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AULA 4
PARTE 1
A “Pedagogia” Marxiana
CAPÍTULO 3
O HOMEM ONILATERAL
O tema do trabalho, que procuramos considerar em toda a sua
contraditória fecundidade nos textos marxianos, para melhor
determinar sua possível função de conteúdo no processo de ensino
do futuro, requer ser completado com uma investigação sobre a
pessoa e sobre a perspectiva do seu desenvolvimento, definido por
Marx como onilateral, realiza
realizado
do justamente sobre a base do
trabalho, ou melhor, da sua atividade vital. E já vimos que a
onilateralidade é considerada objetivamente como o fim da
educação.
A divisão do trabalho condiciona a divisão da sociedade
em classes e, com ela, a divisão do homem; m; e como esta se torna
verdade apenas quando se apresenta como divisão entre trabalho
manual e trabalho mental, assim as duas dimensões do homem dividido, cada uma das
quais unilateral, são essencialmente as do trabalhador manual, operário, e as do
intelectual.
ctual. Aliás, como a divisão entre trabalho e não trabalho, assim também o homem
se apresenta como trabalhador e não trabalhador.
A divisão do trabalho, ou propriedade privada, tornou
tornou-nos
nos obtusos e unilaterais. A
divisão cria unilateralidade e, sob o signo da unilateralidade, justamente, se reúnem
todas as determinações negativas, assim como sob o signo oposto, o da onilateralidade
(obviamente, muito menos frequente, dado que essa não é ainda coisa deste mundo),
reúnem-sese todas as perspectivas positivas da pessoa.
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A acepção negativa do termo trabalho, na qual está implícita a concepção negativa
do trabalhador, indica a unilateralidade que surge dessa condição e constata que, na
medida em que as circunstâncias nas quais um indivíduo vive apenas lhe permitem
desenvolverer uma qualidade, à custa das demais, o indivíduo não vai além de um
desenvolvimento unilateral, mutilado.
Em resumo, capitalistas e trabalhadores são, uns e outros, subsumidos pela classe,
membros de uma classe e não indivíduos. A essa caracterização filosófica da
unilateralidade correspondem observações do tipo sociológico, ai ainda
nda nos
n escritos
juvenis de Marx, aos quais pode ser interessante também acrescentar alguns de Engels,
em que se apresentam ao vivo os tipos humanos da sociedade dividida.
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A conclusão que, em síntese, se pode extrair da posição de Marx é, portanto, uma
exigência de reintegração de um princípio unitário do comportamento do homem.
Exigência a que não basta responder com a hipótese de uma teoria pedagógica e um
sistema de educação que reintegrem de imediato essas várias esferas divididas entre si.
Mas que, de qualquer maneira, pressupõem uma práxis educativa que, ligando-se ao
desenvolvimento real da sociedade, realize a não separação dos homens em esferas
alheias, estranhas umas às outras e contrastantes, ou seja, uma práxis educativa que se
funde sobre um modo de ser que seja o mais possível associativo e coletivo no seu
interior e, ao mesmo tempo, unido à sociedade real que o circunda.
Com ênfase moralista, Marx e Engels, tanto um como o outro, exaltam a imagem
do operário educado na própria escola associativa, contrapondo-o, como homem em que
se desenvolve o máximo de individualidade, como homem verdadeiramente respeitável,
ao representante das classes dominantes, ocioso, parasita, que perdeu toda substancial
respeitabilidade.
3
tendo o trabalho perdido todo caráter de especialização, exatamente com a cessação de
todo desenvolvimento especial, típico da produção artesanal, começa a se fazer sentir a
necessidade de universalidade, a tendência a um desenvolvimento onilateral do
indivíduo.
Os indivíduos universalmente desenvolvidos, cujas relações sociais e também
relações de comunidades estão submetidas aos próprios controles de comunidade, não
são um produto da natureza, mas da história. O grau e a universalidade do
desenvolvimento das faculdades em que essa individualidade se torna possível,
pressupõe exatamente a produção sobre a base de valores de troca que, primariamente,
produz com a universalidade a alienação do indivíduo em relação a si mesmo e aos
demais, mas também a universalidade e onilateralidade das suas relações e
capacidades.
A onilateralidade é, portanto, a chegada histórica do homem a uma totalidade de
capacidades produtivas e, ao mesmo tempo, a uma totalidade de capacidades de
consumo e prazeres, em que se deve considerar, sobretudo, o gozo daqueles bens
espirituais, além dos materiais, e dos quais o trabalhador tem estado excluído em
consequência da divisão do trabalho.
O homem que rompe os limites que o fecha numa experiência limitada e cria
formas de domínio da natureza, que se recusa a ser relojoeiro, barbeiro, ourives e se alça
a atividades mais elevadas: eis o tipo de homem que Marx tem em mente.
Como resultado de um processo histórico de autocriação, o homem se apresenta
como uma totalidade de disponibilidades. A apropriação individual de uma totalidade
de forças produtivas objetivamente existentes significa, enfim, a absoluta exteriorização
das faculdades criativas subjetivas do homem, sem outro pressuposto que o precedente
desenvolvimento histórico.
Quanto às implicações pedagógicas que tudo isso comporta, podem expressar-se,
em sínteses, na afirmação de que, para a reintegração da onilateralidade do homem, se
exige a reunificação das estruturas da ciência com as da produção.