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iv

7%
Cilindro de hidrogênio,
baterias e célula
a combustível instalados
em um veículo, o Vega II,
montado na Unicamp
o TECNOLOGIA
ENERGIA

Reforma
energética
As alternativas para
suprir de hidrogênio os futuros
veículos e os geradores
de energia elétrica

MARCOS DE OLIVEIRA

ma grande mudança energética está progra-


mada para ser iniciada na próxima década,
quando o hidrogênio deverá se tornar um
importante combustível para gerar energia
elétrica e movimentar veículos, substituindo,
aos poucos, o diesel e a gasolina, por exem-
plo. A preparação desse novo cenário envol-
ve vários institutos de pesquisa, todas as
montadoras da indústria automobilística, as
empresas petrolíferas e energéticas de todo o
planeta. Motivos para o uso do hidrogênio
não faltam: os preços do barril de petróleo
atingiram a marca de US$ 78 em julho, enquanto não pas-
saram de US$ 40 no ano 2000, e a necessidade de diminuição
da poluição atmosférica. O uso desse gás formado por dois
átomos (H2) ajuda a diminuir a presença de outro gás, o car-
bônico (C02), produzido pela queima dos combustíveis
oriundos do petróleo, também chamado de dióxido de carbo-
no, o principal causador do efeito estufa, fenômeno que pode
aumentar a temperatura planetária e promover diversos pro-
blemas ambientais e de saúde pública.
Com o avanço das células a combustível, que, de forma se-
melhante a uma bateria, produzem energia elétrica a partir do
hidrogênio e podem ser instaladas num automóvel ou num
gerador estacionário, essa nova opção energética ganha ter-
reno em centenas de projetos tecnológicos. No Brasil, uma das
linhas de pesquisa visa desenvolver um equipamento, cha-
mado reformador, para aproveitar a produção do etanol
(CH3CH2OH) da cana-de-açúcar, o álcool encontrado nos
postos de combustível. Do etanol é possível extrair o hidrogê-
nio, que não é encontrado na natureza de forma isolada, em

PESQUISA FAPESP 126 ■ AGOSTO DE 2006 ■ 67


grandes quantidades, embora seja o ele- de Cajobi (veja Pesquisa FAPESP n°s 70 redo, da Faculdade de Tecnologia da
mento mais presente no Universo, das e 103), com 2 quilowatts (kW) de po- Universidade Federal do Amazonas.
estrelas à água (H20). O aparelho supre tência a ser instalada em uma residência Em Mato Grosso, num projeto com
a dificuldade de obtenção de hidrogê- ainda não definida", conta o professor a empresa Centrais Elétricas do Norte
nio. O primeiro grupo de pesquisa a fi- Ennio Peres da Silva, coordenador do do Brasil (Eletronorte) e a Universidade
nalizar um reformador está no Labora- LH2 e secretário executivo do Ceneh. Federal de Mato Grosso, o LH2 vai ins-
tório de Hidrogênio (LH2) do Instituto Nesse caso, o reformador será de gás na- talar, no início de 2007, um reformador
de Física da Universidade Estadual de tural igual a outro que será instalado na de etanol e uma célula a combustível em
Campinas (Unicamp), ligado ao Centro comunidade de Arixi, na cidade de Ana- uma comunidade próxima a Cuiabá. A
Nacional de Referência em Energia do mã, no estado do Amazonas. empreitada terá álcool fornecido pelo
Hidrogênio (Ceneh). Sindicato das Indústrias Sucroalcoolei-
Os reformadores desenvolvi- comunidade de 600 habitantes ras do Estado de Mato Grosso (Sindial-
dos pelo LH2, também existen- possui energia elétrica produzi- cool). Em outro projeto com a CPFL, o
tes em versões que extraem hi- da por um gerador a diesel, LH2 vai instalar uma célula a combustí-
drogênio do gás natural (CH4), combustível que chega ao mu- vel no hospital da Unicamp para testes
começam a ser instalados em nicípio via barco pelo rio Ama- comparativos com outros sistemas de
comunidades isoladas na Ama- zonas. O gás natural, que vai geração de energia elétrica baseados em
zônia, em Mato Grosso, no Hos- fornecer hidrogênio para uma gás natural (microturbinas e painéis fo-
pital das Clínicas da Unicamp e célula a combustível importada, tovoltaicos abastecidos por energia so-
em experimentos com empresas virá de uma conexão com o ga- lar). "Nesses três projetos estamos im-
produtoras de energia elétrica soduto da Petrobras que passa portando as células porque as empresas
como a Companhia Paulista de perto dali. O projeto faz parte que produzem esses equipamentos no
Força e Luz (CPFL). Os objeti- do Programa Produção de Brasil ainda estão em fase de protótipo e
vos são diferentes, mas a intenção final é Energia Alternativa a partir de Células a com preços mais altos que os importa-
avaliar o custo-benefício do novo siste- Combustível e Gás Natural do Estado do dos." Além da Unitech, no país existem a
ma. "Com a CPFL-Piratininga nós tra- Amazonas (Celcomb) e é financiado pe- Electrocell (veja Pesquisa FAPESP n°s 92
balharemos na integração de um refor- lo Ministério de Minas e Energia e pelo e 104), de São Paulo, e a NovoCell, na ci-
mador com uma célula a combustível Fundo Setorial de Energia (CT-Energ), dade de Americana. Peres já havia com-
produzida por um fabricante brasileiro, no valor de R$ 500 mil, e tem coordena- prado uma célula importada para equi-
a UniTech, empresa da cidade paulista ção do professor Carlos Alberto Figuei- par a van Vega II finalizada em 2004,

As células a combustível
funcionam como uma bateria
ou uma pilha. Transformam
energia química em energia
elétrica, quebrando as moléculas de
hidrogênio (H2). Raro na natureza,
ele precisa ser extraído de outras H2
fontes. As mais promissoras
são a água, o etanol e o gás natural.
Na eletrólise, o hidrogênio segue
Eletrólise da água
puro para a célula. De outros
combustíveis, é preciso extraí-lo
por meio de um reformador.
Ele pode ser estocado em cilindros,
no caso dos automóveis,
ou produzido ao lado da célula.
Na célula, o hidrogênio entra pelo
lado anodo, é quebrado em íons
(H+), que passam pelo eletrólito,
enquanto os elétrons (e-) são
barrados e levados a produzir
eletricidade. Os íons que passam
encontram o oxigênio do
ar no outro lado e formam a água.
Gás natural

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montada sobre o chassi de uma Kombi, dos, que também prestam consultoria a água para produzir hidrogênio. Sai
e alimentar 20 baterias, suficientes para na área energética", diz Paulo Fabrício uma mistura de gases que precisam ser
acionar o motor elétrico do veículo. Palhavan Ferreira, um dos sócios da purificados e separados. Esses equipa-
Se os pesquisadores estão importan- Hytron, empresa instalada na incuba- mentos devem ter uma função impor-
do células, pelo menos por enquanto, dora de empresas da Companhia de De- tante na futura economia do hidrogê-
quando as empresas nacionais se pre- senvolvimento do Pólo de Alta Tecnolo- nio. "A idéia é que eles sejam instalados
param para fornecer, num futuro próxi- gia de Campinas (Ciatec). nos postos, transformando qualquer ti-
mo, geradores de energia elétrica a hi- po de combustível fóssil (gasolina, die-
drogênio para residências e indústrias, Custo da eletricidade - A Hytron, sel, gás natural) ou de biocombustíveis
o caminho inverso também está sendo que recebe financiamento do Progra- (etanol, biodiesel) em hidrogênio para
realizado no caso dos reformadores. ma Inovação Tecnológica em Pequenas abastecer os veículos", explica o profes-
"Um reformador de etanol foi vendido Empresas (Pipe), também está desen- sor Peres. Ele se baseia no fato de que as
para o Instituto Nacional de Técnica volvendo projetos de eletrolisadores, células a combustível certamente deve-
Aeroespacial (Inta) do Ministério da De- equipamentos para produção de hi- rão equipar os carros no lugar dos mo-
fesa da Espanha, que também pesquisa drogênio a partir da água. Chamado de tores a combustão atuais.
esse mesmo assunto", conta Peres. Para eletrólise, esse processo é a maneira A japonesa Honda, por exemplo,
tornar o protótipo do reformador, que mais fácil de produzir hidrogênio, que- lançou o FCX (FC de Fuel Cell, o nome
teve financiamento de um projeto te- brando, por meio de uma corrente elé- da célula a combustível em inglês) no
mático da FAPESP, viável comercial- trica, as moléculas da água. O problema Japão e nos Estados Unidos e o disponi-
mente e fornecer o equipamento para os é o custo alto desse procedimento, que bilizou por meio de aluguel para prefei-
projetos do LH2 foi criada a empresa usa energia elétrica para produzir a ele- turas e até para ser o carro de uma famí-
Hytron, com alunos vinculados ao la- trólise, resultando na mesma energia lia (marido, esposa e duas filhas), em
boratório. "A empresa tem o objetivo de elétrica na outra ponta do sistema. 2005, na cidade de Los Angeles, no esta-
dar uma roupagem de produto ao refor- Os reformadores, ao contrário, não do da Califórnia, onde existe um posto
mador, além de dar garantias e oferecer gastam energia elétrica para funcionar. para reabastecimento de hidrogênio da
assistência técnica", diz Peres. O produ- Eles são formados por reatores em que a montadora, além de outros já instala-
to, que segue para a Espanha no final do reação química do combustível (etanol, dos ou em instalação. Por enquanto é
ano, custou R$ 150 mil aos espanhóis. gás natural, gasolina etc.) com o ar libe- um carro de demonstração, como o
"Na Hytron são 12 pessoas, sendo três ra calor e ativa a reforma. Também no Classe A, da Mercedes-Benz, produzido
doutores, seis mestres e quatro mestran- reator o mesmo combustível reage com na Alemanha, que já possui 60 unidades

Trajetória do hidrogênio r
Célula a
Esquema de funcionamento combustível
da célula a combustível /
/
Energia elétrica
■VWV Residênc as

H2
Célula a JÊWt
combustível J V

Veículos

xrítllL Indústrias

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movidas a hidrogênio e em testes até na sigla em inglês) que indicam a dimi- de fertilizantes, na produção do diesel e
2007, na Europa, na América do Norte e nuição a partir de 2010 dos estoques de na indústria alimentícia na preparação
na Ásia. A General Motors, com veícu- petróleo dos países produtores, mas que da gordura vegetal hidrogenada, utili-
los Zafira, a Ford, com o Focus, além da não pertencem à Organização dos Paí- zada no preparo, sobretudo, de margari-
Hyundai, da Fiat, da Renault e da Toyo- ses Exportadores de Petróleo (Opep), nas, biscoitos e chocolates.
ta, também testam veículos movidos a como Estados Unidos, Rússia e Noruega. O uso energético do hidrogênio in-
hidrogênio. clui a diminuição dos gases de efeito es-
Outra vantagem das células as décadas seguintes as reser- tufa, mesmo com o uso de um reforma-
automotivas é que esses equipa- vas da Opep também devem dor que, por meio de uma reação
mentos silenciosos possuem o começar a cair. Se não forem química dentro de seu reator, quebra as
dobro de eficiência energética descobertas novas jazidas, a ten- moléculas do gás natural ou ainda do
comparado com a energia gasta dência é a produção diminuir e metanol (produzido do petróleo ou da
pelos atuais engenhos. Se o mes- começar a escassear, resultando madeira), liberando C02. Com um re-
mo litro de gasolina usado por em mais aumento de preços. formador fixo, num posto de combustí-
um motor atual for suficiente Isso somado às previsões de au- vel ou ao lado de um gerador de uma
para rodar 10 quüômetros (km), mento no consumo devido ao indústria, por exemplo, esse gás pode
com a célula o trecho percorri- crescimento econômico dos ser recuperado ao passar por transfor-
do seria de 20 km. "Com os re- países em desenvolvimento, mações químicas, como acidificação, ou
formadores e os carros gastando principalmente a China. processos de adsorção (retenção de mo-
menos fica mais fácil para a indústria Estudos de análise e previsão sobre léculas de uma substância na superfície
do petróleo contribuir para a diminui- veículos movidos a hidrogênio, inclusi- de um sólido), sendo depois colocado
ção dos gases estufa, melhorando a si- ve da AIE, indicam que eles deverão en- em tubulações para ser levado, compri-
tuação do ar", diz Peres. O hidrogênio é trar definitivamente no mercado em mido, num buraco no solo, em vez de
assim uma boa alternativa ao Protocolo 2025 e em 2050 deverão ocupar 30% do ser jogado na atmosfera.
de Kyoto, acordo mundial que estabele- mercado mundial, estimado em 700 A pesquisa de reformadores de com-
ce regras para a redução dos gases de milhões de veículos. Assim, nesse con- bustíveis no Brasil é importante porque
efeito estufa, principalmente o C02, em texto global, produzir hidrogênio é fun- eles tanto poderão ser instalados em pos-
todo o planeta. damental. Atualmente, ele só é usado tos como em geradores estacionários.
Pesam para esse cenário os estudos da industrialmente para a produção de Com um ponto de gás natural é possível
Agência Internacional de Energia (IEA amônia, matéria-prima na fabricação ter energia elétrica para uma casa, por

Ônibus brasileiro com H


No final de 2007 um ônibus mo- io que vai funcionar somente cor
vido a hidrogênio deverá circular na dos e Projetos (Finep), vai investir mais célula a combustível ou com um mo-
linha que liga os bairros paulistanos US$ 3,5 milhões. tor elétrico por meio de um conjunto
de São Mateus e Jabaquara, um traje- A primeira versão desse projeto era de baterias recarregadas pela célula",
to de 33 quilômetros que também para ser implementada em 2002 com explica o professor Paulo Emílio de
passa pelos municípios de Diadema, ônibus que viriam da Europa. "Agora Miranda, coordenador do projeto. O
São Bernardo do Campo, Mauá e nós vamos montar o ônibus e toda a in- hidrogênio será obtido a partir do
Santo André. O ônibus será montado fra-estrutura para produzir hidrogênio gás natural da Petrobras. O projeto
no Brasil por um consórcio de em- via eletrólise da água, além de adquirir conta também com a empresa de
presas nacionais e estrangeiras e deve- conhecimento na montagem, custo, carrocerias Buscar, da cidade de Join-
rá ser anunciado neste mês de agosto. operação, manutenção e segurança des- ville, em Santa Catarina, e da Eletra,
Sob a coordenação da Empresa Me- se tipo de veículo", diz Márcio Schettino, empresa de São Bernardo do Campo,
tropolitana de Transportes Urbanos gerente de desenvolvimento da EMTU. que produz ônibus com tração elé-
(EMTU), da Secretaria Estadual de "A idéia é montar o primeiro, e, em trica (Veja Pesquisa FAPESP n" 92).
Transportes, o projeto vai contar com 2008, montar mais quatro ônibus." Experimentos semelhantes já foram
financiamento do Global Environ- No Rio de Janeiro, outro ônibus a realizados na Europa e nos Estados
ment Facility (GEF), do Programa das hidrogênio está em construção. O pro- Unidos. "O europeu durou dois anos
Nações Unidas para o Desenvolvi- jeto é uma iniciativa da Coordenação e terminou neste ano com 30 ônibus
mento (Pnud), no valor de US$ 12,5 dos Programas de Pós-graduação de em dez cidades européias. E os resul-
milhões. A contraparte brasileira e a Engenharia (Coppe), da Universidade tados foram muito bons, sem ne-
organização do consórcio são do Mi- Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Pe- nhum problema em termos opera-
nistério de Minas e Energia (MME), trobras e Finep. "Será um ônibus híbri- cionais e de segurança", diz Schettino.

70 ■ AGOSTO DE 2006 ■ PESQUISA FAPESP 126


Primeiro carro Ultracapacitor
(armazena carga
Honda FCX, primeiro veículo com / elétrica)
célula a combustível aprovado nos
Estados Unidos e Japão. Por enquanto,
a fábrica só aluga. Ele atinge 150 km/h
e tem autonomia de 430 quilômetros

Radiador do
sistema de célula
a combustível

■NTanquesde
nidade
hidrogênio
umificadora
da célula

Caixa de
Motor elétrico sistemas eletrônicos

Radiador do Unidade de
sistema de câmbio controle elétrico
Bomba de ar

exemplo, com um gerador de célula a resíduo sólido chamado negro-de-fu- jetos de desenvolvimento de reforma-
combustível do tamanho, hoje, de uma mo, que é uma das matérias-primas do dores de etanol com a Coppe e em par-
máquina de lavar roupa. Assim os re- pneu", diz Miranda. ceria com o Instituto de Pesquisas Ener-
formadores estão na pauta de desenvol- Também na Coppe, o professor Mar- géticas e Nucleares (Ipen), do MCT, e o
vimento de outros grupos de pesquisa tin Schmal e seu grupo desenvolveram Centro de Pesquisas de Energia Elétrica
no Brasil, como dois da Coordenação catalisadores e reatores para reforma- (Cepel), que comprou recentemente
dos Programas de Pós-graduação de dores de gás natural e de etanol. "Nossa uma célula da empresa paulistana Elec-
Engenharia (Coppe), da Universidade intenção é produzir o máximo de hi- trocell. "Desenvolvemos tecnologia pa-
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Nós drogênio com o mínimo possível de ra produção de hidrogênio a partir do
desenvolvemos um processo capaz de C02 e de CO", diz Schmal. "Já deposita- gás natural, num trabalho financiado
melhorar e tornar mais eficiente a refor- mos patentes de catalisadores que são pela Petrobras que rendeu uma paten-
ma do gás natural e do etanol", diz Pau- bem eficientes e hoje são objeto de de- te", diz Noronha.
lo Emílio de Miranda, coordenador do sejo de países como a China." Para A chamada "economia do hidrogê-
Laboratório de Hidrogênio da Coppe. Schmal, os reformadores para células a nio", que está sendo esquematizada em
O grupo desenvolveu e depositou combustível ainda não têm uma solu- todo o planeta, vai trazer alguns aspec-
patente de um reator usado em refor- ção pronta em nível mundial. Várias tos inusitados até o momento, como a
madores que funcionam à base da piró- pesquisas estão sendo realizadas para se possibilidade de descentralização ener-
lise a plasma, um sistema que não usa encontrar um caminho mais eficiente gética. Uma das alternativas é manter,
vapor d'água nem catalisadores (subs- e menos custoso. dentro de uma residência, uma célula a
tâncias que aceleram a reação química), combustível gerando energia elétrica a
como nos métodos tradicionais, e sim Rede local - O Rio de Janeiro possui partir do gás natural. Em horários de
um gás ionizado, onde coexistem íons outro centro de desenvolvimento de pouco gasto na casa, à noite ou em via-
positivos e elétrons. A temperatura ele- tecnologia para a energia do hidrogê- gens do proprietário, será possível for-
vada dissocia as moléculas do combus- nio que fica no Instituto Nacional de necer eletricidade para a rede local. As-
tível usado. "Nesse sistema não se pro- Tecnologia (INT), ligado ao Ministério sim, cada casa poderia, além de ser um
duzem os gases C02 nem o monóxido da Ciência e Tecnologia (MCT). O gru- consumidor, gerar eletricidade e vendê-
de carbono (CO). O carbono existente po coordenado pelo pesquisador Fábio la para a companhia de luz local, que,
nesses combustíveis se transforma num Bellot Noronha trabalha em vários pro- por sua vez, dependeria menos de ener-

PESOUISA FAPESP126 ■ AGOSTO DE 2006 ■ 71


Roteiro
até 2030
Em 2010 o Brasil deverá iniciar
a geração comercial de hidrogênio
a partir da reforma de gás natural
e em 2020 será a vez do etanol. Es-
sas duas previsões estão presentes
na versão beta (ainda não definiti-
va) do "Roteiro para a estrutura-
ção da economia do hidrogênio
no Brasil", que recebeu a colabo-
ração de 115 profissionais, entre
pesquisadores de instituições cien-
tíficas e tecnológicas e de empre-
sas. A coordenação geral do rotei-
ro é do Ministério de Minas e
Energia (MME) e a integração
técnica do Ministério de Ciência e
Tecnologia (MCT). Esse roteiro Em Washington,
vai levar, provavelmente em 2007, Estados Unidos,
a um programa nacional de pro- posto de
dução e uso do hidrogênio. "Esta- abastecimento
mos definindo as rotas que inte- de hidrogênio
ressam ao Brasil e que possam
gerar benefícios sociais e econô-
micos, além de estudar as tecnolo-
gias relacionadas", diz Maurício gia elétrica vinda de longe, das hidrelé- Outras duas grandes companhias
Pereira Cantão, pesquisador do tricas ou das termelétricas. brasileiras também estudam o uso ener-
Instituto de Tecnologia para o De- Em outros casos, as indústrias e as gético do hidrogênio. Uma é a Petrobras,
senvolvimento (Lactec), de Curiti- próprias companhias hidrelétricas teriam que está investindo US$ 1 milhão por
ba, Paraná, e consultor do roteiro. outras vantagens. "Uma indústria de la- ano desde o ano 2000 em pesquisa e de-
"É provável que em 2030 o hi- ticínios que estamos estudando produz senvolvimento tanto no seu Centro de
drogênio tenha uma boa partici- em seus efluentes 67% de metano (CH4), Pesquisas da Petrobras (Cenpes) como
pação na matriz energética do gás que também compõe o gás natural, em parcerias com institutos de pesquisa.
país", diz Adriano Duarte Filho, e de 3 a 8% de ácido sulfídrico (H2S). "O hidrogênio desponta como energia
coordenador-geral de tecnologias "Ao retirar esse ácido com um filtro de alternativa viável para o país e nós, como
setoriais do MCT. "Nossa inten- carvão ativado ou um filtro de hidróxi- uma companhia de petróleo, que se
ção agora é gerar fontes de conhe- do de ferro, que está sendo desenvolvido transformou em uma companhia ener-
cimento, fazer patentes e não ape- por nós, o gás restante poderia ser usa- gética, desenvolvemos estudos para ava-
nas importar modelos prontos", do em um sistema de reforma para pro- liar todas as oportunidades de futuros
diz Duarte Filho. O MCT, desde duzir hidrogênio e energia elétrica para negócios para a empresa", diz Maria He-
2002, mantém o Programa Brasi- a própria indústria", conta o professor lena Troise Frank, consultora da gerên-
leiro de Sistemas Células a Com- José Luz Silveira, coordenador do Gru- cia de gás e energia da Petrobras.
bustível. Recentemente ele sofreu po de Otimização de Sistemas Energé- A companhia estuda alternativas
modificações, foi ampliado e ago- ticos (Gose) da Faculdade de Engenha- para produção, armazenamento, postos
ra recebe o nome de Programa de ria da Universidade Estadual Paulista de abastecimento, logística de distribui-
Ciência, Tecnologia e Inovação (Unesp) de Guaratinguetá. Silveira tam- ção, usos e aplicações de hidrogênio,
para a Economia do Hidrogênio. bém desenvolve pesquisas com refor- mesmo porque a empresa já possui co-
Neste ano o programa já imple- madores. No início de julho entregou nhecimento nessa área ao produzir 500
mentou três redes de pesquisa en- um protótipo para a Companhia Ener- toneladas de hidrogênio por dia, a par-
volvendo, num prazo de três anos, gética de Minas Gerais (Cemig), em um tir de gás efluente das refinarias, usadas
34 laboratórios e 20 universidades projeto financiado pela própria compa- para a produção de diesel e de amônia.
e um valor de R$ 29 milhões. nhia e supervisionado pela Agência Na- "Estamos pesquisando e analisando to-
cional de Energia Elétrica (Aneel). das as possibilidades de célula a com-

72 ■ AGOSTO DE 2006 ■ PESQUISA FAPESP 126


l
Binacional. Conforme a época do ano,
no período das cheias dos seus reserva-
tórios, a empresa produz 3 mil mega-
watts, energia suficiente para dezenas
de pequenas cidades, que não é apro-
veitada por falta de linhas de transmis-
são ou por não haver demanda. Uma
das idéias é produzir hidrogênio por
No LH2, na Unicamp, meio de eletrólise e a um custo baixo ao
reformador extrai
lado da Usina de Itaipu, no Paraná. Esse
hidrogênio de gás
hidrogênio inicialmente poderia ser pa-
natural ou de etanol
ra uso industrial e mais tarde, por meio
de tubulações específicas, chegar aos
postos de combustível para abastecer os
futuros veículos a hidrogênio.

Coração da célula - A eletrólise tam-


bém é a opção para a produção de hi-
drogênio em que se baseia a equipe dos
professores Roberto Fernando de Souza
e Jaírton Dupont, do Instituto de Quí-
mica da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Eles desenvol-
veram com o apoio financeiro da Com-
panhia Estadual de Energia Elétrica
(CEEE) do Rio Grande do Sul um novo
sistema de eletrólise que separa o hi-
drogênio da água utilizando um líqui-
do iônico, uma substância orgânica
condutora de eletricidade chamada de
sais de imidazol. "Além da eletrólise co-
bustível tanto do ponto de vista auto- processos termoquímicos, de bagaço de mum, esse líquido pode ser usado no
motivo como da produção de sistemas cana, briquetes de madeira e outros lugar do coração da célula a combustí-
para geração de energia elétrica", diz compostos orgânicos de rejeitos indus- vel", diz Souza. Ele se refere aos eletróli-
Paulo Fernando Isabel dos Reis, coor- triais, por exemplo. "O Brasil tem voca- tos da célula que colocam em contato
denador da área de célula a combustível ção para isso, somos a Arábia Saudita os eletrodos em que o hidrogênio e o
da Petrobras. A empresa também apos- da biomassa", diz Reis. oxigênio reagem gerando eletricidade.
ta na produção de hidrogênio por meio Outra grande empresa que estuda o Atualmente existem dois tipos de célula
de biomassa, que é a gaseificação, por uso energético do hidrogênio é a Itaipu mais pesquisados para uso comercial:
um que usa uma membrana de políme-
ro, as chamadas células PEM, sigla em
/ \
inglês para Membrana de Troca de Pró-
OS PROJETOS tons, e as células de oxido sólido, ou
Análise técnica, econômi :a Desenv olvimento e Sofc (da sigla em inglês de Solid Oxide
e ambiental do uso otimiza ção de unidade Fuel Cell), de eletrólito formado por
da cana-de-açúcar para a geração integra da de vários tipos de material cerâmico. "De-
sustentável de energia ei étrica reforme 3 de etanol para positamos uma patente cobrindo o uso
Subprojeto: reformador c e etanol produç ao de hidrogênio de líquidos iônicos para eletrólise da
água e outra para uso do mesmo mate-
MODALIDADE MODALIDADE
rial fluido em células a combustível. Te-
Projeto Temático Programa Inovação
Tecnológica em Peguenas mos a convicção de que a eletrólise é o
COORDENADORES Empresas (Pipe) melhor caminho para não continuar-
Geral: JOSé GOLDEMBERG - USP mos poluindo o planeta", diz Souza. "A
Subprojeto: ENNIO PERES DA SILVA - COORDENADOR eletrólise da água é a maneira mais fácil
Unicamp JOãO CARLOS CAMARGO - Hytron de obter hidrogênio com alta pureza
INVESTIMENTO INVESTIMENTO tanto a partir de energias renováveis
R$ 1.092.212,30 (Total FAPESP) R$ 42.980,00 e US$ 7.100,00 como das hidrelétricas à noite, quando
R$ 125.700,00 (Subprojeto) (FAPESP) o consumo cai, e também por meio da
energia eólica ou solar." •

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