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---- FICHAMENTO ----

DE CERTEAU, Michel. A operação historiográfica. In: A escrita da história.


Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 45-111
História como uma operação = relação entre um lugar (um recrutamento, um
meio, uma profissão, etc.), procedimentos de análise (uma disciplina) e a
construção de um texto (uma literatura).
LUGAR SOCIAL
História: relação da linguagem com o corpo (social); relação com os limites que
o corpo impõe, seja à maneira do lugar particular de onde se fala, seja à maneira
do objeto outro (passado, morto) do qual se fala.
Pesquisa se articula a um lugar de produção socioeconômico, político e cultural.
É circunscrita por interesses, privilégios, jogos de poder. No fundo de uma
totalidade histórica há uma multiplicidade de filosofias individuais.
A mediação do “nós” no texto historiográfico legitima sua qualidade por meio de
um contrato social “entre nós”, os pares, “agregação” que classifica o “eu” do
escritor no “nós” de um trabalho coletivo, que habilita um locutor a falar o discurso
historiográfico.
A prática histórica é inteiramente relativa à estrutura da sociedade. Uma situação
social muda ao mesmo tempo o modo de trabalhar e o tipo de discurso. Uma
mudança da sociedade permite ao historiador um afastamento com relação
aquilo que se torna, globalmente, um passado.
O lugar possui uma dupla função: permite apenas um tipo de produção e lhe
proíbe outros. Ele torna possíveis certas pesquisas em função de conjunturas e
problemáticas comuns. Mas torna outras impossíveis.
UMA PRÁTICA
trabalho teórico: construção dos modelos // significabilidade aos resultados =
descobrir o heterogêneo que seja tecnicamente utilizável
Um interesse científico "exterior" à história define os objetos que ela se dá e os
objetos, problemas e campos para onde se desloca sucessivamente.
Acontecimento = combinatória de séries racionalmente isoladas, passo a passo,
cujos cruzamentos, condições e limites de validade serve para marcar.
Cada sociedade se pensa "historicamente" partindo de uma instrumentalização,
de técnicas de produção.
A história como lugar de "controle", testando os modelos instrumentais de outras
áreas do conhecimento, analisando as "condições" nas quais estes modelos são
válidos e produzindo exceções (desvios). O "fato" produzido nessa operação é
a designação de uma relação, dada pela diferença.
Operação histórica: recortar o dado segundo uma lei presente, distinta do seu
"outro" (passado), distanciando-se com relação a uma situação adquirida e
marcando, assim, por um discurso, a mudança efetiva que permitiu este
distanciamento.
As técnicas da pesquisa historiográfica a situam na articulação entre natureza e
cultura. A pesquisa vai de encontro a uma socialização da natureza e uma
"naturalização" (ou materialização) das relações sociais.
O historiador transforma o que eram matérias-primas (uma informação primária)
em produtos standard (informações secundárias), ele os transporta de uma
região da cultura (as "curiosidades", os arquivos, as coleções, etc.) para outra (a
história).
Coleção (aparelho): determina as operações adequadas a um sistema de
pesquisa; dita a produção de novos objetos (os documentos que se isolam,
conservam e recopiam) cujo sentido, de agora em diante, é definido pela sua
relação com o todo (a coleção). Essa nova redistribuição das coisas, redefine
unidades de saber, instaura um lugar de recomeço, tornando possível uma outra
história.
A instituição técnica organiza o lugar onde circula a pesquisa científica. Novas
possibilidade no estabelecimento de fontes (computador) provocam
reconfigurações na relação razão/real ou cultura/natureza; são o princípio de
uma redistribuição epistemológica dos momentos da pesquisa científica.
A particularidade tem por função, introduzir ali uma interrogação; por significação
remeter aos atos, pessoas e a tudo que permanece ainda exterior ao saber assim
como ao discurso.
A imagem do passado mantém o seu valor primeiro de representar aquilo que
falta. Remete a uma ausência e introduz também a falta de um futuro.
UMA ESCRITA
Relato histórico prevê relação com um corpo social e com uma instituição de
saber.
Só uma distorção permite a introdução da "experiência" (pesquisa) na prática
simbólica da escrita, uma vez que o discurso se situa fora da experiência que lhe
confere crédito.
Imposições (servidão) do discurso sobre a pesquisa:
- Prescreve como início, através de uma exposição cronológica, aquilo que na
realidade é um ponto de chegada, ou mesmo um ponto de fuga da pesquisa.
- Enquanto a pesquisa é interminável, o texto deve ter um fim, e esta estrutura
de parada chega até a introdução, já organizada pelo dever de terminar.
- A representação escriturária é "plena"; preenche ou oblitera as lacunas que
constituem, ao contrário, o próprio princípio da pesquisa, sempre aguçada pela
falta
A narrativa histórica funciona como conjunção, reunindo enunciados contrários
e superando a diferença entre uma ordem e aquilo que ela exclui.
Isso permite ao discurso:
- "compreender" posições antinômicas (basta que um dos termos em conflito
seja classificado como passado)
- "reduzir" o elemento aberrante (este se toma um caso "particular" que se
inscreve como detalhe positivo num relato)
- considerar como "ausente" (num outro período) aquilo que foge a um sistema
do presente
A exposição histórica (escrita) supõe a mudança no sentido do percurso do vetor
tempo, invertendo sua orientação. Somente esta inversão, que permite encontrar
um presente que é o término de uma trajetória cronológica, torna possível a
articulação da prática com a escrita.
Para que o relato "desça" até o presente (e ocorra uma articulação entre prática
e escrita), é preciso que ele se apoie, anteriormente, em um nada, o zero
referencial mítico.
O produto do discurso histórico é uma verdade verificada, tecida numa narrativa.
O discurso é construído seguindo dois movimentos contrários: uma
narrativização e uma semantização.
O discurso "compreende", absorve e se apoia no seu outro – a crônica, o arquivo,
o documento; ele se estabelece como saber do outro.
Citação = tem por função comprovar o discurso; referencial de realidade; lugar
de autoridade por seu esgotamento; articulação do texto com a sua exterioridade
semântica; “ilusão realista”.
Interpretação = reproduzir, no interior do seu discurso desdobrado, a relação
entre um lugar do saber e sua exterioridade.
Discurso didático:
- dissimula o lugar de onde fala (ele suprime o eu do autor)
- se apresenta sob a forma de uma linguagem referencial (é o "real" que lhes
fala)
- conta mais do que raciocina (não se discute um relato)
- fala a língua do leitor, ainda que de outra maneira e melhor do que eles
O discurso é performativo. Produz e realiza contrato com um tipo de leitor: um
destinatário citado, identificado e doutrinado pelo próprio fato de estar colocado
na situação da crônica diante de um saber.
O acontecimento é aquele que recorta, para que haja inteligibilidade; o fato
histórico é aquele que preenche para que haja enunciados de sentido. O primeiro
condiciona a organização do discurso; o segundo fornece os significantes.
A constituição de "corpos" conceituais por um recorte é ao mesmo tempo a causa
e o meio de uma lenta hemorragia. Toda escolha, condição de criação, implica
a erosão conceitual do que foi deixado de lado.
A recondução do "morto" ou do passado, “trabalho de exorcismo”, no lugar
simbólico da escrita, escancara o espaço aberto por este passado, uma lacuna,
satisfazendo um elo entre o que surge e o que desaparece.
A narrativa historiográfica preenche a lacuna que a morte (o passado)
representa, utiliza este lugar para impor um querer, um saber e uma lição ao
destinatário.

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