ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA. AUSÊNCIA DE CONTRATAÇÃO. RÉU QUE NÃO JUNTA AOS AUTOS INSTRUMENTO CONTRATUAL, NEM ELEMENTOS INDICATIVOS DA REGULAR AVENÇA. (ART.373, INCISO I DO NCPC). COBRANÇA INDEVIDA. INSCRIÇÃO DO NOME DA PARTE AUTORA NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO DE CRÉDITO. DANO MORAL IN RE IPSA. QUANTUM MAJORADO, PARA ADEQUAÇÃO AOS PARÂMETROS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.
1. Trata-se de recurso inominado interposto contra sentença que julgou
procedente em parte a ação, declarou a inexigibilidade da dívida impugnada e condenou a ré em R$ 1.000,00 ( hum mil reais) em virtude da negativação do nome da parte autora nos cadastros de proteção ao crédito. 2. Alega a parte autora que tivera o seu nome negativado nos órgãos de proteção ao crédito em virtude de dívida que desconhece, sustentando portanto a inexistência de relação jurídica com a parte ré. Requer indenização oriunda da negativação, pelos danos morais sofridos, na modalidade in re ipsa. A recorrente busca a reforma da sentença, no tocante ao quantum fixado a título de danos morais, por entendê-lo insuficiente para recompor o dano causado. 3. A despeito das alegações da acionada sobre a legalidade da anotação realizada, não apresenta documentação que corrobore suas alegações. Com efeito, tendo a parte autora alegado que não firmara o contrato em tela, incumbia à parte ré não somente a prova acera da existência da relação jurídica, através da juntada do instrumento contratual com a assinatura da parte autora, como também de que a inclusão do seu nome ocorrera em virtude de dívida regularmente constituída, o que todavia não fora feito na hipótese. Insta ressaltar que a mera juntada de telas sistêmicas, ou faturas, não se mostra suficiente para comprovar a existência da relação jurídica, por serem documentos elaborados sem a participação do consumidor. 4. A parte autora, por sua vez, colaciona aos autos consulta do órgão de proteção ao crédito no evento 01, em que consta o apontamento indevido, por solicitação da demandada, desincumbindo-se assim do ônus de provar o fato constitutivo de seu direito , nos termos do art.373, inciso I do CPC. É cediço na jurisprudência pátria que a negativação do nome do consumidor nos cadastros de proteção ao crédito por cobrança indevida gera dano moral in re ipsa, que prescinde de comprovação. 5. . O valor da reparação do dano moral deve ser fixado de acordo com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, os quais, em síntese apertada querem significar, aquilo que é justo e na medida certa.
6. Da mesma forma, a fixação do montante indenizatório deve guardar uma
equivalência entre as situações que tragam semelhante colorido fático. As variações nos valores das indenizações existem conforme as circunstâncias fáticas que envolvam o evento.
7. No particular, o prudente arbítrio do magistrado exige não deva ser
considerada, apenas, a situação econômica do causador do dano, porque, se tal for o critério, resvalar-se-á para o extremo oposto, com amplas possibilidades de propiciar ao ofendido o enriquecimento sem causa. Há que se atender, porém, e também com moderação, ao efeito inibidor da atitude repugnada. No caso proposto, entendo que tais requisitos foram atendidos, diante da gravidade da conduta da parte demandada, da repetição do comportamento e potencial de danos em grande escala que pode causar , máxime em se tratando o serviço público de fornecimento de energia bem essencial.
8. ISTO POSTO, voto no sentido de CONHECER e DAR PARCIAL
PROVIMENTO AO RECVURSO INTERPOSTO, para majorar o quantum condenatório arbitrado a título de danos morais, que fixo em R$ 3.000,00 ( três mil reais), corrigidos conforme definido em sentença. Sem custas processuais e honorários advocatícios, pelo êxito da parte no recurso.
9. Salvador, Sala das Sessões, 20 de JULHO de 2017
10. BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE 11. Juíza Relatora 12. BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ 13. Juíza Presidente 14.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS
Processo Nº. : 0008284-61.2016.8.05.0150 Classe : RECURSO INOMINADO Recorrente(s) : MARION CAETANO DE SOUZA
Recorrido(s) : BANCO BRADESCARD S A ADMINISTRADORA DE
CARTOES DE CREDITO
Origem : 2ª VARA DOS JUIZADOS LAURO DE FREITAS
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE ACÓRDÃO Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ –Presidente, MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE – Relatora e ALBÊNIO LIMA DA SILVA HONÓRIO, em proferir a seguinte decisão: RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO . UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento. Sem custas processuais e honorários advocatícios, pelo êxito da parte no recurso. Salvador, Sala das Sessões, 20 de JULHO de 2017 BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE Juíza Relatora BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ Juíza Presidente