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Salvador, BA
2010
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Salvador, BA
2010
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TERMO DE APROVAÇÃO
Ana Portela
__________________________________________________
Ana Portela (Orientadora) – UNEB
Ana Lago
__________________________________________________
Ana Cristina Castro Lago – UNEB
Solange Nogueira
_____________________________________________________________________
Solange Maria do Nascimento Nogueira - UNEB
Dedicatória
Dedico este trabalho aos meus pais pelo carinho, amizade e incentivo. E ao meu
amado Marcelo Matos Correia por aturar todos os meus stresses e compreender. Amo
muito Vocês!
5
Agradecimentos
Agradeço também a todos que, de alguma forma, contribuíram para tornar essa
construção possível como: a minha amiga Liliani Costa, pelas dicas dadas ao logo desse
trabalho, pela amizade, carinho e dedicação. Aos meus pais, pois sem eles nada disso
seria possível porque tudo que sou hoje são frutos do seu amor por mim e pelos meus
irmãos, pelo exemplo de força, garra, honestidade e dedicação. Aos meus irmãos Bruno,
Tayza e Milena também dedico este trabalho, pois fazem parte de minha vida, tornando-
a muito mais agradável e feliz. Aos meus familiares em geral, tios (a), primos (a),
minhas avós lindas Haidêe e Elza pela torcida e incentivo, e avôs João e Lima, pois sem
esse carinho e credibilidade nada disso seria possível. Agradeço aos meus queridos
professores desse logo período de formação, dentre eles: Luciano Bomfim, pelo
incentivo, mesmo sem saber, a me ensinar a lutar sempre pelos meus objetivos e nunca
desistir, a Djalma por suas aulas de psicologia, a Virgínia Vaz pelo seu
profissionalismo, dedicação e afeto e a professora Ana Lago pelo sorriso cativante,
dedicação e amizade construída nesse pouco tempo em que tivemos trabalhando juntas.
Sem esquecer a minha orientadora Ana Portela, pois sem a sua ajuda nada disso seria
possível. Agradeço também a família Correia pelo acolhimento em todos os momentos
em que passei em sua casa para almoçar para ir a Escola Municipal Presidente Médici,
pelas conversas, conselhos, dedicação e carinho. E em especial a Marcelo Matos
Correia pelo carinho, companheirismo, apoio, conselhos e todas às vezes que pôde ler
meu trabalho para dar uma opinião do que ainda pode ser melhorado.
Luciano Luppi
7
RESUMO
A presente pesquisa tem como objetivo esclarecer e divulgar mais sobre o TDAH para
os profissionais de educação, áreas afins, pais, alunos e familiares no intuito de
amenizar o baixo desempenho acadêmico e os altos índices de abandono escolar, dessas
crianças, pois além de terem maiores chances de serem repreendidas e castigadas podem
ter outros problemas associados que vão dificultar na leitura, na escrita, na comunicação
e no relacionamento com os outros. Nesse sentido, descrições sobre o que caracteriza o
transtorno, seu percurso histórico, diagnóstico e tratamento são descritos nesse trabalho.
Para construção dessa pesquisa vários teóricos subsidiaram-me, como: Barkley (2008);
Brown (2007); Mattos (2007); Vicari (2006), dentre tantos outros que foram
imprescindíveis, assim como a bagagem construída ao longo da minha formação e as
experiências de sala de aula que tornaram tudo isso possível, real e prazeroso. O método
adotado para analise dos conteúdos obtidos a partir das informações coletadas por meio
de um questionário com quatorze (14) questões do tipo objetivas e subjetivas, que se
dividiam entre o perfil do professor e atuação, aspectos relacionados à formação
acadêmica, interações entre aluno e professor e conhecimentos sobre o TDAH. Esses
questionários foram aplicados com cinco professores de dez que estavam presentes na
Escola Municipal Presidente Médici. Diante da análise de dados, observou-se que os
professores dessa instituição sabem sobre a existência do transtorno e as características
que mais descreve essas crianças, porém ainda não sabem diferenciar o comportamento
excessivo dessas crianças de hábitos como má educação ou de força de vontade do
aluno, como mesmo foi apontado na pesquisa. Por fim, evidenciou-se a importância de
fomentar discussão sobre o modelo de gestão e metodologia usado em sala de aula, pois
o estudo revelou a tendência dos professores em atribuir o comportamento inadequado
do aluno a causas familiares, emocionais e sociais, esquecendo de refletir sobre outros
fatores que poderiam influenciar tais comportamentos. Nesse trabalho também são
discutidas questões relacionadas à inclusão, pois essas crianças acabam sendo excluídas
do processo de aprendizagem por se acharem incapazes de aprender, de seguir o ritmo
da turma, sendo rotuladas de forma negativas e ocasionando nelas sentimentos de culpa,
de inferioridade, baixa auto-estima, desinteresse pelos estudos e ansiedade.
ABSTRACT
The current research is aimed at clarifying and publish more about ADHD for education
professionals, related areas, parents, students and relatives so as to minimize the low
academic performance and the high school drop-out indexes of these children, thus,
besides having higher chances of being reprimanded and punished, might have other
related problems that will make reading, writing, communication and relationship with
others difficult.. Thus, descriptions about what characterizes the disorder, its historical
course, diagnosis and treatment are described in this report. For making this research,
many theoretical bases were used, such as: Barkley (2008); Brown (2007); Mattos
(2007); Vicari (2006), among several others, who were vital, as well as the knowledge
acquired during studies and the classroom experiences which made it all possible, real
and pleasant. The method used for analyzing the contents gotten from the collected
information through a questionnaire of fourteen (14) objective and subjective questions,
which were classified into teacher profile and acting, aspects related to the academic
background, interactions between student and teacher and knowledge about ADHD.
These questionnaires were applied to five out of the ten teachers that were present at
President Medici City School. Based on the collected data, it was observed that the
teachers in this institution know about the disorder existence and the characteristics that
best describe these kids. However, they cannot differentiate these kids’ excessive
behavior from students’ impolite habits or lack of will power, as pointed out in the
research. Finally, it’s been made evident the importance of fomenting discussion on the
management model and methodology used in the classroom, once the study has shown a
tendency for teachers to impute inadequate student’s behavior to family, emotional and
social reasons, forgetting to reflect on other factors that could influence such behaviors.
In this work, questions related to the inclusion are discussed, once these kids end up
being excluded from the learning process for finding themselves unable to learn, follow
the group’s pace, being labeled negatively, thus causing blame, inferiority, low self-
esteem, lack of interest and anxiety feelings.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................10
3.1. As dificuldades das relações sociais nas crianças com TDAH ................... 26
6. CONCLUSÃO .......................................................................................................... 47
8. APÊNDICE .............................................................................................................. 54
9. ANEXO ..................................................................................................................... 58
10
1. INTRODUÇÃO
Sendo assim, não posso deixar de falar sobre o processo de inclusão dessas
crianças com o meio educacional e social, pois elas muitas vezes são excluídas do
processo de aprendizagem por se acharem incapazes de aprender, de seguir o ritmo dos
outros alunos sendo tachadas de burras, preguiçosas, desinteressadas e ainda acabam
sendo excluídas pelos outros colegas nas brincadeiras, festinhas de aniversários,
trabalhos em grupo, etc. Torna-se necessário também saber quem são essas crianças,
1
Revista da FAEEBA / Educação e Contemporaneidade - Docência e Inclusão: reflexões sobre
a experiência de ser professor no contexto da escola inclusiva, Salvador, v. 16, n. 27, p. 41-53,
jan./jun., 2007
12
saber diferenciá-las das outras e identificar quais as características que as tornam tão
especiais.
sentimentos de inferioridade por comparar-se aos outros colegas, o que gera desejo
intenso de abandono escolar.
Por fim, outra inquietação diz respeito ao seguinte: Como trabalhar com o
processo de inclusão desses alunos, visto que os portadores do TDAH têm problemas de
interação, comportamento e relacionamento com o outro?
É importante esclarecer, mais uma vez, que o TDAH não afeta partes do cérebro
responsáveis pela inteligência. As crianças com TDAH são tão inteligentes quanto
qualquer outra criança, porém as características do transtorno podem acarretar
problemas na aprendizagem e podem ainda estar associados a outras comorbidades2
como: dislexia, Transtorno Desafiante de Oposição (TOD), Transtorno de Conduta
(TC), Discalculia, Disortografia, etc. Dessa forma Brown (2007) comenta:
Faz parte do meu objetivo, esclarecer e divulgar mais sobre esse transtorno aos
profissionais de educação, para que os mesmos possam encaminhar essas crianças para
um tratamento adequado com especialistas da saúde e assim terem um desenvolvimento
2
Termo médico para o caso de uma pessoa ter mais de um transtorno. Ver Brown (2007), p. 138.
16
escolar mais bem aproveitado. Desse modo, as crianças que sofrem com o transtorno
terão menor impacto na evasão escolar, na repetência, no sentimento de culpa, na
incapacidade e frustrações que os portadores de TDAH costumam ter quando não
conseguem acompanhar a rotina de uma sala de aula, do sistema social em que vivem e
da perspectiva profissional que talvez não seja alcançada se não tiverem um tratamento
e acompanhamento adequado.
17
Sendo assim, para que o termo atual chegasse a esse ponto, seu percurso
histórico foi longo e diversos rótulos pejorativos foram dados a essas crianças, por não
pararem um só segundo, por serem desatentas e impulsivas no seu modo de ser:
estabanadas, agressivas, maus alunos, incontroláveis, bichos carpinteiros, preguiçosos,
desatentos, desinteressados, barulhentos, mal-educados, etc.
Esse transtorno teve sua primeira descrição oficial em 1902, quando um pediatra
inglês, George Still3 apresentou dados clínicos de crianças com hiperatividade e outras
alterações comportamentais, que em sua opinião não poderiam ser explicadas por falhas
educacionais ou ambientais, mas que deveriam ser provocadas por algum transtorno
cerebral desconhecido na época
Posteriormente, diversos teóricos citados por Barkley (2008) usaram a teoria das
lesões precoces, leves e despercebidas para explicar as deficiências no comportamento e
3
Revista elaborada pela Associação Brasileira do Déficit de Atenção – ABDA, p.4 e Barkley (2008), p. 15.
18
na aprendizagem. Dessa forma, foi observado que era possível obter melhorias
temporárias na conduta com alterações no ambiente ou por meio de medicamentos, mas
enfatizando a permanência relativa da deficiência mesmo nesses casos. Daí o destaque
da necessidade de ambientes educacionais especiais para essas crianças.
19
Ainda segundo Barkley (2008), citando outros autores, o presente interesse dos
EUA pelo transtorno surgiu devido a uma crise de encefalite epidêmica em 1917 –
1918, onde inúmeras crianças que sobreviveram a essa infecção cerebral ficaram com
seqüelas comportamentais e cognitivas, sendo essas seqüelas caracterizadas ao que hoje
conhecemos por TDAH. Sendo assim o autor descreveu:
O que Thomas Brown (2008) cita em seus estudos é que todos os rótulos que o
TDAH já teve, estão relacionados a uma de suas características e em muitos casos o
transtorno ainda está associados a várias dessas características.
Em 1969, o transtorno não era mais atribuído a lesões cerebrais, mas era mantido
o foco nesse mecanismo. Acreditava-se também que o transtorno tinha um conjunto de
sintomas predominantes e homogêneos, que destaca o nível excessivo de atividade ou
hiperatividade.
Na década de 1970, a pesquisa teve grande progresso e mais de dois mil estudos
foram publicados sobre o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Em 1980, a
Associação Americana de Psiquiatria usou pela primeira vez o termo: “Distúrbio de
Déficit de Atenção” como um diagnóstico oficial. Nessa mesma época, o Manual
Diagnóstico, conhecido como DSM, reconhece que o distúrbio origina-se na infância e
que as dificuldades permanecem, muitas vezes, até a idade adulta.
23
• Forma combinada, quando existem muitos sintomas das duas outras formas
mencionadas acima. Esta é a forma mais comum nos consultórios e
ambulatórios, provavelmente porque causa mais problemas para o próprio
portador e para os demais, o que leva os pais a procurarem ajuda para o filho,
segundo o autor Mattos (2008).
Sendo assim, em 2002, outro avanço pôde ser comemorado pelos pais e
profissionais que têm parentes ou amigos sofrendo desse transtorno, que é a criação de
uma Declaração de Consenso Internacional sobre o TDAH. Esta foi assinada por mais
de 80 dos principais profissionais cientistas especializados nesse transtorno em todo o
mundo. Dessa forma Barkley (2008) conclui:
Dessa forma, podemos verificar que o transtorno hoje, está muito bem
reconhecido e deve ser considerado por todos como um problema sério, que pode
acontecer em algumas crianças em fase de desenvolvimento e que necessitaram de
melhor acompanhamento.
25
• Desatenção;
• Hiperatividade e impulsividade.
8. Distrai-se com muita facilidade com coisas à sua volta ou mesmo com os
próprios pensamentos. Daí que surgem as expressões que muitos pais e
professores usam quando percebem sua distração: “Parecem que vivem no
mundo da lua” ou que “sonham acordados”.
6. Falar demais.
8. Não conseguir aguardar a sua vez (nos jogos, na sala de aula, em filas, etc.).
As crianças com TDAH são tão inteligentes quanto qualquer outra criança e caso
apresentem problemas de aprendizagem devem ser consideradas outras comorbidades
associadas ao transtorno, como: dislexia, Transtorno Desafiante de Oposição (TOD),
Transtorno de Conduta (TC), Discalculia, Disortografia, etc.
27
Ou seja, ao mesmo tempo em que o homem transforma seu meio para atender as
suas necessidades básicas, ele também se transforma. Para Bonet, Soriano e Solano
(2008) o nosso sistema de comunicação é composto por um conjunto de elementos
expressivos, receptivos e interativos que vão se combinando e se ajustando a cada
situação e que, portanto, as dificuldades na relação com os outros podem ser explicadas
por diferentes déficits no lobo frontal, que é uma parte do cérebro responsável pelo
desenvolvimento das funções executivas. As funções executivas do cérebro são
responsáveis não só pelo cognitivo, mas também, são as que fornecem mecanismos para
a auto-regulação.
As pessoas que são portadoras do TDAH por terem deficiência de atenção e dos
processos cognitivos responsáveis por receberem e processarem as informações das
mais diferentes fontes, não compreendem de forma correta os sinais para o bom
desenvolvimento das interações sociais e o conhecimento das normas que regulam essas
informações. Além disso, apresentam dificuldade de controlar seus impulsos e seguir as
normas, têm dificuldades para resolver problemas, podem ser bruscos ou lentos,
28
4
Mais informações consultar referência: Barkley (2008), p. 210.
29
A impulsividade, que por sua vez se caracteriza por dificuldade no controle dos
impulsos, dificuldade de avaliar seus atos antes de agir, deixando de lado a linguagem
interna que em pessoas com nível de desenvolvimento equilibrado utilizam antes de se
expressar ou agir, é o famoso falar consigo mesmo. As crianças portadoras desse
transtorno são consideradas espontâneas, atiradas e por muitas vezes, consideradas mal-
educadas. As conseqüências dessas ações atingem mais a área social, correspondentes a
ambientes em que necessitam da interação, do respeito ao próximo, da habilidade da
comunicação e da relação com o outro por meio de regras (direitos e deveres).
Ter TDAH significa ter sempre que se desculpar por ter quebrado ou mexido
em algo que não deveria, por fazer comentários fora de hora, por não ter sido
suficientemente organizado... Ou seja, significa ser responsabilizado por
31
Está certo de que o ambiente familiar não é fator determinante para a origem do
transtorno, pois na sua grande maioria o transtorno tem uma participação genética em
torno de 90%, o que, segundo Mattos (2007), torna essa porcentagem muitíssima em
termos da medicina. Porém a interação com o ambiente também pode somar-se aos
sintomas. Durante a gravidez, alguns fatores não genéticos podem estar envolvidos no
aparecimento do transtorno, como: o consumo de álcool, o uso de drogas, desnutrição,
fumo e problemas durante o parto. No entanto, para que uma pessoa possa ser
identificada como portadora do TDAH é necessário que estejam presentes no mínimo
seis de uma lista de nove sintomas de desatenção e/ou, no mínimo, seis de uma lista de
nove sintomas de hiperatividade de acordo com o manual DSM – IV, pois não existem
pessoas que não tenham nenhum dos sintomas que caracterizam o transtorno. O que
pode acontecer é que em algumas pessoas os sintomas são maiores do que no restante
da população e é nessas que os sintomas do transtorno aparecem.
Contudo é preciso ressaltar que esses critérios adotados não sejam utilizados de
forma inadequada, pois os Manuais nunca devem ser usados para estigmatizar as
pessoas, assim como é importante lembrar que o diagnóstico é o início do tratamento e
não o seu fim. O tratamento envolve várias abordagens, como: intervenções
psicoeducacionais (com a família, paciente e a escola), intervenções psicoterapêuticas,
psicopedagógicas e de reabilitação neuropsicológicas e por fim intervenções
psicofarmacológicas.
34
Porém para uma criança que sofre com o transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade essa é uma tarefa difícil e para quem o observa e percebe seu
desinteresse, ou mesmo sua desatenção ao que está sendo explicado, ou, ainda, as
brincadeiras nas horas erradas e que acabam atrapalhando a aula, tirando a concentração
dos colegas e provocando um incômodo no professor. Este, conseqüentemente, chamará
35
Para quem não entende esse transtorno, a atitude sempre será de advertir, irritar-
se com ele ou mesmo castigar. Os coleguinhas também podem ir se afastando quando
ele não espera a sua vez nos jogos, ou se intromete nas conversas dos outros, atrapalha a
aula o tempo todo, é impulsivo, não escuta e nem espera sua vez de falar. Então, essas
crianças acabam ficando de lado nas brincadeiras, nos trabalhos em grupo, na escola e,
quando o problema não é percebido a tempo, ao entrarem na adolescência, acabam
abusando de drogas, de bebidas alcoólicas e se metendo em confusões ainda maiores,
como roubo.
“Nosso filho, Phil, tem 12 anos. Sempre o achamos uma criança bem difícil
de criar. Desde anos da pré-escola, tem sido realmente teimoso. Sempre
tivemos problemas para fazer com que seguisse instruções em casa. Seus
professores têm reclamado que ele não ouve ou obedece a ordens na escola
(grifo meu). Está sempre discutindo com os membros da família e com outras
crianças; algumas vezes as discussões chegam às vias de fato. (...)” (p.78)
Com esse depoimento, percebemos que, muitas vezes, lidar com uma criança
que apresenta tais características sem conhecer que tal comportamento é inerente à sua
personalidade leva ao julgamento de que é mal-educado e que deve ser castigado de
alguma forma. Quem sofre desse transtorno tem dificuldade em entender porque os
amigos o evitam ou o excluem das brincadeiras; isso gera um sentimento muito
negativo na criança, podendo se transformar em algo mais grave, pois como seu
comportamento é involuntário, difícil de controlar, difícil de ser percebido por ele
36
mesmo, acaba gerando para a criança com TDA/H um sentimento de tristeza, baixa
auto-estima, estado de ânimo rebaixado, depressão, ansiedade, somatização (sintomas
físicos, como dores de cabeça ou de barriga), dentre outros sintomas. Sobre isso,
remeto-me a outro depoimento também feito pelos pais de uma menina com o TDA/H e
relatado nos estudos feitos por Brown (2008) que declara o seguinte:
“Nossa filha tem 10 anos. Seu TDAH não foi diagnosticado antes do terceiro
ano, provavelmente porque é extremamente inteligente e não representa
problema algum aos professores. (...) mas teve problemas de relacionamento
com as outras crianças e não conseguiu manter e fazer amizades desde que
havia saído da pré-escola. Muitas crianças simplesmente não gostam dela.
Fico de coração partido quando vejo como fica desapontada quando todas as
outras meninas recebem convites para festas de aniversários e ela não recebe
nenhum. (...) Ela é muito mandona e não sabe como cooperar com as outras
crianças da sua idade.” (p.77)
5
Mais detalhes a esse respeito podem ser encontrados em: Revista Nova Escola – Educação Especial, n°
24, p. 10 - 15. Ver referência no final do trabalho.
37
Com o passar dos anos, a velha idéia de integração foi reformulada e garantido o
processo da inclusão e o acesso de todas as crianças à educação, independente da suas
limitações. São criados então documentos como a: Declaração Mundial de Educação
para Todos (1990), o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990), que dá a pais
ou responsáveis a obrigação de matricular os filhos em escolas regulares, a Declaração
de Salamanca (1994), que define as políticas, princípios e práticas da Educação Especial
e influi nas políticas públicas da Educação.
O processo de inclusão deve ser encarado como uma nova maneira de pensar e
encarar a função educativa, assumindo-se como prioridade as relações igualitárias,
comprometida com a cidadania e com a formação de uma mentalidade não excludente
que promova o convívio harmonioso com a diversidade.
40
Os autores Cervo, Bervian e Da Silva (2007) ainda afirmam que esse tipo de
metodologia pode assumir diversas formas, entre as quais se destacam: “Estudos
Descritivos, Pesquisa de Opinião, Pesquisa de Motivação, Estudo de Caso e Pesquisa
Documental.” Nesse aspecto, o tipo da apresentação desse trabalho se caracteriza por
um Estudo de Caso, pois ainda segundo a esses autores um estudo de caso é: “a
pesquisa sobre determinado indivíduo, família, grupo ou comunidade que seja
representativo de seu universo, para examinar aspectos variados de sua vida.” (p.62).
Contudo, devido ao curto tempo para aplicação e análise desses dados, foi
escolhida como técnica de pesquisa a utilização de questionário, pois essa técnica,
segundo Marconi e Lakatos (2002), proporciona: “respostas mais rápidas e precisas,
maior liberdade nas respostas, em razões do anonimato e menos risco de distorção,
pela influência do pesquisador”, dentre tantas outras vantagens listadas pelas autoras.
Mesmo diante de várias greves para reivindicar ajustes salariais, plano de saúde
e melhores condições de trabalho, os professores dessa escola nunca deixaram de apoiar
os pais e alunos.
As condições de trabalho nessa escola são péssimas, visto que algumas salas são
bem apertadas e calorentas, com pouca iluminação e móveis inadequados para as
crianças em fase de alfabetização. Outras ainda têm meia parede com outra sala e
cozinha, o que as deixa barulhentas e quentes, forçando o professor a falar cada vez
44
mais alto para poder ser ouvido. Além disso, havia problemas de alagamento em
período de chuva e aulas tinham que ser suspensas.
Não havia também área para recreamento, pois com área pequena e salas
próximas qualquer barulho atrapalharia a concentração das outras turmas. Mesmo
assim, sempre que possível, momentos lúdicos eram proporcionados aos alunos para
compensar e desenvolver neles um momento de interação com os colegas, de forma
mais próxima e divertida, pois, por mais que se faça brincadeiras em sala, o que toda
criança quer mesmo é correr.
A escola tem sete salas funcionando nos turnos diurnos e noturnos, formando um
total de vinte classes, sendo sete turmas no matutino e vespertino e seis no noturno.
Atende ao ensino fundamental do pré-escolar à 4ª série, na faixa etária de 04 a 60 anos,
reunindo aproximadamente 590 alunos. Possui uma diretoria, uma secretaria, um
depósito de merenda, um depósito de materiais, uma cozinha, quatro banheiros, sendo
três para os alunos e um para funcionários e professores. O ambiente escolar é limpo e
organizado, porém se faz necessário uma reforma em toda a sua estrutura, as salas de
aula são pequenas e úmidas.
45
Eles também acreditam que para uma melhor educação de crianças com
necessidades educativas especiais, além de uma formação mais apropriada, a estrutura
da escola também é um aspecto fundamental para o desenvolvimento delas. Os cinco
entrevistados, não se sentem preparados, capacitados ou com informação suficiente para
atender as especificidades dessas crianças, conforme pode ser observado no apêndice C.
46
Para a maioria dos professores entrevistados, as atitudes dos alunos que indicam
um comportamento são a impulsividade, a agitação e a desatenção com maiores votos e
atitudes como brincar demais, falar alto e nervosismo como comportamentos de menor
votação, como pode ser observado no apêndice D da pesquisa.
desse transtorno deve ser realizado com consciência, compreensão e pela busca do
interesse do aluno. Ainda acham que esse relacionamento pode ser delicado, talvez até
pelos sintomas que caracterizam o transtorno e que podem ser facilmente confundidos
com outros distúrbios, problemas socioculturais, emocionais e familiares.
• Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por descuido nos
trabalhos de escola ou tarefas;
• Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique
sentado;
• Corre de um lado para outro ou sobe demais nas coisas em situações em que isto
é inapropriado;
6. CONCLUSÃO
Dessa forma, concluo que, apesar dos professores já terem ouvido falar a
respeito do transtorno, eles ainda têm muito que aprender, pois mesmo tendo noções dos
sintomas do TDAH, ainda não sabem diferenciar o comportamento excessivo dessas
crianças de hábitos como má educação ou de força de vontade do aluno, como mesmo
foi apontado na pesquisa. Saber diferenciar os sintomas do TDAH é algo muito
importante para a vida desses alunos, pois toda sua vida depende disso.
É nesses casos que o professor deve ficar mais atento, pois o que pode ser
considerado simples caso de má educação ou desinteresse do aluno, pode ser algo que
deveria ser levado mais a sério. Já que nos estudos de Bonet, Solano e Soriano (2008)
foi identificado que é na escola que o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
se manifesta, é nesse ambiente que o aluno precisa de mais autocontrole, cumprimento
de normas, relacionar-se com os seus semelhantes e, especialmente, prestar e manter a
atenção necessária ao ensino.
50
Como foi visto nos capítulos anteriores a criança com o transtorno, podem
apresentar dificuldades de relacionamento, por não obedecer às regras das brincadeiras,
respeitarem a vez do outro, por se intrometer nas conversar ou por não controlar seus
impulsos e hiperatividade, fazendo com que as outras crianças aos poucos se afastem,
assim como a agressividade pode estar presente, caracterizando o que chamamos de
Transtorno Desafiante Opositor. Esse transtorno pode ser apresentado junto com os
sintomas do TDAH e é o que no trabalho foi apresentado como comorbidades.
Deve-se ter ainda muito cuidado para não rotular a criança de modo a interferir
no aprendizado, ou deixá-la fazer o que desejar por ter problemas comportamentais. Um
diagnóstico mais preciso se faz necessário para comprovar a presença do TDAH ou de
outros transtornos. Apesar do diagnóstico do TDAH ser um tanto complexo por se
basear em relatos de pais, professores e outros profissionais que possam contribuir com
dados sobre a criança e sobre os sintomas específicos do transtorno, uma entrevista mais
detalhada com um especialista é necessário para seu diagnóstico, assim como a
realização de teste neuropsicológico.
REFERÊNCIAS
APÊNDICES
NÃO SIM
Você se sente preparada para ensinar crianças
5 0
com necessidades educativas especiais (NEE)?
Além da formação do professor a estrutura da
escola é fundamental para que o desempenho da 0 5
criança com NEE sejam desenvolvidas?
Quantidade:
Observação da prática da sala de aula 1
Conhecimento de livros e revistas sem muito aprofundamento 1
Durante a formação quase nada foi visto 1
Conhece um pouco 2
Quant.
Nunca Trabalhou 2
Relacionamento delicado, busca dos interesses do aluno 1
Com dificuldade, curso não enfoca o tema 1
Com compreensão e consciência 1
Quant.
Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por descuido
3
nos trabalhos de escola ou tarefas
Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades de lazer 5
Não segue instruções até o fim e não termina deveres de escola ou obrigações 1
Dificuldade para organizar tarefas e atividades 3
Distrai-se com estímulos externos 3
Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique
3
sentado
Corre de um lado para outro ou sobe demais nas coisas em situações em que
3
isto é inapropriado
Tem dificuldade em brincar ou envolver-se em atividades de lazer de forma
2
calma
Não pára ou freqüentemente está a “mil por hora”. 2
Tem dificuldade de esperar sua vez 3
Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele 1
È esquecido em atividades do dia-a-dia 1
Mexe com as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira 1
Responde as perguntas de forma precipitada antes delas terem sido terminadas 2
Interrompe os outros ou se intromete em conversas alheias 1
59
ANEXO
60
QUESTIONÁRIO:
Sobre você:
Escolarização: ___________________________________________________
Atuação:
• Educação infantil ( )
• Ensino fundamental ( ) série: _______
• Ensino médio ( ) série: ________
1. Você se sente preparada para ensinar uma criança com necessidades educativas
especiais?
( ) Sim ( ) Não
2. Você acha que além formação profissional do professor (a) a estrutura da escola
é fundamental para que o desempenho da criança com necessidades educativas
especiais sejam desenvolvidas?
( ) Sim ( ) Não
( ) Outro ____________________________________________________
( ) Má educação
( ) Preguiça
( ) Desinteresse pela disciplina/assunto
( ) Problemas na família(separação dos pais, brigas freqüentes, violência, etc.)
62
( ) Raiva ( ) Preocupação
( ) Frustração ( ) Tristeza
( ) Desanimo ( ) Ansiedade
( ) Culpa ( ) Angústia
( ) Não me afeta
( ) Impotência, impossibilidade, incapacidade
( ) Impaciência, intolerância, inquietação
( ) Estresse, irritação, aborrecimento
( ) Afago, cuidado (vontade de ajudar e dar mais atenção)
( ) Outro (s) ___________________________________________________
6. Que aspectos positivos e negativos você observa que estes alunos apresentam no
ambiente escolar?
( ) Nenhum aspecto
( ) Problema nas funções executivas: planejamento e atenção
( ) Participativo e disponível (apresenta energia para realizar as atividades que gosta)
( ) Carinhoso e afetivo
( ) Carência de afeto
( ) Sensível (chora e demonstra arrependimento quando tratados com carinho)
( ) Rejeitados pelos outros colegas
( ) Espontâneo e desinibido
( ) Comportamento perturbador
( ) Cooperativo (gosta de ajudar os outros)
( ) Bom relacionamento professor – aluno
( ) Excelente aproveitamento quando se concentra
( ) Dificuldade nas habilidades sociais
( ) Vítimas dos rótulos depreciativos
( ) Desestabiliza o professor
( ) Comportamento agressivo
( ) Comunicativo ( ) Desinteresse
( ) Curioso ( ) Problema na
( ) Socialização escolarização
( ) Criativo
( ) Liderança
( ) Insatisfação
1
7. Para cada item escolha a coluna que melhor descreve o (a) aluno (a) com Transtorno
de déficit de atenção/ hiperatividade (MARQUE UM X):
A. Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por descuido nos trabalhos
da escola ou tarefas.
D. Não segue instruções até o fim e não termina deveres de escola, tarefas ou obrigações.
F. Evita, não gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem esforço mental
prolongado.
G. Perde coisas necessárias para atividades (p. ex: brinquedos, deveres da escola, lápis ou
livros).
K. Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique sentado
L. Corre de um lado para outro ou sobe demais nas coisas em situações em que isto é
inapropriado
O. Fala em excesso.
8. Como você se relaciona com o aluno com TDAH e ele com você?
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9. Que aspectos você observa na relação entre o aluno com TDAH e os seus pares?
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( ) Na sala de aula;
( ) Recreação, intervalo, na hora do lanche, nas filas, nas brincadeiras, horário de saída;
( ) Eventos comemorativos;
( ) Aula de campo (extraclasse);
( ) Na relação professor/aluno;
( ) Em casa;
( ) Situações em que exigem além do que o aluno pode dar;
( ) Não tem essa experiência.
( ) Outra ____________________________________________________________
PRÁXIS PEDAGÓGICA:
11. Como você observa a formação do professor para educar os alunos com TDAH?
12. Para você qual é o papel do professor na escolarização de alunos com TDAH?
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13. Que estratégia ou intervenção você adota, em sala de aula, para lidar com o aluno que
apresenta comportamento hiperativo, impulsivo e desatento?
Sara Pinheiro
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