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Vivemos em um mundo de eufemismos.

Coveiros se tornaram "agentes funerários",


assessores de imprensa são chamados de
"conselheiros de relações públicas" e os faxineiros
agora são todos "zeladores". Diante da riqueza
multifária da vida, fatos até então incontroversos
acabaram ganhando uma roupagem obscura.
Isto não tem sido menos verdadeiro em
relação à economia. Nos velhos tempos,
costumávamos sofrer crises econômicas quase
que periódicas: o começo repentino era chamado
de "pânico", e o período prolongado após esse
pânico era chamado de "depressão".
A mais famosa depressão dos tempos
modernos, claro, foi aquela que começou com um
típico pânico financeiro em 1929 e que durou até
o advento da Segunda Guerra Mundial. Após o
desastre de 1929, economistas e políticos
decidiram que isto nunca mais deveria acontecer.
E a maneira mais fácil de obter sucesso nesta
empreitada foi simplesmente abolindo a
existência da palavra "depressão". Daquele ponto
em diante, não mais iria haver uma depressão.
Assim, quando uma nova e forte depressão
surgiu em 1937-38, os economistas simplesmente
se recusaram a usar esse nome pavoroso, o que os
levou a criar um termo novo e muito mais suave:
"recessão". Desde então, passamos por várias
recessões, mas por absolutamente nenhuma
depressão.
Porém, rapidamente a palavra "recessão"
também se tornou áspera para as delicadas
sensibilidades do público. Assim, parece que a
última recessão foi em 1957-58. Desde então, só
ocorreram "declínios" ou, ainda melhor,
"desacelerações" ou "movimentos laterais".
Portanto, anime-se: daqui pra frente, depressões
e até mesmo recessões estão banidas da
semântica econômica; de agora em diante, o pior
que pode acontecer é uma "desaceleração". Tais
são as maravilhas da "Nova Economia".
Nas últimas décadas, os economistas
adotaram a idéia de ciclos econômicos que foi
criada por John Maynard Keynes, que criou o
"keynesianismo" ou a "Nova Economia" em seu
livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da
Moeda, publicado em 1936. Sob seus diagramas,
cálculos e jargões rudimentares, a atitude dos
keynesianos perante as "expansões" e
"depressões" econômicas é simplista, para não
dizer ingênua.
Se há inflação, então a causa é
supostamente o "gasto excessivo" por parte do
público; a suposta cura deve ser a intervenção do
estado, o auto-proclamado estabilizador e
regulador da economia, que deve forçar as
pessoas a gastar menos, "enxugando o excesso de
poder de compra" através de um aumento nos
impostos. Se há uma recessão, por outro lado,
isto se deve ao gasto privado insuficiente, e a cura
nesse caso é o governo aumentar seus próprios
gastos, preferivelmente através de déficits
orçamentários, contribuindo dessa forma para
incrementar o fluxo do gasto agregado da
economia.
A idéia de que o aumento dos gastos
governamentais - ou o "crédito fácil" - é bom para
os negócios, ao passo que cortes no orçamento -
ou o "crédito apertado" - são ruins, permeia até
mesmo os jornais e revistas mais conservadores.
Estes periódicos também consideram ponto
pacífico que é tarefa obrigatória do governo
federal guiar todo o sistema econômico pelo
estreito caminho entre o abismo da depressão, de
um lado, e o da inflação, de outro, uma vez que a
economia de livre mercado supostamente está
condenada a sucumbir a um destes males.
A economia é tratada como um paciente
potencialmente curável, mas sempre
problemático e teimoso, com uma tendência
contínua a gerar ou mais inflação ou mais
desemprego. A função do governo é ser o médico
sábio e experiente, sempre vigilante, sempre
fazendo remendos para manter o paciente - a
economia - vivo e ativo. Em qualquer situação, a
economia deve sempre ser vista como um
paciente instável, e o governo, como um médico
que tudo sabe.
Não faz muito tempo, este tipo de atitude
política era chamada de "socialismo"; mas
vivemos em um mundo de eufemismos, e agora
podemos classificar tudo isso com rótulos menos
ásperos, como "ajuste fino" ou "livre iniciativa
socialmente controlada". Vivendo e aprendendo.
Quais, então, são as causas das depressões
periódicas? Será que devemos sempre
permanecer céticos em relação às causas das
expansões e contrações econômicas? É realmente
verdade que os ciclos econômicos estão
profundamente enraizados dentro da economia
de livre mercado, e que, portanto, alguma forma
de planejamento governamental é necessária se
quisermos manter a economia dentro de algum
tipo de limite estável? As expansões e contrações
simplesmente acontecem ou uma fase do ciclo
flui logicamente da outra?
A atual postura em relação aos ciclos
econômicos se origina, na realidade, de Karl
Marx. Marx percebeu que, antes da Revolução
Industrial, aproximadamente no final do século
XVIII, expansões e depressões não eram algo
costumeiro na economia. Poderia haver uma crise
econômica repentina se algum rei declarasse
guerra ou confiscasse a propriedade dos seus
súditos; mas não havia sinal do moderno e
peculiar fenômeno de oscilações regulares na
economia - as expansões e contrações. Como
esses ciclos surgiram praticamente em
simultâneo com a indústria moderna, Marx
concluiu que os ciclos econômicos eram uma
característica inerente à economia de mercado
capitalista. Todas as várias escolas de
pensamento econômico, independentemente de
suas diferenças e das diversas causas que
atribuem aos ciclos, concordam em um ponto
vital: esses ciclos econômicos se originam em
algum lugar dentro da economia de livre
mercado. A economia de mercado é a culpada.
Karl Marx acreditava que as depressões
periódicas iriam se agravar cada vez mais, até que
as massas se mobilizariam pela revolução e
destruiriam o sistema, ao passo que os
economistas modernos acreditam que o governo
pode com sucesso estabilizar as depressões e os
ciclos. Mas todas as partes concordam que a
culpa está enraizada na economia de mercado - e
que se há algo que pode salvar o sistema, esse
algo seria uma maciça intervenção
governamental.
Há, contudo, alguns problemas críticos na
suposição de que a economia de mercado é a
culpada. Pois a "teoria geral da economia" nos
ensina que a oferta e a demanda sempre tendem
a estar em equilíbrio no mercado e que, portanto,
tanto os preços dos produtos quanto os fatores
que contribuem para a produção estão sempre
tendendo a um ponto de equilíbrio. Ainda que as
informações e os dados estejam em constante
mudança, o que impede que este equilíbrio seja
alcançado, não há nada na teoria geral do sistema
de mercado que explique as fases de expansão e
contração - que são regulares e recorrentes - dos
ciclos econômicos.
Os economistas modernos "solucionaram"
facilmente este problema: eles separaram, em
compartimentos herméticos, de um lado, a teoria
geral dos preços e do mercado, e de outro, a
teoria dos ciclos econômicos, de modo que ambas
as teorias nunca se encontram e nem muito
menos se integram uma à outra. Mas os
economistas se esqueceram, infelizmente, de que
só existe uma economia e, consequentemente,
uma única teoria econômica integrada. Nem a
vida econômica, nem a estrutura da teoria podem
ou devem estar em compartimentos herméticos;
nosso conhecimento da economia é um todo
integrado; caso contrário, ele não é nada.
Ainda assim, muitos economistas estão
contentes em aplicar teorias totalmente
separadas - e, na realidade, mutuamente
excludentes - para a análise geral dos preços e dos
ciclos econômicos. Eles não podem ser cientistas
econômicos genuínos se se satisfazem em
continuar operando deste modo primitivo.
Mas há problemas ainda mais graves com
esta abordagem tão em voga. Por não se
importarem em conciliar a teoria dos ciclos
econômicos com a teoria geral dos preços, os
economistas também não enxergam um
problema particularmente crítico: o colapso
anormal da atividade empresarial nos períodos de
crise econômica e depressão. Na economia de
mercado, uma das funções vitais do empresário é
ser um "empreendedor", um homem que investe
em métodos produtivos, que compra
equipamentos e emprega mão-de-obra para
produzir algo que ele não sabe ao certo se irá lhe
trazer qualquer retorno.
Em resumo, a função empreendedorial é a
função de prever o futuro incerto. Antes de
embarcar em qualquer investimento, o
empreendedor deve estimar os custos presentes e
futuros, bem como a renda futura; e dessa forma
estimar se haverá, e quanto haverá, de lucro com
este investimento. Se ele previr bem e
significativamente melhor que seus concorrentes,
ele terá lucros com seu investimento. Quanto
melhor a sua previsão, maiores os lucros que ele
irá obter. Se, por outro lado, ele for um
prognosticador ruim e superestimar a demanda
pelo seu produto, ele irá sofrer perdas e será
rapidamente forçado a sair de seu ramo.
A economia de mercado, portanto, é um
sistema de perdas e ganhos, no qual a perspicácia
e a habilidade dos empreendedores é medida
pelos lucros e prejuízos que acumulam. A
economia de mercado, além do mais, contém um
mecanismo intrínseco, um tipo de seleção natural
que assegura a sobrevivência e a prosperidade
dos melhores prognosticadores e,
consequentemente, a extinção dos piores. Pois
quanto maiores os lucros coletados pelos bons
prognosticadores, maiores serão suas
responsabilidades gerenciais, e mais recursos eles
terão disponíveis para investir no sistema
produtivo. Por outro lado, alguns anos de
prejuízos irão empurrar os maus
prognosticadores para fora do mercado,
colocando-os na categoria de empregados
assalariados.
Portanto, se a economia de mercado possui
um mecanismo intrínseco de seleção natural para
os bons empreendedores, isto significa que,
geralmente, não esperaríamos ver muitas
empresas tendo prejuízos. E, de fato, se
observarmos a economia em períodos normais,
iremos perceber que prejuízos não são a norma,
pois não são algo difuso; no máximo, apenas um
ou outro setor passa por dificuldades. Sendo
assim, o fato excêntrico que precisa de uma
explicação é: como é possível que,
recorrentemente, nos períodos em que se inicia
uma recessão e, especialmente, em depressões
agudas, o mundo empresarial repentinamente
passe a vivenciar um aglomerado de prejuízos
severos? Chega um momento em que as
empresas, antes muito astutas em suas
capacidades empresariais de fazer lucros e evitar
prejuízos, repentina e espantosamente se veem,
quase todas elas, sofrendo prejuízos severos e
incalculáveis. Como pode? Eis aí um fato
significativo que toda teoria sobre depressões tem
de explicar. Explicações do tipo "problemas de
subconsumo" - uma queda nos gastos totais dos
consumidores - não são suficientes, pois o que
precisa ser explicado é por que os
empreendedores, até então capazes de prever
todos os tipos de mudanças e ocorrências
econômicas, repentinamente descobrem, de
forma catastrófica, que foram incapazes de prever
essa suposta queda na demanda dos
consumidores. Qual o motivo dessa repentina
incompetência em prognosticar o futuro?
Uma teoria adequada sobre depressões
deve, portanto, explicar essa tendência que a
economia tem de incorrer em expansões e
contrações sucessivas, sem demonstrar indícios
de que vá se mover suave e progressivamente até
alcançar uma situação de equilíbrio. Em
particular, uma teoria sobre depressões deve
levar em conta o imenso conjunto de erros que
surge rápida e repentinamente em momentos de
crise econômica, e persiste por todo o período da
depressão até o início da recuperação.
E há um terceiro fato universal que uma
teoria dos ciclos deve explicar. Invariavelmente,
as expansões e contrações são muito mais severas
e intensas nas "indústrias de bens de capital" -
indústrias que constroem máquinas e
equipamentos, produzem matérias primas
industriais e/ou constroem plantas industriais -
do que nas indústrias que fazem bens de
consumo. Eis aqui outro fato dos ciclos
econômicos que tem de ser explicado - e que
obviamente não pode ser explicado por teorias
populares que pregam a doutrina do
subconsumo: que os consumidores não estão
gastando o bastante em bens de consumo. Pois
se o gasto insuficiente é o culpado, como explicar
então que as vendas no varejo são as últimas a
serem afetadas pela crise? E por que o setor
varejista é também o que menos sofre? E, por
último, por que a depressão é muito mais severa
com as indústrias de máquinas, ferramentas,
equipamentos, construção civil e matérias
primas? Inversamente, são estas mesmas
indústrias que decolam durante a fase da
expansão inflacionária dos ciclos econômicos, e
não aquelas empresas que estão servindo
diretamente os consumidores. Uma teoria
adequada sobre os ciclos econômicos deve,
portanto, explicar o porquê dessa intensidade
muito maior da expansão e contração nas
indústrias de bens de capital.
Felizmente, uma teoria correta sobre
depressões e ciclos econômicos de fato existe,
ainda que ela seja universalmente negligenciada
pelas teorias econômicas atuais. Ela também
possui uma longa tradição no pensamento
econômico. Esta teoria começou no século XVIII
com o filósofo e economista escocês David
Hume, e com o eminente economista clássico
inglês do início do século XIX, David Ricardo.
Essencialmente, estes teóricos viram que outra
instituição crucial havia se desenvolvido em
meados do século XVIII, junto com o sistema
industrial. Trata-se do sistema bancário, com a
sua capacidade de expandir o crédito e a oferta
monetária (primeiro na forma de papel-moeda,
ou cédulas, e depois na forma de depósitos em
conta corrente, que são redimíveis em dinheiro
nos bancos). Esses economistas notaram que é
exatamente na maneira como operam esses
bancos comerciais que está a explicação para os
recorrentes e misteriosos ciclos de expansão e
contração, a formação de bolhas e seus
subseqüentes estouros, que tanto intrigam os
observadores desde meados do século XVIII.
A análise ricardiana dos ciclos econômicos
foi feita da seguinte maneira: o dinheiro surgiu
naturalmente no livre mercado mundial na forma
de commodities úteis, geralmente prata e ouro.
Se o dinheiro fosse confinado apenas a essas
commodities, a economia iria funcionar no
agregado assim como funciona em mercados
específicos: haveria um ajuste suave entre oferta e
demanda, fazendo portanto com que não
houvesse ciclos econômicos de expansão e
contração. Mas a injeção de crédito bancário
adiciona um elemento crucial e disruptivo.
Quando os bancos expandem o crédito, isso
significa que eles estão expandindo a oferta
monetária na forma de depósitos que
teoricamente são redimíveis em espécie, mas que
na prática não são. Por exemplo, na época em
que o ouro era dinheiro, se um banco
possuísse 1000 onças de ouro em seus cofres, e
emitisse instantaneamente vários recibos de
depósito no valor total de 2500 onças de ouro,
estaria claro que o banco emitiu 1500 onças além
do que poderia redimir sob demanda.
Mas enquanto não houver uma "corrida" aos
bancos em que todos convertem em dinheiro
seus recibos de depósito, estes continuarão
funcionando no mercado como o equivalente ao
ouro. Assim, o banco foi capaz de expandir a
oferta monetária do país em 1500 onças.
Os bancos, então, começam a expandir
alegremente o crédito, pois quanto mais eles o
expandem, maiores serão seus lucros. Isto resulta
na expansão da oferta monetária dentro de um
país. Pensemos, por exemplo, na Inglaterra.
Quando a oferta de dinheiro na Inglaterra
aumenta, a renda e os gastos dos ingleses
aumentam, e esse aumento da quantidade de
dinheiro provoca uma elevação nos preços dos
bens. O resultado é a inflação de preços e uma
expansão econômica dentro país. Mas esta
expansão econômica inflacionária, enquanto ela
prossegue seu alegre caminho, planta as
sementes de sua própria morte. Pois quando a
oferta monetária e a renda aumentam, os ingleses
passam a comprar mais bens do exterior. Da
mesma forma, enquanto os preços na Inglaterra
aumentam, seus produtos perdem
competitividade em relação aos produtos de
outros países que não inflacionaram sua oferta
monetária, ou que pelo menos a inflacionaram
em uma escala menor. Os ingleses começam a
comprar menos produtos de suas indústrias
nacionais para comprar mais bens importados, ao
passo que os estrangeiros começam a comprar
menos da Inglaterra e mais em seus próprios
países; o resultado é um déficit no balanço de
pagamentos da Inglaterra, com as exportações
caindo drasticamente em relação às importações.
Mas se as importações excedem as exportações,
isto significa que o dinheiro saiu da Inglaterra
para outros países. E que dinheiro é esse?
Certamente, não são cédulas inglesas ou recibos
de depósitos, pois os franceses, os alemães ou os
italianos possuem pouco ou nenhum interesse
em manter seus fundos guardados em bancos
ingleses.
Estes estrangeiros irão, portanto, levar seus
recibos de depósito aos bancos ingleses para que
estes possam redimi-los em ouro - e o ouro, nesse
cenário, seria o tipo de moeda que iria fluir
persistentemente para fora do país enquanto a
inflação inglesa perdurasse. Mas isto significa
que o crédito dos bancos ingleses irá se expandir,
cada vez mais, sobre uma pirâmide cuja base de
ouro está diminuindo nos cofres dos bancos
ingleses. Enquanto a expansão econômica
prosseguir, nosso banco hipotético continuará
aumentando sua emissão de recibos de depósitos,
digamos, de 2500 para 4000 onças de ouro,
enquanto suas reservas em ouro estariam
encolhendo para, digamos, 800 onças. À medida
que esse processo for se intensificando, os bancos
irão eventualmente se apavorar. Afinal, os
bancos têm de redimir suas obrigações em
dinheiro, e seu dinheiro está se esgotando
rapidamente ao mesmo tempo em que suas
obrigações vão se acumulando.
Consequentemente, chegará um momento em
que os bancos irão perder a tranquilidade,
encerrar sua expansão creditícia e, para evitar que
quebrem, quitar seus empréstimos pendentes.
Geralmente, este recuo é precipitado por corridas
bancárias desencadeadas pelo público temeroso
da falência dos bancos, uma vez que estes estão
em condições extremamente instáveis.
A contração bancária reverte o cenário
econômico; a contração e a depressão são as
consequências inevitáveis da expansão
inflacionária. Os bancos retraem seus
empréstimos e as empresas sofrem em
decorrência dessa pressão para o pagamento das
dívidas. O crédito se contrai e a queda na oferta
monetária, por sua vez, leva a uma queda
generalizada nos preços dos produtos e serviços
ingleses. Quando a oferta monetária e a renda
caírem, e os preços entrarem em colapso, os
produtos ingleses passarão a ficar mais atrativos
em relação aos produtos estrangeiros, e o balanço
de pagamentos passa a ficar positivo, com as
exportações excedendo as importações. À
medida que o ouro voltar a fluir para o país, e as
contas correntes dos bancos forem ganhando um
lastro crescente de reservas de ouro, as condições
dos bancos se tornarão mais sólidas.
Este é, portanto, o significado da fase de
depressão dos ciclos econômicos. Observe que
essa fase surge inevitavelmente da precedente
expansão econômica artificial. É a inflação
anterior que torna a depressão necessária.
Podemos ver, por exemplo, que a depressão é o
processo pelo qual a economia de mercado se
reajusta, livrando-se dos excessos e distorções
causados pela expansão inflacionária e
restabelecendo uma sólida condição econômica.
A depressão é a reação desagradável, porém
necessária, às distorções e excessos causados pela
expansão precedente.
Por que, então, um novo ciclo se reinicia?
Por que os ciclos econômicos tendem a ser
recorrentes e contínuos? Porque após os bancos
se recuperarem, e estarem em uma condição mais
sólida, eles irão inevitavelmente reiniciar sua
atividade natural: a expansão creditícia. Com
isso, a próxima expansão econômica terá início,
plantando as sementes da próxima e inevitável
recessão.
Mas se a atividade bancária é a causa dos
ciclos econômicos, e se os bancos são parte da
economia de mercado, não poderíamos dizer que
o livre mercado ainda é o responsável pelos ciclos
econômicos, nem que seja apenas o segmento
bancário desse livre mercado? A resposta é NÃO,
pois os bancos não seriam capazes de expandir o
crédito conjuntamente sem a intervenção e o
estímulo do governo. Se os bancos fossem
realmente um setor concorrencial, qualquer
expansão de crédito feita por um banco iria levar
a um acúmulo de seus débitos na conta de seus
bancos concorrentes, e estes iriam rapidamente
exigir a remição em dinheiro do banco que
fornece o crédito. (Pense em quando você
deposita um cheque do banco A na conta que
você tem no banco B. O banco B, caso fosse de
fato um concorrente do banco A, iria
imediatamente pedir a compensação deste
cheque ao banco A). Ou seja, os concorrentes
desse banco que está emitindo crédito iriam
exigir o pagamento da dívida em ouro ou
dinheiro, da mesma forma que os estrangeiros
fazem, exceto que o processo seria muito mais
rápido e iria inibir, logo na sua origem, qualquer
inflação incipiente. Sendo assim, torna-se claro
que os bancos só podem expandir o crédito
confortavelmente em uníssono quando existe um
Banco Central, que é essencialmente um banco
do governo, que goza um monopólio dado pelo
governo e que possui uma posição privilegiada
imposta pelo governo sobre todo o sistema
bancário. Somente quando um banco central é
instituído é que os demais bancos se tornam
aptos a expandir o crédito indefinidamente. E foi
somente após a existência de bancos centrais que
as economias se tornaram familiarizadas com
fenômeno dos ciclos econômicos.
O banco central adquire controle sobre
todo o sistema bancário por medidas
governamentais do tipo: fazer com que sua
moeda seja de curso forçado, de modo que ela
seja forçosamente aceita no pagamento de todas
as dívidas, bem como na coleta de impostos;
garantir ao banco central o monopólio da
emissão de cédulas; ou obrigando os bancos a
utilizar o banco central como o depositário de
suas reservas em dinheiro (os compulsórios).
Não que os bancos reclamem dessa intervenção;
pois é justamente o estabelecimento de um banco
central que torna possível a expansão creditícia
de longo prazo dos bancos, já que a emissão de
cédulas do banco central (que são depositadas
nas contas que os bancos têm junto ao banco
central, os depósitos compulsórios) fornece
reservas extras para todo o sistema bancário, o
que permite que todos os bancos comerciais
expandam o crédito conjuntamente. A função
prática de um banco central é cartelizar
confortavelmente todo o sistema bancário,
permitindo aos bancos expandirem
conjuntamente o crédito; e os bancos desta forma
dispõem de uma base maior de dinheiro sobre a
qual expandir.
Agora sim conseguimos ver, finalmente, que
o ciclo econômico é causado não por alguma
falha misteriosa da economia de livre mercado,
mas justamente o contrário: pelas sistemáticas
intervenções governamentais no processo de
mercado. A intervenção governamental provoca
a expansão creditícia e a inflação, e, quando essa
inflação é interrompida, o subsequente ajuste
recessivo entra em cena.
A teoria ricardiana dos ciclos econômicos
entendeu as duas coisas essenciais para uma
teoria correta sobre os ciclos: a natureza
recorrente dos ciclos e a depressão como um
ajuste necessário à intervenção no mercado, e
não como um produto natural deste. Porém, dois
problemas ainda continuavam sem explicação:
por que os repentinos erros conjuntos - isto é, o
repentino insucesso da atividade empresarial - e
por que as flutuações no setor de bens de capital
eram muito maiores do que nos setores de bens
de consumo? A teoria ricardiana explicava
apenas movimentos no nível dos preços, na
economia em geral; não havia nem resquício de
explicação para as reações amplamente distintas
entre as indústrias de bens de capital e de bens de
consumo.
A mais desenvolvida e correta teoria sobre
ciclos econômicos foi finalmente elaborada pelo
economista austríaco Ludwig von Mises, quando
ele era professor na Universidade de Viena.
Mises desenvolveu sua solução para o problema
vital dos ciclos econômicos em sua monumental
obra Theory of Money and Credit, publicada em
1912 e, até hoje, o melhor livro sobre a teoria do
dinheiro e do sistema bancário. Mises
desenvolveu sua teoria dos ciclos durante os anos
1920, e ela foi levada para os países anglófonos
pelo seu principal seguidor, Friedrich A. von
Hayek, que deixou Viena para lecionar na
London School of Economics no início dos anos
1930, e que publicou, em alemão e inglês, dois
livros que aplicavam e desenvolviam a teoria dos
ciclos de Mises: Monetary Theory and the Trade
Cycle e Prices and Production. Como Mises e
Hayek eram austríacos, e estavam em linha com a
tradição dos grandes economistas austríacos do
século XIX, essa teoria se tornou conhecida na
literatura econômica como a Teoria "Austríaca"
dos Ciclos Econômicos.
Elaborando a partir dos ricardianos, da
teoria geral austríaca, e do seu próprio gênio
criativo, Mises desenvolveu a seguinte teoria dos
ciclos econômicos:
Sem a expansão de crédito bancário, oferta
e demanda tendem a se equilibrar através do
sistema de preços livres, e não haveria como
ocorrer expansões econômicas repentinas
seguidas de recessões agudas. Mas então o
governo, através do seu banco central, estimula a
expansão do crédito bancário comprando ativos
em posse dos bancos (por exemplo, títulos da
dívida), o que aumenta as reservas dos bancos
comerciais (entenda esse processo aqui). Os
bancos consequentemente irão expandir o
crédito, aumentando a oferta monetária do país
na forma de um aumento nos depósitos sacáveis
por meio de cheques. Como os ricardianos
perceberam, essa expansão da oferta monetária
aumenta os preços dos bens e serviços. Porém,
como Mises mostrou, esse mecanismo gera algo
ainda mais sinistro. A expansão do crédito
bancário, ao ser despejada no mercado de
crédito, derruba artificialmente a taxa de juros da
economia para baixo do seu nível de livre
mercado.
Em um mercado livre e desimpedido, a taxa
de juros é determinada puramente pelas
"preferências temporais" de todos os indivíduos
que compõem a economia de mercado. A
essência de um contrato de empréstimo é que um
"bem presente" (dinheiro que pode ser usado no
momento) está sendo trocado por um "bem
futuro" (um título de dívida que só poderá ser
utilizado em um dado momento futuro). Como
as pessoas sempre preferem ter o dinheiro agora
ao invés da perspectiva de receber a mesma
quantia em algum momento futuro, o bem
presente sempre exige um prêmio no mercado
em relação ao bem futuro. Este prêmio é a taxa
de juros, e seu valor irá variar de acordo com o
grau em que as pessoas preferem o presente em
relação ao futuro, ou seja, o grau de suas
preferências temporais.
As preferências temporais também
determinam o quanto as pessoas irão poupar e
investir em relação ao quanto elas irão consumir.
Se as preferências temporais das pessoas caírem -
isto é, se o nível de preferência pelo presente em
relação ao futuro cair - então as pessoas tenderão
a consumir menos e poupar e investir mais (elas
ficam mais orientadas para o futuro); ao mesmo
tempo, e pela mesma razão, a taxa de juros, que é
a taxa do desconto temporal, também irá cair. O
crescimento econômico irá ocorrer em grande
parte como resultado da queda nas taxas de
preferência temporal, o que irá levar ao aumento
na proporção de poupança e investimento em
relação ao consumo, bem como a uma queda na
taxa de juros.
Mas o que acontece quando as taxas de
juros caem, não por causa de uma diminuição das
preferências temporais e de um aumento da
poupança, mas por causa de uma interferência
governamental que promove a expansão do
crédito bancário? Em outras palavras, o que
acontece se a taxa de juros cair artificialmente,
devido à intervenção governamental (ao invés
cair naturalmente, como resultado de mudanças
nas valorações e preferências do público
consumidor?)
O que acontece é uma enorme encrenca.
Os empresários, percebendo a queda na taxa de
juros, reagem exatamente como deveriam agir
diante de tais sinais do mercado: investem mais
em bens de capital. Investimentos,
particularmente em projetos longos e demorados,
que antes pareciam financeiramente inviáveis,
agora parecem lucrativos por causa da queda dos
juros cobrados. Ou seja, os empresários reagem
como reagiriam se a poupança tivesse
aumentado genuinamente: eles expandem seus
investimentos em equipamentos duráveis, em
bens de capital, em matérias primas industriais e
em construção civil, em detrimento da produção
direta de bens de consumo.
As empresas, portanto, irão alegremente
tomar emprestado esse dinheiro recém-criado
pelo sistema bancário a taxas mais baixas; elas
utilizarão esse dinheiro para investir em bens de
capital e, eventualmente, para pagar os agora
mais caros alugueis de terras e equipamentos,
bem como salários mais altos aos trabalhadores
das indústrias de bens de capital. O aumento na
demanda pressiona os custos trabalhistas, mas as
empresas acreditam que podem pagar estes altos
custos porque foram enganadas pela intervenção
do governo e dos bancos no mercado de crédito,
com a consequente adulteração (para baixo) das
taxas de juros do mercado, que são o mais
importante sinal de preços de uma economia.
O problema começa assim que os
trabalhadores e arrendatários - principalmente os
primeiros, já que a maior parte da renda das
empresas é gasta com salários - começam a gastar
esse novo dinheiro que foi posto em circulação e
que eles receberam na forma de salários mais
altos. Como as preferências temporais das
pessoas não diminuíram (o que houve foi apenas
adulteração artificial dos juros), o público não
poupou mais do que já vinha poupando. Assim,
os trabalhadores começarão a gastar a maior
parte da sua nova renda, em parte para
restabelecer a antiga proporção entre consumo e
poupança. Isto significa que eles irão
redirecionar os gastos novamente para as
indústrias de bens de consumo, sendo que eles
não poupam e investem o suficiente para
comprar as máquinas recém-produzidas, os
equipamentos, as matérias primas industriais,
etc. Isto irá gerar uma depressão repentina,
aguda e contínua nas indústrias de bens de
capital.
Tão logo os consumidores restabelecem
suas proporções desejáveis entre consumo e
poupança, torna-se claro que as empresas
investiram excessivamente em bens de capital e
insuficientemente em bens de consumo. As
empresas foram seduzidas pela adulteração e
diminuição artificial das taxas de juros feita pelo
governo, e atuaram como se houvesse mais
popança disponível do que realmente havia. À
medida que esse novo dinheiro vai perpassando a
economia e os consumidores vão restabelecendo
suas antigas proporções entre consumo e
poupança, torna-se claro que não havia poupança
suficiente para comprar todos os bens de capital,
e que as empresas investiram erroneamente toda
a limitada poupança disponível. As empresas
"sobreinvestiram" (investiram em excesso) em
bens de capital e "subinvestiram" (investiram
pouco) em bens de consumo.
Dessa forma, a expansão inflacionária leva a
distorções no sistema de preços e na produção.
Durante todo o período expansionista, os preços
da mão-de-obra e das matérias primas nas
indústrias de bens de capital foram pressionados
a um nível tão alto que, após os consumidores
reafirmarem suas antigas preferências entre
consumo e poupança, esses preços se tornam
incapazes de prover lucro. A "depressão" torna-
se então a fase dolorosa, porém saudável e
necessária, em que a economia de mercado
descarta e liquida os investimentos insolventes
realizados durante a expansão inflacionária, e
restabelece a proporção entre consumo e
poupança genuinamente desejada pelos
consumidores. Como os preços dos fatores de
produção foram estimulados excessivamente
durante a expansão inflacionária, isso significa
que os preços dos bens e da mão-de-obra nessas
indústrias de bens de capital terão de cair até que
as corretas proporções de mercado sejam
retomadas.
Dado que os trabalhadores recebem
rapidamente, na forma de salários mais altos, esse
dinheiro recém injetado na economia, por que
então essas expansões econômicas artificiais
podem durar anos sem que seus investimentos
dispendiosos e insolventes sejam revelados? Por
que todos esses erros empresariais oriundos da
adulteração dos sinais de mercado demoram a se
tornar evidentes? A resposta é que o crescimento
econômico teria uma duração muito curta se a
expansão creditícia bancária e a subsequente
redução das taxas de juros para níveis abaixo dos
de mercado acontecessem de uma só vez.
Mas a realidade é que a expansão do
crédito não acontece de uma só vez; ela se dá
continuamente, nunca permitindo que os
consumidores tenham a chance de restabelecer
suas preferências entre consumo e poupança,
nunca permitindo que o aumento dos custos nas
indústrias de bens de capital alcance o aumento
dos preços. Como um cavalo continuamente
dopado, a expansão econômica artificial é
mantida sempre à frente de seu inexorável
desfecho por meio de doses repetidas de seu
estimulante: o crédito bancário. Somente
quando a expansão creditícia bancária chegar ao
seu fim - seja porque os bancos estão entrando
em condições instáveis, ou porque o público
começa a rejeitar a inflação contínua - é que as
conseqüências inevitáveis começarão a se fazer
sentir. Tão logo a expansão creditícia termine, as
despesas terão de ser pagas, e os inevitáveis
reajustes irão liquidar os sobreinvestimentos
insolventes realizados durante a expansão. Isso
fará com que seja restabelecida uma maior ênfase
na produção de bens de consumo.
Desta forma, a teoria dos ciclos econômicos
de Mises explica todos os enigmas: a natureza
recorrente do ciclo, o maciço conjunto de erros
empresariais, a maior intensidade com que a
expansão e a depressão se manifestam sobre
sentida as indústrias de bens de capital.
Mises identifica, com grande precisão, que a
causadora dos ciclos é a expansão creditícia
bancária induzida pela intervenção do governo e
de seu banco central. Assim sendo, segundo
Mises, o que o governo deveria fazer, por
exemplo, quando a depressão se instala? Qual o
papel do governo na cura de uma depressão? Em
primeiro lugar, o governo deve parar a inflação
monetária o mais rápido possível. É verdade que
isso irá, inevitavelmente, interromper de forma
abrupta a expansão econômica artificial, dando
início a uma inevitável recessão ou depressão.
Porém, quanto mais tempo o governo esperar
para fazer isso, piores serão os reajustes
necessários. Quanto mais rápido o reajuste
recessivo vier, mais rápido irá terminar. Isto
significa, também, que o governo jamais deve
tentar estimular empresas insolventes; ele jamais
deve socorrer financeiramente ou mesmo dar
empréstimos a empresas que estejam com
problemas. Fazer isso simplesmente irá
prolongar a agonia e transformar uma profunda,
porém rápida depressão, em uma duradoura e
crônica doença.
Da mesma forma, o governo jamais deve
tentar estimular salários ou preços dos bens de
capital; fazer isso irá apenas prolongar e atrasar
indefinidamente a conclusão do processo de
ajuste; a intervenção do governo irá dar sobrevida
à depressão e causará desemprego em massa
naquelas indústrias de bens de capital que são as
mais vitais. O governo também não deve tentar
inflacionar novamente para sair da depressão,
pois, mesmo se essa reflação fosse bem sucedida,
isso iria apenas causar problemas posteriores. O
governo não deve tentar estimular o consumo,
tampouco deve aumentar seus próprios gastos,
pois isso iria aumentar a proporção
consumo/poupança da sociedade. Com efeito,
cortar o orçamento do governo iria melhorar essa
proporção (diminuindo o consumo e
aumentando a poupança). Em uma depressão, a
economia precisa de mais poupança - e não de
mais gastos com consumo - para que possa
validar alguns dos investimentos errôneos que
foram efetuados durante a fase de expansão da
economia.
Assim, de acordo com a análise misesiana, o
que o governo deveria fazer durante uma
depressão? Absolutamente nada. Do ponto de
vista da saúde econômica, e considerando-se que
a intenção seja acabar com a depressão o mais
rápido possível, o governo deveria seguir uma
política estritamente laissez-faire, sem qualquer
intervenção. Qualquer coisa que o governo faça
irá obstruir e atrasar o processo de ajuste do
mercado; quanto menos ele fizer, mais
rapidamente o processo de ajuste de mercado
fará seu trabalho, e uma sólida e sustentável
recuperação econômica será a conseqüência.
A prescrição misesiana é, portanto, o oposto
exato da keynesiana: ela determina que o governo
se mantenha totalmente afastado da economia e
se limite apenas a parar sua inflação monetária e
a cortar seus gastos.
Parece que já foi completamente esquecido,
mesmo entre os economistas, que a explicação
misesiana sobre depressões obteve grande
progresso precisamente durante a Grande
Depressão dos anos 1930 - a mesma depressão
que sempre é apresentada aos defensores do livre
mercado como sendo o exemplo da maior e mais
catastrófica falha do capitalismo laissez-faire.
Acontece que a verdade é o oposto disso. 1929
foi o produto inevitável da vasta expansão do
crédito bancário ocorrida no mundo ocidental
durante os anos 1920: uma política
deliberadamente adotada pelos governos
ocidentais e principalmente pelo Federal Reserve
System (o banco central americano). O crash de
1929 só foi possível graças ao fato de os países do
mundo ocidental não terem retornado a um
genuíno padrão ouro após a Primeira Guerra
Mundial, o que permitiu que os governos
adotassem políticas inflacionistas. Hoje, todo
mundo acredita que o presidente Coolidge era
um defensor ardoroso do laissez-faire e da
economia desregulamentada. Ele não era. E
muito menos acreditava em um livre mercado na
área de moeda e crédito. Esse foi o fato trágico.
Infelizmente, os pecados e erros das intervenções
de Coolidge foram classificados como sendo
políticas de livre mercado.
Se Coolidge fez com que o crash de 1929
fosse algo inevitável, foi o presidente Hoover
quem prolongou e aprofundou a depressão,
fazendo com que uma depressão que tinha tudo
para ser efêmera - embora aguda - se
transformasse em uma enfermidade permanente
e quase fatal, uma enfermidade que só foi
"curada" pelo holocausto da Segunda Guerra
Mundial. Foi Hoover, e não Roosevelt, o
fundador da política do "New Deal":
essencialmente, o uso maciço do estado para
fazer exatamente aquilo que a teoria de Mises
mais alertava contra - aumentar os salários acima
do seu nível de mercado, elevar os preços, inflar o
crédito, e emprestar dinheiro para manter
atividades insolventes. Roosevelt apenas
aprofundou aquilo que Hoover começou. O
resultado, pela primeira vez na história
americana, foi uma depressão quase perpétua e
um quase permanente desemprego em massa.
A crise iniciada sob Coolidge se transformou em
uma depressão sem precedentes sob Hoover e
Roosevelt.
Ludwig von Mises havia previsto a
depressão durante o apogeu da expansão
creditícia dos anos 1920 - uma era, assim como
hoje, em que os economistas e políticos, armados
com a "nova economia" - e sua contínua inflação
monetária - e com novas "ferramentas" fornecidas
pelo FED, proclamaram uma Nova Era de
permanente prosperidade garantida pelos
doutores econômicos do governo. Ludwig von
Mises, sozinho, armado apenas com uma teoria
correta dos ciclos econômicos, foi um dos poucos
economistas a prever a Grande Depressão.
Consequentemente, o mundo econômico foi
forçado a ouvi-lo com respeito. F.A. Hayek
difundiu os ensinamentos na Inglaterra, e todos
os jovens economistas ingleses, no início dos
anos 1930, estavam começando a adotar a teoria
misesiana dos ciclos econômicos para suas
análises sobre a depressão - e a adotar também,
obviamente, as receitas estritamente de livre
mercado que iam junto com essa teoria.
Infelizmente, os economistas de hoje
adotaram a noção histórica deturpada em favor
de Lord Keynes: que nenhum "economista
clássico" havia elaborado uma teoria sobre os
ciclos econômicos antes que Keynes surgisse em
1936. Havia, sim, uma teoria sobre depressões, e
esta era a tradicional economia clássica; sua
prescrição era estritamente uma moeda forte e
o laissez-faire; e ela estava sendo adotada
rapidamente na Inglaterra e até nos Estados
Unidos, como sendo a teoria correta sobre os
ciclos econômicos. (Uma ironia particular é que o
maior propagador da teoria austríaca nos Estados
Unidos foi o professor Alvin Hansen, que logo
depois se tornou um famoso discípulo do
keynesianismo).
O que sufocou a crescente aceitação da
teoria dos ciclos misesiana foi simplesmente a
"Revolução keynesiana" - a surpreendente
influência que a teoria de Keynes alcançou no
mundo econômico logo após a publicação da
sua Teoria Geral em 1936. Não que a teoria de
Mises tenha sido refutada; ela simplesmente
foi esquecida no afã de se embarcar no
repentinamente badalado carro alegórico
keynesiano. Alguns dos principais partidários da
teoria de Mises - que claramente entendiam
melhor a situação - também sucumbiram à
doutrina e à sua retórica oca, garantindo para si
cargos importantes nas principais universidades
americanas, como conseqüência.
Mas agora até mesmo a londrina The
Economist, que já foi nada menos que a arquiteta
do keynesianismo, recentemente proclamou que
"Keynes está Morto". Após mais de uma década
de críticas incisivas e fatos econômicos que
teimosamente refutavam a teoria, os keynesianos
bateram em retirada. Novamente, está-se
reconhecendo que a oferta monetária e o crédito
bancário têm um papel decisivo nos ciclos
econômicos. O momento é propício para uma
redescoberta, para uma renascença, da teoria dos
ciclos econômicos de Mises. Ela pode até não
chegar em breve. Porém, no dia em que ela for
aceita, a própria idéia de se ter um Ministério do
Planejamento Econômico será abolida às
gargalhadas, e veríamos o governo se retirando
em massa - ou aos pontapés - da esfera
econômica. Mas para que tudo isso aconteça, o
mundo da economia, assim como o público em
geral, precisa estar ciente de que há uma
explicação sobre ciclos econômicos que foi
relegada às prateleiras por muitos e trágicos anos.

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