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ISSN 2237-8758
adriane.silva@globo.com
Resumo:
Todo ser humano aprende. Charlot (2000), educador francês, nos diz que a
construção do saber se dá através de múltiplas relações. Trataremos aqui
Anais do SIELP. Volume 2, Número 1. Uberlândia: EDUFU, 2012. ISSN 2237-8758
apenas de três delas: relação do sujeito com o seu mundo interior; relação
do sujeito com o mundo social e relação do sujeito com o objeto de
conhecimento a ser aprendido, no caso deste trabalho, o texto poético.
Nessa relação com o saber, há também uma relação com o outro, com o
mundo social, que apresenta uma dimensão relacional. Esse outro é aquele
que problematiza suas questões, que o escuta, valoriza suas ideias, faz a
revisão do seu texto, que o avalia, etc. Portanto, faz-se necessário pensar
que essa relação com o saber, composta pelo EU e o OUTRO, é também
mediada pelo objeto de conhecimento a ser aprendido. Esse objeto de
conhecimento, aqui em questão, se refere à linguagem poética, sua leitura
e produção.
Ao se pensar no texto poético, é fato que, quando a escola não exerce seu
papel de mediadora, o campo da poesia pode se tornar pouco conhecido
para muitas crianças, pois observamos que, na vida em geral, pouco se lê
poemas para elas. Não se vê nem se ouve poemas na televisão, nem no
rádio, nem em vídeos. Portanto, a escola ainda ocupa, na nossa cultura,
um lugar fundamental no desenvolvimento do trabalho com poemas
Também Alves (2003) nos convida a refletir sobre o trabalho que ainda
hoje é realizado nas escolas com o apoio dos livros didáticos. Segundo o
autor, a escolha de poemas para os livros didáticos tem procurado critérios
ligados a exploração de aspectos gramaticais, de interpretação e propostas
de criação. Alvez explicita que o critério para a escolha dos poemas não
tem se preocupado com o valor estético, o ludismo sonoro e a produção de
sentidos. Com uma avaliação negativa dessa realidade, Alves (2003) nos
interroga se é dessa forma que o aluno irá construir uma relação de
encantamento com o poema, que deveria ser o principal objetivo do
trabalho com esse gênero na escola, realçando a importância dos poemas
serem vistos como um valor em si.
“ [...] enquanto não se compreender que a Poesia tem um valor, que não se
trata apenas de um joguinho ingênuo com palavras, ela continuará a ser
tratada como um gênero menor e, pior ainda, continuará a ser um dos
gêneros literários menos apreciados no espaço escolar. Mas qual seria,
afinal, o valor da poesia? Para que ela serve?” (ALVES, 2003, p. 62)
Anais do SIELP. Volume 2, Número 1. Uberlândia: EDUFU, 2012. ISSN 2237-8758
Este artigo tem a intenção de apresentar uma pesquisa acadêmica que está
sendo realizada por mim, aluna do curso de pós-graduação/mestrado na
área de Educação e Linguagem da Faculdade de Educação de Minas
Gerais. Pretendo analisar os efeitos de uma prática de trabalho, intitulada
“Oficinas de Letras e Laço”, sobre a apreciação do gênero poético, sua
leitura e escrita, por crianças em contexto não escolar. Nesse sentido,
pretendemos verificar em que medida o contato sistemático das crianças
com o texto poético, colaborou para ampliação do gosto de ler e escrever
literariamente, favorecendo a presença da palavra dos alunos em situações
escolar e cotidiana.
“Indo e voltando
A gente brincando
Balança lençol
Indo e voltando
E o chinelo voando
Vai vento,
Volta sol
“Poesia
como se brinca
O texto de Adélia Prado: “De vez em quando Deus me tira a poesia, olho
para pedra e vejo pedra mesmo” foi muito discutido e essa frase era usada
pelos alunos em variadas situações de conversas sobre o nosso trabalho.
Passamos a colecionar pedras que eram observadas por eles com admiração
e curiosidade, de acordo com eles ”com poesia”. Um poema sobre as
pedras colecionadas foi feito coletivamente.
“Pedras brilhantes
Um tesouro
“Infância
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“Boa Brincadeira
Da sacola colorida
Os olhos brilhavam
Alegria animada
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Avalio através dos vídeos analisados que cada uma das etapas acima citadas
possibilitou um envolvimento crescente do grupo de alunos. A brincadeira
trazia o desejo de escrever sobre os acontecimentos. O significado ia sendo
construído a cada encontro que era marcado por um fazer coletivo e
autônomo.
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- “O caderno é nosso”.
- “Queremos escrever em nossa casa”.
- “Queremos mostrar para os nossos pais”.
- “Esse caderno não é da escola”.
É Pondé (1982) que mais uma vez nos ajuda nessa análise ao nos dizer que
“O lugar onde os nomes e as coisas se fundem e são a mesma coisa é a
poesia, reino onde nomear é ser. A imagem diz o indizível [...] A imagem
não explica a realidade: convida-nos a recriá-la e, literalmente, a revivê-la”.
(PONDÉ, 1982, P.127)
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Mas na brincadeira
“O eterno abismo entre o ser e a idéia, só pode ser franqueado pelo arco-
íris da imaginação. Os conceitos, prisioneiros das palavras são sempre
inadequados em relação à torrente da vida; por tanto, é apenas a palavra-
imagem, a palavra figurativa, que é capaz de dar expressão às coisas e
ao mesmo tempo banhá-las com a luminosidade das idéias: idéia e coisa
são unidas na imagem.” (HUIZINGA, 2007, p.149)
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
PAULINO, Graça. Para que serve a literatura Infantil? v.5 n.25 • jan./fev.
1999 • Presença Pedagógica.