa de inóculo, a final do teste. Para minimizar este problema,
identificar que grupo(s) de microrganismo(s) concentração inicial de lodo não deveria afetar o devem ser utilizadas concentrações
está(ão) limitando a degradação anaeróbia. valor da AME obtido. Tais fatos foram relativamente altas de lodo e baixas
observados por Monteggia (1997) que, concentrações de substrato (baixa relação A/M).
investigando o efeito da concentração de Uma alternativa seria fazer a análise de SSV
Em relação à concentração do substrato microrganis- mos no teste de AME feito sob tanto no início quanto no final do teste, e usar o
utilizado, é importante res- saltar que o teste de agitação, concluiu que a faixa ótima de valores valor médio para calcular a AME. Esse
AME deve ser feito com excesso de substrato e de AME ocorreu entre 2 e 5 g SSV/L e que, para procedimento informaria, ainda, se houve
nutrientes, de forma que a cinética de valores crescentes de SSV, houve redução predominantemente crescimento ou endogenia
degradação se aproxime de uma reação de significativa na duração do teste, ao passo que, da biomassa durante o teste.
pseudo or- dem zero, passando a depender para valores de SSV abaixo de 2 g/L ou
apenas da concentração dos microrganismos superiores a 5 g/L, houve redução apenas
(inóculo) presentes. Desta forma, o importante é discreta nos valores de AME. Rocha et al (2001)
que a concentração de substrato seja maior que salientam que se o ensaio é conduzido sem
o valor de K s, que no caso dos microrganismos agitação, a concentração de lodo deve ser em Solução de nutrientes
metanogênicos acetoclásticos situa-se na faixa torno de 2,0 gSSV/L para se reduzir problemas
de 11 a 421 mg/L de acetato (Harper & Ohlland, com a difusão do substrato. A solução de nutrientes ideal, ou
1986 ; Pavlostathis & Giraldo-Gomez, 1991). água de diluição, deve conter macro
Sendo assim uma concentração de 2 g/L de (N-NH 4
+
, P-PO 4 3-, Mg, Ca) e
acetato seria suficiente para garantir excesso de micro-nutrientes (Fe, Ni, Zn, Co...), bem como
substrato e, de fato, essa concentração é o valor alcalinidade (NaHCO 3 ou KH 2 PO 4 + K 2 HPO 4) e
de referência recomendado por Monteggia Os resultados de Penna (1995) são agente redutor (Na 2 S.7H 2 O). Não há consenso
(1997), que concluiu que o uso de concordantes com os de Monteggia (1997), ao na literatura em relação à solução nutri- cional
concentrações de ácido acético na faixa de 2 a 4 mostrarem que a quantidade de biomassa, na a ser usada no teste de AME, havendo
g/L resultaram em valores máximos de AME. faixa de 2,5 a 20 g/L, não influenciou no resultado inclusive a sugestão de alguns pesquisadores
da AME. Entretanto, Penna (1995) mostrou que, para a não utilização das soluções minerais e
para testes de AME com lodo de esgoto sanitário, nutricionais, para alguns tipos de lodo, como é
nas concentrações iniciais de o caso do lodo de esgoto sanitário (Dolfing &
Bloemen, 1985; Penna, 1995). Tal sugestão é
Segundo Penna (1994), para cada 5,2 e 10 gSSV/L, os melhores valores de motivada pela decorrente simplificação do
quantidade de biomassa, existe uma faixa A/M ficaram na faixa de 0,3 a teste, e tem como premissas a pequena
adequada de quantidade de substrato, que 0,5 gDQO/gSSV. Para testes com lodo a 20 duração do teste e a presença de nutrientes no
varia com a natureza e atividade do lodo. Ou gSSV/L, a melhor relação ficou na faixa de 0,1 lodo de es- goto sanitário. Entretanto, a
seja, a relação alimento/microrganismo que a 0,25 gDQO/gSSV, ao passo que para lodo tendência na literatura nacional e internacional
resulte em maior valor de AME deve ser pes- com 2,5 gSSV/L, a faixa de 0,8 a 1,8 é a de se adicionar solução nutricional ao
quisada caso a caso. Além disso, Penna (1994) gDQO/gSSV foi a que forneceu os maiores frasco de reação, conforme mostra a Tabela 1,
chega a sugerir a utilização, como substrato valores de AME. Steil et al (2004) corroboram originalmente proposta por Monteggia (1997) e
durante o teste, da própria água residuária que a proposição de Penna (1995), de que é complementada aqui com outras referências.
alimenta o reator que forneceu o lodo para o necessário pesquisar para cada lodo a relação
teste. Essa proposição decorre do fato de o A/M que fornece o maior valor de AME, e
autor ter verificado que a AME obtida com a mostraram que
água residuária foi similar àquela obtida quando
se usou uma mistura de AGVs como substrato. 0,25 gDQO/gSSV foi o valor de A/M mais A solução de nutrientes utilizada por
adequado quando a mistura de AGVs foi Souza et al (2005) é uma adapta- ção do meio
escolhida como substrato. nutricional apresentado em Chernicharo
Como o resultado do teste será expresso (1997), por incluir os macro-nutrientes cálcio e
em termos da quantidade de biomassa presente, magnésio (CaCl 2. 2H 2 O e MgCl 2), os micronu-
Concentração inicial de a quantidade do inóculo usada, em tese, não trientes níquel e boro (NiCl 2. 6H 2 O e H 3 BO 3), e
inóculo precisaria ser exatamente a mesma para por reduzir a quantidade de fósforo (K 2 HPO 4 e
diferentes ensaios. O importante é que se saiba KH 2 PO 4) devido à substituição desse sistema
Assumindo-se que o substrato e os exatamente a concentração do lodo pre- sente tampão pelo sistema bicarbonato (NaHCO 3).
nutrientes estarão presentes em excesso durante em cada frasco para que se possa calcular com
o teste de AME, é de se esperar que a precisão a massa inicial de inóculo. Por isso é
concentração inicial de inóculo defina, em última indispensável que No sentido de harmonizar, em termos de
instância, a duração Brasil, a solução nutricional a
ser usada no teste de AME, recomenda- se que trato, ou seja, quando a quantidade de metano carga orgânica que poderia ser aplicada no
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a solução de nutrientes proposta pela referência acumulada for igual à teórica (Penna, 1995), o reator anaeróbio contendo determi- nada massa
X (ver Tabelas 1 e 2) seja utilizada e que poderia levar de horas a semanas. A maioria de lodo. Contudo, deve-se avaliar criticamente o
complementada com 50 mg/L de extrato de dos pesqui- sadores prefere adotar uma solução resultado do teste de AME, uma vez que os
levedura (fonte de vitaminas). Embora tal mais prática, encerrando o teste quando a reatores anaeróbios em operação nas estações
procedimen- to não contribua para a produção acumulada de metano sai da fase de tratamento ficam submetidos à variação
simplificação do teste, tal padronização exponencial e entra na fase estacio- nária. Nesse sazonal de temperatura, e raramente trabalham
facilitaria a comparação de resultados de caso é preciso verificar se a produção acumulada na faixa de temperatura ideal para a atividade
diferen- tes grupos de pesquisa, uma vez que de metano ao final da fase exponencial atingiu o metanogênica. Sendo assim, o resultado de AME
eliminaria incertezas relacionadas à deficiência mínimo de 50% da produção teórica. determina- do em laboratório pode superestimar
nutricional que poderiam eventualmente surgir, a capacidade de conversão dos micror- ganismos
a depender da origem do lodo testado. metanogênicos no reator exposto a condições
ambientais dife- rentes. Pesquisa em andamento
Agitação e controle de (Souto,
temperatura
Tempo de incubação antes da
adição de substrato Deve-se garantir, durante o teste de AME, 2006) se propõe a avaliar a influência da
que haja suficiente contato da biomassa com o temperatura no resultado da AME, possibilitando
Durante a execução dos testes de AME é substrato e que não haja limitação de a determinação de coefi- ciente empírico que
comum incubar frascos de “branco”, ou seja, transferência de massa do substrato e nutrientes. permita converter os valores de AME obtidos a
contendo água des- tilada ao invés da solução de Sendo assim é comum incubar os frascos de 30 o C ou 35 o C para outras temperaturas.
substrato, para se avaliar a produção residual de reação sob agitação constante, muito embora
metano devido ao decaimento endóge- no, sendo não haja na literatura resultados con- clusivos
a produção endógena descon- tada da produção sobre a influência da agitação intermitente, e do MÉTODOS DE MEDIÇÃO DO
observada nos frascos contendo o substrato. Tal tipo de agitador uti- lizado (agitação orbital versus BIOGÁS
procedimento pode levar a erros grosseiros no agitação magnética) nos testes de AME. Penna
cálculo da AME, uma vez que a endogenia (1994) sugeriu que para lodo de esgoto sanitário Há diferentes métodos para a me- dição de
observada no frasco contendo substrato deve ser seria possível uma simplifi- cação da metodologia biogás produzido no teste de AME, os quais
bem menor que aquela obser- vada no frasco substituindo a agitação mecanizada contínua podem ser classificados em manométricos ou
“branco”. Para eliminar a incerteza do metano de pela agi- tação manual intermitente. Resultados volumétricos.
origem endóge- na FDZ-Polanco et al (2005) preliminares de pesquisa em andamento (Souto,
sugeriram a incubação do lodo por 7 dias a 35 o C, 2006) demonstraram que se a agitação Métodos manométricos
antes que o substrato fosse adicionado, para que magnética for muito intensa, os valores de AME
o metano produzido pela endogenia pudesse ser podem ser menores que os valores obtidos com Os métodos manométricos se baseiam na
desconsiderado no teste. Outros autores (James a agitação orbital e com a agitação intermitente medição da pressão exercida sobre um sensor
et al, 1990; Penna, 1994; Monteggia 1997; Silva (agitação dos frascos uma vez por dia). Esses (membrana trasdutora de pressão) acoplado ao
et al, 2005) também sugeriram a incubação do resultados parecem demonstrar que a agitação frasco de rea- ção. Dependendo da configuração
lodo, na temperatura de realização do ensaio e muito intensa com barras magnéticas pode levar do sistema a pressão medida pode ser de- vido à
na presença de nutrientes e solução tampão, à ruptura dos flo- cos microbianos, afetando mistura de gases do biogás, que é constituído
previa- mente à adição do substrato, todavia por consequen- temente a transferência de produtos principalmente por metano e dióxido de carbono,
períodos menores, da ordem de 6 a 15 horas. e substratos entre os microrganismos do ou devido somen- te ao metano. Como é
consórcio anaeróbio. possível, através de calibração do sistema,
estabelecer uma correlação entre a pressão
medida e a quantidade de metano presente
dentro do frasco de reação, o registro diário da
pressão permite determinar a taxa diária de
produção de metano e, por conseguinte, o valor
Ressalta-se que, dependendo das Com relação à temperatura, há da AME.
condições operacionais do reator (Ex. carga consenso na literatura de que o teste de AME
aplicada) no qual o lodo anae- róbio foi deva ser feito na faixa de 30 a 35 o C, para que
amostrado, a produção de metano endógena os microrganismos metanogênicos mesofílicos A grande vantagem do método
pode durar horas ou dias. Uma prática segura tenham as melhores condições de crescimen- manométrico é a possibilidade de se
para garantir que a endogenia não afete os to. Alguns pesquisadores utilizam a acoplarem os medidores de pressão a
resultados da AME consiste em incubar o lodo, temperatura de 30 o C (Chernicharo, 1997; microcomputadores, permitindo assim o
na presença de nutrientes e na tempe- ratura de Souza et al, 2005) enquanto outros preferem a monitoramento instantâneo e a automação do
realização do teste, até que a produção de temperatura de 35 o C (Alves et al, 2005; processo, enquan- to que a principal
metano se estabilize. Só então o substrato seria Monteggia, 1997; FDZ-Polanco, 2005). Como desvantagem está relacionada ao custo de
adicionado para início do teste. o teste de AME indica a capacidade de aquisição e manutenção dos equipamentos.
formação de metano, o valor de AME obtido Um exemplo de respirômetro é apresentado na
pode ser usado para se determinar a Figura 1, e vários autores já desen- volveram
O teste de AME pode ser fina- lizado equipamentos semelhantes
após o consumo total do subs-
Nutriente Referência
(mg/l)
(I) (II) (III) (IV) (V) a (VI) a (VII) a (VIII) (IX) (X) (XI) (XII)
NH 4 Cl 1.000 73,6 500 500 40 174 500 73,6 500 500 2.235 280
(NH 4)2 SO 4 - 13,6 - - - - - 13,6 - -
Na 2 HPO 4. 2H 2 O - - - - - 37 - - - - -
KCl - - - - 25 - - - - - -
Na 2 SO 4 - - - - 9 7 - - - - -
Elementos traço Não Sim b Não Não Sim b Sim b Não Sim c Sim c Sim c Sim c Sim c
a) água de torneira contendo aproximadamente 35 mg/l de íons cálcio; b) adição de 1 ml de solução de elementos traço descrito por Zehnder et al (1980);
c) solução de micronutrientes (Tabela 2); d) indicador de potencial redox (pE) (incolor: baixo pE; rosa, roxo: alto pE); e) 1 g/gDQO; f ) adição na forma de MgSO 4. 7H 2 O.
Referências: I) Valcke & Verstraete, (1983) apud Monteggia (1997); II) De Zeeuw, (1984); III) Dolfing & Bloemen, (1985) apud Monteggia (1997); IV) Dolfing, (1985) apud Monteggia
(1997); V) Koster et al, (1986); VI) Koster & Cramer, (1987); VII) Monteggia (1997); VIII); Penna (1994); IX) Cherni- charo (1997); X) Souza et al.. (2005); XI) Alvez et al (2005); XII)
Florencio et al, (1993).
Micronutriente Referência
Concentração na solução final (em mg/L)
VIII IX X XI XII
FeCl 3. 6H 2 O 2a 2 2 4 2
CoCl 2. 6H 2 O 2 2 2 2,2 2
EDTA - - - 2 1
H 3 PO 4 1 ml/L - - - -
a) Sal usado foi FeCl 2. 4H 2 O; b) Sal usado foi ZnSO 4. 7H 2 O; c) Sal usado foi CuSO 4. 5H 2 O; d) Proporção a ser adicionada na solução estoque.
para a determinação da AME usando o Um outro sistema respirométrico que pastilhas de NaOH colocadas em uma ‘cestinha’
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procedimento manométrico (James et al, pode ser utilizado e, que também utiliza a suspensa, através da qual os gases são
1990; Chernicharo & Campos, 1991; Cohen, concepção de absorção do gás carbônico obrigados a passar antes de atingirem o trasdutor
1991; Chernicharo et al , 1997; Monteggia, previamente à medição de pressão, é uma de pressão.
1991; FDZ-Polanco et al, 2005; Louzada et adaptação do kit comercial Oxitop® disponível Com base no exposto é possível adaptar o
al, 2005). no mercado e usualmente empregado nas equipamento Oxitop® para sua utilização nas
determinações da demanda bioquímica de determinações de AME, só que nesse caso o
O sistema mostrado na Figura 1 consistia oxigênio (DBO). equipamento registraria acréscimos de pressão,
de 8 frascos de reação de 1 L submersos em um devi- do à produção de metano, ao invés da
banho termostati- zado, sendo a mistura do seu A determinação da DBO com o sistema redução de pressão devido ao consumo de
conteúdo feita com agitadores magnéticos. O Oxitop® (Figura 3) se baseia no fato de que oxigênio.
sistema de medição de gás era cons- tituído de durante a respiração aeróbia haverá consumo de
uma válvula solenóide de 3 vias controlada por oxigênio dissolvido na fase líquida, com No processo manométrico é preci- so
um medidor de pressão (manômetro ou conseqüente repo- sição pelo oxigênio molecular calibrar o equipamento e determinar a constante
transdutor de pressão), de tal forma que duas presente na fase gasosa. Desta forma a pressão do frasco (K, em unidade de volume/unidade de
vias (vias 1 e 2 indicadas na Figura 1) ficavam parcial do oxigênio no headspace tende a diminuir pressão), de forma que o volume do biogás
normalmente abertas permitindo a comunicação devido à reposição do oxi- gênio consumido pela produzido (V, em unidade de volume) possa ser
do frasco de reação com o reservatório de gás. atividade micro- biana. Como há, durante a relacionado à pressão medida (P, em unidade de
No decorrer do ensaio de AME a pressão no degradação aeróbia, produção de gás carbônico, pressão) através da Equação 1 (Chernicharo,
frasco de reação e no reservatório de gás é preciso que se tenha um dispositivo para sua 1997):
aumen- tava e era registrada progressivamente absorção antes que a pressão seja medida, de
pelo manômetro até atingir um valor limite. forma que a queda de pressão devido ao (1)
Quando a pressão detectada no manômetro consumo de oxigênio seja percebida e A determinação experimental da constante
atingia o limite estipulado, o controlador emitia quantificada correta- mente. Nos equipamentos K pode ser feita através da calibração de frascos
um sinal elétrico para a válvula solenóide para Oxitop®, a absorção de gás carbônico é feita por de reação contendo um volume de água
fechar a via de entrada para o reator (via 1) e correspondente ao volume líquido utilizado no
abrir a via de purga (via 3). Isso fazia com que a teste com o lodo. Para minimizar, durante o teste
pressão do sistema fosse aliviada devido à
liberação do gás acumulado no reservatório.
Após a despressurização o controlador enviava
um novo sinal para a válvula para fechar a via 3
e abrir novamente as vias 1 e 2, iniciando assim
um novo ciclo (Ince et al, 1995). Outros
respirômetros utilizam sistemas de medição
semelhantes, substituindo o manômetro por
transdutores de pressão (Cohen, 1991;
Chernicharo et al, 1997; FDZ-Polanco et al, 1- Frascos de reação (V =1 L)
2005). 2- Septa para amostragem
3- Agitadores magnéticos
4- Válvula solenóide de 3 vias
5- Reservatório de gás (V = 80 ml)
6- Manômetro
7- Cabos elétricos
8- Termostato de imersão
9- Banho de água
10- Motor do agitador magnético
É importante ressaltar que os pro- 11- Painel de controle da válvula solenóide
12- Computador par a aquisição de dados
cedimentos manométricos só dispen- sam o uso
de cromatógrafo caso haja a absorção do dióxido Figura 1 – Respirômetro, originalmente proposto por Monteggia
de carbono em etapa prévia à medição de (1991), para realização de testes de AME
pressão. Nos respirômetros utilizados por James
et al (1990), Chernicharo & Campos (1991),
Monteggia (1991), Ince et al (1995) e Chernicharo
et al (1997), a pressão registrada correspondia às
1- Frasco de reação (200 ml)
pressões parciais do gás carbônico e metano e, 2- Solução alcalina (15 gNaOH/L)
por isso a determinação cromatográfica dos gases 3- Headspace da câmara de lavagem do biogás
4- Tubo coletor
era necessária para quantificação do metano 5- Porta de amostragem
graficamente em equivalentes de DQO (gDQO CH4/ K = Constante da Lei de Henry (Para CH 4 matografia gasosa (Figura 6). Conforme discutido
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d). a 25 o C, K = 1,34.10- 3 mol.L- 1. atm- 1) anteriormente, isso pode ser feito injetando-se
P g = pressão parcial do metano (atm), função da diferentes quantida- des de um gás contendo
Medição apenas da composição do biogás pressão total e da % de meta- no no headspace ( P porcentagem fixa de metano, ou volumes fixos de
CH4 = P total × % CH4) ga- ses contendo diferentes porcentagens de
Conhecendo-se os volumes da fase lí- quida e metano. Por sua vez, o número de moles de
De forma similar ao procedimen- to gasosa, pode-se encontrar então a quantidade de metano que é injetada no cromató- grafo durante
descrito anteriormente, frascos de vidro (tipo metano produzida a partir da Equação 6. a construção da curva de calibração é obtido
antibiótico por exemplo) são inoculados em conhecendo-se o volume de metano injetado bem
triplicata com lodo anaeróbio, substrato e como a temperatura e pressão local.
(6)
solução de nu- trientes, e incubados até que a Onde:
produção acumulada de metano se estabilize. A n = quantidade de metano dentro do frasco (em
diferença principal para o método descrito moles) X g = concentração de metano determi- A curva de calibração permite então que
anteriormente está relacionada à forma de nada na fase gasosa (em mol.L- 1) o número de moles de me- tano produzido
medição do metano produ- zido. Nesse caso o diariamente no frasco de reação seja
monitoramento da produção de metano é feito V g = volume (em L) da fase gasosa ( headspace) determinado a partir da injeção de um volume
diariamente amostrando-se um volume fixo de fixo de amostra (Ex. 1 ml). Uma vez conhecido
bio- gás (Ex. 0,5 ml) de dentro do frasco de X l = concentração de metano calculada na fase o nú- mero de moles de metano produzido
reação e deteminando-se a quantidade de líquida (em mol.L- 1) diariamente, pode-se obter a produção diária
metano (massa ou número de moles) produzida, V l = volume da fase líquida em termos de ml CH 4/ d, bem como a produção
por cromatografia gasosa (Steil et al, 2004). O inconveniente do procedimen- to descrito acumulada em ter- mos de gDQO CH4 conforme
acima é a necessidade de se saber a pressão raciocí- nio desenvolvido anteriormente. De
dentro do frasco para se determinar de forma forma similar, o valor da AME, em gDQO CH4/ gSSV.d,
exata a quantidade de metano dissolvida. pode ser calcula- do conhecendo-se a
A grande vantagem dessa metodo- logia é quantidade de lodo usada como inóculo (g
que ela dispensa a medição do volume de biogás Para se determinar a produção diária de SSV) e a taxa máxima de produção de metano
e o uso de seringas de vidro. Por outro lado sua metano é preciso construir uma curva de (gDQO CH4/ d) obtida no trecho de maior
grande desvantagem reside no fato de que o calibração que relacio- ne número de moles inclinação.
frasco de reação trabalha sob pressões muito de metano no
maiores, aumentando o risco de perda de biogás, headspace com a área sob o pico de metano
principalmente durante o procedimento de separado e detectado por cro-
amostragem do volu- me fixo. Além do mais, para
evitar erros na construção da curva de calibração,
é preciso que o volume de biogás amos- trado
seja exato (Ex. 1 ml), uma vez que esse volume
determinará a quantidade de metano injetada no
cromatógrafo.
(ml)
Volume acumulado
4
de CH
ser calculada.
(5) Área
Onde: X l = concentração metano dissolvida Figura 6 – Curva de calibração para
(mol.L- 1) quantificação do metano
Gás livre de CO
A única diferença entre o “método de 2
formado durante o teste de AME. Essa despressurização do frasco de incubação será as melhores condições de incubação do lodo
consideração é válida uma vez que em pH seguida da expulsão de solução de soda, que (concentração de bio- massa, tipo e concentração
corresponde ao volume deslocado pelo metano. de substrato, relação alimento/microrganismo, tipo
neutro a maior parte da amônia (NH 3) e metade
O volume de metano produzido pode ser e concentração de nutrientes, tempo de
do sulfeto de hidrogênio (H 2 S), se presen- tes,
conhecido através da medição do volu- me ou incubação), bem como procedimentos de medição
estarão ionizados e dissolvidos na fase líquida
peso da soda expulsa do frasco. Caso se opte de metano (manométricos, volumétricos) para a
como NH 4
+
e HS-. pela pesagem do liquido também deve ser execução do teste.
da leitura, conectar o fras- co de incubação ao de produção de metano (gDQO CH4/ d) obtida no térmico de lodo anaeróbio a partir da queima do biogás
produzido em reator UASB objetivando a higienização e a
frasco de NaOH por meio de um sistema trecho de maior inclinação e que corresponda
melhoria da biodisponibilidade e biodegradabili- dade da
“agulha-mangueira latex-agulha”, de forma que a a uma utilização de, pelo menos, 50% do
fração orgânica. Tese de doutorado em Saneamento, Meio
introdu- ção da agulha da seringa esmerilhada no substrato adicionado.
Ambiente e Recursos Hídri- cos, UFMG, 2004.
septo do frasco de NaOH cause a au- tomática
CHERNICHARO, C. A. L. Reatores Anaeró- bios - Princípios
despressurização do frasco de incubação. Como do tratamento biológico de águas residuárias, v. 5,
o gás entra no frasco de NaOH abaixo do nível DESA-UFMG, 1997. CHERNICHARO C. A. L., CAMPOS, C.
da solução, garante-se que o gás medido na CONCLUSÕES M. M. A new methodology to evaluate the behaviour of
seringa esmerilhada seja predominantemente anaerobic sludge exposed to potentially inhibitory
metano. No caso do “Aparato II”, o sis- tema Esse artigo apresentou uma revisão compounds. In: PROC. IAWPRC INTERN. SEMINAR ON
Chernicharo, CAL, et al. desa- rrollo de un JAMES, A., Chernicharo, CAL CAMPOS, CMM El SILVA, A. L. B., et al. Comportamento da biomassa
A RTIGO T ÉCNICO
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