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Universidade Federal do Paraná

Setor de Ciências Agrárias


Curso de Engenharia Florestal
Departamento de Ciências Florestais
Prof. Julio Eduardo Arce

MANEJO DE FLORESTAS
PLANTADAS

Apostila da disciplina de Manejo de Florestas


Plantadas do Curso de Engenharia Florestal da
Universidade Federal do Paraná

Professor: Julio Eduardo Arce

Curitiba - PR

Março de 2016

Prof. Julio Eduardo Arce – jarce@ufpr.br


UFPR Manejo de Florestas Plantadas Índice - 2

ÍNDICE
LISTA DE FIGURAS __________________________________________________________ 3
LISTA DE TABELAS __________________________________________________________ 4
PRÓLOGO __________________________________________________________________ 5
1 INTRODUÇÃO _________________________________________________ 7
1.1 DEFINIÇÕES E CONCEITOS ______________________________________ 7
1.2 HISTÓRIA DO MANEJO FLORESTAL _______________________________ 8
1.2.1 Europa _______________________________________________________________ 8
1.2.2 Estados Unidos de América e Canadá ____________________________________ 8
1.2.3 Brasil ________________________________________________________________ 8
1.3 OBJETIVOS DO MANEJO FLORESTAL _____________________________ 9
2 PRODUÇÃO DA FLORESTA _____________________________________ 10
2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS FLORESTAIS _______________________ 11
2.1.1 Povoamentos e Unidades de Manejo ____________________________________ 13
2.1.2 Sistemas de Informação Geográfica (SIG) ________________________________ 13
2.1.3 Prescrições para os povoamentos ______________________________________ 14
2.2 CRESCIMENTO, PRODUÇÃO E ESTRUTURA DO POVOAMENTO ______ 14
2.2.1 Conceitos de crescimento e produção para o manejo florestal _______________ 14
2.2.1.1 Utilização do crescimento da floresta __________________________________ 15
2.2.1.2 Componentes do crescimento da floresta ______________________________ 16
2.2.1.3 Definições do crescimento da floresta _________________________________ 17
2.2.2 A estrutura do povoamento ____________________________________________ 18
2.2.2.1 Características e estrutura de povoamentos equiâneos ___________________ 21
2.2.2.2 Características e estrutura de povoamentos inequiâneos __________________ 22
2.3 QUALIDADE DE SÍTIO E DENSIDADE _____________________________ 25
2.3.1 Qualidade de Sítio no Manejo Florestal __________________________________ 25
2.3.1.1 Medições da Qualidade de Sítio ______________________________________ 26
2.3.1.1.1 Índice de Sítio ___________________________________________________ 26
2.3.1.1.2 A vegetação como indicadora da Qualidade de Sítio _____________________ 27
2.3.1.1.3 Fatores ambientais _______________________________________________ 28
2.3.1.2 Importância da Qualidade de Sítio no Manejo Florestal ____________________ 28
2.3.2 Densidade ___________________________________________________________ 28
2.3.2.1 Densidade do povoamento __________________________________________ 28
2.3.2.2 Medidas da Densidade _____________________________________________ 29
2.3.2.2.1 Número de árvores por unidade de área ______________________________ 29
2.3.2.2.2 Volume por unidade de área ________________________________________ 29
2.3.2.2.3 Área basal por unidade de área _____________________________________ 30
2.3.2.2.4 Densidade relativa________________________________________________ 30
2.3.2.2.5 Índice de Densidade do Povoamento _________________________________ 30
2.3.2.2.6 Densidade relativa do povoamento ___________________________________ 32
2.3.2.2.7 Fator de Competição de Copas _____________________________________ 32
2.3.2.3 Exemplo do cálculo da Densidade do Povoamento _______________________ 33
2.3.2.4 Utilização do espaçamento para o Controle da Densidade _________________ 34
2.3.2.5 Determinação da Densidade desejável ________________________________ 35
3 MODELOS DE CRESCIMENTO E PRODUÇÃO FLORESTAIS __________ 36
3.1 AS EQUAÇÕES NA MODELAGEM DA PRODUÇÃO FLORESTAL _______ 36
3.2 CLASSIFICAÇÃO DOS MODELOS DE CRESCIMENTO E PRODUÇÃO ___ 37
4 DESBASTES _________________________________________________ 40
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ________________________________ 41

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UFPR Manejo de Florestas Plantadas Lista de Figuras - 3

LISTA DE FIGURAS

1 Exemplo da delimitação dos povoamentos segundo a) bacias hidrográficas e declividade, b)


cobertura florestal, c) distâncias às estradas principais, e d) seu agrupamento em unidades
de manejo. ....................................................................................................................................... 12

2 Utilização do potencial de crescimento da floresta. ........................................................................ 15

3 Mudanças líquidas na estrutura de um povoamento equiâneo em um período de 10 anos.


Os valores indicam número de árvores por classe diamétrica. ...................................................... 16

4 Diagrama volume-idade típico de um povoamento equiâneo de 1 hectare ao longo de duas


rotações consecutivas. .................................................................................................................... 19

5 Diagrama volume-idade típico de um povoamento inequiâneo de 1 hectare ao longo de três


ciclos de corte sucessivos ............................................................................................................... 20

6 Distribuições diamétricas de povoamentos equiâneos e inequiâneos possuindo a mesma


área basal de 6,86 m². .................................................................................................................... 22

7 Estrutura equiânea de povoamentos de 10, 20, 30, 40, 50 e 60 anos de idade, e sua soma
ilustrando hipoteticamente a estrutura de um povoamento inequiâneo. ........................................ 23

8 Curva de referência para a densidade máxima (IDR = 1800) e curvas para densidades
inferiores obtidas como proporções da densidade máxima (IDR = 541, 180, 90, 45). Os
pontos () localizados na reta vertical tracejada correspondente ao dg de 25 cm indicam os
valores do IDR de cada uma das linhas de iso-densidade (Adaptado de Daniel et al. 1982)........ 31

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UFPR Manejo de Florestas Plantadas Lista de Tabelas - 4

LISTA DE TABELAS

1 Exemplo de cálculos de crescimento utilizando dados de uma parcela permanente e um


período de crescimento de 5 anos (volumes em m 3). .................................................................... 18

2 Dados de inventário para uma povoamento representando um hectare. ...................................... 33

3 Cálculo de várias medidas de densidade para uma povoamento representando um hectare. ..... 34

4 Classificação dos modelos de crescimento e produção ................................................................. 38

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UFPR Manejo de Florestas Plantadas Prólogo - 5

PRÓLOGO1

Existem praticantes da engenharia florestal que vacilam ante o novo e desprezam o conhecimento
antigo; porém, o fato de reconhecer as boas e as mas práticas, como é o caso de Heinrich Cotta,
poderia ser uma citação de atualidade. Cotta, um técnico florestal alemão, mencionou no prefácio de
seu livro Anweisung zum Waldbau (Conselhos Silviculturais), de 1816, traduzido ao inglês por B. E.
Fernow em Forest Quarterly, os seguintes conceitos:

“... Se todos os habitantes da Alemanha abandonassem o país, este se cobriria de florestas em um lapso
de um século; em vista de que não haveria ninguém que as utilizasse, o solo se enriqueceria e as
florestas não só incrementariam seu tamanho, senão também sua capacidade de produção. Porém, se os
habitantes retornassem outra vez e fizessem uma extração de madeira e outros produtos igual à de antes,
as florestas, inclusive com o melhor ordenamento florestal, não tão só voltariam a reduzir seu tamanho,
senão que os solos se tornariam menos férteis.
As florestas surgem e se desenvolvem melhor nos lugares onde não há habitantes e, portanto, tampouco
há engenharia florestal, o que justifica àquelas pessoas que dizem que no passado não existia a
engenharia florestal e tínhamos suficiente madeira; porém, agora que contamos com a ciência, já não
temos madeira.
Poder-se-ia dizer, com a mesma justiça: as pessoas que não necessitam de um médico são mais
saudáveis do que aquelas que o necessitam; mas isto não quer dizer que os médicos sejam os culpados
das doenças: não existiriam médicos se não existissem as doenças; e não existiria a ciência florestal se
não houvesse uma deficiência na quantidade de recursos florestais disponíveis. Esta ciência é somente a
filha da necessidade e a necessidade é, consequentemente, sua causa natural; então a frase deveria ser:
agora temos a ciência florestal porque há escassez e carência de madeira.

Caro leitor, desculpe a interrupção neste belo texto; quero apenas lembrá-lo de que o mesmo foi
escrito no início do século XIX, mais precisamente em 1816. Desfrute desta leitura que é de tocar até
o mais insensível dos profissionais da área florestal.

A engenharia florestal, no entanto, não oferece milagres e nada pode fazer contra o curso da natureza. O
célebre médico Verdey disse: “o bom médico é aquele que deixa a gente morrer; o ruim é o que as
mata”. Com o mesmo direito pode ser dito que o bom técnico florestal é o que permite que as florestas
mais perfeitas deixem de sê-lo; o ruim as arruína. Ou seja, assim como o médico não pode evitar que os
homens morram, porque esse é o recurso da natureza, tampouco o melhor técnico florestal pode evitar
que as florestas, que a ele chegaram a modo de uma herança, se deteriorem a partir do momento em que
as começa a utilizar.
Faz muito tempo Alemanha tinha imensas florestas perfeitas e muito férteis, mas estas grandes florestas
tornaram-se pequenas, e as férteis, quase estéreis; cada geração de homens viu uma geração menor de
florestas. Aqui e ali, ainda é possível admirar as “Eichen” e as “Tannen” gigantescos, que cresceram
sem nenhum cuidado; enquanto isso, nós percebemos com clareza de que nunca conseguiremos nesse
mesmo lugar, mediante nenhuma arte ou ciência, reproduzir árvores semelhantes. Os netos dessas
árvores mostram todos os sintomas da morte próxima antes que seu volume seja de um quarto do que as
árvores antigas têm; e nenhuma arte ou ciência pode produzir, sobre os solos florestais empobrecidos na
atualidade, florestas como aquelas que, todavia, estão sendo derrubadas aqui e ali.
O bom técnico florestal também permite que a floresta se deteriore, mas somente nos casos em que não
as pode auxiliar; o técnico ruim, pelo contrário, sempre as arruína.
Na ausência de utilização, o solo florestal melhora constantemente; se as florestas são utilizadas de
maneira ordenada, as mesmas permanecem dentro de seu equilíbrio natural; no entanto, se são
utilizadas de forma irracional, elas se empobrecem. O bom técnico florestal obtém os maiores
rendimentos florestais da floresta sem deteriorar o solo; já o ruim não pode obter estes rendimentos nem
preservar a fertilidade do solo.

1 Extraído do livro Principios de Silvicultura (1982) de P. W. Daniel, U. E. Helms e F. S. Baker.

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UFPR Manejo de Florestas Plantadas Prólogo - 6

Apenas pode conceber-se em que medida pode beneficiar-se ou danificar-se uma floresta segundo o tipo
de manejo que sobre ela se exerce; portanto, a verdadeira engenharia florestal contém muito mais do
que pensam aqueles que só conhecem suas generalidades.
Há trinta anos, vangloriava-me de conhecer bem a ciência florestal; mas se não havia crescido com ela
e, ademais, a havia aprendido nas universidades! Desde então não desperdiço oportunidade alguma que
me permita aumentar meus conhecimentos em todas as direções, mas durante este longo período cheguei
a ver, com muita clareza, o pouco que sei a respeito das profundidades desta ciência, e aprendi que ela
não chegou, de nenhuma maneira, até o ponto que muitas pessoas creem haver atingido.
Tal vez muitas pessoas encontrem-se nas mesmas condições nas que eu me encontrava há trinta anos;
mas já se curarão de sua vaidade! A engenharia florestal baseia-se no conhecimento mesmo da
natureza; quanto mais se penetra dentro de seus segredos, maior é a profundidade que se abre diante da
gente. Muitas vezes se presta demasiada atenção ao que a luz de uma lâmpada de azeite pode tornar
visível, quando podem ser vistas muitíssimas mais coisas à luz de uma tocha e se tornam evidentes mais
coisas ainda desconhecidas; se alguém considera que o sabe todo, isto com certeza é um sinal de
superficialidade.
Os técnicos florestais podem ser divididos em científicos e empíricos; muito raras vezes se combinam
ambas as qualidades.
O que o científico considera suficiente para o ordenamento de uma floresta pode aprender-se com
facilidade e os conhecimentos sistematicamente ensinados do empírico podem ser memorizados com
rapidez; mas na prática, a arte do primeiro é à ciência florestal o que a medicina tribal é à verdadeira
farmacopeia; e é muito frequente que o outro não conheça as florestas nem pelo grande número de
árvores: as coisas, dentro da floresta real, vêm-se muito diferentes de como se vêm nos livros; assim
sendo, o homem que sabe confia no seu conhecimento, mas não toma a imprudente decisão do empírico.
Existem três causas principais pelas quais a engenharia florestal ainda está atrasada: primeiro, o
prolongado período necessário para o desenvolvimento das florestas; segundo, a grande variedade de
sítios sobre os que as florestas crescem; terceiro, o fato de que o técnico que pratica muito escreve
pouco, e o que escreve quase nem pratica.
O longo período de desenvolvimento ocasiona que muitas vezes se considere como bom algo que não o é,
e se prescreva como tal durante certo tempo, após o qual a prescrição se torna negativa para o manejo
da floresta. O segundo fato ocasiona que o que alguns técnicos consideram bom ou ruim resulte bom ou
ruim somente em certos lugares. O terceiro fato permite ver que as melhores experiências morrem junto
com a pessoa que as realizou e que muitas experiências totalmente unilaterais são copiadas literalmente
pelo engenheiro florestal com tanta frequência, que finalmente chegam a constituir verdadeiros dogmas
de fé que ninguém se atreve a contradizer, sem importar o unilaterais ou errôneas que possam ser ...”

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UFPR Manejo de Florestas Plantadas Introdução - 7

1 INTRODUÇÃO

1.1 DEFINIÇÕES E CONCEITOS

Silvicultura

“... teoria e prática do controle do estabelecimento, da composição e do crescimento de povoamentos


florestais ...”

Manejo Florestal

“... arte e ciência da tomada de decisões considerando a organização, uso e conservação das
florestas ...”

“... desenvolvimento e aplicação de técnicas de análise quantitativa nas decisões acerca da


composição, estrutura e localização de uma floresta, de tal maneira que sejam produzidos os
produtos, serviços e/ou benefícios, diretos ou indiretos, na quantidade e na qualidade requeridos
por uma organização florestal, ou por toda uma sociedade ...”

Ordenamento Florestal:

‘... observa o aspecto físico de produção da empresa florestal ...”

Manejo sustentável:

“...administração da floresta para a obtenção de benefícios econômicos e sociais, respeitando-se os


mecanismos de sustentação do ecossistema ...”
(Decreto nº 1.282, de 19/10/95 – Regulamenta a exploração de florestas na Bacia Amazônica)

Portanto, para ser sustentável, o manejo florestal deve ser ...

“... economicamente viável, ecologicamente correto e socialmente justo ...”

Silvicultura  Povoamentos florestais


Manejo  Floresta (Pública vs. Privada, Produção vs. Conservação)
Administração, gerência (Management)

A Silvicultura e o manejo florestal não são conceitos paralelos, mas sim complementares e
interdependentes. Um Plano de Manejo nunca poderá ser melhor que as práticas silviculturais por ele
consideradas.
É importante diferenciar entre povoamentos e a floresta. O manejo pode precisar do sacrifício
de algumas decisões ótimas para o povoamento, mas que globalmente, no contexto da floresta,
terminam prejudicando o planejamento.

Exemplo: Uma empresa plantou toda sua área de 3.000 ha na mesma época com somente
uma espécie. Os desbastes normalmente ocorrem na idade de 8, 11, 14 e 17 anos, e o corte final aos
20 anos. É claro que para atingir um certo nível de regulação a nível de floresta, deverão ser
realizadas intervenções a idades diferentes das recomendadas.
Geralmente é preciso aguardar um tempo até atingir os objetivos do manejo florestal. Este
período é por vezes denominado Período de Conversão, conceito este último muito utilizado na
aplicação de técnicas analíticas de otimização, como por exemplo a Programação Linear.
O manejador florestal deve simultaneamente exercer diversos papeis, dentre eles o de
botânico, planejador com visão integrada de curto e longo prazos, administrador e gerente, experto
em negócios e marketing, etc..

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UFPR Manejo de Florestas Plantadas Introdução - 8

O bom manejo florestal inclui uma exploração cuidadosa (de baixo impacto ambiental), a
aplicação de tratamentos silviculturais à floresta para regenerar e fazer crescer outra colheita, e o
monitoramento, para ajudar o manejador na tomada de decisões técnicas e administrativas.
O manejo florestal exige a tomada de decisões, e este é um exercício muito complexo
(subjetividade, intelecto, lógica, etc.). Por isto muitas vezes é utilizada a expressão modelos de auxilio
à tomada de decisões.

1.2 HISTÓRIA DO MANEJO FLORESTAL

Os inícios do manejo florestal são incertos. Já desde antes da era cristã existem
antecedentes de atividades de planejamento e regulação das florestas. Porém, pode-se afirmar que a
situação atual no Brasil está fortemente influenciada pelo desenvolvimento ocorrido na Europa e na
América do Norte.

1.2.1 Europa

 Características das florestas de meados do século XVIII


 Florestas primárias e secundárias.
 Densidades iniciais elevadas (4.000 – 10.000 plantas/ha).
 Desbastes frequentes.
 Maximização da produção em volume para coníferas.
 Maximização da produção em qualidade para folhosas.
 Usos múltiplos: madeira para construções, lenha, caça, recreação e lazer.

1.2.2 Estados Unidos de América e Canadá

 Características das florestas de início do século XX


 Florestas naturais sem manejo, de densidades geralmente irregulares.
 Falta de experiência em manejo e de parcelas experimentais.
 Era da exploração florestal (“cut and run”).

1.2.3 Brasil

 Trajetória do Setor Florestal


 1a Fase: ato de reflorestar como gerador de lucros (meados da década de ’60).
 2a Fase: incremento da produtividade florestal a qualquer custo (’70 – ’80).
 3a Fase: visão de negócio auto-sustentável (’90 - ...).
Situação atual de tendências de produção diferenciadas para produtos agropecuários e
florestais.

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UFPR Manejo de Florestas Plantadas Introdução - 9

1.3 OBJETIVOS DO MANEJO FLORESTAL

O termo objetivos indica que existem um ou mais pontos que o manejo florestal deve atingir
com respeito à floresta manejada. Estes pontos referem-se com certeza à produção de bens e
serviços, os quais podem ser materiais, como madeira, lenha, essências, ou não materiais, como
paisagem, regulagem de bacias hidrográficas, etc..
Os objetivos podem ou não estar identificados. Esta identificação pode até ser muito difícil,
pois os objetivos podem mudar de acordo com o grupo de usuários da floresta, e inclusive, para
mesmo grupo de usuários ao longo do tempo. As mudanças nos objetivos podem afetar de maneira
positiva à floresta, quando respondem a interesses da sociedade, ou de maneira negativa, quando
ocorrem com muita frequência e destroem a continuidade do manejo florestal.
Além disso, os objetivos podem surgir de um planejamento cuidadoso com consultas às
partes interessadas, ou de reações sentimentais, emocionais e intuitivas.
Por último, os objetivos geralmente são impostos pelos proprietários do recurso florestal.

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UFPR Manejo de Florestas Plantadas Produção da Floresta - 10

2 PRODUÇÃO DA FLORESTA

Um manejo florestal efetivo implica na aplicação de um sistema de tratamentos para o controle


da floresta, de tal maneira que o incremento no valor econômico e/ou social da floresta seja mais rápido
do que os juros acumulados dos custos dos tratamentos (ALDER, 1980).
A principal tarefa do manejador florestal é a de utilizar uma área de floresta, decidir qual o
melhor tratamento para produzir árvores e outros produtos florestais, implementar esse tratamento, e
predizer quando e qual a quantidade de madeira e outros produtos a serem obtidos. Pode-se inferir
que a predição confiável do crescimento e da produção de madeira na floresta é crucial para o
manejo florestal. Adicionalmente devem ser obtidas estimativas de produção de outros bens e
serviços diferentes da madeira na floresta.
A produção de uma floresta em determinado momento de sua vida depende de:

 O estado de desenvolvimento da comunidade florestal;


 A idade;
 A qualidade do sítio;
 As espécies;
 A densidade em termos de área basal e do número de árvores;
 Os métodos silviculturais; e,
 As unidades nas que se expressa o crescimento e a produção.

A prescrição das atividades e métodos silviculturais baseia-se em três elementos essenciais:

1. Uma classificação das áreas florestais, que descreva parcelas de tipos de áreas por localização,
dimensões das árvores, estoques, espécies, solos, declividades, e outros atributos.
2. Um programa das atividades de manejo descrevendo tempos, métodos e condições pelos quais a
vegetação e outros recursos serão manipulados ou perturbados para atingir a produção de bens e
serviços desejada, incluindo:
a) Métodos de corte e de transporte;
b) Programas de desbastes e de colheitas; e,
c) Técnicas de regeneração.
3. Projeções quantitativas de crescimento e produção, que descrevam numericamente a quantidade de
madeira que poderá ser obtida das áreas comerciais, detalhando os tipos de produtos florestais e
seus correspondentes volumes.

Os três elementos essenciais à prescrição das atividades e métodos silviculturais podem ser
especificados com maior ou menor detalhamento, mas todos eles são necessários para manejar e
planejar a floresta de maneira coerente e quantitativa. Cada elemento implica em uma decisão de
manejo que deve ser tomada no início do planejamento:

1. Como deve ser organizada e classificada a área florestal em povoamentos ou unidades de


manejo segundo suas características físicas, da vegetação, e de desenvolvimento, para atender
aos objetivos de planejamento?
2. Quantas e quais os tipos de prescrições alternativas de manejo devem ser consideradas para
cada parcela ou área considerada?
3. Que métodos e dados empíricos devem ser utilizados para realizar as projeções quantitativas de
crescimento e produção?

A resposta a estas questões dependerá, em última instância, dos objetivos do proprietário e


do tempo, dinheiro e detalhamento analítico disponíveis para o planejamento e o manejo da floresta.
Por exemplo, se o proprietário da floresta for um especulador com objetivos puramente financeiros,
ele com certeza não vai investir muito tempo nem dinheiro no manejo e no planejamento, e poucos
povoamentos e prescrições serão considerados. Pelo contrário, se há interesse em um planejamento
de alta resolução visando atender objetivos múltiplos, como é o caso das florestas governamentais, é
de se esperar uma classificação mais detalhada dos tipos de áreas florestais e diversas prescrições
de manejo possíveis para cada uma delas.

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UFPR Manejo de Florestas Plantadas Produção da Floresta - 11

2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS FLORESTAIS

A classificação das áreas florestais é o primeiro elemento de prescrição que o manejador


florestal dispõe, uma vez que ela fornece o estado e o contexto das atividades e das projeções de
produção. É neste ponto que o manejador decide o que é homogêneo e o que é heterogêneo, o que é
similar e o que não.
O manejo florestal historicamente não tem prestado muita atenção à classificação detalhada
das áreas florestais, reduzindo o escopo à identificação e classificação dos índices de sítio. Porém,
com o crescente interesse em avaliar o impacto dos tratamentos silviculturais em parâmetros
diferentes da produção de madeira, é obvio que a simples classificação por índices de sítio não é
suficiente.
Por exemplo, seja considerada uma floresta de 1.000 ha na qual algumas poucas
características são utilizadas para classificar os tipos de áreas. A distribuição espacial das
características diferenciais e dos povoamentos por elas gerados é apresentada na Figura 1.

1. Características físicas
a) Declividade (2 classes)
i) Moderada, de 0 a 30 %
ii) Forte, com mais de 31 %
b) Bacias hidrográficas (2 classes)
i) Bacia do rio A
ii) Bacia do rio B
2. Características da vegetação
a) Cobertura florestal (3 classes)
i) Floresta ombrófila mista com araucária
ii) Floresta ombrófila mista sem araucária e com erva-mate
iii) Floresta ombrófila mista sem araucária nem erva-mate
b) Classes de tamanho (2 classes)
i) Diâmetro (DAP) médio menor ou igual a 30 cm
ii) Diâmetro (DAP) médio maior de 30 cm.
3. Características de desenvolvimento
a) Distância às estradas principais (2 classes)
i) Até 1 km
ii) Mais de 1 km

No exemplo, que representa uma situação extremamente simplificada comparada com os


cenários reais, são gerados 48 tipos potenciais de áreas florestais diferentes2, dos quais somente 10
povoamentos são observados na Figura 1 d). É claro que nem sempre a natureza utiliza todas as
combinações numéricas possíveis entre os diferentes fatores da produção florestal, como ocorre nos
experimentos com delineamentos fatoriais.

2 (2 declividades)  (2 bacias)  (3 coberturas florestais)  (2 classes de tamanho)  (2 distâncias as


estradas) = 48 tipos de áreas florestais.

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UFPR Manejo de Florestas Plantadas Produção da Floresta - 12

a) Bacias hidrográficas e declividades b) Tipos de cobertura florestal

A-F
A-M

FX

FA

A-F

B-F FE

FA

A – Rio A M – Declividade moderada FA – Floresta com araucária


B – Rio B F – Declividade forte FE – Floresta com erva-mate
FX – Floresta sem araucária nem erva-mate

c) Distâncias às estradas d) Unidades de manejo


x 
 

> 1 km
 I 

  x

 1 km


x
II
 
> 1 km x

 1 km – Até 1 km da estrada principal , , ...,  - Povoamentos florestais


> 1 km – Mais de 1 km da estrada principal I, II – Unidades de manejo
x – Povoamentos

Figura 1: Exemplo da delimitação dos povoamentos segundo a) bacias hidrográficas e declividade, b)


cobertura florestal, c) distâncias às estradas principais, e d) seu agrupamento em
unidades de manejo.

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2.1.1 Povoamentos e Unidades de Manejo

Em todo projeto de manejo florestal devem ser diferenciadas áreas com características
econômicas e administrativas comuns, e áreas com semelhanças em nível de vegetação, solos,
declividade, dentre outros diversos fatores. Às primeiras geralmente é designado o termo Unidades de
Manejo (UM); às segundas povoamentos florestais.
Os povoamentos ou grupos de povoamentos organizam a área em classes homogêneas a partir
de características inerentes à produção de madeira e outras respostas aos tratamentos silviculturais,
visando aumentar a acurácia das predições. Em contraste, as UM organizam a área em unidades
espaciais lógicas para fins de implementação do plano de manejo, resultando em unidades tipicamente
heterogêneas.
A definição de UM é extremamente útil para levar em consideração as condições de acesso,
necessidade de construção de estradas e caminhos, efeitos da drenagem e erosão do solo, dentre
outros. Os povoamentos  a  constituem a UM-I, e os povoamentos ,  e  conformam a UM-II.
O povoamento , por exemplo, agrupa as áreas da bacia hidrográfica do Rio A com declividade
moderada, cobertura de floresta ombrófila mista com araucária e distâncias à estrada principal menores a
1 km. Já o povoamento  difere do povoamento  somente na declividade, que passa de moderada a
forte. Desta maneira todos os povoamentos possuem características próprias que lhes outorgam
homogeneidade e ao mesmo tempo os diferenciam dos povoamentos vizinhos. As áreas demarcados
com x são pequenas demais como para aplicar nelas algum método silvicultural diferenciado.
Pode-se inferir que, enquanto as UM podem ser diferenciadas a partir de mapas, os
povoamentos somente podem ser identificados com precisão a partir de inventários em uma base de
dados georeferenciada, isto é, com limites claramente definidos no terreno e levantados nas cartas e
mapas temáticos de vegetação, declividade, solos, etc..
O manejo florestal deve identificar tanto áreas homogêneas para predição de respostas por
hectare, quanto áreas contíguas mas não homogêneas para analisar a implementação do plano de
manejo. Uma prescrição completa deve possuir instruções específicas e completas para cada tipo de
grupos de povoamentos, como assim também instruções únicas para cada UM.

2.1.2 Sistemas de Informação Geográfica (SIG)

Definição: “Coleção organizada de equipamentos para computação eletrônica (hardware), programas


(software), dados georeferenciados e pessoal técnico especializado, projetada para
coletar, armazenar, atualizar, manipular, analisar e apresentar visualmente todas as
formas de informações geograficamente referenciadas”

Os dados são medidas, números, sem nenhum significado. Assim por exemplo temos que
0,02, 15, 3.000.000 são simplesmente dados. A informação, entretanto, é o significado atribuído aos
dados. Desta maneira, 0,02 g/l de um determinado produto químico, 15 cm de DAP, R$ 3.000.000 de
orçamento anual, constituem informação com um significado concreto.
Um Sistema de Informação é desenhado para a entrada, o armazenamento, o processo e a
saída de informação. Estes sistemas nem sempre são computadorizados.
Um Sistema de Informação Geográfico pode ser definido como uma coleção organizada de
equipamentos para computação eletrônica (hardware), programas (software), dados
georeferenciados e pessoal especializado, projetada para coletar, armazenar, atualizar, manipular,
analisar e apresentar visualmente todas as formas de informações geograficamente referenciadas.

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2.1.3 Prescrições para os povoamentos

Por prescrição entende-se o conjunto de atividades a serem desenvolvidas com a finalidade


de atender os objetivos impostos pelo manejo para um determinado povoamento florestal, ou seja,
uma prescrição é, essencialmente, um conjunto de métodos silviculturais que visa, simultaneamente,
satisfazer os desejos do proprietário e garantir a perpetuidade do recurso.
É claro que para cada povoamento existirá sempre uma prescrição ótima que garanta o
máximo retorno em termos econômicos e/ou sociais, mas a finalidade do manejo é tratar
simultaneamente com todos os povoamentos da floresta, tentando minimizar, para cada um deles, as
divergências entre as prescrições utilizadas e as ótimas.

2.2 CRESCIMENTO, PRODUÇÃO E ESTRUTURA DO POVOAMENTO

2.2.1 Conceitos de crescimento e produção para o manejo florestal

A predição futura do crescimento e da produção para povoamentos manejados e não


manejados é absolutamente essencial para o manejo florestal.
Pode-se dizer que o crescimento das árvores, e das plantas em geral, é o resultado de dois
processos antagônicos: o anabolismo, ou fotossíntese, e o catabolismo, ou respiração. Parte da
matéria elaborada no processo fotossintético é consumida pela respiração, e o restante é acumulado
nas estruturas vegetais (folhas, galhos, tronco e raízes), concentrando o interesse do manejo
florestal.
O crescimento é influenciado por fatores externos e internos. Dentre os fatores externos ou
ambientais podem ser mencionados a água, a luz, a temperatura, o bióxido de carbono e o oxigênio,
os minerais do solo e os tratos silviculturais; dentre os fatores internos o equilíbrio hídrico, a
capacidade de absorção de nutrientes, as enzimas e a interação entre os diversos órgãos. Mas o
fator que inexoravelmente está ligado ao crescimento é a idade ou tempo, dado que se o tempo for
nulo, isto é, se for considerado um instante, não há crescimento. O crescimento varia de acordo com
a maior ou menor influência desses fatores.
A copa da árvore tem grande influência na atividade cambial e consequentemente na taxa de
crescimento do diâmetro, da altura e, consequentemente, do volume. Devido à simplicidade das
medições diamétricas, o manejo florestal tem-se preocupado relativamente pouco com as medições
diamétricas e volumétricas das copas.
Em geral, o crescimento é mais rápido nas espécies exigentes em luz do que nas espécies
tolerantes. A posição sociológica, o sítio, a idade e a densidade do povoamento afetam o crescimento
das árvores. Assim, povoamentos com diferentes estratos e grandes variações de idade ocasionam
um crescimento não homogêneo.
O crescimento do povoamento pode ser considerado como a mudança em determinado
atributo do povoamento em um intervalo de tempo dado. Assim por exemplo, um povoamento pode
incrementar seu volume em 200 m 3 ao longo de 10 anos. Seu incremento médio anual será, em
consequência, de 20 m3/ano.
A produção possui um significado ambíguo, dual, sendo 1) a quantidade de determinado
atributo do povoamento que pode ser removida ou colhida por ano ou período, ou 2) a quantidade
total que pode ser obtida em um momento determinado. Seguindo o exemplo anterior, uma
quantidade de 20 m 3 pode ser colhida a cada ano, ou uma quantidade de 200 m 3 pode ser retirada
após 10 anos. Se esta produção iguala ao crescimento e pode ser mantida no valor de 20 m 3 a
perpetuidade, diz-se que o atributo está sob regime de manejo sustentado da produção.
Crescimento é um conceito biológico de taxa de produção, e produção é um conceito de
colheita ou remoção medido como uma taxa ou como uma quantidade total em uma determinada
idade ou tempo. Em geral, a máxima produção de um povoamento em um determinado tempo é o
crescimento anual acumulado nesse tempo, e a máxima produção que pode ser colhida a
perpetuidade em um ano ou período é o crescimento anual ou periódico.

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O crescimento e a produção podem ser expressos em unidades físicas, como volume, área
basal ou peso, ou em unidades de valor, ou financeiras, as quais geralmente constituem as variáveis
de interesse como, por exemplo, o valor líquido presente (VPL), o valor esperado da terra (VET),
dentre outras. Visto desta maneira, o crescimento representa os juros que uma floresta acrescenta ao
capital investido inicialmente, senda esta uma visão mais do compreensível do crescimento quando
expressado como uma taxa.
Mas em essência, em um povoamento florestal quem cresce são as árvores. Estas acumulam
o crescimento em um período na maneira de camadas, uma por cada ano. O crescimento em
madeira ocorre na totalidade da árvore: galhos, tronco e raízes. Porém, na floresta em geral é
removida somente uma porção dos troncos, até uma determinada altura comercial.

Concluindo então, no crescimento do povoamento intervêm ativamente as árvores. Mas não é


somente o crescimento das árvores o que determina o crescimento do povoamento: resta mencionar
a mortalidade, cuja medição e predição atualmente representa um dos maiores desafios da ciência
florestal. A mortalidade, ou seja, o número de árvores que morrem, é por sua natureza mais difícil de
medir do que a quantidade de madeira que se acumula nos troncos das árvores. Árvores que
morrem, caem, e desaparecem entre inventários não podem ser contadas com precisão sem grandes
custos.

2.2.1.1 Utilização do crescimento da floresta

O crescimento da floresta pode ser analisado em termos de potencial total por unidade de
área (Figura 2). O nível A representa o crescimento total em madeira da floresta incluindo a totalidade
dos galhos, troncos e raízes. O nível B indica o crescimento potencial utilizável pela indústria sob as
condições tecnológicas atuais. O nível C expressa o crescimento em madeira efetivamente removido
ou colhido da floresta, refletindo aparte econômica da colheita.

A – Crescimento biológico total

B – Crescimento potencialmente
por unidade de área por ano

utilizável com a tecnologia


Quantidade de madeira

atual
C – Crescimento atualmente
removido e utilizado

Adaptado de Davis e Johnson (1987).

Figura 2: Utilização do potencial de crescimento da floresta.

Nenhum destes três níveis é fixo. O crescimento potencial pode ser incrementado com
preparo do solo, irrigação ou adubação. Inovações tecnológicas podem permitir a utilização de outros
tipos e dimensões de produtos florestais. Neste sentido, por exemplo, a utilização de picadoras
portáteis permite a utilização de porções de galhos e topos de árvores, antes não utilizados e
deixados na floresta. O crescimento por unidade de área utilizado com a tecnologia atualmente

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disponível aumenta com a rentabilidade da atividade florestal (custos, preços, etc.) e com o estudo e
conhecimento da utilização da floresta no que se refere à silvicultura e ao manejo florestal.

2.2.1.2 Componentes do crescimento da floresta

Pelo crescimento da floresta são responsáveis as árvores vivas, mas a soma dos
crescimentos destas árvores sofre reduções causadas pelas árvores que morrem, se destroem ou
são cortadas. Considere, por exemplo, um povoamento equiâneo medido em dois inventários
sucessivos separados 10 anos entre si (Figura 3). A mudança líquida no povoamento mostra que as
classes diamétricas 1, 2, 3, 4 e 7 perderam árvores, e que as classes 5, 6 e 8 ganharam árvores.

Inventário ano t

Mudança estrutural líquida

1900r 1900r 1900r 1900r 1900r 1900r 1900r 1900r

Inventário ano t + 10

1900r 1900r 1900r

Freqüência1900r1900r1900r1900r1900r1900r1900r1900r
Classe diamétrica

Figura 3: Mudanças líquidas na estrutura de um povoamento equiâneo em um período de 10 anos.


Os valores indicam número de árvores por classe diamétrica.

No exemplo, o número total de árvores diminuiu e diâmetro médio do povoamento aumentou.


Pela dinâmica do povoamento, a expectativa é de que todas as árvores de cada classe diamétricas
passaram pelo menos para a classe seguinte. Portanto, as árvores da primeira classe diamétrica que
apareceram no segundo inventário são responsáveis pelo ingresso (árvores não contadas nem
medidas no primeiro inventário). A responsável pela diminuição do número total de árvores é a
mortalidade. Desta maneira temos que, além do crescimento propriamente dito das árvores, o
ingresso e a mortalidade constituem duas importantes componentes do crescimento da floresta.

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2.2.1.3 Definições do crescimento da floresta

O primeiro passo na definição do crescimento é a definição da menor árvore que será medida
e que contribuirá, portanto, na estimativa do crescimento da floresta. Esta definição às vezes é feita
baseada em definições tecnológicas ou de comercialização, variando segundo o destino da produção
madeireira previsto pelo manejo florestal (por exemplo: DAP acima de 10, 15 ou 20 cm). Quando o
objetivo é a estimativa do crescimento da biomassa ou do crescimento potencial em fibra, são
medidas todas as árvores acima de um DAP muito pequeno (1 a 5 cm).
Os critérios de comercialização mudam com o tempo, com as espécies, e com a localização
geográfica. As hoje denominadas espécies de valor comercial, será que amanhã ainda o serão?; será
que amanhã ainda existirão?. Enquanto isso as denominadas espécies com potencial de
comercialização serão as espécies comerciais de amanhã. É claro que em florestas implantadas isto
praticamente não acontece, dado que a própria implantação da floresta possui um objetivo de
comercialização ou industrialização claramente definido. Por isto a especificação exata de
comercialização ou industrialização, o que para o manejo florestal se traduz como a menor árvore
que será medida, deve ser cuidadosamente estabelecida antes de realizar quaisquer tipos de
comparações de crescimento e produção entre povoamentos, florestas, ou em tempos diferentes.
No exemplo da Figura 3 para expressar o crescimento do povoamento podem ser utilizados o
número de árvores, a área basal ou o volume, mas este último está estreitamente relacionado ao
valor e é o mais utilizado. As componentes do crescimento da floresta geralmente são definidas em
termos de volume. Assim, o ingresso é definido como o volume das árvores novas que atingiram as
dimensões mínimas de inventariação, a mortalidade como o volume das árvores mensuráveis que
morreram durante o período entre as medições, e o corte como o volume das árvores removidas
durante o período. Outras causas de deterioração, como o declínio, a quebra ou o apodrecimento de
algumas árvores não são usualmente consideradas, dado a grande dificuldade em obter estimativas
acuradas nos inventários.
Segundo Beers (1962), as componentes do povoamento podem ser representadas por:

V1 = volume das árvores vivas no início do período de medição


V2 = volume das árvores vivas no final do período de medição
M = volume da mortalidade durante o período de medição
C = volume do corte ou colheita durante o período de medição
I = volume do ingresso durante o período de medição

A partir destas componentes podem ser definidas cinco diferentes medições do crescimento em um
período pelas seguintes equações:

 Incremento bruto incluindo o ingresso = V2 + M + C – V1


 Incremento bruto do volume inicial = V2 + M + C – I – V1
 Incremento líquido incluindo o ingresso = V2 + C – V1
 Incremento líquido do volume inicial = V2 + C – I – V1
 Mudança líquida no estoque de crescimento = V2 – V1

A definição apropriada depende da finalidade do usuário. O proprietário florestal pragmático


que simplesmente quer saber quanta madeira é produzida atualmente usará a definição , de
incremento líquido incluindo o ingresso. O ecologista sistemático interessado na biomassa total
utilizará a definição . O pesquisador florestal preocupado com os desbastes e a redução da
mortalidade olhará para a definição . O monitoramento contábil das condições do recurso florestal
requer da utilização da definição .
Na Tabela 1 é apresentado um exemplo de cálculos de crescimento utilizando dados de uma
parcela permanente e um período de crescimento de 10 anos. As cinco definições de crescimento
dadas acima podem ser perfeitamente obtidas a partir dos dados do exemplo em uma base árvore-
por-árvore. Neste exemplo não foi registrado o crescimento das árvores que morreram ou que foram
cortadas. Desta maneira o crescimento bruto do volume inicial é igual ao crescimento das árvores
remanescentes (crescimento sobrevivente), sendo esta uma situação muito comum na prática, onde
nem sempre são inventariadas detalhadamente as árvores que são retiradas da floresta, e muito
menos as que morrem durante o período de crescimento. É oportuno destacar também que o período
de crescimento, que no caso deste exemplo é de 5 anos, deve ser levado sempre em consideração
ao calcular os crescimentos para uma base anual.

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Tabela 1: Exemplo de cálculos de crescimento utilizando dados de uma parcela permanente e um


período de crescimento de 5 anos (volumes em m 3).

1o 2o
No Crescimento Mortalidade Corte Ingresso Crescimento
inventário inventário
árvore sobrevivente M C I líquido
V1 V2
1 0,621 0,621 -0,621
2 0,813 0,813 -
3 0,668 0,668 -
4 0,424 0,623 0,199 0,199
5 0,633 1,225 0,592 0,592
6 1,060 1,638 0,578 0,578
7 0,346 0,346 0,346
8 0,933 0,933 -
9 0,820 1,198 0,378 0,378
10 1,472 2,463 0,991 0,991
Totais
7,444 7,493 2,738 0,621 2,414 0,346 2,463
parcela
Equação de
Símbolo
crescimento
V2 M C I V1
 Crescimento bruto,
= 7,493 + 0,621 + 2,414 - 7,444 = 3,804
incluído o ingresso
 Crescimento bruto -
= 7,493 + 0,621 + 2,414 - 7,444 = 2,738
do volume inicial 0,346
 Crescimento
líquido incluído o = 7,493 + 2,414 - 7,444 = 2,463
ingresso
 Crescimento
-
liquido do volume = 7,493 + 2,414 - 7,444 = 2,117
0,346
inicial
 Mudança líquida
do estoque de = 7,493 - 7,444 = 0,049
crescimento
Exemplo adaptado de Davis e Johnson, 1987.

No longo prazo não é possível cortar mais do que o que cresce. Já no curto prazo, quando
grandes quantidades de madeira são abundantes em povoamentos antigos, é possível cortar mais do
que o crescimento durante algum tempo aproveitando essa produção do passado.

2.2.2 A estrutura do povoamento

O termo estrutura florestal tem a ver com o arranjo que as árvores apresentam em um
determinado momento da vida do povoamento. Dependendo do tipo de arranjo que esteja sendo
considerado surgem termos como estrutura horizontal, estrutura vertical, estrutura dimensional e
estrutura etária.
Para fins de manejo florestal, a estrutura pode ser entendida como o esqueleto tridimensional
que o povoamento possui em um momento determinado, visto que ela tem a ver com a densidade
expressa em número de árvores e em área basal, o volume, a distribuição diamétrica, a altura média
e a altura dominante, a qualidade do sítio, a estratificação das copas e a área de cobertura das
mesmas, o estado sanitário, a idade das árvores, dentre outros diversos aspectos. A estrutura da
floresta é determinada pelas diversas estruturas dos povoamentos em particular.

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Povoamentos equiâneos (coetâneos) são aqueles nos quais todas as árvores nasceram no
mesmo ponto no tempo, e enquanto as dimensões das árvores se incrementam de maneira variada
ao longo do tempo, a idade mantém-se uniforme, inclusive após a regeneração. Este tipo de
povoamentos possuem instantes definidos no tempo de início e fim, sendo, portanto, fáceis de
modelar e programar para produção e colheitas. A maioria das características dos povoamentos
equiâneos está relacionada à idade, e esta relações podem ser utilizadas para auxiliar na tomada de
decisões a respeito de quando intervir ou realizar colheitas nos povoamentos. Até o controle genético
das árvores que crescem neste tipo de povoamentos é mais simples para o manejador florestal,
principalmente quando a regeneração e parcial ou totalmente realizada através do plantio.
Um típico diagrama volume-idade de um povoamento equiâneo de 1 hectare pode ser
visualizado na Figura 4 para duas rotações completas desde o plantio até a colheita final. O
povoamento é plantado (p), inicia a produção de volume comercial a partir dos 5 anos de idade e
possui, aos 10 anos de idade, um volume de 200 m 3, dos quais 70 são cortados em um desbaste
(d1). Os 130 m3 remanescentes crescem até 320 m 3 na idade de 15 anos, momento em que ocorre
um segundo desbaste gerando um volume de 140 m 3 (d2). Os 180 m3 remanescentes crescem até
atingir, aos 20 anos de idade, um volume de 340 m 3, o qual é totalmente cortado na colheita final (cf).
Logo o povoamento é novamente plantado e a segunda rotação prevê somente um desbaste aos 15
anos de idade, onde são retirados 150 m 3 (d1) e permanecem em pé 200 m3, e a rotação aos 25 anos
de idade, onde o volume cortado é de 430 m 3 (cf).
Tipicamente sempre se pensa em rotações ou ciclos de mesmo comprimento, mas isto não
deve necessariamente ocorrer na prática. As rotações ótimas estabelecidas no momento do plantio
inicial do povoamento baseiam-se em condições que frequentemente mudam com o tempo, e muitas
vezes a melhor rotação deixa de sê-lo antes de que as árvores que compõem o povoamento atinjam
a maturidade.
A produção total da primeira rotação, incluindo os desbastes, é de 525 m 3 por hectare, com
um crescimento médio de 550 / 20 = 27,5 m 3 por hectare por ano. Na segunda rotação a produção
total incluindo o desbaste é de 580 m 3, e o crescimento médio de 580 / 25 = 23,2 m 3 por hectare por
ano.

1ª Rotação 2ª Rotação
1901ral

1901ral
Volume [m³/ha]

1900ral cf cf

1900ral

1900ral

1900ral
1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral

Tempo [anos]

Figura 4: Diagrama volume-idade típico de um povoamento equiâneo de 1 hectare ao longo de duas


rotações consecutivas.

Povoamentos inequiâneos se distinguem pela falta de um momento definido de início ou fim


no tempo. As árvores de um hectare qualquer variam em idade tanto quanto em dimensões, podendo
adicionalmente o povoamento estar conformado por diversas espécies. A competição pela luz e pelos
d
recursos necessários ao crescimento d2em geral é mais intensa ao longo de toda a vida das árvores,
tendo que enfrentar
p
quase d1
sempre os efeitos de
p
árvores vizinhas maiores. O controle genético nestes
povoamentos é difícil; as árvores novas provêm de sementes da árvores maduras e crescem sob a
sombra das árvores velhas ou em pequenas clareiras, onde apesar da luz ser mais abundante elas
competem pela umidade e outros recursos para o crescimento.

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O intervalo entre as intervenções nos povoamentos inequiâneos é chamado de ciclo de corte,


período de corte ou tempo de passo. Da mesma maneira que o manejo de povoamentos equiâneos
gira em torno da rotação, definindo desbastes e outras intervenções silviculturais em função da
rotação, em povoamentos inequiâneos o manejo gira em torno do ciclo de corte (Figura 5). Um ciclo i
qualquer começa com uma intervenção (ci) que deixa em pé na floresta uma determinada quantidade
do estoque de crescimento disponível. Este volume cresce ao longo dos anos que formam o ciclo de
corte até que no final outra intervenção remove a porção comercial desse volume (ci+1), dando inicio
ao seguinte ciclo i + 1. As intervenções podem eventualmente sofrer variações em mais ou em menos
na intensidade da intervenção da floresta de acordo com ajustes necessários para deixar o estoque
de crescimento compatível com os critérios desejáveis para iniciar o próximo ciclo de corte.

1º ciclo de corte 2º ciclo de corte 3º ciclo de corte

1901ral

c0 c1 c2 c3
1900ral
Volume [m³/ha]

1900ral

1900ral

1900ral
1900ral 1900ral 1900ral 1900ral

Tempo [anos]

Figura 5: Diagrama volume-idade típico de um povoamento inequiâneo de 1 hectare ao longo de três


ciclos de corte sucessivos

A mensuração do volume do estoque de crescimento pode ser realizada em qualquer


momento durante o ciclo de corte. Podem, portanto, surgir três situações:

1. A mensuração é realizada logo após o último corte;


2. A mensuração é realizada justo antes do próximo corte; e,
3. A mensuração é realizada na metade do ciclo de corte.

A primeira opção informa o volume disponível para o crescimento futuro. A segunda opção
informa o volume disponível justo antes da próxima colheita. A terceira opção informa o volume médio
do estoque sobre o qual é realizado o crescimento. Esta última informação resulta ser
aproximadamente o nível médio do estoque de crescimento da floresta. Cada uma das opções possui
suas aplicações para o manejo florestal, mas deve ser claramente diferenciada das outras para evitar
confusões e superposições entre as diferentes expressões do estoque de crescimento.
O crescimento em um determinado povoamento inequiâneo é raras vezes uniforme de um
período para outro. Fatores climáticos, insetos, doenças e fogo podem todos afetar o crescimento.
Adicionalmente, o volume remanescente após os cortes nem sempre coincide exatamente com o
volume planejado antes de realizar as intervenções. A madeira retirada em cada um dos cortes dos
povoamentos inequiâneos combina todas as operações de desbaste e colheita final próprias do
manejo dos povoamentos equiâneos, que são realizadas em momentos separados no tempo nestes
últimos povoamentos. Em teoria, a cada intervenção o povoamento como um todo recebe as
intervenções necessárias para atender aspectos sanitários, de vida selvagem, liberação da
competição, colheita final, e simultaneamente garantir a regeneração.

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2.2.2.1 Características e estrutura de povoamentos equiâneos

Após diversos estudos e experimentos realizados em florestas, tanto naturais quanto


plantadas, podem ser resumidas as principais características da estrutura e dinâmica dos
povoamentos equiâneos nos seguintes tópicos:

1. O número de árvores decresce continuamente devido à mortalidade, com o aumento da idade


do povoamento.
2. A altura das árvores dominantes e codominantes se incrementa ao longo da vida do
povoamento, igualando-se ao índice de sítio na idade índice.
3. O DAP da árvore média se incrementa ao longo da vida do povoamento com a aumento da
idade, e as menores árvores do povoamento sofrem uma mortalidade desproporcionada.
4. A área basal G (m²/ha) se incrementa ao longo da vida do povoamento. Em algumas espécies,
a área basal normal atinge um valor assintótico e mantém-se muito próxima desse valor na
medida em que a idade aumenta.
5. As produções bruta e líquida aumentam ambas com a idade do povoamento, sendo que
produção líquida gradualmente vai se localizando abaixo da produção bruta, na medida que a
mortalidade vai se acumulando. Eventualmente ambas podem atingir seu máximo e declinar
quando o povoamento começa a sofrer os sintomas da idade.
6. A produção líquida reflete a quantidade de produção disponível para sua remoção a qualquer
idade do povoamento, enquanto que a produção bruta reflete a quantidade de produção total
de um determinado sítio. A menos que a qualidade do sítio seja modificada, como por exemplo
através de fertilização, ou que seja utilizado um material genético melhorado, a produção bruta
de uma tabela de produção normal aproxima-se muito do máximo volume que potencialmente
pode ser obtido da um determinado sítio. A diferença entre a produção bruta e líquida é a
mortalidade acumulada, e estima grosseiramente a quantidade de produção que é factível de
ser capturada através de desbastes ou de outras maneiras de evitar ou reduzir a mortalidade.
7. O incremento corrente anual (ICA) aumenta, culmina e diminui da mesma maneira como o faz
o incremento médio anual (IMA). O ICA supera o IMA quando o IMA está em aumento; iguala o
IMA quando o IMA está culminando, e é inferior ao IMA quando o IMA está declinando. Esta
relação e requerida pela matemática das definições do ICA e IMA, visto que o ICA representa a
inclinação da primeira derivada da produção acumulada, e o IMA a inclinação de uma reta que
passa pela origem, secante à curva de produção acumulada.
8. Somando a área abaixo da curva do ICA até uma determinada idade obtém-se a produção
correspondente à idade considerada. Em outras palavras, a produção é a integral da curva de
incremento corrente (ICA).
9. A mortalidade representa uma proporção crescente da produção bruta do povoamento, na
medida em que a idade aumenta. É por isto que o IMA culmina a uma idade inferior quando é
considerada a produção líquida, e a uma idade superior quando é considerada a produção
bruta.
10. A estrutura de um povoamento equiâneo em termos do número de indivíduos por classes
diamétrica varia de maneira considerável com o aumento da idade. Quando jovem, o
povoamento possui a grande maioria de suas árvores agrupadas em uma pequena amplitude
das classes diamétricas inferiores, apresentando uma distribuição tipo sino. Quando a idade
aumenta, o histograma de frequências vai se achatando e deslocando para a direita, como
consequência das taxas de crescimento variáveis experimentadas pelos indivíduos do
povoamento, as quais expressam a condição, a qualidade genética e a posição sociológica do
indivíduo no povoamento.
11. O estabelecimento de um limite mínimo de comercialização ou utilização tecnológica influencia
as estimativas de crescimento e produção, dado que afeta diretamente o número de árvores
contadas nas primeiras classes diamétricas para cada idade do povoamento. O número de
árvores acima de um determinado tamanho aumenta com a idade, culmina e finalmente
declina, enquanto que o número total de árvores de um povoamento equiâneo declina
continuamente ao longo de sua vida.
12. Quanto maior é o menor tamanho de comercialização ou utilização tecnológica, menor é o
volume considerado comercial a cada idade, especialmente na fase jovem do povoamento.
Quanto maior é o menor tamanho de comercialização ou utilização tecnológica, maior é a idade
do povoamento no momento da culminação do IMA.

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2.2.2.2 Características e estrutura de povoamentos inequiâneos

A característica forma de sino observada na curva de distribuição de frequências dos


povoamentos equiâneos mantém-se com o aumento da idade, mas o número total de árvores diminui
na medida em que o sino vai se achatando e deslocando para a direita. Em contraste, os
povoamentos inequiâneos possuem uma distribuição diamétrica com forma de “J invertida”, a qual
pode ou não sofrer variações com o tempo. A Figura 6 apresenta uma comparação genérica entre
estruturas equiâneas e inequiâneas.
Frequência
Diâmetro
Equiânea Inequiânea
1900ral 6 0 163
Equiânea 8 1 117
1900ral Inequiânea 10 4 83
12 10 60
14 19 43
1900ral 16 31 30
18 42 22
Freqüência

20 45 16
1900ral 22 38 11
24 24 8
26 10 6
1900ral
28 3 4
30 1 3
1900ral 32 0 2
34 0 1
36 0 1
1900ral 38 0 1
1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 40 0 1
Diâmetro [cm] Total 228 572

Figura 6: Distribuições diamétricas de povoamentos equiâneos e inequiâneos possuindo a mesma


área basal de 6,86 m².

Os povoamentos reais, em particular os inequiâneos, diferem de maneira considerável destes


conceitos teóricos. Com frequência eles apresentam carência de árvores em determinadas classes
diamétricas e excesso em outras.
Operacionalmente, o conceito de manejo inequiâneo baseia-se na distribuição dimensional,
mais do que na distribuição de idades. As operações próprias do manejo consistem na colheita
periódica de algumas árvores de cada hectare, e a variável chave de decisão é o número de árvores
de uma determinada classe de tamanho e espécie que devem ser removidas, ou, antagonicamente,
que devem permanecer em pé no povoamento. Isto requer um profundo conhecimento da estrutura
do povoamento e de métodos efetivos para predizer o crescimento por classes diamétricas.
As maiores árvores tendem a ser mais velhas do que as menores e, obviamente, cada árvore
possui uma idade única. Um povoamento inequiâneo pode ser conceitualmente idealizado como
sendo a soma de vários diferentes povoamentos equiâneos crescendo na mesma área ao mesmo
tempo (Figura 7). Quando todas as curvas com forma de sino correspondentes à estrutura dos
povoamentos equiâneos são somadas, surge a característica forma da curva de J invertido, própria
dos povoamentos inequiâneos, representada pela linha tracejada na Figura 7. Um povoamento
inequiâneo real terá o número total de árvores reduzido proporcionalmente, mas a distribuição por
classes diamétricas pode ser extraída, mostrando árvores cada vez mais velhas nas classes
diamétricas superiores.
A regeneração natural dos povoamentos inequiâneos pode ser assumida conceitualmente
como sendo contínua, com novas árvores surgindo e crescendo sob o dossel do povoamento residual
a uma taxa constante. Porém, na realidade a regeneração é agrupada e periódica, dependendo das
fontes de sementes, da aparição de clareiras, e das alterações no solo durante as colheitas

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periódicas. Como resultado, os povoamentos inequiâneos possuem frequentemente a maioria das


árvores agrupadas em quatro a cinco classes identificáveis de idade.

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral
Freqüência

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral
1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral
Diâmetro [cm]

Figura 7: Estrutura equiânea de povoamentos de 10, 20, 30, 40, 50 e 60 anos de idade, e sua soma
ilustrando hipoteticamente a estrutura de um povoamento inequiâneo.

Distribuição exponencial negativa

Os primeiros estudos numéricos publicados de estoque de crescimento de florestas


inequiâneas pertencem a deLiocourt (1898), segundo Meyer (1952). Utilizando dados de florestas de
seleção, deLiocourt observou que a razão entre as árvores de classes diamétricas sucessivas tende a
um valor constante ao longo da amplitude diamétrica encontrada na floresta. Em outras palavras,
deLiocourt encontrou que o número de árvores em classes diamétricas sucessivas, indo da maior
para a menor, forma a série geométrica m, mq, mq2, mq3, ..., onde q é o coeficiente de diminuição da
série e m o número de árvores na maior classe diamétrica considerada. Esta idéia e o coeficiente de
diminuição tem-se tornado conceitos populares para descrever a estrutura de povoamentos
inequiâneos.
A série geométrica m, mq, mq2, mq3, ... é representada graficamente como uma linha reta em
um papel semi-logarítmico. A equação linear desta linha reta, que descreve o número de árvores em
função da classe diamétrica, pode ser expressa na seguinte forma logarítmica:

log N  log k  aD log e (1)

onde N = número de árvores por classe diamétrica


D = classe diamétrica
e = base dos logaritmos naturais
k = número de árvores na menor classe diamétrica reconhecida –índice de densidade
relativa
a = inclinação da linha reta – taxa com a qual o número de árvores diminui
logaritmicamente entre classes diamétricas sucessivas.

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O anti-logaritmo da equação (1) forma a equação exponencial negativa, cuja forma é o


característico J invertido:

N  ke aD (2)

O trabalho de Meyer mostrou que valores altos de k estão associados a valores altos de a:
quanto maior o número de árvores na menor classe diamétrica, mais rápida é a redução do número
de árvores entre classes diamétricas sucessivas.
O quociente de diminuição q pode ser estimado a partir da equação exponencial dada acima.
Sejam N20 e N22 os números de árvores das classes diamétricas de 20 e 22 cm, respectivamente. Por
definição, q = N20 / N22. Substituindo a estimativa da equação exponencial para o número de árvores
em cada classe diamétrica, tem-se

ke  a20
q  a 22
 e  a20 a22  e 2 a (3)
ke
Pode ser observado que o coeficiente q é função da amplitude das classes diamétricas.
Portanto, ao realizar comparações de coeficientes q, devem ser utilizadas classes diamétricas de
igual amplitude. Segundo Husch et al. (1982), K varia com a área do povoamento e com a amplitude
das classes diamétricas, enquanto que a não varia com nenhum deles. As comparações entre valores
de k devem ser realizadas considerando áreas dos povoamentos semelhantes e amplitudes de
classes diamétricas iguais.
A razão q e a equação exponencial associada tornaram-se populares por dois motivos: 1) os
valores de q definem a forma da curva e frequentemente caracterizam a espécie estudada, e 2) a
razão q é utilizada como uma maneira de conceitualizar e descrever a distribuição diamétrica
desejável para povoamentos inequiâneos. Segundo Meyer (1953), uma floresta inequiânea
balanceada é aquela da qual o crescimento corrente pode ser removido mantendo a distribuição
diamétrica e o volume iniciais da floresta. Este autor ainda propõe utilizar o conceito da razão q com a
finalidade de descrever povoamentos e florestas inequiâneas “normais”.

Definindo uma estrutura inequiânea desejável

Uma interpretação prática dos conceitos de Meyer salienta que é possível construir uma
distribuição diamétrica balanceada para um povoamento dados quaisquer quatro dos cinco
parâmetros do povoamento:

q = coeficiente de diminuição desejável;


B = densidade desejável para o povoamento;
Dmin = menor classe diamétrica registrada;
Dmax = maior classe diamétrica planejada;
Nmax = número de árvores na maior classe diamétrica.

Utilizando estes parâmetros, a estrutura do povoamento pode ser descrita pelo conjunto das
N–1 equações para todos os pares de classes diamétricas adjacentes,

N i 1  qN i para i  Dmin ,..., Dmax (4)

e pela restrição de estoque,

max

b N
i  min
i i B (5)

onde bi é a contribuição no volume, área basal, ou alguma outra medida da densidade por árvore da
classe diamétrica i, e B é a densidade do povoamento definida em unidades de volume, área basal,
ou outra medida da densidade do povoamento.

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Estas equações podem ser resolvidas para qualquer um dos parâmetros se os outros são
fornecidos. Quando B, q, Dmin, e Dmax são especificados, frequentemente se deseja calcular o número
de árvores na maior classe diamétrica Nmax para ajustar a distribuição. Este número pode ser obtido
da seguinte maneira:

B
N max 
  (6)

max Dmax  Di
bi q w
i  min

onde: Di = ponto central da classe diamétrica i;


w = amplitude das classes diamétricas em cm;
B, bi e Nmax = como definidos acima.

O denominador desta expressão é a densidade por hectare de um povoamento com


exatamente um indivíduo na maior classe diamétrica. Uma vez obtido Nmax, o número de árvores de
cada classe diamétrica menor sucessiva é obtido utilizando o quociente de diminuição q e a equação
(4).

Sustentabilidade da estrutura

As distribuições obtidas através dos procedimentos descritos apresentam uma grande


quantidade de indivíduos nas menores classes diamétricas. Estas árvores proporcionam o ingresso
nas classes comerciais, as quais, por sua vez, formam o estoque factível de ser colhido. Dado que
não serão realizadas intervenções nestas classes diamétricas menores, é importante conhecer o
comportamento delas. É perigosa a suposição de que estas árvores são de fato originadas em
número adequado pela regeneração natural, e de que elas se movimentam dinamicamente de
maneira contínua na primeira classe inventariada. Uma questão a ser debatida é com respeito a
quantas árvores são necessárias para garantir isto. Se este número for insuficiente, ou se as
espécies que compõem estas classes não possuem interesse para o manejo florestal, a regeneração
deverá ser complementada artificialmente. Se este número for excessivo e as árvores não tendem a
morrer naturalmente, podem ser necessárias até intervenções pre-comerciais. Se este tratamento não
for realizado pode aparecer uma corcova na distribuição diamétrica com o resultado de que uma
proporção maior do espaço de crescimento é destinada às arvores das classes diamétricas inferiores.
A perda de crescimento das árvores desejáveis deve ser comparada com o custo de remoção das
árvores das classes indesejáveis. Uma possível solução sugerida ara este problema é a utilização de
dois quociente q, ou alguma outra distribuição diamétrica especial.

2.3 QUALIDADE DE SÍTIO E DENSIDADE

A qualidade de sitio refere-se a quantidade de madeira que uma floresta pode potencialmente
produzir. O sítio e a densidade referem-se, em conjunto, à quantidade de madeira que pode ser
produzida e a qualidade que terá essa madeira. A densidade do povoamento é o segundo fator em
importância, depois da qualidade do sítio, para a determinação da produtividade de um sítio florestal
(DANIEL et al., 1982), para uma determinada qualidade do material genético utilizado. A densidade
dos povoamentos é o principal fator de produção que o manejador florestal pode controlar durante o
desenvolvimento da floresta.

2.3.1 Qualidade de Sítio no Manejo Florestal

A produtividade florestal de uma determinada área pode ser definida como o máximo volume
de madeira que nela pode ser produzido em um certo intervalo de tempo. A qualidade de sítio é um
índice numérico relacionado com e esta produtividade florestal. Para a estimativa desta qualidade de

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sítio, e consequentemente da produtividade florestal, são observados ou medidos alguns atributos da


terra ou da vegetação que nela se desenvolve.

2.3.1.1 Medições da Qualidade de Sítio

Nada parece mais lógico do que medir a qualidade de sítio através do volume ou peso dos
produtos desejáveis, o qual expressa de forma integrada todos os fatores do sítio. Na prática, porém,
a história do povoamento pode afetar o volume de madeira existente em uma determinada área e
tempo. A densidade original do povoamento, o tipo de intervenções no passado, doenças,
mortalidade, entre outros, podem reduzir o volume em pé que de outro modo existiria. É por isso que
a qualidade de sítio é raramente medida de maneira direta através do volume em pé.
Vários métodos indiretos foram desenvolvidos para medir a qualidade de sítio florestal. Estes
métodos visam selecionar algumas poucas e facilmente medíveis propriedades da vegetação ou do
solo, as quais representam os fatores importantes do crescimento de uma determinada espécie
florestal em um, determinado sítio. Segundo Jones (1969), três abordagens indiretas para estimar a
qualidade de sítio serão abordadas na sequência: índice de sítio, vegetação, e fatores ambientais.

2.3.1.1.1 Índice de Sítio

De todas as medições indiretas pesquisadas, a taxa de crescimento em altura das árvores


parecer ser o mais prático e consistente indicador da qualidade de sítio florestal. Não é uma medida
perfeita sob hipótese alguma, mas é utilizado até como referência comparativa para outras medições,
como por exemplo as propriedades do solo.
O crescimento em altura de árvores livres e dominantes do dossel superior é sensível à
diferenças na qualidade de sítio, altamente correlacionado com o crescimento em volume e
escassamente afetado pela densidade e a composição de espécies. O crescimento em diâmetro, em
contraste, e altamente correlacionado com a densidade.
Na prática, o índice de sítio é definido como a altura total das maiores árvores do
povoamento, cuja copa esteja completa e bem desenvolvida, as quais são competidoras severas pela
luz, umidade e nutrientes. O ideal é que essas árvores tenham sido competidoras severas ao longo
de todas suas vidas.
O sítio é expresso como um Índice de Sítio (IS) numérico. Um IS de 20, com uma idade base
de 15 anos, indica que o povoamento possui uma altura dominante de 20 m aos 15 anos de idade.
De maneira análoga, um IS 15 com idade base de 10 anos, indica que a altura dominante do
povoamento aos 10 anos é de 15 m.

Curvas de crescimento em altura e gráfico de IS

Curvas anamórficas e polimórficas de IS


Clutter et al. (1983)

Seleção das árvores para estimativa da Qualidade de Sítio


As determinações de sítio podem ser feitas para uma espécie em particular ou para o
povoamento como um todo, se bem que é usual a utilização de algumas espécies chave nos
povoamentos mistos. Nos povoamentos equiâneos jovens é fácil identificar árvores dominantes e
codominantes, e é seguro assumir que elas foram dominantes durante todas suas vidas. Em
povoamentos inequiâneos e povoamentos naturais equiâneos senis, este processo não é tão simples;
idades e tamanhos aparecem misturados e a cobertura do dossel é irregular.
Alguns autores sugerem utilizar como critério de medição da qualidade de sítio o crescimento
em altura das árvores dominantes e codominantes nos últimos 10 anos. Na prática, isto representa
muitas dificuldades, principalmente em folhosas, onde além de não apresentarem um tronco
monopodial, não existe praticamente nenhuma associação entre verticilos e idades como ocorre com
mais frequência nas coníferas. Portanto, é mais comum a utilização da altura e idade totais das
árvores dominantes e codominantes.

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Um problema decorrente da utilização da altura e idade totais das árvores é a possível


subestimativa do IS, dado que as árvores consideradas podem haver sofrido competição severa na
sua juventude, a qual se manifesta indiretamente na relação altura – idade.

Interpretação e utilização do Índice de Sítio


A seguir são dadas algumas considerações importantes necessárias para interpretar e utilizar
Índices de Sítio:

1. Ao comparar diversos IS, verificar a idade índice considerada para cada IS foi construído, e se a
idade é a idade total ou a idade no DAP3.
2. Um IS obtido para uma determinada idade índice não pode ser convertido para outra idade índice
com simples operações numéricas. Para tal fim, necessariamente devem ser utilizadas as curvas
de altura dominante – idade, as quais mostram as alturas à diferentes idades.
3. Um IS obtido para uma idade índice total deve ser cuidadosamente corrigido para obter seu
equivalente índice a idade no DAP.
4. IS similares para diferentes espécies não necessariamente significam produtividades
semelhantes no sentido absoluto ou relativo. Um mesmo IS pode ser intermédio para uma
espécie dada e muito bom para outra, ao passo que a produção volumétrica depende, além do
IS, da densidade, entre outros fatores.
5. Medições de IS realizadas em diferentes momentos da vida de um mesmo povoamento podem
revelar diferentes qualidades de sítio para o mesmo povoamento. As seguintes razões podem
explicar este fenômeno.
 Um povoamento jovem e oprimido pode sub-estimar o sítio quando este é medido na sua
juventude, e essa estimativa pode incrementar-se ao longo do tempo.
 A qualidade do sítio pode mudar. Se bem que estas mudanças são muito raras na natureza,
elas podem ocorrer artificialmente (fertilização, drenagem, etc.) ou até naturalmente (efeito
estufa, aquecimento do planeta, etc.), deixando sua marca na produtividade florestal.
 Povoamentos localizados em determinados microsítios podem não seguir os padrões das
curvas de crescimento em altura utilizadas para obter os IS. Por exemplo, em solos arenosos
algumas espécies experimentam um crescimento inicial acelerado, o qual após alguns anos
diminui bruscamente.
 As amostras utilizadas para a construção das curvas altura-idade convencionais podem não
ser balanceadas, requerendo de mais dados para determinadas idades e sítios.

6. As estimativas de produtividade dadas nas tabelas (funções) de produção baseadas nas relações
altura – idade podem ser tendenciosas, especialmente em áreas extremas da distribuição natural
as espécies (solos muito arenosos ou rochosos, precipitações escassas, etc.). Portanto, ao
consultar este tipo de referências, é importante verificar o local de obtenção dos dados para evitar
superestimativas de produção.

2.3.1.1.2 A vegetação como indicadora da Qualidade de Sítio

A utilização de plantas como indicadoras da qualidade de sítio tem sido muito estudada,
principalmente na Escandinávia e no Canadá, através de uma base de classificação de sítios. Sob
condições naturais sem distúrbios, e principalmente em florestas de regiões temperadas a frias,
determinadas plantas ou comunidades vegetais associam-se de maneira característica com certas
tipologias florestais, e com as qualidades de sítio a elas associadas.
Em regiões tropicais e subtropicias, a utilização da vegetação como indicadora da qualidade
de sítio tem sido pouco utilizada, em função da grande variedade de tipos vegetais existente. Como

3 Idade obtida a 1,30 m do nível do solo, ou seja o número de anos após a árvore ter atingido 1,30 m
de altura. Esta idade é utilizada freqüentemente em florestas naturais quando é comum a presença
de apodrecimentos na base do tronco, dificultando, se não impedindo, a obtenção da idade total a
partir da contagem de anéis na base da árvore.

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um complemento, a caracterização do sub–bosque sempre ajuda a caracterizar melhor um


determinado local florestal.

2.3.1.1.3 Fatores ambientais

A dificuldade em correlacionar a vegetação com o IS na maior parte das áreas florestais do


mundo, tem voltado cada vez mais o interesse aos aspectos do ambiente, em particular as
propriedades do solo. O solo possui uma grande e por vezes determinante influência sobre o
crescimento das florestas. Adicionalmente, a estimativa do índice de sítio a partir das propriedades do
solo possui algumas vantagens:
 As propriedades do solo variam pouco com o tempo.
 As medições do solo podem ser efetuadas tanto em solos com florestas como sem florestas,
solos degradados, queimados, etc.

2.3.1.2 Importância da Qualidade de Sítio no Manejo Florestal

A produtividade de áreas florestais varia tremendamente com o índice de sítio. A simples


observação gráfica das curvas de altura dominante–idade e produção–idade permite ter uma noção
da amplitude de tais variações.
As variações mencionadas persistem usualmente nas áreas sob manejo florestal. A qualidade
de sítio pode eventualmente ser modificada artificialmente através de tratamentos ao solo
(fertilização, drenagem), ou até naturalmente através de mudanças climáticas (aquecimento global;
efeito estufa, concentração de CO2), mas somente mudanças drásticas em solos pobres podem
resultar em algum benefício do ponto de vista do incremento da produtividade florestal.

2.3.2 Densidade

A capacidade potencial de uma determinada área para produzir madeira é determinada pela
qualidade de sítio. A produção atual atingida em um determinado local é determinada pela
quantidade, tipo e distribuição das árvores presentes. A alteração deste estoque de crescimento
vegetativo constitui a principal ferramenta que os florestais possuem para manipular e controlar o
crescimento e a produção das florestas. O estoque de crescimento, i.e. as árvores que estão
crescendo, é avaliado quantitativamente através de uma série de medidas chamadas de densidade
do povoamento.
As medidas de densidade do povoamento são função de estatísticas das árvores, tais como
área basal, número de arvores por hectare, competição das copas, ou diversos índices de densidade
do povoamento. As medidas de densidade são usualmente utilizadas para 1) representar um
povoamento em modelos utilizados para predição futura de crescimento e produção (SisPinus,
SisEucalyptus, WinTipsy, Fan$y), e 2) para decidir a respeito do comportamento do povoamento
quando comparado aos objetivos do proprietário da floresta.

2.3.2.1 Densidade do povoamento

Um dos principais objetivos do manejo florestal é dirigir a produção do povoamento de tal


maneira que seja aproveitada ao máximo a capacidade do sítio e ao mesmo tempo que as árvores
tenham condições de alcançar as dimensões desejadas. Se a densidade do povoamento for muito

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baixa, as árvores não aproveitam todos os nutrientes, água e luz disponíveis naquele local e,
portanto, o povoamento não produz o máximo possível; se, por outro lado, a densidade for muito alta,
a quantidade de nutrientes, água e luz disponível será insuficiente para um bom desenvolvimento das
árvores.
A densidade do povoamento pode descrever não somente o grau de utilização do sítio, mas
também a intensidade da competição entre as árvores do povoamento. A densidades altas a taxa de
crescimento individual do povoamento tende a diminuir bruscamente, apesar do fato de que o
crescimento total por unidade de área continua em aumento. Quando o preço está associado na
maneira de prêmios às árvores de maiores dimensões – situação que ocorre usualmente – então o
objetivo do manejo florestal tal vez seja o de conhecer o grau de associação existente entre as
medidas da densidade do povoamento e a distribuição de tamanhos das árvores que o compõem e
suas respectivas taxas de crescimento, para quantificar de maneira mais eficiente a produtividade
financeira do sítio ou do povoamento.
Na ecologia animal ou vegetal, a densidade e frequentemente definida como o número de
indivíduos por unidade de área. Nos povoamentos florestais, a definição da densidade como sendo o
número de indivíduos por unidade de área possui uma utilização limitada. As árvores aumentam seu
tamanho de maneira mais ou menos indefinida. Somente nos plantios com uma densidade inicial
conhecida é que o conceito de número de árvores por unidade de área é útil como medida da
densidade. É bem mais comum a utilização de medidas de densidade que combinam o tamanho das
árvores com o número delas.
Um dos objetivos de estudar a densidade do povoamento e as diferentes maneiras de
expressá-la no manejo florestal é a respeito da utilização de modelos de crescimento e produção. Se
for conhecido o tipo de modelo a ser utilizado, então as medidas de densidade a serem obtidas da
floresta deverão ser compatíveis com aquelas utilizadas pelo modelo.

2.3.2.2 Medidas da Densidade

A produção do povoamento é dirigida principalmente pela regulação da densidade, e portanto


é imprescindível o conhecimento da densidade atual do povoamento. A seguir são apresentadas
algumas das medidas mais utilizadas para expressar a densidade do povoamento.

2.3.2.2.1 Número de árvores por unidade de área

Em povoamentos equiâneos homogêneos com idade, sítio e histórico conhecidos, esta


medida da densidade é de grande utilidade. Vários modelos de crescimento e produção
desenvolvidos para plantios florestais utilizam esta medida da densidade.

2.3.2.2.2 Volume por unidade de área

A utilização do volume como medida da densidade é extremamente lógica, uma vez que os
objetivos do manejo florestal com muita frequência referem-se ao volume do povoamento. Porém,
sua interpretação deve ser cuidadosamente analisada, e em geral ela é associada com padrões como
tabelas ou funções de volume.

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2.3.2.2.3 Área basal por unidade de área

A área basal por unidade de área é uma das mais utilizadas medidas da densidade do
povoamento.

2.3.2.2.4 Densidade relativa

Curtis et al. (1981) combinam a área basal com o diâmetro quadrático médio do povoamento
como uma medida da densidade.

AB
DR  (Eq. 1)
dg

onde:
DR = densidade relativa
AB = área basal por hectare
dg = diâmetro quadrático médio do povoamento

A densidade relativa é utilizada, por exemplo, no simulador de produção DFSIM para


povoamentos de Douglas-fir.

2.3.2.2.5 Índice de Densidade do Povoamento

As relações entre número de árvores, diâmetro médio, área basal e volume foram observadas
e podem ser utilizadas para a construção de índices ou relações como medidas da densidade do
povoamento. Uma destas medidas é o Índice de Densidade do povoamento de Reinecke (IDR).
Reinecke (1933) propôs uma medida da densidade para povoamentos puros e equiâneos
independente da idade e da qualidade de sítio. Tal proposta baseou-se na observação empírica de
que, para um determinada espécie florestal, a relação entre o número de arvores por unidade de área
e o diâmetro quadrático médio dg de quaisquer povoamentos super estocados dispõem-se em uma
linha reta, quando plotada em um gráfico log-log (Figura 8). A equação desta reta mostrou que para
um grande número de espécies ela possui a mesma inclinação de –1,605, sendo sua expressão a
seguinte:

log N  1,605  log d g  k (Eq. 2)

onde:
N = número de árvores por unidade de área;
dg = diâmetro quadrático médio do povoamento; e,
k = constante que mede a elevação da curva para cada espécie.
O índice IDR é expresso como o número de árvores por unidade de área que possuem um
determinado dg. Em geral, no Sistema Internacional de medidas o diâmetro dg utilizado para realizar
as comparações é de 25 cm, decorrente da conversão do valor original de 10“, e a equação que
permite obter o índice IDR a partir dos dados de qualquer povoamento é dada a seguir:

1,605
 dg 
IDR  N  
 (Eq. 3)
 25 

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Desta maneira, um povoamento com 1.700 árvores por hectare e um dg de 20 cm possui


praticamente a mesma densidade (IDR = 1.188) que um povoamento da mesma espécie mas com
390 árvores por hectare e um dg de 50 cm (IDR = 1.186).

2173ral
Número de árvores por hectare [1/ha]

1927ral

1902ral

1900ral

1900ral
1900ral 1900ral
dg - Diâmetro quadrático médio [cm]

Figura 8: Curva de referência para a densidade máxima (IDR = 1800) e curvas para densidades
inferiores obtidas como proporções da densidade máxima (IDR = 541, 180, 90, 45). Os
pontos () localizados na reta vertical tracejada correspondente ao dg de 25 cm indicam os
valores do IDR de cada uma das linhas de iso-densidade (Adaptado de Daniel et al. 1982).

A grande utilidade do IDR é sua independência da idade e do sítio, aliada à vantagem de que
os necessários para sua obtenção, i.é. número de árvores por unidade de área e o diâmetro
quadrático médio dg, são de fácil obtenção.
A utilização do índice IDR no manejo florestal exige o conhecimento prévio das curvas
correspondentes às espécies analisadas. Neste sentido é preciso conhecer a localização da curva
máxima biológica da espécie, e principalmente das curvas de densidades máxima e mínima
desejadas, compatíveis com os objetivos do manejo florestal.
Pode-se observar na Figura 8 que cada uma das retas corresponde a uma densidade única,
indicando que todos os povoamentos cujo par densidade-dg se localize sobre a mesma reta, possuem
a mesma densidade do povoamento. A curva de densidade máxima observada (IDR = 1800) é
característica da espécie considerada, e não pode ser comparada com outras espécies, dado que um
mesmo par densidade-dg pode representar uma densidade alta para uma espécie, e baixa para
outra(s) espécie(s).

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2.3.2.2.6 Densidade relativa do povoamento

O índice de densidade desenvolvido por Drew e Flewlling (1979, citados por Davis e Johnson,
1987) é similar ao IDR mas leva em consideração, adicionalmente, o fato de que o crescimento em
volume de uma árvore está relacionado com sua altura tanto quanto com seu diâmetro. Estes autores
observaram, independentemente da qualidade de sítio, uma relação consistente o máximo volume
individual médio e o número de árvores por hectare em povoamentos naturais. O índice proposto
baseia-se nestes conceitos, e pode ser definido como segue:

Densidade do povoamento analisado 


 em número de árvores por hectare 
 
Densidade relativa do povoamento   (Eq. 4)
Densidade máxima atingível em um povoamento com 
o mesmo volume individual do povoamento analisado 
 

Dado que o volume é função tanto do diâmetro quanto da altura, através de uma série de
transformações a densidade, o diâmetro, a altura e o crescimento do povoamento podem ser
vinculados no que os autores denominaram diagrama de manejo de densidades, o qual deve ser
construído para uma espécie em particular.

2.3.2.2.7 Fator de Competição de Copas

Uma medida da densidade desenvolvida por Krajicek et al. (1961) representa a porcentagem
de uma determinada área que é coberta pela projeção vertical das copas que nela se desenvolvem.
Ela é calculada em três passos:
1) Associar o diâmetro da copa (DC) de árvores de crescimento aberto com o respectivo DAP;
2) Calcular a máxima área de copa (MAC) em metros quadrados, para cada árvore em um
hectare do povoamento analisado, como se todas as árvores tivessem crescimento aberto; e,
3) Somar a máxima área de copa de todas as árvores representativas de um hectare do
povoamento, dividir por 10.000 m 2, e multiplicar por 100. O valor obtido expressa, em
porcentagem, o Fator de Competição de Copas (FCC).

Assumindo uma relação linear entre o diâmetro de copa (DC) das árvores de crescimento
aberto e seu diâmetro (DAP), podem ser escritas as equações que representam estes três passos:

DCi  a  b  DAPi (Eq. 5)

MACi   DCi 2
2
(Eq. 6)

N   100 
FCC    MAC i 
  10.000 
(Eq. 7)

 i 1 

Um povoamento pode ter um FCC superior a 100% se ele possui um elevado número de
árvores por hectare e suas copas apresentam superposição. Isto se deve ao fato de que o FCC
assume que todas as árvores possuem uma copa equivalente a árvores com crescimento aberto,
para um determinado diâmetro. Na realidade, a competição reduz o tamanho das copas de todas as
árvores do povoamento, com a eventual exceção das maiores dominantes. O FCC é utilizado no
modelo PROGNOSIS, o qual será discutido mais adiante.

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2.3.2.3 Exemplo do cálculo da Densidade do Povoamento

Um inventário realizado em um povoamento de Pinus taeda gerou a estrutura apresentada na


Tabela 3. Um povoamento médio contendo 263 árvores por hectare foi inventariado. A partir da tabela
do povoamento resumida nas colunas (1) e (2) podem ser calculadas as medidas de densidade.
Inicialmente a área basal por hectare (20,10 m 2 ha-1), o volume por hectare (237,00 m 3 ha-1), e o total
das áreas de copa máximas MAC (8.040,44 m2 ha-1) expresso como metros quadrados por hectare
são calculados. Logo o volume da árvore média (0,9012 m 3), a área basal da árvore média (0,0764
m2), e o diâmetro quadrático médio dg (31,20 cm) são calculados. A partir deste conjunto de atributos
do povoamento podem ser obtidas as medidas da densidade como mostrado na Tabela 3.

Tabela do povoamento Área basal Volume Área de copa


* ** ***
DAP N Por árvore Por classe Por árvore Por classe Diâmetro MAC árvore MAC classe
[cm] [árv./ha] [m²] [m²] [m3] [m3] [m] [m2] [m2]
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9)
= (2) x (3) = (2) x (5) = (2) x (8)
15 5 0,02 0,09 0,05 0,27 3,00 7,07 35,34
17 7 0,02 0,16 0,10 0,71 3,40 9,08 63,55
19 9 0,03 0,26 0,16 1,46 3,80 11,34 102,07
21 10 0,03 0,35 0,24 2,38 4,20 13,85 138,54
23 15 0,04 0,62 0,33 4,92 4,60 16,62 249,29
25 19 0,05 0,93 0,43 8,23 5,00 19,63 373,06
27 26 0,06 1,49 0,55 14,41 5,40 22,90 595,46
29 37 0,07 2,44 0,69 25,60 5,80 26,42 977,57
31 29 0,08 2,19 0,85 24,55 6,20 30,19 875,53
33 25 0,09 2,14 1,02 25,46 6,60 34,21 855,30
35 22 0,10 2,12 1,21 26,58 7,00 38,48 846,66
37 18 0,11 1,94 1,42 25,49 7,40 43,01 774,15
39 16 0,12 1,91 1,64 26,28 7,80 47,78 764,54
41 14 0,13 1,85 1,89 26,43 8,20 52,81 739,34
43 9 0,15 1,31 2,15 19,37 8,60 58,09 522,79
45 2 0,16 0,32 2,44 4,87 9,00 63,62 127,23
263 20,10 237,00 8.040,44

Tabela 2: Dados de inventário para uma povoamento representando um hectare.

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237,00
Volume da árvore média Vi   0,9012 m3
263
20,10
Área basal da árvore média g   0,0764 m²
263

Diâmetro quadrático médio d g 


20,10 263  40.000  31,20 cm

Medida de densidade Obtenção da medida Valor calculado


1. Número de árvores por hectare: Da tabela acima 263 árvores
2. Área basal por hectare: Da tabela acima 20,10 m2
3. Densidade relativa: DR  AB dg  20,10 0,3120 35,99
1,605 1,605
 dg   31,20 
4. Índice de Densidade de Reinecke: IDR  N    263  375
 25   25 
 
 N 
  8.040,44 
5. Fator de Competição de copas:

FCC  
  MACi   
  10.000 
 80 %
 i 1 
* Área basal por árvore =   DAP2 40.000
** Volume por árvore =  0.0062  0.00004DAP2h
*** Diâmetro de copa = 0,2  DAP

Tabela 3: Cálculo de várias medidas de densidade para uma povoamento representando um hectare.

2.3.2.4 Utilização do espaçamento para o Controle da Densidade

Padrões de espaçamento especificados em função do diâmetro ou da altura são


frequentemente utilizados para orientar desbastes, no sentido de determinar a densidade desejada
nos povoamentos. Dado que o espaço atualmente ocupado ou requerido pelas raízes e copas das
árvores individuais é difícil de estabelecer, podem ser estimadas relações médias. De maneira geral,
as árvores ocupam e requerem espaço proporcionalmente ao seu tamanho. Portanto, os diagramas e
figuras de espaçamento são baseados em alguma medida do tamanho das árvores, a qual pode ser o
diâmetro, a altura, altura da copa, ou volume da copa.
A densidade medida como área basal pode ser expressa em termos do diâmetro médio das
árvores e do número de árvores por hectare. Assim, por exemplo, suponha que há interesse em
deixar 20 m2 de área basal em pé após um desbaste. Qual o número de árvores e o espaçamento
médio entre elas necessário para obter a densidade desejada? Se o diâmetro quadrático médio dg do
povoamento for de 23,94 cm (área transversal de 0,0450 m 2), então 20/0,045 = 444 “árvores médias”
deverão ser deixadas em pé. A área média de espaço a ser ocupada por cada árvore remanescente
é de 10.000 m2/444 árv. = 22,52 m 2/árv., de modo que supondo que o arranjo das árvores no
povoamento tende a um espaçamento regular como se fosse um plantio, o espaçamento médio entre
as árvores remanescentes deverá ser de 22,52 m 2 = 4,75 m. Para um dg = 26,46 cm, a densidade
após o desbaste deverá ser de 364 árvores, o que corresponde a um espaçamento médio de 5,24 m
entre as árvores remanescentes.
É claro que as árvores da floresta não se distribuem segundo padrões geométricos. Até
mesmo nos plantios, cujo espaçamento inicial geralmente segue um padrão geométrico, após a
primeira intervenção passa a ter um espaçamento irregular. Nas florestas naturais esta irregularidade
é ainda maior. Fatores microclimáticos, desigualdades no solo, efeitos alelopáticos, dentre outros, são
os responsáveis pelo arranjo irregular observado nestas florestas.

A razão espaçamento-diâmetro. Como uma regra prática de campo, por vezes é conveniente
expressar o espaçamento diretamente como uma razão do diâmetro. Desta maneira, o espaçamento
médio em um arranjo quadrado pode ser relacionado com a área basal e com o diâmetro médio do
povoamento a partir das seguintes equações:

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 D2 G  40.000
G N N  (Eq. 8)
40.000  D2

10.000 10.000
espq  N  (Eq. 9)
N espq2

espq espq
C  espq  C  D  D  (Eq. 10)
D C

onde:
G = área basal do povoamento em m 2 ha-1;
N = densidade do povoamento em árv. ha-1;
D = diâmetro médio do povoamento em cm;
espq = espaçamento das arvores em metros em um arranjo quadrado; e,
C = razão entre o espaçamento [m] e o diâmetro [cm] (adimensional).

Por exemplo, se o diâmetro médio do povoamento for de 15 cm e a área basal desejada


para o povoamento é de 20 m 2 ha-1, o espaçamento médio em um arranjo quadrado deve ser de 2,97
m (eqs. 8 e 9), o que gera um valor de C = 2,97/15 = 0,20. Se o diâmetro for de 20 cm, para garantir a
mesma área basal de 20 m2 ha-1 deve-se ter um espaçamento médio de 4 m, o que gera um valor de
C = 4/20 = 0,20. Para uma área basal específica, a razão entre o diâmetro do povoamento em
centímetros e o espaçamento em metros é uma constante.

2.3.2.5 Determinação da Densidade desejável

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3 MODELOS DE CRESCIMENTO E PRODUÇÃO FLORESTAIS

A estimativa do crescimento é uma etapa essencial no ordenamento florestal. Qualquer


planejamento implica na predição do crescimento e da produção. A administração da produção
florestal possui similaridade com a administração da produção de produtos manufaturados. Em ambas as
atividades, determinados níveis dos insumos ao processo produtivo geram saídas precisas e ganhos ou
perdas para a empresa. As decisões ótimas com respeito aos níveis destes insumos, ao momento e à
intensidade das intervenções, e outras modificações ao processo requerem predições acuradas das
saídas para quaisquer combinações relevantes destes insumos, momentos, intensidades e modificações
do processo.
Uma grande quantidade e variedade de modelos de produção florestal estão hoje disponíveis,
representando uma combinação até frequentemente confusa de opções. Tradicionalmente, no caso do
manejo florestal, a predição da produção tem sido feita através das Tabelas de Produção, publicadas em
revistas e textos florestais especializados, que consistem em registros tabulares e gráficos mostrando
volumes esperados de madeira por unidade de área para combinações de características mensuráveis
do povoamento florestal, como idade, qualidade do sítio, densidade. Posteriormente, com a capacidade
de avaliar povoamentos com diferentes níveis de densidade, a extensão e a complexidade das
publicações aumentaram, levando aos pesquisadores a publicarem somente as equações, sendo as
tabelas e gráficos gerados posteriormente conforme iam sendo requeridos. Hoje em dia a maioria dos
sistemas de predição da produção florestal são expressos como equações matemáticas ou sistemas de
equações interrelacionadas, de modo que podem ser utilizados computadores para gerarem as saídas
de quaisquer combinações factíveis dos insumos. A evolução dos modelos de produção florestal atinge
atualmente sua máxima complexidade nos modelos para árvores individuais, os quais diretamente são
representados por programas de computador, contendo equações complexas e algoritmos
especificamente desenvolvidos para sua resolução.

3.1 AS EQUAÇÕES NA MODELAGEM DA PRODUÇÃO FLORESTAL

Os modelos de crescimento e produção florestais são relações entre a quantidade de


produção ou crescimento de uma determinada área florestal e os fatores que explicam ou predizem
este crescimento. Tais relações geralmente são estabelecidas na forma de equações, e estas
equações podem ser de forma implícita ou explícita, e lineares ou não lineares em suas relações.
Portanto, é conveniente neste ponto do aprendizado revisar brevemente alguns conceitos vinculados
à formulação, ajuste e utilização destas equações.

Equações implícitas e explícitas.


A relação entre as variáveis é implícita quando as variáveis na equação são definidas e a(s)
variável(is) dependente(s) identificada(s), mas a relação não é quantificada. Por exemplo, a expressão

Y  f (S , I )

onde Y = produção por hectare de povoamentos equiâneos de Pinus taeda, em metros cúbicos
S = índice de sítio aos 15 anos de idade, em metros
I = idade após o plantio, em anos

é uma equação implícita. Ela indica que a produção depende de ou está relacionada com a qualidade
do sítio e com a idade. Esta equação não sugere nenhum valor numérico para a variável Y dados
valores para as variáveis S e I.
A equação se torne explícita quando esta relação é especificada. Uma equação de produção,
escrita explicitamente, é

Y  S[ I  0,07( I  20)]

a qual nos informa exatamente qual a produção para uma qualidade de sítio e idade dados.

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Equações lineares e não lineares.


Uma equação linear típica pode ser representada pela expressão implícita do custo

CT  c1 x1  c2 x2

onde CT = custo total, em reais (R$) – a variável dependente


x1, x2, x3 = número de hectares plantados por métodos manuais ou mecanizados,
respectivamente – as variáveis independentes
c1, c2 = custos em reais por hectare para os métodos manual e mecanizado,
respectivamente

Esta última equação é dita ser linear por estarem todas suas variáveis elevadas à primeira
potência, e a taxa de variação da variável dependente está linearmente relacionada com as variações
das variáveis independentes. Se a variável dependente é plotada contra qualquer uma das variáveis
independentes, uma linha reta é o resultado.
As equações são não lineares quando os expoentes de pelo menos uma das variáveis
independentes é diferente de 1, ou quando ocorrem duas ou mais variáveis independentes no mesmo
termo da equação. Alguns exemplos de equações não lineares são dados a seguir:

R  100Q  0,25Q 2
Y  c1 x1  c2 x24
TC  c1 x1  c 2 ( x1 x2 )  c3 x2

Alguns autores (Draper e Smith, 1982; Pimentel Gomes, 1992) utilizam como critério de
classificação das equações lineares e não lineares os parâmetros das mesmas. Desta maneira, uma
equação é dita ser não linear se e somente se algum de seus parâmetros (a, b, c, ou b0, b1, b2)
aparece como expoente em algum termo da equação. Os seguintes exemplo ilustram esta situação:

Y  aX b Equação multiplicativa

S 1  e b3ti b1S 2 
b

HT    Modelo de Weibull para HT


1  e b3ti
b1S b2
 

sendo que a equação do polinômio de segundo grau Y  a  bx  cx pode ser considerada como
2

uma equação linear nos parâmetros, apesar de possuir uma de suas variáveis independentes
elevada ao quadrado. O critério empregado por estes autores baseia-se no método de regressão que
pode ser empregado na resolução das equações. O método clássico dos mínimos quadrados (MMC)
permite ajustar equações lineares de primeiro, segundo, e demais graus. Já as expressões dadas
acima requerem de um método não linear, como por exemplo o Algoritmo de Marquardt, para sua
resolução, a menos que a expressão possa ser linearizada e resolvida pelo MMC, como é o caso da
equação multiplicativa.

3.2 CLASSIFICAÇÃO DOS MODELOS DE CRESCIMENTO E PRODUÇÃO

A classificação dos modelos de crescimento e produção pode ser realizada com diversos
critérios e finalidades, mas muitos autores (Davis e Johnson, 1987; Clutter et al., 1983; Vanclay,
1994; Sanquetta, 1996) concordam em separar os seguintes grupos de modelos:
1) modelos para o povoamento como um todo;
2) modelos por classes de tamanhos; e,
3) modelos para árvores individuais.

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Na Tabela 4 é apresentada a classificação dos modelos de crescimento e produção proposta


por Davis e Johnson (1987), que possui grande semelhança com as classificações sugeridas por
Vanclay (1994) e Clutter et al. (1993).

Tabela 4: Classificação dos modelos de crescimento e produção

Equações implícitas no modelo,


Modelo de crescimento e produção
relações primárias e variáveis
I. Modelos para o povoamento como um todo
A. Modelos independentes da densidade
1. Tabelas de produção normais VI = f (I, S)
2. Tabelas de produção empíricas para
VI = f (I, S)
povoamentos médios
B. Modelos de densidade variável *
1. Predição do volume atual V1
a. Modelos explícitos
VI = f (I, S, D)
(Modelo de Schumacher)
f (di)1 = f (I, S, D)
b. Modelos implícitos (distribuição diamétrica) vi = f (di)
V1 = i vi (n di)1
2. Predição do crescimento futuro g12 e do
volume V2
a. Modelos explícitos
g12 = f (S, I, D1)
i. Predição direta do crescimento
V2 = V1 + g12
D2 = f (S, I1, I2, D1)
ii. Predição da densidade do povoamento V2 = f (S, I2, D2)
g12 = V2 – V1
D2 = f (S, I1, I2, D1)
f (di)2 = f (S, I2, D2)
b. Modelos implícitos (distribuição diamétrica)
V2 = i vi (n di)2
g12 = V2 – V1
II. Modelos para classes de diâmetros
(n di)2 = f [(n di)1, INCR]
A. Projeções empíricas das tabelas de povoamento V2 = i vi (n di)2
g12 = V2 – V1
(n di)2 = f [(n di)1, S, P12, D1]
B. Modelos de crescimento por classes diamétricas vi = f (di)
(Sispinus, Matriz de Transição) V2 = i vi (n di)2
g12 = V2 – V1
III. Modelos para árvores individuais
CCIk = f [DISTk, D1, S, (dk, hk, ck)1]
(dk, hk, ck)2 = f [CCIk, D1, S, (dk, hk, ck)1]
A. Distância dependentes vk = f (dk, hk)
V2 = k (dk)2
g12 = V2 – V1
CCIk = f [D1, S, (dk, hk, ck)1]
(dk, hk, ck)2 = f [CCIk, D1, S, (dk, hk, ck)1]
B. Distância independentes vk = f (dk, hk)
V2 = k (dk)2
g12 = V2 – V1
* Para povoamentos inequiâneos, a variável idade I, deve ser substituída pela variável P12

onde:
D1 = densidade atual do povoamento
D2 = densidade do povoamento ao término do período de crescimento
i = classe diamétrica
f (di)1 = função atual de distribuição diamétrica
f (di)2 = função de distribuição diamétrica ao término do período de crescimento

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VI = volume do povoamento na idade I


V1 = volume atual do povoamento
V2 = volume do povoamento ao término do período de crescimento
g12 = crescimento do povoamento durante um período de crescimento
vi = volume médio por árvore da classe diamétrica i
di = diâmetro da classe diamétrica i
ndi = número de árvores da classe diamétrica i
(ndi)1 = ndi no início do período de crescimento
(ndi)2 = ndi ao término do período de crescimento
INCRi = medição empírica do crescimento periódico das árvores da classe
diamétrica i
k = árvore k
dk = diâmetro da árvore k
hk = altura da árvore k
ck = tamanho da copa da árvore k
CCIk = índice de competição de copas para a árvore k
DISTk = distâncias registradas entre a arvore k e suas vizinhas
(dk, hk, ck)1 = diâmetro, altura e tamanho da copa da árvore k no início do período de
crescimento
(dk, hk, ck)2 = diâmetro, altura e tamanho da copa da árvore k ao termino do período de
crescimento

Alguns autores vão ainda além e reconhecem algumas categorias adicionais para a
classificação dos modelos, como as descritas a seguir:

 Modelos empíricos e modelos mecanísticos


 Enquanto os modelos empíricos tentam explicar o que ocorre, enfatizando a qualidade de
ajuste dos dados e das projeções, os modelos mecanísticos visam obter, sem considerar
demasiadamente o ajuste das predições, como funciona um sistema e porque determinados
processos ocorrem.
 Modelos estáticos e modelos dinâmicos
 Os modelos dinâmicos, a diferença dos estáticos, permitem estudar e analisar alterações na
história do povoamento, ou seja nos regimes de manejo.
 Modelos determinísticos e modelos estocásticos
 Os modelos determinísticos geram saídas únicas, de modo que a partir dos mesmos insumos
o modelo produz sempre os mesmos resultados. Já os modelos estocásticos levam em
consideração de certa forma a variabilidade dos dados e a probabilidade de ocorrência de
determinados eventos.
 Modelos espaciais e modelos não espaciais
 Nos modelos espaciais é explicitamente considerada a distribuição espacial (distância ou
perfil) das árvores.

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4 DESBASTES

A produção de um povoamento depende basicamente de três grupos de fatores:

1. fatores genéticos;
2. qualidade de sítio; e,
3. tratamentos.

Deste grupos de fatores, os dois primeiros são preponderantemente inerentes à Silvicultura.


A escolha do material genético e a implantação dos povoamentos florestais são problemas
Silvicultura. Porém, o manejador não pode descuidar estes aspectos, por depender deles nada
menos do que a produção da floresta, que é o objetivo último do Manejo Florestal. Mas um dos
principais problemas do manejo florestal é a escolha dos tratamentos adequados para cada
povoamento, tendo sempre em vista os objetivos de produção da empresa.
Uma vez que o povoamento florestal está estabelecido, sua produção pode ser basicamente
influenciada através de três maneiras:

a) melhoramento das condições ecológicas (adubação, subsolação, etc.);


b) aprimoramento da qualidade das próprias árvores (poda); e,
c) corte de parte das árvores, melhorando desta maneira as condições no que se refere à luz, água
e nutrientes para as árvores remanescentes. Esta prática é conhecida como desbaste

Chama-se desbaste a todos os cortes a partir do fechamento do povoamento (dossel) exceto


os cortes finais e os cortes com a finalidade de regeneração. O desbaste é o tratamento mais
eficiente para influenciar na produção florestal, tanto quantitativa como qualitativamente, de que
dispõe o manejador florestal.

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5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ahrens, S., 1992. A seleção do ótimo regime de desbastes e da idade de rotação, para
povoamentos de Pinus taeda L., através de um modelos de programação dinâmica. Tese
(Doutorado em Ciências Florestais), UFPR, Curitiba, Brasil. 189 p.
Beers, T. W., 1962. Components of forest growth. J. Forestry, 60: 245-248.
Burger, D., 1976. Ordenamento Florestal I: a produção florestal. 2ª Ed. UFPR, Curitiba, Brasil. 154
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Clutter, J. L.; Fortson, J. C.; Pienaar, L. V.; Brister, G. H. e Bailey, R. L., 1983. Timber management:
a quantitative approach. John Wiley & Sons, USA. 333 p.
Daniel, P. W., Helms, U. E. e Baker, F. S., 1982. Principios de silvicultura. Ed Mc Graw Hill. México.
492 p.
Davis, L. S. e Johnson, K. N., 1987. Forest management. 3rd Ed. McGraw Hill Book Co. USA. 790 p.
Draper e Smith, 1982. Applied regression analysis, 2nd edition. McGraw-Hill. ??? p.
Husch, B.C.; Miller, C.I. e Beers, T.W., 1982. Forest Mensuration. 3ª ed., Wiley, New York
Jones, R., 1969. Review and Comparison of Site Evaluation Methods. U.S Forest Service Research
Paper RM-51.
Leuschner, W. A., 1984. Introduction to forest resource management. John Wiley & Sons, Inc.
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Meyer, H.A., 1952. Structure, Growth, and Drain in Balanced Uneven-Aged Forests. J. Forestry, 50:
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Sanquetta, C.R., 1996. Fundamentos biométricos dos modelos de simulação florestal. FUPEF -
Série didática No 08. Brasil. 49 p.
Silva, J.N.M., 1996. Manejo Florestal. 2ª Ed. Embrapa, Brasília, Brasil. 46 p.
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Vanclay, J.K., 1984. Modelling forest growth and yield. Applications to mixed tropical forests. CAB
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