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Capitulo 3 A teoria da narrativa - narratologia O que é narrat? Narrar & relatar eventos de interesce burnano enunciados em um suceder tereporal encaminbado a um degecho. Implica, portanto, narratividade, uma sucessio de estados de transformagao responsivel pelo sentido. A palavra chave ¢ suesséo. Ela introduz a questio da sequenciagio, ou desenvolvimento temporal. A narratividade coloca imediatamente a ideia de prosseguimento-interrupgio ou a dialética da continuidade-descontinuidade, ja vista em paginas anteriores. A sucesso encadeia unidades narrativas em uma estrutura profunda (uma dindmica funcional e sequencial): uma complicasio que solicita uma resolugio. Segundo Ricoeur (1994), ha uma analogia entre contar uma historia ¢ 0 carter necessariamente temporal da experiéncia humana. A experiéncia do tempo estruturase em ages sucessivas cujo desenvolvimento numa intriga coesa se traduz numa espécie de dialética entre sucessividade e sintese. Narrar é, portanto, relatar process de mudanga, processos de alteragio e de sucesso interrlaciomados. Pressupde a existncia de uma légica narrativa propria, que nos demanda uma gramitica narrativa universal. © narrar fande suas raizes na nossa ancestral heranga cultural de relatar estorias. Os seres humanos tém uma predisposigio cultural, primitiva e inata, para organizar e compreender a realidade de modo narrativo, como diz Bruner (1998). A narrativa pée naturalmente os acontecimentos em perspectiva, une pontos, ordena antecedentes € consequentes, relaciona coisas, cria 0 passado, 0 presente ¢ 0 futuro, encaixa significados parciais em sucessGes temporais, explicagdes € significagdes estiveis, Faz 0 agenciamento dos fatos no processo de tessitura da intriga como um sistema, ou composigio em um todo diegético que tem principio, meio e final, no dizer de Paul Ricoeur. Antropélogos e psicélogos culturais tem enfatizado quea viabilidadede uma cultura radica em sua capacidade para resolver conflitos, explicar CAPITULO 3 - TRORIA DANARRATIVA |: as diferengas ¢ renegociar significados comunitirios. Essa negociacio & possivel gragas a0 aparato narrative de que dispomos para fazer frente simultaneamente & canonicidade (normas) ¢ 4 excepcionalidade (desvios, diferengas), como vimos no primeiro capitulo. Os acontecimentos relatados pelas _narzativas _(realistas cou imaginarias) so performatizades por personagens, atores que representam seres humanos concretos ou imaginarios, ¢ realizam coisas que os humanos também realizam (antropomorfismo natural da narrativa). A construgio de personagens ¢ agdes na narrativa é uma representagio de condutas humanas que fornecem ao natrador a matéria-prima e os modelos. Ao narrar, alguém est’ explorando na sua imaginacio possiveis desenvolvimentos (reais ou ficcionais) das condutas ¢ comportamentos hutuanos, que os teéricos chamam de atividade mimética (ou imitagio). Mimese ¢ uma expresso que entrou no mbito da narratologia pelos escritos dos fildsofos gregos Platio e Arist6teles. Originalmente, 0 conceito significa imitagio, recriagio ou representacio do mundo por meio de algum tipo de configuragio. Mas, a0 configurar, o homem vai além do objeto representado, acrescenta algo e, neste ato, apropriase do mundo. No dizer de Gebauer e Wulf (2004), na mimese o homem “refaz 0 mundo uma vez mais”: Ocorrendo de maneira criativa, a mimese gera expresses estéticas (as artes). Mas 0s processos miméticos tm também uma dimensio antropolégica, uma relagio com o saber prético e a azo social. Os processos miméticos sio imprescindiveis para a relagio do homem com a natureza, a cultura e a sociedade, dizem 0s autores: por meio deles, © homem se adapta ao mundo porque Ihe possibilitam “apanhar o mundo exterior em seu interior” (2004, p. 38): No capitulo sobre metodologia, adiante, discutirei o processo de captar progressivamente os fendmenos até chegar a sua esséncia. Paul Ricoeur (1994) observa que a thimese (imitago) narrativa € uma metifora da realidade, referese a realidade nao para copié- la, mas para lhe outorgar uma nova lcitura, um novo significado. 72.1 ANALISE CRIICA DA NARRATIVA Os significados provém nao s6 dos processos de recria¢io mimética, mas também da relagio inversa, da identificasio virtual que ocorre em toda narrativa, da transposi¢ao catirtica que as pessoas fazem das estérias narradas para as suas proprias experiéncias.! Quando escutamos (oralidade, cangao, radio), quando assistimos (teatro, filme, telenovela, telejornal) ou quando lemos uma estéria (jornal, revistas, fivro) estamos na estbria, € recriamos a sua significagio a partir da relagao que fazemos com os nossos proprios valores e nossa meméria cultural. Essa transmutagio entre o mundo da estéria narrada ¢ © mundo da vida nfo parece terse modificado no ambiente virtual das narrativas atuais, mesmo das narrativas volateis na internet. As estorias virtuais, ainda que guardem distintas caracteristicas, seguem envolvendo os receptores e eles prosseguem recriando na imaginacio suas proprias significagdes a partir do que ouvem, lem ou veem nos blogs ou redes sociais, embora em moldes diferentes. Os ouvintes de uma narrativa ndo captam apenas as sequéncias dos acontecimentos representados (a trama ou enredo). Captam também aspectos ocultos ou virtuais das personagens ¢ das acdes que requerem novos pensamentos de parte de cada um, requerem uma recriagio virtual das situagdes e comportamentos, da moral e da ética pressupostos ou sugeridos pelas estérias (a fabula, o mito, a ideologia, as metanarrativas, enfim). Referéncia e significagdo guardam, assim, uma relagio de contiguidade. A narrativa, entretanto, constitui-se como sentido nao porque os fatos narrados sejam verdadeiros ou falsos, mas porque ela possui uma escrutura interna de conexio que determina a sua configuragio integral. Nao é de se surpreender, portanto, que maneiras opostas de relatar fatos, como a historia ¢ a literatura, utilizem ambas a forma narrativa, como ja discuti. Na verdade, cada uma dessas formas imita a outra: a 10 termo catarse significa purificagio, purgaglo. Foi incialmente wilizado por Arist6tcles na otic (2000) para designar os efeitos produzidos no espectador pela tragédia, especialmente 4 compsixio e dor. (CAPITULO 3 - TEORIA DA NARRATIVA. |

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