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Ensino domiciliar não tem eficácia comprovada nos EUA

Na Flórida, estudo é feito por meio de site do governo, com exercícios e sistema
para evitar 'cola'

7.mai.2019 às 2h00
Victória Damasceno
WASHINGTON
A preferência por ensinar os filhos em casa levou a americana Kim Glanowski a
dedicar a vida à educação de suas quatro crianças.
No passado, a profissão de seu pai, então agente do FBI, obrigou a família a se
mudar inúmeras vezes e Glanowski a frequentar diversas escolas públicas nos
Estados Unidos. Quando se tornou mãe, não teve dúvidas de que o ensino
domiciliar era a melhor opção.
Os valores cristãos foram um dos motivos que a levaram a não matricular Melissa,
Jack, Bo e Anna em escolas tradicionais. Eles estão entre as 1,7 milhão de crianças
e adolescentes ensinadas pelos pais ou professores particulares em 2016, de
acordo com o Departamento de Educação dos Estados Unidos.
Penny Kjellberg, que educa seus filhos em casa, durante aula de matemática com
os gêmeos Caroline, ao centro, e Jessica
Penny Kjellberg, que educa seus filhos em casa, durante aula de matemática com
os gêmeos Caroline, ao centro, e Jessica - Ruby Washington/The New York Times
Alunos de ensino domiciliar representam 3,3% do total dos estudantes de 5 a 17
anos no país, aumento de 750 mil em relação a 1999, primeiro ano do Programa
Nacional de Pesquisas Domiciliares de Educação.
Projeto de lei do governo Jair Bolsonaro (PSL), o ensino domiciliar está em vias de
ser apreciado pelo Congresso. O texto foi assinado no início de abril e é uma das
principais metas do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos para o início
do governo.
Chefe da pasta, Damares Alves quer urgência na tramitação do projeto, que se
inspira no modelo americano.
Argumentos a favor do ensino religioso e contra uma possível doutrinação
ideológica nas escolas brasileiras embasam as justificativas.
Entre outras, as razões são as mesmas que levaram a educação domiciliar a ser
implementada nos EUA, onde, segundo especialistas, não há provas da sua
efetividade na educação de crianças e adolescentes.
A pesquisa realizada pelo Departamento de Educação dos EUA não apresenta
dados que comparam o desempenho de alunos educados em casa com o de
aqueles matriculados em escolas públicas.
Alguns especialistas concluem, porém, que os educados em casa poderiam
alcançar o mesmo desempenho escolar se fossem matriculados em escolas
tradicionais.
O diagnóstico é de Christopher Lubienski e T. Jameson Brewer, autores do artigo
“Educação Domiciliar nos Estados Unidos: Examinando os fundamentos para
Educação individualizada”.
Os pesquisadores explicam que fatores socioeconômicos, como renda e
estabilidade familiar —que inclui o nível de escolaridade dos pais, se são casados
e qual o seu envolvimento com a educação dos filhos— são mais determinantes
para a realização escolar do que o método utilizado.
De acordo com o Departamento de Educação dos EUA, em 2012 cerca de 83% dos
alunos ensinados em casa eram brancos, e 89% foram classificados como não
pobres. A residência dos estudantes variava entre áreas centrais, rurais e subúrbios.
O artigo cita ainda que a falta de supervisão do governo no ensino domiciliar pode
aumentar a incidência de abuso sexual contra crianças, uma vez que a vítima não
terá ninguém a quem reportar.
Para Lubienski, autor do artigo e também professor de políticas educacionais na
Universidade de Indiana, não há provas ou estudos que comprovem a eficácia do
método.
“Defensores diriam que o ensino domiciliar está funcionando, mas eu diria que
precisamos de melhores evidências.”
Embora famílias brancas sejam predominantes, famílias negras também optam por
educar os filhos em casa.
Os motivos nem sempre são os mesmos. Uma das razões que levou Karen Doyle,
moradora do estado de Virgínia, a educar ela mesma seus nove filhos foi o medo
de sofrerem preconceito racial.
Há pelo menos dez anos que Doyle vive em uma comunidade majoritariamente
branca.
Para Marilyn Lashley, professora de ciências políticas da Howard University, os
estudantes negros educados em casa não estão protegidos do racismo, uma vez
que não estão isolados das comunidades em que vivem.
Por outro lado, Lashley afirma que os pais devem ter o direito de ensinar os filhos,
mas que os estados devem supervisionar o processo a fim de garantir que os
valores de “cidadania, direitos humanos e participação democrática” sejam
respeitados.
As leis que regulamentam o ensino domiciliar entre os estados americanos variam.
A Associação de Defesa Legal do Ensino Doméstico (HSLDA) categoriza os
estados entre alta, moderada, baixa ou nenhuma regulamentação.
Esta divisão indica o nível de supervisão do governo em relação aos conteúdos
estudados, a quantidade de horas de aulas, desempenho nos testes e qual a
burocracia a ser enfrentada pelos pais caso optem por ensinar os filhos em casa.
Dos 50 estados americanos, apenas seis possuem alta regulamentação. Os
contabilizados com nenhuma ou pouca somam juntos 25 estados. A maior categoria
são aqueles de regulamentação moderada, contabilizando 19.
Até 14 de fevereiro de 2018, a estudante brasileira Kemily Duchini estava entre os
2,7 milhões de estudantes que frequentavam escolas públicas no estado da Flórida.
Um ataque, porém, mudou o rumo de sua trajetória escolar. Duchini sobreviveu ao
massacre de Parkland, quando um ex-aluno abriu fogo na escola secundária
Marjory Stoneman Douglas e deixou 17 mortos.
Após o trauma, a estudante não conseguiu mais frequentar as aulas. A alternativa
foi o ensino domiciliar.
A Flórida está entre os estados com regulação moderada. Para ela, porém, é como
se ainda fosse à escola.
Todo o estudo é feito por meio de um site do governo, no qual há livros, exercícios,
testes e professores disponíveis 24 horas por dia. Um sistema de inteligência por
comparação de palavras identifica se os alunos estão “colando”. Duchini já foi pega
duas vezes.
“Minha filha nunca precisou de mim para estudar porque o site do governo dá tudo
o que ela precisa”, diz Fabiana Santos, mãe da estudante e entusiasta da aprovação
do ensino domiciliar no Brasil. “Mas não sei se vão conseguir fiscalizar [no Brasil]
como aqui”.
No Texas, onde pais não precisam provar o progresso dos alunos, um casal foi
acusado na Suprema Corte do estado de usar o ensino domiciliar para que seus
filhos ficassem em casa enquanto esperavam a segunda volta de Jesus Cristo e
fossem arrebatados para o céu.

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