Vous êtes sur la page 1sur 82

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Educação e Humanidades


Faculdade de Educação

Felipe Lameu dos Santos

PRENDAS DO CORPO: EDUCAÇÃO FÍSICA E A CONSTRUÇÃO


DA NAÇÃO BRASILEIRA (RIO DE JANEIRO 1822-1840)

Rio de Janeiro
2019
Felipe Lameu dos Santos

PRENDAS DO CORPO: EDUCAÇÃO FÍSICA E A CONSTRUÇÃO


DA NAÇÃO BRASILEIRA (RIO DE JANEIRO 1822-1840)

Texto apresentado como requisito para


qualificação no Doutorado do Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro. Linha de
Pesquisa: instituições, Práticas Educativas e
História.

Orientador: Prof. Dr. José Gonçalves Gondra

Rio de Janeiro
2019
Felipe Lameu dos Santos

PRENDAS DO CORPO: EDUCAÇÃO FÍSICA E A CONSTRUÇÃO DA NAÇÃO


BRASILEIRA (RIO DE JANEIRO 1822-1840)

Texto apresentado como requisito para


qualificação no Doutorado do Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro. Linha de
Pesquisa: instituições, Práticas Educativas e
História.

________________________ em 02 de Abril de 2019.

Banca Examinadora

Prof. Dr. José Gonçalves Gondra (Orientador)


Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Profª. Drª. Andrea Moreno


Universidade Federal de Minas Gerais

Prof. Dr. Edivaldo Góis Junior


Universidade Estadual de Campinas

Suplentes

Prof. Dr. Victor Andrade de Melo


Universidade Federal do Rio de Janeiro

Profª. Drª. Sonia de Oliveira Camara Rangel


Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro
2019
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Título das revistas, área e número de artigos selecionados .............. 24


Quadro 2 - Autores e pertencimentos institucionais. .......................................... 25
Quadro 3 - Autores e co-autores. ........................................................................ 25
Quadro 4 - Região estudada. ............................................................................... 27
Quadro 5 - Capítulos do Tratado de Melo Franco. ............................................. 50
Quadro 6 - Artigos do capítulo oito. ................................................................... 50
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gravura do modelo da Ordem Imperial do Cruzeiro (PINHEIRO, 1884). ... 37


Figura 2 - anúncio de Tratado de educação physica (1836a). ........................................ 44
Figura 3 - Anúncio de Tratado de educação physica e moral dos meninos (1836d)...... 44
Figura 4 - Capa do Tratado de Mello Franco (FRANCO, 1789). .................................. 49
Figura 5 - Reencenarão da primeira demonstração pública de retirada de tumor com
anestesia geral por éter, Boston, 1846 (TEIXEIRA; EDLER, 2012). ............................ 54
SUMÁRIO

1 – Apresentação .............................................................................................................. 7

2 – As educações físicas em construção ......................................................................... 19

2.1 – A batalha nas páginas do Jornal do Commercio................................................ 19

2.2 – Questões para a historiografia ........................................................................... 23

2.3 – Os impressos sobre educação física: do útil ao agradável e vice-versa............. 36

2.4 - A voz da natureza: o Tratado de Francisco de Mello Franco............................. 48

2.5 – Os projetos de educação física em jogo............................................................. 59

3 – Planejamento para a tese .......................................................................................... 66

Referências Documentais ............................................................................................... 72

Referências Bibliográficas .............................................................................................. 76


1 – Apresentação

Essa tese em andamento tem como preocupação central refletir como os debates
em torno da educação física podem dar indícios para compreender o processo de
construção da nação brasileira nas primeiras décadas do Brasil independente, tendo
como foco as discussões ocorridas no Rio de Janeiro. Trata-se em pensar a capacidade
heurística da educação física para entender os processos sociais e culturais envolvidos
nos projetos de Brasil nação no século XIX. Metodologicamente, tentaremos apresentar
a educação física como porta de entrada para compreender a sociedade e a cultura, pois
a entendemos enquanto prática social, cultural e histórica que pode oferecer pistas das
ações dos homens no tempo e no espaço.

Esse, contudo, não foi o objetivo inicial no processo de doutoramento.


Inicialmente, a proposta era compreender a educação física dentro das Culturas
Escolares na cidade do Rio de Janeiro na década de 1870. Essa questão nasceu a partir
das perguntas não respondidas durante a pesquisa de mestrado em que estive
preocupado com as propostas para higienizar a população por meio da educação física
defendidas por parte da medicina nos anos de 1870 até 18921. Na dissertação, estava
convencido de que a educação física era defendida por parte dos médicos como
ferramenta higiênica em diversos espaços educativos tendo como um dos principais a
escola. Dentro dos limites do trabalho de mestrado, uma questão não respondida foi
como a educação física foi apreendida dentro do cotidiano das escolas desse período?

Com a questão nascida ao final do mestrado, me parecia pertinente seguir o


caminho de busca da educação física dentro das escolas durante o doutoramento nos
anos de 1870 e 1892. Uma ferramenta escolhida para esse processo foi compreender as
embates, circularidades e disputas em torno da construção de uma cultura escolar da
educação física no Rio de Janeiro do período.

A partir dessa questão, a tarefa inicial da pesquisa de doutoramento foi realizar


uma consulta aos arquivos de impressos periódicos publicados durante o século XIX em
busca de escolas em que a educação física estivera presente. Ao navegar pelos arquivos,
novos ventos, animados pela documentação, mudaram o rumo dessa pesquisa. Nas
páginas dos impressos periódicos, chamava atenção as discussões em torno da educação

1
SANTOS, 2016.

7
física como uma das condições para a construção de projetos de nação brasileira. A
partir do trabalho com a empiria o interesse da pesquisa foi deslocado para como a
educação física poderia ajudar a entender a construção da nação brasileira.

Durante a processo de consulta aos arquivos, recuei décadas no recorte até


encontrar a primeira aparição do termo educação física. Essa primeira aparição ocorreu
nos debates para a construção da primeira Constituição do Brasil independente. A partir
disso, parti da hipótese de que os processos de independência poderiam ser um marco
importante para a construção da nação por meio da educação física. Isso dá o início do
nosso horizonte de pesquisa, o ano de 1822.

Durante o período do Primeiro Reinado e, em especial, durante as Regências,


diversos projetos de nação, Estado, política e Brasil estiveram em disputadas nas
diversas regiões do território brasileiro sobre os rumos que a nação deveria tomar. Uma
maior estabilidade ocorre a partir da década de 1840, ano da antecipação ou golpe da
maioridade de Pedro II, em que um projeto centralizado na figura de Pedro II deu maior
estabilidade ao Brasil até a década de 1870. Nesse trabalho, nosso horizonte de pesquisa
se encerra, assim, no ano de 1840. Pois entendo que até esse ano foi o período de maior
disputa de projetos de Brasil nas primeiras décadas do Brasil independente.

Mesmo considerando o processo de independência como um marco inicial, não


estou defendendo uma data de nascimento da nação brasileira, mas sim que a partir dos
processos de independência os debates em torno dessa questão começam a ganhar
contornos mais claros na documentação pesquisada. Também não quero dizer que a
independência e a construção da nacionalidade são processos similares ou convergentes.
Como demonstra a historiografia recente, são processos diferentes, mas que guardam
algumas relações entre si.

O ponto inicial para a discussão sobre o processo de construção da nação


brasileira seria tentar apresentar um conceito operacional de nação. Para isso, a partir da
leitura de Hobsbawm2, trabalho com a ideia de que as nações não são entidades sociais
originárias ou imutáveis e, que tão pouco, critérios como a língua, o território e a etnia
combinados definem uma nação. Trabalho com a ideia de que nações não existem por
si, elas são construídas historicamente em um período específico da história, a
modernidade.

2
HOBSBAWM, 1990.

8
Além das ideias apresentadas de Hobsbawm, o conceito de nação trabalhado
nessa pesquisa será baseado em Anderson 3 : a nação é uma comunidade política
imaginada, limitada e soberana. Dentro de um espírito antropológico, a nação é uma
invenção. Isso não quer dizer que ela é falsa, não estou trabalhando com a oposição
falsidade/autenticidade, mas sim que não existem nações ‘verdadeiras’, pois qualquer
nação é fruto de um processo imaginado e o que distingue uma nação da outra é o estilo
e os recursos que laçam mão para serem imaginadas.

Elas são sempre imaginas porque, segundo Anderson, “os membros da mais
minúscula das nações jamais conhecerão, encontrarão ou nem sequer ouvirão falar da
maioria dos seus companheiros, embora todos tenham em mente a imagem viva da
comunhão entre eles 4”. Além de imaginadas, elas são imaginadas coletivamente. As
pessoas pertencentes a uma nação percebem a si próprias como parte de um grupo muito
maior do que elas. Independente das desigualdades que possam existir dentro da nação,
ela é concebida como uma camaradagem horizontal.

A nação é limitada. Mesmo a maior delas, que agregue o maior número possível
de membros, possui fronteiras finitas, ainda que sejam elásticas, e, além dessas
fronteiras, existem outras nações. A nação é sempre uma categoria relacional, só existe
a partir do outro. Segundo Anderson, nenhuma nação “imagina ter a mesma extensão da
humanidade. Nem os nacionalistas mais messiânicos sonham com o dia em que todos os
membros da espécie humana se unirão à sua nação”5.

A nação é soberana e sonha em ser livre. A garantia e o emblema dessa


liberdade se dão pelo Estado soberano. Não um estado legitimado pela ordem
hierárquica divina. Mas um Estado que nasce na época em que a legitimidade do reino
dinástico hierárquico de ordem divina estava em xeque e amadurece numa fase da
histórica em que as religiões universais se defrontam com o pluralismo de suas
manifestações6.

3
ANDERSON, 2008.

4
ANDERSON, 2008, p.32.

5
ANDERSON, 2008, p.34.

6
ANDERSON, 2008.

9
A partir do que foi posto, penso que, a partir de 1822, podemos inscrever o
processo de construção da nação brasileira nas cores de uma comunidade política
imaginada 7 . O foco nessa pesquisa será nos embates, disputas e permanências dos
projetos de nação brasileira durante os primeiros anos do Brasil independente. Isso quer
dizer que a imaginação de uma comunidade política brasileira, em que seus membros se
sentem parte de uma mesmo coletividade por acreditarem guardar semelhanças
culturais, históricas e territoriais foi um processo de invenção e que a educação física
pode dar pistas desse processo.

A construção da nação brasileira foi um problema histórico dos contemporâneos


do processo. Sobre esse projeto, uma famosa frase de um viajante francês chamado
Auguste de Saint-Hilaire que passou pelas terras brasileiras na primeira metade do
século XIX, sintetiza uma problemática do Brasil pós-independência: “havia um país
chamado Brasil, mas absolutamente não havia brasileiros”8. Como tentativa de solução
para essa problemática, a história foi uma das ferramentas utilizadas. Desde o século
XIX, esforços ligados ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB),
especialmente dos trabalhos de Francisco Adolfo Varnhagem 9 , são exemplos desse
projeto. Essa interpretação buscava a ideia de uma identidade brasileira anterior aos
eventos de 1822. Dessa forma, para essa interpretação, se gestou um sentimento de
nacionalidade brasileira durante três séculos de colonização, a culminar na emancipação
em 1822.

Na década de 1930 a interpretação sobre a independência e a construção da


nação brasileira ganha novos contornos. Caio Prado Junior e Sérgio Buarque de
Holanda são nomes marcantes dessa outra possibilidade de interpretação. Com entradas
diferentes, esses autores trazem para o debate a problemática de que a identidade
brasileira não ocorreu pela simples separação política de Portugal e nem era um
sentimento anterior aos eventos de 1822. Esse olhar hoje movimenta grande parte da
historiografia preocupada com a questão da independência.

7
ANDERSON, 2008.

8
SCHWARCZ, 1998, p.60.

9
As reflexões desse e dos próximos dois parágrafos podem ser conferidas em Costa (2005).

10
Na historiografia recente, os processos de independência tendem a ser
interpretados em dois grandes vetores. Num primeiro, a independência brasileira estava
ligada ao contexto de falência do modelo colonial mercantil. Outro vetor, pensa os
processos ligados aos fatores internos, relacionados com a chegada da Família Real em
terras americanas em 1808, fator que fez com que diversos grupos portugueses
enraizassem seus interesses na colônia. Interesses que foram postos em risco pela
Revolução Liberal do Porto colocando, em lados opostos, grupos portugueses nos dois
lados do atlântico. Tendemos a nos filiar mais ao segundo vetor.

Desde pelo menos 1808, dentro do território brasileiro, interesses também


estiveram em disputa entre grupos regionais, o que fez com que a independência não
ocorresse de forma uniforme 10 . Regiões do Norte e Nordeste estiveram do lado dos
portugueses de Portugal, em contraponto, aos grupos das regiões Sudeste e Sul o que
colocava em disputas os diversos projetos do Estado para o Brasil, disputados que se
acentuaram durante a década de 1820. Ao mesmo tempo, ocorria a disputa sobre os
rumos da construção de uma identidade brasileira, ou poderíamos dizer, da
transformação de uma identidade luso-americana em brasileira. A essa construção,
somava-se todo elenco de identidades políticas que já coexistiam, por vezes, de forma
incompatível entre si e com o projeto de construção da nação11.

Diversos projetos de constituição da nacionalidade brasileira são colocados em


jogo a partir de 1822. Nessa pesquisa, vamos pensar como a educação física pode dar
indícios para compreender esse processo e as disputas. Para isso, a primeira questão que
buscaremos responder é: quais eram os entendimentos de educação física e como
circulavam as propostas inscritas naquele contexto social e cultural. Para responder essa
12
questão, os principais documentos transformados em fontes foram impressos
periódicos diversos publicados na cidade do Rio de Janeiro.

Os impressos periódicos são documentos propícios para o problema levantado,


pois se constituíram como um espaço em que forças e agentes intervinham no espaço
público do Rio de Janeiro do século XIX13. Nesse sentido, ilustre são as crônicas de

10
SILVA, 2011

11
JANCSÓ, 2008.

12
LARA, 2008.

13
MOREL, 2005.

11
Machado de Assis14 em que ele defende o caráter sedicioso dos jornais. Para ele, todas
as mudanças tem sua origem na palavra, “o verbo é a origem de todas as reformas”15. E
a discussão e a sentença de morte de todos os “falsos princípios”. O jornal seria a
ferramenta em que a palavra e a discussão ocorreriam na sociedade, pois segundo ele:

A primeira propriedade do jornal é a reprodução amiudada, é a derramamento


fácil em todos os membros do corpo social. Assim, o operário que se retira ao
lar, fatigado pelo labor quotidiano, vai lá encontrar ao lado do pão do corpo,
aquele pão do espírito, hóstia social da comunhão pública. A propaganda
assim é fácil; a discussão do jornal reproduz-se também naquele espírito
rude, com a diferença que vai lá achar o terreno preparado. A alma torturada
da individualidade ínfima recebe, aceita, absorve sem labor, sem obstáculos
aquelas impressões, aquela argumentação de princípios, aquela arguição de
fatos. Depois uma reflexão, depois um braço se ergue, um palácio que se
invade, um sistema que cai, um princípio que se levante, uma reforma que se
coroa16.

O jornal era, em sua reflexão, uma revolução literária, social e econômica17. Era
a literatura comum, universal, reproduzida todas os dias, veloz como o século XIX e
“levando em si a frescura das ideias e o fogo das convicções”18. Esse parecia ser o
principal papel da imprensa no Brasil durante o período do Primeiro Reinado e no
Período Regencial19. O que faz com que os impressos periódicos sejam uma entrada
oportuna para compreender e explicar os debates e discussões políticas em um contexto
como o do Brasil e do Rio de Janeiro no período pesquisado.

Um segundo aspecto que torna os periódicos impressos como um tipo


importante de documentação para essa pesquisa é que não busco nos documentos o
reflexo da realidade, mas sim indícios das relações sociais e culturais envolvidas na sua
produção e circulação e as possíveis representações de mundo materializas em suas
páginas. Como chama atenção Luca20, durante muito tempo se viu com desconfianças o
uso de impressos periódicos no trabalho em história, todavia, a partir de um novo olhar
14
CORREIO MERCANTIL, 1859; O ESPELHO, 1859.

15
O ESPELHO, 1859.

16
O ESPELHO, 1859.

17
CORREIO MERCANTIL, 1859.

18
CORREIO MERCANTIL, 1859.

19
ANDRADE, 2009; MOREL, 2005.

20
LUCA, 2011.

12
sobre o estatuto de verdade da documentação, em que ela não é vista como um espelho
da realidade e sim como uma produção envolvida em relações dos diversos grupos
sociais, esse tipo de documentação ganhou fôlego.

Ainda apoiado em Luca21, buscaremos na análise não observar apenas o que foi
escrito nos documentos. Estaremos atentos aos agentes envolvidos na publicação, a
ausência ou presença de imagens e sua natureza (caricaturas, paisagem, personagens
históricos e eventos, cenas cotidianas, crimes, tragédias etc), a organização das sessões,
os títulos e subtítulos, essas opções não são naturais, são elementos historicamente
criados e importantes para compreender o papel de tal impresso. Esses elementos ainda
indicam o tipo de leitor esperado e o público que se pretendia alcançar. Também é
preciso articular outros elementos na análise não imediatamente perceptíveis para
aqueles que navegam em suas páginas como sua circulação, periodicidade, objetivos
explícitos e implícitos, o grupo responsável e suas características, a linha editorial, o
público-alvo e as fontes de financiamento.

Também buscarei analisar os documentos periódicos impressos em sua diacronia


tentando não isolá-los em seu conteúdo. Durante as leituras e análises, buscou-se estar
atento as características da produção e circulação desses impressos22. Estive atento aos
outros periódicos disponíveis dentro de tal presente e a acontecimentos de fora do jornal
que poderiam se tornar significativos na escrita do texto. Nesse sentido algumas
questões importantes são: quais eram as opções disponíveis para um leitor
contemporâneo? Quais adversidades tais publicações enfrentaram naquele contexto?
Quais eram as possibilidades para se adquirir determinado impresso? Como circulavam
os impressos? Quais eram os protocolos de leitura?

A questão dos protocolos de leitura ganhou uma atenção especial nesse texto.
Um manual de educação física escrito em Portugal no século XVIII se tornou um
elemento importante na análise. Esse Manual é indicado como uma leitura importante
em alguns impressos periódicos pesquisados. A partir desses impressos periódicos, foi
possível encontrar indícios de uma leitura original desse manual. Entendendo que uma
vez produzido, o texto pode ter usos não previstos pelo seu autor23, esse manual ajuda a

21
LUCA, 2011.

22
CHARTIER, 1998.

23
CHARTIER, 1996.

13
compreender mais os projetos dos seus leitores no século XIX do que de seu autor no
século XVIII.

Durante todo o conjunto do texto, a entrada interpretativa foi inspirada em


Darnton24. Esse autor tenta mostrar não apenas o que se pensava em outros presentes,
mas como as pessoas pensavam, como interpretavam o mundo, conferiam-lhe
significado e lhe infundiam emoção. Para se alcançar tais objetivos, segundo ele, a
premissa do método é que a expressão individual ocorre dentro de um “idioma geral” de
que as pessoas aprendem a classificar as sensações e a entender as coisas. Esse “idioma
geral” é condicionado por estruturas fornecidas pela cultura. Cabe aos historiadores,
portanto, descobrir a dimensão social do pensamento, de extrair significação do que está
escrito nos documentos.

Para Darnton, a entrada nas formas de significação do mundo de outros


presentes é possível a partir da surpresa, do estranhamento, é naquilo que o historiador
não entende quando em contato com a documentação que está a entrada para o que ele
chama de “universos mentais estranhos”. Segundo ele, “quando não conseguimos
entender um provérbio, uma piada, um ritual ou um poema, temos a certeza de que
encontramos algo”25. Em seu livro O grande massacre de gatos e outros episódios da
História Social francesa26, no capítulo que trata do título de seu livro, ele apresenta o
episódio do massacre dos gatos ocorrido em uma gráfica na Rua Saint-Séverin, Paris,
durante o fim da década de 1730, narrado pelo operário Nicolas Contat. Um episódio,
visto por olhos do presente como de grande maldade, foi contato, recontado e encenado
como piada pelos operários das gráficas em tal contexto. A partir disso, Darnton
defende: “onde está a graça na encenação da morte de um animal indefeso? Aí mora o
lugar que o historiador deve olhar. Essa pergunta é um indício da nossa distância. Aí é o
lugar para compreender universos mentais estranhos”27.

A partir do massacre dos gatos, Darnton, vai do texto, ao contexto, e volta ao


texto para demonstrar como esse episódio ajuda a compreender a conformação mental

24
DARNTON, 1986.

25
DARNTON, 1986, p.xv.

26
DARNTON, 1986.

27
DARNTON, 1986.

14
dos operários na França pré-revolucionária. E a morte de uma gata em especial, La
Crise, gata da esposa do dono da gráfica, gata que foi julgada e morta em encenação
como se fosse uma feiticeira, mostrava as tensões cada vez maiores entre os estratos
sociais na França do Antigo Regime. Movimento similar tento fazer nessa tese em
andamento, como era possível se pensar em outras educações físicas dentro do período
pesquisado e como o estranhamento dos seus usos pode dar pistas para compreender
como se pensava a construção da nação brasileira.

Para essa tese, quando trato do termo educação física, não o limito a algo
necessariamente ligado ao exercício físico, a ginástica ou a uma disciplina escolar. A
partir da documentação e da historiografia28, defendo que a educação física, dentro do
contexto pesquisado, era uma intervenção sistemática sobre o corpo que poderia abarcar
uma ampla gama de aspectos que, muitas vezes, seguia o roteiro da higiene (meio
ambiente, clima, banho, alimentos, sono, hábitos, vícios e os exercícios físicos). Aqui
não se trata de negar o exercício físico como elemento da educação física, mas colocá-lo
entre as diversas medidas que poderiam ser tomadas como forma de intervenção
sistemática sobre os corpos.

Dentro do Brasil do século XIX, como demonstra Gondra29, não era consenso
que esse modo de intervenção sobre o corpo deveria ser chamado de educação física30.
Dentro do léxico daquele presente, termos como “educação corpórea”, “arte de
conservação dos meninos”, “educação medicinal” e “educação natural” também eram
possíveis para designar tal tipo de intervenção. Caso interessante sobre esse debate foi
citado por Gondra ao analisar uma Tese de doutoramento em Medicina da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro. Segundo ele:

Indicando a existência de uma tradição, Dr. Mello produz uma reflexão sobre
o debate em torno da designação mais adequada para tratar da educação do
corpo. Conforme observa, os autores que publicaram obras acerca desse tema
divergiam todos em relação à denominação que mais adequadamente
competia aplicar ao mesmo. Para Mr. Dessartz, deveria ser apelidado de
‘educação corpórea’; para Mr. Raulin, deveria chamar-se ‘arte de
conservação dos meninos’; Brouzet dava-lhe o nome de ‘educação
medicinal’; já Rousseau (‘o erudito e célebre autor d’Emilio’) a intitulava de
‘educação natural’; e Mr. Balexserd preferia a designação de ‘educação
physica’. Embora sugira que essa é uma questão da qual poderia declinar, o

28
A historiografia da Educação Física com que discuti nessa tese foi desenvolvida no item 2.2.

29
GONDRA, 2004.

30
A gráfica de época era educação physica.

15
Dr. Mello não se furta de ‘ponderar algumas razões’ sobre a mesma. Nesse
sentido, afirma que o termo educação ‘corpórea’, ao parecer ‘antípoda’ do
termo ‘moral’, somente conviria se fosse lícito fazer uma abstração completa
no momento em que prescreviam alguns ‘ditames’ relativos a uma boa
educação. Também recusava o ‘epitheto medicinal’, porque o mesmo
envolvia uma ideia de patologia e terapêutica sem abranger todas as bases
daquelas ciências. Acreditava igualmente que o emprego do termo ‘arte de
conservação dos meninos’ não abrangia a transcendência de uma educação
física bem dirigida, posto que o alvo nobre e grandioso não era simplesmente
voltado à conservação dos meninos, mas, conjuntamente, a fazê-los robustos,
vigorosos e morigerados, tornando-os dignos de preencherem as altas funções
que a sociedade e a pátria lhes atribuiriam para se tornarem ‘membros úteis e
cidadãos prestantes’. Finalmente, critica, com um pouco mais de precaução, o
emprego do termo ‘educação natural’, na medida em que o mesmo vinha
escudado na autoridade e valiosa contribuição de J. J. Rousseau.
Para ele, os que defendiam o uso desse termo escreviam para uma sociedade
civilizada e não levavam em conta que a autoridade em que se estribavam
havia concebido seu plano de educação de maneira muito especial e,
querendo formar um homem a seu contento, entendia que só o conseguiria
imitando passa a passo a natureza, como o próprio Rousseau exprimira.
Nesse sentido, Dr. Mello afirmava a inadequação do termo ‘educação
natural’ pelo fato de sua aplicação ser, em uma sociedade organizada, sem
dúvida inexequível em muitos pontos. Para ele, era claro que no século das
luzes não era possível servir-se desse vocábulo na acepção que o mesmo
supunha. Desse modo, aproxima-se da designação de Mr. Ballexserd, de
Gênova, que em dissertação apresentada em 1761 à Academia de Harlem,
designou as atividades corporais como ‘educação physica’31.

Para esse trabalho de doutoramento, concentro na educação física dentre as


formas possíveis de se designar a intervenção sobre o corpo, pois, a partir das pesquisas
nos arquivos, essa parece ser a designação mais usual.

Outro elemento importante é que essa educação física aparece articulada com
outras dimensões da educação buscando um processo de educação integral. Essa
educação integral, por vezes, era uma articulação da educação intelectual, moral e física,
outras vezes, como uma educação intelectual, moral, física e religiosa. Inicialmente, o
que interessa para apresentação desse trabalho é perceber que o corpo não era visto, por
aqueles que defendiam a educação física, de forma isolada, mas articulado com as
outras dimensões do ser humano. O corpo educado pela educação física estava dentro
de uma totalidade mais complexa do que a dimensão física e essa intervenção deveria
ser racionalizada a partir de certos saberes.

Ainda sobre a questão do termo educação física, no caso dessa pesquisa,


buscaremos entender a educação física como uma categoria de época e dentro do
contexto social e cultural em que ela foi produzida. A partir dos debates, disputas e

31
GONDRA, 2004, p.289-90.

16
continuidades dos projetos de educação física defendidos, buscaremos entender como
esses projetos refletiam e criavam projetos de nação brasileira que estavam em disputa
dentro do contexto pesquisado.

Dito isso, o que se queria defender ou construir com a educação física? Como
essas ideias circulavam? Com era a relação da educação física com a construção da
nação? Essas são as perguntas que busco trazer as primeiras respostas no capítulo aqui
apresentado.

Esse capítulo foi organizado em torno de um uso particular da educação física


dentro da discussão entre dois médicos que ganhou as páginas da imprensa. Essa
discussão tinha como tema um concurso da Faculdade de Medicina do Rio de janeiro e,
inicialmente, não guardava relação com a educação física. A partir desse uso particular
do termo na discussão o capítulo foi organizado em 5 subitens.

No primeiro, A batalha nas páginas do Jornal do Commercio, será apresentado


um caso de disputa de um concurso para Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em
que a educação física apresenta um uso pouco usual. A partir dessa entrada buscaremos
compreender o universo social e cultural que pode possibilitar a entrada do termo em tal
disputa. No segundo subitem, Questões para a historiografia, apresento uma discussão
historiografia como forma de apresentar parte do debate em que essa pesquisa se
inscreve buscando os usos do termo educação física dentro da historiografia pesquisada.
No terceiro subitem, Os impressos sobre educação física: do útil ao agravável e vice-
versa, demonstro alguns traços da circulação de impressos sobre a educação física, os
usos que propostos para essas leituras que transitavam entre o divertimento e a
utilidade. Também apresento algumas considerações sobre as traduções das obras sobre
educação física e o debate em torno do tema. No quarto subitem, A voz da natureza: o
Tratado de Francisco de Mello Franco, apresento uma obra escrito em Portugal no
século XVIII que se destacou durante o trabalho com a documentação e algumas
leituras feitas dela por médicos no Brasil nos anos de 1830. No quinto subitem, Os
projetos de educação física em jogo, faço uma análise preliminar de algumas propostas
de educação física inscritas na documentação pesquisada.

Além do capítulo descrito no paragrafo anterior, no Capítulo 3 indico algumas


possibilidades que vislumbro para os próximos dois anos de pesquisa e alguns caminhos
que pretendo seguir ao longo do doutoramento. Vale chamar atenção, que são apenas

17
propostas e que conto ainda com as contribuições e debates da qualificação para trilhar
os caminhos ao longo da segunda parte do processo do doutorado.

18
2 – As educações físicas em construção

2.1 – A batalha nas páginas do Jornal do Commercio

A história, ofício que tem o interesse pelo humano no tempo e no espaço; nas
mudanças e nas permanências32, tem desafios colocados a cada instante no seu fazer.
Um grande desafio é uma constatação colocada por Marc Bloch: “para grande desespero
dos historiadores, os homens não têm o hábito, a cada vez que mudam de costumes, de
mudar de vocabulário” 33 . Sua provocação instiga a pensar que os vocabulários são
construções históricas, sociais e culturais; criações humanas. O que torna os usos dos
vocabulários em um desafio e uma porta aberta para compreender outros presentes.

A partir da ideia de que os usos das palavras podem dar pistas das relações
sociais e culturais em que estão envolvidas e de que a história é uma construção feita a
partir de problemas construídos no presente34. Tenho coloca como questão as diversas
compreensões e usos da palavra educação física no Brasil da entre 1822 e 1840. Para
essa tese, tenho pensado na educação física, em sua complexidade e variedade, como
ferramenta para compreender os embates e disputas nos primeiros anos da construção da
nação e nacionalidade brasileira, ou poderíamos dizer, projetos de transformação de
uma identidade luso-americana em brasileira. Consciente da impossibilidade de abarcar
todos esses processos, focarei nos debates travados na província do Rio de Janeiro, em
especial, no município neutro.

Inspirado em Robert Darnton35, será realizado um processo de estranhamento


sobre o uso da educação física em tal discussão. Começo com uma polêmica entre dois
médicos e lentes substitutos da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro registrada na
sessão de cartas das páginas do Jornal do Commercio 36 . No ano de 1839, o lente

32
PROST, 2008.

33
BLOCH, 2002, P.59.

34
BLOCH, 2002; LE GOFF, 2013; PROST, 2008; CERTEAU, 1982.

35
DARNTON, 1986.

36
GARCIA, 1839a; 1839b; 1839c; AMERICANO, 1839a; 1839b; 1839c; 1839d; O RESPEITADOR DO
MERITO, 1839.

19
substituto Dr. José Mauricio Nunes Garcia, médico mestiço e filho de um padre 37 ,
tornou público o protesto feito por ele ao diretor da Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro para que, em suas palavras, “o tribunal da opinião pública, e meus amigos,
possam julgar do fato com conhecimento de causa, e me façam justiça após tanta
perseguição!”38.

A polêmica girava em torno da inscrição para um concurso de lente efetivo da


Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Segundo os Estatutos, para se inscrever no
concurso de lente efetivo era necessário ocupar o cargo de lente substituto. Por
circunstâncias que os documentos não deixaram claras, o Dr. José Mauricio Nunes
Garcia era o único inscrito no concurso para lente efetivo da Cadeira de Anatomia há
alguns meses. Apesar de sua inscrição, o concurso foi sendo adiado até o momento em
que, o recém aprovado para lente substituto, Dr. Domingos de Azevedo Americano,
inscreve-se no mesmo certame. Isso fez com que, no dia 20 de Julho de 1839, o Dr. José
Mauricio Nunes Garcia questionasse a legalidade da inscrição do Dr. Domingos de
Azevedo Americano. Para José Mauricio Nunes Garcia havia ocorrido uma engenharia
jurídica ilegal para que o recém lente substituto se inscrevesse e concorresse com ele39.
No final da sua primeira carta publicada no Jornal do Commercio, José Mauricio Nunes
Garcia, sobe o tom:

atropelando-se os direitos garantidos do recorrente [Garcia] na constituição


[...] a Faculdade se constituiu curadora de seus direitos [de Americano], a
despeito dos do recorrente, com notória parcialidade, provando, como fica,
que todas as circunstâncias que parecem produzir em favor dele [...]40.

Somado ao protesto do Dr. José Mauricio Nunes Garcia, uma segunda carta
assinado pelo anônimo “O Respeitador do Mérito”41, dá mais elementos para pensar a
disputa entre os dois médicos. Segundo “O Respeitador do Mérito”, a reclamação de
José Mauricio Nunes Garcia também tinha sido feita na Revista Medica Fluminense,

37
PINTO, 2012; ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA, 2018.

38
GARCIA, 1839a, p.2.

39
GARCIA, 1839a

40
GARCIA, 1839a, p.2-3.

41
O RESPEITADOR DO MERITO, 1839.

20
entretanto seu redator optou por não dar juízo ao reclame sem antes ouvir a Faculdade
de Medicina do Rio de Janeiro. Mesmo que tenha ficado, segundo o autor da carta,

claramente demonstrado e provado, por não ser crível que o que ali se diz
seja fábula, atendendo-se ao caráter probo do Sr. Dr. Garcia, sua rigidez de
princípios, e negação para a bajulação e servilismo, o que se não pode dizer a
respeito desses que, só por terem a pele mais alva, (alguns dos quais de
costumes bem reprovados) o estigmatizam e o querem repelir, esbulhando-o
dos seus inauferíveis direitos42.

Passava pela retórica do reclame do Dr. José Mauricio Nunes Garcia e de seu
anônimo aliado a denúncia de uma perseguição. Talvez esse boicote estivesse ligado à
genealogia ou à constituição racial, talvez, estivesse ligada às relações dentro do
contexto dos corredores da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. O fato é que não
sabemos os motivos, mas parece que a estratégia do Dr. José Mauricio Nunes Garcia,
em apontar uma possível perseguição, começou a dar efeitos rapidamente. Logo em
seguida, o Dr. Domingos de Azevedo Americano não se furtou de entrar na discussão
nas páginas da sessão de cartas do Jornal do Commercio, pois para ele “cumpre-me
também usando de igual direito, recorrer ao público, para que, explanada a questão
vertente, decida como for de justiça e razão.”43.

O Dr. Americano segue sua carta apresentando diversos argumentos legais que
possibilitariam sua inscrição no concurso. Contudo o que chama atenção é quando as
discussões legais são deixadas de lado e ele passa a abordar o que chama de “falemos
com franqueza, tiremos a mascara ao engano” 44 . A partir daí, sua carta, volta-se a
ataques pessoais ao Dr. Garcia, lembrando de concurso anterior para a Cadeira de
Cirurgia em que Dr. Garcia não fora o aprovado, colocando em dúvida suas habilidades
e conhecimentos e, o que chama ainda mais atenção, a suposta vaidade do Dr. Garcia de
não concorrer com seu antigo aluno. Nas palavras do Dr. Americano: “são vaidades
pequenas, são presunções condenáveis que o movem a tal procedimento. Lhe parece
desairoso entrar em concurso com aquele a quem dera lições” 45 . De fato o Dr.

42
O RESPEITADOR DO MERITO, 1839, p.3.

43
AMERICANO, 1839a, p.3.

44
AMERICANO, 1839a,p.4.

45
AMERICANO, 1839a,p,4

21
Americano tinha obtido seu doutoramento no ano anterior46 e tinha sido aluno do Dr.
Garcia.

Muitas linhas poderiam ser utilizadas descrevendo a polêmica em torno desse


concurso, diversas idas e vindas de cartas, os ataques cada vez mais pessoais entre os
concorrentes, declarações e a entrada do Governo Imperial na discussão até, finalmente,
a aprovação do concurso, como candidato único, do Dr. José Mauricio Nunes Garcia47.
Entretanto interessa ressaltar um ponto da discussão, quando o Dr. Garcia questiona a
boa educação e polidez do Dr. Domingos Azevedo Americano48, que responde, por seu
turno, a seguinte provocação:

A educação, ou é física ou moral, se o Sr. Dr. Garcia se refere à primeira, tem


razão; porque, com efeito, sou de uma constituição muito débil; mas se teve
por fim referir-se à segunda, lhe digo que, além de faltar torpemente à
verdade, não é capaz de possuir uma educação moral melhor do que a minha,
e talvez nem boa49.

Guardado o devido anacronismo, não surpreende a um leitor acostumado a


frequentar os departamentos das faculdades, as polêmicas com relação à concurso. O
que talvez um leitor hodierno tenha dificuldade de entender é como essa polêmica entre
médicos e lentes substitutos de uma das poucas faculdades de medicina do Brasil,
ganhou as páginas de um impresso periódico. Sobre as “batalhas” travadas por médicos
na imprensa periódica temos o trabalho da Gabriela Sampaio 50 . Nessa pesquisa ela
demonstra como as disputas entre os médicos no Brasil do século XIX ganhavam
espaços na imprensa periódica não especializada e, por vezes, os argumentos contra os
opositores saiam do campo médico e chegavam a ataques pessoais. Segundo ela, a
imprensa não especializada era usada como espaço para desautorizar concorrentes e
defender pontos de vista dentro do complexo contexto das disputas entre médicos e
médicos e “charlatões” no Brasil do século XIX. Isso faz muito sentido, pois a imprensa
periódica era um espaço de busca de intervenção na sociedade e de disputa política e de

46
DOUTORAMENTO EM MEDICINA, 1838.

47
GARCIA, 1839a; 1839b; 1839c; AMERICANO, 1839a; 1839b; 1839c; 1839d; JORNAL DO
COMMERCIO, 1839a; 1839b; O RESPEITADOR DO MERITO, 1839.

48
GARCIA, 1839b.

49
AMERICANO, 1839b, p.3.

50
SAMPAIO, 1995.

22
espaço de atuação 51 . Processo que pode ser relacionado à disputa dos médicos
analisados por Sampaio e nessa pesquisa.

Além da questão do uso de um impresso periódico como meio da discussão,


outras questões são possíveis de serem formuladas: como era possível naquele presente
o uso da educação física em discussão tão acalorada? Se a referida educação física não
se tratava de uma disciplina escolar, a que educação física se remetia? Como a educação
física ou moral poderia credenciar ou não ao exercício de lente da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro? Como, no meio de tal polêmica, pode aparecer a proposta
de separar a educação em física e moral? A educação física poderia ter outras funções
além da relação com constituição física? Que processos, agentes, espaços e saberes
estariam ligados a educação física? Talvez, não consiga responder todas essas questões
nesse texto de qualificação, mas partindo dessa polêmica começo a narrativa dessa
pesquisa. O primeiro passo será buscar na historiografia da Educação Física elementos
para as respostas. Na sequência me deterei nas interrogações relativas ao uso da
educação física pela historiografia.

2.2 – Questões para a historiografia

Alguns balanços sobre a produção de História do Esporte foram realizados nos


últimos anos, um exemplo de fôlego é o trabalho de Victor Andrade de Melo e
colaboradores52. Já dentro da História da Educação Física, as iniciativas recentes são
mais rarefeitas e estão mais ligadas a temáticas especificas como Ditadura Militar no
Brasil53 e Higiene54. Sobre a temática que buscamos compreender não foi encontrado
nenhum trabalho.

Pela falta de trabalhos preocupados em construir balanços sobre a Educação


Física no Brasil do século XIX, o primeiro desafio posto foi realizar um processo de
organização do que foi produzido nos últimos anos sobre o tema. Muitos caminhos
poderiam ser seguidos para isso, por exemplo, poderia analisar as dissertações e teses
publicadas sobre o tema, as publicações em anais de eventos da área, os artigos
51
LUCA, 2011.

52
MELO, SANTOS, FORTES e DRUMOND, 2013.

53
REI e LÜDORF, 2012.

54
MILAGRES, SILVA e KOWALSKI, 2018.

23
publicados em periódicos ou os livros de diversos autores em suas várias edições. Nesse
trabalho o caminho escolhido foi analisar os artigos publicados em periódicos. Penso
que os artigos podem dar um panorama razoavelmente seguro do debate em torno da
temática. Entretanto, não ficarei preso apenas aos artigos. Em alguns momentos buscou-
se em outras formas de publicação informações e debates que possam ajudar a
compreender as discussões publicadas nos artigos.

Alguns critérios foram eleitos para escolha dos artigos. Optamos por analisar
artigos em periódicos tradicionalmente ligados as áreas de Educação Física e História da
Educação. Para as revistas da área de Educação Física optamos pela leitura daquelas
editados no Brasil e em língua portuguesa, com qualis B1 ou superior e, no caso das da
área de História da Educação, as revistas que tenham como tema privilegiado a História
da Educação.

Para seleção dos artigos, elegemos aqueles publicados entre os anos de 2008 e
2017. Nas revistas de área de Educação Física, os artigos deveriam tratar do Brasil do
século XIX, a partir de uma perspectiva histórica. Nas revistas de educação os artigos
deveriam tratar do Brasil do século XIX e de práticas corporais institucionalizadas numa
perspectiva histórica. A seleção ocorreu a partir da leitura dos títulos, resumos e
palavras chaves. O número de artigos selecionados por revistas pode ser observado no
quadro a seguir:

Quadro 1 - Título das revistas, área e número de artigos selecionados


Título da Revistas Área da Número de
Revista artigos
Revista Movimento Educação Física 12
Revista Brasileira de Ciências do Esporte Educação Física 8
Revista da Educação Física Educação Física 3
Revista HISTEDBR on line Educação 3
Revista Brasileira de Educação Física e Esporte Educação Física 2
Revista História da Educação Educação 2
Revista Brasileira de História da Educação Educação 2
Revista Motriz Educação Física 1
Cadernos de História da Educação Educação 1
Revista Motricidade Educação Física 0
TOTAL -------------------- 34

A discussão aconteceu em dois momentos. No primeiro realizei uma descrição


dos trabalhos, seus autores, regiões em que foram produzidos, temáticas privilegiadas,
fontes e o recorte temporal. Num segundo momento, foram analisados os artigos que

24
tratavam mais especificamente da educação física para compreender as representações
mobilizadas durante as pesquisas. É importante frisar que o objetivo não foi realizar
uma valoração sobre a qualidade dos trabalhos publicados, entretanto, na medida do
possível, também foram foquei nas perspectivas metodológicas escolhidas pelos autores
e as formas que mobilizaram as fontes.

Considerando apenas o primeiro autor dos artigos, há vinte autores diferentes e


cerca de 30% da produção tem como seu primeiro autor Victor Andrade de Melo.
Também é possível perceber que 76% da produção foi realizada em universidades da
região sudeste, demonstrando uma desigualdade regional com relação ao quantitativo da
produção. O quadro 2 apresenta os autores e suas vinculações institucionais, quando
houve mudança de instituição, optamos por apresentar o último vínculo. O quadro 3
apresenta todos os autores e co-autores dos trabalhos.

Quadro 2 - Autores e pertencimentos institucionais.


Primeiro Autor Vínculo Região Nº de artigos
Victor Andrade de Melo UFRJ Sudeste 10
Edivaldo Góis Junior UNICAMP Sudeste 3
Andrea Moreno UFMG Sudeste 2
Fabio Faria Peres UFRJ Sudeste 2
Carlos Fernando Cunha Junior UFJF Sudeste 2
Miriam Kormann Hauffe UFRJ Sudeste 1
Diogo Rodrigues Puchta UFMG Sudeste 1
Ricardo Martins Porto Lussac UCB Sudeste 1
Ester Liberato Pereira UFGRS Sul 1
Diego Monteiro Gutierrez USP Sudeste 1
Lívia Tenorio Brasileiro UEPB Nordeste 1
Luciene Henrique da Costa UFRJ Sudeste 1
Evelise Amgarten Quitzau UNICAMP Sudeste 1
Vanessa Bellani Lyra UFRGS Sul 1
Coriolano Pereira Rocha Junior UFBA Nordeste 1
Tony Honorato UEL Sul 1
Marcus Aurélio Taborda de Oliveira UFMG Sudeste 1
Elza Margarida de Mendonça Peixoto UFBA Nordeste 1
Mônica Vasconcelo UEM Sul 1
Bruno Adriano Rodrigues Silva UFLA Sudeste 1

Quadro 3 - Autores e co-autores.


Autores e co-autores Nº de artigos
Victor Andrade de Melo 13
Edivaldo Góis Junior 5
Andrea Moreno 2
Fabio Faria Peres 2
Carlos Fernando Cunha Junior 2
25
Ester Liberato Pereira 2
Marcus Aurélio Taborda de Oliveira 2
Vanessa Bellani Lyra 2
Carmen Lúcia Soares 1
Miriam Kormann Hauffe 1
Diogo Rodrigues Puchta 1
Ricardo Martins Porto Lussac 1
Diego Monteiro Gutierrez 1
Lívia Tenorio Brasileiro 1
Luciene Henrique da Costa 1
Evelise Amgarten Quitzau 1
Coriolano Pereira Rocha Junior 1
Tony Honorato 1
Elza Margarida de Mendonça Peixoto 1
Mônica Vasconcelo 1
Bruno Adriano Rodrigues Silva 1
Manoel José Gomes Tubino 1
Janice Zarpellon Mazo 1
José Carlos Freitas Batista 1
Fernando Reis do Espírito Santo 1
Anna Luiza Ferreira Romão 1
Pedro Luiz da Costa Cabral 1
Romana Mendes Fontoura de Morais 1
Gyna de Ávila Fernandes 1
Cristiane Oliveria Pisani Martini 1
Marysol de Souza Santos 1
Jorge Knijnik 1
Victor Sá Ramalho Antonio 1
Thiago Kater 1
Marco Antonio Bettine de Almeida 1
Flavia da Cruz Santos 1
Thaina Schwan Karls 1
Lausane Corrêa Pykosz 1
Marcília Rosa Periotto 1

Nota-se muitos trabalhos escritos em colaboração. Eles somam o total de


dezenove trabalhos. Doze das colaborações ocorreram com autores vinculados as
mesmas instituições, especialmente de orientados com orientadores, seis foram de
instituições diferentes dentro do Brasil e uma colaboração internacional.

Com relação às regiões estudas, a desigualdade regional se mantém. Nota-se que


existe um privilégio de pesquisas sobre a região sudeste do Brasil, especialmente da
cidade do Rio de Janeiro. O caráter regional foi uma das grandes lacunas de pesquisa
encontrada na amostra. Essa lacuna foi tanto em local de produção quanto em interesse

26
de pesquisa. No quadro a seguir, se pode conferir as regiões estudas nos artigos da
amostra.

Quadro 4 - Região estudada.


Região Estudada Nº de artigos
Rio de Janeiro 14
Brasil 6
São Paulo 4
Paraná 2
Rio de Janeiro e São Paulo 1
Minas Gerais 1
Europa e Brasil 1
Porto Alegre 1
Rio Grande do Sul 1
Salvador 1
Piracicaba 1
Lavras 1

Uma primeira hipótese para esse descompasso poderia ser a falta de documentos
ou a sua falta de organização em regiões fora da região sudeste. Essa hipótese se mostra
falsa em uma rápida pesquisa na hemeroteca digital. Em pesquisa realizado no dia 25 de
janeiro de 2019 com o termo educação physica no período entre 1800 e 1859 foi
encontrado o total de cinquenta e uma ocorrências somando periódicos de Pernambuco
(33), Pará (5), Bahia (4), Ceará (3), Paraná (2), Santa Catarina (2), Paraíba (1) e São
Paulo (1). Já só na década de 1860, somando Pernambuco (70), São Paulo (22),
Maranhão (10), Ceará (5), Santa Catarina (3), Pará (2), Rio Grande do Sul (1) e Bahia
(1) chega-se ao número de cento e quatorze ocorrências e o número só aumenta com o
passar dos anos. Isso demonstra que Estudos sobre outras regiões do Brasil ainda são
um campo aberto para a pesquisa em História da Educação Física.

Com relação às fontes, nota-se que os impressos periódicos são as fontes


privilegiadas nas pesquisas. Esse tipo de documentação foi utilizado em cerca de 40%
dos artigos selecionados para a amostra. Possivelmente isso se deva a facilitação ao
acesso a essa documentação ocasionada pela Hemeroteca de Biblioteca Nacional.
Entretanto, nem só periódicos foram utilizados, também foram mobilizados documentos
como: leis, registros escolares e institucionais diversos, teses, livros, peças de teatro,
crônicas e manuais.

27
A diversidade dos documentos tornados fontes apresenta um amadurecimento da
área. Era recorrente a crítica à historiografia da década de 1980 e 199055 em função do
seu baixo número fontes e sua pouca diversidade. Tanto que foi realizado um esforço na
catalogação e busca de novos documentos e de formas de reler abordagens e temáticas
de pesquisa tanto em eventos como em publicações56 e essa discussão perdurou durante
o início dos anos 2000.

Sobre o recorte temporal, podemos perceber que grande parte dos trabalhos se
preocupa com os anos finais do século XIX e começo do século XX. Somente seis
trabalhos tiveram temáticas anteriores a 1840. Daqueles que trataram do início do
século XIX, podemos notar uma relação com a região da pesquisa. Todos tratavam do
Rio de Janeiro ou do Brasil de forma geral, mas dando ênfase ao Rio de Janeiro.

Já sobre os assuntos tratados nas pesquisas, nota-se uma diversificação com


relação aos problemas de pesquisa e temáticas privilegiadas. Temáticas como
recreação57, modas e bailes58, dança59, ginástica60, esporte61, propagandas esportivas62,
automobilismo63, capoeira64, remo65, corridas de cavalos66, clubes67, futebol68, circo69,

55
MELO et. al., 1998.

56
FERREIRA NETO, 1998.

57
PEIXOTO e PEREIRA, 2014.

58
VASCONCELO e PERIOTTO, 2015.

59
MELO, 2016a; 2016b.

60
PERES e MELO, 2014; GÓIS JUNIOR e BATISTA, 2010; GÓIS JUNIOR, 2013a. MORENO et. al.,
2014; MORENO, 2015; PUCHTA e OLIVEIRA, 2015.

61
SILVA, 2017; GÓIS JUNIOR, 2013b; MELO, 2015.

62
MELO, 2008a.

63
MELO, 2008b.

64
LUSSAC e TUBINO, 2009.

65
MELO, 2013.

66
PEREIRA; MAZO e LYRA, 2010.

67
QUITZAU e SOARES, 2010; PERES e MELO, 2014.

68
ROCHA JUNIOR e SANTO, 2011; MELO, 2017.

28
teatro70, formação de professores71, patinação72, Rugby73 e educação física tanto como
disciplina escolar como educação física ligada a educação integral74 foram tratados pela
amostragem da historiografia. Dentro dessa diversidade temática, a ginástica e a
educação física foram os temas privilegiado contando com seis artigos cada.

Dos trabalhos analisados podemos perceber que a educação física tem sido
mobilizada pelo menos de duas formas diferentes. Certos trabalhos tendem a buscar nos
documentos a educação física como disciplina escolar. Um segundo grupo, a relaciona
com projetos de educação integral (educação intelectual, moral e física) podendo a
educação física estar relacionada com diversas ações e práticas ligadas a educação do
físico ou corpo. Não que essas tendências sejam antagônicas ou excludentes, inclusive
muitas vezes se misturam, mas optei por fazer essa classificação por ser duas entradas
possíveis na documentação do período. No primeiro grupo foram agrupados os
trabalhos de Brasileiro75 e Carlos Fernando Cunha Junior76. Já no segundo, os trabalhos
de Honorato77, Oliveria e Pykosz78 e o orientado por Góis Junior79.

Começando por Lívia Tenorio Brasileiro80. Em seu artigo publicado na Revista


Motriz, essa autora estava preocupada em refletir sobre a origem do ensino da educação

69
HAUFFE e GÓIS JUNIOR, 2014.

70
MELO e KNIJNIK, 2015.

71
LYRA e MAZO, 2010.

72
MELO, 2016c. MELO e SANTOS, 2017.

73
GUTIERREZ et. al., 2017.

74
BRASILEIRO, 2010; COSTA; SANTOS e GÓIS JUNIOR, 2014; HONORATO, 2015; CUNHA
JUNIOR 2008; 2015; OLIVEIRA e PYKOSZ, 2009.

75
BRASILEIRO, 2010.

76
CUNHA JUNIOR 2008; 2015.

77
HONORATO, 2015.

78
OLIVEIRA e PYKOSZ, 2009.

79
COSTA; SANTOS e GÓIS JUNIOR, 2014.

80
Essa autora é graduada em Educação Física e Técnico em Desporto pela UFPE, mestre em Educação
pela mesma universidade e doutora em Educação pela Unicamp, sendo orientada respectivamente por
Celi Taffarel e Eliana Ayoub. Atualmente é professora da UPE vinculada ao Programa de pós-graduação
mestrado profissional em Educação Física dessa Universidade. Ao olhar sua produção no currículo lattes

29
física e da arte na escola brasileira do século XIX e início do século XX. Ponto
importante é que ela não consulta documentos da época. Para alcançar o objetivo de seu
trabalho, ela dialoga com a historiográfica da Educação Física e da arte. Seu diálogo
ocorre especialmente com trabalhos de Tarcisio Mauro Vago, Chervel e Souza Junior e
Galvão e Barbosa.

Ela parece buscar uma teleologia da disciplina escolar Educação Física. Ela
procura nas práticas corporais na escola do século XIX, em especial a ginástica, as
raízes do que viria a ser a disciplina escolar Educação Física. Entretanto, não era
qualquer ginástica, para ela, a ginástica médica que norteou essa manifestação praticada
nas escolas em contraponto a outros modelos de ginástica, vistas como: “descabidas e
desnecessárias, ou seja, um gesto sem utilidade”81.

Um ponto que chama atenção no trabalho de Brasileiro foi a busca de respostas


no cotidiano das escolas para pensar a constituição da disciplina escolar Educação
Física. Segundo ela:

Muito se tem registrado, em nossa literatura, sobre as leis e normatizações


que deram sustentação à política educacional brasileira. O que diz a lei, na
maioria dos casos, não consolidou o que dizem as salas de aulas, os pátios, os
arredores da escola; não conta o que viveu efetivamente alunos, professores,
diretores, funcionários pais e a comunidade ao seu redor82.

Também era correlacionando com a ginástica e com o cotidiano escolar que


Carlos Fernando Cunha Junior83 pensava a educação física como disciplina escolar no
Collégio de Pedro II 84 . Os dois artigos publicados por Cunha Junior estavam
relacionados com sua temática de doutoramento: a Educação e a Educação Física na

nota-se que tem como principais temas de pesquisa: Educação Física Escolar, dança, currículo e produção
do conhecimento em Educação Física. Poucos são os seus trabalhos com temáticas de História da
Educação Física.

81
BRASILEIRO, 2010, p.747.

82
BRASILEIRO, 2010, p.743.

83
Esse autor tem uma produção bastante significativa na área de História da Educação Física e do Lazer.
Sua formação foi graduação em Educação Física pela UERJ, mestrado em Educação pela UERJ e
doutorado em Educação pela UFMG, sendo orientado por respectivamente por Alfredo Gomes de Faria
Junior e Luciano Mendes de Faria Filho. Atualmente atua na UFJF, vinculado ao Programa de pós-
graduação em Educação.

84
CUNHA JUNIOR, 2008; 2015.

30
Cultura Escolar do Imperial Collégio de Pedro II no século XIX. Os documentos que
tornou fonte eram principalmente leis e registros escolares.

Preocupado em compreender as relações culturais e sociais no cotidiano do


Colégio, ele busca na ginástica, em seus agentes, práticas e interações sociais, elementos
para a construção de uma Cultura Escolar da Educação Física dentro do Collégio de
Pedro II. Seus trabalhos possuem contribuições significativas para a área de História da
Educação Física como: as relações dos primeiros mestres com a burocracia estatal e
médica, os discursos que buscavam legitimar a prática da ginástica em tal espaço, os
embates e descontinuidades da prática da ginástica no Collégio e as possíveis relações
entre diversos saberes na construção de uma Cultura Escolar da Educação Física. Além
disso, dialoga com um conjunto bastante robusto e originais de fontes.

Um ponto importante para a reflexão que busco fazer é o entendimento de


educação física no trabalho de Cunha Junior. Ele entende os exercícios ginásticos
praticados na Collégio como o “que compreendemos hoje por Educação Física”85, ou
seja, para ele a “Educação Física” era uma manifestação que se confundia com a
ginástica dentro do contexto pesquisado.

Ele marca o início da “Educação Física” no Collégio com a entrada do militar


Guilherme Luiz de Taube em 1841. Apensar de militar, foi a partir de argumentos
médicos que ele buscou legitimar a entrada dessa prática na instituição. Assim, nos
argumentos de Cunha Junior, a “Educação Física” naquele contexto dialogava tanto
com o saber médico como com as práticas militares de se exercitar, principalmente a
ginástica.

Entre Brasileiro e Cunha Junior podemos notar algumas semelhanças


conceituais. A principal é o diálogo com as teorias das Culturas Escolares e a busca em
compreender as produções, circulação e embates de saberes na construção dos saberes
escolares. Já a grande diferença entre os dois foi a forma em que esses autores
mobilizam as fontes. Brasileiro dialoga com a historiografia para resolver seu problema
de pesquisa enquanto Cunha Junior mobiliza um número bastante grande de fontes de
época.

85
CUNHA JUNIOR, 2015, p.72.

31
No caso desses autores, ambos trabalham com a relação entre ginástica e a
constituição da disciplina escolar Educação Física. Ambos buscam no passado uma
prática corporal que lembraria o que se entende hoje por uma disciplina escolar
Educação Física.

Outra perspectiva de entrada para se entender a educação física no contexto do


Brasil do século XIX encontra-se num segundo grupo doa artigos selecionados. Nesses
artigos, percebe-se uma preocupação em compreender a educação física dentro de seus
significados de época, pensando a que a educação física de outros presentes não
caminharia necessariamente para uma disciplina escolar que trata do corpo em
movimento. Ao mesmo tempo, essa educação física de outro presente, que é uma
produção história, social e cultural, poderia dar pistas das relações sociais e culturais em
voga em determinado contexto.

Esses autores que tratam do Brasil do século XIX, parecem apontar para uma
educação física relacionada a projetos de educação integral, em especial daqueles
relacionados a educação intelectual, moral e física. Sendo a educação física a dimensão
que trata das diversas formas sistematizadas de educar o corpo ou o físico.

Um primeiro exemplo é o trabalho orientado por Edivaldo Góis Junior 86 . O


artigo87 em questão foi publicado na Revista Brasileira de Educação Física e Esporte e
buscava descrever o contexto de escolarização da educação física mediante o discurso
médico do século XIX. Para atingir tal objetivo utilizaram como fonte as teses da
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia. O argumento defendido no artigo
era que o discurso médico higienista contribuiu para a lenta institucionalização e
constituição da ginástica e da educação física no espaço escolar, entretanto a relevância
da ginástica era secundária no projeto higienista.

Segundo seus argumentos, o fortalecimento da medicina ao longo do Brasil do


século XIX “favoreceu a institucionalização de novas práticas corporais, como a

86
Esse autor é formado em Educação Física pela UNESP, Mestre e doutor em Educação Física pela UGF,
tendo sido orientado por Hugo Lovisolo. Atualmente é professor da Faculdade de Educação Física da
Unicamp e é vinculado aos programas de Pós-Graduação em Educação Física e em Educação dessa
instituição. Contudo os orientados e autores desse trabalho eram da UFRJ, instituição em que lecionou
entre 2011 e 2013. Edivaldo Góis Junior é hoje um dos principais nomes da área de História da Educação
Física e pesquisa especialmente higiene e as relações entre medicina e Educação Física.

87
COSTA, SANTOS e GÓIS JUNIOR, 2014.

32
‘gymnastica’” 88 e que a escolarização da ginástica e de outros exercícios físicos se
tornaram mais evidentes na documentação a partir de segunda metade do século XIX.

Embora trabalhem com bastante atenção sobre as propostas das práticas de


“gymnasticas”, durante o artigo, os autores percebem que o debate envolvendo o termo
“educação physica” era heterogêneo e poderia abranger uma séria ampla de dimensões
da educação do corpo. Segundo eles, “os exercícios físicos representavam apenas uma
dimensão limitada da expressão mais ampla ‘educação physica’, que por sua vez estava
mais próxima do que identificamos hoje como higiene”89.

Um ponto de atenção nesse trabalho, especialmente para a pesquisa em


andamento, é a correlação entre a institucionalização da ginástica e da educação física
com a preocupação com a construção da identidade nacional no Brasil do século XIX,
tendo como uma das estratégias o saber medico da higiene. Mesmo os autores
chamando atenção para um possível afastamento dos médicos do cotidiano escolar, esse
discurso médico, poderia ser considerado como elemento importante para a
normatização de como se modelaria o físico por meio da educação física dentro da
escola buscando se construir uma nação moderna.

Outro trabalho que tinha a preocupação em compreender a educação física como


uma categoria de época foi o publicado por Tony Honorato90 na Revista Movimento.
Em seu artigo91, ele busca compreender os elementos presente na educação física dentro
da formação normal em Piracicaba nos anos finais do século XIX. Como ferramenta
para sua pesquisa, ele dialoga com o conceito de educação física desenvolvido por
Andrea Moreno em artigo publicado em 2012. Nesse artigo, ela apresenta a educação
física como uma prática ligada a educação do corpo e das sensibilidades múltiplas dos
sentidos presente em diferentes componentes curriculares que fomentavam a relação
entre aprendizagem e o corpo92.

88
COSTA, SANTOS e GÓIS JUNIOR, 2014, p.275.

89
COSTA, SANTOS e GÓIS JUNIOR, 2014, p. 277.

90
Esse autor é formado em Educação Física pela UNESP, mestre em Educação pela UNIMEP e doutor
em Educação Escolar pela UNESP, orientado respectivamente por Ademir Gebara e Carlos Roberto da
Silva Monarcha. Tony Honorato pesquisa temas como História da Educação Física e do Lazer.

91
HONORATO, 2015.

92
HONORATO, 2015.

33
Além do conceito de Moreno, ele utiliza um conjunto bastante amplo de fontes
como: dispositivos legais, manuscritos de diretores escolares, anuários de ensino e a
Revista de Educação. Documentos que poderiam dar indícios das representações das
práticas realizadas no cotidiano escolar da Escola Normal de Piracicaba.

Para esse autor, a Escola Normal de Piracicaba foi criada para atender a
demanda de formação de professores nos “moldes modernos”, que até então eram
diplomados somente pela Escola Normal da Capital. Dentre esses elementos dos moldes
modernos, a educação física e das sensibilidades eram encontradas.

A partir dos programas de formação de professores, Honorato encontrou indícios


sobre as propostas do ensino de exercícios ginásticos e militares que atuariam na
educação física e dos sentidos dos futuros professores que seriam higienizados e
higienizadores no futuro. Esse projeto estava contido dentro de uma proposta de
educação integral que abrangeria a educação intelectual, moral e física.

Em seu trabalho podemos perceber uma preocupação em fazer o contraponto


entre o que estava proposto nos programas e o cotidiano da Escola Normal. Ele chama
atenção que a “posição no quadro de horário revela uma representação do que dela se
esperava como recurso recreativo, higiênico e como relaxante da fadiga intelectual”93.
Nesse ponto ele aponta que as práticas corporais apresentavam um status inferir a outras
práticas da escola e as dificuldades para o desenvolvimento das aulas de ginastica por
falta de equipamentos, espaço na escola e de professores especializados na temática.
Chegando a conclusão que nos anos finais do século XIX e início do XX a idealizada
educação integral foi processual e estruturalmente lenta nas escolas modelares em São
Paulo.

O último trabalho analisado nesse item94 foi a colaboração entre Marcus Aurélio
Taborda de Oliveira e Lausane Corrêa Pykosz 95 . Esse trabalho é uma contribuição
bastante interessante pelo mapeamento de documentos que realiza. O objetivo era

93
HONORATO, 2015, p.748.

94
OLIVEIRA e PYKOSZ, 2009.

95
Taborda de Oliveira é formado em Educação Física pela UFPR e doutor em Educação: História,
Política e Sociedade pela PUC-SP, orientado por Kazumi Munakata. Atualmente Taborda é professor da
UFMG, credenciado no Programa de pós-graduaçaõ em Educação, entretanto Pykosz foi sua orientada de
mestrado em Educação na época em que era professor da UFPR.

34
catalogar e mapear um conjunto de fontes sobre a instrução pública presentes no acervo
de periódicos da Biblioteca Pública do Paraná, sobretudo no que se refere a educação do
corpo na escola no período de 1846 a 1926.

Além do mapeamento, esses autores apresentam uma discussão com a


documentação buscando compreender as tensões envolvidas entre a teoria educacional e
a realidade escolar, além das discussões em torno das práticas docentes. No caso da
educação física, nesse trabalho eles apresentam um entendimento dessa dimensão da
educação ligada as diversas manifestações corporais dentro da escola o que podemos
correlacionar com as discussões do trabalho de Tony Honorato 96 . Ambos buscavam
realizar um contraponto entre o proposto e a prática nas escolas.

Os três trabalhos do segundo grupo tratam de contextos históricos diferentes no


Brasil do século XIX, mas se relacionam a essa interpretação da educação física como
uma categoria de época. Esse entendimento tem sido mais recorrente nos últimos anos
na historiografia, tanto é que alguns pesquisadores tem caminhado na chamada História
do CorpoErro! Indicador não definido.97.

Sem pretender me filiar a um campo da História do Corpo, e pensando que as


duas entradas aqui apresentadas são possíveis pra estudar a educação física no Brasil do
século XIX, a partir do contado com a documentação e do debate com a historiografia,
me parece mais adequado para a pesquisa em andamento tentar compreender a educação
física dentro do que Darnton chamou de “universos mentais estranhos”98. Buscaremos
compreender como a educação física era representada pelos agentes que as mobilizava e
não busca as raízes de uma disciplina escolar Educação Física, buscaremos pensa-la
como um signo, como uma significação do mundo que só faz sentido dentro de um
determinado contexto cultural. E ao mesmo tempo como uma categoria que pode dar
pistas para compreender as relações culturais e sociais em jogo no contexto dos projetos
de invenção da nação brasileira.

Dessa forma para compreender a educação física sinalizada na discussão e outras


formas em que ela poderia ser mobilizada optei por considera-la como uma categoria de

96
HONORATO, 2015.

97
SOARES, 1998; OLIVEIRA (Org.), 2006.

98
DARNTON, 1986.

35
época. Nesse sentido, o próximo item busca compreender sua circulação e como poderia
entrar dentro do léxico daquele presente.

2.3 – Os impressos sobre educação física: do útil ao agradável e vice-versa

O primeiro caminho escolhido para tentar responder quais eram os


entendimentos sobre a educação física e quais poderiam ser seus usos dentro do
contexto pesquisado foi buscar compreender qual e como era a circulação do termo.
Para isso, acompanho como a educação física estava presente nos impressos periódicos
no período.

A primeira aparição do termo na documentação pesquisada ocorreu no impresso


Atalaia no dia 06 de agosto de 1823. Segundo Brasil99, esse pasquim foi editado entre
31 de maio e 2 de setembro de 1823, totalizando um total de 14 edições. O responsável
pela edição era Silva Lisboa, o Visconde de Cairú, um dos mais destacados apoiadores
de D. Pedro I. No Atalaia, eram publicadas, dentre outros assuntos da política interna,
críticas aos opositores de D. Pedro I, as sociedades secretas no país, a defesa do culto
católico e a celebração a aclamação de Pedro I.

Uma questão comentada no impresso foi a Assembleia Constituinte. É dentro


desse debate que aparece a educação física. No Atalaia pode-se ler que a Assembleia
Geral Constituinte e Legislativa do Império decretava que:

Será reputado Benemérito da Pátria, e como tal condecorado com a Ordem


Imperial do Cruzeiro, ou nela adiantado, se já a tiver, aquele cidadão, que até
o fim do corrente ano apresentar à Assembleia o melhor tratado de educação
física, moral e intelectual para a Mocidade Brasileira. &c. Paço da
Assembleia em 16 de junho de 1823”100.

Pelo decreto citado no artigo publicado no Atalaia nota-se indícios da


preocupação dos Constituintes com a questão da educação física da mocidade no Brasil
e que se buscava um tratado para reger as formas dessa dimensão da educação. Além de
a educação física da mocidade já ser uma preocupação, se buscava uma normatização
do melhor modelo dessa forma de educação por meio de um tratado.

99
BRASIL, 2017.

100
ATALAIA, 1823, p.40.

36
Aquele que apresentasse tal tratado a Assembleia receberia a horaria da Ordem
Imperial do Cruzeiro. Essa Ordem foi criada pelo Decreto de 1º de dezembro de 1822,
por D. Pedro I, em comemoração à aclamação, sagração e coroação do imperador e da
independência do Brasil, tendo como Grão-Mestre o próprio imperador do Brasil101. Ela
foi a primeira honraria propriamente brasileira o que demonstra o caráter simbólico em
que ela estava envolvida.

Essa Ordem constava de quatro graus: Cavaleiros, cujo número era ilimitado;
Oficiais, sendo até duzentos efetivos e até cento e vinte honorários; Dignitários, sendo
até trinta efetivos e quinze honorários; Grão-Cruzes, sendo até oito efetivos e quatro
honorários102.

Figura 1 - Gravura do modelo da Ordem Imperial do Cruzeiro (PINHEIRO, 1884).

101
BRASIL, 1822.

102
BRASIL, 1822.

37
As formas de se alcançar os postos mais altos, as etapas em cada posto e os
rituais que os honrados participavam na Ordem não são importantes para a nossa
reflexão. O que importa é o efeito simbólico e político que tal honraria tinha no contexto
do processo de Independência do Brasil. Essa ordem era usada como instrumento para
capitanear os desejos de distinção e ascensão dentro da corte e trazia benefícios para
ambos os lados, a Coroa e o condecorado. Para Coroa era uma forma de angariar
serviços e fidelidade, para o condecorado uma forma de buscar benefícios materiais e
simbólicos dentro da corte do imperador. É notável a potência desse tipo de horaria para
ganhar apoio no tenso período de consolidação da independência do Brasil103.

Chama atenção é que tal horaria seria dada aquele que apresentasse o melhor
tratado sobre educação física, intelectual e moral. Aquele que apresentasse tal tratado
receberia uma das maiores honrarias do Império. Isso demonstra a importância política
dada a tal tema. Aparentemente o tema da educação física era relevante no processo de
consolidação da independência e nos primeiros projetos de consolidação da nação.

Não encontrei indícios se tal tratado foi escolhido, talvez não tenha havido
tempo para isso, até os episódios da madrugada de 12 de novembro de 1823 que
dissolveram a Assembleia Constituinte. Seria necessário se passar seis anos para que a
educação física voltasse a aparecer nos impressos pesquisados, mais uma vez no púlpito
do parlamento brasileiro, em um caso que sinaliza as tensões da política no Primeiro
Reinado.

Na sessão do Parlamento Brasileiro de 1 de Junho de 1829, o então presidente da


casa, Pedro de Araújo Lima 104 , que havia sido Ministro e tinha sido recebido pela
câmara em seu mandato, colocou em discussão se os deputados receberiam o Ministro
do Império José Clemente Pereira105 que havia chegado de surpresa para apresentar o

103
SILVA, 2011.

104
Pedro de Araújo Lima, depois Marquês de Olinda, nasceu em Serinhaem (PE) em 1793 e faleceu no
Rio de Janeiro em 1870. Foi Secretário e Ministro de Estado dos Negócios do Império de 20 de novembro
a 15 de junho de 1828, sendo substituído por José Clemente Pereira. Sucedeu ao Regente Feijó na direção
do governo e foi personagem ativo durante a crise da maioridade de D. Pedro II. Durante seu período
como regente foram fundados o Imperial Collégio de Pedro II, o Arquivo Público e o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro (CÂMARA DOS DEPUTADOS, S/Da; MINISTÉRIO DA FAZENDA, 2015).

105
José Clemente Pereira nasceu em 1787, em Adem, vila de Castelo-Mendo, Portugal e faleceu no Rio
de Janeiro em 1854. Durante a invasão francesa na Península, José Clemente alistou-se no batalhão
acadêmico e foi comandado por José Bonifácio de Andrade e Silva. Deixa a Europa em direção ao Brasil
em 1815. Já como presidente da Câmara foi um dos personagens principais do dia 9 de janeiro de 1822,

38
relatório de sua gestão e se encontrava aguardando em sala imediata aquela que os
deputados ocupavam106. Os deputados preocupados com as reais intenções do Ministro,
se ele realmente vinha em missão ministerial e se poderia falar em nome do Imperador
Pedro I, iniciaram um debate sobre como e se o Ministro deveria ser recebido, já que ele
pedia para ser recebido por uma deputação 107 . No debate, o Deputado Limpo de
Abreu108 demonstrou suas desconfianças afirmando:

Ora, essa formula de que usou o ministro no ofício, está visto que é uma
esperteza usual deste ministro para surpreender a Câmara. Pois se os
ministros que tem de fazer propostas, dizem – por ordem de Sua Majestade –
Qual é a razão porque se altera agora esse formulário? Qual é o fim nesta
alteração? É sem dúvida para surpreender a Câmara, é uma esperteza com a
qual não devemos embaraçar-nos109.

Na discussão sobre qual procedimento deveria ser adotado para receber o


Ministro, os deputados Castro e Silva, Souza França, Limpo de Abreu, Maia,
Vasconcellos, Araújo Basto, Lino Coutinho, Custodio Dias e Hollanda Cavalcante
debateram. Eles discutiram com argumentos apoiados no regimento, na Constituição e
rememorando casos antigos de visitas de ministros, mas grande parte da discussão girou
em torno da possível “esperteza” do Ministro José Clemente Pereira. A desconfiança foi
tal que se chegou a defender que o relatório deveria ser enviado e que não deveria
ocorrer a leitura pelo Ministro. Afinal, venceu a posição defendida por Hollanda
Cavalcante110.

Há dois casos diferentes, um quando o ministro vem à Câmara em nome de


Sua Majestade, e então deve ele ser recebido por uma deputação; e outro

dia do fico. Durante o reinado de D. Pedro I os cargos de desembargador, intendente da polícia, ministro
do Império e foi dignitário da Ordem Imperial do Cruzeiro e da Ordem da Rosa (SISSON, 1999).

106
ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO, 1829.

107
ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO, 1829.

108
Antônio Paulino Limpo de Abreu, depois Visconde de Abaeté, nasceu em Lisboa em 1798 e faleceu
no Rio de Janeiro em 1883. Foi deputado pela Província de Minas Gerais nas legislaturas de 1826 a 1829;
de 1830 a 1833; de 1834 a 1837; e de 1838 a 1841. Ocupou os cargos de vice-presidente da Câmara dos
deputados em 1830 e de Terceiro e Quarto Secretário em 1829 (CÂMARA DOS DEPUTADOS, S/Db).

109
ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO, 1829, p.3.

110
Antônio Francisco de Paula de Hollanda Cavalcanti de Albuquerque, depois Visconde de
Albuquerque, nascido em Pernambuco em 1797 e falecido no Rio de Janeiro em 1863. Era militar que
serviu em Moçambique e em Macau. Foi deputado representando Pernambuco nas três primeiras
legislaturas e escolhido senador em 1838. Foi Ministro da Marinha, Fazenda, da Guerra e, interinamente,
ministro do Império (INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO, S/D).

39
quando o ministro vem apresentar o relatório do estado de sua repartição.
Pergunto, em qual dos dois casos estamos nós? Estou persuadido que o
Ministro que vem trazer o seu relatório, não está no primeiro, mas sim no
segundo caso. E qual é a questão? É a do recebimento do ministro que vem
trazer o seu relatório, e o que se tem a este respeito decidido a câmara? Que o
ministro seja recebido por 2 dos Srs111.

A partir das discussões entre os deputados, ficou decidido que o Ministro deveria
ser recepcionado pelos 3º e 4º secretários e que poderia ler seu relatório. O Ministro se
posicionou à esquerda da mesa e, de pé, iniciou sua leitura112.

Ao proceder a leitura do relatório, o Ministro José Clemente Pereira, exigia que


medidas legislativas fossem tomadas em ramos da administração como o comércio, a
agricultura, a instrução e a saúde pública. Entre as medidas propostas no relatório, a
educação física dos brasileiros aparecia ligada à necessidade de se promover a educação
dos “meninos desvalidos”.

Nos argumentos do Ministro, a defesa da educação física dos “desvalidos”


estava correlacionada com uma forma de fortalecimento do Brasil e criação de sujeitos
mais produtivos. Esse fortalecimento estava relacionado com uma integração entre
educação moral e física. Na visão do Ministro, era preciso educar os meninos desvalidos
para fazer com que eles se tornassem produtivos e não pesos para a sociedade no futuro
quando se tornassem adultos. Segundo seus argumentos, “[...] os [meninos] que
sobrevivem, diminuto serviço prestam, pela maior parte, à sociedade, porque crescem
sem educação física e moral, podendo afirma-se com afoiteza, que mais lhe servem de
peso que de proveito”113.

O Ministro ainda segue argumentando que o “aniquilamento físico” dos


desvalidos estaria ligado com a falta de nutrição que enfraquecia o “temperamento”
resultando numa vida “débil” e “doentia”. Como solução para esse problema de
educação física e moral, o Ministro sugeria uma maior atenção à instrução nos espaços
em que os “desvalidos” viviam. Segundo ele, “será sem dúvida um meio valente e

111
ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO, 1829, p.4.

112
ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO, 1829.

113
ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO, 1829, p.9.

40
seguro de aumentar e melhorar a população nascente do império, e de promover a sua
educação”114.

A educação física não estava sendo encarada como exercício físico, mas, nesse
caso, relacionada à alimentação, apresentado importância para o melhoramento da
população do Brasil recém independente. A preocupação era voltada para uma parcela
especifica da população do novo Império, os desvalidos. Uma preocupação diversa
daquela que constava na discussão entre os médicos envolvidos no concurso.
Aparentemente, a educação física, poderia ter usos diversos quando indicada para
diferentes estratos sociais ou quando mobilizada por agentes diferentes. A historiografia
sobre o século XIX já trabalhou com a educação física e outras práticas corporais em
diversos espaços como a escola 115 , os clubes 116 , os espaços de divertimento 117 , nas
instituição médicos 118 , no circo 119 e nas ginásticas 120 , entretanto, parece ser ainda
rarefeitas as compreensões sobre a educação física nos espaços destinados aos
“desvalidos”.

Não fica claro no relatório do Ministro que medidas deveriam ser tomadas, foi
apresentado somente que se deveria ter preocupação com a educação física dos
desvalidos para o seu melhoramento físico e o aumento de sua produtividade.
Indicações mais objetivas entrariam na agenda no ano seguinte na cidade do Rio de
Janeiro, com indicações de traduções e importações de impressos para reger a educação
física.

Em uma sessão da Assembleia Provincial do Rio de Janeiro no mês de março de


1830, em discurso sobre a instrução Pública, Paulino José Soares de Souza121, defendeu

114
ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO, 1829, p.9.

115
CUNHA JUNIOR, 2008; 2015.

116
PERES e MELO, 2014.

117
MELO, 2016; 2017; 2018.

118
GÓIS JUNIOR, 2012.

119
HAUFFE e GÓIS JUNIOR, 2014.

120
MORENO, 2015.

121
Paulino José Soares de Souza, posteriormente Visconde com honras de grandeza do Uruguai, nasceu
em Paris no ano de 1807 e faleceu no Rio de Janeiro em 1866. Magistrado, foi presidente da província do
Rio de Janeiro entre1836 1387. Foi eleito deputado provincial em 1836 e ocupou esse cargo até 1840,

41
a importação e posterior tradução de livros estrangeiros que tratavam do tema para
auxiliar na instrução da província. Dentre as suas sugestões encontrava-se Curso
Normal de Gerando, O Novo Manual das Escolas Primárias e o Guia Completo dos
Professores, todas obras organizadas na Universidade de Paris. Segundo ele: esses
livros continham “direções da maior importância e utilidade aos professores, ideias mui
luminosas sobre a educação física, intelectual, moral e religiosa”122.

Não temos indícios de que a Assembleia Provincial do Rio de Janeiro custeou a


importação e tradução de todos os livros indicados por Paulino José Soares de Souza.
Fato é que um deles foi traduzido, como se pode observar em uma propaganda
publicada na sessão annuncios do Jornnal do Commercio no ano de 1839123. Ao lado de
propagandas muito diversas como de sorvete, café, cirurgião dentista, aparelhos para
animais, escravos fugidos, alugueis e vendas de escravos, encontrava-se um anúncio em
se pode ler que estava no prelo uma tradução do Curso Normal de Gerando realizada
pelo Dr. João Candido de Deos e Silva124.

Esse Manual é conhecido da historiografia da Educação. Ele foi analisado por


Maria Helena Camara Bastos125 como o primeiro manual didático destinado à formação
docente no Brasil. Segundo ela, sua tradução e circulação estava ligada a disseminação
do ensino mútuo no Brasil e visava auxiliar a sanar o problema da formação dos
professores normais. Tal anúncio126 reforça a percepção de Bastos, pois segundo ele o
Curso de Gerando tinha sido indicado na Assembléia Provincial e que deveria ser
utilizado no Curso Normal, pois os objetivos do curso confluíam com a temática do
livro:

O objetivo do Curso Normal é a educação física, moral e intelectual dos


meninos. Convidamos pois a todos os Srs. Professores do império e governos

com exceção do período que foi presidente da província. Durante o Segundo Reinado ocuparia diversos
cargos como: Secretário de Estado dos Negócios da Justiça, dos Negócios Estrangeiros, membro do
Conselho de Estado e Senador (HOFFBAUER, 2017).

122
SOUZA, 1838, p.1.

123
JORNAL DO COMMERCIO, 1839d.

124
Tradutor, Magistrado e deputado da Assembleia Legislativa Provincial (BASTOS, 1998).

125
BASTOS, 1998.

126
Tradutor, Magistrado e deputado da Assembleia Legislativa Provincial (BASTOS, 1998).

42
das províncias a darem merecida estima a este trabalho, adotando-o para guia
da educação, única base da civilização e boa moral dos povos127.

Outras pistas aparecem nesse anúncio e ajudam a compreender a questão da


educação física e da educação. O autor do anúncio, possivelmente Deos e Silva, tradutor
de diversas obras que serão aqui apresentadas, defendia e apresentava obras francesas
traduzidas para a língua portuguesa que, em sua visão, contribuiriam para o
desenvolvimento literário do Brasil, tais obras eram: quatro volumes de MM. Noel e
Chapsal, Nova Grammatica franceza, Exercícios, Analyse Grammatical e Analyse
Logica.

O tradutor aponta que suas traduções estavam servindo de auxílio ao Imperial


Colégio de Pedro II e dos demais da corte, ou seja, sua tradução estava interligada ao
meio político, ao desenvolvimento da escola normal e das escolas da Corte
(especialmente o Colégio de Pedro II) e a tradição francesa. Se suas obras atuaram no
desenvolvimento das escolas ou não, não é tão importante por enquanto, o que interessa
é que ele as vendia dessa forma, assinalando que as traduções eram defendidas como
formas que poderiam agir na mudança social e na construção da nação brasileira.

Tratava-se, segundo Bastos128, que o Manual de Gerando, e podemos expandir


para as outras obras traduzidas, agiria na formação dos professores e outros leitores para
o desenvolvimento da educação física, intelectual e moral das crianças, como também
na explicação dos seus deveres com as autoridades, com as famílias, com os alunos e
consigo mesmos. Era preciso formar pessoas aptas para regenerar a sociedade a partir da
educação, formando um povo brasileiro capaz de submeter seus interesses individuais
aos da nação.

O Curso Normal de Gerando tinha como temática principal a educação e só


parcialmente tratava do tema da educação física 129 . A partir da década de 1830
encontra-se indícios da circulação de impressos com o interesse principal na educação
física. Ainda na sessão annuncios do Jornal do Commercio encontram-se propagandas

127
JORNAL DO COMMERCIO, 1839d, p.4.

128
BASTOS, 1998.

129
Pretende-se, ao longo do desenvolvimento da tese, a análise do Manual de Gerando e outras traduções.

43
do Tratado de educação physica 130 e o Tratado de educação physica e moral dos
meninos131.

Figura 2 - anúncio de Tratado de educação physica (1836a).

Figura 3 - Anúncio de Tratado de educação physica e moral dos meninos (1836d)

No que se refere ao Tratado de educação physica, ele encontrava-se à venda na


Rua do Ouvidor n. 189, Loja de Papel. Aparentemente essa loja funcionava há cerca de
um ano como uma espécie de loja de penhores tendo como proprietário Manoel José
Cardoso e C. vendendo todas as qualidades de papel e livros em branco, chás, rapés de e
comprando a vista de todos os clientes e amigos132.

130
JORNAL DO COMMERCIO, 1836a, 1836b, 1836c.

131
JORNAL DO COMMERCIO, 1836d.

132
JORNAL DO COMMERCIO, 1835.

44
O Tratado de Educação Física aparece em três anúncios dessa loja em cinco
publicados entre os anos de 1835 e 1836 no Jornal do Commercio, não existe
informação da autoria, preço ou do ano de publicação, mas ele é classificado como
“obra interessante” em conjunto com obras de diversos temas que variavam em cada
anúncio. Poderíamos supor que as obras anunciadas poderiam ter sido adquiridas de
algum cliente e se encontravam no anúncio até serem vendidas, o que poderia indicar a
circulação desse Tratado.

Sobre o Tratado de educação physica e moral dos meninos temos um pouco


mais de informações. Ele se encontrava a venda na Loja de Livros de Albino Jordão, rua
do Ouvidor n. 157. A Loja de Livros de Albino Jordão funcionava pelo menos desde o
ano de 1831 vendendo, alugando e comprando livros diversos e realizando uma gama de
trabalhos como os de escrita de cartório, impressão133, matrícula em aulas particulares134
e venda de ingressos de teatro135. Não é apresentada a autoria do Tratado, entretanto
encontra-se o seu preço, 1$600. Com esse valor era possível comprar um bom par de
luvas de fino trato 136 , as pílulas higiênicas do Dr. Ralph (remédio infalível para
indigestão, gota, reumatismo, ulceras, dentre outros)137 ou um saco de farinha regular138.

Sobre as duas obras vendidas é ponto importante que, embora apareçam livros
em língua francesa ou inglesa, em seus anúncios era sempre reforçado quando as obras
eram em português139. Parece que era relevante a questão da língua portuguesa em tais
publicações. Tanto que, pelo menos desde 1830, se buscava obras em “língua vulgar”
sobre a temática140. Poderíamos supor duas hipóteses: a primeira de um imaginário de
que a circulação de obras em língua portuguesa poderia aumentar o universo de leitores
sobre o tema, alcançando, talvez, pais e mães de família. Poderíamos supor, a partir de
133
JORNAL DO COMMERCIO, 1832a; 1832b.

134
JORNAL DO COMMERCIO, 1834a.

135
JORNAL DO COMMERCIO, 1834b.

136
DIARIO DO RIO DE JANEIRO, 1836a.

137
JORNAL DO COMMERCIO, 1836e.

138
DIARIO DO RIO DE JANEIRO, 1836b.

139
JORNAL DO COMMERCIO, 1831; 1834c.

140
SOUZA, 1838, p.1.

45
outros anúncios, em que é possível encontrar indicações de impressos que tratavam da
educação física das meninas, as futuras mães, como Cartas sobre a educação das
meninas 141 em que esse argumento era utilizado. Uma segunda hipótese, que não
elimina necessariamente a primeira, é que a publicação de livros em português seria um
negócio mais lucrativo do que em francês, inglês ou alemão por abranger um universo
maior de leitores. Fato é que a língua era um obstáculo que precisava ser vencido pelos
leitores no Brasil e as traduções eram elemento importante. No caso da educação física,
esse parecia ser ponto fulcral e diversos são os anúncios em que João Candido de Deos
e Silva é apontado como tradutor.

Não só no Jornnal do Commercio pode-se encontrar anúncios sobre a educação


física. Na sessão annuncios, de um periódico com um curioso subtítulo: O Chronista:
Há no mundo quem tenha mais juízo que Voltaire, mais força que Napoleão, o povo,
que circulou entre os anos de 1836 e 1838 com três números por semana, foram
publicados três anúncios de venda do jornal literário e instrutivo O Panorama que se
encontrava à venda na Livraria de Eduardo Laemmert142, na rua da Quitanda.

Segundo os anúncios, esse jornal era uma “imitação” dos periódicos ingleses e
franceses Penny-Magazin, Magasin universel e Musée des familles, era publicado em
Lisboa, pela Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis. Essa publicação “útil e
divertida” tinha o objetivo de “vulgarização de conhecimentos variados por todas as
classes da sociedade”143, podendo ser adquirida pelo preço de rs. 4500 por um ano em
52 números ou por rs. 480 pelo caderno avulso com 4 números com estampas144.

No anúncio foi descrito os diversos temas tratados nos quatro primeiros


números. Eram temas bastante diversos como, por exemplo, higiene, arquitetura e,
outros mais curiosos, como cemitérios e ritos fúnebres na Turquia 145. Dentro dessas
variedades podia-se encontrar a educação física. Ainda não encontrei O Panorama nos
arquivos, todavia se pode fazer algumas considerações a partir da indicação de leitura

141
JORNAL DO COMMERCIO, 1839d.

142
O CHRONISTA, 1838b; 1838c.

143
O CHRONISTA, 1838a, p.4; 1838b, p.4; 1838c. p.4.

144
O CHRONISTA, 1838a; 1838b; 1838c.

145
O CHRONISTA, 1838a; 1838b; 1838c.

46
desse impresso. Seu conteúdo era defendido como “útil e divertido”. Para além do
caráter civilizador que a historiografia já apontou para a educação física, aparentemente
ela era tomada também como uma curiosidade dentro de temas de variedades. Isso fica
indicado pela diversidade de temas a que se encontra associada nos anúncios no Jornal
do Commercio e no O Chronista e pelas suas qualificações como: “interessante”146 e
“útil e agradavel”147.

Ao longo do século XIX no Brasil diversas práticas de divertimento serão


representadas como agradáveis e úteis. Elas eram entendidas como iniciativas que
ajudariam a forjar o progresso da nação em direção a modernidade ao mesmo tempo que
divertiam seus praticantes. Exemplos são o turfe148, que divertia ao mesmo tempo que
melhorava a raça de cavalos nacionais; a patinação149, que divertia ao mesmo tempo
que melhoraria a saúde e as valências física; as fabricas de cerveja150 que divertiam ao
mesmo tempo que ajudavam a forjar a indústria nacional, dentre muitos exemplos. No
caso particular desse trabalho, a leitura sobre educação física poderia ter esse caráter de
divertimento e melhora e progresso da nação.

A educação física estava em circulação dentro do período pesquisado. Ela


possuía usos bastantes diversos dependendo do seu agente e a quem era destinada. Isso
ajuda a entender a entrada na discussão entre os médicos. Ela era uma possibilidade por
ser uma variedade que demonstrava um conhecimento geral dentro daquele contexto,
conhecer a educação física demonstrava certa ilustração. Entretanto seu uso ainda era
bastante particular na discussão entre os médicos. Será que dentro dos meios médicos
era poderia ter leituras diversas? No próximo item apresentarei uma discussão sobre um
Tratado de educação física escrito e lido por médicos.

146
JONRAL DO COMMERCIO, 1835.

147
O CHRONISTA, 1838b; 1838c.

148
MELO, 2013.

149
MELO, 2016.

150
MELO, 2018.

47
2.4 - A voz da natureza: o Tratado de Francisco de Mello Franco

Nas propagandas dos manuais, pode-se encontrar um caso particular em um


anúncio na sessão Obras Publicadas do Diario do Rio de Janeiro. Nesse anúncio se
podia ler que se encontrava à venda na Loja de Livros Veiga e Comp., rua da Quitanda
canto da de S. Pedro, o livro Hygiene e Tratado de Educação Physica dos meninos de
autoria de Francisco de Mello Franco151.

Essa obra é peculiar, primeiro, por não se tratar de uma tradução, mas de livro
escrito em íngua portuguesa. Segundo, seu autor nasceu em terras brasileiras, em
Paracatu, Minas Gerais, em 1757. Nesse item vamos nos deter na análise desse Tratado
e de sua leitura feita por médicos no Brasil nos anos de 1830.

Embora tenha nascido na América portuguesa, seu Tratado foi escrito é


publicado em Portugal. O Tratado da Educação Física dos Meninos, para uso da nação
portuguesa152 foi escrito sob encomenda da Academia de Ciências de Lisboa. Pode-se
encontrar indícios sobre isso no próprio Tratado. Na sua contracapa, aparece um artigo,
assinado por José Corrêa da Serra, que teria sido extraído das atas de tal Academia em
reunião de 1 de outubro de 1789, em que se pode ler:

Tendo fido apresentado à Academia, pelo seu correspondente do Número, e


Membro da Comissão para o adiantamento da Medicina Nacional, Francisco
de Mello Franco, o Tratado que tinha composto de Educação Física para uso
da Nação Portuguesa, julgou a Academia que era digno de ser impresso à sua
custa, e debaixo do seu privilégio153.

Não temos indícios sobre o motivo da escolha de Mello Franco para a escrita do
manual ou se foi uma iniciativa do próprio médico. Também ainda não possuo
elementos para compreender o que representava fazer parte da Comissão para o
adiantamento da Medicina Nacional de Portugal. O que se pode afirmar é que Mello
Franco era um sujeito que tinha forte ligação com o movimento de renovação do
pensamento em Portugal e por isso sofre grandes represálias durante a “viradeira”.

Em 1772, ocorreu uma reforma no ensino médico na Faculdade de Medicina da


Universidade de Coimbra. Essa reforma aproximava o curso à uma medicina ligada à

151
DIARIO DO RIO DE JANEIRO, 1832.

152
FRANCO, 1789.

153
FRANCO, 1789, p. ii.

48
preceitos racionalistas. É dentro desse contexto de renovação no curso de medicina que
Francisco de Mello Franco se matricula em 1775. Entretanto seu curso viria a ser
interrompido após a coroação de Maria I. Em 1777 ele foi condenado pelo Santo Ofício
por ser herege, naturalista, dogmático e por negar o matrimônio, ficando preso até o ano
de 1781. Ele só retornaria ao curso em 1782, quando viu-se livre da Inquisição, se
formando em 1785154.

Depois de formado ele se dedicou à clínica se tornando médico renomado,


compondo inclusive a junta médica que examinou D. Maria I, declarando-a insana. Ele
publicou diversas obras relevantes, além do Tratado de Educação Física (1789), ele
publicou instigante livro sobre religião e medicina, Medicina teológica (1794), e um
livro sobre higiene, Elementos de hygiene (1814)155.

Seu Tratado de Educação Física tinha um caráter de manual, era dirigido aos
país e aos profissionais que lidariam com a educação física, possuía cerca de 120
páginas e pelo seu índice dá para ter uma ideia da temática privilegiada da educação
física, a puericultura. Também se nota a preocupação em demonstrar um diálogo com a
produção da época de higiene.

Figura 4 - Capa do Tratado de Mello Franco (FRANCO, 1789).

154
ABREU, 2006.

155
ABREU, 2006.

49
O Tratado era iniciado por um elogio da Academia ao seu conteúdo, seguido de
um prefácio escrito pelo próprio Mello Franco. Seu conteúdo foi divido em doze
capítulos, sendo o capítulo oito em sete artigos.

Quadro 5 - Capítulos do Tratado de Melo Franco.


Título do Capítulo

Capítulo I Porque modo se deve reger uma mulher pejada.

Capítulo II Logo que a criança nasce, deve ser separada dos pés da mãe, cortando-se o
cordão umbilical; e como deve ele ser ligado.

Capítulo III Do quanto é nocivo o frio no instante do nascimento

Capítulo IV Qual seja o verdadeiro modo de lavar as crianças

Capítulo V A utilidade dos banhos frios provada pela razão, pela prática dos antigos, e
pelos exemplos dos povos do Norte

Capítulo VI A espécie humana tem degenerado, e sensivelmente degenera na Europa, e


porque motivos.

Capítulo VII Como se devem vestir as crianças, e os abusos que há a este respeito

Capítulo VIII Do quanto diz respeito ao modo de nutrir as crianças.

Capítulo IX Do sono, e do berço

Capítulo X Do exercício, não só no que diz respeito às crianças, mas ainda geralmente
considerado

Capítulo XI Do modo de aperfeiçoar os sentidos das crianças

Capítulo XII Da grandíssima utilidade, que resultaria ao Estado, e a cada um dos


particulares, a geral introdução da inoculação das bexigas.

Quadro 6 - Artigos do capítulo oito.


Título do artigo

Artigo I Se deve mamar logo na mãe. E quando há de ser a primeira vez.

Artigo II Todas as mães são obrigadas a criar seus filhos.

Artigo III Quais são as mães que legitimamente estão dispensadas de criar seus filhos.

Artigo IV Quais são os meios de suprir esta impossibilidade das mães, e que condições

50
deve ter a ama.

Artigo V Que regularidade deve haver em dar de mamar as crianças; e os abusos que
vulgarmente reinam a esse respeito.

Artigo VI Quando devem principiar a comer, e qual será a comida própria.

Artigo VII Quando se devem desmamar as crianças: como se deve então proceder: que
alimentos se devem dar daí por diante até aos quatro anos.

Seus argumentos partem do principio de que Portugal viveu um movimento de


degeneração da sua população. Segundo ele, seria pela vida urbana que espécie humana
estaria sofrendo esse processo, e de forma mais radical em Portugal. Para ele, “os
nossos corpos tão pouco capazes” pela “nossa vida mole, e delicada” 156 estariam se
tornando francos e incapazes.

Segundo sua visão, outros elementos se somariam para o processo de


degeneração. Ele destaca a invenção da pólvora e a economia política que estavam
tornando os seres humanos cada vez mais sedentários. Ele dá grande ênfase em
elementos anti-higienicos que estariam agindo nesse processo como: o casamento entre
pessoas da mesma família, a prostituição, o cuidado médico exercido por mãos não
autorizadas pela medicina, habitações pouco saudáveis nas grandes cidades e a falta de
cuidados com as crianças. É em especial nesse último elemento que seu texto está
centrado.

Seu Tratado estava preocupado com a educação física das crianças de Portugal.
Seu esforço era em criar um sistema próprio de educação física das crianças portuguesas
a partir da leitura crítica de diversas obras sobre higiene que teve acesso. Segundo ele,
“por meio da meditação fiz um sistema próprio, servindo-me das ideias de todos, sem
seguir mais do que aquelas que a minha razão, e observação confirmavam, aumentando,
alterando, e inovando”157.

A grande chave argumentativa de Francisco de Mello Franco era que a vida


urbana estava afastando o ser humano da natureza. Esse afastamento estaria tornando a
raça humana cada vez mais frágil e doente. A partir disso, a educação física deveria ser

156
FRANCO, 1789, p. 24.

157
FRANCO, 1789, p.v.

51
regrada a partir da natureza. Cabia ao médico ouvir a voz da natureza para entender
como ela funcionava e criar as formas de se educar fisicamente o corpo no meio urbano.
Em seu entendimento, a educação física abrangeria o clima, o ar respirado, o banho, a
nutrição, os sentidos, a vacinação e os exercícios físicos. Durante o seu texto ele vai
apresentar exemplos do que deveria e não deveria ser seguido pelos pais para
desenvolverem uma educação física adequada das crianças.

A educação física da criança começava, segundo ele, no ventre da mãe. Ele


afirmava que se deveria regular os alimentos que nutrem a mãe gravida, pois toda a
nutrição da criança provinha da alimentação da mãe. Segundo ele, “o feto tira da mãe
toda a sua nutrição, e que, segundo os alimentos de que ela usar, será mais, ou menos
feliz a sua disposição”158.

Era preciso regular o sono da mãe, que deveria ser aumentando, mas não
aumentado em demasia. “Quando digo isto não entendo o abuso do sono, quero dizer,
que se fora deste estado uma mulher dormia sete por exemplo, deve dormir oito”159. Ele
ainda indicava os exercícios físicos para as mulheres, especialmente aquelas de vida
sedentária, porque “sem exercício ninguém pode gozar de saúde constante”160. Todavia,
não era qualquer exercício.

Durante as indicações dos exercícios ele adota uma retórica do que era indicado
em contraponto do que não era indicado. Faz isso para sinalizar que qualquer elemento
da educação física poderia ser pernicioso ou saudável, tudo dependia de sua aplicação
adequada para situação em que se encontrava o indivíduo e se seguia as regras da
medicina e da natureza. No caso do exercício para as mulheres grávidas ele indicava os
passeis em ar campestre ou em ruas largas, limpas, em bairros elevados e que não
avizinhassem cemitérios e oficinas. Já os exercícios não indicados eram: andar a cavalo
ou de carruagem, principalmente em lugares calçados e pedregosos, contradanças,
levantamentos de peso ou qualquer movimento violente.

As vestimentas das mulheres gravidas também era uma preocupação. A regra,


mais uma vez, era a seguir a natureza. Segundo ele:

158
FRANCO, 1789, p.2.

159
FRANCO, 1789, p.7.

160
FRANCO, 1789, p.7.

52
A regra geral pois é, que nem com espartilhos, nem com vestidos, nem com
cintas, e nem de alguma outra sorte devem fazer aperto ao ventre, seguindo
nisto os passos da natureza. E como as mulheres em tal estado caem mais
facilmente pela mudança do seu centro de gravidade, devem trazer saltos
baixos e largos, para melhor se firmarem nos pés161 .

Além da mãe, o pai também era uma preocupação, ele não deveria estar doente,
pois “todos terão tido muitas ocasiões de observar, que de um pai cheio de enfermidades
nunca nasceu um filho robusto, outro tanto digo da mãe”162.

A relação de idade dos pais também era uma preocupação. Baseado em


Ballexferd, Francisco de Mello Franco, afirmava que o homem deveria ter entre 25 e 50
anos, a mulher entre 18 e 40 anos. Nunca a idade da mulher deveria ser maior do que a
do homem, “porque a natureza é mais tardia em o levar a estado de perfeição”163. Além
disso, ele apontava que a diferença de idade entre os pais não poderia ser grande.

Contudo ao longo de seu texto a grande preocupação não é com o pai, mas sim
com a mãe, com a criança e na relação da mãe com a criança. Após apontar o indicado e
o não indicado durante o período da “prenhes”, Mello Franco, apresenta sua gramatica
para a educação física da criança recém-nascida. Defende seu modelo de corte do
cordão umbilical, o cuidado para não expor a criança ao ar frio, o modo ideal para
banhar a criança, os modos de vestimentas, os cuidados na amamentação e como
deveria ser feita a escolha da ama de leite, caso a mãe não pudesse amamentar. Não irei
apresentar pormenorizada cada indicação do médico, irei destacar dois pontos que
acredito sintetizar seus argumentos: o cuidado com o ar frio e o banho frio como
higiênico.

Ao analisar o cuidado que as mães deveriam ter para não expor o recém-nascido
ao ar frio, Francisdo de Mello Franco, deixa a mostra alguns elementos da sua
perspectiva teórica sobre a clínica e a doença. Ele apresenta um exemplo de caso clínico
que participou e como chegou a conclusão da causa morte da criança. Com o infante
morto, ele resolve fazer uma autopsia para descobrir como o caso tinha transcorrido.
Seguimos com a narração do fato:

161
FRANCO, 1789, p.9.

162
FRANCO, 1789, p.2.

163
FRANCO, 1789, p.4.

53
Achei os intestinos sãos, mas vazios, o fígado e o pâncreas em bom estado,
menos a parte convexa do fígado, que estava muito aderente ao diafragma. O
baço era de notável pequenez, formando uma estreita aderência com o
estômago em todos os pontos, em que dantes havia contiguidade; o que;
segundo entendo, embaraçou o seu crescimento. O estômago mostrava não
ter tido lesão; mas na parte em que a borda superior do baço lhe estava
aderente, as túnicas eram tão delgadas, que bastava tocar-lhes brandamente
para se despedaçarem164.

Essa narração detalhada da anatomia em busca da causa da morte da criança,


indica elementos do modelo médico identificado como anatomoclínico. Nesse modelo
era buscado fazer uma correlação entre os sinais e sintomas do paciente com lesões em
certas partes do corpo como órgãos. O principal meio de descrição das doenças era a
autopsia165. A descrição de Mello Franco parece indicar procedimentos desse tipo de
modelo teórico em seu Tratado.

Figura 5 - Reencenarão da primeira demonstração pública de retirada de tumor com anestesia


geral por éter, Boston, 1846 (TEIXEIRA; EDLER, 2012).

O segundo ponto que destaco é a regulação do banho. Para ele o banho deveria
ser dado logo que a criança nascesse para retirar o “líquido viscoso em que as crianças
se encontram sujas quando nascem” 166. Esse líquido dificultaria a transpiração pelos

164
FRANCO, 1789, p.19.

165
EDLER, 2011.

166
FRANCO, 1789, p.20.

54
poros e deveria ser limpado com água morna. Com o passar do tempo a água deveria se
tornar cada vez mais fria, porque a água fria fortificava o corpo enquanto a água quente
era agradável e enfraquecedora por ser antinatural. Ao criticar as mães que usam o
banho quente em seus filhos, ele argumenta:

Mas esta saudável prática será sem dúvida embargada pela cega ternura das
mães, que resguardando seus filhos até do mesmo ar puro, os vão dispondo a
serem mais melindrosos, que o vidro. Enganai-vos, mães cruéis, pois mais
que confieis na vossa riqueza, e estudado melindre, não os podereis libertar
das leis da natureza. Elas abrangem a todos, e se algum espaça, é só aquele
que não procura fugir-lhes. Procurais, é verdade, poupar-lhes o pequeno
incomodo de um banho de água fria. Para que se não constipem, dizeis vós,
tragamo-los sempre abafados; o calor é quem os cria. E com efeito conseguis
trazê-los pouco menos que em uma estufa, mas quanto o não sentirão, quando
se virem frouxos, languidos, sem aquele vigor, e alegria, que só pode dar a
saúde? Ensinai por tanto a vossos filhos a suportarem com igualdade de
animo aquilo, que depois não poderão evitar. Preparai-os antecipadamente a
todos os acidentes, que pela mobilidade das cousas, ou pela encadeação dos
sucessos, se levarão no meio das maiores felicidades. Este será o melhor
patrimônio, que lhes podereis deixar167.

O cuidado com a limpeza pela água era um elemento importante de seus


argumentos. Ele estava filiado a um entendimento de limpeza que não passava apenas
pela brancura das roupas ou pelo agradável do odor, mas pelo uso da água para retirar as
impurezas do corpo e fortifica-lo. Esse era um modelo de entendimento dos usos das
águas que não à ligada a diversão, mas sim a uma água que protege e reforça o corpo168.
Esse ponto guarda relações com o primeiro destacado. O uso do banho frio estava
relacionado com o modelo de intervenção no e sobre o corpo nos moldes da medicina
anatomoclínica. Um corpo que deveria ter suas partes fortificadas para resistir as
intempéries e agentes externos e ao mesmo tempo, nos argumentos de Mello Franco,
um corpo que deveria seguir e resistir a natureza, um corpo com ouvidos capazes de
escutar a voz da natureza.

Apesar do Tratado ter sido escrito em 1789, o que interessa nesse item é a leitura
feita dele no Brasil da década de 1830. Estamos trabalhando com a perspectiva de que a
leitura é uma prática social e cultural169. Que ao analisar o conteúdo e a leitura desse
texto é preciso estar atento as relações sociais que o envolvem, tanto na sua produção, e

167
FRANCO, 1789, p.23.

168
VIGARELLO, 1996.

169
CHARTIER, 1996.

55
no caso desse ponto, das relações sociais envolvidas em sua leitura. Defendo a hipótese
de que no Brasil dos anos de 1830, alguns médicos fizeram uma leitura original do
Tratado de Mello Franco o transformando de uma obra preocupada com a educação
física das crianças de Portugal em uma preocupada com a educação física das crianças
brasileiras.

Francisco de Mello Franco estudou e se tornou um médico de atuação destaca


em Portugal. Ele retorna ao Brasil em 1815 fazendo parte da comitiva da D. Leopoldina
da Áustria170. Encontramos indícios da circulação de seu tratado em terras do Brasil
independente. Além do já citado anúncio no Diário do Rio de Janeiro171, seu Tratado
rendeu discussões e elogios na tribuna da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro.

Na reunião de 24 de abril de 1831, José Martins da Cruz Jobim, realizou uma


homenagem ao já morto Francisco de Mello Franco. Nesse elogio a Mello Franco,
encontramos algumas informações sobre a leitura de Jobim de seu Tratado e a imagem
apresentada do autor e médico. Primeiro a identidade atribuída à ele: “brasileiro
ilustre”172. Ele atribui a identidade de brasileiro a um sujeito que nasceu muito antes do
Brasil independente tentando dar uma ligação desse autor ao Brasil e não a Portugal,
espaço de sua formação e atuação profissional como médico e autor173. Pelos indícios
encontrados até o momento, Francisco de Mello Franco se identificava como Português
e em nenhum momento como brasileiro. Inclusive, em seu Tratado, quando
exemplificado algum caso do Brasil, o apresenta como algo distante e numa cor de
exotismo.

Ainda seguindo o elogio de Cruz Jobim, para ele, Mello Franco, tinha
desenvolvido grande esforço para transformar em língua inteligível os conhecimentos
da higiene, que era sua maior preocupação, e que sobre essa matéria “Mello fez grande
serviço aos que falam a língua portuguesa escrevendo uma obra em linguagem
inteligível para todos, e para todos útil”174. Mais uma vez a questão da utilidade da

170
ABREU, 2006.

171
DIARIO DO RIO DE JANEIRO, 1832.

172
JOBIM, 1831, p.3.

173
JOBIM, 1831.

174
JOBIM, 1831, p.7.

56
educação física, mas dessa vez não era uma utilidade difusa. A partir da leitura de José
Martins da Cruz Jobim existia um sentido mais estrito do útil, a formação do brasileiro.

Apesar disso seu elogiador, José Martins da Cruz Jobim, lamentava que “não se
ache mais difundida entre nós e tão pouco divulgada” 175 . Mesmo com tal lamento,
temos indícios da possível circulação desse tratado nos meios médicos. Em ata da
sessão da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro do ano de 1834 pode ser encontrado
um agradecimento referente ao recebimento pela sociedade de seis exemplares do livro
Hygiene e Tratado de Educação Physica dos Meninos, remetidos pelo sócio
correspondente Joaquim Jeronimo Serpa, estabelecido em Pernambuco176. Ainda não se
pode afirmar que esse tratado é o mesmo de Francisco de Mello Franco, contudo, são
homônimos no mínimo. Também encontramos a informação de que em 1831 o Tratado
de Mello Franco se encontrava na terceira edição177 o que mais uma vez pode indicar
circulação no Brasil.

Ainda em sua homenagem à Mello Franco, Cruz Jobim aponta as contribuições


de seu Tratado para o avanço do Brasil. O primeiro ponto defendido da contribuição do
Tratado para educação das mães. Segundo Jobim, é pela obra que “aprenderão as mães
de família como se devem conduzir enquanto grávidas; quanto perdem em não criar
seus filhos, com que cuidados os devem criar” 178. E continua Jobim afirmando que:
“pois se há um ponto sobre que a Medicina tem ainda de fazer grandes serviços é
certamente tratando da maneira porque as mães se devem comportar na educação de
seus filhos”179.

Sua leitura do Tratado de Melo Franco era a de uma educação física que poderia
reger a educação das mães dos filhos da nação. Uma condução a partir do conhecimento
da higiene. Uma educação física como conhecimento médico e científico sobre como as
mães deveriam criar seus filhos, e mais que isso, um conhecimento médico que indica
que as mães devem criar seus filhos e não entregar a terceiros. Um novo modelo de

175
SEMANARIO DE SAUDE PUBLICA, 1831b, p.6.

176
REVISTA MEDICA FLUMINENSE, 1835.

177
SEMANARIO DE SAUDE PUBLICA, 1831b.

178
JOBIM, 1831, p.6.

179
JOBIM, 1831, p.6.

57
família e maternidade que seria o mais higiênico para a formação da nação tendo a
educação física como uma estratégia.

A leitura segue com uma representação de como a criança poderia ser regida a
partir dessa possibilidade, a ferramenta higiênica da educação física poderia conduzir
esse caminho. Segundo Jobim:

uma criança pode ser considerada como tenra planta, flexível para todas as
direções, que se lhe quiserem dar; se ela é bem organizada, os primeiros
cuidados daqueles, os primeiros cuidados daqueles, que lhe deram a
existência, diversamente dirigidos podem fazer do mesmo ente um herói, ou
um covarde thersites (sic.), um protótipo de força ou um exemplo deplorável
de fraqueza, um ente de uma inteligência superior, ou um idiota igual ou
mesmo inferior a qualquer irracional180.

Mais elementos são indicados sobre seu modelo de família e nação em seu
Elogia à Mello Franco. Fazendo reflexões e extrapolando a obra de Mello Franco, o
médico e elogiador apresenta as possibilidades da educação física para a construção do
nascente povo brasileiro. Nada melhor do que as próprias palavras de Jobim para isso:

E se esta educação é de suma importância para qualquer povo, pois tende a


aumentar o número de cidadãos úteis, e valiosos, quanto maior desvelo não
merece entre um povo nascente, cuja necessidade principal é promover por
todos os meios possíveis o acréscimo de sua população! (...) Refletindo sobre
este ponto interessante de prosperidade publica, calculando quantas crianças
perecem por falta de recursos, ou por uma educação miserável, reconheceria
o Governo do Brasil, que encerra o gérmen de uma população imensa,
aplicando para melhorar a condição dos filhos dos nossos pobres as somas
despendidas com colonos estrangeiros; é esta uma matéria sobre que o Brasil
espera de vós grandes serviços esclarecendo o seu Governo, e apontando-lhe
a marcha que deve seguir tanto para aumento da população como para
melhoramento da nossa espécie, objeto desprezando entre todos os povos, e
que se tivesse sido atendido nos pouparia a magoa de vermos a degeneração,
em que vai descaindo o gênero humano, como bem se acha demonstrado na
obra de que falamos181.

Outro indício de uma leitura original do Tratado de Mello Franco pode ser
encontrado em outra reunião da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro. Essa reunião
ocorreu em 19 de junho de 1831 e tinha como objetivo a leitura do Relatório da
Comissão de salubridade geral da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro assinado
por José Martins da Cruz Jobim, Joaquim José da Silva e Christovão José dos Santos182.

180
JOBIM, 1831, p.6.

181
JOBIM, 1831, p.6-7.

182
SEMANARIO DE SAUDE PUBLICA, 1831b.

58
No relatório que apresenta de forma “didática” algumas medidas para o
melhoramento da higiene pública da cidade e do Império, a educação física das crianças
foi a primeira medida defendida. Na defesa da educação física das crianças não fica
claro quais eram as propostas sobre o tema, mas o que chama atenção é mais uma vez a
questão da língua em que esse tema deveria ser publicado para maior circulação entre as
pessoas.

Os autores alertam que só existia no Brasil o Tratado de Francisco de Mello


Franco, que “apesar de não ser perfeito, devemos lastimar que não seja mais conhecido
entre nós”183. Os autores do relatório seguem afirmando indicação de que existia um
número “prodigioso” de obras em inglês e francês e que o trabalho para o avanço sobre
esse tema deveria ser “coligir o que parecesse melhor para um tratado em língua vulgar,
que circulasse entre as mãos de todos os pais de família” 184 . Chama mais uma vez
atenção a possível utilidade do Tratado para a melhora da educação física brasileira. E
chama ainda mais atenção o título atribuído ao Tratado: Hygiene e Tratado de
Educação Physica dos meninos, em que o elemento Portugal e omitido. Talvez se trate
de um descuido ou coincidência, mas em conjunto com os outros elementos proponho
que intencionalmente Portugal foi omitido para ligar esse Tratado ao “ilustre brasileiro”
que atuaria na educação física dos meninos brasileiros e desenvolvimento do Brasil.

Dessa forma, entre os médicos analisados, parece que existia uma busca por
formas de reger a educação física do brasileiro. Preocupação semelhante aos debates na
Assembleia constituinte e em outros debates parlamentares. Elemento importante é que
tal busca por normatização era feita a partir da ressignificação de Tratado aqui
analisado. Ele era tomado como um tratado brasileiro e não português. Que outras
possibilidades e propostas poderiam estar em jogo em tal contexto e como elas ajudam a
compreender o significado da educação física?

2.5 – Os projetos de educação física em jogo

Nesse último item do capítulo apresentarei algumas propostas de educação física


que chamaram atenção ao longo da leitura da documentação. Chamaram atenção por
representarem possibilidades de usos diversos da educação física por diversos agentes

183
JOBIM; SILVA; SANTOS, 1831, p.1.

184
JOBIM; SILVA; SANTOS, 1831, p.1.

59
dentro do contexto pesquisado. O objetivo é apresentar uma leitura inicial sobre as
propostas. Essa análise continuará ao longo do processo de escrita da tese.

Vamos começar do ponto inicial, a disputa pelo concurso da cadeira de anatomia


da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1839. Nesse concurso Dr. Domingos
Azevedo relativizava a importância de sua constituição física para o seu ingresso como
lente da Faculdade e apresentava a educação moral como a mais significativa e que o
diferenciava do Dr. Garcia.

A educação, ou é física ou moral, se o Sr. Dr. Garcia se refere à primeira, tem


razão; porque, com efeito, sou de uma constituição muito débil; mas se teve
por fim referir-se à segunda, lhe digo que, além de faltar torpemente à
verdade, não é capaz de possuir uma educação moral melhor do que a minha,
e talvez nem boa185.

Essa interpretação parece ter sido bastante original por parte do Dr. Domingos
de Azevedo. A partir da documentação pesquisada a relação entre a educação física e a
educação moral parecia bastante íntima. Inclusive ainda relacionada com a educação
intelectual. Um exemplo desse ponto pode ser apreendido de um episódio ocorrido no
do Collégio de Pedro II.

O Imperador Pedro II mal tinha completado treze anos de idade e iria participar
de mais um compromisso oficial no domingo de 14 de dezembro de 1838. O recém-
inaugurado Colégio, que levava seu nome, estava finalizando seu primeiro ano letivo e,
em solenidade, iria distribuir os prêmios para os escolhidos como melhores alunos de
grego, latim, francês, aritmética, geografia, história, desenho, gramática latina e
gramática nacional186.

A repercussão de tal evento ganhou as páginas da imprensa em tom laudatório


sendo classificado como ato “singelo” e “tocante” 187 . Além do Correio Official 188 ,
pode-se ver notícias sobre a solenidade em periódicos como O Chronista189 e em outro

185
AMERICANO, 1839b, p.3.

186
CORREIO OFFICIAL, 1838.

187
CORREIO OFFICIAL, 1838, p.534.

188
CORREIO OFFICIAL, 1838.

189
O CHRONISTA, 1838d..

60
periódico com um título de uma data marcante para vida do jovem Imperador, O sete
d’Abril190, dia da abdicação de D. Pedro I.

A descrição mais detalhada desse evento pode ser encontrada na sessão Não
official do Correio Official191. Segundo a descrição, a cerimônia teve lugar em um dos
mais vastos salões do edifício em que se instalava o Colégio que estava “apinhoado”
com mais de mil espectadores, na maior parte, parentes e amigos dos educandos. Além
dos familiares, o evento contava com a presença do Imperador, seus regentes, tutor e
todos os Ministros. A sala estava ornada com decência e abrilhantada com a animada
fisionomia dos espectadores. Após apresentações musicais, deu-se início ao discurso do
Medico e Professor de Retórica Joaquim Caetano da Silva, a distribuição dos prêmios,
outros discursos e a finalização do evento com um grande banquete192.

Na imprensa foi marcado o caráter diferenciado que representava tal evento e


que tinha a ver com o método emprega naquele Colégio. Invés de se reprimir os
estudantes com a palmatória e castigos corporais, o novo Colégio, premiava seus
melhores estudantes defendendo que a recompensa era mais eficaz que a punição193.

O orgulho do método não punitivo que se pode perceber no discurso de Caetano


da Silva pode ser explicado pela sua aproximação das indicações higiênicas que viam a
criança a partir de outro prisma. Segundo Lemos, no século XIX a partir da higiene a
criança passa a ser vista como um ser que precisava ser protegida, cuidada, amparada e
educada e que os ideais higienistas a defenderiam dos males, um desses males era a
violência física194. Esse parecia ser o entendimento de Caetano da Silva.

Ponto que chama atenção em seu discurso é a defesa de uma educação que
levasse em conta as dimensões intelectuais, morais e físicas do indivíduo. No tocante à
dimensão física, defendia em estilo e palavras pomposas que:

é o melhoramento corporal, indispensável condição para o progresso da


Humanidade, e por consequência obra boa, verdadeiramente santa.

190
O SETE D’ABRIL, 1838a; 1838b.

191
CORREIO OFFICIAL, 1838.

192
CORREIO OFFICIAL, 1838.

193
O SETE D’ABRIL, 1838a; O CHRONISTA, 1838d.

194
LEMOS, 2005.

61
Prescindindo da insuprimível saúde, são necessárias força e destreza, são
úteis formosura e graça. – Sem força e sem destreza, prendas do corpo, não
poderia nunca ser manejada a multiforme indústria, esse portentoso
instrumento, com que vai o homem, feitura de Deus, continuando a criação. –
Sem formosura e sem graça, prendas do corpo, devem sempre temer a
Sabedoria e a Virtude, que lhes volte a inexperiência o rosto; enquanto
bastam muitas vezes estas únicas partes para que dela recebam espontâneos
ósculos a desprezível ignorância, o pestilento vício: dolorosa verdade, mas
indubitável e de tal importância que a própria Divina Religião de Cristo, tão
sobranceira à matéria, judiciosamente aproveitou este material meio de
insinuação, personalisando formosíssimas as virtudes. Evangélicas
formosíssimas potestades do céu (653)195.

Chamou atenção da imprensa tal discurso e de sua defesa de um necessário


equilíbrio entre as dimensões da educação. Tanto é, que nos anúncios sobre o evento,
foi destaca a defesa da educação física e as vantagens do melhoramento do corpo e não
só das dimensões intelectuais e morais. Modelo esse, defendido por Joaquim Caetano da
Silva, que supostamente estavam presente no Imperial Colégio de Pedro II196.

Esse modelo particular de educação acreditava que o desenvolvimento


intelectual sem o igual desenvolvimento físico e moral era um risco na formação da
infância brasileira. Sua defesa de uma preocupação com a dimensão física viria a dar
frutos alguns anos no futuro. A Joaquim Caetano da Silva coube em 1841, já na posição
de Reitor, decidir sobre a entrada do primeiro mestre de Ginástica do Imperial Colégio
de Pedro II197, todavia, em seu discurso, percebe-se uma preocupação da a educação
física anterior a entrada da ginástica e que ela, educação física, não representava
somente a ginástica.

O discurso pronunciado na solenidade de 1838 tinha um objetivo claro, a


educação física, intelectual e moral no Imperial Colégio de Pedro II deveria formar uma
elite ilustrada no Brasil. Embora estivesse trabalhando com uma visão de sociedade em
que todos tinham sua importância, em seu discurso, ele defende que as importâncias
eram relacionais, mas não no mesmo patamar e que o Colégio formaria os quadros mais
importantes. Segundo ele, “sim, brasileiros, a verdadeira dignidade de caráter consiste
em fazer constates esforços para alcançar e manter a superioridade; e também em
respeitá-la com afeição nos que, mais que nós a possuem”.

195
SETE D’ABRIL, 1838b, p.2.

196
SETE D’ABRIL, 1838b.

197
CUNHA JUNIOR, 2003.

62
Em contexto bastante diverso do Collégio de Pedro II a educação física também
era uma preocupação. Já foi apontado nesse mesmo texto a preocupação da educação
física dos “desvalidos” e parece que esse tipo de preocupação era tão importante nos
debates quanto de uma educação física das elites ilustradas. Exemplo disso pode ser
encontrado nas páginas de O Chronista do ano de 1838198. Em crônica publica em O 7
d’Abril de 1838, vemos uma preocupação com o futuro do Brasil, por ser um “país
novo” e que “o aumento da população é a primeira necessidade”.

O Cronista toca num ponto primordial para o projeto de construção da Nação, a


sua população. Para esse projeto, seu texto apresenta uma preocupação com a “infância
desvalida” e sua educação. Mas não era qualquer educação, muito menos uma educação
que ensinasse somente a ler. Era preciso uma educação que formasse também, e
principalmente, física e moralmente a infância desvalida. Segue alguns de seus
argumentos:

Em um país novo como o nosso, em que o aumento de população é a


primeira necessidade, como desprezarmos toda essa geração que não espera
senão por nossos socorros, e nossa proteção para desenvolver-se vantajosa
para nós, e para si mesma? Como deixarmos entregues a miséria em que
nasceram tantos indivíduos, que tão facilmente sairiam dela si os
quiséssemos educar? Não: abrir-lhe-emos escolas gratuitas, aprendam a ler si
o quiserem, e depois quando homens, se tiverem fome, peçam a leitura
alimentos, se a fome os levar ao crime, sua leitura os premuna, se forem
levados ao vicio pelos exemplos diários, seus livros que o afastem do vício.
Oh não! De certo não temos feito nada para a mocidade desvalida ensinando-
lhes a ler, nada temos feito nem para ela nem para a sociedade. É preciso que
a arranquemos aos exemplos diários, é preciso que a obriguem a estudar, a
trabalhar, a ganhar a vida com o suor de seu rosto, é preciso tudo isso para
que tenhamos desempenhado nossa obrigação para com a sociedade futura,
ou por outra é preciso que abramos asilos199.

A criação de asilos para a infância desvalida já tinha sido discutida nesse mesmo
periódico. E seguindo os seus argumentos, rememorando antigas discussões, o cronista
afirmava que a “educação de nossa mocidade indigente reclama, e exige de nossos
administradores, e de todos os homens filantropos a criação de algumas casas de asilos
onde se eduque, onde estude artes úteis, onde se acostume a prática das virtudes morais
e religiosas”200.

198
O CHRONISTA, 1838e.

199
O CHRONISTA, 1838e, p. 658.

200
O CHRONISTA, 1838e, p. 658.

63
A educação voltada aos “indigentes” precisava ser útil e moralizante, era preciso
criar sujeitos úteis e não em “pesos para sociedade”. Parece que existia uma
preocupação que os segmentos sociais menos privilegiados no processo de construção
da nação brasileira e a educação física seria um elemento importante nessa formação.
Um Brasil que seria construído pelo “melhoramento” da população tinha nas mãos “os
destinos do Brasil e da civilização”201.

Outro impresso periódico em que essa discussão aparece é o Correio


OfficialErro! Indicador não definido.. Nesse caso temos uma diferença marcante, ela
trata da educação física das meninas. Esse artigo foi assinado pelos estudantes de
medicina Francisco Freire Allemão, João Francisco de Pinho e José Ferreira dos
Santos202. Nesse caso, também relacionado ao projeto de construção da nação, se crítica
que as instalações da Casa de Recolhimento da Misericordia.

Segundo argumentos dos jovens médicos, as instalações da Casa não


apresentariam condições e proporções para o bom desempenho da instituição fazendo
com que “a educação física e moral das meninas é abandonada a mais estúpida rotina;
sendo rara a que dali sai com uma constituição vigorosa, e habilidade para o bom
desempenho dos deveres de mãe de família”203. Nesse caso a educação física parecia
estar relacionada a arquitetura do edifício em que as meninas ficariam. Mas chama
atenção que a educação física dessas meninas teria o objetivo de formá-las para ser
mães de família, mais uma vez a busca da criação de um modelo de mãe e de mães da
nação pelos médicos.

A partir dessas primeiras impressões de projetos de educação física notamos que


ela poderia ser diversa. Poderia representar uma ampla gama de aspectos ligados a
educação do corpo. Poderia ser aplicada na formação das elites ilustrados no Collégio
de Pedro II, nos espaços em que a “infância desvalidas” se encontrava, na Casa de
Recolhimento de Misericórdia. Poderia ser elemento importante na educação de
meninos e meninas, na formação da população da jovem nação brasileira.

201
O CHRONISTA, 1838e, p. 658.

202
CORREIO OFFICIAL, 1835.

203
CORREIO OFFICIAL, 1835, p.338

64
Era também uma variedade que ao mesmo tempo era útil e agradável. Uma
leitura importante, que deveria ser traduzida para o português e para o entendimento da
população de forma mais ampla. Foi tema da discussão sobre o credenciamento de um
candidato para a cadeira de medicina.

A partir do exposto, da sua diversidade e amplitude, fica claro que a educação


física pode ser um elemento que dá pistas para compreender outro presente em suas
manifestações sociais e culturais. Também é possível que dê elementos para se pensar o
processo de construção, invenção e transformação da nação brasileira em curso nos
primeiros anos do Império. Esse será o objetivo da tese em andamento.

65
3 – Planejamento para a tese

Nesse capítulo apresentarei algumas propostas para os próximos dois anos do


trabalho de pesquisa de doutoramento. É importante salientar que são caminhos que no
estágio atual da pesquisa consigo vislumbrar a partir do contato com a documentação,
com a historiografia e com as minhas experiências de pesquisa. Entretanto, esses
caminhos, não estão engessados, pelo contrário, penso a qualificação como o principal
momento para debater as propostas e, principalmente, ouvir de pesquisadores mais
experientes possibilidades para o prosseguimento da pesquisa.

Optei por dividir esse texto em três pontos. Na primeira, indicarei algumas
leituras que preciso fazer para melhor compreender o contexto em que a pesquisa se
insere e o debate político envolvido na invenção da nação brasileira, também aponto
algumas leituras complementares sobre temas diversos que envolvem a pesquisa. No
segundo, centrarei nas questões metodológicas do trato com a documentação que penso
serem adequadas aprofundar para uma análise mais rigorosa e vigorosa das fontes, irie
apresentar algumas documentações que proponho serem trabalhadas ao longo da
pesquisa e a partir de quais perguntas elas serão mobilizadas e a organização do
pretendido texto final da tese. No terceiro e último ponto, um cronograma de estudos e
pesquisa.

Começando pelas leituras sobre o contexto. O planejamento de leituras começa


com a revisita dos volumes 1 – A crise colonial e independência (1808-1830) e 2 – A
construção Nacional (1830-1889), da coleção História da Brasil Nação204. A coleção
conta com a direção de Lilia Mortiz Schwarcz e esses volumes foram coordenados
respectivamente por Alberto da Costa e Silva e José Murilo de Carvalho. Penso ser
importante tal leitura para realizar um panorama geral do contexto da independência e
do período do primeiro reinado e da regência em seus aspectos políticos, culturais,
sociais e econômicos.

Uma segunda indicação de leitura é o livro Inventando a Nação: intelectuais


ilustrados e estadistas luso-brasileiros na crise do Antigo Regime Português (1759-
1822), de autoria de Ana Rosa Cloclet da Silva205. A partir desse livro pretendo me

204
SILVA, 2012; CARVALHO, 2012.

205
SILVA, 2006.

66
familiarizar com os esboços do que posteriormente viriam a se tornar os projetos de
nação brasileira no âmbito da tradição luso-brasileira.

Para o período de Independência e Primeiro Reinado algumas indicações de


leitura são, o retorno a coleção Independência: história e historiografia, organizada por
206
István Jancsó , o livro de Lúcia Bastos Pereira das Neves, Corcundas e
constitucionais: a cultura política da independência (1820-1822) 207 e o de Marco
Morel, O período das regências (1831-1840)208 e, do mesmo autor, As transformações
dos espaços públicos: imprensa, atores políticos e sociabilidades na cidade imperial
(1820-1840) 209 . Esse último é particularmente importante por tratar os impressos
periódicos, uma das principais documentações nessa pesquisa de doutoramento, e o
período regencial e suas questões políticas.

Com relação a historiografia da Educação Física, pretende-se ampliar o intervalo


da pesquisa bibliográfica até o início da década de 1990. Isso para analisar as
perspectivas em que a educação física vinham sendo tratas pela historiografia. Pretende-
se usar o mesmo método de escolha a partir das revistas científicas da área de Educação
Física e História da Educação.

Para além das leituras indicadas, pretende-se ampliar as leituras a partir das
temáticas que surgirem na documentação, das indicações de leitura na bibliografia
pesquisada e nas sugestões da banca de qualificação.

A impressa periódica tem uma das principais documentações transformadas em


fontes nesse trabalho. Entretanto algumas lacunas no trato da documentação ainda
precisam ser supridas para melhor entendimento das propostas de educação física na
construção da nação brasileira dentro do período pesquisado. Penso que o primeiro
ponto que precisa ser suprido, é uma análise pormenorizada dos periódicos em que a
educação física aparece. Preciso compreender quais são suas linhas editoriais, seus
leitores imaginados, editores, projetos e agentes políticos envolvidos da sua produção.

206
JANCSÓ, 2005.

207
NEVES, 2003.

208
MOREL, 2003.

209
MOREL, 2005.

67
Também preciso compreender a circulação de tais periódicos e o que representavam no
debate público da época.

Além disso é preciso estar atento aos periódicos em que a educação física não
aparece. Buscar no não dito indícios de projetos políticos em que a educação física não
era ferramenta para construção da nação brasileira. Ao fazer o contraponto do dito e do
não dito, posso compreender como a educação física foi mobilizada ou não mobilizada
nos projetos de construção da nação brasileira.

Outro ponto que precisa ser destacado é a análise da materialidade desses


documentos. Entender como eram produzidos, por quem, onde e a qual custo. Também
entender como eram organizados e quais eram os protocolos de leitura dessa
documentação. Ao fazer uma análise de como era a diagramação e se possuíam ou não
sessões, posso analisar qual era o leitor idealizado e como o editor e o autor tentavam
controlar a leitura de seu impresso.

A partir da documentação as questões que envolviam as traduções apareceram


como importantes para disseminação e normatização da educação física. Essa questão
necessita ser aprofundada e pretende destinar um capítulo da tese para essa temática.
Nesse capítulo proponho compreender a criação de um mercado editorial de traduções,
as formas de produção e circulação da educação física em língua portuguesa. Penso que
esse tema pode dar elementos para compreender os modelos de educação física que
seriam importados e ressignificados para a construção de uma educação física e da
nação brasileira.

Um caminho possível é analisar os tradutores, suas filiações políticas e projetos


de Brasil, bem como, as obras traduzidas e apresentada como dignas de tradução. Ao
mesmo tempo, será importante acompanhar outras obras traduzidas para pensar como
num conjunto de textos traduzidos pode significar projetos políticos, educacionais e
editoriais. Também penso que os debates parlamentares e na impressa podem dar
indícios de pedidos de traduções e traduções realizadas no período.

O último ponto analisado, que se pretende tratar em um capítulo específico,


serão as propostas e intervenções por meio da educação física para a construção da
nação. Para esse ponto pretende-se buscar indícios das propostas educação física e das
práticas no cotidiano onde ela era indicada. Além do Collégio de Pedro II, chama

68
atenção as propostas para espaços destinados para os “desvalidos” e órfãos. Essa parece
ser uma lacuna na historiografia que esse capítulo poderia adicionar para o debate.

Dentro desse contexto, procurarei correlacionar com os projetos de educação


integral em voga. Trabalho com a hipótese que diferentes projetos de educação integral
indicam diferentes projetos de formação, de pessoas a construir e modelos de nação.
Dessa forma, as educações físicas em espaços educativos, que não se resumem a escola,
poderiam indicar os projetos de Brasil que estavam presentes no debate no contexto
pesquisado.

A partir do expostos, a organização da tese será em três capítulos, mais a


apresentação e as considerações finais. Na apresentação irei apresentar as considerações
teóricas e metodológicas da pesquisa e a construção do problema de pesquisa em
diálogo com a historiografia e o contexto escolhido para o estudo. No capítulo 1, a
proposta é entender a construção das diversas formas de educação física dentro do
Brasil e do Rio de Janeiro do período pesquisado. Um exercício próximo ao que foi
apresentado nesse texto de qualificação, tomando como principal documentação a
imprensa periódica. O Capítulo 2, será para discutir o mercado editorial e as traduções
sobre a educação física e como esses textos foram utilizados no debate público sobre o
tema e na defesa de projetos de nação, para esse capítulo os textos das traduções,
indícios de suas leituras e debate políticos serão os principais documentos que se
pretende tornar fontes. No Capítulo 3, irei me debruçar sobre as propostas e possíveis
intervenções da educação física em espaços educativos, pensando que essas propostas e
intervenções indicam projetos de formação da população da jovem nação brasileira.
Esses espaços serão escolhidos a partir da própria documentação. No presente momento
considero o Collégio de Pedro II, a Casa de Recolhimento da Misericórdia e outros
espaços destinados aos “desvalidos”. Para esse item, pretende-se buscar documentos
institucionais dos respectivos espaços e possíveis relatos de estudantes, asilados,
professores e outros agentes que estiveram nesses espaços. Nas considerações finais
buscarei sintetizar as principais ideias do texto e possíveis novas perguntas a partir do
que foi pesquisado.

69
Modelo do índice de tese:

1. – Apresentação
2. – A construção da educação física
3. – Traduções e educação física: a criação de um mercado editorial em
português.
4. – Proposta para a educação física: escolas e asilos dos “desvalidos”
5. – Considerações Finais

70
Cronograma de trabalho:

2019 Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

Defesa da X
Qualificação

Revisão X X X X X X X X X
bibliográfica

Busca de X X X X X X
fontes

Análise da X X
documentação

2020 Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

Revisão X X X X X
bibliográfica

Busca de X X X X X X X
fontes

Análise da X X X X X X X X X
documentação

Escrita da tese X X X X X X X

2021 Jan. Fev. Mar.

Entrega da X
tese para
banca

Defesa de tese X

71
Referências Documentais

AMERICANO, Domingos Marinho d’Azevedo. Correspondencia. Jornal do


Commercio. Terça feira, 9 de julho de 1839, n. 150, ano XIV, 1839a. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/11439>. Acesso em: 12 set. 2018.

__________________________________________. Correspondencia. Jornal do


Commercio. Quinta feira, 18 de julho de 1839, n. 158, ano XIV, 1839b. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/11471>. Acesso em: 9 set. 2018.

__________________________________________. Correspondencia. Jornal do


Commercio. Segunda feira, 29 de julho de 1839, n. 169, ano. XIV, 1839c. Disponível
em: <http://memoria.bn.br/docreader/364568_02/11519>. Acesso em 12 de set. 2018.

__________________________________________. Correspondencia. Jornal do


Commercio. Sexta feira, 27 de setembro de 1839, n. 227, ano XIV, 1839d. Disponível
em: <http://memoria.bn.br/docreader/364568_02/11755>. Acesso em 12 set. 2018.

ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO. Augusto e digníssimos senhores


representantes de nação: relatório de José Clemente Pereira. Sessão em 1 de junho de
1829. Annaes do Parlamento Brasileiro, 1829. Disponível em: < >. Acesso em 10 de
set. 2018.

ATALAIA. Atalaia. N. 10, 1823. Disponível em: < >. Acesso em 10 de set. 2018.

BRASIL. Decreto de 1º de dezembro de 1822: crêa a Ordem Imperial do Cruzeiro.


1822.

CORREIO MERCANTIL. O jornal e o livro (Machado de Assis). Correio Mercantil.


Rio de Janeiro, 10 e 12/01/1859.

CORREIO OFFICIAL. O Imperial Collegio de Pedro II. Correio Official. Quarta Feira
19 de Dezembro de 1838, v.2, n. 141, 1838. Disponível em
<http://memoria.bn.br/DocReader/749443/6473>. Acesso em 2 de dez. 2018.

__________________. Do recolhimento, ou hospício das orphãs. Correio Official.


Quarta Feira, 15 de Abril de 1835, Tomo IV, n. 84, 1835. Disponível em
<http://memoria.bn.br/DocReader/749443/2133>. Acesso em 20 de dez. 2018.

DOUTORAMENTO EM MEDICINA. Jornal do Commercio. Sábado, 29 de


dezembro de 1838, n. 291, ano XIII, 1838. Disponível em
<http://memoria.bn.br/docreader/364568_02/10823>. Acesso em: 13 de set. 2018.

DIARIO DO RIO DE JANEIRO. Obras Publicadas. Diario do Rio de Janeiro. N. 2.


Rio de Janeiro: Typographia do Diario. 3 de fevereiro do ano de 1832. Disponível em: <
>. Acesso em 15 de set. 2018.

72
_______________________. Vendas. Quarta Feira, 27 de janeiro de 1836, n. 2, 1836a.
Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/17888>. Acesso em
01/03/2019.

_______________________. Vendas. Sexta feira, 29 de abril de 1836, n. 22, 1836b.


Disponível em : <http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/17897>. Acesso em
01/03/2019.

FRANCO, Francisco de Mello. Tratado da Educação Fysica dos Meninos, para uso
da Nação portugueza publicado por ordem da Academia Real das Sciencias de
Lisboa por Francisco de Mello Franco, Medico em Lisboa, correspondente do
numero da mesma sociedade. Lisboa: Offina da Academia Real das Sciencias, 1789.

GARCIA, José Mauricio Nunes Garcia. Correspondencia. Jornal do Commercio.


Quarta feira, 26 de junho de 1839, n. 140, Ano XIV, 1839a. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/docreader/364568_02/11396>. Acesso em: 12 set. 2018.

__________________________________. Correspondencia. Jornal do Commercio.


Sexta feira, 12 de julho de 1839, n. 153, ano XIV, 1839b. Disponível em
<http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/11451>. Acesso em: 12 set. 2018.

__________________________________. Declaração. Jornal do Commercio. Quinta


feira, 25 de julho de 1839, n. 165, ano. XIV, 1839c. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/docreader/364568_02/11503>. Acesso em: 12 de set. 2018.

JOBIM, José Martins de Cruz. Elogio histórico de Mello Franco, lido na sessão publica
de 24 de abril de 1831, pelo Sr. Sr. José Martins da Cruz Jobim, Membro Titular.
Semmanario de Saude Publica. 14 de maio, n. 20, 1831. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/702560/107>. Acesso em 15 de set. 2018.

JOBIM, José Martins da Cruz; SILVA, Joaquim José da; SANTOS, Christovão José
dos. Relatorio da Commissão de salubridade geral, da Sociedade de Medicina do Rio de
Janeiro, appresentado, e approvado na Sessão de 19 de Junho. Semanario de Saude
Publica, n. 15, 9 de abril, 1831. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/702560/77>. Acesso em 15 de set. 2018.

SOUZA, Paulino José Soares de. Discurso de abertura da assembléa Procincial no Mez
de Março de 1838. Jornal do Commercio. 9 de março, n. 55, ano XIII, 1838.
Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/9855>. Acesso em 15 de
set. 2018.

JORNAL DO COMMERCIO. Pede-se-nos a publicação do seguinte.... Jornal do


Commercio. Sábado, 28 de Setembro de 1839, n. 228, ano. XIV, 1839a. Disponível em
<http://memoria.bn.br/docreader/364568_02/11759>. Acesso em: 12 de set. 2018.

________________________. Sessão em 30 de setembro. Presidência do Sr. Araujo


Vianna. Jornal do Commercio. 1 de outubro de 1839, n. 231, ano. XIV, 1839b.
Disponível em: <http://memoria.bn.br/docreader/364568_02/11770>. Acesso em: 12 de
set. 2018.

73
________________________. Pede-se-nos a publicação do seguinte.... Jornal do
Commercio. Segunda feira, 11 de novembro de 1839, n. 271, ano XIV, 1839c.
Disponível em: <http://memoria.bn.br/docreader/364568_02/11930>. Acesso em: 12 de
set. 2018.

________________________. ANNUNCIOS. Jornal do Commercio. 29 de


Dezembro, n. 94, ano. VI, 1831.

________________________. ANNUNCIOS. Jornal do Commercio. 24 de Maio de


1832, n. 211, ano VII, 1832a. Disponível em < >. Acesso em 20 de set. 2018.

_______________________. ANNUNCIOS. Jornal do Commercio. 8 de junho de


1832, n. 223, ano VII, 1832b. Disponível em < >. Acesso em 20 de Set. 2018.

______________________. ANNUNCIOS. Jornal do Commercio. 28 de Outubro de


1834, n.242, ano VIII. 1834a.

______________________. ANNUNCIOS. Jornal do Commercio. 30 de Outubro de


1834, n.244, ano VIII. 1834b.

______________________. ANNUNCIOS. Jornal do Commercio. 18 de Outubro de


1834, n.234, ano VIII. 1834c.

______________________. ANNUNCIOS. Jornal do Commercio. 29 de Setembro de


1835, n. 213, ano IX, 1835. <http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/6972>.
Acesso em: 15 de Dez, 2018.

________________________. ANNUNCIOS. Jornal do Commercio. 25 de abril de


1836, n. 90, ano, X, 1836a. Disponível em
<http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/7648>. Acesso em: 15 de set. 2018.

________________________. ANNUNCIOS. Jornal do Commercio. 25 de Maio de


1836, n. 113, ano X, 1836b. Disponível em
<http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/7750>. Acesso em: 15 de set. 2018.

________________________. ANNUNCIOS. Jornal do Commercio. 20 de junho de


1836, n. 133, ano X, 1836c. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/7829>. Acesso em: 15 de set. 2018.

________________________. ANNUNCIOS. Jornal do Commercio. 23 de Junho de


1836, n. 135, ano X, 1836d. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/7842>. Acesso em 15 de set. 2018.

________________________. ANNUNCIOS. Jornal do Commercio. 29 de Janeiro de


1836, n. 22, ano X, 1836e. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/7364>. Acesso em: 01/03/2019.

________________________. ANNUNCIOS. Jornal do Commercio. 12 de outubro


de 1839, n. 242, ano XIV, 1839. Disponível em
<http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/11816>. Acesso em: 15 de set. 2018.

74
O ESPELHO. A reforma pelo jornal (Machado de Assis). O Espelho. Rio de Janeiro,
13/10/1859.

O RESPEITADOR DO MERITO. Correspondencia. Jornal do Commercio. Sexta


feira, 5 de julho de 1839, n. 147, ano XIV, 1839. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/docreader/364568_02/11425>. Acesso em: 12 set. 2018.

O CHRONISTA. ANNUNCIOS. O CHRONISTA. Terça Feira, 5 de Fevereiro de


1838, n. 139. 1838a. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/702811/485>.
Acesso em 18 de set. 2018.

_______________. ANNUNCIOS. O CHRONISTA. Sábado, 10 de Fevereiro de 1838,


n. 141, 1838b. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/702811/493>. Acesso
em 18 de set. 2018.

_______________. ANNUNCIOS. O CHRONISTA. Quinta Feira, 22 de Maço de


1838, n. 158, 1838c. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/702811/553>.
Acesso em 18 de set. 2018.

_______________. Collegio de Pedro II. O CHRONISTA. Terça Feira, 18 de


Dezembro de 1838, n. 268, 1838d. Disponível em
<http://memoria.bn.br/DocReader/702811/955>. Acesso em 2 de dez. de 2018.

_______________. Cazas de azylo e estabelecimentos de educação. O CHRONISTA.


Sábado, 7 de Abril de 1838, n. 165, 1838e. Disponível em: <
http://memoria.bn.br/DocReader/702811/579>. Acesso em 25 de dez. de 2018.

O SETE D’ABRIL. Collegio de Pedro II. O Sete d’Abril. Sexta Feira, 21 de Dezembro
de 1838, n. 650, 1838a. Disponível em
<http://memoria.bn.br/DocReader/709476/2754>. Acesso em 2 de dez. de 2018.

O SETE D’ABRIL. Imperial Collegio de Pedro II. O Sete d’Abril. Segunda Feira, 31
de Dezembro de 1838, n. 658, 1838b. Disponível em
<http://memoria.bn.br/DocReader/709476/2765>. Acesso em 2 de dez. de 2018.

PINHEIRO, Artidóreo Augusto Xavier. Organisação das Ordens Honorificas do


Imperio do Brazil. São Paulo: Typographia a vapor de Jorge Seckler & c., 1884.

REVISTA MEDICA FLUMINENSE. 1.ª Sessão em 25 de Fevereiro de 1834. Publicada


pela Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro. Revista Medica Fluminense. N 4,
julho, Typographia Fluminense de Brito& e Comp. Rio de Janeiro. 1835. Disponível
em:<>. Acesso em 15 de set. 2018.

75
Referências Bibliográficas

ABREU, Jean Luiz Neves. A educação física e moral dos corpos: Francisco de Mello
Franco e a medicina luso-brasileira de fins do século XVIII. Estudos Ibero-
Americanos, v. XXXII, p. 65-84, 2006.

ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA. Membros: José Mauricio Nunes Garcia


Junior. Disponível em:
<http://www.anm.org.br/conteudo_view.asp?id=1772&descricao=Jos%C3%A9+Mauric
io+Nunes+Garcia>. Acesso em 12 de set. 2018.

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a


difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

ANDRADE, Débora El-Jaick. Semeando os alicerces da nação: história, nacionalidade


e cultura nas páginas da revista Niterói. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.
29, n. 58, p. 417-442, 2009.

BASTOS, Maria Helena Camara. A Formação de Professores Para O Ensino Mútuo: O


Curso Normal Para Professores de Primeiras Letras do Barão de Gérando (1839).
Revista História da Educação, Pelotas/RS, v. II, n.3, p. 95-120, 1998.

BLOCH, Marc. Apologia da História: ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Zahar


editora, 2002.

BRASIL, Bruno. Atalaia, 2017. Disponível em:


<http://bndigital.bn.gov.br/artigos/atalaia/>. Acesso em: 10/02/2019.

BRASILEIRO, Lívia Tenorio. Educação Física e arte: reflexões acerca de suas origens
na escola. Motriz, v. 16, p. 742-750, 2010.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. História da Câmara dos Deputados: Pedro de


Araújo Lima. s/da. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/a-
camara/conheca/historia/presidentes/pedro_lima2.html>. Acesso em 11/02/2019.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. História da Câmara dos Deputados: Antônio


Paulino Limpo de Abreu. s/db. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/a-
camara/conheca/historia/presidentes/antonio_abreu1.html>. Acesso em 10/02/2019.

CASTELLANI FILHO, Lino. Educação Física no Brasil: a história que não se conta.
Campinas, SP: Papirus, 1988.

CARVALHO, José Murilo de (Org.). A Construção da Nação: (1830-1889). volume


2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

CERTEAU, Michel. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense, 1982.

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora


da UNESP, 1998.

76
________________. A leitura: uma prática cultural. In: CHARTIER, Roger. (Org.).
Práticas de leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996.

COSTA, Wilma Peres. A independência na historiografia brasileira. In: JANCSÓ,


István (Org.). Independência: história e historiografia. São Paulo: Hucitec/FAPESP,
2005.

COSTA, Luciene Henrique da; SANTOS, Marysol de Souza; GÓIS JUNIOR, Edivaldo.
O discurso médico e a Educação Física nas escolas (Brasil, século XIX). Revista
Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 28, p. 273-282, 2014.

CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando. Os exercícios gymnasticos no Collegio Imperial


de Pedro Segundo (1841-1870). Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas,
v. 25, n.1, p. 69-81, set/Nov, 2003.

_______________________________________. O ensino da Educação Física no


Imperial Collegio de Pedro Segundo (1841-1881). Cadernos de História da
Educação, v. 14, p. 71-93, 2015.

DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos, e outros episódios da história


cultural francesa. Rio de Janeiro: Graal , 1986.

DUBY, Georges. A História Contínua. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar Ed. UFRJ, 1993.

EDLER, Flávio Coelho. A medicina no Brasil Imperial: clima, parasitas e patologia


tropical. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2011.

FERREIRA NETO, Amarílio. Apresentação. In: FERREIRA NETO, Amarílio. (Org).


Pesquisa histórica na educação física, v. 3. Aracruz, ES: Faculdade de Ciências
Humanas de Aracruz, 1998.

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO. Sócios falecidos


brasileiros: Antônio Francisco de Paula Holanda Cavalcanti de Albuquerque, Visconde
de Albuquerque. S/D. Disponível em:
<https://ihgb.org.br/perfil/userprofile/AFPHCAlbuquerque.html>. Acesso em:
11/02/2019.

GÓIS JUNIOR, Edivaldo. Ginástica, higiene e eugenia no projeto de nação brasileira:


Rio de Janeiro, século XIX e início do século XX. Movimento, v. 19, p. 139-159,
2013a.

____________________. O esporte e a modernidade em São Paulo: práticas corporais


no fim do século XIX e início do XX. Movimento, v. 19, p. 95-117, 2013b.

GÓIS JUNIOR, Edivaldo; BATISTA, José Carlos Freitas. A introdução da Gymnastica


na Escola Normal de São Paulo (1890-1908). Movimento, v. 16, p. 69-85, 2010.

GONDRA, José Gonçalves. Artes de Civilizar: medicina, higiene e educação escolar


na Corte Imperial. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2004.

77
GUTIERREZ, Diego Monteiro; ANTONIO, Victor Sá Ramalho; KATER, Thiago;
ALMEIDA, Marco Antonio Bettine. Um estudo sobre a introdução e institucionalização
do rugby no Brasil 1891-1940. Revista da Educação Física, v. 28, p. 1-10, 2017.

HAUFFE, Mirian; GÓIS JUNIOR, Edivaldo. A educação física e o funâmbulo: entre a


arte circense e a ciência (século XIX e início do século XX). Revista Brasileira de
Ciências do Esporte, v. 36, p. 547-559, 2014.

HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade.


Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

HOFFBAUER, Daniela. Biografias: Paulino José de Soares de Sousa, Visconde do


Uruguai. 2017. Disponível em: <http://mapa.an.gov.br/index.php/publicacoes2/70-
biografias/557-paulino-jose-soares-de-sousa-visconde-do-uruguai>. Acesso em
15/02/2019.

HONORATO, Tony. A educação física na formação de professores normalistas (1897-


1921). Movimento, v. 21, p. 743-757, 2015.

JANCSÓ, István. Brasil e brasileiros: notas sobre modelagem de significados políticos


na crise do Antigo Regime português na América. Estudos Avançados, v. 22, p. 257-
274, 2008.

______________. Independência: história e historiografia. São Paulo:


Hucitec/FAPESP, 2005.

LARA, Silvia Hunold. Os documentos textuais e as fontes do conhecimento histórico.


Anos 90, v. 15, p. 17-39, 2008.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. 7. ed. rev. Campinas-SP: Editora Unicamp,


2013.

LEMOS, Daniel Cavalcanti de Albuquerque. Entre a palmatória e a moral. Nossa


História. Rio de Janeiro, v.1, n.15, 2005.

LUCA, Tania Regina de. L'utilisation des fonds périodiques: réflexions


méthodologiques pour un nouvel espace de l'historiographie brésilienne. Materiaux
pour l'Histoire de Notre Temps, v. 103, p. 38-42, 2011.

LUSSAC, Ricardo Martins Porto; TUBINO, Manoel José Gomes. Capoeira: a história e
trajetória de um patrimônio cultural do Brasil. Revista da Educação Física, v. 20, p.
07-16, 2009.

LYRA, Vanessa; MAZO, Janice Zarpellon. A Escola Superior de Educação Física e o


campo da formação de professores no estado sul-rio-grandense: as origens da formação
especializada (1869-1929). Movimento, v. 16, 2010.

MELO, Victor Andrade de. A dança nas escolas do Rio de Janeiro do século XIX
(décadas de 1820-1860). Revista Brasileira de História da Educação, v. 16, p. 303-
332, 2016a.

78
_______________________. Esporte, propaganda e publicidade no Rio de Janeiro da
transição dos séculos XIX e XX. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 29, p.
126-134, 2008a.

_______________________. Evidência e especulação: “a origem” do futebol no Rio de


Janeiro (1898-1902). Movimento, v. 23, p. 919-934, 2017.

_______________________. Experiências de ensino da dança em cenários não


escolares no Rio de Janeiro do século XIX (décadas de 1820-1850). Movimento, v. 22,
p. 497-508, 2016b.

_______________________. O automóvel, o automobilismo e a modernidade no Brasil


(1891-1908). Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 30, p. 187-204, 2008b.

________________________. O sport em transição: Rio de Janeiro, 1851-1866.


Movimento, v. 21, p. 363-376, 2015.

_______________________. Temos apaixonados para o mar e para a terra:


representações do esporte nos folhetins (Rio de Janeiro; 1851-1855). Revista Brasileira
de Educação Física e Esporte, v. 27, p. 553-566, 2013.

_______________________. Saudável e fashionable: a patinação no Rio de Janeiro do


século XIX (1878-1892). Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 40, p. 17-23,
2016c.

MELO, Victor Andrade de; GOELLNER, Silvana Vilodre; GENOVEZ, Patricia Falco;
PAIVA, Fernanda Simone de Lopes; CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da.
Projeto bibliografias: descortinando fontes para a História da Educação Física e do
Esporte no Brasil. In: FERREIRA NETO, Amarílio. (org). Pesquisa histórica na
educação física v. 3. Aracruz, ES: Faculdade de Ciências Humanas de Aracruz, 1998.

MELO, Victor Andrade de; KNIJNIK, Jorge Dorfman. Uma nova e moderna
sociedade? O esporte no teatro de Arthur Azevedo. Revista Brasileira de Ciências do
Esporte, v. 37, p. 11-19, 2015.

MELO, Victor Andrade de; PERES, Fábio de Faria. O trato da gymnastica nas revistas
médicas do Rio de Janeiro do século XIX. Revista História da Educação, v. 19, p.
167-185, 2015.

MELO, Victor Andrade de; SANTOS, Flavia Cruz. Deslizando rumo ao progresso: a
patinação em São Paulo (1877-1912). Movimento, v. 23, p. 171-184, 2017.

MELO, Victor Andrade de; SANTOS, João Manuel Malaia Casquinha; FORTES,
Rafael; DRUMOND, Maurício. Pesquisa histórica e história do esporte. Rio de
Janeiro: 7 Letras, 2013.

MILAGRES, Pedro; SILVA, Carolina Fernandes da; KOWALSKI, Marizabel. O


higienismo no campo de Educação Física: estudos históricos. Motrivivência, v. 30, n.
54, p. 160-174, 2018.

79
MINISTÉRIO DA FAZENDA. Galeria de Ministros: Pedro de Araújo Lima. 2015.
Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/galeria-
de-ministros/pasta-imperio-segundo-reinado-dom-pedro-ii/pasta-imperio-segundo-
reinado-dom-pedro-ii-ministros/pedro-de-araujo-lima>. Acesso em 12/02/2019.

MOREL, Marco. As transformações dos espaços públicos: imprensa, atores políticos


e sociabilidades na cidade imperial (1820-1840). São Paulo: Hucitec, 2005.

_____________. O período das Regências (1831-1840). Rio de Janeiro: Jorge Zahar


ed, 2003.

MORENO, Andrea. A propósito de Ling, da ginástica sueca e da circulação de


impressos em língua portuguesa. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 37, p.
128-135, 2015.

MORENO, Andrea; ROMÃO, Anna Luiza Ferreira; CABRAL, Pedro Luiz da Costa;
MORAIS, Ramona Mendes Fontoura de; FERNANDES, Gyna de Ávila; MARTINI,
Cristiane Oliveira Pisani. Tornando-se professor e professora de gymnastica: percursos
no ensino normal em Minas Gerais (1890-1898). Revista Brasileira de Ciências do
Esporte, v. 36, p. 515-529, 2014.

NEVES, Lúcia Bastos Pereira das. Corcundas e constitucionais: a cultura política da


independência (1820-1822). Rio de Janeiro: Revan/Faperj, 2003.

OLIVEIRA, Marcus Aurelio Taborda de. (Org.). Educação do corpo na escola


brasileira. Campinas: Autores Associados, 2006.

OLIVEIRA, Marcus Aurelio Taborda de; PYKOSZ, Lausane Correa. A escolarização


das práticas corporais no Estado do Paraná (1846-1926): perscrutando o acervo de
periódicos da Biblioteca Pública do Paraná. História da Educação, v. 13, p. 115-142,
2009.

PEIXOTO, Elza Margarida de Mendonça; PEREIRA, Maria de Fátima Rodrigues.


Políticas de Educação não formal – a recreação (1889-1961). Revista HISTEDBR, v.
14, p. 168-179, 2014.

PERES, Fábio de Faria; MELO, Victor Andrade de. A introdução da ginástica nos
clubes do Rio de Janeiro do século XIX. Movimento, v. 20, p. 471-493, 2014.

PEREIRA, Ester Liberato; MAZO, Janice Zarpellon; LYRA, Vanessa Bellani. Corridas
de cavalo em Cancha Reta em Porto Alegre (1852/1877): uma prática cultural esportiva
sul-rio-grandense. Revista da Educação Física, v. 21, p. 655-666, 2010.

PINTO, Carlos Alberto Figueiredo. José Maurício Nunes Garcia: Biografia. Dicionário
Biográfico Caravelas. Lisboa: CESEM – Universidade Nova de Lisboa, 2012.

PROST, Antonie. Doze Lições Sobre a História. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2008.

80
PUCHTA, Diogo Rodrigues; OLIVEIRA, Marcus Aurelio Taborda de. O livro como
ferramenta pedagógica para a inserção da educação física e da ginástica no ensino
público primário paranaense (fim do século XIX e início do século XX). Revista
Brasileira de Ciências do Esporte, v. 37, p. 272-279, 2015.

ROCHA JUNIOR, Coriolano Pereira; SANTO, Fernando Reis do Espírito. Futebol em


salvador: o início de uma história (1899-1920). Movimento, v. 17, p. 79-95, 2011.

QUITZAU, Evelise Amgarten; SOARES, Carmen Lúcia. “A força da juventude garante


o futuro de um povo”: a educação do corpo no Sport Club Germania (1899-1938).
Movimento, v. 16, p. 87-106, 2010.

REI, Bruno Duarte; LÜDORF, Silvia Maria Agatti. Educação física escolar e didadura
militar no Brasil (1964-1985): balanço histórico e novas perspectivas. Revista
Educação Física, v. 23, n. 3, p. 483-497, 2012.

ROCHA JUNIOR, Coriolano Pereira; SANTO, Fernando Reis do Espírito. Futebol em


salvador: o início de uma história (1899-1920). Movimento, v. 17, p. 79-95, 2011.

SAMPAIO, Gabriela dos Reis. Nas trincheiras da cura: as diferentes medicinas no


Rio de Janeiro Imperial. 1995, 199f. Dissertação (Mestrado em História) Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 1995.

SANTOS, Felipe Lameu. Formas de higienizar por meio da educação física segundo
teses, conferências e periódicos médicos do Rio de Janeiro entre 1870 e 1892. 2016.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal
Fluminense, Niterói, RJ, 2016.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos


trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SISSON, Sébastien Auguste. Galeria dos brasileiros ilustres. Brasília: Senado


Federal, 1999.

SILVA, Alberto da Costa e. (Org.). Crise colonial e independência: 1808-1830,


volume 1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

______________________________. Marcas dos Período. In: SILVA, Alberto da


Costa e. (Org.). Crise colonial e independência: 1808-1830, volume 1. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2012.

SILVA, Ana Cloclet da. Inventando a Nação: intelectuais ilustrados e estadistas luso-
brasileiros na crise do Antigo Regime Português (1750-1822). São Paulo: Hucitec:
Fapesp, 2006.

SILVA, Bruno Adriano Rodrigues. Uma cultura escolar de esporte no Instituto


Evangélico, Lavras, Minas Gerais (1893-1919). Revista Brasileira de História da
Educação, v. 17, p. 69-95, 2017.

81
SILVA, C. B. As comendas honoríficas e a construção do Estado Imperial (1822-1831).
In: XXVI Simpósio Nacional de História, 2011, São Paulo. Anais do XXVI Simpósio
Nacional de História. São Paulo: Anpuh-SP, 2011.

SOARES, Carmen Lúcia. Do Corpo, da Educação Física e das muitas Histórias.


Movimento, v. 9, n.3, p. 125-147, 2003.

_____________________. Educação Física: raízes européias e Brasil. Campinas-SP:


Autores Associados, 1994.

_____________________. Imagens da Educação no Corpo: estudo a partir da


ginástica francesa no século XIX. Campinas: Autores Associados, 1998.

TEIXEIRA, Luiz Antonio; EDLER, Flávio Coelho. História e Cultura da Medicina


no Brasil. São Paulo: AORI Produções Culturais, 2012.

VASCONCELO, Mônica; PERIOTTO, Marcília Rosa. A moda e os bailes no Jornal das


Senhoras (1852-1855) e a formação da mãe-professora. Revista HISTEDBR, v. 15, p.
76-85, 2015.

VIGARELLO, Georges. O limpo e o sujo: uma história de higiene corporal. São Paulo:
Martins Fontes, 1996.

82

Vous aimerez peut-être aussi