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Análise Psicológica (1994), 4 (XII): 511-528

A Prova «Era uma Vez»: Uma Nova


Prova Projectiva para Crianças (*)

TERESA FAGULHA (**)

A prova «Era uma vez ...» é uma técnica pro- rísticas específicas da situação proposta (o mun-
jectiva para crianças que procura fornecer um do das histórias), quer ao paradigma básico que
meio de observação do modo como elas lidam orientou a sua construção, a ((área transicional))
com a ansiedade e com o prazer, emoções cuja da experiência, espaço entre a fantasia e a reali-
elaboração ou integração indiciam aspectos dade (Winnicott, 1971/75), onde se podem ela-
fundamentais da organização da mente. Estas borar, duma forma criativa, as experiências emo-
emoções são evocadas por situações desenhadas cionais .
nos Cartões que constituem a prova. A prova «Era uma vez...)) tem por objectivo,
Os Cartões são apresentados as crianças com como atrás se referiu, descrever o modo como as
a indicação de que se trata de uma história ((que crianças elaboram as emoções, nomeadamente a
ainda não está acabada)). As crianças deverão dar ansiedade e o prazer, consideradas estados afe-
sequência a história escolhendo três cenas dese- ctivos fundamentais no processo de desenvolvi-
nhadas, entre nove possíveis. Concluída a histó-
mento. As características do material, assim co-
ria é-lhes pedido que a «contem».
mo a sua forma de aplicação, resultam da refle-
Apresenta-se neste artigo uma breve descrição
da prova (material e características da sua aplica- xão sobre uma prática clínica inserida no quadro
ção e interpretação), das teorias de referência das teorias psicodinâmicas de funcionamento
que orientaram a sua criação, e ainda alguns es- psicológico.
tudos efectuados com a prova, em diferentes Considerando-se que a experiência de ansie-
amostras de crianças de idades compreendidas dade está presente desde o início da vida, inte-
entre os cinco e os nove anos. ressa compreender o modo como cada criança
lida com essa emoção dolorosa, qual é a sua for-
ma de elaboração face a esse «sinal» (Freud,
1. DESCRIÇÃO DA PROVA E APRESENTAÇÃO 1978/1926) que cada situação potencialmente
DAS TEORIAS DE REFERÊNCIA ameaçadora poderá despertar. De facto, muitos
dos medos e ansiedades que se observam nas
O nome da prova faz alusão, quer as caracte- crianças são experiências intrínsecas a sequência
do desenvolvimento e que, como tal, fazem par-
(*) Esta prova constituiu o tema da dissertação de te do desenvolvimento normal (e.g., Kendal &
doutoramento da autora, apresentada i Faculdade de Ronnan, 1990). Afirma Melanie Klein (1973/
Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade 11932) que os medos e ansiedades são expressos
de Lisboa em 1992. O material da prova foi editado mais espontaneamente pelas crianças do que
em Julho de 1993,Juntamentecom um Manual.
(**) Professora Auxiliar, Faculdade de Psicologia e pelos adultos, chamando a atenção para o facto
de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. de ser a ausência da sua expressão o aspecto re-

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levante do ponto de vista diagnóstico (Klein, com economia de meios, os elementos obtidos
Ibidem). na entrevista.
Reconhece-se, paralelamente, a função orga- Para dar forma a este ((espaço criativo)) ima-
nizativa das experiências de prazer no desenvol- ginou-se a apresentação de histórias em forma de
vimento psicológico, desde o início e ao longo banda desenhada. Cada história é apresentada
de todo o ciclo de vida (G. Klein, 1972; M. em três cenas desenhadas num Cartão (na parte
Klein, 1973/1932). A forma como elas são fanta- superior duma cartolina de formato A4). A cada
siadas pelas crianças revelará a sua capacidade um correspondem nove cenas individuais, for-
de usufruir dessas vivências agradáveis, ou, pelo malmente semelhantes as que constam no Car-
contrário, alguma dificuldade, ou mesmo impos- tão, e que permitem continuar o episódio nele
sibilidade de aproveitá-las. As experiências pra- apresentado.
zerosas podem surgir como compensatórias das As histórias representadas nos diversos Car-
inevitáveis experiências dolorosas, numa função tões dizem sempre respeito a uma mesma perso-
adaptativa que permite criar o sentimento de nagem', menino ou menina, consoante o sexo da
confiança na vida e fortalecer as relações com o criança a observar. As histórias representam epi-
mundo. Pelo contrário, a reacção negativista fa- sódios, comuns na vida infantil, ansiogéneos
ce ? expectativa
i do prazer poderá constituir um (perder-se, estar doente, ter um pesadelo, etc.) ou
alerta do ponto de vista diagnóstico, apontando prazerosos (fazer anos, ir ii praia e poder brincar
para a possibilidade de um desenvolvimento com outras crianças), e a tarefa pedida 5 criança
psicológico desajustado, ou mesmo de uma evo- é o completarnento das histórias apresentadas.
lução psicopatológica (Klein, 1973/1932). Outras técnicas projectivas para crianças uti-
Na consulta psicológica da criança, a entre- lizam a modalidade de completarnento de his-
vista Iúdica constitui, geralmente, o primeiro tórias (e.g. Wurstein, 1966; Duss, 1971/1950).
passo do processo e proporciona o «setting» Nessas provas as histórias são apresentadas ver-
onde se pode revelar, através da utilização dos balmente e o seu completarnento é também ver-
objectos-brinquedos postos a disposição da bal. Na prova «Era uma vez...)) optou-se pelo se-
criança, o modo como ela elabora as ansiedades guinte procedimento: apresentação desenhada
que acompanham o processo de desenvolvimen- das histórias, as quais são, simultaneamente,
to, como expressa os seus desejos, medos e fan- descritas pelo psicólogo. Este apresenta, em
tasias, quais as motivações conscientes e incons- seguida, as várias cenas desenhadas que podem
cientes, como procura controlar as experiências dar continuação A história, e pede a criança que a
do seu dia-a-dia. Abre-se, assim, acesso a com- complete escolhendo três cenas e colocando-as
preensão da vivência emocional da criança, en- em sequência; é-lhe então pedido que descreva a
tendida como cristalização de relações actuais e história que organizou.
passadas com o seu mundo de pessoas e de coi- O procedimento adoptado não assenta pois,
sas. prioritária ou exclusivamente, na verbalização.
A condução da entrevista lúdica exige uma Diz Winnicott que ((brincar é fazer)) (Winnicott,
experiência sólida (apoiada numa supervisão re- 1975/1971) e, assim, manipular, escolher, foram
gular), na medida em que se liga intrinsecamente os critérios que orientaram o tipo de resposta.
a compreensão dos significados expressos nos Também Beier (1966) chama a atenção para o
actos brincados e a sequência em que se desen- facto de a criança depender, mais do que o adul-
cadeiam, numa larga e imprevisível variabilida- to, da ((linguagem silenciosa)). Não tendo ainda o
de. perfeito domínio das ((nuances)) da linguagem
A constatação desta complexidade levou ao que permite a capacidade de se ((esconder)) atrás
desejo de criar uma situação que, mantendo as das palavras, a criança expressa mais fácil e es-
características fundamentais da actividade Iúdica pontaneamente os seus desejos e medos através
enquanto espaço criativo de elaboração das
experiências emocionais, entre a fantasia e a
realidade (Winnicott, 1975/1971), se apresen-
tasse estandardizada, no seu modo de apresenta- ' Tal como acontece no teste de Patte Noir (Corman,
ção e interpretação, permitindo complementar, 198111961)e nos Blacky Pictures (Blum, 1966, 1946).

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FIGURA 1

I
i r

I
Ex. de uma situação ansiogénea (Cartão 11)

I Ex. de uma situação prazerosa (Cartão V)

da acção. Optou-se, assim, pela utilização com- tu-agora eu» (Leal, 1985/1975) que facilita e
binada de estímulos visuais (descritos pelo psi- promove a comunicação expressiva.
cólogo) e respostas que implicam, num primeiro Como se disse, os acontecimentos críticos
tempo, tarefas visuais e motoras (selecção das expressos nos diversos Cartões representam
cenas) e, só num segundo momento, a descrição temas que constituem experiências ansiogéneas
verbal. (situações expressas nos Cartões I, 11, IV, VI e
As características da situação de prova, no VII) e prazerosas (situações expressas nos Car-
modo de aplicação descrito, reflectem ainda um tões 111e V), comuns na vida infantil. Existe ain-
outro aspecto inspirado na entrevista lúdica: a da um Cartão para exernplificação e treino do
implicação mútua, a partilha a dois (psicólogo e procedimento.
criança). De facto, quando o psicólogo apresenta O Cartão I apresenta uma situação em que a
e descreve o Cartão e dá a vez a criança para que personagem, ao passear com a mãe, fica perdida.
ela seleccione as cenas e as descreva, estabelece- As respostas a este tema permitem elucidar o
se um «vai-vem», uma representação do ((agora modo como as crianças se confrontam com a

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ansiedade de separação e perda, presente desde o poderá significar para a criança um castigo pelos
início da vida e paradigma de todos os estados seus impulsos agressivos. Se a culpabilidade
afectivos dolorosos. Nascemos, separando-nos for demasiado intensa, o medo da decepção po-
da experiência de intimidade única da vida intra- derá levar A total supressão dos desejos. Assim, a
uterina, morremos, separando-nos do mundo de expressão do prazer ou do desejo ou, pelo con-
pessoas e coisas que conhecemos. Entre estes trário, a reacção de frustração face a expectativa
dois pontos limites, confrontamo-nos constante- de acontecimentos agradáveis e gratificantes,
mente com situações que nos fazem experimen- constituem elementos relevantes para a compre-
tar a dor ou a ameaça de perdas. ensão do funcionamento psicodinâmico.
O Cartão I1 apresenta a personagem doente e O Cartão VI apresenta uma situação em que a
necessitando de cuidados médicos. Esta situação personagem presencia um conflito entre os pais.
poderá despertar ansiedades associadas ao medo Esta temática é apresentada com o objectivo de
do sofrimento físico, da perda de integridade fí- revelar características da reacção emocional da
sica, ou até da vida, da culpabilidade inconscien- criança face ao casal, e do modo como se situa
te associada A ideia de doença (a associação en- no conflito entre o desejo e o medo da sua sepa-
tre doença e castigo, sempre presente no incons- ração.
ciente colectivo). Esta situação poderá ainda O último Cartão, Cartão VII, tem como tenia
associar-se A experiência de receber cuidados e a dificuldade de aprendizagem no contexto da
carinhos especiais (por exemplo, maior proximi- sala de aula. Esta situação poderá ser vivida co-
dade com os pais), ou a separação da família a mo um ataque, mais ou menos intenso, a auto-es-
que, por vezes, a necessidade de internamento tima da criança, revelando os mecanismos, de-
conduz. fensivos ou adaptativos, para lidar com esta
O Cartão I11 apresenta um acontecimento experiência, comum no decurso da aprendiza-
agradável: um passeio da personagem a praia, gem escolar, e cuja vivência interna tem par-
com os pais, e a expectativa de poder brincar ticular interesse em ser entendida nos casos em
com outras crianças. As respostas das crianças que o pedido de observação psicológica é desen-
permitirão entender o modo como internamente cadeado por dificuldades de aprendizagem.
vivem as experiências ligadas a esse convívio, As nove cenas respeitantes a cada Cartão es-
fantasiado como prazeroso, desejável mas temi- tão divididas em três categorias: três cenas repre-
do, ou, por vezes, ameaçador, se o medo da rejei- sentam, graficamente, contextos ligados a emo-
ção superar a esperança na aceitação pelos pares ções dolorosas, ou de perigo, associados i expe-
e a expectativa de com eles poder brincar. riência de ansiedade - cenas de Aflição. Outras
O Cartão IV representa a personagem a acor- três cenas representam, graficamente, situações
dar com um pesadelo. Sendo o medo do escuro, em que a personagem encontra, na fantasia, uma
os pesadelos e os terrores nocturnos, experiên- forma de aliviar a tensão - cenas de Fantasia. As
cias comuns no desenvolvimento infantil, será a restantes três cenas representam, graficamente,
intensidade da ansiedade associada a esta expe- uma estratégia de acção para resolver a situação
riência que permitirá avaliar aspectos relevantes crítica apresentada, ou mostram simplesmente a
da reacção individual, dando acesso á forma evidência da aceitação da realidade, dolorosa ou
como cada criança enfrenta esta ansiedade co- prazerosa - cenas de Realidade.
locada no sonho, ou seja, entre a fantasia e a rea- A categoria das cenas que cada criança esco-
lidade. lhe para continuar a história, em conjugação
O cartão V representa o dia do aniversário da com a posição em que as coloca na sequência
personagem. Afirma Melanie Klein (1973/1932) que com elas organiza (i.", 2." ou 3." posição)
que este dia (tal como os domingos e outras fes- revelam movimentações características na elabo-
tas de família) acena às crianças com uma possi- ração dos fenómenos emocionais despertados
bilidade de renovação e recomeço, em que os por cada um dos Cartões.
presentes e atenções recebidas significam uma É de chamar a atenção para o facto de, inten-
compensação para as dádivas de amor que cionalmente, não existir uma completa equiva-
desejam e não obtêm, ou não obtêm da forma lência, ou uma simetria absoluta, entre as cenas
desejada. Pelo contrário, não receber presentes da mesma categoria. Assim, nas cenas de Afli-

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ção pode reconhecer-se uma graduação da inten- a sequência de cenas descreve, complementado
sidade da ansiedade expressa nas diferentes si- pela descrição verbal da história, procura-se
tuações desenhadas, que varia de «aflição» a avaliar a forma como o ego se confronta com as
((muita aflição)). Quanto as cenas de Fantasia, se emoções: se pode tolerar a tensão e realizar
bem que todas representem situações agradáveis compromissos que viabilizem a gratificação dos
face ao acontecimento crítico representado no impulsos de acordo com a realidade, se a fanta-
Cartão, umas ilustram aspectos de fantasia omni- sia pode funcionar como um refúgio face às
potente ou de realização impossível - ((fantasia emoções dolorosas, ou se estas são tão intensas
mágica» - enquanto que outras representam que submergem todo o funcionamento, ou até
acontecimentos bons, mas viáveis, que consti- que ponto o ego tem capacidade de separar dese-
tuem uma alternativa agradável a situação crítica jo e fantasia. O funcionamento egóico expressa-
proposta no Cartão - ((fantasia boa». No que res- rá, não só o acesso a diferentes formas de elabo-
peita as cenas de Realidade, e como se referiu, ração emocional, mas revelará ainda o desenvol-
algumas ilustram situações de aceitação da rea- vimento de capacidades perceptuais e cognitivas.
lidade (dolorosa ou agradável) proposta no Car- Para além das nove cenas postas A disposição
tão, enquanto que outras representam estratégias das crianças para dar continuação as histórias
resolutivas dessa situação. existe, para cada Cartão, uma décima cena que é
colocado pelo psicólogo quando a criança
termina a descrição verbal da história, e que
FIGURA 2 apresenta uma resolução factual e objectiva da
situação crítica apresentada no Cartão. Pretende-
se, com este procedimento, que a temática apre-
sentada em cada Cartão fique solucionada de
forma estandardizada para todas as crianças, de
modo a que a reacção interna face ao estímulo
seguinte não seja contaminada pelo final, «feliz»
ou «infeliz», que cada criança deu a história an-
terior.
A prova tem ainda um Cartão para finaliza-
ção, que representa o retrato da personagem, e
face ao qual são colocadas algumas questões
relativamente as situações apresentadas. Este
último Cartão foi criado com o objectivo de for-
necer um espaço que facilite 21 criança a transi-
ção entre a situação de prova (a qual, de algum
Cenas do Cartão II modo, toca os conflitos do seu mundo interno) e
o restabelecimento do contacto com a realidade
externa.
Tal como atrás se referiu, a interpretação inci-
Múltiplas combinações’ podem surgir na orga- de sobre as cenas escolhidas e a posição em que
nização das sequências, permitindo deduzir mo- são colocadas na sequência, sobre elementos e
vimentações internas na elaboração e integração características da história verbalizada e ainda so-
das emoções e permitindo descrever tendências bre aspectos da atitude da criança face a situação
de utilização de mecanismos de regulação dos de prova. Estes elementos são assinalados numa
afectos, despertados pelas situações apresentadas grelha de análise, composta por diversos itens
na prova. Através desse movimento interno que dicotómicos, e que serve de base i interpretação
das respostas. A sua apreciação revelará caracte-
rísticas da elaboração interna face as emoções
Considerando as combinações das três categorias despertadas pelos diversos Cartões, dos movi-
de cenas nas três posições da sequência podem obter- mentos defensivos da criança, das suas relações
se 27 sequências diferentes. com o seu mundo de ((objectos internos)) e «ex-

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ternos)), a expressão dos sentimentos associados, o significado que a maioria das crianças atri-
etc. Considera-se, no entanto, que sendo a ava- buíam as Cenas que escolhiam, para se deter-
liação psicológica um processo global e comple- minar a concordância entre a descrição feita por
xo, os elementos de interpretação da prova ad- elas e a intenção que presidira a concepção e de-
quirem maior riqueza de significado quando arti- senho de cada cena.
culados e integrados com os restantes elementos 3. Fornecer elementos para a elaboração do
obtidos nesse processo, ajudando a enriquecer a ((sistema de análise das respostas)), nomeada-
compreensão global da criança, nomeadamente mente os relativos aos aspectos de verbalização
pela forma como elabora as emoções e se rela- das histórias.
ciona com «outros significativos)).
Por outro lado, e na medida em que se admite Em relação ao ponto 1 pretendia-se que as
uma ligação entre o funcionamento normal e o psicólogas, durante a aplicação, registassem
funcionamento patológico - em que o conheci- todos os aspectos informativos da atitude das
mento das ansiedades e medos normais no de- crianças face a situação proposta, bem como de
senvolvimento infantil conduz a uma melhor eventuais dificuldades encontradas na sua apli-
compreensão dos medos e ansiedades patoló- cação.
gicas, as quais, reciprocamente, funcionam coma Para obter a informação necessária ao esclare-
uma dente de aumentar)) na compreensão do cimento do ponto 2 procedeu-se do seguinte
funcionamento normal - pretende-se que a prova modo: as histórias que as crianças verbalizaram
«Era uma vez ...» se possa desenvolver no quadro foram transcritas integralmente e posteriormente
de utilização das técnicas projectivas apontado segmentadas com base nas verbalizações corres-
por Traubenberg (1 983), numa dupla perspecti- pondentes a cada uma das Cenas. Procedeu-se,
va, clínica e de investigação, que constitui a es- então, análise do conjunto de verbalizações re-
pecificidade da actividade dos psicólogos. ferentes a cada cena, para determinar a concor-
dância, ou divergência, entre os significados
atribuídos pelas crianças, ao descrever cada Ce-
2. ESTUDO EXPERIMENTAL DA PROVA na, no contexto das histórias que construíram, e
o significado que nelas se pretendia expressar.
Para elaborar o sistema de análise das respos-
2.1. Estudo prévio tas procedeu-se a uma inspecção qualitativa das
respostas obtidas, no sentido de integrar na
. A prova foi estudada numa amostra de 162 análise todos os elementos de informação da
crianças, 79 raparigas e 83 rapazes, de idades reacção emocional das crianças que, empirica-
compreendidas entre os cinco e os nove anos mente, se verificava poderem surgir nas respos-
(Fagulha, 1992). Foi aplicada por várias psi- tas (para além, evidentemente, dos aspectos
cólogas (que para esse fim receberam prepara- previamente estabelecidos de acordo com os
ção) em estabelecimentos de ensino oficial e par- pressupostos que presidiram a criação do mate-
ticular da zona de Lisboa. rial).

Este estudo contemplou três ordens de obje- Resultados


ctivos: 1. Em relação ao primeiro objectivo verificou-
1. Avaliar a reacção das crianças A prova, quer se que a prova teve boa aceitação pelas crianças
em termos da sua adesão a situação, quer ainda dos diferentes níveis etários que, de um modo
das características das respostas obtidas. Quanto geral, colaboraram duma forma interessada. Ve-
a estas, interessava essencialmente verificar se rificou-se uma grande variabilidade nas respos-
apresentavam variabilidade suficiente para per- tas. Todas as cenas foram escolhidas. A frequên-
mitir captar elementos da reacção individual. cia de escolha de cada cena variou entre 19 (ce-
2. Verificar se a forma como as crianças des- nas 9 do Cartão I e 6 do Cartão VI, escolhidas
creviam as cenas correspondentes a cada Cartão por 12% das crianças) e 1O8 (cena 8 do Cartão V,
coincidia com os significados que nelas se pre- escolhida por 67% das crianças).
tendeu representar. Era necessário conhecer qual 2. Em relação ao segundo objectivo do estudo,

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que visava o conhecimento da forma como as Ihida o ((coeficiente de matching de Jacquard)).
crianças descreviam cada uma das cenas corres- Obtiveram-se as matrizes de semelhança dos
pondentes aos sete Cartões, verificou-se que as itens da grelha de análise das respostas para cada
Cenas eram percepcionadas, pela maioria das um dos Cartões e para o conjunto dos sete Car-
crianças, de acordo com o significado que presi- tões.
dira a sua concepção. As verbalizações mais co-
muns referentes a cada uma das cenas foram sin- Resultados
tetizadas de acordo com o seu conteúdo e organi- Os itens do ((sistema de análise das respostas))
zadas em Quadros para facilitar a consulta desta aglomeraram-se em sete ((clusters)), padrão de
informação (ver Fagulha, 1992). aglomeração que se repetiu no conjunto dos sete
3. O terceiro objectivo concretizou-se pela Cartões, bem como em cada um deles. Consta-
elaboração de um sistema de análise das respos- tou-se, no entanto, a existência de características
tas que contempla diversos aspectos: atitude da particulares na organização da árvore de «clus-
criança face a situação; tipo de cenas escolhidas terw correspondente a cada Cartão, o que permi-
e sua posição na sequência; características das tiu confirmar que eles constituem situações inde-
histórias verbalizadas, quer na sua interligação pendentes, como se concebeu ao construir a
com as cenas correspondentes, quer relativas a prova.
aspectos formais e de conteúdo das verbaliza- Da apreciação global e comparativa do peso
ções. de cada um dos itens concluiu-se que cerca de
113 apresentava uma pequena contribuição para a
informação veiculada. Tendo sido retirados esses
2.2. Estudo do Sistema de Análise das Res- itens, o novo ((sistema de análise das respostas))
postas foi submetido a igual tratamento estatístico, que
revelou manterem-se as características funda-
Considerando a larga variabilidade das res-
mentais. Posteriormente, e de acordo com a ex-
postas obtidas no estudo anterior, pareceu ade-
periência decorrente da utilização da prova em
quado restringir agora o leque de idades a estu-
estudo de casos, foram introduzidos alguns no-
dar, aumentando o número de sujeitos da amos-
vos itens (Fagulha, 1993).
tra.
Assim, a prova foi aplicada a uma amostra de
245 crianças, 130 raparigas e 11 5 rapazes, de 2.3. Caracterização das respostas em função
idades compreendidas entre os seis e os oito das Cenas escolhidas
anos, a frequentarem o ensino oficial e particu- As respostas obtidas com a amostra anterior
lar, na cidade de Lisboa. A média e a mediana foram analisadas de acordo com as categorias de
situam-se nos sete anos. cenas escolhidas pelas crianças, em cada um dos
Pretendia-se identificar aglomerados estatís- Cartões, e a posição em que as colocaram para
ticos dos diferentes itens que constituem «O sis- organizar a sequência da história.
tema de análise das respostas)) e avaliar ainda a Havia a necessidade de caracterizar e delimi-
sua contribuição individual para a informação tar aspectos específicos do ((sistema de análise
total fornecida por este sistema. de respostas)). Vários itens deste sistema corres-
Registaram-se as respostas das crianças da pondem aos aspectos referidos (categoria/po-
amostra de acordo com o ((sistema de análise das sição das cenas escolhidas), os quais constituem
respostas)). Procedeu-se ao estudo estatístico? os elementos de análise mais objectivos e fáceis
dos dados obtidos pelo ((método dos clusters hie- de classificar. Nos protocolos da amostra refe-
rárquicos)), sendo a medida de segurança esco- rida no estudo anterior determinou-se a frequên-
cia (e percentagem correspondente) de cada uma
das três categorias de cenas (Aflição, Fantasia e
Realidade) em cada uma das três posições (i.",
Este foi planeado e executado pela Professora
Fátima Fontes de Sousa, da Faculdade de Ciências da 2." e 3.") das sequências organizadas pelas crian-
Universidade de Lisboa, a quem expresso o meu ças em cada Cartão.
agradecimento. De acordo com os pressupostos teóricos sub-

517
QUADRO 1
Frequência de escolha de cada categoria de cena em cada uma das três posições das sequências
íN= 2 45

CARTÃO\ I I1 111 IV V VI VI1


CENA/POSIÇÃO

1.' Posição Aflição 1 I6 118 44 183 46 56 87


1 .' Posição Fantasia 52 49 85 25 73 79 50
I .' Posição Realidade 77 78 1 I6 37 126 109 107

2." Posição Aflição 104 95 59 1o3 62 103 96


2." Posição Fantasia 70 61 82 85 1O0 78 66
2." Posição Realidade 71 89 104 57 83 63 82

3." Posição Aflição 71 93 73 81 57 73 87


3." Posição Fantasia 76 101 98 104 98 117 89
3." Posição Realidade 98 51 74 60 90 54 68

Nota: Dado que uma criança se recusou a prosseguir a prova a partir do Cartão V, os Cartões VI e VI1 correspondem a
N=244

jacentes a construção da prova, as resposta:; concepção e desenho dos diferentes Cartões se


((categoria de cenaíposição na sequência)) permi- revelavam ansiogéneas ou prazerosas, de acordo
tem inferir características da reacção emocional com o que fora previsto.
das crianças face a temática apresentada em Na análise das respostas ao Cartão I (que re-
cada um dos Cartões. Assim, a qualidade d;i presenta a personagem sozinha e perdida), veri-
emoção despertada (ansiosa ou prazerosa) seri fica-se uma maior frequência de escolha de
revelada pela categoria de cenas escolhida com Cenas de Aflição, as quais são predominante-
maior frequência. A forma como as crianças ela- mente colocadas no início da sequência (na 1." e
boram essas emoções, traduzir-se-á pelas cara- 2." posição, numa frequência que se diferencia, a
cterísticas das sequências que organizam. nível estatístico, das outras duas categorias de
cenas). A síntese descritiva das respostas obtidas
Resultados permitirá afirmar que a situação apresentada no
Apresentam-se nos Quadros 1 e 2, as frequên- Cartão I desperta uma ressonância de emoção
cias e percentagens de escolha das três catego- ansiosa com uma elaboração que, podendo pas-
rias de cenas em cada uma das três posições das sar pela fuga na fantasia e pelo recurso a realida-
sequências organizadas pelas crianças, em cada de, conduz, com maior frequência, A busca de
um dos Cartões. uma solução realista.
Os Cartões que representam temáticas ansio- Passando i análise das respostas ao Cartão I1
géneas (Cartões I, 11, IV, VI e VII) dão origem :i (que representa a personagem doente e necessi-
uma maior frequência de cenas de Aflição, en- tando de cuidados médicos) verifica-se ainda um
quanto que, em resposta aos Cartões que apre- predomínio das Cenas de Aflição, colocadas
sentam temáticas prazerosas (Cartões I11 e V), se preferencialmente no início da sequência, mas
encontra uma menor frequência de escolhas des- que mantêm uma alta frequência de escolha na
tas cenas e, consequentemente, maior frequência 3." posição. Na 2." posição surge, igualmente,
de cenas de Realidade elou de Fantasia. Tal uma tendência para o confronto com os aspectos
constatação, embora esperada (dada a caracte- da realidade (dolorosa) da doença. Verifica-se,
rística relativamente estruturada dos estímulos) no entanto, que para lidar com a situação de
confirmou que as temáticas que presidiram ;i doença, a qual, em larga medida, ultrapassa a ca-

518
QUADRO 2
Percentagem de escolha de cada categoria de cena em cada uma das três posições das sequências
(N=245)

CARTÃO\ I I1 I11 IV V VI VI1


CENA/POSIÇÃO

1 ." Posição Aflição 47.4 48.2 17.9 74.7 18.8 22.8 35.7
1 ."Posição Fantasia 21.2 20.0 34.7 10.2 29.8 32.2 20.4
1 .' Posição Realidade 31.4 32.8 47.4 15.1 51.4 45.0 43.9

2." Posição Aflição 42.5 38.8 24.1 42.0 25.3 42.2 39.3
2." Posição Fantasia 28.6 24.9 33.5 34.7 40.8 32.0 27.1
2." Posição Realidade 28.9 36.3 42.4 23.3 33.9 25.8 33.6

3." Posição Aflição 28.9 37.9 29.8 33.1 23.3 29.9 35.7
3." Posição Fantasia 31.1 41.2 40.0 42.5 40.0 48.0 36.5
3." Posição Realidade 40.0 20.9 30.2 24.4 36.7 22.1 27.8

pacidade de controlo pessoal, as crianças tendem presenta a personagem a acordar com um pesa-
a organizar o desfecho, não tanto com a procura delo) encontra-se um nítido predomínio de es-
de soluções realistas, mas antes pelo recurso a colha de cenas de Aflição, colocadas, de modo
fantasia. No entanto, a percentagem de cenas de preferencial, no início da sequência (1 ." e 2." po-
Aflição na 3." posição revela que, para algumas sição). De salientar que o total de cenas de Afli-
crianças da amostra, a situação de doença repre- ção corresponde a metade do número total de ce-
senta uma acontecimento de difícil resolução in- nas escolhidas. Em termos de frequência de es-
terna. colha, seguem-se as cenas de Fantasia que, sen-
Nas respostas ao Cartão 111 (cujo tema diz res- do raras na 1." posição, constituem o desfecho
peito a um passeio a praia, com os pais, e a pos- mais comum. Pode, provavelmente, concluir-se
sibilidade de convívio com outras crianças) veri- que, se um sonho mau desperta intensa ansie-
fica-se, de acordo com o tema prazeroso nele re- dade, a melhor resolução para essa emoção dolo-
presentado, que as Cenas de Aflição são as me-
rosa será num sonho bom, ou seja numa fantasia
nos escolhidas, sendo particularmente raras na
boa.
1.'' posição da sequência. As Cenas mais fre-
Passando a análise das respostas ao Cartão V,
quentemente escolhidas pelas crianças da amos-
o segundo Cartão da prova que apresenta um
tra distribuem-se, com relativa homogeneidade,
acontecimento prazeroso (representa o dia de
pelas categorias de Fantasia e de Realidade (nes-
te caso, uma realidade agradável). As respostas a aniversário da personagem). De facto, as cenas
este Cartão confirmam que a temática apresen- menos escolhidas são as de Aflição (com uma
tada não é, de modo geral, detonadora de uma diferença significativa, em relação as outras
emoção ansiosa, mas desperta, geralmente, a duas categorias de cenas, em qualquer das três
associação a uma realidade prazerosa ou evoca posições). Na 1." posição surgem com maior fre-
fantasias agradáveis. No entanto, a observação quência as cenas de Realidade (uma realidade
da frequência das escolhas referentes A 3." posi- particularmente agradável). Nos dois outros mo-
ção revela que, para algumas crianças desta mentos (2." e 3." posição) encontramos um equi-
amostra, esta situação, antevista como agradável, líbrio oscilante entre a fantasia (de acontecimen-
desperta alguma associação a sentimentos de tos «especialmente» bons) e a realidade prazero-
ansiedade. sa. As escolhas feitas pelas crianças da amostra
Na análise das respostas ao cartão IV (que re- vão, pois, no sentido esperado, confirmando o

519
significado particular a atribuir, neste Cartão, a tados obtidos na utilização da prova, quer na prá-
escolha d e cenas de Aflição. tica clínica4, quer na prossecução d o s e u estudo
D a análise das cenas escolhidas no Cartão VI e m amostras diversas.
(que apresenta a personagem presenciando um
conflito entre os pais) salienta-se um predomínio 2.4. Estudo da capacidade discriminativa da
de cenas de Realidade como ressonância imedia- Prova
ta ao estímulo (na 1 .a posição as cenas d e Reali-
dade diferenciam-se, a nível estatístico, das duas Pretendeu-se testar a validade d a prova d e
outras categorias de cenas). No segundo momen- acordo com um critério externo. O comporta-
to destacam-se as cenas de Aflição, enquanto mento psicossocial, caracterizado pelo «Que+
que as d e Fantasia predominam como desfecho tionário de Rutter para ser preenchido pelos
(numa frequência que se diferencia, a nível esta- professores)) (Rutter, 1967), permite identificar
tístico, d a frequência de cenas de Aflição). Do as crianças «com» e «sem» perturbação emocio-
padrão de respostas obtido parece poder deduzir- nal, proporcionando ainda, em relação as primei-
s e que a maioria das crianças considera o con- ras, a distinção entre as que apresentam cara-
flito entre os pais como um fenómeno de reali- cterísticas predominantemente ansiosas ou agres-
dade, que desencadeia um sinal de aflição. No sivas (Rutter, 1987; Zimmerman-Tansell et al.,
entanto, na resolução de uma situação crítica cu- 1978). A análise das respostas ao questionário de
jo controlo Ihes escapa, fazem essencialmente Rutter sugeriu a possibilidade d e identificar as
apelo A fantasia. crianças cujo comportamento se caracteriza pelo
Por último, a observação das respostas refe- isolamento social.
rentes ao Cartão VI1 (em que personagem se Vários professores d e escolas d o ensino bási-
confronta com uma situação de incapacidade no co, preencheram o ((Questionário d e Rutter)) pa-
contexto d a sala d e aula), revela que as cenas de ra todas as crianças das suas turmas, com idades
Fantasia são inicialmente as menos escolhidas. compreendidas entre os seis e os oito anos. .4
Face a problemática apresentada, a maioria das partir dos dados d o questionário constituíram-se
crianças tende a encontrar, de imediato, uma for- quatro grupos: um grupo de controlo (N=81)
ma realisticamente adequada para enfrentar a si- constituído pelas crianças cujos «scores» indica-
tuação d e dificuldade (a frequência de cenas de vam ausência de perturbação emocional, u m
Realidade na 1." posição diferencia-se, a nível grupo de crianças agressivas (N=21), um grupo
estatístico, d a frequência de cenas de Fantasia, de crianças ansiosas (N=21) e um grupo d e
mas não da frequência de cenas de Aflição). De crianças isoladas (N=12).
facto, algumas crianças d a amostra expressam, A prova foi aplicada as crianças dos quatro
na 1 .a cena escolhida, uma ressonância emocio- grupos e os protocolos obtidos foram analisados
nal d e ansiedade face a esta situação. Na 2." po- de acordo com o ((sistema de análise das respos-
sição mantém-se uma distribuição das escollias, tas)).
essencialmente entre as cenas de Aflição e de
Realidade. O desfecho corresponde novamente a Resultados
uma alternância entre as três alternativas pro- Os dados obtidos foram submetidos a uma
postas, o qual não permite descrever uma ten- análise de ((clusters)) idêntica a que foi utilizada
dência de resolução claramente delineada, ainda para o estudo d o ((sistema de análise das respos-
que se observe uma menor frequência de cenas tas»'. Submeteu-se a matriz dos dados obtidos
de Realidade.
O estudo permitiu caracterizar o padrão de
respostas ((categoria d e cena/sua colocação na Neste contexto será sempre necessário proceder a
sequência)) específico de cada um dos Cartões, integração dos aspectos respeitantes aos aspectos de
confirmando as características ansiogéneas ou verbalização e atitude face a prova, não abrangidos
neste estudo.
prazerosas d a s temáticas apresentadas, em Este estudo foi igualmente planeado e executado
relação com a categoria das cenas preferencial- pela Professora Fátima Fontes de Sousa, da Faculdade
mente escolhidas. Este padrão constituirá uma de Ciências da Universidade de Lisboa, a quem ex-
referência básica para a interpretação dos resul- presso o meu agradecimento.

520
QUADRO 3
Cartão I (Passeio com a mãe)

!Ao DE ESCOLHA DAS CENAS FREQUÊNCIA DE ESCOLHA DAS CENAS

GRUPO CON AGR ISO ANS CON AGR ISO ANS


/CENA N=81 N=21 N=12 N=21 N=8 1 N=2 i N=12 N=2 1
~

1 59% 48% 27% 48% 48 10 3* 10


2 44% 62% 18% 14yo 36 13 2 3**
3 28% 48% 9% 19% 23 10 1 4
4 67% 43% 67% 67% 54 9* 7 14
5 15% 24% 64% 24% 12 5 7** 5
6 10% 24% 38% 14% 8 5* 4** 3
7 32% 14% 36% 43% 26 3 4 9
8 31% 29% 45% 33% 25 6 5 7
9 14% 10% 0% 38% 11 2 0 8**

* Diferença significativa
** DiTerença muito significativa

através da análise de «clusters» a uma análise utiliza os mesmos grupos, cujas respostas são
global pelo ((método de discriminação canóni- analisadas numa perspectiva mais restrita.
ca», obtendo-se a projecção destes dois grupos Confirmada a capacidade discriminativa global
em relação aos dois eixos principais canónicos e da prova, surgia a necessidade de realçar alguns
o respectivo mapa de zonas aglomeradas. O eixo aspectos qualitativos das respostas que permitis-
C1 refere-se ao «score» padronizado relativo a sem descrever características específicas dos di-
pontuação dos itens do primeiro aglomerado de versos grupos.
«clusters» e o eixo C2 refere-se ao (more» pa- Optou-se novamente pela resposta ((escolha
dronizado dos itens do segundo aglomerado de de cena», na medida em que, como foi referido,
«clusters». A observação das zonas de aglomera- constitui o indicador mais objectivo e simples de
ção evidencia que os quatro grupos aparecem di- classificar. No ((sistema de análise das respostas))
ferenciados, quer entre si, quer em relação ao registam-se as cenas escolhidas de acordo com a
grupo de controlo, consoante a sua maior ou me- sua categoria (Aflição, Fantasia e Realidade),
nor saturação nos ((scores)) relativos aos eixos não sendo nunca consideradas as nove cenas en-
(ver Fagulha, 1992). quanto unidades individuais. Como se referiu na
A confirmação de que as respostas de grupos descrição da prova, existem alguns cambiantes
de crianças com diferentes características de entre as cenas da mesma categoria. Havia, assim,
comportamento psicossocial (traduzindo dife- interesse em testar a possibilidade de discrimina-
rentes modos de funcionamento emocional), ção entre os diversos grupos a partir da análise
analisadas de acordo com o ((sistema de análise da frequência de escolha de cada uma das nove
das respostas)), se podem diferenciar em termos cenas, consideradas como itens independentes.
estatísticos, permite afirmar o potencial da prova A observação das características das cenas
para a categorização das reacções emocionais mais escolhidas, e das cenas menos escolhidas,
das crianças das idades consideradas. em cada um dos Cartões, pelos diversos grupos,
poderá fornecer informação complementar para
2.5. Caracterização da elaboração das emo- o entendimento da forma como elaboram as
ções em diferentes grupos de crianças emoções suscitadas pelos diferentes estímulos.
Determinaram-se as frequências e percenta-
Este estudo surge na sequência do anterior e gens de escolha de cada uma das nove cenas, em

52 1
FICrURA 3
Cartão I

1 2 4 5 6 9

cada Cartão, nos quatro grupos. Estabelecendo As crianças ~rgressivasescolhem, com uma
como critério de ((frequência esperada)) a que frequência significativamente inferior em relação
corresponde ao grupo de controlo, procedeu-se, ao grupo de controlo, a cena 3 e com uma fre-
pelo método do «Qui quadrado)), A análise das quência significativamente superior a cena 5 .
diferenças encontradas, para identificar as cenas Sendo ambas cenas da categoria Fantasia, uma
que discriminavam os grupos, a nível estatístico. vez mais se verifica o interesse de complementar
a análise das respostas com este tipo de infor-
Resultados mação.
A análise será efectuada independentemente FIGURA 4
para cada Cartão. Os resultados constam dos Cartão I1
Quadros 3 a 9, onde se registaram as frequências
e percentagens de escolha de cada uma das nove
cenas, por cada grupo, em cada Cartão.
No Quadro 3 referente ao Cartão I (a persona-
gem, ao passear com a mãe, fica perdida) encon-
tram-se seis cenas que permitem diferenciar os
grupos estudados em relação ao grupo de 2 3 5 8
controlo: são as cenas 1, 2, 4, 5 , 6 e 9.
As crianças agressivas escolhem com uma As crianças isoladas escolhem, com uma fre-
frequência significativamente inferior em relação quência significativamente superior em relaçâo
ao grupo de controlo, a cena 4 e com uma fre- ao grupo de controlo, as cenas 2 e 8.
quência significativamente superior, a cena 6. As crianças ansiosas também se diferenciam
As crianças isoladas escolhem com uma fre- pela frequência de escolha da cena 8, mas, no ca-
quência significativamente inferior em relação so destas crianças, ela é escolhida com uma fre-
ao grupo de controlo, a cena 1 e com uma fre- quência significativamente inferior relativamente
quência muito significativamente superior, as ce- ao grupo de controlo.
nas 5 e 6. No Quadro 5 , referente ao Cartão (passeio A
As crianças ansiosas escolhem, com uma fre- praia e possibilidade de convívio com outras
quência muito significativamente inferior em crianças) só duas cenas diferenciam as escolhas
relação ao grupo de controlo, a cena 2 e com dos grupos: são as cenas 2 e 8.
uma frequência muito significativamente
superior, a cena 9. É interessante notar que, per-
tencendo as duas cenas A categoria de Aflição, é FIGURA 5
natural que estas duas tendências opostas re- Cartão I11
sultem numa diminuição da capacidade discri-
minativa das respostas deste grupo se as conside-
rarmos unicamente agrupadas por categoria.
Analisando as respostas do Quadro 4, referen-
te ao Cartão I1 (a personagem está doente) en-
contram-se 4 cenas que distinguem as escolhas
2 8
dos diferentes grupos: são as cenas 2, 3, 5 e 8.

522
QUADRO 4
Cartão 11 (Doença)

Yo DE ESCOLHA DAS CENAS FREQUÊNCIA DE ESCOLHA DAS CENAS

GRUPO CON AGR ISO ANS CON AGR ISO ANS


/CENA N=81 N=21 N=12 N=21 N=8 1 N=2 1 N=12 N=2 1

33% 29% 27% 29% 27 6 3 6


21% 19% 45% 24% 17 4 5* 5
42% 19% 36% 43% 34 4* 4 9
43% 57% 18% 57% 35 12 2 12
22% 43% 9% 16% 18 9* 1 4
27% 29% 9% 29% 22 6 1 6
20% 10% 18% 14% 16 2 2 3
32% 33% 64% 10% 26 7 7* 2*
59% 62% 73% 76% 48 13 8 16
~~ _____

* Diferença significativa

QUADRO 5
Cartão 111 (Passeio a praia)

% DE ESCOLHA DAS CENAS FREQUÊNCIADE ESCOLHA DAS CENAS

GRUPO CON AGR ISO ANS CON AGR ISO ANS


I CENA N=81 N=21 N=12 N=2 1 N=8 1 N=2 1 N=12 N=2 1

51% 48% 36% 57% 41 10 4 12


23% 19% 55% 29% 19 4 6* 6
43% 43% 45% 48% 35 9 5 10
19% 19% 18% 29% 15 4 2 6
27% 33% 36% 24% 22 7 4 5
35% 24% 9% 38% 28 5 1 8
33% 24% 27% 24% 27 5 3 5
42% 67% 27% 29% 34 14* 3 6
27% 24% 45% 24% 22 5 5 5
_____________

* Diferença significativa

As crianças agressivas escolhem a cena 8 cenas que diferenciam os diversos grupos em


com uma frequência significativamente superior relação ao grupo de controlo: cenas 1, 2, 8 e 9.
A que ocorre nas crianças do grupo de controlo. As crianças agressivas escolhem, numa fre-
As crianças isoladas escolhem a cena 2 com quência significativamente superior A do grupo
uma frequência significativamente superior em de controlo, as cenas 1 e 8. A cena 2 é por elas
relação ao grupo de controlo. escolhida com uma frequência muito significati-
No Quadro 6 , referente ao Cartão IV (a perso- vamente inferior a que ocorre no grupo de con-
nagem acorda com um pesadelo) são quatro as trolo.

523
QUADRO 6
Cartão 1V (Pesadelo)
~ ~

% DE ESCOLHA DAS CENAS FREQUÊNCIA DE ESCOLHA DAS CENAS

GRUPO CON AGR ISO ANS CON AGR ISO ANS


I CENA N=81 N=21 N=12 N=2 1 N=8 1 N=2 1 N=12 N=2 1

10% 24% 9% 24% 8 5* 1 5*


65% 33% 36% 76% 53 7** 4* 16
23% 14% 9% 3 8% 19 3 1 8
27% 24% 18% 24% 22 5 2 5
48% 57% 36% 52% 39 12 4 11
25% 19% 36% 19% 20 4 4 4
12% 10% 18% 10% 10 2 2 2
20% 38% 36% 5% 16 8* 4 1
69% 81% 100% 52% 56 17 1I* 11

* Diferença significativa
** Diferença muito significativa

Também o grupo das crianças isoladas escolhe vas com uma frequência muito significativamen-
a cena 2 numa frequência significativamente in- te superior A que ocorre no grupo de controlo.
ferior em relação ao grupo de controlo. A cena 9
é por elas escolhida numa frequência muita FIGURA 7
significativamente superior em relação ao grupc Cartão V
de controlo (a totalidade das crianças do grupo
escolhe esta cena).
c'
FIGURA 6
I
Cartão IV
2

Na análise do Quadro 8, referente as cenas es-


colhidas no Cartão VI (a personagem assiste a
uma briga dos pais), verifica-se que apenas duas,
entre as nove cenas disponíveis, permitem en-
1 2 8 9 contrar diferenças significativas na comparação
com as escolhas do grupo de controlo: são as
cenas 4 e 8.
As crianças ansiosas escolhem a cena 1 com FIGURA 8
uma frequência significativamente superior em Cartão VI
relação ao grupo de controlo.
No Quadro 7, respeitante ao Cartão V (dia do
aniversário da personagem), apenas o grupo das
crianças agressivas se distingue do grupo de
controlo e por uma única cena: trata-se da cena
2.
Esta cena é escolhida pelas crianças agressi- 4 8

524
QUADRO 7
Cartão V (Dia dos anos)

% DE ESCOLHA DAS CENAS FREQUÊNCIA DE ESCOLHA DAS CENAS

GRUPO CON AGR 1.50 ANS CON AGR ISO ANS


I CENA N=81 N=21 N=12 N=2 1 N=8 1 N=2 1 N=12 N=2 1

I 22% 19% 27% 38% 18 4 3 8


2 23% 52% 45% 24% 19 11** 5 5
3 20% 33% 18% 19% 16 7 2 4
4 21% 14% 18% 29% 17 3 2 6
5 57% 62% 45% 67% 48 13 5 14
6 32% 24% 27% 33% 26 5 3 7
7 32% 19% 9% 19% 26 4 1 4
8 77% 62% 82% 67% 62 13 9 14
9 18% 14% 27% 5% 13 3 3 1

** Diferença muito significativa

QUADRO 8
Cartão VI (Briga dos pais)

% DE ESCOLHA DAS CENAS FREQUÊNCIA DE ESCOLHA DAS CENAS

GRUPO CON AGR ISO ANS CON AGR ISO ANS


I CENA N=81 N=21 N=12 N=2 1 N=81 N=21 N=12 N=2 1

1 68% 62% 64% 57% 55 13 7 12


2 23% 14% 18% 10% 19 3 2 2
3 33% 48% 45% 48% 27 10 5 10
4 48% 33% 18% 57% 39 7 2* 12
5 33% 33% 45% 48% 27 7 5 10
6 15% 14% 0% 0% 12 3 O O
7 26% 33% 36% 38% 21 7 4 8
8 20% 38% 36% 19% 16 8* 4 4
9 33% 24% 36% 24% 27 5 4 5

* Diferença significativa

As crianças agressivas escolhem a cena 8 permitem discriminação face ao grupo de con-


numa frequência significativamente superior A trolo: são as cenas 3, 8 e 9.
do grupo de controlo.
No grupo das crianças isoladas verifica-se FIGURA 9
que a cena 4 é escolhida numa frequência signi-
Cartão VI1
ficativamente inferior A do grupo de controlo.
No Quadro 9, referente ao Cartão VI1 (a per-
sonagem enfrenta uma situação de dificuldade de
aprendizagem face aos colegas e i professora)
três cenas apresentam frequências de escolha que

525
QUADRO 9
Cartão VZZ (Escola)

Y'o DE ESCOLHA DAS CENAS FREQUÊNCIA DE ESCOLHA DAS CENAS

GRUPO CON AGR ISO ANS CON AGR ISO ANS


/CENA N=81 N=21 N=12 N=21 N=8 1 N=2 1 N=12 N=2 1

58% 39% 55% 52% 47 8 6 11


51% 38% 55% 52% 41 8 6 11
12% 43% 9% 24% 10 9** 1 5
33% 24% 36% 14% 27 5 4 3
19% 14% 27% 19% 15 3 3 4
27% 14% 18% 19% 22 3 2 4
40% 29% 18% 48% 32 6 2 10
30% 43% 64% 29% 24 9 7* 6
31% 57% 18% 43% 25 12** 7 9

* Diferença significativa
** Diferença muito significativa

As crianças agressivas distinguem-se do gru- frequência muito alta a cena 2, que representa
po de controlo por escolherem, com frequências um acontecimento frustrante. Escolhem com
muito significativamente superiores, as cenas 3 e menor frequência as cenas que representam si-
9. A observação destas cenas revela uma intensa tuações de proximidade em relação às figuras
ansiedade face à situação proposta e uma fan- parentais, manifestando preferência por cenas
tasia de fuga que permite imaginar quanto é difí- em que enfrentam, por si sós, as situações crí-
cil e dolorosa, para estas crianças, a vivência ticas. A característica especial da sua reacção ao
desta situação. meio escolar, particularmente relevante, foi já re-
Quanto ao grupo das crianças isoladas, é a ce- ferida.
na 8, por elas mais frequentemente escolhida, Nas cenas que distinguem o grupo das crian-
que diferencia, a nível estatístico, as suas esco- ças isoladas surge uma clara preferência por
lhas das do grupo de controlo. aquelas em que a personagem aparece sozinha,
Os resultados obtidos permitem afirmar que a retratando claramente os aspectos do seu com-
frequência de escolha das diversas cenas, inde- portamento. Este é ainda nítido na preferência
pendentemente da sua categoria, permite diferen- pela cena 2 do Cartão 111 (passeio & praia) em
ciar características do funcionamento emocional que a personagem está isolada, de costas para as
dos diversos grupos estudados, principalmente outras crianças, e apresentando uma postura que
no grupos das crianças agressivas e isoladas (no expressa embaraço e atrapalhação. Saliente-se
grupo das crianças ansiosas essa caracterização 4, ainda a preferência pela cena 2 do Cartão I1 que
relativamente pobre). As cenas que distinguem representa a recusa da ajuda materna.
aqueles dois grupos retratam aspectos da S U B . Pode, assim, afirmar-se o interesse em com-
vivência interna claramente compreensíveis face plementar a informação registada no ((sistema de
as características de comportamento psicossocial análise das respostas)) com a informação relativa
que serviram de base a formação dos grupos. às cenas escolhidas.
Sintetizando alguns aspectos da informação
obtida, sobressai, no grupo das crianças agressi- Os estudos referidos indicam o interesse da
vas, que elas tendem a escolher com menor fre- prova na compreensão da reacção emocional
quência as cenas em que são claramente expres- das crianças face aos estímulos apresentados.
sos sinais de aflição, com excepção do Cartão V Eles cingiram-se, como foi referido, a aspectos
(dia do aniversário) em que escolhem com uma particulares das respostas ((cenas escolhidas)),

526
dada a sua facilidade de registo. No entanto, os Leal, M.R.M. (1985). Introdução ao Estudo dos Pro-
elementos de interpretação decorrentes das cessos de Socialização da Criança. Lisboa: edição
da autora. (Publicado originalmente em 1975).
histórias verbalizadas têm, igualmente, vindo a Rutter, M. (1967). A Children’s Behaviour Questionaire
ser objecto de estudo. for Completion by Teachers: Preliminary Findings.
A prova tem ainda sido regularmente utilizada Journal of Child Psychology and Psychiatiy, 8: 1-
no contexto de estudo de casos, onde se verifica -1 1.
fornecer informação relevante e complementar Traubenberg, N.R. (1983). Utilisation des Tests en
Psychologie C h i q u e en France. Critiques et Réa-
daquela que se obtém com outras provas pro-
lisations. Bulletin de ia Comission Internationale
jectivas, bem como da que a entrevista lúdica des Tests et de ia Division d’Evaluation en Psy-
fornece. chologie de L ’AIPA, 27: 23-27.
Outros estudos têm vindo a ser conduzidos Winnicott, D.W. (1975). Jeu et Realité. Paris: Galli-
com amostras de crianças com características mard. (Publicado originalmente em 197 1).
diversas. Wurstein, H. ( I 966). Completamiento de Cuentos: Los
Cuentos de Madeleine Thomas Y Otros Métodos
Similares. In Técnicas Proyectivas para Niiíos
(Albert, I. Rabin & Mary R. Haworth, Eds.),
pp.181-192, Buenos Aires: Paidós.
REFERÊNCI AS BIBLIOGRÁFICAS Zimmerman-Tansell, C., Minchetti, T., Tacconi, A,,
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Buenos Aires: Paidós. RESUMO
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Universitaires de France. (Publicado originalmente A prova «Era uma yez ...» é uma nova técnica pro-
em 1961). jectiva para crianças. E uma prova de completamento
Duss, L. (1 971). Lu Méthode des Fables en Psychana- de histórias, que são apresentadas em três cenas de
lyse. Paris: L’Arche. (Publicado originalmente em banda desenhada. Para completar a história a criança
i 950). tem i sua disposição nove cenas desenhadas, entre as
Fagulha, M.T. (1992). A Prova «Era uma vez...)). Uma quais deverá escolher três e organizá-las em sequência.
Prova Projectiva Para Crianças. Dissertação de As nove cenas estão agrupadas em três categorias:
doutoramento apresentada a Faculdade de Aflição, Fantasia e Realidade. A prova tem como
Psicologia e de Ciências da Educação da Univer- objectivo descrever o modo como as crianças elabo-
sidade de Lisboa. ram a ansiedade e o prazer, estados afectivos funda-
Fagulha, T. (1993). A Prova «Era uma vez...)). Prova mentais no desenvolvimento psicológico. A autora
Projectiva Para Crianças. Manual e Material. apresenta as teorias de referência para a construção da
Lisboa: Edição da autora. prova e descreve o seu material e forma de aplicação.
Freud, S. (1978). Inhibitions, Symptoms and Anxiety. Apresenta-se um estudo inicial, com uma amostra de
In The Standard Edition of the Complete Works of 162 crianças, entre 5-9 anos, que permitiu conhecer a
Sygmund Freud, Voi. XX, pp 77-178, London: The reacção das crianças i prova, características das res-
Hogarth Press and the Institute of Psycho-Analysis. postas, etc. Um outro estudo, com uma amostra de 245
(Publicado originalmente em i 926). crianças entre 6-8 anos, incidiu sobre a caracterização
Kendal, P.C. & Ronan, K.R. (1990). Assessment of do padrão de respostas (categoria de cena escolhi-
Chidren’s Anxieties, Fears, and Phobias: Cognitive da/posição na sequência)). Um estudo com três grupos
Behavioral Models and Methods. In Handbook of de crianças (agressivas, ansiosas e isoladas) revelou a
Psychological and Educafional Assessment of Chil- possibilidade de diferenciar, a nível estatístico, as
dren. (Cecyl R. Reynolds & Randy W. Kamphaus, respostas dos três grupos, entre si e em relação ao
Eds.), pp. 122-144, New York: The Guilford Press. grupo de controlo.
Klein, G.S. (1972). The Vital Pleasures. Psychoanalysis
and Contemporary Science, Annual: i 8 1-205.
Klein, M. (1 973). The Psycho-Analysis of Children.
London: The Hogarth Press and the Institute of ABSTRACT
Psycho-Analysis. (Publicado originalmente em
1932). The projective test «Era uma vez...)) (Once upon a

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time ...) is a new projective technique for chiidren RESUME
involving story completion. The stories are presented
in three cartoon episodes, and the child must choose L’épreuve projective «Era uma vez...)) (I1 était une
from among nine small scenes and put them in sequen- fois ...) est une nouvelle technique projective pour en-
ce to tell a story; these scenes differ in their chara- fants. I1 s’agit d’une épreuve óu I’on demande a I’en-
cteristics: either they represent anxiety, fantasy, or rea- fant de completer des histoires présentées sous forme
lity possible outcomes. The test aims to describe how de planches avec trois scènes de bande déssinée. A fin
de completer l’histoire, I’enfant dispose de neuf scènes
children elaborate emotions, mainly anxiety and
déssinées: il doit en choisir trois et les organizer en
pleasure, that are fundamental affects in psychological séquence. Les neuf scènes sont groupées en trois caté-
adaptation. The author presents the theoretical back- gories: anxieté, fantaisie et réalité. Le but de I’épreuve
ground of the test. The characteristics of the material est de décrire comment les enfants élaborent I’anxiété
and application are described. The test was initially el le plaisir, affects fondamentaux dans ie développe-
studied with a group of 162 children, from 5-9 years ment psychologique. L’auteur présente le cadre théo-
old. It focused the children’s reaction to the test si- rique de Ia construction de l’épreuve et décrit le maté-
tuation, the variability of the choice of the pictures, riel et Ia forma d’application. I1 présente aussi I’étude
etc. The test was also studied with a group of 245 chil- initial, avec un échantiilon de 162 enfants, entre 5 et 9
dren, 6-8 years old, to characterize the frequency ans, étude qui porta sur Ia réaction des enfants au test,
with which the different category scenes were chosen les caracteristiques des réponses, etc. Une deuxiéme
étude, sur un échantillon de 245 enfants entre 6 et 8
according to its placement in the sequence. The author
ans, visa Ia caractérisation du type de réponse ((caté-
also presents a study with three groups of children gorie de scéne choisie/sa position dans Ia séquence)).
with aggressive, anxious and isolated behavior. The Finalement, une étude sur trois groupes d’enfants
results indicated that the three groups could be (agressifs, anxieux et isolés) montra Ia possibilité de
statistically differentiated from each other and from differencier les groupes, entre eux, et par rapport au
the control group. groupe controle.

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