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Universidade Federal de Juiz de Fora – Direito

Responsabilidade Civil

Pâmela Muniz Abdon

ENSAIO CRÍTICO – A INCIDÊNCIA DA REPARAÇÃO INTEGRAL NA ESFERA


EXTRAPATRIMONIAL

RESUMO

O cerne do ensaio é comentar criticamente a tese defendida por Paulo Sanseverino em


sua obra Reparação Integral sobre a composição de restrições ao cenário indenizatório.
Nesse sentido, a análise compreende a ideia de uma redução na indenização por excessiva
desproporção entre a culpa e o dano, na qual os casos pessoais são limitadores para a
execução dessa cláusula. Assim, a proposta do trabalho é buscar identificar as deficiências
na utilização, pelo sistema brasileiro, desse mecanismo cuja proposta gera novas
realidades práticas para o Direito.

1. DELIMITAÇÃO DA REPARAÇÃO INTEGRAL EM CASOS DE


DESPROPORÇÃO ENTRE A CULPA E O DANO

O disposto no artigo 944, CC, retrata uma realidade não muito incomum nos tribunais,
onde o agente de um ato danoso, mesmo agindo com culpa levíssima, causa danos
exorbitantes para a vítima. A presença desse artigo consagrou o princípio da reparação
integral e em seu parágrafo único salientou que em casos de excessiva desproporção entre
a gravidade da culpa e o dano caberá ao juiz reduzir, equitativamente, a indenização. Ou
seja, a gravidade da culpa, a extensão do dano e a existência de uma desigualdade entre
eles condicionará os parâmetros da reparação integral nesses casos.

A partir disso, o Ministro Sanseverino caracteriza essa cláusula como uma situação
excepcional as diretrizes da reparação integral, visto que ocorre um deslocamento na
observância do caso, já que o foco é desviado do dano e passa a buscar quantificar a
gravidade da culpa. De tal maneira, o parágrafo único se justifica na tentativa de atenuar
a rigidez da reparação integral em prol de não levar o agente do Dano a ruína financeira
em função de um ato, cuja consequência foi demasiadamente maior que a intenção.
Todavia, a concepção de gravidade da culpa reflete alguns temores como apontados por
Sanseverino: ao colocar em questão a culpabilidade na responsabilidade objetiva estaria
se admitindo o elemento culpa para quantificação da indenização o que seria
contraditório. Além disso, reapresentaria uma ressalva ao princípio da reparação integral
nos casos de danos pessoais levando ao condicionamento dessas situações a mera
observação da culpa do agente.

2. CULPA COMO PARÂMETRO DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA

A discussão levantada por Sanseverino acerca das problemáticas da culpa na


responsabilidade objetiva vislumbra a ideia de um retrocesso a um período arbitrário do
judiciário, onde caberia ao juiz definir o que seria “culpa” e o modo de quantificar o grau
da mesma, tendo em vista que hoje a objetividade da responsabilidade civil gera maior
proteção a vítima. Entretanto, o mecanismo apontado não implica em algo arcaico, e sim,
em um modo, no qual o direito não se tornaria desumano ou intransigente. A contradição
do ordenamento ficaria com a existência do Artigo 927, no qual o pressuposto de
responsabilidade objetiva sendo independente de culpa, seria colocado em xeque.

Em uma tentativa de solucionar a antinomia Sanseverino busca substituir a expressão


“gravidade de culpa” do artigo 944 por “relevância da causa1”, inferindo uma
interpretação do nexo de causalidade e não de culpa como ostensivamente está expresso.
Dessa maneira, o autor simplesmente nega o enunciado no texto legal, cuja escrita teria
sido errada, sem se prender a lei. A influência para tal argumentação de Sanseverino
adveio de outro grande jurista chamado Pontes de Miranda que inferiu sobre a
responsabilidades civil:

“Para se pensar a extensão do dano tem que se partir do nexo causal,


porquanto a indenizabilidade do dano é na medida em que ele se
acha em relação à causa, ou às concausas, ou à causa de aumento.”

A crítica ao pensamento do autor está no grau de irrelevância do argumento, pois o que


simplesmente deveria ser analisado é o contexto onde a norma está inserida e como será
feita a ponderação pelo juiz, não cabendo fazer reescritas, mas conjugar o texto legal com

1
SANSEVERINO, 2010, pg. 121-122. Modificou sua opinião após a Jornada de Direito Civil em 2002
acatando a ideia de incidência da cláusula também nos casos de responsabilidade civil objetiva. É
necessário destacar que o autor em momento algum implica alterar a lei, mas introduz a ideia de uma
falha linguística. Criticamente o Código Civil e 2002 possui inúmeras falhas, entretanto atipicamente nesse
caso não se faz necessária nova formulação da expressão, podendo reciclar a ideia de culpa ao observar
os princípios atuais de reponsabilidade objetiva.
as diretrizes da responsabilidade objetiva. Assim, o que se debate é exatamente a fuga do
argumento dos parâmetros disponíveis, onde o autor desnecessariamente implica uma
modificação textual, tornando complexa e contraditória a norma, que ao citar a culpa
pressupõe uma externalização da conduta objetiva do ato. Destarte, saindo do plano
formal, a perspectiva traçada pelo autor não é descabida e pode ser melhor explicada
apenas pela evolução do entendimento de responsabilidade civil, no qual era previsto um
sistema muito mais patrimonialista, enquanto hoje o intento é muito maior, evitando se
limitar a culpa, mas também não ficando refém apenas do dano. Em síntese, a substituição
de termos não é vital, tendo em vista que como salienta IV Jornada de Direito Civil 2o
artigo tende a ser interpretado restritamente, visando não renegar as garantias trazidas
pelo dispositivo da redução indenizatória e também não contrariar a responsabilidade
objetiva.

3. O PRINCÍPIO DE DIGNIDADE HUMANA COMO LIMITADOR DA CLÁSULA


DE REDUÇÃO DE INDENIZAÇÃO

A segunda crítica proposta refere-se à continuação da primeira, quando Sanseverino


aborda uma vedação a utilização do artigo 944, CC em casos em que o dano é corporal.
A justificativa encontra-se em critérios estabelecidos pela dignidade humana, na qual
danos pessoais não poderiam ter suas indenizações reduzidas pela existência de uma
desproporção entre dano e culpa, entendendo que esse critério não seria eficaz para a
decisão do caso por condicionar a existência digna dos indivíduos em prol de garantir
uma ordem jurídico-econômica. Logo, nos casos em que a integridade físico-psíquica da
vítima fosse colocada em perigo não se alegaria a redução da indenização, pois mesmo
que ainda presente a esfera patrimonial existiria um mínimo respeito a dignidade humana
dos indivíduos.

A primeira questão nesse caso seria a constatação de que também existe dignidade
humana para o agente causador do dano e, portanto, novamente esse princípio estaria
sendo usado como argumento forçado, mesmo tendo Sanseverino o cuidado em arguir
sobre tal possibilidade, mas esquecido que a cláusula de redução também invocaria a
humanidade do homem, isto é, a outra parte também poderia aludir tal raciocínio. Nesse
sentido, ao pensar em um caso que poderia comportar a cláusula de redução da

2
“Art. 944: a possibilidade de redução do montante da indenização em face do grau de culpa do agente,
estabelecida no parágrafo único do art. 944 do novo Código Civil, deve ser interpretada restritivamente,
por representar uma exceção ao princípio da reparação integral do dano80.”
indenização estaríamos falando de uma situação onde o agente causador agiu com a
menor das proporções causais de ferir a vítima. Ou seja, se declararmos a existência do
artigo 944, CC é preciso observar a essência3 do artigo, que visa não levar o indivíduo a
ruína econômica, por também estar violando sua dignidade humana e gerando um estado
degradante, a utilização desse argumento levaria a uma resultante nula das partes.

Outrossim, destaca que em casos onde a integridade física da vítima foi lesada gerando
morte ou incapacidade permanente a indenização estaria mais próxima da satisfação,
devido à dificuldade em quantificar tais danos, assim como na esfera extrapatrimonial.
Nesse sentido, a reparação integral também não seria coerente, haja vista que de todo
modo a vítima estaria em situação de prejuízo irreparável em pecúnia, pois o retorno ao
status quo é impossível. Obviamente, a indenização pode amenizar, significativamente,
os danos causados, entretanto é necessário não fazer da tentativa de reparar um
instrumento vingativo. Deve-se observar que utilizando da tese defendida por
Sanseverino o nexo causal gerado para ocorrência do dano foi de proporção mediana e,
portanto, ao pressupor a cláusula de redução estaria se buscando a equidade dos fatos.

4. CONCLUSÃO

O que se pressupõe com tal dispositivo é ir além dos moldes cristalizados do ordenamento
brasileiro, aspirando maior equidade nas decisões civis. Embora, no passado a culpa tenha
sido utilizada para prejudicar a parte mais frágil e consequentemente introduzir um ônus
de prova difícil de ser calculado, o que se busca é não tornar as novas diretrizes protetivas
um caminho para um Direito rancoroso. Nesse sentido, a argumentação apresentada não
tenta desestimular os argumentos apresentado por Sanseverino, até porque existem
concordâncias em grande parte dos tópicos abordados.

Todavia, alguns poréns como na modificação conceitual feita pelo autor na ideia de
gravidade da culpa por relevância da causa demonstra uma forma inequívoca de melhorar
a interpretação do artigo, entretanto a modificação da lei de maneira formal não se faz
necessária como indica Sanseverino, visto que a ideia de culpa compreende uma

3
“O parágrafo único do art. 944, do Código Civil, possui caráter humanitário, com vistas a preservar o
mínimo existencial necessário a manutenção de uma vida digna, a mitigar, portanto, o princípio da
reparação integral”. O conceito foi extraído do artigo da Revista Âmbito Jurídico do autor Eduardo da Silva
Calixto “Análise crítica das teorias sobre a responsabilidade civil: da reparação à punição e securitização”.
Utilizada apenas para enfatizar o real significado do artigo e sua ligação com a dignidade humana.
reformulação histórica, onde ela pode ser também entendida como a conduta do
indivíduo, não sendo necessário observar subjetivamente, e sim, o que de fato foi
exteriorizado pela conduta nos casos de responsabilidade objetiva.

Dessarte, a abordagem feita pelo autor de apelar para Dignidade Humana como
argumento contra a utilização da cláusula de redução em cenários onde o dano seja
pessoal exige certo cuidado. A principal crítica aqui é a essência do Artigo 944, CC
também sendo introduzida como uma forma de proteção da personalidade do acusado que
seria colocado em situação degradante. A réplica indicaria que a situação degradante
estaria limitada a esfera financeira, mas é muito nítido que no cenário capitalista e
globalizado a carência e privação econômica também compõem elementos aviltantes da
personalidade humana. Portanto, não se trata de um argumento consistente por ser
possível a utilização de ambos os lados, revelando uma mera opinião. Enfim, as críticas
feitas são pontuais e embora demonstrem certa mesquinharia e apego aos detalhes é
importante demonstrar que tratar dessas questões não é fácil e desenvolver uma doutrina
sobre o assunto depende de compreender como será aplicado na prática dos tribunais sem
introduzir uma realidade dúbia.

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