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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE DIREITO

JÚLIA BLAKENEY DIAS

RESPONSABILIDADE CIVIL NA ALIENAÇÃO PARENTAL

Niterói
2017
Universidade Federal Fluminense
Superintendência de Documentação
Biblioteca da Faculdade de Direto

D541Dias, Julia Blakeney


Responsabilidade civil na alienação parental / Julia Blakeney Dias. – Niterói, 2017. 48 f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Universidade Federal Fluminense,
2017.
1. Alienação parental. 2. Responsabilidade civil. 3. Relações familiares. 4. Dano moral. 5.
Dano material. I. Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Direito, Instituição
responsável. II. Título.
CDD 342.16

JÚLIA BLAKENEY DIAS


RESPONSABILIDADE CIVIL NA ALIENAÇÃO PARENTAL

Trabalho de conclusão de curso apresentado


ao curso de Direito da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para
conclusão do curso.
Orientador: Ms. Lincoln Antônio de Castro

Niterói
2017

JÚLIA BLAKENEY DIAS

RESPONSABILIDADE CIVIL NA ALIENAÇÃO PARENTAL


Trabalho de conclusão de curso apresentado
ao curso de Direito da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para
conclusão do curso.

Aprovado em __ de dezembro de 2017.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________
Orientador: Ms. Lincoln Antônio de Castro.
Universidade Federal Fluminense

_____________________________________________
Membro: Dr. Marcelo Pereira de Almeida
Universidade Federal Fluminense

_____________________________________________
Membro: Professor Ricardo Proença
Universidade Estácio de Sá

Niterói
2017

AGRADECIMENTOS
Ao professor Lincoln Antônio Castro, que esteve comigo não apenas me orientando nesse
trabalho, mas ao longo da minha graduação se mostrou um verdadeiro mestre e amigo querido.
Aos meus pais, que sempre me apoiaram, não me deixaram desistir dos meus sonhos, e me
ensinaram o melhor caminho nessa vida. A Deus, cuja fidelidade não tem fim.

“Crianças não conseguem processar direito o que vivenciam.


Assumem culpas que não possuem, fantasiam abandonos, se responsabilizam pela infelicidade
dos pais, e pior do que tudo, se sentem desprotegidas em um lar briguento.
Crescem e se tornam homens e mulheres paranoicos, inseguros, acovardados diante da vida.
É uma tecla insistentemente batida, mas pouco escutada: criança precisa ser amada.(...)
Sai de graça. Só custa caro quando é educada por duas criaturas mais infantis do que ela.”

(Martha Medeiros)

RESUMO
O presente trabalho trata a respeito da responsabilidade civil na alienação parental. Para tanto,
será inicialmente abordado temas como instituição familiar, seus princípios norteadores e o
exercício do poder familiar, bem como os elementos da responsabilidade civil dentro do
ordenamento jurídico pátrio, em especial o Código Civil e a Constituição Federal. Nesse
contexto, apresenta-se o instituto da alienação parental, se atendo tanto à abordagem psicológica
proposta por Richard Gardner da síndrome decorrente da alienação, quanto na Lei 12.318/2010,
que regula especificamente sobre o tema. É apresentado ainda a possibilidade de alienação
parental judicial, e a mediação como caminho alternativo competente para diminuir a prática
alienatória. Explana-se ainda sobre como o instituto da responsabilidade civil se aplica nos casos
concretos de alienação parental, discutindo-se ainda a possibilidade de danos morais e materiais
provenientes da alienação. Nessa perspectiva, se encontraria como réu o alienador, e como
vítimas, tanto o menor quanto o genitor alienado. Por fim, é apresentada selecionada
jurisprudência, afim de demonstrar o atual posicionamento dos tribunais pátrios sobre o tema.

Palavras-chave: Direito de Família. Alienação Parental. Responsabilidade Civil. Danos morais.

ABSTRACT
This paper deals with civil liability in parental alienation. To do so, it will initially address issues
such as family institution, its guiding principles and the exercise of family power, as well as
elements of civil liability within the partial legal order, especially the Civil Code of 2002 and the
Federal Constitution of 1988. In this context, the institute of parental alienation is presented,
taking into account both the psychological approach proposed by Richard Gardner about the
syndrome resulting from the alienation, and juridical, in particular in Law 12.318 / 2010, which
regulates specifically on the subject. It also presents the possibility of judicial parental alienation,
and mediation as a compelling alternative way to reduce alienating practice. It is also explained
how the institute of civil liability applies in concrete cases of parental alienation, also discussing
the possibility of moral and material damages from the alienation. In this perspective, the
alienator would be found guilty, and as victims, both the minor and the alienated parent. Finally,
it is presented selected jurisprudence, in order to demonstrate the current position of the country
courts on the subject.

Keywords: Family Law. Parental Alienation. Civil responsability. Moral damages.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I- REGIME NORMATIVO DAS RELAÇÕES FAMILIARES

1.1 A família como instituição de formação e dignidade da pessoa humana

1.2 Princípios do Direito de Família

1.3 A família e o poder familiar no ordenamento jurídico brasileiro

1.4 Responsabilidade Civil.

CAPÍTULO II – ALIENAÇÃO PARENTAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

2.1 A síndrome da alienação parental

2.2 Lei da Alienação parental

2.3 A alienação parental judicial

2.4 A mediação familiar como meio alternativo ao processo

CAPÍTULO III- RESPONSABILIDADE CIVIL NA ALIENAÇÃO PARENTAL

3.1 A responsabilidade civil decorrente da alienação

3.2 A culpa como elemento da responsabilidade

3.3 Cabimento de dano moral na Alienação Parental

3.4. Jurisprudência

CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS

INTRODUÇÃO

O presente trabalho abordará o instituto da alienação parental, suas consequências na vida


das vítimas, com foco na responsabilidade civil do alienante em decorrência do dano moral que
se caracteriza na prática de tal conduta, e analisará, ainda, a possibilidade de indenização
pecuniária decorrente do ilícito, à luz da legislação, doutrina e jurisprudência.

O Capítulo I versa sobre o regime normativo das relações familiares, focalizando: família
como instituição de formação e dignidade da pessoa humana; princípios do Direito de Família;
família e o poder familiar no ordenamento jurídico brasileiro; responsabilidade Civil.

O Capítulo II trata da alienação parental: fatores psicológicos e jurídicos; síndrome da


alienação parental; Lei da alienação parental; alienação parental judicial; mediação familiar
como meio alternativo ao processo

No Capítulo III aborda-se a responsabilidade civil na alienação parental, analisando-se:


responsabilidade civil decorrente da alienação; culpa como elemento da responsabilidade;
cabimento de dano moral na alienação parental; bem como decisões jurisprudenciais sobre o
tema.
Esta monografia justifica-se pela necessidade de conhecimento e compreensão do
tratamento jurídico relacionado com a tutela jurídica do nascituro no direito brasileiro.
Pretendeu-se, assim, obter subsídios para melhor interpretação e aplicação das normas jurídicas
de regência da matéria versada na monografia.

Na pesquisa monográfica, foram adotados os métodos científicos, indutivo e dedutivo.


Valendo-se do raciocínio indutivo, o propósito foi obter conclusões mais amplas; mediante o
método dedutivo, partiu-se de dados gerais sobre o tema para extrair afirmações que permitam o
entendimento da jurisprudência.
A presente pesquisa monográfica tem cunho teórico, pois foi trabalhado material
bibliográfico suficiente para revisão do tema e sustentação de abordagem projetada no objeto da
investigação. Portanto, os dados foram levantados em livros, artigos publicados em revistas,
decisões dos Tribunais, textos legais. Assim, a pesquisa envolveu a análise da legislação,
doutrina e jurisprudência dos tribunais. A pesquisa tem caráter descritivo, por se cuidar de
descrever os aspectos jurídicos sobre o tema.

CAPÍTULO I- REGIME NORMATIVO DAS RELAÇÕES FAMILIARES

1.1 A família como instituição de formação e dignidade da pessoa humana

Na pré-história, as relações de parentesco sanguíneo, deram origem às primeiras


sociedades humanas organizadas. Naquela época, enquanto a mulher gerava as crianças e
trabalhava na caverna, os homens eram responsáveis pela segurança e provisão alimentar (caça).
O "clã", dessa forma, pode ser compreendido como o primeiro modelo daquilo que hoje
chamamos de família, e fundamentava-se, essencialmente, na relação de parentesco com um
ancestral comum. Já com o império romano, a família passou a basear-se em uma relação
jurídica: o casamento, e resumia-se, essencialmente, ao casal e seus filhos. O poder, no entanto,
era todo concentrado na figura do homem - o pater - que exercia sobre seus filhos direitos de
vida e de morte e autoridade material sobre a mulher, que não tinha direitos próprios. Por fim,
apenas com o Direito canônico passou a haver uma certa relação entre afeto e casamento, que
tinha forma de sacramento, ainda que muitas vezes realizado de forma forçada contra a mulher,
que ainda seria, por muitos séculos, subordinada à figura do marido. Agora, além de uma relação
jurídica o casamento também era uma relação religiosa, geralmente motivados por valores
patrimoniais ou políticos.

Na modernidade, a palavra "família" possui diferentes significados, que mudam de


acordo com o tempo e a cultura, e também de acordo com a área de estudo. Nesse trabalho,
utilizaremos o conceito jurídico de família. Para tanto, teremos que observar o que diz a doutrina
jurídica, eis que a legislação brasileira não apresenta um conceito de família, propriamente dito.
No entanto, inegável é a importância desse instituto, tanto para a sociedade como para o Direito.
Se há algumas décadas, esse instituto se fundamentava na reprodução e tinha forte ótica
patrimonial, atualmente fundamenta-se no afeto.

Para Maria Helena Diniz:

Família no sentido amplíssimo seria aquela em que indivíduos estão ligados pelo
vínculo da consanguinidade ou da afinidade. Já a acepção lato sensu do vocábulo refere-
se aquela formada além dos cônjuges ou companheiros, e de seus filhos, abrange os
parentes da linha reta ou colateral, bem coo os afins (os parentes do outro cônjuge ou
companheiro). Por fim, o sentido restrito restringe a família à comunidade formada
pelos pais (matrimônio ou união estável) e a da filiação.

Assim, podemos dizer que a família é o ambiente no qual um indivíduo nasce e se


desenvolve, e, ainda que na fase adulta forme novos núcleos familiares, inclusive se
reproduzindo, ele não se desvincula da primeira. A família é um laço, geralmente consanguíneo,
responsável pela formação do homem, e que o influenciará durante toda a sua vida, incluindo nas
suas próximas gerações. Além disso, é o primeiro núcleo social que o indivíduo terá contato,
lugar onde ele assimilará valores morais, éticos e espirituais, além de memórias que o
acompanharão durante toda a vida. Em suma, a família é considerada base da sociedade.

Para Carlos Roberto Gonçalves, o Direito de Família é o mais humano de todos os ramos
do Direito. Em razão disso, e também pelo sentido ideológico e histórico de exclusões, como
preleciona Rodrigo da Cunha3, “é que se torna imperativo pensar o Direito de Família na
contemporaneidade com a ajuda e pelo ângulo dos Direitos Humanos, cuja base e ingredientes
estão, também, diretamente relacionados à noção de cidadania”. A evolução do conhecimento
científico, os movimentos políticos e sociais do século XX e o fenômeno da globalização
provocaram mudanças profundas na estrutura da família e nos ordenamentos jurídicos de todo o
mundo, acrescenta o mencionado autor, que ainda enfatiza: ‘Todas essas mudanças trouxeram
novos ideais, provocaram um declínio do patriarcalismo e lançaram as bases de sustentação e
compreensão dos Direitos Humanos, a partir da noção da dignidade da pessoa humana, hoje
insculpida em quase todas as instituições democráticas".

Nesse sentido, o autor Pietro Perlingieri4 :


A família é valor constitucionalmente garantido nos limites de sua conformação e de
não contraditoriedade aos valores que caracterizam as relações civis, especialmente a
dignidade humana: ainda que diversas possam ser as suas modalidades de organização,
ela é finalizada à educação e à promoção daqueles que a ela pertencem.

1.2 Princípios do direito de família

Antes de adentrarmos no tema de princípios do Direito de Família é importante fazer


algumas breves observações naquilo que tange aos princípios e as regras no sistema jurídico
nacional como um todo. Os princípios são o alicerce do Direito, nas palavras de SUNDFELD são
"ideias centrais de um sistema, ao qual dão sentido lógico, harmonioso, racional, permitindo a
compreensão de seu modo de se organizar-se". Tem-se que os princípios são gerais, bastante
abrangentes, refletindo ideais morais como ética e justiça, não havendo hierarquia entre os
mesmos. Quando houver um possível conflito de princípios, deve-se utilizar da ponderação e
proporcionalidade para a realização de uma dosagem visando-se chegar a melhor solução
possível. Com um alto grau de generalidade, os princípios podem incidir sobre diversos
acontecimentos e vários deles sobre a mesma ocorrência. Já as regras têm caráter mais
especifico, devendo estar de acordo com os princípios, e têm incidência um tanto mais limitada,
podendo ser aplicada uma ou outra regra em determinado fato, pois havendo conflito entre elas,
uma prevalecerá sobre a outra, segundo critérios pré-estabelecidos, quais sejam, especialidade,
cronologia e hierarquia. Pelas regras advirem dos princípios, é perfeitamente aceitável que um
princípio incida sobre várias regras. Nas palavras de Dias, acima das regras legais, existem
princípios que incorporam as exigências de justiça e de valores éticos que constituem o suporte
axiológico, conferindo coerência interna e estrutura harmônica a todo o sistema jurídico.

Ultrapassado o entendimento acerca de regras e princípios, vamos agora observar quais


sejam os princípios norteadores do Direito de Família. A dignidade da pessoa humana é um valor
supremo e fundamento da república federativa do Brasil, princípio máximo do nosso Estado de
Direito, sendo assim positivado no artigo 1, inciso III da nossa Carta Magna, representando um
amparo de sustentação dos ordenamentos jurídicos contemporâneos. Devemos compreender que
tal da dignidade se faz inerente a todos os membros da família humana, incluindo as crianças,
adolescentes, que tem assegurados os seus direitos inalienáveis, com vista ao seu pleno
desenvolvimento físico, social e espiritual. Tal princípio não deve ser interpretado como mero
limite à atuação do Estado, mas sim como um objetivo, devendo este buscar, de todas as formas
permitidas no Direito, a sua promoção. Em suma, a dignidade da pessoa humana é o fundamento
da liberdade, da justiça, da paz e do desenvolvimento social. Para a doutrinadora Carmem Lúcia
5
, a dignidade é princípio e fim do Direito:

Dignidade é o pressuposto da ideia de justiça humana, porque ela é que dita a condição
superior do homem como ser de razão e sentimento. Por isso é que a dignidade humana
independe de merecimento pessoal ou social. Não se há de ser mister ter de fazer por
merecê-lá, pois ela é inerente à vida e, nessa contingência, é um direito pré-estatal.

Princípio da Afetividade rege toda a dinâmica das relacões socioafetivas e familiares,


sendo o elemento formador do atual modelo familiar. Assim, " A realização pessoal da
afetividade e da dignidade humana, no ambiente de convivência e solidariedade, é a função
básica da família de nossa época. Suas antigas funções econômica, política, religiosa e
procracional feneceram, desapareceram, ou desempenham papel secundário. Até mesmo a
função procracional, com a secularização crescente do direito de família e a primazia atribuída
ao afeto, deixou de ser sua finalidade precípua. (LOBÔ, 2004, p. 155)6. Apesar de não estar
expressamente previsto em lei, está implicitamente presente no artigo 227 § 4, §5 e §6 e artigo
226 § 4 da Constituição Federal, os quais prevêem, respectivamente, o reconhecimento da
comunidade composta pelos pais e seus ascendentes, incluindo-se aí os filhos adotivos, como
sendo uma entidade familiar constitucionalmente protegida, da mesma forma que a família
matrimonializada; o direito à convivência familiar como prioridade absoluta da criança e do
adolescente; o instituto jurídico da adoção, como escolha afetiva, vedando qualquer tipo de
discriminação a essa espécie de filiação; e a igualdade absoluta de direitos entre os filhos,
independentemente de sua origem (LÔBO, 2003, p. 43).Em suma, tem-se que é norma
orientadora do direito de família, intrisecamente ligado à dignidade da pessoa humana e cuja
aplicabilidade se dá mais na prática que na teoria, devendo haver sua consideração no caso
concreto.
A solidariedade social, de acordo com o artigo 3, inciso I, da Carta Magna, é l é
reconhecida como objetivo fundamental da República, no sentido de buscar a construção de uma
sociedade livre, justa e solidária. Tal princípio, por sua importância nas relações interpessoais,
acabou por se repercurtir no direito de família, e é o que consagra, dentre outros, o dever de
pagar alimentos, previsto no art. 1.694 do Código Civil, por exemplo. A solidariedade deve ser
patrimonial, afetiva e psicológica, implicando em respeito e amparo mútuo entre os membros da
família. Nesse sentido, Paulo Luiz Netto Lôbo (11/2007)6 entende que:

A solidariedade instiga a compreensão da família brasileira contemporânea, que rompeu


os grilhões dos poderes despóticos – do poder marital e do poder paterno, especialmente
– e se vê em estado de perplexidade para lidar com a liberdade conquistada. Porém, a
liberdade não significa destruição dos vínculos e laços familiares, mas reconstrução sob
novas bases. Daí a importância do papel da solidariedade, que une os membros da
família de modo democrático e não autoritário, pela co-responsabilidade.

Por fim, articula Rolf Madaleno7: "a solidariedade é princípio e oxigênio de todas as
relações familiares e afetivas, porque esses vínculos só podem se sustentar e se desenvolver em
ambiente recíproco de compreensão e cooperação, ajudando-se mutuamente sempre que se fizer
necessário."

Por fim, por Princípio do Melhor Interesse do Menor entende-se a busca por preservar-se
ao máximo, aqueles que se encontram em situação de fragilidade por sua incapacidade, natural à
idade da criança e do adolescente. É, então, a garantia como direito fundamental do menor a
chegada à idade adulta sob proteção moral, física e material, preceituados nos artigo 227 da
Constituição Federal. Tem ainda status internacional, conquistado pela Convenção das Nações
Unidas sobre Direitos da Criança, regulamentada pelo decreto 99.770/1990, e ratificada pelo
Brasil, que consagrou no artigo 3º, I, que prevê que: "Todas as ações relativas às crianças,
levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem-estar social, autoridades
administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o interesse maior da
criança.".

Por sua vez, o art. 1º, do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece a proteção
integral à criança e ao adolescente, a quem são assegurados todos os direitos fundamentais da
pessoa humana (art. 3º), independentemente da situação familiar. Desse modo, podemos
comprendê-lo como princípio que atinge todo o sistema judiciário pátrio, regindo amplamente as
relações familiares, visando impedir o abuso de poder contra o hipossuficiente. Segundo o
doutrinador Antonio Carlos Gomes da Costa8, o princípio do melhor interesse da criança:

[...] afirma o valor intrínseco da criança como ser humano; a necessidade de especial
respeito à sua condição de pessoa em desenvolvimento; o valor prospectivo da infância
e da juventude, como portadora da continuidade do seu povo e da espécie e o
reconhecimento da sua vulnerabilidade, o que torna as crianças e adolescentes
merecedores de proteção integral por parte da família, da sociedade e do Estado, o qual
deverá atuar através de políticas públicas específicas para promoção e defesa dos seus
direitos.

1.3 A família e o poder familiar no ordenamento jurídico brasileiro

O modelo familiar convencional - casamento heterossexual com filhos - apesar de


dominante, não é mais o único modelo de família no Brasil. Cada vez mais cresce o número de
famílias monoparentais (liderada por pais ou mães solteiros), homoafetivas (união de pessoas do
mesmo sexo) e reconstituídas (isto é, união de pessoas com filhos de relacionamentos
anteriores), por exemplo. O modelo de família está em constante mutação e para tanto, necessita
de alterações legislativas adequadas.

Porém, a evolução social trouxe também alterações legislativas diretamente voltadas para
a família, Estas mudanças trouxeram à tona um novo conceito de família, denominado
eudemonista, que prima pelo afeto entre os integrantes da família. A família tutelada pelo
código civil de 1916, fortemente patriarcalista, tinha vedação da dissolução matrimonial, "poder
de família" exclusivo ao homem, e distinção entre os filhos tidos como "legítimos" e
"ilegítimos". Podemos compreender que tais visões, hoje compreendidas por muitos como
discriminatória, era tão somente o retrato dos pensamentos e valores daquela sociedade. É que o
Direito deve servir a sua época, sem, no entanto, deixar de acompanhar as evoluções sociais, tão
necessárias para o desenvolvimento da humanidade. Atualmente, a família é objeto de proteção
constitucional, observemos o que reza o Artigo 226 da Constituição Federal: “A família, a base
da sociedade, tem especial proteção do Estado.(...) §8º. O Estado assegurará a assistência à
família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no
âmbito de suas relações”.

A nossa legislação valoriza os valores morais e éticos da formação de uma família, aquilo
que considera a base da sociedade. Nesse sentido, proteger essa pequena célula seria proteger a
própria sociedade. Gostaria de chamar atenção ao fato que o legislador, a medida que estabelece
os princípios de proteção à família, dá especial ênfase no que diz respeito ao resguardo com os
membros mais vulneráveis: os filhos. Nesse sentido, Carlos Roberto Gonçalves9 afirma que:

A milenar proteção da família como instituição, unidade de produção e reprodução dos


valores culturais, éticos, religiosos e econômicos, dá lugar à tutela essencialmente
funcionalizada à dignidade de seus membros, em particular no que concerne ao
desenvolvimento da personalidade dos filhos.

No código de 1916 tínhamos o chamado "Pátrio Poder", eis que tal poder era, salvo
exceções, exclusivo à figura do pai. Atualmente, chamamos de "Poder Familiar", eis que deve
ser exercido por ambos genitores. Nos dizeres de Carlos Roberto Gonçalves10, "Poder familiar é
o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, no tocante à pessoa e aos bens dos filhos
menores". Devemos observar que tais direitos se manifestam em face de terceiros, e os seus
deveres, em face os filhos. Maria Helena Diniz11 em seu comentário ao artigo 1.630, define
como sendo poder familiar aquele exercido pelos entes da família: “Um conjunto de direitos e
obrigações, quanto à pessoa e bens do filho menor não emancipado, exercido em igualdade de
condições por ambos os pais, para que possam desempenhar os encargos que a norma jurídica
lhes impõe, tendo em vista o interesse e a proteção dos filhos.”

Observemos a redação do Artigo 1.634, do Código Civil:


Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício
do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: I - dirigir-lhes a criação e a
educação; II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584; III
- conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; IV - conceder-lhes ou negar-
lhes consentimento para viajarem ao exterior; V - conceder-lhes ou negar-lhes
consentimento para mudarem sua residência permanente para outro Município; VI -
nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe
sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; VII - representá-los
judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-
los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; VIII
- reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; IX - exigir que lhes prestem obediência,
respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.

Tal poder é irrenunciável, intransferível, indelegável e imprescritível, no entanto, não é


absoluto. Existem diversas causas de extinção do poder familiar positivados no artigo 1.635, do
nosso Código Civil, a saber: a maioridade dos filhos, a morte dos pais ou do filhos, a
emancipação, a adoção e a decisão judicial. Se dará suspensão do poder familiar nos casos em
que houver abuso de autoridade dos pais, com falta aos deveres a ele inerentes, arruinando os
bens dos filhos, ou ainda, aos pais condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime
cuja pena exceda a dois anos de prisão. Por fim, vale mencionar que a perda do poder familiar
por ato judicial se dará em casos de castigo imoderado, abandono, prática de atos contrários à
moral e aos bons costumes e atitudes reiteradas das causas de suspensão acima mencionadas. Em
suma, a perda do poder familiar visa coibir a prática de atos que ponham em risco a integridade
física e moral do menor.

O Art. 1.632. A separação judicial, o divórcio e a dissolução da união estável não alteram
as relações entre pais e filhos senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua
companhia os segundos. É importante ressaltar que, segundo a leitura do artigo 1.636 do mesmo
código, fica claro que, a contração de novas núpcias, bem como o estabelecimento de união
estável não é, em relação dos filhos de relacionamento anterior, motivo de perda dos direitos
nem deveres do poder familiar, devendo o genitor exercê-lo sem qualquer interferência do novo
cônjuge ou companheiro. Nesse sentido, é importante ressaltar que a situação conjugal dos pais
não interfere no exercício do poder familiar.

1.4 A responsabilidade civil

O homem, como é de conhecimento geral, é um ser social, sendo a sua sobrevivência


marcada pela interação com outros seres humanos, o que tornou possível a sua reprodução e
evolução em um mundo cheio de perigos, como doenças, fatores climáticos e predadores. Com o
desenvolvimento das comunidades humanas, se foi desenvolvendo também conflitos, e a
necessidade de reparar o dano injustamente provocado ao outro. O entendimento dessa
necessidade de reparação foi sendo aperfeiçoado, começando a ganhar forma jurídica no Direito
Romano, com a "Lei de Talião", ou seja "olho por olho, dente por dente", e atualmente tem um
significado bem distinto. Na visão contemporânea, podemos compreender a Responsabilidade
Civil como a forma do Estado Democrático de Direito legitimar a aplicação de uma pena
pecuniária a quem causar dano a outrem. A responsabilidade, palavra que vem latim respondere,
significa responder a alguma coisa, do qual se extrai a necessidade de responsabilizar alguém
pelos seus atos danosos. Essa imposição estabelecida pelo meio social regrado, através dos
integrantes da sociedade humana, de impor a todos o dever de responder por seus atos, traduz a
própria noção de justiça existente no grupo social estratificado. Para que se comprove a
existência da responsabilidade civil, faz-se mister verificar a combinação necessária de três
elementos: o ato ilícito, o dano e o nexo de causalidade. O ato ilícito é todo aquele que viole o
ordenamento jurídico, através da ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência. O
dano é a lesão a um bem jurídico que gere um prejuízo suportado pela vítima, ainda que
exclusivamente moral. Por fim, o nexo de causalidade é o vínculo, o líame, entre o ato ilícito e o
dano, reflexo deste.

Nesse sentido, a responsabilidade civil é um ramo do direito civil que trata do dever de
alguém indenizar o prejuízo sofrido por outrem, como afirma Macial Barreto Casabona12: “o
dever de respeito dos indivíduos ao direito alheio ”. Nesse sentido, podemos compreender que o
instituto da responsabilidade civil se adentra no direito de família justamente para impedir a
impunidade dos atos ilícitos no tocante às relações familiares. Tal reparação visa a compensação
pecuniária e não a reparação, eis que afeta direitos da personalidade, e não, necessariamente,
patrimoniais. A responsabilidade civil pode ser classificada como objetiva, isto é, aquela que
existe independente da culpa, somente ocorrendo nos casos expressamente previstos em lei, ou
subjetiva, aquela na qual o dever de indenizar exige que o autor do dano tenha agido com dolo
ou culpa, sendo a regra no Código Civil sendo a classificação adotada no Direito de Família.
Pode ainda ser considerada contratual ou aquiliana, também chamada de extracontratual, que é a
que nos interessa nesse tema eis que surge na violação do dever de cuidado, como prevê o artigo
186, do Código Civil: "Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito."

Nesse sentido, Maria Helena Diniz 13:


A responsabilidade civil pressupõe uma relação jurídica entre a pessoa que sofreu o
prejuízo e a que deve repará-lo, deslocando o ônus do dano sofrido pelo lesado para
outra pessoa que, por lei, deverá suportá-lo, atendendo assim à necessidade moral,
social e jurídica de garantir a segurança da vítima violada pelo autor do prejuízo.
Visa, portanto, garantir o direito do lesado à segurança, mediante o pleno
ressarcimento dos danos que sofreu, restabelecendo-se na medida do possível o statu
quo ante, logo, o princípio que domina a responsabilidade civil na era contemporânea
é o da restitutio in integrum, ou seja, da reposição completa da vítima à situação
anterior à lesão, por meio de uma reconstituição natural, de recurso a uma situação
material correspondente ou de indenização que represente do modo mais exato
possível o valor do prejuízo no momento e seu ressarcimento, respeitando assim, sua
dignidade (2009, p. 7 e 8).
Assim, pode-se concluir que a responsabilidade civil visa garantir um equilíbrio moral e
patrimonial na sociedade, à medida em que impõe uma sanção quantitativa e proporcional àquele
que violar uma lei, causando prejuízos a outrem, prevenindo assim, futuras ações ou omissões
prejudiciais à ordem social.

CAPÍTULO II - A ALIENAÇÃO PARENTAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO


BRASILEIRO

2.1 A síndrome da alienação parental

Termo proposto por Richard Gardner, em 1985, A Alienação Parental se configura


quando o pai ou a mãe de uma criança, a influencia a criar um sentimento negativo, desmoralizar
a figura do genitor ou mesmo a romper os laços afetivos com o mesmo. É quando o adulto faz
com que os ses sentimentos de vingança e ódio vindos do fracasso de uma relação amorosa
interfiram no direito da criança de ter um bom relacionamento com o seu genitor. Ao invés de ser
considerado parte vulnerável que deve ser protegida dos desafetos dos pais, a criança se
transforma em um instrumento de agressividade contra o ex-parceiro.

De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010), 87,3%


dos divórcios concedidos no Brasil, as mulheres ficaram responsáveis pela guarda dos filhos
menores. Isso explica porque essa genitora é, na maioria dos casos, quem pratica a alienação
parental em detrimento da relação entre pai e filho. Mas o ato da Alienação Parental pode ser
instaurado também pelo genitor não guardião, que manipula afetivamente a criança nos
momentos da visita, a fim de influenciá-la a pedir para irem morar com ele, dando, portanto, o
subsídio para que o alienador requeira a reversão judicial da guarda. Então, crianças que
moravam com a mãe podem “repentinamente” pedir para irem morar com o pai, cabendo ao
mesmo ingressar com ação judicial de alteração de guarda, alegando negligência ou maus tratos
nos cuidados com a criança, ou mesmo acusações infundadas e inverídicas de agressão física
e/ou atentado ao pudor de novos companheiros (as).
Gardner apresenta determinados comportamentos comuns, dentre outros, daqueles
genitores que alienam: recusa de passar as chamadas telefônicas aos filhos; apresentar o novo
cônjuge aos filhos como sua nova mãe ou seu novo pai; desvalorizar e insultar o outro genitor na
presença dos filhos; recusar informações ao outro genitor sobre as atividades em que os filhos
estão envolvidos (esportes, atividades escolares, grupos teatrais, escotismo, etc; Impedir ou
14
dificultar outro genitor de exercer seu direito de visita, etc. O guardião, segundo Rosa pode,
reiteradamente, colocar barreiras relacionadas às visitas, tais artifícios e manobras vão desde
invenções de doenças a compromissos arranjados de última horas e chega a casos mais graves,
como acusações de abuso emocional, físico e sexual. Tais acusações podem decorrer por conta
de pontos de vista distintos, por exemplo: o pai considera correto dar uma palmada na criança,
enquanto a mãe acredita ser uma agressão, ou, a mãe acha de bom tom apresentar novos
companheiros ao filho, enquanto o pai acredita que isso é prejudicial ao emocional da criança.
Porém, podem também ocorrer, propositadamente, acusações mentirosas de maus tratos e abuso
sexual, através de implementação de falsas memórias no menor.

Importante ressaltar que a Alienação Parental também pode ser instaurada por um
terceiro, interessado, por algum motivo, na destruição familiar: a avó, uma tia, um (a) amigo (a)
da família que dá conselhos insensatos, um profissional antiético (psicólogo, advogado,
assistente social, médico, delegado, conselheiro tutelar etc.) Também pode ser instaurado contra
alguma dessas figuras familiares importantes para a criança, como por exemplo os avós. Com o
aumento da expectativa de vida e a inserção da mulher no mercado de trabalho, não é incomum
que os avós passem a maior parte do tempo com os netos, muitas vezes até mesmo ocupando o
lugar dos genitores, os provendo de cuidados e sustento. Nesse sentido, João Andrade de
Carvalho 15 prediz:

É imprescindível levar-se em conta sempre o interesse inarredável do menor, a


preponderar sobre qualquer outro interesse, inclusive dos próprios pais, se prejudicial à
aquele. São circunstâncias que o juiz deverá apreciar; é crucial que as visitas dos avós
sirvam de efetivo apoio e aproveitamento moral, educacional e emocional ao neto.

A Alienação Parental se apresenta em diferentes níveis, e pode não ser propositado ou


sequer percebido pelos autores. Em graus elevados, pode desencadear a SAP - Síndrome da
Alienação Parental, que pode ser definida como um distúrbio da criança ou adolescente, comum
no contexto de divórcio e disputa de menor. Inicia-se, frequentemente, com uma campanha
denegritória injustificada realizada pela própria criança, por influência de um genitor. É
importante ressaltar que, quando o abuso e/ou negligencia parentais verdadeiros estão presentes,
a animosidade da criança pode ser justificada, e assim a explicação de Síndrome de Alienação
Parental para a hostilidade da criança não é aplicável. Cabe ressaltar que, tecnicamente, a
Síndrome não se confunde com a Alienação Parental, pois que aquela geralmente decorre desta,
ou seja, ao passo que a alienação parental se liga ao afastamento do filho de um pai através de
manobras da titular da guarda, a Síndrome, por sua vez, diz respeito às questões emocionais, aos
danos e sequelas que a criança e o adolescente vem a padecer. Assim, é possível que uma criança
sofra a alienação parental e não venha a desenvolver a Síndrome, do mesmo modo, quando há
presença real de negligência e/ou abuso, a conduta de afastamento ou agressividade da criança
passa a ter justificativa, e, a princípio, não se aplicará a Síndrome da Alienação Parental.

Sabe-se que dinâmica familiar é um dos fatores ambientais que mais favorecem o
desencadeamento de transtornos como depressão e ansiedade na infância. Em realidade, a falta
de convivência com o genitor e os conflitos entre os pais são muito mais negativos para as
crianças do que a mera separação do casal, e pode desencadear agressividade, inibições, medo,
tiques nervosos, somatizações e bloqueios na aprendizagem, além da falta de identificação com o
genitor alienado. Silveiro 16
adverte que, “em graus de SAP mais elevados, a criança pode
apresentar como a depressão crônica, transtornos de identidade e de imagem, incapacidade de
adaptação, isolamento, incontrolável sentimento de culpa, desorganização, comportamento
hostil, dupla personalidade, envolvimento com entorpecentes, violência e até mesmo suicídio”.
Os efeitos negativos da Síndrome variam de acordo com o temperamento, personalidade, idade e
maturidade psicológica da criança, dentre outros fatores. Porém, o mais preocupante é que
segundo pesquisas, nos casos de divórcio ou de separação dos pais, 80% dos filhos sofreram
algum tipo de alienação, e que mais de 25 milhões de crianças no mundo padecem desse tipo de
violência.

Com base nas estatísticas fornecidas pelo IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito de
Família 17, Pinto 18 relata algumas consequências da ausência ou distanciamento por parte de um
dos genitores na vida do menor: (i) 72% de adolescentes que cometem crimes graves e
homicídios vivem em lares de pais separados; (ii) 70% dos delinquentes adolescentes e pré-
adolescentes cresceram distantes de um genitor; (iii) Crianças sem a presença do pai têm 2 vezes
mais probabilidades de baixo rendimento escolar e desenvolverem quadros de rebeldia a partir da
3ª infância; (iii) A taxa de suicídio (ou tentativa) entre adolescentes de 16 e 19 anos de idade
triplicou nos últimos 5 anos, sendo que 75% deles ocorreram em lares de pais ausentes ou
distantes; (iv) Crianças na ausência do modelo do pai estão mais propensas ao uso de álcool e
tabagismo e outras drogas; (v) Filhas distantes de pai têm 3 vezes mais chances de engravidarem
ou abortarem ao longo da adolescência; (vi) Crianças na ausência do pai são mais vulneráveis a
sofrer acidentes, dificuldade de concentração, mentir e desenvolver dificuldades de fala e asma;
(vii) Vivendo em uma família sem o pai, a disciplina cai vertiginosamente e as chances da
criança se graduar com êxito em nível superior cai em 30%; (viii) Meninas que crescem apenas
com a mãe têm o dobro de probabilidade de se divorciarem; (ix) Meninas que crescem distantes
da figura do pai têm 5 vezes mais chances de perderem a virgindade antes da adolescência; (x)
Meninas distantes do pai têm 3 vezes mais chances serem vítimas de pedofilia ou mesmo de
procurarem afeto em qualquer figura masculina mais velha;

Desse modo, fica evidente a gravidade da alienação parental, bem como os danos, não
raramente, irreparáveis aos menores. O ato de criar falsas memórias, destruir vínculos e dificultar
o contato do filho com o genitor, dentre outros, constitui covarde violência à saúde emocional e
psiquíca da criança, provocado pelo sentimento de rancor e revanchismo pela frustração do fim
do relacionamento de dois adultos.

2.2 Lei da alienação parental

Segundo a Lei 12318/2010, a alienação parental se configura na interferência na


formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores,
pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou
vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de
vínculos com este. Segundo o instituto, que está em consonância com a teoria de Gardner sobre o
tema, são formas de alienação, dentre outros: realizar campanha de desqualificação da conduta
do genitor, dificultar o exercício da autoridade parental; dificultar contato de criança ou
adolescente com genitor; dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência
familiar; apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para
obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; Desse trecho, podemos
extrair o rol de pessoas que podem figurar como pólo ativo na alienação, lembrando que passivo
é sempre o genitor ou responsável alienado, além da criança ou adolescente. É importante
ressaltar que, que de acordo com o artigo 3, prática de qualquer destes atos fere o direito
fundamental da criança ao convívio familiar saudável, constitui abuso moral contra a criança e
adolescente e representa o descumprimento dos deveres inerentes ao poder familiar. Tal artigo
está em consonância com os Princípios Fundamentais previstos no artigo 1,III, da Carta Magna,
bem como com o Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 15° ao 19°, que tratam sobre a
dignidade da pessoa humana e os direitos civis.

A referida lei prevê medidas para que, constatada a alienação, caiba ao Juiz: a) Fazer com
que o processo tramite prioritariamente, já que, envolvendo possíveis abusos psicológicos à
criança, a resolução deve ser imediata; b) Determinar medidas que preservem a integridade
psicológica da criança ou adolescente; c) Determinar a elaboração, de laudo pericial, no qual o
perito terá o prazo de 90 dias, prorrogáveis por autorização judicial, para apresentar o laudo; d)
Advertir o alienador; e) Ampliar a convivência da vítima com o genitor prejudicado, podendo-se
até determinar eventual alteração da guarda para compartilhada ou, ainda, invertê-la. Visa
promover o fortalecimento de vínculos que possam ter sido enfraquecidos, evitando danos
maiores ao menor; f) Estipular multa ao alienador. Tal medida se mostra pouco eficaz, eis que há
omissão legal quanto ao valor e destinação da multa, além de prejudicar a criança-vítima, eis que
ela é, na maior parte das vezes, dependente financeiramente do alienador; g) Determinar
acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial.

A alienação Parental pode ser considerada uma forma de tortura psicológica. Esse é o
entendimento do Desembargador Caetano Lagrasta Neto do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, que afirma19: "Sempre fui defensor, em julgados ou em obras de doutrina, da aplicação da
pena de acordo com a gravidade do delito praticado e não resta dúvida que a alienação parental
dependendo do grau de dolo é, tipicamente, um crime de tortura."

E salienta:

A Constituição agasalha, de forma pétrea, os princípios da liberdade, da dignidade e


igualdade da pessoa humana; a igualdade entre cônjuges ou companheiros; coíbe a
violência no âmbito das relações familiares; impede e pune a tortura (art. 5º, III);
protege o interesse superior da criança e do adolescente, além de permitir o acesso a
uma ordem jurídica justa, acrescidas as prescrições da legislação infraconstitucional.

No que se refere às medidas repressivas, nota-se que a lei não trouxe grande inovação, eis
que apresenta os mecanismos já presentes no Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu
artigo 129, incisos III, VII, X c/c 213, parágrafo 2. O artigo 7° vem ao encontro do código Civil
e ao Estatuto da Criança e do adolescente, no que tange à atribuição da guarda e alteração, e que,
no caso da hipótese de não haver condições de compartilhar a guarda ela será unilateral, será
conferida ao genitor que oferecer melhores condições ao menor. De todo modo, observa-se que
essas medidas, analisando-se caso a caso, poderão ser tomadas, independentemente, de eventual
responsabilização civil ou criminal do alienador, levando-se em conta o grau de evolução da
Síndrome de Alienação Parental e sua natureza punitiva. Vale ressaltar que a lei não especifica o
grau da alienação parental, eis que tal tarefa incumbe a área da saúde e psicossocial. Por fim,
temos instituída a irrelevância do domicílio da criança, para determinar as competências dos
genitores ou responsáveis no exercício de prestar os direitos fundamentais dos menores, com a
observação do consenso entre as partes ou da decisão judicial.

Em suma, temos que a referida lei representa um grande avanço, à medida que protege os
Direitos Fundamentais de crianças e adolescentes, tão estão vulneráveis a tal abuso. A partir do
momento que se tem uma lei específica, indicando e punindo os responsáveis, há maior
efetividade na garantia desses Direitos e na promoção da dignidade da criança e do adolescente,
bem como do genitor alienado, sempre com o objetivo do melhor interesse do menor. A Lei da
Alienação Parental, que tornou o Brasil pioneiro na América Latina na criação de uma lei sobre o
tema, cria mecanismos para inibir os atos alienantes, visando a proteção do menor, a manutenção
dos sistemas de guarda vigentes no nosso direito, bem como a perpetuação dos laços familiares.
A alienação parental não é fato novo, porém a sua respectiva lei o é. Essa norma tem o intuito de
devolver à família um direito assegurado constitucionalmente, conferindo efetividade e
celeridade ao processo, princípios indispensáveis para que a justiça tome medidas adequadas e
necessárias, pois, uma justiça tardia poderá ter efeitos por vezes irreversíveis diante deste tema
tão complexo e cada vez mais comum na sociedade moderna.

2.3 Alienação parental judicial

A alienação parental judicial consiste na alienação de responsabilidade do Judiciário, que


através de omissão ou descumprimento, perpetua os casos de alienação. Tal descumprimento
também se dá quanto à Lei da Guarda Compartilhada, que assevera que a guarda deve ser, em
regra, compartilhada. Porém, essa regra não é aplicada sempre que inexiste, na prática, um
"acordo entre as partes", e então a Guarda Unilateral, que deveria ser a exceção, é transforma em
regra. Tal situação se mostra extremamente errônea, eis que a guarda compartilhada se justifica
justamente nos casos em que houver conflitos entre os pais, como assevera a Lei 13.058, que
versa sobre a guarda compartilhada:

Artigo 2 "§ 2o Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho,
encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a
guarda compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja
a guarda do menor.

Grande parte desse problema se dá por decisões construídas por pessoas que não são
magistrados, e sim por uma "assessoria" não tem capacidade de atuar em um ramo tão sensível
como o Direito de família, ou mesmo que, frequentemente, apenas reproduzem decisões
anteriores, de forma quase que mecânica. Suas decisões são, quase sempre, no sentido de não
aplicação da guarda compartilhada, desrespeitando o disposto no artigo 1.583 § 2, do nosso
código civil. Tal omissão judiciária, com aval no Ministério Público, dificulta a manutenção de
vínculos familiares e fere o princípio do Maior Interesse da Criança. Observemos a definição
presente na Lei nº 12.318:

Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica


da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós
ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância
para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de
vínculos com este.

Assim, podemos entender que alienação parental judicial se dá no sentido de causar


prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos da criança com o genitor alienado. Ao
deferir a guarda unilateral e resumir as visitas do pai de forma quinzenal, o judiciário estabelece
ao genitor guardião convivência com a criança em 94% a 98% do seu tempo. Tal situação
desrespeita o direito a convivência familiar, representando violação aos preceitos do artigo 227
da Constituição e da Lei Nº 13.058. A violação da Lei da Guarda Compartilhada e da Lei da
Alienação Parental, comum por parte dos magistrados, fere o Código de Ética do Magistrado em
diversos pontos. Tomemos alguns exemplos 20

Art. 2º: “Ao magistrado impõe-se primar pelo respeito à Constituição da República e às
leis do País, buscando o fortalecimento das instituições e a plena realização dos valores
democráticos.”
Art. 3º: “A atividade judicial deve desenvolver-se de modo a garantir e fomentar a
dignidade da pessoa humana, objetivando assegurar e promover a solidariedade e a
justiça na relação entre as pessoas"

Art. 25. "Especialmente ao proferir decisões, incumbe ao magistrado atuar de forma


cautelosa, atento às consequências que pode provocar."

Também há omissão do Ministério Público, responsável por zelar pelo efetivo respeito
aos direitos e garantiras legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as medidas
judiciais e extrajudiciais cabíveis em razão de desrespeito, como prevê o artigo 201, VIII, da
Constituição Federal, e que dificilmente se posiciona nos casos de desrespeito a Lei da Alienação
Parental e da Guarda Compartilhada. O legislativo, no entanto, exerceu o seu papel, eis que
apresenta inúmeros e suficientes dispositivos para promoção da proteção do menor, por exemplo,
Constituição, em seu artigo 227, bem como no Código Civil, no Estatuto da Criança e do
Adolescente, e nas exaustivamente mencionadas Lei de Alienação Parental e Lei da Guarda
compartilhada.

Um caso famoso de alienação parental judicial é o do menino Bernardo Bolrini, que foi
assassinado pela madrasta em abril de 2014, aos 11 anos. Órfão de mãe, o menino morava com
pai, com autorização do juiz da vara da Infância e Juventude, já havendo instauração de
investigação, por parte do Ministério Público, contra o genitor, por negligência afetiva e
abandono familiar. No caso, havia clara alienação parental em relação à avó materna, uma vez
que havia constante impedimento, por parte do pai, da convivência da criança com a mesma após
o falecimento da genitora. Porém, o juiz não observou a situação de alienação parental, que
ensejaria estabelecimento de regime mínimo de convivência familiar em favor da avó, de acordo
com o artigo 6, II, da Lei 12.318, que assevera:

Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a


convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o
juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil
ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar
seus efeitos, segundo a gravidade do caso: (...) II - ampliar o regime de convivência
familiar em favor do genitor alienado.

A falta de aplicação da Lei de Alienação, nesse caso concreto, poderia ter evitado o
assassinato de Bernardo, eis que com a presença da avó e os demais parentes maternos, o menor
teria mais chances de ser protegido.
Assim, temos que nos ater a responsabilidade do judiciário de prevenir casos de alienação
e resguardar os interesses do menor, garantindo o direito de convivência familiar, e observando
as leis de proteção do menor, sobretudo as que dizem respeito à Alienação Parental e Guarda
Compartilhada. É, ainda, de suma importância que hajam sanções à prática de alienação parental
judicial, que apesar de não ser citada na Lei nº 12.318, é uma forma extremamente grave e
comum de Alienação Parental, lamentavelmente praticada por quem tem o dever de combatê-la.

3.4 A mediação familiar como um meio alternativo ao processo

Dado o desgaste físico, financeiro e emocional que os processos judiciais causam nas
pessoas, tem-se, cada vez mais, intensificado a busca de resolução de conflitos por meio da
mediação, como um meio de soluções de conflitos que favoreçam o diálogo e o entendimento
entre as partes. Além disso, se mostra como uma solução flexível e criativa para a morosidade e
barreiras burocráticas presentes no nosso judiciário.

A importância da mediação é ainda melhor no que diz respeito ao Direito de Família, área
carregada de subjetividades e conflitos sentimentais com os quais os profissionais de Direito não
estão preparados para lidar. Observe a opinião de Maria Berenice Dias e a psicóloga Ivone
Coelho Souza21:

O Direito de Família é essencialmente permeado pela afetividade humana, pelas


relações de parentes e socioafetividade familiar. Dessa forma, possui características
natas de que a escuta e o diálogo apropriados deverão ser sempre valorizados pelos
advogados, juízes, promotores e demais envolvidos no caso em análise, com temperança
e real interesse nos problemas alheios.

Nesse sentido, NAZARETH 22


conceitua a Mediação como ‘um método de condução de
conflitos, voluntário e sigiloso, aplicado por um terceiro neutro e especialmente treinado, cujo
objetivo é restabelecer a comunicação entre as pessoas que se encontram em um impasse,
ajudando-as a chegar a um acordo.’ Para a autora, ‘o objetivo é facilitar o diálogo, colaborar com
as pessoas e ajudá-las a comunicar suas necessidades, esclarecendo seus interesses,
estabelecendo limites e possibilidades para cada um, tendo sempre em vista as implicações de
cada tomada de decisão a curto, médio e longo prazo.’
Na solução de conflitos através da mediação, não há imposição de uma solução por parte
do juiz (que gera sensações de perda e frustação), e sim a chegada em um trato, um
"combinado", discutido e aceito pelas partes. Ademir Buitoni, observa23:

Às vezes, pode ser muito mais difícil mediar um conflito do que obter uma decisão
judicial. Mas os resultados serão, certamente, mais duradouros e mais profundos quando
as partes resolverem seus conflitos, livremente, através da Mediação. As transformações
subjetivas permanecem, enquanto as decisões objetivas, não raro, são ineficazes para
corrigir os problemas que tentam resolver. É preciso tentar desenvolver a experiência da
Mediação como uma possibilidade de superar a Dogmática Jurídica que não responde,
adequadamente, às necessidades do mundo atual.

Nesta perspectiva, a mediação se mostra como um instrumento de promoção de uma


comunicação saudável entre os envolvidos, melhorando assim, o relacionamento entre as partes.
É assim, meio eficaz para se diminuir ao máximo a incidência de Alienação Parental (em sua
totalidade, nascido do mau relacionamento entre as partes), garantindo o pleno desenvolvimento
dos filhos. No entanto, na redação da Lei de Alienação Parental, o artigo que versava sobre a
mediação foi vetado. O veto presidencial teve como justificativa que a convivência familiar era
direito indisponível, não cabendo sua apreciação por mecanismos extrajudiciais de solução de
conflitos, e, ademais, que tal dispositivo seria contrário a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990,
que prevê a aplicação do princípio da intervenção mínima, segundo o qual eventual medida para
a proteção da criança e do adolescente deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e
instituições cuja ação seja indispensável. Apesar do veto, diversos Tribunais do país vêm
utilizando a medição familiar como forma de solução de conflitos, e têm obtido excelentes
resultados.

Por fim, podemos concluir que o instituto da Mediação representa grandes contribuições
no sentido de descentralizar do Judiciário os conflitos familiares ( que, além de morosos,
prejudicam ainda mais os conflitos litigantes entre as pessoas, criando emoções de perda, ódio,
revanchismo), efetivar a garantia constitucional de duração razoável do processo, agilizando os
processos, minimizando os custos, além de auxiliar as partes a manter um diálogo saudável sobre
assuntos realmente importantes, em especial no que diz respeito ao desenvolvimento saudável
dos filhos.
CAPÍTULO III- RESPONSABILIDADE CIVIL NA ALIENAÇÃO PARENTAL

3.1 A responsabilidade civil decorrente da alienação


Como visto, o instituto da responsabilidade trata da obrigação de reparar o dano
provocado a outrem através de ato ilícito. São elementos da responsabilidade civil: ato ilícito,
dano, nexo causal e, a depender do caso, a culpa. Dentro deste tópico abordaremos cada um
desses elementos, com exceção da culpa, a quem foi definido tópico específico. Segundo
Venosa24 , com o advento da Constituição de 1988 a responsabilidade civil no âmbito do direito
de família deixou de ser vista apenas como um ressarcimento de ordem patrimonial quando
fossem verificados certos abusos, de maneira que passou a se admitir também o ressarcimento
pelos danos morais advindo das relações familiares, eis que, no âmbito do direito de família, os
25
bens tutelados são aqueles inerentes á dignidade da pessoa humana. Maria Helena Diniz
define responsabilidade civil como: “(...) a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a
reparar o dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma
praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples
imposição legal.”

A prática de alienação parental, sabidamente tratada em lei, é ato ilícito em que o genitor
alienado é impedido de conviver e desenvolver o afeto com o seu filho, que por sua vez também
sofre, não apenas com a falta do genitor alienado, como também com a influência negativa do
genitor alienante, configurando-se danos irreparáveis a ambas as vítimas. Há que se ressaltar que
a Lei da Alienação Parental versa em seu artigo 3 a respeito da conduta ilícita do alienante,
classificado expressamente como abuso moral, e que gera, portanto, o dever de indenizar.
Importante ressaltar que a Lei 12.318 observa a responsabilização civil e criminal do alienante
frente ao menor e ao genitor alienado, consagrando, assim, a ilicitude da prática de alienação
parental.

Nesse sentido, está disposto em seu artigo 6:


Art. 6 Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que
dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou
incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente
responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais
aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso.

O nexo de causalidade, elemento entendido como o mais sensível da responsabilidade


civil, está na relação existente entre os atos do alienador e o resultado da alienação, o elo entre a
causa e efeito. É entendimento pacífico em doutrina que a teoria da causalidade adequada,
presente também no Direito penal, foi adotada pelo nosso Código Civil, e, por tal teoria, somente
causas ou condutas relevantes para a produção do dano são capazes de gerar o dever de
indenizar. Segundo o ilustre ministro Rui Stoco, considera-se causa a ação ou omissão sem a
qual o resultado não teria ocorrido.

O dano, por sua vez, nas palavras de Maria Helena Diniz 26


é a “lesão (diminuição ou
destruição) que, devido a certo evento, sofre uma pessoa, contra sua vontade, em qualquer bem
ou interesse jurídico, patrimonial ou moral” .Importante ressaltar que na prática de alienação
parental, o dano pode ter viés patrimonial, eis que o afastamento de um dos genitores pode gerar
distanciamento também de bens e recursos, necessários à educação, saúde e manutenção da
qualidade de vida em geral, representando um direito incontestável do menor. A não-fruição
desse direito representa dano possivelmente reparável com o pagamento de indenização por parte
do genitor alienador. Por sua vez o dano moral, causado pelo sentimento de rejeição, tristeza,
raiva, saudades, bem como por ataques à integridade psicológica, à reputação e à dignidade do
menor e do genitor alienado, que já foram exaustivamente explicados no presente trabalho,
devem ser observados no caso concreto, por meio de oitiva de testemunhas, apresentação de
provas materiais (mensagens, cartas, e-mails, etc) e laudo psicológico, dentre outros meios. Em
suma, o dano nasce da a violação de importantíssimos direitos garantidos ao menor, tanto pela
Constituição Federal quanto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, devendo ser
obrigatoriamente comprovado no caso concreto, eis que é elemento essencial para configuração
da responsabilidade civil.

Por fim, deve-se ressaltar que o genitor alienado também é vítima, e assim, integra o polo
passivo da alienação parental, cabendo também a ele o direito de requerer a responsabilização do
alienante por seus atos danosos. O dano suportado pelo genitor alienado se perfaz tanto pela
campanha difamatória realizada pelo alienador contra o mesmo, que lhe causa dor, sofrimento e
humilhação, e em casos mais graves, até prejuízo da vida social e profissional (como é o caso da
falsa denúncia de abuso sexual, por exemplo), bem como pelos danos no relacionamento com o
filho, cujos laços afetivos podem nunca virem a ser refeitos e momentos importantes (como
aniversários, dia dos pais, férias, etc) jamais voltar. Nesse sentido, Fábio Bauab Boschi27 afirma
que a responsabilidade civil do alienante é patente pois, o dano moral do visitante reflete-se na
esfera sentimental e emotiva do visitado, que é, aliás, o detentor do maior interesse; então, ao
ofender-se a moral de um, ofende-se, em muitos casos, os sentimentos do outro, de forma que
ambos serão vítimas de um mesmo ato lesivo. Assim, cabe ao genitor vítima de alienação buscar
os meios legais para que a mesma seja cessada, podendo ainda pleitear judicialmente indenização
em favor de sí mesmo e do menor, por ele representado. A ação de reparação de danos com
fundamento na responsabilidade civil, pode ser proposta na vara da família, não apenas por
iniciativa do alienado, como também do Ministério Público ou até mesmo de ofício pelo juiz, ao
deparar-se com casos graves de alienação parental.

3.2 A culpa como elemento da responsabilidade


Antes de mais nada, é importante caracterizar o conceito de culpa, talvez um dos assuntos
mais complexos dentro da responsabilidade civil. Não se deve confundir a culpa com a conduta
ilícita, assim, a título de exemplificação, na hipótese de alienação parental a conduta ilícita seria
a campanha de difamação e tentativas de rompimento dos laços afetivos com o alienado,
enquanto a culpa estaria na intenção de se afastar o genitor do menor, ou no acolhimento desse
risco, por meio de condutas de imprudência, imperícia ou negligência. Assim, a culpa Lato Sensu
engloba tanto o dolo e a culpa em sentido estrito. Enquanto o dolo é a conduta voluntária e
intencional de alguém que, de forma comissiva ou omissiva, objetiva um resultado ilícito ou
causar dano a outrem, a culpa em sentido estrito se identifica em uma ação ou omissão
voluntária, praticada com negligência, imprudência ou imperícia, causadora de resultado danoso
involuntário, porém previsível. Quem age com culpa em sentido estrito pode até não desejar que
o resultado danoso e previsível ocorra, porém assume o risco, à medida em que não toma o
cuidado necessário para evitá-lo. A previsão da culpa em stricto sensu tem previsão no Código
Civil, e caracteriza a responsabilidade civil subjetiva: “Art. 186. Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
Parcela majoritária da doutrina acredita que no direito de família a responsabilidade civil
é subjetiva, por esta ser a regra do Código Civil, e assim, a esmagadora maioria das situações
fáticas demandará a prova do elemento “culpa”. Também deve-se levar em consideração que,
nas relações familiares, os sujeitos envolvidos não estão exercendo qualquer atividade que
implique, pela sua essência, risco ao direito de outrem, o que caracterizaria a responsabilidade
civil objetiva. Nos dizeres do ex- Ministro do STJ, Ruy Rosado de Aguiar Júnior28 “a extensão
que cada vez mais se concede à responsabilidade objetiva não se ajusta à situação familiar, onde
o normal será exigência de fator de atribuição de natureza subjetiva”. A título de observação,
Stoco 29 afirma que “não se insere, no contexto de ‘voluntariedade’ o propósito ou a consciência
do resultado danoso, ou seja, a deliberação ou a consciência de causar o prejuízo. Este é um
elemento definidor do dolo. A voluntariedade pressuposta na culpa é a da ação em si mesma”.

Importante frisar que o ordenamento jurídico brasileiro adotou a teoria da


responsabilidade dual, isto é, subjetiva e objetiva, a depender de determinadas circunstâncias. A
responsabilidade objetiva, qual seja, aquela que independe de culpa, está presente no caso do
artigo 927 do mesmo Código: “Art. 927. (...) Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o
dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.”

Nas palavras de Gagliano30

No caso da responsabilidade objetiva não é preciso a comprovação da culpa, pois o dolo


ou a culpa na conduta do agente é irrelevante juridicamente, uma vez que só é
necessária a existência do nexo de causalidade entre o dano e a conduta do agente
responsável para a configuração do dever de indenizar" (GAGLIANO, 2012, p.58).

No mesmo entendimento, o autor Marcelo Junqueira Calixto31 ressalta que: “Nas relações
familiares quando no exercício do poder familiar não há de se imputar culpa, pois os pais têm
esse dever conferido pelo Estado de cuidar dos filhos. Nesse sentido a responsabilidade civil se
desdobra para a caracterização da objetividade”.

Além da forte divergência doutrinária, ainda há a problemática da dificuldade de se


apurar a culpa e o dolo das condutas abusivas de direito nas relações familiares. Porém deve-se
frisar que, sendo a culpa objetiva ou subjetiva, ainda devem, necessariamente, estarem presentes
os demais elementos caracterizadores da responsabilidade civil.

3.3 Cabimento de dano moral na Alienação Parental

Danos morais são as perdas sofridas por um ataque à moral e à dignidade das pessoas,
caracterizados como uma ofensa à reputação da vítima. Se configura o dano moral quando é
atingido um direito de personalidade, no que diz respeito a sua liberdade, honra, saúde (mental
ou física) e imagem, afetando dimensões físicas, psíquicas, morais e intelectuais. Tais direitos
fazem parte do leque dos direitos fundamentais estabelecidos pela Constituição Federal, que
prevê, em seu artigo 5, incisos V e X:

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por


dano material, moral ou à imagem; (...) X - são invioláveis a intimidade, a vida privada,
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação.

O dano moral também tem previsão no Código Civil: "Art. 186. Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito."

Conforme o entendimento de Yussef Said Cahali32, o que enseja dano moral é “tudo
aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais
inerentes à sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado”.

Nas palavras de Humberto Theodoro Junior33:

Hoje, está solidamente assentada a ampla e unitária teoria da reparação de todo e


qualquer dano civil, ocorra ele no plano do patrimônio ou na esfera da personalidade da
vítima. Há de indenizar o ofendido todo aquele que cause um mal injusto a outrem,
pouco importando a natureza da lesão.

Pablo Stolze e Pamplona Filho33 tratando do dano moral, afirmam que o dano moral
consiste na lesão de direitos cujo conteúdo não é pecuniário, nem comercialmente redutível a
dinheiro. Em outras palavras, podemos afirmar que o dano moral é aquele que lesiona a esfera
personalíssima da pessoa (seus direitos da personalidade), violando, por exemplo, sua
intimidade, vida privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados constitucionalmente. Clayton
Reis34 adiciona que: “a indenização dos danos ocorridos no ambiente familiar, diferentemente
do que se observa no ambiente contratual ou negocial, deverá restringir-se aos danos
imateriais, ou seja, danos morais”.

Apesar da Lei nº 12.318/2010, dispor em seu artigo 6, III a aplicação de multa do genitor
alienador, ela é omissa ao disciplinar a reparação de danos ao alienado. Porém, é inegável que o
genitor alienado perde algo muito precioso, muitas vezes irreparável: momentos, lembranças,
toda a infância e até mesmo o amor do próprio filho. Além disso, tem inúmeras lesões no que diz
respeito a sua vida particular e social, provenientes das mentiras do alienante, que podem chegar
a extremos de falsas acusações de maus tratos e abusos sexuais. Pacificado o princípio da
reparabilidade do dano moral, podemos concluir que o magistrado ao fixar o valor indenizatório
do dano moral deve levar em conta tanto a ofensa do atingido como a capacidade financeira do
ofensor. Tal condenação teria dupla função: indenizar o alienado pelo seu sofrimento e
desestimular os atos de alienação, eis que nem sempre a lei é suficiente para coagi-los.

Nas palavras de Humberto Theodoro Júnior35:


Tem-se repetido, com muita frequência, em doutrina e jurisprudência, que o juiz ao
arbitrar a indenização do dano moral, dar-lhe um valor que não apenas representa uma
compensação para a dor do ofendido, mas que também sirva de punição para o agente
do dano, de modo a desestimulá-lo a reiterar atos ilícitos similares.
Assim, podemos perceber que é totalmente cabível a indenização por dano moral quando
verificada a prática da Alienação Parental, devido às vítimas de alienação, a princípio o genitor
alienado e o menor, por ele representado, podendo haver outras vítimas no contexto familiar
(avós e tios, por exemplo). Relembrando que a responsabilidade civil e o dever de reparar
decorrem de um ato ilícito, com a existência de dano e nexo causal, temos que na prática da
alienação parental tais elementos devem ser considerados, garantidos os princípios
constitucionais do contraditório e ampla defesa ao acusado de alienação. Nesse sentido, já é
pacífico, perante a nossa jurisprudência, a compreensão de que um dano moral tem função
dúplice, visando tanto promover uma reparação à vítima como também uma punição ao
alienador, com vistas à prevenir a repetição dessas tão nocivas práticas.

Por fim, há que se ressaltar que dentro do âmbito familiar, a indenização por dano moral
deve ser analisada no caso concreto, com provas contundentes, de modo a evitar a ocorrência da
banalização do dano moral. Ainda há dificuldade, por parte da doutrina e jurisprudência, na
valoração do dano moral, eis o caráter subjetivo da lesão aos sentimentos humanos. Logo, na
fixação da quantia, devem ser levados em consideração a gravidade da conduta e os resultados
do dano, bem como a possibilidade financeira do indenizador, guardando-se a devida
proporcionalidade. Deve-se entender que, apesar da indenização não por fim ao sofrimento
gerado, pode minimizar suas sequelas, através da possibilidade de se arcar com os custos de
tratamentos psicológicos aliados a uma melhor qualidade de vida e a gradual aproximação das
partes alienadas.

3.3 Jurisprudência

Após as devidas compreensões básicas a respeito do poder familiar, da alienação


parental, da responsabilidade civil do alienante, bem como a possibilidade de danos morais da
alienação, faz-se mister se observar o posicionamento nos nossos tribunais a respeito de temas
tão importantes. A respeito da alienação parental, temos um julgado que, dentre outros conflitos
familiares, trata a respeito da falsa denúncia de abuso sexual:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DE FAMÍLIA. ABUSO SEXUAL. INEXISTÊNCIA.


SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL CONFIGURADA. GUARDA
COMPARTILHADA. IMPOSSIBILIDADE. GARANTIA DO BEM ESTAR DA
CRIANÇA. MELHOR INTERESSE DO MENOR SE SOBREPÕE AOS INTERESSES
PARTICULARES DOS PAIS. Pelo acervo probatório existente nos autos, resta
inafastável a conclusão de que o pai da menor deve exercer a guarda sobre ela, por deter
melhores condições sociais, psicológicas e econômicas a fim de lhe propiciar melhor
desenvolvimento. A insistência da genitora na acusação de abuso sexual praticado pelo
pai contra a criança, que justificaria a manutenção da guarda com ela não procede,
mormente pelo comportamento da infante nas avaliações psicológicas e de assistência
social, quando assumiu que seu pai nada fez, sendo que apenas repete o que sua mãe
manda dizer ao juiz, sequer sabendo de fato o significado das palavras que repete.
Típico caso da Síndrome da Alienação Parental, na qual são implantadas falsas
memórias na mente da criança, ainda em desenvolvimento. Observância do art. 227,
CRFB/88. Respeito à reaproximação gradativa do pai com a filha. Convivência sadia
com o genitor, sendo esta direito da criança para o seu regular crescimento. Mãe que
vive ou viveu de prostituição e se recusa a manter a criança em educação de ensino paga
integralmente pelo pai, permanecendo ela sem orientação intelectual e sujeita a perigo
decorrente de visitas masculinas à sua casa. Criança que apresenta conduta anti-social e
incapacidade da mãe em lhe impor limites. Convivência com a mãe que se demonstra
nociva a saúde da criança. Sentença que não observou a ausência de requisito para o
deferimento da guarda compartilhada, que é uma relação harmoniosa entre os pais da
criança, não podendo ser aplicado ao presente caso tal tipo de guarda, posto que é
patente que os genitores não possuem relação pacífica para que compartilhem
conjuntamente da guarda da menor. Precedentes do TJ/RJ. Bem estar e melhor interesse
da criança, constitucionalmente protegido, deve ser atendido. Reforma da sentença.
Provimento do primeiro recurso para conferir ao pai da menor a guarda unilateral,
permitindo que a criança fique com a mãe nos finais de semana. Desprovimento do
segundo recurso. (TJRJ. Apelação nº 0011739-63.2004.8.19.0021 2009.001.01309. 1ª
Ementa. Quinta Câmara Cível. Des. Teresa Castro Neves. J. 24/03/2009).
As crianças são bastante suscetíveis à implantação de falsas memórias, eis que estão em
processo de formação, carecem de perfeito discernimento e tem compreensão moldada por quem
as cerca, em especial se o indutor for o adulto que compartilha um grande tempo com ela, como
é o caso no genitor alienante. Ele pode então, manipular a criança para que ela acredite que foi
alvo de abusos verbais, físicos e sexuais, esta última, a mais grave das acusações. A
problemática se dá pois o genitor alienador pode servir-se do Poder Judiciário, eis que a suspeita
de abuso sexual, por si só, já basta para que o juiz determine o afastamento do genitor suspeito
de sua moradia, visando preservar a integridade física e psíquica dos filhos. É o que se extrai do
o Estatuto da Criança e do Adolescente, que, em seu artigo 157 prevê que a autoridade judiciária
competente poderá, de modo liminar ou incidental, decretar a suspensão do poder familiar, até o
julgamento definitivo da lide, mediante motivo grave, culminado com o artigo 1638, inciso III,
do Código Civil, segundo o qual será destituído do poder familiar o pai ou a mãe que praticar
com o filho atos contrários à moral e aos bons costumes. Como visto, a nossa legislação, ao
mesmo tempo, pode ser utilizado como instrumento de proteção ao menor e para a promoção e
fortalecimento da alienação parental. Para evitar que os órgãos jurídicos sejam utilizados para
tão vil finalidade, é imprescindível a atuação de equipe interdisciplinar integrada não apenas por
profissionais do direito, como por psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, pedagogos, entre
outros. Todos juntos devem trabalhar no sentido de garantir um ponderado julgamento nas
questões em que se diz respeito a abuso sexual infantil, eis que o assunto envolve ciências e
conhecimentos que fogem da alçada do profissional de Direito. O objetivo é garantir a segurança
da criança - tanto sexual, em caso de um possível abuso, quanto mental, em caso de violência
psicológica promovida pelo alienador no que tange a formar falsas memórias e ainda, impedir
que injustiças sejam cometidas, o que enfraqueceria ainda mais o vínculo com o genitor alienado.
No caso em tela, acertada foi a decisão do Tribunal, ao ceder a guarda unilateral ao pai vítima de
alienação e permitir que a criança fique com a mãe aos finais de semana, garantindo assim
proteção à saúde física e mental, bem como o melhor interesse da menor.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ALIENAÇÃO PARENTAL.


DANOS MORAIS. Merece mantida a sentença que determina o pagamento de
indenização por danos morais da apelante em relação ao autor, comprovada a prática de
alienação parental. Manutenção do quantum indenizatório, uma vez que fixado em
respeito aos critérios da razoabilidade e proporcionalidade. Apelação cível desprovida.
(TJRS. Apelação nº 70073665267. Oitava Câmara Cível. Relator: Jorge Luís
Dall'Agnol, J. 20/07/2017).
Segundo o inteiro teor da ação, fica claro que atualmente, com a consagração do princípio
da reparabilidade do dano moral, inclusive na nossa Carta Magna, é incabível discordar que a dor
moral resultado dos atos do alienante devem ser indenizados. Nas palavras de Yussef Said
Cahali36 “não se trata de ressarcir o prejuízo material representado, mas de reparar a dor com
bens de natureza distinta, de caráter compensatório e que, de alguma forma, servem como
lenitivo.” Ocorre que para se chegar à configuração do dever de indenizar, não será suficiente ao
ofendido demonstrar sua dor, deverá estar presente os três requisitos necessários para que ocorra
a responsabilidade civil: dano, ilicitude e nexo causal. No caso em tela, todos os requisitos
restaram implementados, na medida em que a prova documental produzida demonstrou os
diversos atos de alienação parental praticados pela ré, devidamente listados. Assim, superada a
observância quanto a existência do ato ilícito praticado, bem como o nexo causal entre sua
conduta e o dano, sobrevém o dever de indenizar. Como regra geral, a reparação do dano moral é
pecuniária, e visa amenizar os sentimentos negativos ocasionados a vítima pela violação dos seus
direitos personalíssimos. Porém, o nosso ordenamento jurídico não trata dos valores que devem
ser arbitrados em caso de condenação por dano moral, sendo assim, caberá ao magistrado, em
análise ao caso concreto, arbitrar o valor que julgue adequado diante determinada situação. No
caso em tela tribunal considerou a gravidade fática e acertou ao atender os critérios de
proporcionalidade e razoabilidade, fixando montante de R$9.370,00 como valor indenizatório a
ser pago pelo alienante ao genitor alienado.

CONCLUSÃO

A família, base da sociedade, é de suma importância na formação de crianças e


adolescentes, onde espera-se que estes encontrem pilares emocionais, espirituais e materiais para
se desenvolverem como adultos saudáveis. É uma relação baseada no afeto, sendo regulamentada
inclusive a nível constitucional, com vistas a garantir a sua proteção quando ameaçada e dar-lhe
subsídios quando adoece. Há ainda legislação específica visando a proteção do menor,
considerado a parte mais frágil dessa relação, como o Estatuto da Criança e do Adolescente,
dentre outros. Com a contemporânea evolução do conceito de família, bem como com o
crescimento dos divórcios no Brasil, novas problemáticas se apresentaram, tanto na sociedade
quanto no Direito.

O sentimento de vingança de um genitor face ao ex companheiro por vezes dá início a


uma campanha difamatória com vistas à prejudicar o relacionamento dele com o filho fruto da
relação frustrada, ferindo direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência
familiar saudável. Richard Gardner, em 1985, conceituou o resultado emocional dessa prática
como Síndrome da Alienação Parental, que pode ter vários níveis de gravidade e deixar sequelas
irreparáveis tanto nos laços afetivos com o genitor alienado quanto no desenvolvimento
psicológico da criança enquanto ser humano em formação. Com a finalidade inibir os atos de
alienação, bem como de punir os alienadores, foi promulgada, em 2010, a LEI Nº 12.318, que
regula a alienação parental.

Do desrespeito às normas legais nasce o instituto da Responsabilidade Civil, cujos


elementos necessários são o ato ilícito, o nexo causal, o dano e, em determinados casos, a culpa.
No caso da alienação parental, o ato ilícito é a conduta difamatória, a promoção do ódio ou
distanciamento da criança contra o genitor alienado, que fere o direito do menor à convivência
familiar saudável, e pode até mesmo causar o rompimento do vínculo afetivo entre as partes
alienadas. A respeito do nexo causal, o mesmo se verifica à medida em que, senão houvesse a
conduta alienadora, não haveria, na prática, o distanciamento ou aversão entre a criança e o
genitor alienado. O dano, exaustivamente demonstrado, diz respeito aos prejuízos à formação
psíquica do menor e genitor, que muitas vezes são irreversíveis, indo desde a dificuldades de
desenvolver relacionamentos saudáveis até transtornos de ansiedade e depressão e, em casos
mais graves, podendo chegar a suicídio. Por fim, a culpa é facilmente identificada na intenção
de se prejudicar o relacionamento entre genitor e filho.

Dentro desse contexto, observamos a aplicabilidade do instituto da responsabilidade civil


no direito de família, que diz respeito ao ressarcimento decorrente de conduta ilícita. Apesar de
se tratar de assunto relativamente novo no nosso ordenamento jurídico, a fundamentação teve
como escopo a melhor doutrina e jurisprudência selecionada. Sem a intenção de se exaurir o
tema, o objetivo do presente trabalho foi de trazer a compreensão quanto à possibilidade da
alienação parental ensejar a responsabilidade civil por parte do alienador, bem como ensejar o
pagamento da devida indenização pecuniária pelos danos morais e materiais devidos às vítimas
da alienação parental, num primeiro momento, compreendidas como genitor e filho alienados.

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Recorrente: Jornal do Brasil S. A. Advogados: Clério Borges Martins e outros Recorrido: José
Paulo Bisol. Advogados: Carlos Henrique de Carvalho Fróes e outros.

0011739-63.2004.8.19.0021 2009.001.01309 - APELACAO - 1ª Ementa DES. TERESA


CASTRO NEVES - Julgamento: 24/03/2009 - QUINTA CAMARA CIVEL.

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