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A questão da guerra nos estudos da antiguidade

romana: perspectivas atuais 1


Autor: Cláudia Beltrão da Rosa (2009)*
Revisão: Haroldo Galvão (2015)

A tradição literária romana pretendia que, desde seu período mais arcaico, o destino de Roma
era fazer a guerra. A tradição literária posterior continuou a animar essa imagem, propagando o
modelo das campanhas militares e, mais ainda, das virtudes guerreiras em Roma. É muito fácil
constatar o papel preponderante ocupado pela Guerra em Roma, o que torna difícil tratar o tema
como objeto de estudo, sem ter que quase reescrever toda a história do Império Romano.

Mas podemos nos perguntar: até que ponto os analistas romanos nos apresentam uma
imagem fiel da realidade?

A Roma “conquistadora e invencível” só começou a existir nos documentos romanos em torno


do século III a.C., ou seja, em condições históricas bem definidas que explicam, em grande
parte, a imagem que essa cidade, envolvida na conquista da Itália e às vésperas da conquista do
Mediterrâneo, criou para seu próprio uso.

Não temos tempo de dar conta de dados arcaicos, nem de elementos lendários, mas a questão
permanece: seria realmente possível conceber as frequentes guerras no século V a.C. contra
seus vizinhos equos ou volscos; as guerras samnitas; as guerras púnicasdo século III a.C.,
as guerras de conquista do século II a.C., as guerras civis do final da República, as guerras
do período imperial como sendo o mesmo fenômeno? Não, isso não seria possível, pois as
diferenças entre elas são muito grandes. A analítica romana, porém, esforçous para minimizar
as diferenças evidentes entre esses grandes períodos de atividade guerreira e para deixar a
impressão de uma continuidade harmoniosa dessas guerras por meio dos tempos.

Contudo, a repetição quase ritual, de ano em ano, da guerra contra os volscos, por exemplo, nada
tem a ver, nem em termos de tecnologia nem em termos de extensão geográfica, tampouco com a
ideia que se fazia de guerra, com as guerras do final da República Romana.

Um romano perspicaz, como Tito Lívio, percebia muito bem que se os romanos de todos os
tempos fizeram guerra, não se tratava sempre da mesma guerra, que a evolução dos métodos
- principalmente a evolução das concepções de guerra - radicava e agia profundamente sobre
as estruturas sociais, políticas e morais de Roma. No entanto, essa harmoniosa tradição
literária sobre as guerras em Roma influenciou profundamente os estudos de guerra romana,
criando falsas continuidades, compactando tempos e experiências distintas. Em suma, ao
longo de séculos, a historiografia ocidental viu homogeneidade onde e quando havia uma
profunda heterogeneidade.

1  *Texto publicado em sua primeira versão em: História militar geral I: as guerras da idade antiga à idade moderna : livro
didático / Armando de Senna Bittencourt ... [et al.] ; design instrucional Marina Cabeda Egger Moellwald. – Palhoça :
UnisulVirtual, 2009.

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Ao longo do tempo, assim como em qualquer sociedade, Roma modificou totalmente a ideia
que tinha da guerra, não porque simplesmente seus métodos de combate e armamentos foram
aperfeiçoados, mas porque houve uma mudança qualitativa no modo de se fazer a guerra.

Uma das constatações mais óbvias é a de que, para além das evidências dos aperfeiçoamentos
técnicos, Roma passou, progressivamente, de um tipo de guerra que estava rigorosamente
limitada no tempo e no espaço a um tipo que se tornou uma atividade permanente e repartida
em locais distantes entre si e da própria urbs.

A partir de meados do século XX, contudo, pesquisadores distintos trataram a questão da


Guerra em Roma por diferentes ângulos de abordagem, na maioria das vezes relacionando-a
ao tema do imperialismo romano. Moses I. Finley (2002), por exemplo, tratou da guerra no
contexto da expansão territorial romana e propôs uma periodização dela que constaria em três
fases, caracterizadas pelo sistema de organização das conquistas.

Vamos ver quais seriam essas fases?

•• uma primeira fase teria sido marcada pela conquista da Itália Central e Meridional, e
produzido diversas presas de guerra - escravos, riquezas materiais das populações
vencidas - e grandes extensões de terras, além de tropas auxiliares para o exército;
•• uma segunda fase teria sido marcada pelas Guerras Púnicas ao final da República,
quando se deu a formação inicial do sistema provincial, aumentando as presas de
guerra e os lucros obtidos dos provinciais;
•• uma terceira fase, quando a paxaugusta, sob o principado, teria reduzido as
presas de guerra, mas aumentado a taxação e as requisições dos provinciais.

Norberto Guarinello (1987), também considerando a guerra no contexto do imperialismo


romano, diz que o modelo apresentado por Finley não permite observar os elementos
estruturais internos para compreendermos as motivações da expansão e as formas de sua
organização. Esse autor distingue dois períodos principais do imperialismo romano:

1. um primeiro, das origens ao século III a.C.; e


2. um segundo, após o século III a.C., designadamente a partir da II Guerra Púnica.

Guarinello defende, de modo interessante, o pressuposto de que as alterações econômicas


trazidas pelo acúmulo de bens, terras e escravos, tenha modificado a dinâmica e a própria
natureza do imperialismo romano, tanto na utilização e distribuição dos recursos, quanto na
Quadro-modelo forma de organizar e administrar os territórios conquistados.
Seguimos a proposta de
pesquisadores do antigo Consideramos, contudo, que o fenômeno da guerra constitui um
Centre de Recherches campo de investigação por direito próprio, ou seja, que a guerra é um
Comparéessurles
objeto de estudo passível de ser explorado per se. Em linhas gerais,
Sociétés Anciennes,
fundado por Jean-Pierre optamos por trabalhar com três grandes linhas divisórias na história
Vernant, em 1964, das guerras romanas, ou seja, três períodos essenciais caracterizados
atualmente denominado cada qual por um tipo de guerra nitidamente diferenciada em seus fins
Centre Louis Gernet, em
publicação dirigida por
e em suas concepções. É certo de que esse é somente um quadro-
Jean-Paul Brisson (1969). modelo, que nos parece viável para tratar nosso tema num espaço

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tão curto. Como todo modelo, não se trata da pura realidade. Como acontece com qualquer
modelo, limitaremo-nos a indicar as grandes articulações dessa evolução, sem considerar
detalhadamente as variações de seu ritmo ou as irregularidades de sua progressão:

Primeira Fase

Na época real e etrusca, até a primeira metade do século IV a.C., podemos perceber que
Roma praticou um tipo de guerra muito comum no mundo mediterrânico (FINLEY, 1984): a
guerra como um modo particular de relação e de competição entre cidades vizinhas. Esse
tipo de guerra não punha em causa a existência das cidades beligerantes, a extensão de seu
território, nem sua soberania política. A vitória trazia o prestígio e, a grosso modo, funcionava
como um meio de trocas entre vizinhos. Roma, nessa fase, participou da chamada “Liga
Liga Latina Essa liga Latina”, e a pesquisa histórica ainda discute o momento em que Roma
reunia cidades e povos se tornou a principal cidade dessa Liga.
do Lácio, região da
Itália, em aliança. Esse tipo de guerra explica os reencontros repetitivos de Roma contra
os équos, os volscos, os etruscos de Fidena ou de Veios, assim como
a anualidade das magistraturas militares e os rituais de guerra, que se mantiveram ao longo
dos séculos, com algumas alterações. Esse modo arcaico de guerra sofreu grandes alterações
por volta do século IV a.C. De guerras sazonais contra vizinhos, que mais se assemelhavam a
escaramuças, empreendidas por camponeses-soldados, Roma, paulatinamente, desenvolveu
um tipo de guerra de maior extensão temporal e territorial, levada a cabo por guerreiros cada
vez mais especializados em sua função.

Vamos ver como ocorreu o processo que resultou nessas grandes alterações?

A expansão romana na Itália foi, então, contemporânea ao processo de consolidação política


interna romana. Ameaçada externamente, a urbs teve não apenas que se defender, mas
também que desenvolver meios para enfrentar as crescentes necessidades de recursos
humanos e materiais. Vejamos como Pierre Grimal relata isso:

(...) Seu império chegava já aos primeiros patamares dos Apeninos; suas
colônias eram bastante fortes para conter a pressão dos montanheses, os
équos e os hérnicos, situados a este e a sudeste do Lácio. Mas para o norte, a
rota de conquistas estava cortada por uma cidade etrusca muito poderosa, que
desde há muito era um rival perigoso. Para destruir Veios foi preciso um sítio de
dez anos, tão longo como o de Tróia. Foi então que, pela primeira vez, a legião
romana aprendeu a executar manobras de campanha de guerrilha. (...) Durante
meses, os legionários permaneceram nas trincheiras, sob as muralhas. Essa
era uma experiência nova. Até então, as guerras só ocorriam durante a estação
de bom tempo. O exército se reunia em março – precisamente o mês dedicado
ao deus da guerra –, entrava em campanha e voltava quando as árvores
perdiam suas folhas. Os soldados podiam velar por seus interesses, controlar a
exploração de seus campos. (...).
Durante o sítio de Veios, como as operações prosseguiam inclusive no inverno,
houve que resignar-se a pagar os soldados. Camilo, comandante das tropas em
Veios, reclamou e impôs a instituição do soldo. As tropas, agradecidas a seu chefe,
lutaram com mais arrojo e, finalmente, Veios sucumbiu (GRIMAL, 2005: 31-2).

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A conquista de Veios foi o primeiro grande empreendimento romano fora do Lácio. O longo
conflito terminou em 396 a.C., com a destruição de Veios, cujo território foi anexado. Mas
uma grave ameaça surgiu com a invasão dos gauleses, povo guerreiro celta que ocupava
o território desde a Germânia até a Gália (que correspondia, em parte, ao território da atual
França) e que se estabeleceu na planície do Pó, no norte da Itália. Em 390 a.C., os gauleses
invadiram Roma e P. Grimal nos relata uma narrativa lendária sobre essa invasão:

Durante longos dias, teve lugar o sítio do Capitólio. Uma noite, os gauleses
tentaram escalar a colina, aproveitando a obscuridade. Fizeram tão pouco ruído
que nem os cães de guarda ouviram; parecia que seu intento teria um bom
sucesso, quando, de repente, os gansos sagrados criados no santuário de Juno
despertaram e começaram a grasnar. Deu-se o alarme. Os soldados correram
aos postos de alerta; os primeiros inimigos estavam pondo o pé na plataforma.
Mas os romanos se lançaram sobre eles, e os fizeram cair com todo o seu
peso sobre os companheiros que os seguiam. Resumindo, o ataque fracassou.
Ainda assim os víveres se esgotavam e não poderiam resistir por muito tempo.
Pressionados por seus soldados, os chefes romanos tiveram que empreender
negociações, aceitar a idéia de rendição e perguntar pelas condições de Breno
(o líder dos gauleses). Este pediu ouro, muito ouro, e prometeu respeitar a vida
dos combatentes. No dia seguinte, os oficiais romanos saíram da cidadela,
acompanhados por escravos que portavam o metal para o resgate. Começou-
se a pesá-lo e, quando se alcançou o peso acordado, Breno lançou sua espada
no prato da balança e exigiu que se agregasse ao resgate o suficiente para
restabelecer o equilíbrio. Os romanos protestaram: “A desgraça caia sobre os
vencidos!”, lhes disseram. Mas houve que obedecer. Fartos de ouro, aplacados
pelo butim, os gauleses acederam, por fim, a abandonar Roma e a retomar o
caminho do norte.
Os romanos asseguraram-se de que não fossem muito longe: que Camilo
conseguiu reunir um exército de auxílio entre as cidades aliadas de Roma,
temerosas do perigo gaulês, que atacou os gauleses enquanto se retiravam.
Seja como for, Roma sentira o medo; estivera perto de sucumbir, e entendeu
que nem as mais sólidas muralhas servem de nada se não há braços para
defendê-las. A guerra a havia arruinado, boa parte de suas casas tinham sido
queimadas ou destruída, e perdera a honra. Assim é que, por muito tempo, os
gauleses seguiram inspirando temor aos romanos. Durante séculos, bastava
que se pronunciasse seu nome para que todos saíssem correndo buscando
armas (GRIMAL, 2005: 34-5).

Depois de superarem esse perigo, os romanos conquistaram a região do Lácio, cujos


habitantes, os latinos, foram absorvidos e incorporados à cidadania romana. Com isso, Roma
desfez a Liga Latina e se tornou a senhora do Lácio.

Após combater essas populações vizinhas e consolidar sua posição no Lácio e nas áreas
limítrofes, Roma iniciou, no século IV a.C., uma ofensiva para deter o avanço de populações de
montanheses ao sul, que seguiam do interior em direção à costa. Após a submissão da Itália
central, as vitórias romanas levaram à conquista da Itália meridional e do sul. Após quase dois
séculos de luta pela supremacia na Itália, Roma tornou-se uma potência de âmbito internacional.

Passando por esse breve percurso das conquistas de Roma, como podemos explicar a
velocidade na qual elas ocorreram?

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Certamente, uma resposta simples não é possível, se é que existem respostas simples quando
estudamos a história romana. Se observarmos, contudo, o modo como os romanos
agregavam as populações dos territórios conquistados, talvez tenhamos uma pista para a
compreensão desse sucesso. O conceito de cidadania romana era muito mais amplo e flexível
do que, por exemplo, o espartano ou o ateniense. Tornavam-se cidadãos romanos todos os
escravos que eram manumitidos (os libertos), ainda que não dispusessem da totalidade dos
direitos políticos. Os filhos de libertos, contudo, tinham a cidadania plena, pois a concepção
era a de que, sendo filhos de libertos, esses já nasciam livres. Do mesmo modo, os romanos
concediam a cidadania a pessoas e povos aliados.

Muitos estudiosos veem nisso um dos motivos do sucesso romano, pois a concessão da
cidadania fazia com que Roma passasse a se expandir também de modo pacífico, a partir de
tratados de aliança com outros povos e cidades.

Campânia A Campânia Após dominar o Lácio, Roma voltou-se para o sul da península.
era uma região agrícola
Conseguiu fazer alianças importantes com cidades gregas da
fértil e tinha portos
importantes à expansãoCampânia. A partir da Campânia, Roma se deparou com os povos
romana. samnitas, que ocupavam a região montanhosa central da península,
a quem derrotou após duas longas guerras. Abaixo da Campânia, as
cidades da Magna Grécia capitularam uma após a outra e, em 272 a.C., Roma tinha assegurado
o seu domínio sobre toda a península itálica.

Figura 1 - Guerreiro samnita, pintura parietal do período republicano

Fonte:<http://wwwescolar.com/avanzado/história014.htm>

Segunda fase

A partir de meados do século IV a.C., a guerra muda de significado, tornando-se o meio


principal de uma política de expansão, levada às últimas consequências no final da República,
no século I a.C., com as campanhas de Pompeu no Oriente e de César, na Gália. É certo
que essa transição foi lenta e, por muito tempo, aspectos arcaicos da guerra subsistiram. As
guerras do século III a.C., incluindo a I Guerra Púnica, que nem de longe lembra uma guerra
de tipo republicano tardio, guardavam ainda a aura das épocas arcaicas. Estamos longe de
discernir todos os passos dessas transformações.

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Ao longo dos três séculos que se estendem desde a dissolução da Liga Latina às Guerras
Civis de fins da República, mudanças radicais não pararam de ocorrer, em função de
objetivos novos e cada vez mais conscientemente afirmados. Essa foi a época, por
exemplo, em que ocorreram grandes transformações técnicas, de aperfeiçoamento da
tática manipular e da criação da frota romana, que rapidamente assegurou à urbs o
domínio do mar.

Guerras cada vez mais longínquas e fronts muitas vezes simultâneos levaram os romanos a pôr
em ação forças superiores às quatro legiões tradicionais e anuais do exército consular,
prorrogando tanto o tempo de serviço de seus legionários quanto os comandos de seus
generais, a fim de assegurar a unidade estratégica e temporal de uma
Capite Censi Esses
cidadãos eram aqueles mesma guerra. Para isso, eram admitidos nas fileiras de batalha até
que não tinham terras a mesmo os cidadãos capite censi. A partir de então, a guerra trouxe
defender. consequências políticas que o século V a.C. não conheceu.

Por volta de 338 a.C., uma guerra levada por Roma, quer fosse por iniciativa ou defesa, só
findava se houvesse uma modificação radical das relações políticas com o adversário. Da
administração do direito de cidade à administração direta dos territórios conquistados por um
magistrado, passando por todas as variedades de estatutos que ligavam Roma aos outros
povos, as formas concretas da conquista foram múltiplas no espaço e no tempo, mas o
princípio era o mesmo: a vitória das armas romanas levava à sujeição política dos vencidos. A
guerra se tornou o meio privilegiado de conferir a Roma o estatuto de caput mundi. As guerras
de conquista e os pactos de aliança trouxeram consequências importantes para as instituições
romanas.

Vamos ver quais foram algumas delas?

Roma começou a englobar sistemas locais muito diversos, como: poleis gregas meridionais,
ricos centros agrícolas da Campânia, cidades etruscas com instituições urbanas desenvolvidas,
além de povoados mais simples de pastores das regiões dos Apeninos. Unificar a península
itálica sob sua hegemonia se tornou um grande problema, devido às diferentes estruturas das
comunidades a ela submetidas. Os romanos, então, começaram a empregar várias estratégias,
tendo em vista essa união: a aristocracia criou laços de amicitia com as classes dirigentes de
outras cidades, permitindo a entrada de famílias das elites itálicas na aristocracia senatorial,
estabelecendo relações políticas - e redes de clientela - além de alianças familiares com os
grupos dirigentes de cada sociedade submetida a ela.

Na península, as populações sob o domínio romano adquiriram situações jurídicas diferentes


perante a urbs, que firmou múltiplos tratados de aliança com as cidades itálicas. Teoricamente
autônomas, as cidades se comprometiam a prestar auxílio militar em caso de conflito externo,
fornecendo soldados. Existiam asciuitatessinesuffragio , os habitantes
Soldados Esses eram que eram considerados cidadãos de segunda classe, que gozavam de
os chamados aliados cidadania romana incompleta, sem direito de voto nas assembleias.
ou socii, termo do
qual derivou a palavra
Algumas cidades recebiam a condição de municipium, ou seja,
“sócio”. comunidade cuja população local tinha a cidadania romana, assim
como total autonomia em relação aos assuntos internos.

A política de conceder cidadania romana de várias maneiras a elementos itálicos era uma forma
de integrá-los e assegurar o fornecimento de quadros para o exército.

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Cada legião do exército romano compreendia 3000 homens de infantaria pesada, mais
1200 vélites (infantaria ligeira) e 300 equites(cavaleiros).

A cada ano era feito o recrutamento, que era destinado apenas aos
Recrutamento Os proprietários, visto que havia uma crença de que lutavam melhor os
romanos chamavam homens que tinham terras para defender. As legiões só não eram
este treinamento de
tirociniummilitae.
recrutadas nos anos em que Roma não estava envolvida em nenhuma
campanha militar, o que era raro no período republicano.

Figura 2 – Revelo representando legionários romanos

Fonte: Blogue Histórico, 5º ano, 2015. Disponível em: <http://bloguehistorico5.wordpress.com/category/imperio-romano/>.

As guerras adquiriram um papel ainda mais importante como meio de resolução dos
problemas sociais internos, na medida em que elas ampliavam o território romano. A questão
da manutenção da unidade de governo e administração era das mais difíceis, principalmente
nas regiões mais afastadas, a milhares de quilômetros. Era necessário construir e manter
estradas para que o exército e os funcionários alcançassem os lugares mais distantes e para
que os impostos pagos chegassem a Roma.

Para assegurar a ordem entre os conquistados, Roma tinha de manter postos avançados e
acampamentos militares espalhados pelo território imperial. Era preciso alimentar e armar os
soldados onde eles estivessem, assim como era necessário fazer chegar ordens de Roma às
tropas e governos mais distantes.

Mesmo com todas as dificuldades de transporte e comunicações da época, o Império se


manteve unido por um período bastante longo. Para controlar tantos povos diferentes, dominar
tão grande território, cobrar impostos, reprimir revoltas e guardar fronteiras, os romanos
contavam com armas, navios, escravos e centenas de funcionários. Contudo, para uma imensa
população, de até cinquenta milhões de habitantes deste território, a estimativa para o exército é
de apenas, no máximo, 390 mil homens, e a burocracia imperial também nunca foi muito grande,
o que demonstra a importância das elites locais para a manutenção do Império.

A capacidade administrativa dos romanos em seu Império deve ser lembrada com destaque.
Nos primeiros séculos, ainda da Itália, os romanos estabeleciam tratados com diversos povos
e assentavam cidadãos romanos em colônias. Quando, a partir do final do século III a.C.,
conquistaram terras fora da Itália, criaram-se províncias.

Cada província tinha uma capital, onde o governador era assistido também por um conselho
provincial, formado pela elite local e funcionários. Na base estavam as cidades, cada uma com
grande autonomia na gestão de seus assuntos, com constituição própria, câmaras municipais
(ordo decurionum) e magistrados locais (duunviros).

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Desse modo, podemos perceber a importância das elites locais para a manutenção do Império
Romano. A organização institucional da res publica não permitia a presença constante de
oficiais romanos em províncias que se tornavam cada vez mais distantes em relação a Roma.
Por meio da cooptação das elites locais, pela concessão da cidadania, pelas redes de amicitia,
por tratados, alianças e outros meios, Roma conseguia manter tais elites fiéis a si, mantendo
as províncias vinculadas ao Império.

A aristocracia senatorial romana conseguia, assim, controlar o imenso corpus territorial


romano, fortalecendo-se ainda mais. Mas se a aristocracia romana vivia um momento de
grande poder e riqueza, as coisas não andavam bem para a população mais pobre da Itália e
da própria urbs.

As guerras muito longas, em locais distantes, por exemplo, tornavam cada vez mais difícil a
participação dos camponeses romanos na infantaria. Desse modo, a urbs teve de se deparar
com novos problemas, especialmente vinculados, por um lado, à manutenção desse Império
e, por outro, às questões trazidas por seu próprio enriquecimento. A sociedade romana
começou a se transformar rapidamente. As guerras passaram a produzir grandes lucros,
em especial por meio da captura e venda de inimigos como escravos, que passaram a ser
utilizados como mão de obra em larga escala, nas villae, as propriedades rurais aristocráticas,
que passaram a produzir produtos, especialmente vinho e azeite, em escala industrial, e nos
latifundia, nome latino para as imensas propriedades fundiárias que foram criadas após as
conquistas romanas, estabelecidas especialmente na Sicília, uma região propícia para o cultivo
em larga escala de trigo.

Vamos ver de que maneira os problemas sociais internos de Roma foram sendo resolvidos
com as intervenções da guerra?

As terras conquistadas significavam a ocupação e a exploração econômica das zonas


anexadas. O fato mais importante é que as guerras conquistadas se tornaram fundamentais
para toda a sociedade romana. Muito cedo, os romanos perceberam que elas eram
também um empreendimento lucrativo: traziam a riqueza do saque para os soldados e seus
comandantes. Mas não só os militares eram beneficiados com as guerras, os cidadãos mais
pobres também o eram, com a aquisição de terrenos nas áreas conquistadas, tanto nas
vizinhanças de Roma como nas colônias romanas ou latinas recém-fundadas. Além disso, os
combates proporcionavam a glória militar, o que era de interesse da aristocracia dirigente que,
assim, afirmava sua superioridade e garantia as magistraturas para seus membros, e esses se
tornavam famosos na urbs.

A expansão era, então, de interesse geral, já que o êxito militar permitia a solução de
vários problemas romanos à custa dos vencidos.

A hegemonia romana na península foi facilitada pelos estabelecimentos


Colônias As colônias feitos nas colônias. O recurso à colonização criou uma camada de
eram as cidades que camponeses leais a Roma por quase toda a Itália. A partir da fundação
foram fundadas nos
de Óstia, na metade do século IV a.C., ao longo da costa itálica
territórios conquistados
e anexados por Roma foram criadas diversas guarnições romanas, como Anzio, Terracina
e Minturno, entre 338 e 283 a.C. Com o passar do tempo, várias
fundações se seguiram a essas.

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Figura3 – Rua de Óstia

Fonte: http://wwwbsos.umd.edu/econ/euro/ostia.htm

Nessas colônias, que tinham originalmente um objetivo militar, os cidadãos romanos


receberam pequenos lotes de terra e conservaram sua cidadania. Também foram criadas
colônias latinas, nas quais eram instalados contingentes maiores de pessoas. Essas eram
formadas por “latinos”, ou seja, não romanos, que recebiam lotes maiores de terra sem,
entretanto, tornarem-se cidadãos com plenos direitos, pois não podiam votar nas assembleias.

O Império Romano foi, então, a herança de uma expansão territorial que durou muitos séculos.
Nos primeiros séculos de sua história, Roma entrou em vários conflitos no Lácio, dominou ou
fez alianças com povos vizinhos, expandindo-se primeiro em direção ao Lácio e, depois, à Itália
central, meridional e setentrional.

Os povos conquistados recebiam um tratamento muito diversificado, segundo sua posição


em relação ao poder romano. Os que se aliassem recebiam direitos totais ou parciais de
cidadania, enquanto os derrotados que não cedessem eram subjugados; vários foram
vendidos como escravos ou submetidos a tratados muito desiguais, que faziam chegar a
Roma muitas riquezas, na forma de escravos, impostos e tributos.

Como explicar o sucesso desta conquista histórica em tão poucas páginas?

Esta é uma tarefa impossível! Então, vamos apresentar apenas algumas observações sobre o
tema. Roma, talvez por ter se originado de uma união de povos, parecia saber conviver com as
diferenças e adotava soluções engenhosas para evitar a oposição e cooptar possíveis inimigos,
como a da inclusão dos membros das elites dos povos aliados na órbita romana, concedendo
a eles cidadania romana. Assim, havia povos que se aliavam aos romanos e tornavam-se seus
amigos, enquanto outros lutavam e, ao perderem, eram submetidos ao jugo romano.

Na prática, a aliança com Roma significava o fornecimento de forças militares, como também
a aceitação da hegemonia política romana, mas existia um grau variável de integração com
o estado romano. Os que se opunham a essa dinâmica de poder eram massacrados ou
escravizados; suas terras eram tomadas e divididas entre os romanos e seus aliados. Esse
método, até então inédito, de tratar diferencialmente os povos vencidos era muito eficaz e
favorecia o domínio romano, pois dificultava a união dos derrotados e as revoltas contra Roma.

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Alguns povos aliados recebiam plenos direitos de cidadania, incluindo o direito ao voto.
Outros recebiam apenas o direito latino - limitado – que excluía a possibilidade de votar. Com
outros povos, ainda, Roma estabelecia alianças que lhes permitiam manter seus próprios
magistrados e leis tradicionais, submetendo-os, porém, à tutela romana e exigindo que
fornecessem regularmente as tropas auxiliares quando requisitadas. Com o intuito de prevenir
revoltas, Roma construiu estradas por toda a Itália, as quais permitiam o deslocamento rápido
das tropas, e fundou numerosas colônias sobre o território dos povos aliados, além de garantir,
com a sua rede de estradas, a comunicação entre a urbs e suas províncias.

Figura 4 - Estrada romana de Setúbal (Portugal)

Fonte:<http://pt. wikipedia.org/wiki/imagemestrada_romana.jpg>

Após controlar toda a península itálica, Roma entrou em contato direto com Cartago, uma
superpotência do Mediterrâneo antigo situada no norte da África e fundada pelos fenícios em
814 a.C. As cidades do Mediterrâneo ocidental, sem exceção, reconheciam a supremacia
cartaginesa, mas a rapidez da expansão romana funcionou como um alerta para Cartago, pois
significava o surgimento de uma possível ameaça à sua zona de domínio comercial.

Figura 5 – Império Cartaginês à época das Guerras Púnicas

Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/44/CarthageMap.png>.

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Mesmo com a conquista constante de novos territórios, o ímpeto expansionista romano não
tinha diminuído. Os enfrentamentos entre as poderosas cidades de Roma e Cartago iniciaram
na Sicília, ilha situada entre essas cidades, que era rica o suficiente para despertar o interesse
da aristocracia fundiária romana. Isso ocorreu no início da I Guerra Púnica (264-241 a.C.). Ao
longo dessa guerra, Roma, que jamais enfrentara um combate naval, precisou construir uma
Guerra Púnica O frota para proteger sua costa e bloquear os estabelecimentos
termo “púnico” refere- cartagineses na Sicília, e conseguiu destruir uma grande frota púnica
se a Cartago. Os nas ilhas Egates, levando Cartago a aceitar um tratado de paz. Os
romanos chamavam vencidos desocuparam a Sicília e aceitaram pagar em dez (10) anos
aos cartagineses de uma pesada indenização. Aproveitando as dificuldades de Cartago,
poeni (fenícios, em Roma aproveitou para ocupar a Sardenha, assim, iniciou-se a expansão
latim), nome do qual
territorial romana fora da península itálica.
derivou o vocábulo
púnico.
Figura 6 - Relevo com imagem de navio de guerra romano

Fonte: <http://www.escolar.com/avanzado/historia014.htm>.

Assim, após a I Guerra Púnica, Roma tornara-se também uma potência marítima: com a conquista da
Sicília (241 a.C.), da Sardenha e da Córsega (237 a. C), pôde organizar essas ilhas como as primeiras
províncias romanas e expandir-se pelo Mar Mediterrâneo.

Após o fracasso contra Roma, o general cartaginês Amílcar Barca defendeu um projeto de
expansão fora da África. Veteranos e mercenários de Cartago desembarcaram na península
ibérica, conquistando territórios que correspondem à atual Andaluzia, a partir de Gades. A
existência de minas nessa região permitiu a Cartago a cunhagem de moedas com maior teor
de prata, restabelecendo as perdas que tivera com sua derrota.

Em 218 a.C., Aníbal, filho de Amílcar, retomou a guerra contra Roma. Partindo da península
ibérica, invadiu a península itálica pelo noroeste, tendo que atravessar os Alpes. A operação
levou cinco (5) meses, causando a perda de parte dos efetivos no caminho. Tornou-se um
mito essa travessia de Aníbal pelos Alpes com seu exército, que incluía temíveis elefantes,
verdadeiros tanques de guerra. Os romanos, que nunca tinham visto um elefante, ficaram
apavorados. Aníbal ainda tinha a esperança de que muitos dos aliados dos romanos os
abandonassem, o que enfraqueceria seu poder.

Os romanos foram surpreendidos pela chegada dos cartagineses procedentes do norte, esses
mesmos que atravessaram os Alpes, sendo obrigados a defender o Vale do Pó, e sofreram uma
grave derrota no lago Trasímene. Aníbal, então, dirigiu-se para a Itália meridional, e Quinto Fábio,
nomeado ditador para fazer frente à situação, optou pela tática de evitar batalhas campais,
dada a força bélica dos cartagineses. Seguiu-se uma guerra de devastação de ambas as partes.

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Decididos a enfrentar Aníbal em batalha, os romanos sofreram outra derrota em Cannae (216
a.C.), perdendo 80 mil homens, um cônsul e numerosos senadores. Vários aliados de Roma
passaram para o lado de Aníbal, que se instalou em Cápua.

A partir de 215 a.C., seguiu-se uma guerra de desgaste, na qual Roma chegou a recrutar 25
legiões. A urbs conseguiu resistir devido a vários fatores. Vejamos quais foram alguns deles:

•• suas muralhas,;
•• sua frota;
•• a fidelidade dos aliados da Itália central e de suas colônias.

Derrotados em Zama, Só em 211 a.C., Roma conseguiu tomar Cápua e Siracusa. Em 209 a.C.
perto de Cartago, os recuperou Tarento e Cartagena, com seus arsenais e minas de prata.
cartagineses aceitaram Finalmente, o general Públio Cornélio Cipião convenceu os romanos a
a paz em 201 a.C.: invadir a África, o que foi um golpe de mestre, pois Aníbal foi chamado
entregaram sua frota,
de volta para defender a sua cidade, abandonando a península itálica.
abandonaram todas
as suas possessões Com isso, Roma adquiriu territórios na Hispânia e anexou Siracusa, na
fora da África e se
Sicília. Também castigou duramente os aliados que passaram para o
comprometeram a
lado de Aníbal:
pagar outra pesada
indenização de guerra. ••confiscou suas terras;
•• a elite dirigente foi sumariamente executada;
•• exigiu multas pesadas;
•• instalou guarnições militares e destruiu suas muralhas.
Em Roma, a ideia de expansão já tinha conquistado senadores e cidadãos. Os aristocratas
não queriam renunciar a novas oportunidades de glória e de butime os negociantes itálicos
e fornecedores do exército queriam novas chances de comércio; o povo, por sua vez, tinha
esperanças de conquistar mais terras. A urbs, então, começou a ter interesses econômicos
no Oriente.

No decorrer do século II a.C., as legiões romanas submeteram a Macedônia (171-168 a.C.),


destruíram Cartago no final da III Guerra Púnica (149-146 a.C.), submeteram a maior parte
da península ibérica e ocuparam a Grécia em 146 a.C., numa expansão cada vez mais
vertiginosa. Os territórios ocupados foram anexados ao estado romano e organizados em
forma de novas províncias: a Hispânia, em 197 a.C., a Macedônia, em 148 a.C., a África, em
146 a.C. e a província da Ásia (antigo reino de Pérgamo), em 133 a.C.

As consequências dessa expansão foram imensas, pois esses territórios, que continham
populações e cidades variadas e antigas, compreendiam áreas de produção agrícolas
muito desenvolvidas e dispunham de jazidas de matérias-primas, como as minas de prata
da Hispânia. Também forneceram uma grande quantidade de prisioneiros de guerra -
escravizados - e de provinciais desprovidos de direitos e submetidos à exploração. Abriram-se
novos mercados aos negociantes itálicos para as atividades comerciais e empresariais, sem
qualquer tipo de concorrência.

Vemos então que, ao fim de apenas meio século, Roma transformara-se numa potência
mediterrânea e adquirira um império territorial. Os romanos podiam, então, chamar o
Mediterrâneo de mare nostrum: nosso mar.

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A partir daí, Roma sustentou um impressionante afluxo de riquezas, principalmente sob forma
de dinheiro e escravos provenientes do saque das guerras e da exploração das suas
províncias. Essa situação permitiu que o senado, em 167 a.C., isentasse os cidadãos romanos
do tributum, o imposto direito que recaía sobre eles. Os territórios conquistados pagavam
impostos à urbs, que enriquecia cada vez mais. Além disso, as aduanas estabelecidas em
Tesouro Denominado vários locais, como Óstia, Cápua, Puteoli, entre outras, assim como a
aerarium para os exploração de minas de prata, asseguravam rendimentos regulares ao
romanos tesouro.

Terceira Fase

Um novo período se inicia com o principado e a paxaugusta. A guerra muda de sentido mais
uma vez, para se tornar uma atividade periférica, apropriada para manter a integridade territorial
e o funcionamento do imperium. Aos poucos, a expansão conquistadora deu lugar a uma
concepção defensiva de guerra: tratava-se de assegurar a estabilidade das fronteiras e garantir a
segurança interna.

O papel da guerra, nesta terceira fase, deixou de ser o de um instrumento de uma política
imperialista para se tornar o instrumento de diferenciação entre o mundo romano e o
mundo exterior. Essa mutação foi tão importante quanto as duas primeiras para a história
de Roma e de seu Império.

Desde o período republicano Roma dera início à sua expansão territorial, em primeiro lugar,
na península itálica. Nos séculos III e II a.C., após três guerras contra os cartagineses (as
guerras púnicas), motivadas pela rivalidade entre os dois povos em relação ao comércio e à
navegação no Mediterrâneo, Roma conquistou a Sicília, o norte da África, a península ibérica
e os reinos helenísticos. No século I a.C., foram conquistados os territórios da Ásia Menor, o
Egito e a Gália. O alcance geográfico do domínio romano ainda hoje chama a atenção, pois
nunca houve império territorial tão grande e integrado como o romano.

O Império Romano englobava milhões de pessoas. Mas como será que os romanos
asseguraram a hegemonia necessária para manter unida tão vasta extensão territorial?

Figura 7 – Império Romano em 117 d.C

Fonte: <http://www.historiadomundo.com.br/romana/mapa-do-imperio-romano>.

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Observando o enorme espaço geográfico que o domínio romano alcançou em seu apogeu, no
século II d.C., percebemos que muitos povos diferentes foram englobados no Império:

•• hebreus, no Oriente Médio;


•• bretões, na atual Inglaterra;
•• gauleses, habitantes das Gálias, que correspondiam ao território da França;
•• egípcios;
•• gregos e muitos outros povos.

Alguns desses povos foram submetidos aos romanos, enquanto outros eram incorporados ao
Império, devendo apenas pagar tributos. Segundo Pierre Grimal:

Muitos se têm interrogado sobre os motivos que terão levado os romanos a


reunir assim, no seu imperium, povos tão diferentes, cuja diversidade tornava
difíceis de administrar e que não podiam ser incluídos num quadro jurídico
único, aplicável a todos. Vários motivos desempenharam, com certeza, um
papel, para além do puro e simples instinto de dominação. Em primeiro lugar,
aquilo a que podemos chamar um medo obsessivo. O Lácio, cantão de
dimensões restritas na Itália central, tinha de garantir a sua segurança frente
a populações diversas, vindas dos Apeninos ou da Etrúria (...). Quanto já não
se trata mais da Itália, mas de um quadro mais vasto, permanece o mesmo
sentimento (...).
Tal sentimento justificava-se sempre que o inimigo fosse um “bárbaro”,
afastado, na maneira de viver, dos princípios e dos valores romanos.(...) Mas
só poderia aplicar-se aos povos bárbaros, essencialmente das províncias
ocidentais e, no Oriente, a alguns que o helenismo não abrangera. Nos países
helenizados, pelo contrário, era Roma que podia fazer figura de bárbara (...).
Os Romanos apresentaram-se muito cedo como “protetores” dos Gregos, o
que constitui um primeiro passo para a integração no imperium, a partir do
momento em que a proteção se exprime pela conclusão de uma aliança, pela
assinatura de um tratado (GRIMAL, 1999: 22-3).

O OrbisTerrarum A questão da manutenção da unidade de governo e administração era das


estabelecia de maneira
mais difíceis, principalmente nas regiões mais afastadas, a milhares de
evidente, para todos os
cidadãos do Império,
quilômetros. Era necessário construir e manter estradas para que o exército
o caráter sagrado de e os funcionários alcançassem os lugares mais distantes e para que os
Roma. Sua posição impostos pagos chegassem a Roma.
equidistante entre o
centro e o perímetro do
O estatuto de caput mundi foi, então, expresso, visual e materialmente,
centro da Terra conferia pelo OrbisTerrarum, um famoso mapa elaborado sob o comando de
a Roma, graças às Marco Vipsânio Agripa, herói de guerra romano, genro e amigo íntimo
conquistas imperiais, de Augusto. Esse mapa é um dos exemplos máximos da propaganda
uma nova centralidade. imperial romana.
Roma era o novo centro
do mundo.

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Figura 8 – OrbisTerrarum

Fonte: <http:arqweb.com>

Milhares de cópias do OrbisTerrarum foram levadas a todas as grandes cidades do Império,


como prova visual do poderio romano. A mensagem do mapa era inequívoca: o mundo era
romano. Infelizmente, nenhuma cópia chegou até nós. A reconstrução acima se baseia em
dados de mapas mundi medievais que foram copiados, a priori, dos mapas romanos, ao lado
de descrições textuais de Estrabão, Pompônio Mela e Plínio, o Antigo.

Figura 9 - Soldados romanos construindo uma estrada. Métopa da Coluna de Trajano

Fonte: <http://en.wikipedia.org/wiki/Image:Metopa_Columna_lui_Traian_Constructie_drum.jpg>.

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Referências Bibliográficas
BRISSON, J-P (org.) Problèmes de la Guerre à Rome. Paris: Mouton & Co., 1969.

C. JÚLIO CÉSAR. Commentarii de BelloGallico II et III. Traduit par M. Rambaud. Coll.


Erasme, 12. Paris, P.U.F., 1965

____________.Commentarii de Bello Gallico IV. Traduit par M. Rambaud. Coll. Erasme, 12.
Paris, P.U.F., 1967

FINLEY, M.I. Ancient Economy. London: Routledge, 2002.

___________. O mundo de Ulisses. Lisboa: Editorial Presença, 1984.

GRIMAL, P. A civilização romana. Lisboa: Ed. 70, 1999.

__________. História de Roma. Buenos Aires: Paidós, 2005.

GUARINELLO, N. Imperialismo Greco-Romano. São Paulo: Ática, 1987.

TITO LÍVIO. Aburbe condita, I. London: Duckworth Publishers, 1993.

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