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CURSO DE PSICOLOGIA
Ijuí – RS
2012
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Ijuí – RS
2012
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Comissão Examinadora:
__________________________________________
Flávia Flach – Professora Orientadora
___________________________________________________
Elisiane Felzke Schonardie – Professora Convidada
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
This final thesis deals with the themes of adolescence marked by vulnerability and social
exclusion. We are dedicated to research, initially, two concepts: vulnerability and social
exclusion. To do so, we’ll use the theoretical foundation of the Social Sciences and Social
Psychology. In a second step, we’ll discuss the definition of adolescence from the theoretical
psychoanalysis, going through such elements as: the identification process, body changes,
groups belonging and relationship with the father figure while law. From this, will link the
possible causes and consequences of vulnerability and social exclusion during adolescence,
highlighting, among them, violence, misdemeanors, drug addiction and prostitution.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 7
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 31
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INTRODUÇÃO
Por fim, o terceiro capítulo será dedicado a pensar sobre as possíveis causas e
consequências da vulnerabilidade e da exclusão social na adolescência, considerando que,
entre elas, podemos destacar a violência, o ato infracional, a drogadição e a prostituição.
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1.1 VULNERABILIDADE
Segundo Ayres (1999), a vulnerabilidade social é um conceito que tem sua origem na
área dos Direitos Humanos referindo-se a indivíduos ou grupos fragilizados, jurídica ou
politicamente, na promoção, proteção ou garantia de seu direito à cidadania.
O termo vulnerabilidade difundiu-se na década de 80 no campo da saúde pública
para tratar a epidemia da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), doença do sistema
imunológico humano causada pelo vírus da imunodeficiência humana HIV, que foi atingindo
vários grupos de maneiras diversas e em diferentes países. Segundo Adorno (2001), este
termo desencadeou movimentos sociais que contribuíram para pensar a relação entre o vírus
da Aids e a realidade socioeconômica, buscando explicar quais grupos sociais e indivíduos
poderiam ser mais ou menos vulneráveis ao desenvolvimento desta epidemia. Sendo assim,
nesse contexto os movimentos que surgiram ocorreram em prol de quais seriam as diferentes
situações de vulnerabilidade em que se encontravam esses indivíduos.
É importante abordarmos essa perspectiva histórica, pois nos leva às questões que
hoje procedem dessa articulação, principalmente no que diz respeito a organizações de grupos
vulneráveis e/ou de risco. Os termos grupos de risco e populações de risco passaram, então, a
ser designados pela expressão vulneráveis. A partir da década de 80 o conceito passa a ser
amplamente usado em outras perspectivas sociais, mais especificamente quando se tratava de
jovens/adolescentes em conflito com a lei ou envoltos em situações de violência.
Conforme Adorno (2001), o termo vulnerabilidade é direcionado à exclusão
econômica e social. Neste caso considera-se que um indivíduo ou grupo torna-se vulnerável
quando ocorre uma situação que o leva a quebrar seus vínculos sociais com o trabalho, família
ou círculo de relações. Tratando-se do trabalho enquanto condição de emprego, sujeitos
encontram-se vulneráveis por não possuírem condições favoráveis para se integrar ao
mercado de trabalho, como escolaridade e qualificação profissional.
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1
Segregação é o ato de separar ou isolar contato, de algo ou alguém. A segregação pode acontecer entre raças,
em um sentido urbano, na sociedade, e essas separações podem ocorrer por diversos motivos, como riqueza,
educação, religião, nacionalidade, etc. (Dicionário On-line de Português).
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Estigmatizar é definir o estigma social como uma marca física ou social de conotação negativa ou que leva o
portador dessa “marca” a ser marginalizado ou excluído de algumas situações sociais, apresentando forte
impacto no valor atribuído a uma determinada identidade social (Ronzani, 2006).
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Um sujeito excluído é aquele que não consegue traçar uma identidade (social) no
trabalho, na família ou na comunidade, tornando-se excluído das relações sociais e do mundo
das representações a elas associadas.
A partir do estudo desses conceitos, faz-se necessário, nesse momento,
aprofundarmos um terceiro elemento importante para esta pesquisa, que é o processo da
adolescência.
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CAPÍTULO 2 ADOLESCÊNCIA
FREUD, 1995, p. 64). Com bases nos escritos de Freud (1905), a adolescência está
relacionada ao “reencontro com o objeto”3, uma vez que é na adolescência que ocorre o
amadurecimento das zonas erógenas genitais, o que é considerado por autor o ápice do
processo de desenvolvimento psicossexual. Textos posteriores escritos mostram que o
reencontro com o objeto na adolescência consiste em um retorno das fantasias edípicas e a
busca de novos caminhos para a pulsão4 (COUTINHO, 2004).
Para Macedo (2004), é comum que a adolescência seja impulsionada pela puberdade,
no entanto isso não é regra. Para Corso (2002), a puberdade compreende a recapitulação,
reedição do Complexo de Édipo, quando o período anterior, o de latência,5 constitui-se de
uma grande economia de sofrimentos e conflitos, possibilitando o início da relação ao mundo
extrafamiliar.
Segundo Lacan (1998),6 o Complexo de Édipo é uma das principais crises
subjetivantes para a constituição psíquica do sujeito. Assim, a operação de alienação – o
Estádio do Espelho,7 que antecede o Édipo – é o primeiro tempo (necessário) que permite a
possibilidade de haver transmissão simbólica e, portanto, o advento do sujeito. O sujeito,
porém, de fato, só se constituirá como tal saindo da alienação quando se der o segundo tempo
(lógico) do processo de constituição, nomeado pelo autor de operação de separação. Trata-se
da entrada do pai, enquanto simbólico, que permite a ruptura da alienação da criança ao
Desejo8 do Outro.9 A criança é então desalojada do lugar de falo imaginário do Outro
materno, percebendo que essa mãe não lhe pertence completamente, posto que seu desejo
orienta-se para além da criança, para o pai. Instaura-se assim um vazio, uma falta. A partir
dessa falta, a criança advém como sujeito do desejo. Surge, então, a necessidade de inventar,
de desejar (fantasia). Assim, o sujeito só aparece quando essa falta dá lugar ao desejo, que é a
marca de que a operação de separação aconteceu.
3
O reencontro com o objeto inclui um confronto com a diferença sexual e o encontro com um parceiro amoroso.
4
A pulsão refere-se a um estado de tensão que busca, por intermédio de um objeto, a supressão deste estado.
Freud (1916) define pulsão como um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como o
representante psíquico dos estímulos que se originam no corpo.
5
O período de latência, segundo Freud (1905), compreende um intervalo no desenvolvimento da sexualidade
infantil dos 5 aos 10 anos.
6
Seminário 4 – As Relações de Objeto.
7
Expressão criada por Jacques Lacan, em 1936, para designar um momento psíquico da evolução humana,
situado entre os 6 e os 18 meses, durante o qual a criança antecipa o domínio sobre a sua unidade corporal por
meio de uma identificação com a imagem do semelhante e da percepção da sua própria imagem num espelho
(Lacan, 1936).
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Desejo: falta inscrita na palavra e efeito do significante sobre o ser falante, e que, por conseguinte, é sempre o
desejo do outro.
9
Outro: a Psicanálise situa como sendo o lugar que determina a alteridade para o sujeito, e inicialmente é a mãe
quem faz o papel de “grande Outro” para a criança. Mais tarde, substitutos imaginários surgem.
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Identificação: processo psicológico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do
outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo desse outro (LAPLANCHE; PONTALIS, 2004,
p. 226).
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É necessário, então, restituir, neste momento, uma imagem para se identificar, pois
os pais são destituídos da posição imaginária de idealização, deixando esse lugar vazio e
necessário de ser preenchido dentro da comunidade, com os grupos. Na adolescência, a
identificação é a condição para o estabelecimento de um elo social.
Assim, Melman relata que:
[...] ocorre a criação de neo grupos, neo comunidades, de bandos onde se pode
cultivar uma identidade e uma similaridade perfeitas, graças aos traços de tipo
específico que particularizam cada um dos pertencentes desse bando, traços de
vestimenta, físicos ou de linguagem; bando onde cada um seria irmão do outro e
finalmente seria realizada essa sociedade que assegura, entre seus participantes, uma
igualdade perfeita (1995, p. 13).
Nestes grupos o adolescente encontra apoio, amparo; passa a adquirir símbolos, atos
e objetos que fazem com que sejam reconhecidos como membros deste grupo,
proporcionando um espaço entre “iguais”, quando indivíduos vivenciam o mesmo conflito.
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[...] mostram-se atentos à imagem que têm, não tratam a roupa e o corpo de uma
forma ingênua e desavisada. Têm consciência de que esta pode permitir o trânsito
pelos espaços que querem freqüentar, ou impedir a circulação. O jovem da
atualidade não absorve um estilo por tradição, mas faz uma escolha de estilos (p.
131).
[...] afirma que os estilos e looks que caracterizam os grupos adolescentes, suas
marcas identitárias (dark, punk, clubber, etc.), são rapidamente transformadas em
mercadorias e comercializadas. Há um interesse de marketing em definir e cristalizar
tais grupos em tribos de forma que cada grupo, e a adolescência em geral, se
transformam em uma espécie de franchising que pode ser proposta à idealização e ao
investimento de todo o mundo, em qualquer faixa etária (2000, p. 58).
[...] vêem um mercado onde tudo e todos tornaram-se objetos de consumo, inclusive
a própria vida disposta por todos para salvar o boné, o tênis, o celular e todas a
quinquilharias ofertadas como supostos objetos propiciadores nada mais nada menos
do que da felicidade (ANGELO, 2007, p. 35)
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Ordem simbólica que estrutura a realidade interna humana. O sujeito humano se constituiu a partir de sua
inserção em uma ordem simbólica preestabelecida (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001).
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Atualmente, pode-se pensar que o envolvimento dos jovens com a violência leva-os
às drogas, ao vandalismo e à delinquência. Isso se estabelece a partir de uma correlação direta
com o desenvolvimento dos afetos de desamparo e de um eu inconsistente, o eu que se
apresenta inconstante e vulnerável às influências pulsionais e externas. Estes estariam
associados a um processo social e psíquico, a um nível mais extenso presente nas sociedades
contemporâneas, referente a uma simbolização ineficiente e aos seus efeitos no campo das
identificações juvenis.
Segundo Mayer (2001), o tipo de recurso escolhido pelo adolescente para suprimir a
sua dor ou para atingir a sua satisfação dependerá do contexto, do momento e daquilo que, na
experiência individual, tenha mostrado maior eficácia.
Para Knobel (1981), os adolescentes buscam inserir-se nos grupos de amigos que têm
em comum alguma identificação, o que lhe dá o reconhecimento como sujeito. O grupo
apresenta-se ao adolescente como um reforço necessário para os aspectos mutáveis do ego
que se produzem neste período da vida. O adolescente identifica-se com determinado grupo
que se enquadra em sua condição e, a partir daí, passa a adotar suas regras. Segundo o autor, a
necessidade de intelectualizar e fantasiar do adolescente é consequência do que a realidade
impõe ao ter de renunciar ao corpo infantil, ao seu papel e aos pais da infância, que podem ser
considerados como mecanismos defensivos ante a estas situações de perda tão dolorosas.
De acordo com Rosa (2004), ao analisar o discurso sobre a violência juvenil na
contemporaneidade, percebe-se um investimento exagerado por parte da sociedade em relação
aos adolescentes, como se todos eles fossem violentos, transgressores e “drogados”. Segundo
a autora, na adolescência o espaço social serve como pilar para que novas operações se
processem, a fim de que as reedições das inscrições juvenis alcancem legitimidade e
autoridade ao sujeito. Neste contexto de passagem do cenário familiar para o cenário social,
os atos violentos são, muitas vezes, tentativas do jovem de se constituir, prescindindo do
Outro.
Rosa Junior (2006) assevera que:
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O ato delinquente, antes de tudo, é uma tentativa dentre tantas outras de reinventar o
espaço, de aprovar novas regras. Para o autor, o ato de roubar está para o sujeito como uma
forma de ordem simbólica, pois não seria o produto ou o objeto roubado o que lhe daria
satisfação, e sim o ato exercido. “Ele tem o valor de qualquer objeto parcial, que não
preenche a pulsão, mas a reedita” (RASSIAL, 1999, p. 61).
No mesmo sentido, Oliveira (2001) entende a passagem ao ato delinquente como um
atalho na busca de reconhecimento, efetuada em situações em que os recursos simbólicos
foram recusados. Assim, a autora defende que a associação para o crime e a participação em
gangues também se constituem como estratégias para obtenção de reconhecimento social,
ainda que pela negatividade. Sendo assim, imagina-se que a violência e a prática de atos
infracionais participam dos processos de identificação que acabam por constituir a identidade
do adolescente.
No contexto da violência e do ato infracional fica claro que os recursos simbólicos
falharam como inscrição psíquica. Quando a palavra não faz mais efeito o que resta é o ato, e
um discurso sem palavras.
Para além da violência e do ato infracional, podemos pensar a drogadição como uma
das possíveis consequências da vulnerabilidade, pois esta incide diretamente no ideal de
consumo e nos conflitos psíquicos da adolescência. Ela não deixa de ser uma espécie de
transgressão sobre o próprio corpo; em outras palavras, diz do ato de consumir e ser
consumido. Além da questão da fragilidade psíquica, é uma busca imperativa de consumo, de
alívio e uma resposta ao laço social.
[...] Não é sem frequência que se percebe que a droga, nas diversas faces em que se
mostra, cumpre uma importante função organizadora da subjetividade, permitindo
certa unicidade, certa estabilidade, sempre prestes a se dissolver. Assim, por
paradoxal que pareçam essas palavras a droga é capaz de apaziguar e dar descanso
(CRUZ, 2003, p. 28).
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[...] os adolescentes buscam, no mundo do crime, uma imagem de brilho que lhes foi
negada, um lugar de evidências que, de outro modo, parece não estar ao seu alcance.
Ficam encantados com a imagem do bandido que mora por ali, que também veio do
nada, mas já conquistou um lugar nas páginas policiais. Engancham o próprio corpo
nessa imagem que, supostamente, garante a possibilidade de ser alguém, ainda que
por um curto tempo e lhes custe a vida. Parece dizer que a existência não tem,
mesmo, muito valor (BASTOS, 2007, p. 74)
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Para Cruz (2003), a transgressão adolescente é um sintoma social diferente da perversão, pois questiona a lei,
mas não a desconhece.
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O impossível como valor de troca e ganho: o risco, a morte, o limite do corpo. A partir do impossível tem-se
um lugar de reconhecimento. Buscar no inapropriado, no desconhecido e no proibido um endereçamento que
lhes dê algum retorno, seja de uma Lei real, no cumprimento de medidas socioeducativas, perda de liberdade
(LA), ou internação para desintoxicação. E para, além disso, ser vítima de humilhação, mortificação,
autodestruição e até mesmo numa gravidez adolescente ou contaminação por doenças.
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Estes jovens desgraçados demonstraram, mesmo sem saber, que há uma criança
carente de lei, carente de vínculos, carente de ideais, carente de diálogo com a vida, ou seja,
carente de uma realidade que escreveria um compromisso de respeito com o próximo
(NAZAR, 2007, p. 45).
Concluindo, podemos afirmar que não existe subjetividade que se inscreva fora do
laço social, este que pressupõe valores e, como expressa Cruz (2003, p. 34), “laço que se
estabelece na medida que há uma partilha mínima de valores (moral) e cujas regras venham
basear-se na compreensão de um pacto”. A sociedade é responsável por seus excluídos e o
sujeito é responsável pelo seu sofrimento. Aqui, nesta pesquisa, não se trata de outra coisa
senão de sintomas sociais de uma sociedade banhada por valores capitalistas, de bens de
consumo, do corpo como um ideal de perfeição e da felicidade a qualquer preço. Não nos
estranha que as consequências da vulnerabilidade e a exclusão sejam, na verdade, uma espécie
de resposta ao sintoma contemporâneo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Freud, Sigmund (1916). Instinto e suas Vicissitudes. Edição Standard Brasileira das Obras
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KUPFER, Maria Cristina M.; BERNARDINO, Leda Mariza F. As relações entre construção
da imagem corporal, função paterna e hiperatividade: reflexões a partir da Pesquisa Irdi.
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2002.