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O

SUBLIME ROMÂNTICO

Júlio França
(Uerj)
ETIMOLOGIA DA PALAVRA

¡ D o latim, sublimis

§ sub (abaixo de; em direção)

§ limen (a parte superior da porta)

2
ACEPÇÕES DICIONARIZADAS

u q ue apresenta inexcedível perfeição material


u s uperlativamente belo, esteticamente perfeito
u m oralmente irrepreensível; digno de admiração
u i ntelectualmente irretocável, perfeito
u q ue se eleva acima do humano, do material; divino
u q ue desperta pensamentos e sentimentos nobres
u o que há de mais elevado nas ações ou nos sentimentos
u g randiosidade, poder, força incomparável
3
NO CAMPO DA ESTÉTICA, O TERMO SUBLIME...

• . .. descreve uma experiência que desafia nossa


c a p a c i d a d e d e a p r e e n s ã o , c o m p r e e n s ã o e
expressão.
• P or ser excessiva e não administrável, é, em certa
medida, negativa, dolorosa, aterrorizante.

4
NO CAMPO DA ESTÉTICA, O TERMO SUBLIME...

• D emarca os limites da razão (o incognoscível)


e da expressão (o inefável), e uma percepção
vaga do que poderia haver para além desses
limites.
• I ndica um desacordo entre nossas faculdades
sensíveis e cognitivas.
5
O SUBLIME CLÁSSICO
Longino.
Peri Hipsous.
III a. C.
UM (MAU) TRATADO DE RETÓRICA

• O tema: um dos estilos da retórica clássica.


• H ipsous => grandeza, elevação.

• D o ponto de vista retórico, uma obra


problemática.
• N ão haveria normas exatas para produzir o sublime.
7
¡ " Quando Poseidon caminha, sob os seus pés
imortais, tremem as serras, as florestas, os cumes,
a cidade dos Troianos, os navios dos Aqueus. Ele
guiou o seu carro sobre as ondas; de toda parte
saltaram das profundezas diante dele os monstros
marinhos, reconhecendo o seu soberano; de
alegria, o mar abriu-se em dois, e eles partiram
céleres."
§ H omero. Ilíada.
8
A DISPOSIÇÃO INATA DO SUJEITO
• Não se “aprende” o sublime, ele é “captado” como
um contágio divino.
• O artista não pode ter sentimentos baixos ou ignóbeis.
• Q uão mais elevados os pensamentos de um homem mais
propícias serão as condições para a ocorrência do
sublime.
9
UM OBSCURO TRATADO DE RETÓRICA GANHA
IMPORTÂNCIA NA ERA MODERNA

• O texto ficou esquecido até a tradução de Boileau (1713).


• O s dilemas e a ansiedade da nascente estética moderna
encontram eco na obra de Longino.
• O Je ne sais quoi e o Sublime (além de definições).
• O sublime se adequa mais a ideia de gênio do que da de
mestre.
• i nspiração > técnica.
10
EKPLEXIS E ADYNASIA

• A natureza do sublime é


• conduzir ao êxtase (ekplexis), e não à persuasão.
• p rovoca uma experiência de choque, gerando
adynasía (impotência) no leitor
• (pela violência do pathos, das ideias morais, das
imagens construídas.)
11
O SUBLIME RETÓRICO
¡ A poesia é a que mais se presta a alcançar o
sublime.
§ A palavra pode superar os limites da mera técnica de
representação da natureza.
¡ A phantasia (faculdade de criar imagens)
§ A força das imagens permite ultrapassar a função
persuasiva do discurso e seu caráter lógico-racional.
12
"Igual aos deuses se me afigura aquele homem,
que, sentado contigo face a face,
ouve de perto a tua doce fala,
teu sorriso encantador,
e isso convulsa-me o coração dentro do peito.
Mal te vejo, não me resta um fio de voz,
a língua se me parte e logo, sob a pele,
Percorre-me uma chama delicada,
os meus olhos não veem mais nada,
os meus ouvidos zumbem,
o meu suor escorre,
possui-me toda uma tremura,
fico mais verde que erva e pouco falta
para que me sinta morta!
Safo de Lesbos
13
O ALÉM DO HUMANO

¡ A s uperação dos limites do homem, e elevação do


pensamento à “grandeza do pensamento divino”.
¡ O sublime foi continuamente relacionado a
ideias transcendentais, da Bíblia a poemas
românticos.

14
PONTOS CENTRAIS DO SUBLIME EM LONGINO

¡  O Arrebatamento: para além da função persuasiva do discurso e seu caráter


lógico-racional.

¡  A sublimidade não é uma qualidade de um objeto, mas um efeito.

¡  A legitimação do subjetivo na experiência estética: o valor do inato

¡  Uma experiência estética não puramente circunscrita nem ao domínio da


razão, nem ao dos sentidos

15
O SUBLIME NA ERA MODERNA
DUAS TRADIÇÕES DO SUBLIME

• R etórica, advinda de Longino, e baseada na ideia de


elevação como um aspecto da linguagem;

• N atural, centrada em eventos e objetos do mundo


externo, e fundada na ideia de que o sublime é uma
qualidade do mundo externo.(*)

17
O SUBLIME NATURAL NA MODERNIDADE NASCENTE

• A vastidão e a grandeza na Natureza são


tomadas como manifestações concretas do
poder divino.
• Sua contemplação é uma via de acesso à
superação dos limites materiais da experiência
humana.
18
O SUBLIME NATURAL NA MODERNIDADE NASCENTE

• M udanças em relação à percepção neoclássica da


natureza
• O neoclassicismo desprezava as “deformações” da
natureza (montanhas, florestas cerradas, oceano
encapelados etc.) e privilegiava a natureza
“controlada” pelo homem
19
CLAUDE
LORRAIN (1657)

20
NICOLAS POUSSIN (SÉC. XVII)

21
CLAUDE
LORRAIN
(SÉCULO XVII)

22
PIERRE PATEL (1688)

23
JARDINS DE VERSAILLES

24
ANDREAS ACHENBACH (1847)

25
CASPAR
DAVID
FRIEDRICH
(1810)
26
PHILIP DE LOUTHERBOURG (1803)

27
O sublime entre
os Teólogos:
Thomas Burnet

Albert Bierstadt

28
THOMAS BURNET. THE SACRED THEORY OF THE EARTH (1689)

¡ “ Os maiores Objetos da Natureza, me parece, são os de mais


agradável contemplação; e próximo à Grande Esfera do Paraíso, e
aquelas ilimitadas Regiões onde as Estrelas habitam, não há nada
que eu contemple com mais Prazer do que o vasto Mar e as
Montanhas da Terra. Há algo magnífico e impressionante no Ar
dessas coisas, que inspira a Mente com Pensamentos e Paixões
grandiosas; nessas ocasiões, nós naturalmente pensamos em Deus
e sua Grandiosidade: (continua)
29
THOMAS BURNET. THE SACRED THEORY OF
THE EARTH (1689)
¡ (continuação) E seja o que for que tenha Sombra e
Aparência do INFINITO, assim como todas as
Coisas que são muito grandes para nossa
Compreensão, elas preenchem e dominam a
Mente com seu Excesso, e a lançam a um
agradável tipo de Estupor e Admiração.”
30
UM DESAFIO INTELECTUAL PARA OS NEOCLÁSSICOS

¡ S e a natureza era bela (fundada nos princípios da ordem,


da proporção e de moderação) ...

§ . .. por que as manifestações de poder e grandeza da


Natureza eram confusas, sem forma ou malformadas?

¡  O paradoxo do sublime leva a reavaliação do feio, do


grotesco e do terrível na arte.
31
O COLAPSO DAS LEIS DA BELEZA
¡ C omo conciliar a expectativa de arte que prezava a ordem e
a regularidade com a “novidade” do sublime?

¡ C omo harmonizar as ideias da natureza como um sistema


racional, da arte como representação e as extravagâncias
do sublime?

32
AQUILO QUE EXCEDE À NATUREZA

¡ M aior que a natureza, mais poderoso do que a


mente humana e inefável, a ideia de Deus triunfa
sobre todas as outras.

¡ C onsequentemente, a maior realização em arte será


a que que conseguir transmitir tal ideia.
¡ U ma vertente romântica vai se fundar nessa ideia.
33
GONÇALVES DIAS. “IDEIA DE DEUS” (FRAG.)
À voz de Jeová infindos mundos Como um raio de luz, percorre o espaço,
Se formaram do nada; E tudo nota e vê —
Rasgou-se o horror das trevas, fez-se o dia, O argueiro, os mundos, o universo, o justo;
E a noite foi criada, E o homem que não crê.

Luziu no espaço a lua! sobre a terra (...)
Rouqueja o mar raivoso,
E as esferas nos céus ergueram hinos Oh! como é grande o Senhor Deus, que os mundos
Ao Deus prodigioso. Equilibra nos ares;
(...)
(...) Cujo poder, que é sem igual, excede
A morte, as aflições, o espaço, o tempo, A hipérbole arrojada!
O que é para o Senhor? Oh! como é grande o Senhor Deus dos mundos,
Eterno, imenso, que lh’importa a sanha O Senhor dos prodígios.
Do tempo roedor?
34
DO GROTESCO E DO
SUBLIME (1827)

Victor Hugo
O MODERNO

¡ U ma nova religião, uma sociedade nova; logo, uma


nova poesia.
§ “ O cristianismo conduz a poesia à verdade. Como ele, a
musa moderna verá as coisas com um olhar mais elevado e
mais amplo.” Victor Hugo


36
O CLÁSSICO E O MODERNO

¡ O s artistas clássicos estudaram a natureza


sob uma perspectiva única.
§ Repeliu-se da arte tudo o que não se referia a
um tipo específico de belo.
37
O CLÁSSICO E O MODERNO

¡ O artista moderno teria percebido


§  “que o feio existe ao lado do belo, o disforme perto do
gracioso, o grotesco no reverso do sublime, o mal com o
bem, a sombra com a luz.” Victor Hugo


38
AINDA O PRINCÍPIO MIMÉTICO

¡ A “razão estreita e relativa do artista” não “deve ter


ganho de causa sobre a razão infinita, absoluta, do
criador”.

¡ N ão “cabe ao homem retificar Deus”. Victor Hugo

39
O CLÁSSICO E O MODERNO

¡ A literatura deve fazer

§  “como a natureza, a misturar nas suas criações, sem


entretanto confundi-las, a sombra com a luz, o grotesco
com o sublime, em outros termos, o corpo com a alma, o
animal com o espírito (...). Tudo é profundamente coeso.”

40
A UNIÃO ENTRE O GROTESCO E O SUBLIME

¡  A diferença fundamental que separa a literatura


romântica da literatura clássica:
§  “É da fecunda união do tipo grotesco com o tipo sublime que
nasce o gênio moderno, tão complexo, tão variado nas suas
formas, tão inesgotável nas suas criações, e nisto bem oposto à
uniforme simplicidade do gênio antigo.” Victor Hugo
41
A FUNÇÃO DE CONTRASTE

“Esta beleza universal que a Antiguidade derramava solenemente


sobre tudo não deixava de ser monótona; a mesma impressão,
sempre repetida, pode fatigar com o tempo. (...) O sublime sobre o
sublime dificilmente produz um contraste, e tem-se necessidade de
descansar de tudo, até do belo. (...) o grotesco é um tempo de
parada, um termo de comparação, um ponto de partida, de onde nos
elevamos para o belo com uma percepção mais fresca e mais
excitada.” Victor Hugo
42

A MESCLA DO DRAMA

“(...) enquanto o sublime representará a alma tal qual ela é,


purificada pela moral cristã, ele [o grotesco] representará o papel
da besta humana. (...) [o Sublime], livre de toda mescla impura, terá
como apanágio todos os encantos, todas as graças, todas as
belezas. (...) [o Grotesco] tomará todos os ridículos, todas as
enfermidades, todas as feiuras. Nesta partilha da humanidade e da
criação, é a ele que caberão as paixões, os vícios, os crimes (...)”
43
AS MÚLTIPLAS FORMAS DO GROTESCO

“O belo tem somente um tipo; o feio tem mil. É que o belo, para falar
humanamente, não é senão a forma considerada na sua mais simples
relação, na sua mais absoluta simetria, na sua mais íntima harmonia com
nossa organização. Portanto, oferece-nos sempre um conjunto completo,
mas restrito como nós. O que chamamos o feio, ao contrário, é um
pormenor de um grande conjunto que nos escapa, e que se harmoniza,
não com o homem, mas com toda a criação. É por isso que ele nos
apresenta, sem cessar, aspectos novos, mas incompletos.”
44
“Uma manhã, [Esmeralda] descobriu, quando acordou, sobre
a janela dois vasos cheios de flores. Um era de cristal, belo e
luzente, mas rachado. Deixara fugir a água de que o tinham
enchido, e as flores que continha estavam murchas. O outro
era um pote de barro, grosseiro e vulgar, mas que conservava
toda a água e as flores frescas e vermelhas. Não sei se foi
intencionalmente, mas a Esmeralda pegou no ramalhete
murcho e trouxe-o todo dia no seio.”
Victor Hugo. O corcunda de Notre Dame.

45
O SUBLIME TERRÍVEL
O EMPIRISMO INGLÊS E AS CAUSAS DO SUBLIME

• A questão da fonte do sublime era crucial para os


pensadores do XVIII

• ( um ponto no qual Longino havia falhado).

• A catalogação de causas possíveis.

• J oseph Addison: objetos naturais magníficos produzem o


efeito sublime. (como Burnet)
47
ADDISON. “THE PLEASURE OF IMAGINATION”
¡ “ Nossa imaginação gosta de ser preenchida por um
objeto ou de apreender algo que seja muito maior do
que sua capacidade. Somos lançados a um assombro
prazeroso frente a tais visões ilimitadas [paisagens
amplas], e diante de sua apreensão, sentimos uma
tranquilidade deleitosa e um maravilhamento na
alma. (...)” [continua]
48
ADDISON, “THE PLEASURE OF IMAGINATION”
¡ [ cont.] “(...) A mente humana naturalmente odeia
tudo o que parece restringi-la, e é inclinada a
imaginar a si mesma em um tipo de confinamento,
quando o escopo da visão está estreitado (...).
[P]erspectivas amplas e indeterminadas são tão
aprazíveis ao gosto quanto as especulações sobre a
eternidade ou a infinitude são para o entendimento.”
49
O SUBLIME E O TERRÍVEL

¡ O s fenômenos naturais sublimes são, em geral,


terríveis
§ t ormentas, terremotos, avalanches, vulcões, maremotos
etc.
¡ D e onde viria o prazer da contemplação?
§ A ddison dirá que não advém de nenhuma qualidade
inerente, mas do ato de reflexão sobre eles.
50
O SUBLIME E O TERRÍVEL

“Se considerarmos (...) a natureza desse prazer, descobriremos que


ele não provém tanto da descrição daquilo que é terrível, mas da
reflexão que fazemos enquanto lemos. Quando observamos tais
objetos terríveis, temos um prazer considerável em perceber que não
estamos em risco. Consideramo-los, portanto, ao mesmo tempo,
como pavorosos e inofensivos. Desta maneira, quando mais
assustador for sua aparência, maior o prazer que recebemos de nosso
senso de segurança. Em poucas palavras: admiramos os terrores de
uma descrição com a mesma curiosidade e satisfação com que
examinamos um monstro morto.”

51

UMA INVESTIGAÇÃO
FILOSÓFICA SOBRE A Edmund
ORIGEM DE NOSSAS Burke

IDEIAS DO SUBLIME E DO
BELO (1757)
PARTE I
O SUBLIME COMO UMA
CATEGORIA ESTÉTICA
AUTÔNOMA

Burke
ARGUMENTOS CENTRAIS

¡ B elo e Sublime são categorias estéticas distintas.

¡ O Belo funda-se no prazer; o Sublime, na dor.

¡ O Sublime é uma experiência artística mais intensa.

¡ O Sublime dá ensejo a uma experiência estética


singular: o horror deleitoso.
54
ü A dor não é a mera eliminação do prazer, nem o prazer o
simples extinguir da dor. Tanto uma quanto o outro são
sensações independentes.
ü P razer e dor são sensações autônomas e possuem suas
próprias causas e consequências.
ü “ o prazer nunca (...) se origina da eliminação da dor ou do
perigo.”(44)
55
DELEITE (DELIGHT)

ü  Deleite (Delight) – sentimento que, embora


agradável, distingue-se do prazer positivo.
ü  É uma espécie de privação.
ü  Sua existência é estreitamente vinculada à
dor.
ü  Trata-se de um prazer relativo.
56
A CESSAÇÃO DO PRAZER

¡ I ndiferença: Se o prazer simplesmente cessa, após ter-se


prolongado por certo período.
¡ D ecepção: Se o prazer for subitamente interrompido, o
resultado é uma sensação de inquietude
¡ P esar: se o objeto do prazer estiver irremediavelmente
perdido, de modo a não mais se poder usufruí-lo
(Nenhum desses sentimentos seria mais intenso ou sequer
idêntico à dor propriamente dita.)
57
OS DOIS TIPOS FUNDAMENTAIS DE PAIXÃO

ü P aixões: sentimentos intensos o suficiente para ofuscarem


a razão.

ü Todas as nossas paixões são orientadas por dor e prazer.

ü A s ideias capazes de produzir dor ou prazer podem ser


relacionadas à autopreservação ou à sociedade.
58
AS PAIXÕES DA AUTOPRESERVAÇÃO SÃO MAIS INTENSAS

¡ “ Como o desempenho de nossos deveres de qualquer tipo


depende da vida, e como desempenhá-las com energia e
eficiência depende da saúde, somos afetados de modo
muito intenso por qualquer coisa que ameace algum desses
estados”.

ü L ogo, “as ideias de dor são muito mais poderosas do que
aquelas que provêm do prazer.”
59
O SUBLIME E AS PAIXÕES RELATIVAS À AUTOPRESERVAÇÃO

ü “ Tudo que seja de algum modo capaz de incitar as


ideias de dor e de perigo, isto é, tudo que seja de
alguma maneira terrível ou relacionado a objetos
terríveis ou atua de um modo análogo ao terror
constitui uma fonte do sublime, isto é, produz a mais
forte emoção de que o espírito é capaz.”

60
COMO FUNCIONA O DELEITE NA ARTE:
A NOÇÃO DE EMPATIA
ü E mpatia: “(...) espécie de substituição, mediante a
qual colocamo-nos no lugar de outrem e somos
afetados, sob muitos aspectos, da mesma maneira
que eles; de modo que essa paixão pode ou partilhar
d a n a t u r e z a d a q u e l a s r e l a c i o n a d a s à
autopreservação e, derivando-se da dor, ser uma
fonte do sublime (...)”
61
BURKE E A TRADIÇÃO ARISTOTÉLICA
¡ Phobos, Eleos, Katharsis

¡ “Objetos que causariam aversão na realidade são, nas ficções trágicas


ou outras semelhantes, a fonte de um tipo de prazer muito intenso.”

¡ “O contentamento tem sido atribuído, em primeiro lugar, ao alívio


sentido ao considerar que uma história tão sombria é apenas uma
ficção e, em seguida, ao supor que estamos ao abrigo dos males a cuja
representação assistimos.”

¡ Burke relativiza o papel da razão no incitamento de nossas paixões .


62
A CURIOSIDADE MÓRBIDA E A FORÇA DO DELEITE

¡ “ (...) não há espetáculo que busquemos com tanta avidez


quanto o de alguma desgraça incomum e atroz; portanto, quer a
desdita ocorra diante de nossos olhos, quer ela se passe na
história, sempre nos provoca deleite. Ele não é puro, mas
mesclado com um razoável mal-estar. O deleite que auferimos
dessas cenas de grande sofrimento impede-nos de evitá-las (...)
esses impulsos ocorrem anteriormente a qualquer raciocínio,
por um instinto que age sobre nós, segundo seus próprios
desígnios, sem o concurso de nossa vontade.”

63
O PRAZER DA MÍMESIS E O DELEITE NA ARTE

Ø “ Nos infortúnios representados pela arte, a


única diferença é o prazer que resulta dos
efeitos da imitação, dado que ela é nunca é
perfeita a ponto de impedir-nos de perceber
que é simulada, e, sob aquele princípio, dela
auferimos um relativo prazer (...)”.
64
O TERROR

ü “ N e n h u m a p a i x ã o d e s p o j a t ã o
completamente o espírito de toda as sua
faculdade de agir e de raciocinar quanto o
medo. Pois este, sendo um pressentimento
de dor ou de morte, atua de maneira
semelhante à dor real.”
65
O TERROR

ü “ O terror é, em todo e qualquer caso, de modo mais


evidente ou implícito, o princípio primordial do sublime.
Várias línguas prestam um testemunho convincente da
afinidade dessas ideias. Elas muitas vezes empregam a
mesma palavra para significar indiferentemente os
sentimentos de assombro ou admiração e os de terror”.

66
DEMONSTRAÇÃO NA ETIMOLOGIA

•  Thámbos (grego), medo ou admiração.


•  Deinós (grego), terrível ou venerável;
•  Stupeo (latim), tomado de espanto, medo ou assombro
•  Attonitus (latim) <atingido pelo raio> tomado de espanto, medo
ou assombro
•  Étonnement (francês) medo e admiração
•  Astonishment e Amazement (inglês) medo e admiração
•  Terrível, Assombroso, Espantoso (português)
67
FONTES E CAUSAS DO SUBLIME

68
O PRINCÍPIO DA OBSCURIDADE
Ø “ A obscuridade é uma condição do Sublime: “Quando temos
conhecimento de toda a extensão de um perigo, quando
conseguimos que nossos olhos a ele se acostumem, boa parte da
apreensão desaparece. Qualquer pessoa poderá perceber isso, se
refletir o quão intensamente a noite contribui para o nosso temor
em todos os casos de perigo (...)”

ü O Claro é um atributo do Belo, não do Sublime.

Ø O medo do desconhecido.


69
“A outra figura, se pode chamar-se figura a uma massa
informe de membros, junturas e articulações ou se pode
considerar-se como substância o que parece uma sombra –
pois a uma e outra coisa se assemelha – era negra como a
noite, feroz como dez Fúrias, terrível como o Inferno;
brandia um dardo assustador e, sobre o que se assemelhava
à sua cabeça, aparecia uma espécie de coroa real.”
John Milton. Paraíso Perdido.

70
Do brilho original inda conserva
Boa porção, — nem menos parecia
Do que um arcanjo a que somente falta
De sua glória o resplendor mais vivo
(Tal é o sol nascente, quando surge
Por cima do horizonte nebuloso,
De sua coma fúlgido privado;
Ou quando posto por detrás da lua,
E envolto no pavor de escuro eclipse,
Desastroso crepúsculo derrama
Pela metade do orbe, e os reis consterna
Em seu poder temendo algum desfalque).
Obscurecido, mesmo assim fulgura
Mais que os outros arcanjos, seus consócios;
(...)

John Milton. Paraíso Perdido
71
O ILIMITADO

Ø  “As ideias de eternidade e de infinito


estão dentre as que nos provocam a mais
profunda impressão, e, talvez não exista
nada que compreendamos tão pouco
quanto elas.”

72
Se se morre de amor
(Gonçalves Dias)

(...)
Compreender o infinito, a imensidade
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D’aves, flores, murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes;
Isso é amor, e desse amor se morre!
(...) 73
PODER E TERROR

¡ “ (...) o poder deriva toda a sua sublimidade


d o t e r r o r , d o q u a l é g e r a l m e n t e
acompanhado”. Se o privamos de sua
capacidade de ferir, o despojamos de tudo
que é sublime e ele imediatamente se torna
desprezível.” (72)
74
O Mar (Fagundes Varela) Cartago, a valorosa? As vagas tuas
Lambiam-lhes os muros, quer nos tempos

Sacode as vagas de teu dorso imenso, De paz e de bonança, quer na quadra


Em que chuvas de setas se cruzavam
Oh! profundo oceano! Ergue-as altivas
À face torva das hostis falanges!
Com seus frígios barretes! Em vão tentam
Tudo esb’roou-se, se desfez em cinzas,
Lutar contigo temerárias frotas,
Traçar-te raias a vaidade humana! Sumiu-se como os traços que o romeiro
Tu és eterno e vasto como o espaço, Deixa de Núbia na revolta areia!
Só tu, oh! mar, sem termos, imutável
Livre como a vontade onipotente.
Como o quadrante lúgubre do tempo,
(...)
Ruges, palpitas sem grilhões nem peias!

Ora suave como o louro infante
Quantos impérios celebrados, fortes
Sobre o seio materno, ora cruento
Não floresceram de teu trono às bases
Gotejando suor, escuma e raiva!
Sublime potestade! e onde estão eles?
(...)
O que é feito de Roma, Assíria e Grécia,
75
O sol e o povo (Castro Alves)

O sol, do espaço Briaréu gigante,
P’ra escalar a montanha do infinito,
Banha em sangue as campinas do levante.

Então em meio dos Saarás — o Egito
Humilde curva a fronte e um grito errante
Vai despertar a Esfinge de granito.

O povo é como o sol! Da treva escura
Rompe um dia co’a destra iluminada,
Como o Lázaro, estala a sepultura!...

Oh! temei-vos da turba esfarrapada,
Que salva o berço à geração futura,
Que vinga a campa à geração passada. 76

DIVINDADE E TERROR
¡ “ E necessária alguma reflexão, alguma comparação para
nos convencer de sua sabedoria, equidade e bondade; para
que fiquemos estarrecidos com seu poder, basta apenas
que nossos olhos se abram. Mas quando contemplamos um
objeto tão incomensurável, sob a força, por assim dizer, do
poder absoluto, e totalmente envolvidos por sua
onipresença, recolhemo-nos à insignificância de nossa
própria natureza e somos como que anulados perante
ele.” (74)
77
E se com isto não me ouvirdes, mas ainda andardes contrariamente para
comigo,
Também eu para convosco andarei contrariamente em furor; e vos castigarei
sete vezes mais por causa dos vossos pecados.
Porque comereis a carne de vossos filhos, e a carne de vossas filhas.
E destruirei os vossos altos, e desfarei as vossas imagens, e lançarei os
vossos cadáveres sobre os cadáveres dos vossos deuses; a minha alma se
enfadará de vós.
E reduzirei as vossas cidades a deserto, e assolarei os vossos santuários, e
não cheirarei o vosso cheiro suave.
E assolarei a terra e se espantarão disso os vossos inimigos que nela
morarem.
Levítico 26:27-32
78
OUTRAS FONTES

Privação: Todas as privações em geral são grandiosas, porque são todas


terríveis: vazio, trevas, solidão e silêncio.

Vastidão: A grandiosidade de dimensões e o infinitamente pequeno como
fontes do sublime.

Subitaneidade: “Tudo que é súbito e inesperado sobressalta-nos, isto é,
perceberemos o perigo e nossa natureza estimula-se a nos pôr em guarda
contra ele”

Etc.

79
O VAL OR FISIOL Ó GICO DA E X PE RIÊ NCIA D O SUBL IME PARA O SE R H UMANO

¡ A comparação entre o exercício físico (proteção do


c o r p o h u m a n o c o n t r a o s t r a n s t o r n o s e a s
inconveniências dos estados prolongados de repouso e
de inação) e o exercício de nossas sensações e paixões.

¡ A dor do exercício físico, o terror da experiência


sublime, se não levam à destruição da pessoa”, são
benéficos.
80
Kant
ANALÍTICA DO SUBLIME
ARGUMENTOS CENTRAIS

¡ A beleza é um aspecto formal que harmoniza representação e


juízo:
¡ o sublime rompe com essa harmonia.
¡ O sublime abala nosso poder de representação
¡ a quilo que é desproporcional para nossa imaginação.
¡ O Sublime evoca os conceitos a priori da razão
¡  mas estes são incapazes de se adequar à violência da apresentação.
¡ E xtrapolando os limites e medidas dos sentidos, ele só pode ser
concebido
¡ m as não conhecido, pela razão.
82
O TRIUNFO DA RAZÃO

¡ A o nos depararmos com a incapacidade de nossos


sentidos em dar conta do sublime,
¡ s omos atraídos pela força de nossa razão que aspira, a partir
da experiência do sublime, dominar e ultrapassar os limites do
sensível.
¡  A experiência do sublime apresenta-nos a natureza como
infinitamente superior a nós
¡ A razão se oferece para enfrentar tal ameaça.

83
A LIBERDADE MORAL

¡ A experiência do sublime é uma conquista cultural, que


nos permite superar o temor primitivo diante da
percepção do Infinito.
¡ N ossa imaginação, violentada pelo choque, recorre a razão
para que possa suportar a experiência do ilimitado.
¡ É também uma afirmação da ascendência da razão, da
mente humana, sobre tudo que possa a vir se descoberto
na Natureza.
84
NA CONTEMPORANEIDADE

• A ssinala a promessa de transcendência, de


ultrapassagem dos limites da matéria, que
conduz a (dolorosa) visão de nossa própria
incapacidade de transcender.

85
DO SUBLIME:
PARA UMA EXPOSIÇÃO
ULTERIOR DE ALGUMAS
IDEIAS KANTIANAS
Sturm und Drang

FRIEDRICH SCHILLER
86
DA TERMINOLOGIA KANTIANA À SCHILLERIANA

Sublime matemático Sublime dinâmico

Sublime teórico Sublime prático

87
DO SUBLIME
“Sublime denominamos um objeto frente a cuja representação
nossa natureza sensível sente suas limitações, enquanto nossa
natureza racional sente sua superioridade, sua liberdade de
limitações; portanto, um objeto contra o qual levamos a pior
fisicamente, mas sobre o qual nos elevamos moralmente, i.e., por
meio de ideias.” (p. 21)

88
Os dois impulsos fundamentais do homem

v  1. impulso de representação/de conhecimento;

v  2. impulso de autoconservação.

89
A dependência e a independência do homem
v  Dependência da natureza v  Independência da natureza

1. natureza pode nos tirar as 1. ultrapassar as condições da natureza:


condições para conhecermos; pensar > conhecer;
2. natureza pode nos tirar as 2. ultrapassar as condições da natureza
condições para existirmos. pela nossa vontade.

90
Do Sublime
v  Sublime teórico
v E m contradição com o impulso da representação.

v S ublime prático
v E m contradição com o impulso da autoconservação.

91
SUBLIME TEÓRICO Sublime prático
v  Sublime Teórico v  Sublime Prá<co

v 1 . Objeto x conhecimento v 1. Objeto x existência humana

v  2. Infinitude v  2. Perigo

v  3. Representação fracassa v  3. Contraposição fracassa

v  4. Oceano em calmaria v  4. Oceano em tempestade


92

A possibilidade da dor
¡ S ublime Teórico (matemático) => Desprazer no
conhecimento malsucedido

¡ S ublime Prático (dinâmico) => Ameaça à existência


gera terror na representação

93
Sublime prático > sublime teórico
1.  Objeto temível agride mais violentamente que o objeto infinito

2.  O temível na representação estética é mais vivaz que a ideia de infinito

3.  Logo, sublime prático é mais intenso na sensação que o sublime teórico.

4.  O sublime prático está baseado na consciência da nossa liberdade racional

5.  Na contemplação estética do sublime prático, o homem se sente superior à


natureza. A razão vence.

94
Dir-se-ia que algum monstro enorme, dessas jiboias tremendas que vivem nas profundezas
da água, mordendo a raiz de uma rocha, fazia girar a cauda imensa, apertando nas suas mil
voltas a mata que se estendia pelas margens. Ou que o Paraíba, levantando-se qual novo
Briareu no meio do deserto, estendia os cem braços titânicos,e apertava ao peito,
estrangulando-a em uma convulsão horrível, toda essa floresta secular que nascera com o
mundo. As árvores estalavam; arrancadas do seio da terra ou partidas pelo tronco,
prostravam-se vencidas sobreo gigante, que, carregando-as ao ombro, precipitava para o
oceano. O estrondo dessas montanhas de água que se quebravam, o estampido da torrente,
os troos do embate desses rochedos movediços, que se pulverizavam enchendo o espaço
de neblina espessa, formavam um concerto horrível, digno do drama majestoso que se
representava no grande cenário. As trevas envolviam o quadro e apenas deixavam ver os
reflexos prateados da espuma e a muralha negra que cingia esse vasto recinto, onde um dos
elementos reinava como soberano. Cecília, apoiada ao ombro de seu amigo, assistia
horrorizada a esse espetáculo pavoroso; Peri sentia o seu corpinho estremecer; mas os
lábios da menina não soltaram uma só queixa, um só grito de susto. Em face desses transes
solenes, desses grandes cataclismas da natureza, a alma humana sente-se tão pequena,
aniquila-se tanto, que se esquece da existência; o receio é substituído pelo pavor, pelo
respeito, pela emoção que emudece e paralisa. (José de Alencar. O Guarani.)
95
Todo objeto temível é necessariamente sublime?
v  As duas condições para o sublime:

1. Enquanto seres sensíveis, precisamos nos sentir dependentes do


objeto
2. Enquanto seres racionais, precisamos nos sentir independentes do
objeto

v  Temor efetivo, real, impede a segunda condição.
96
A segurança
v  O temível deve estar apenas na representação e o homem deve
estar seguro
v  Mas há perigos contra os quais nunca nos sentiremos de fato
seguros:
v a morte
v  A segurança não é limitada ao físico
v  Segurança moral/interna.
97
A segurança
v  Segurança moral ligada à consciência de nossa inocência e pelo
pensamento de indestrubilidade do nosso ser;

v  Em relação à morte, só temos segurança moral;


v  Mas a maioria dos homens é mais sensível que racional.

98
Sublime, razão e liberdade:
¡  Por meio do sublime, o homem é capaz de “se tornar
consciente de sua autonomia, de sua independência de tudo
aquilo que a natureza física pode atingir – em suma, de sua
liberdade.” (p. 38);

v  O sublime ativa uma “faculdade de resistência” (p. 39).

99
O Mar (Gonçalves Dias) Contra coisa tão fraca!

Oceano terrível, mar imenso (...)
De vagas procelosas que se enrolam Mas nesse instante que me está marcado,
Floridas rebentando em branca espuma Em que hei de esta prisão fugir p'ra sempre,
Num pólo e noutro pólo, Irei tão alto, ó mar, que lá não chegue
Enfim... enfim te vejo; enfim meus olhos Teu sonoro rugido.
Na indômita cerviz trêmulos cravo, Então mais forte do que tu, minha alma,
E esse rugido teu sanhudo e forte Desconhecendo o temor, o espaço, o tempo,
Enfim medroso escuto! Quebrará num relance o círc'lo estreito
Do finito e dos céus!
O que há mais forte do que tu? Se erriças
A coma perigosa, a nau possante,
Extremo de artificio, em breve tempo
Se afunda e se aniquila.
És poderoso sem rival na terra;
Mas lá te vás quebrar num grão d'areia,
Tão forte contra os homens, tão sem força
100
Classificando o sublime

Sublime
Sublime patético
contemplativo

Faculdade de Representação
imaginação objetiva da dor

101
Sublime contemplativo
v  Ação da fantasia [imaginação], não do objeto em si
v  Imaginação pode tornar um objeto temível e, em seguida, a razão os
torna sublimes
v  Criação da fantasia a partir do extraordinário e o indeterminado;

v  Propícios ao sublime: “um silêncio profundo, um grande vazio, um


clarão súbito na escuridão” (p. 44);

v  A solidão; “uma floresta isolada com extensão de muitas milhas, o ato


de vagar em um mar sem limites” (p. 45); 102
Sublime contemplativo
¡ “ As trevas são terríveis e justamente por isso propícias ao sublime:
não terríveis em si mesmas, mas antes porque escondem de nós os
objetos e nos abandonam assim a todo o poder da faculdade da
imaginação. (...) Por isso, a superstição situa todas as aparições de
espíritos no horário da meia-noite, e o reino da morte é
representado como um reino da noite eterna.” (p. 45)

103
SUBLIME CONTEMPLATIVO

“Por tudo ali está a terra e a cidade dos homens cimérios.


Tateando constantemente na noite e na névoa, e nunca
Olha raiante para eles o deus do sol brilhante,
Antes a noite terrível envolve os homens miseráveis.”
(Odisseia, canto XI)

104
Sublime patético
v “ A representação do sofrimento alheio, ligada ao afeto e
à consciência de nossa liberdade moral interna, é sublime
de modo patético”.

v  A faculdade humana do Compadecimento

v  Elevação sublime, acima do sofrimento, pela razão

105
Resumo do Sublime patético

1. Representação vivaz do sofrimento, que nos desperte a


compaixão [produz pathos];
2. Representação da resistência ao sofrimento, que revele a
liberdade interna [produz o efeito sublime].

106
O Navio Negreiro (Castro Alves) E voam mais e mais...
¡  Presa nos elos de uma só cadeia,
Canto IV A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
¡  Era um sonho dantesco... o tombadilho
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Que das luzernas avermelha o brilho.
Outro, que martírios embrutece,
Em sangue a se banhar.
Cantando, geme e ri!
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite, ¡  No entanto o capitão manda a manobra,
Horrendos a dançar... E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
¡  Negras mulheres, suspendendo às tetas
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
Magras crianças, cujas bocas pretas
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Rega o sangue das mães:
Fazei-os mais dançar!..."
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas, ¡  E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
Em ânsia e mágoa vãs! E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
¡  E ri-se a orquestra irônica, estridente...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
E da ronda fantástica a serpente
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
Faz doudas espirais ...
E ri-se Satanás!...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala. 107
Arte trágica
“ D e s t e p r i n c í p i o s e g u e m a s d u a s l e i s
fundamentais de toda arte trágica. Estas são: em
primeiro lugar, a apresentação da natureza que
sofre; em segundo lugar, a apresentação da
autonomia moral no sofrimento.” (p. 51)
108
O Sublime em Schiller
Sublime
teórico
Sublime
Sublime
contemplativo
Sublime
prático
Sublime
Arte trágica
patético

109

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