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10/04/2019 A Guerra hibrida e a venda de vidas – Caos soberano – Medium

A Guerra hibrida e a venda de vidas


Caos soberano
Jul 26, 2018 · 18 min read

A estabilização da espoliação brasileira — Convertendo o Brasil em


Penitenciária Privada

. . .

Determinantes geopolíticas para o controle social de expropiados

É interessante quando observamos os acontecimentos no Brasil sob o


prisma da geopolítica global e aproximamos o modelo para a realidade
concreta, pois isto permite juntar acontecimentos aparentemente
desconexos e elucidar um planejamento mais profundo por detrás da
aparente confusão que se faz presente na consciência de muitos no
Brasil pós golpe.

Em nossos dias fica cada vez mais claro que os atores dominantes do
capitalismo global, em seu atual estágio de desenvolvimento e
necessidade de adaptação desejam, ou necessitam de uma sociedade
controlada e que tenha como mecanismo de concretização econômica,
de gestão e extração de lucratividade, o caminho da terceirização deste
controle social para empresas privadas como forma de garantir um
mecanismo cada vez mais completo e ao mesmo tempo para manter a
lógica de concentração de lucro aos 1% da população que domina a
sociedade global, e que agora avançam com políticas mais agressivas e
de maior expropriação de uma massa que não parece disposta a
acomodar-se facilmente ao risco da miséria e perda de perspectivas por
completo.

As mídias sociais e a grande imprensa têm sido utilizadas como grande


ferramenta de controle e da constituição de uma agenda da sociedade
brasileira, os acontecimentos de 2013 para cá só são explicáveis se
olhados pelo prisma da desestabilização articulada por meio de um
instrumental complexo que aparenta de certa forma ser contraditório,
porém sob o ponto de vista de operações de guerra híbrida, em uma
conjuntura de fim de um império contemporâneo, se demonstra coeso
e complementar.

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10/04/2019 A Guerra hibrida e a venda de vidas – Caos soberano – Medium

Uma das características fundamentais para entendermos a guerra


híbrida é o mecanismo de dissociação cognitiva que ela impõe seja
quando trata de pautas identitárias seja quando trata de questões
macro econômicas ou políticas sociais, ao criar uma divisão polarizada
na opinião pública que permite a implementação nesta brecha da
agenda manipulatória e política que foi planejada para o país alvo.

Desde o mensalão vimos setores à direita e à esquerda do espectro


político institucional levantando a bandeira da anticorrupção,
comportamento que permitiu em seu ápice deixar o país exposto à
sanha dos “justiceiros” do Judiciário e à uma total subversão do sentido
de Justiça em nosso país, com efeito em última instância: o golpe e a
destruição da economia nacional.

Um fato que tem passado despercebido (ou quase) é a implementação


de diversas ferramentas de controle social e a montagem cuidadosa de
um discurso de insegurança como forma de justificar o endurecimento
do aparelho repressor do estado, discurso este que acaba se
cristalizando como o único possível no campo emocional de grande
parte da população. Iniciando-se por setores que já reagem a este efeito
de sentido (da insegurança social): os setores médios de grandes
centros e ampliando-se como agenda nacional à medida que o cenário
de expropriação de riqueza avance em relação direta aos mais pobres e
ao setor privado nacional por meio de medidas de redução de direitos
sociais,redução do teto dos gastos sociais governamentais,
internacionalização da propriedade dos meios de produção nacionais e
ampliação dos lastros de financeirização por meio da ampliação da
dívida interna nacional, e transferência de setores estratégicos de
produção e transferência energética para países com maior soberania.

A esquerda seja ela a da esquerda institucional ou a esquerda dita


alternativa, não se demonstra preparada para contrapor o discurso de
insegurança que vem sendo montado a anos e muitas vezes se coloca
como linha auxiliar ou contraponto útil da implementação de medidas
de aumento do aparato de controle do estado. Normalmente reage a
uma agenda imposta pelos meios de comunicação sob orientação
externa e importa modelos repressivos de forte controle ideológico-
simbólico e econômico-geográficos já aplicados com menor
agressividade mas com maior sutileza, nos EE.UU. de Bush por
exemplo, depois do 11 de setembro estadunidense.

Podemos destacar alguns pontos como a desastrosa lei anti-terror


aprovada pelo governo Dilma, a intervenção nas favelas cariocas
levadas a cabo pelo governo Lula, e a atabalhoada legislação antidrogas

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( que levou à explosão da população carcerária), leia mais em:


<https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/01/1849182-lei-
de-drogas-e-fator-chave-para-elevar-populacao-carceraria-diz-
ong.shtml>, como pontos em que foi linha auxiliar.

A visão totalmente fora da realidade sobre as questões de segurança


pública e direitos humanos que se isola da realidade concreta, permite
a direita monopolizar o discurso de “defesa da sociedade” contra o
crime organizado e em combate ao tráfico de drogas, e a utilizar estas
questões contra a esquerda e contra uma sociedade mais humanizada
funcionam como o contraponto útil. Neste cenário, verifica-se que os
aparatos da esquerda institucional neste campo é reduzido a
organizações que materializam o discurso de defesa de certos grupos e
bandeiras de direitos humanos sem incorporar o caráter de
popularização destas bandeiras, ou propostas nacionais que
considerem fatores de realidade concreta difíceis de enfrentar como a
gestão carcerária.

É muito interessante quando em entrevista ao Duplo expresso Manoel


J. de Souza Neto fala das empresas prisões como um dos setores de
interesse para o império pois este é um assunto que tenho pesquisado
nos últimos meses.

Um sistema de “Insegurança Pública”

As rebeliões de Pedrinhas -MA e do Compaj-AM deixaram transparecer


muito mais que as imagens de violência e descaso para com o sistema
penitenciário, deixaram transparecer uma projeto de sociedade e de
governo em relação a segurança pública. Ao contrário do que pode
aparentar mais adequado em um processo de guerra psicológica,
quando se trabalha com o conceito de “Doutrina de Choque”, é mais
fácil implementar medidas até então impensáveis: a proeminência
dada ao papel das facções criminosas nesses acontecimentos e a
cobertura discreta que se deu sobre o fato dessas unidades serem
privatizadas, revelando uma estratégia de pano de fundo que diz
respeito aos reais objetivos em relação a segurança pública e em
especial ao sistema prisional.

É notável que pouco tempo depois a mesma empresa privada


(Umanizzare) esteja gerenciando o Compaj no Amazonas e que o
Governo do estado contrate a empresa de Rudy Giuliani (ex Prefeito de
Nova York) que entre outras atividades foi lobista da principal empresa
de gestão de penitenciárias privadas dos EE.UU., o grupo CCA.

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O que devemos analisar neste contexto é como funciona a percepção da


opinião pública, e como funciona a engenharia de opinião a respeito da
segurança pública.

Quando se retrata o péssimo estado em que se encontra o sistema


prisional estruturalmente mantido em condições precárias de
sobrevida e ressocialização, percebe-se que a cadeia só é notícia quando
há rebelião ou massacre. No caso de outras questões e realidades, tudo
permanece sob o véu do segredo. Por isso na gestão da dimensão de
segurança social, quando se trata do tema da segurança pública, aplica-
se por meio de aparatos institucionais e de comunicação, a
popularização de estado de insegurança, ou seja a estimulação e
difusão da percepção social de insegurança, para afetar mais a
sociedade do que o crime concretamente existente. Não é por acaso que
estudos sobre o fenômeno do delito apontam para uma generalização
do crime (espacial e na sua amplitude real) como notícia, por um lado
convertendo o popular “plantão policial” radiofônico dos anos de 1980,
no fenômeno do sintoma de insegurança generalizado por meio do
modelo “Datena” que impõem o sentido de insegurança social em todo
o país, através a generalização do sentido de insegurança para todo o
país. Estudos sociológicos latino-americanos acerca do tema indicam
uma relação direta entre populações fixadas em áreas urbanas com
menores índices de criminalidade e populações com maior índice de
sensação de insegurança pública.

E é exatamente este o ponto que temos que focar quando vemos o


tratamento do governo golpista em relação a segurança pública e a
questão prisional, pois esta visão está diretamente relacionada com os
planos do imperialismo para as sub-colônias em seu novo perfil de
ajustamento de conduta e nível de expropriação direta de riquezas.

É sabido que é mais fácil para os governos de maneira geral


implementar medidas mais repressivas, diminuir liberdades individuais
e impor o endurecimento das legislações, quando a sociedade se sente
ameaçada. A política de mão dura está associada a “inimigos externos”
do costume moral standart (imoralidade política dirigida aos agentes
políticos partidários) ou o “marginal” que vai encontrar forma nas
populações precarizadas e submetidas a influência do negócio do crime
organizado.

O próprio coração do império é testemunha disso, vide o Ato Patriótico,


como citamos anteriormente, que institucionalizou a normalização de
centros clandestinos de detenção e tortura e cortes secretas de George
Bush, após o 11 de setembro. O que neste último caso veio a influenciar

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uma cadeia de atores econômicos e sociais associados a negócios que se


beneficiam de um cenário como este: indústria armamentista,
conglomerados militares,e empresas presídios.

No recente caso nacional algo similar foi articulado e monitorado com


integração de uma burocracia de inteligência externa a setores
econômicos e burocracia nacional, primeiro com a espetacularização
das investigações sobre corrupção que criaram o clima necessário para
a entronização do monstro chamado “ Operação Lava Jato” e que
inaugurou a quebra e/ou distorção das regras mais básicas do direito
penal brasileiro, desvios estes que hoje se espalham em todas as
instâncias da Justiça com um viés autoritário e parcial, além disso uma
crescente exploração pelos órgãos da imprensa monopolista da questão
da violência com o formato espetacularizado que transforma crimes e
ocorrências policiais em um grande circo ao mesmo tempo que reforça
o sentimento de medo, insegurança e clama por leis mais duras.

O Brasil do pós golpe assiste a exploração da pauta de segurança, como


uma tentativa do governo de retomar a narrativa e mostrar que
controla alguma coisa, e ademais como forma de criar um nebuloso
cenário para fazer avançar em meio a uma cortina de fumaça, medidas
aceleradas de expropriação de riqueza da maioria da população
combinados a medidas de controle social estruturado para largo prazo.
Dentre as várias medidas dignas de observação estão: a intervenção
Federal no Rio de Janeiro e a banalização das operações de GLO
(Garantia da Lei e da Ordem), a criminalização dos movimentos
sociais, o entendimento dado pelo STF sobre a prisão a partir da
Segunda Instância, um reforço dos órgãos de inteligência do estado,
assim como a votação pelo Congresso Nacional do Sistema Único de
Segurança Pública e as declarações do ministro da segurança Raul
Jungmann à respeito da privatização do sistema prisional
(acompanhadas de um forte lobby no congresso para que sejam
votados projetos neste sentido e transferido recursos para
concretização em curto prazo de tais medidas), as discussões por
autoridades federais a respeito do controle das mídias sociais durante o
processo eleitoral como forma de “combate às Fake News”, votação do
projeto que obriga os presos a pagar por suas despesas e a criação de
colônias penais agrícolas que combinam gestão não estatal à uma
população carcerária selecionada, tudo isto possibilita a normalização
de um arcabouço repressivo que prepara o país para o aprofundamento
da gestão da superexploração em nosso país.

A venda de vidas e a normalização da repressão

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Em um país em que o encarceramento cresce cada vez mais nas últimas


décadas, em que o judiciário sob pressão da imprensa corporativa e de
lobbies indizíveis, cada vez mais nos afasta do estado de direito nas
suas bases fundamentais, em que por longa data prisões provisórias e
cautelares que se transformam em definitivas (40% de nossos presos
sequer foram julgados) e com respaldo de um Congresso Nacional
apoiado nas bancadas do boi, da bala e da Bíblia, e em que querem
aprofundar o caráter punitivista da sociedade, há que se perguntar,
qual o sentido se poderia e está sendo dado ao sistema carcerário?

Segundo os atuais governantes, a saída seria a privatização do sistema,


a entrega pura e simples de milhares de vidas nas mãos de empresas
privadas que tem em seu portfólio contém um incontável número de
escândalos, violações e tragédias. O discurso a ser implementado é o de
que com a iniciativa privada, a competição e o modelo de empresa
presídio facilitaria a ressocialização do preso, porque selecionaria esta
população carcerária, porque daria maior peso a medidas de
ressocialização (exploração da força de trabalho mais barata como
sinônimo de reintegração social, cumprimento de metas e supervisão
estatal), o velho discurso de eficiência próprio da ideologia neoliberal.

Mas as experiências concretas no mundo e no Brasil contradizem a


promessa acima exposta, o departamento de justiça americano
declarou em um de seus últimos relatório que as prisões privadas
”simplesmente não disponibilizam o mesmo nível de serviços
correcionais, serviços, programas e recursos; não geram economia
substancial; e como registrado em um relatório recente do Gabinete do
Inspetor Geral do Departamento de Justiça, não mantém o mesmo
nível de segurança e proteção. Os serviços de reabilitação que o Bureu
disponibiliza, como programas educacionais e treinamento para o
trabalho, se provaram difíceis de replicar e terceirizar e estes serviços
são essenciais para reduzir a reincidência e melhorar a segurança
pública” — Em um memorando de 18 de agosto de 2016, fonte:
<https://www.justice.gov/archives/opa/file/886311/download>”

Então por que está em curso no Congresso Nacional uma corrida à


privatização do sistema?

Lucros gigantescos em um mercado que não para de crescer…

A população carcerária brasileira aumenta cerca de 7% ao ano (já são


cerca de 660 mil) , cada preso no sistema privado custa até R$4700,00
ao mês contra R$2300,00 no sistema público, contando com cláusulas
que garantem uma taxa de ocupação mínima de 90% e prazos

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contratuais de até 30 anos, trata-se de um negócio dos sonhos de


qualquer capitalista, que abomine o risco e tenha muito estômago.

Soma-se a um lobby fortíssimo no Congresso Nacional e em diversos


dos estados da federação para que se privatize o sistema, em todos os
seus setores e com expansão contínua.

Não é atoa que a empresa de Rudy Giuliani (ex prefeito de Nova


Iorque), a Giuliani Security & Safety, tenha aparecido no Amazonas e
fale da questão prisional, apresentando soluções técnicas para um
estado que há décadas não abre concursos no setor. Giulianni é um
lobista da principal empresa de penitenciárias privadas nos EUA, o CCA
Group. Veja mais em:
<http://www.nydailynews.com/news/politics/rudy-giuliani-law-firm-
paid-big-money-lobby-prisons-article-1.2707601>

Além disso relatórios, discursos inflamados e a popularização da


insegurança pública, pretendem escamotear da sociedade o custo deste
sistema para a mesma, propostas de que o preso pague por sua reclusão
( (PLS) 580/15), não passam de mera fantasia ou jogo de cena, um
preso hoje no Brasil ganha no máximo o que diz a LEP, ⅓ do salário
mínimo, a maioria não trabalha, pois não existe infra estrutura para
isto e para os que trabalham uma boa parte não recebe ou recebe
abaixo do piso estipulado pela LEP, Por isso indagamos, como querer
que este indivíduo arque com uma despesa de R$2300,00 ou mais ao
mês? Veja mais em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/14/politica/1513259606_7
35347.html?rel=mas

A tendência apontada para nosso país é sombria, a privatização do


sistema prisional, com uma sociedade cada vez mais punitivista e uma
proporção cada vez maior da população pobre sendo encarcerada e
utilizada como mão de obra barata ou gratuita por empresários e
tratada como mercadoria por grupos que lucram com este sistema e
que por isso vão fortalecer cada vez mais os setores políticos que
defendem penas mais duras, maior tempo de prisão e menos direitos
para os encarcerados.

Uma nota sobre guerra híbrida, facções criminosas e corporações

É importante notar que todo o movimento de desintegração da unidade


de um estado nação provocado pelos efeitos de uma guerra híbrida
tende a disparar um movimento de estreitamento de unidade em
grupos menores e mais auto-identificados, este processo de tribalização
é incentivado e aproveitado pela entidade atacante uma vez que os

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interesses de grupos específicos podem ser manipulados facilmente


com o objetivo global de enfraquecer o estado alvo.

Quando vemos as disputas entre corporações dentro do estado visando


a garantia de privilégios em tempos bicudos, vemos como este processo
de tribalização funciona. O MP, a Polícia Federal e o Judiciário vem
agindo assim já por algum tempo, mas este processo não se resume
somente as burocracias estatais, vemos este processo ocorrer em
grupos políticos, étnicos, religiões e também em facções criminosas.
Estas últimas se aproveitam do caos gerado e do enfraquecimento do
estado como forma de expandir e aprofundar seus domínios, esta
expansão será espetacularizada e utilizada por outros grupos como
justificativa para o endurecimento da repressão. Por outro lado o
modelo de negócio das facções criminosas mais integradas ao crime
internacional condiz com essa lógica de atuação, e se favorece de
estados ocos, de forma tendencial a ampliar seu mercado de controle
social, produção e distribuição. Negócio estruturalmente muito similar
ao de uma unidade privatizada no caso concreto. Por isso, pode-se
supor que uma das formas de legalizar suas atividades seja incorporar-
se diretamente da expropriação de riquezas e atividades ilícitas da
população encarcerada, um risco grande no atual cenário em que
Senadores confessaram ser traficantes.

Os trabalhadores do sistema sempre avisaram

Faz muito tempo que a consulta aos trabalhadores do sistema prisional


leva a advertência que a questão de segurança pública passa com
grande relevância pelas lógicas de sociais e econômicas por dentro das
cadeias, no seu dia a dia estes trabalhadores e trabalhadoras viram o
surgimento, o crescimento e fortalecimento das facções dentro dos
presídios brasileiros, viram a transformação das mesmas em forças que
ameaçavam a segurança deles mesmos e da sociedade como um todo.

As forças armadas e os órgãos de inteligência hoje identificam o PCC


como uma ameaça verdadeira a estabilidade da nação, o PCC cresceu
justamente no vácuo dos governos tucanos que tornaram a sigla da
facção “na palavra que não pode ser dita“ durante quase toda a
segunda década do século XXI. Os órgãos de segurança, defesa e
inteligência do estado se omitiram da situação enquanto os
trabalhadores do sistema prisional vinham alertando para o
crescimento da facção.

Em São Paulo, berço do PCC, a automatização das cadeias faz com que
o agente prisional tenha contato reduzido com o preso, o que de certa

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forma reduz o risco e compensa a falta crônica de pessoal, mas como


declaram os agente mais antigos “hoje da gaiola para dentro quem
manda é o PCC”, ou seja uma situação de duplo poder, muito parecida
com a encontrada nas comunidades cariocas e agora ampliadas pelo
atual cenário provocado pelo governo por todo o território nacional. É
neste vácuo deixado pelo estado cada vez mais ausente que o poder do
crime organizado cresce, e cresce não só entre os encarcerados, veja
que as famílias dos detentos são praticamente reféns das facções hoje
em dia, se por um lado o PCC facilita o contato da família com o preso e
oferece proteção dentro e fora da cadeia, por outro lado cobra uma
conta alta, utilizando as famílias de presos como instrumentos da
facção, processo semelhante ao que acontece nas comunidades, onde
muitas vezes as facções criminosas cobrem o papel que deveria ser do
estado em relação a segurança e assistência social. Este modelo de
gestão da vida de comunidades encontra-se em disputa no território
nacional não fora dos presídios, mas dentro deles, ou por ordens que
vem de dentro para fora. Os estados de Minas Gerais, Amazonas entre
outros tem visto reflexos sociais decorrentes das disputas por controle
territorial entre diferentes facções.

A PAX criminal

Corre na boca pequena dos meios de segurança pública que após a


megarrebelião de 2012, houve um acordo do governo de São Paulo e o
PCC e este acordo possibilitou a melhora dos índices da segurança
pública. Podemos destacar que existem estudos sobre esta hipótese,
veja um deles em:
<http://scioteca.caf.com/bitstream/handle/123456789/712/paxmon
opolista-crime-primeirocomandodacapital-saopaulo.pdf?
sequence=1&isAllowed=y>.

Está pode ser uma tendência que se aponta para nosso país e deve ser
levada em conta quando estudamos as questões de segurança pública.

O Brasil possui hoje a terceira maior população carcerária do mundo


<https://oglobo.globo.com/brasil/brasil-o-terceiro-pais-com-mais-
presos-no-mundo-diz-levantamento-22166270>, devido a morosidade
da Justiça em relação a conclusão de processos, cerca de 40% dos
presos no Brasil não foram condenados
<https://www.google.com/url?
sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved
=0ahUKEwiDwLOhz8HbAhWDIJAKHaBKBuQQFggpMAA&url=https
%3A%2F%2Fwww.cartacapital.com.br%2Fsociedade%2Festudo-
mostra-que-40-dos-presos-brasileiros-nao-foram-

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condenados&usg=AOvVaw1S5B37Fj9riUDFNasUgegz>, uma grande


parte deles por crimes relacionados a tráfico de drogas, principalmente
devido a uma legislação em que são os agentes do estado que decidem
quem é traficante e quem é usuário, o PCC se utiliza desta massa
incorporada ao sistema prisional como ferramenta de crescimento e
expansão de seus domínios.

O PCC é uma organização que apesar de não reunir 10% dos


encarcerados de São Paulo, domina praticamente todos os presídios (a
exceção são as chamadas “cadeias de oposição” onde ficam criminosos
das facções rivais ao PCC), isto demonstra como uma força
relativamente pequena, porém, organizada e disciplinada pode ser
hegemônica, hoje eles contam com um setor de inteligência, se
infiltram na política, nas academias de polícia e no judiciário, já houve
casos de cooptação de pessoas dentro do Conselho Estadual de Defesa
dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo e vários casos de matérias
plantadas em veículos da imprensa hegemônica, o prefeito de Embu
das Artes/SP, Ney Santos, que foi apoiado por Alckmin e pelo Pastor
Marcos Feliciano e que teve acessoria do MBL, é apontado pela polícia e
o MP como ligado ao PCC <https://theintercept.com/2018/03/11/a-
trajetoria-de-ney-santos-e-um-retrato-do-fracasso-das-nossas-
instituicoes/>, em um exemplo claro de como em um ambiente híbrido
a combinação de frentes de ataque: do institucional ao crime
organizado passando por organizações ligadas a interesses
internacionais.

O modelo de privatização e de combate ao crime

Pelos projetos de privatização já implementados no Brasil se vê


claramente que está sendo implementado o modelo americano, apesar
de todo o discurso que implementamos algo nos moldes franceses ou
ingleses (pela forma jurídica), na prática vemos a implantação do
modelo de prisão privada dos americanos.

Minas Gerais tem sido uma espécie de laboratório para a implantação


disto, sabe-se que Aécio Neves queria apresentar a PPP de Ribeirão das
Neves como modelo a ser seguido por todo o país. Esta PPP, desde a
forma do consórcio que a explora, do modelo físico da unidade,
passando pelas “parcerias” com empresas privadas para a exploração
de mão de obra, segue a risca o modelo dos EUA, em que se busca
através de um mix de contratos cuidadosamente pensados, para
resguardar os operadores privados de riscos e colocar todo o ônus sobre
as costas do estado. Neste estado, por exemplo, a PPP não aceita presos
de facções ou que tenham cometido delitos sexuais, seguindo a risca o

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modelo americano. Até mesmo presos doentes são evitados, a única


diferença é que no modelo mineiro os agentes prisionais são mantidos
fora dos pavilhões, como forma de driblar as regulamentações legais
em relação a profissão de agente prisional público. Os contratados das
terceirizadas são classificados juridicamente agentes sócio educativos,
apesar de fazerem efetivamente o trabalho de segurança dos agentes
penitenciários.

Ou seja, em caso de rebelião ou de ocorrências mais graves, o estado


tem que resolver, e a empresa arcar com as multas decorrentes da perda
de controle, porém na prática, se tomarmos como exemplo o que
ocorreu no Compaj em Manaus, a multa dirigida à prestadora de
serviços acabou revogada e a empresa Umanizzare voltou a administrar
o complexo penitenciário.

Além disso a assistência jurídica e médica aos detentos é prestada por


funcionários do consórcio o que permite com que abusos e
irregularidades sejam mascarados com tremenda facilidade.

Segundo fontes de nosso conhecimento é comum que as empresas


utilizem seu status de pessoa jurídica de direito privado para escapar
das leis de transparência e acesso à informação, além de dificultarem o
trabalho dos sindicatos da categoria e de entidades de Direitos
Humanos (similar ao que é denunciado nos EUA).

Quanto a falácia que é mais fácil combater a corrupção em instituições


privatizadas devido a facilidade de demitir, se esquecem
propositalmente que o funcionário público tem muito mais a perder
(direitos, benefícios, respeito na sociedade) quando se corrompe, do
que o funcionário terceirizado.

Quem conhece o sistema prisional de forma empírica, sabe que a


atuação dos agentes de segurança prisional como elementos de chaves
na coleta de informações estratégicas para o combate às facções é
fundamental (as operações Etios e Echelon não deixam mentir. Estas só
foram deflagradas devido a informações interceptadas por agentes),
como funcionários do setor privado sem treinamento, motivação e
carecendo da experiência adquirida e compartilhada grupalmente e em
longo prazo pela cultura de trabalho mantida pelos agentes do setor
público.

Quando os agentes lutam pelo reconhecimento da função policial da


categoria é importante notar que esta luta pode ser extremamente
benéfica a sociedade, tanto sob o aspecto de dificultar a privatização
como pelo fato de facilitar a criação de um aparato de inteligência no

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sistema prisional que facilite o combate ao crime organizado, vide a


Polizia Penitenziaria italiana
(https://en.wikipedia.org/wiki/Polizia_Penitenziaria), que ajudou no
combate a máfia italiana, isto se há um projeto nacional ancorado em
uma burocracia modernizada e estimulada a maior eficiência.

Quem conhece a atuação das facções sabe que a cadeia para elas é
parte do negócio e que onde apenas uma facção domina, as rebeliões
diminuem porque eles não querem “parar os negócios”. Considerando
esta afirmação, imaginemos a sinergia entre empresas privadas e
facções (ambas querem manter os negócio funcionando e os lucros
correndo), a possibilidade de fortalecimento das facções de forma
subterrânea é imensa, além de existir a possibilidade de que o próprio
crime organizado entre no negócio de privatização dos presídios, uma
vez que sofisticam cada vez mais suas rede de influência e lavagem de
dinheiro.

Caso não quisermos viver em uma distopia em que os pobres, pretos e


periféricos sejam encarcerados em massa, utilizados como mão de obra
escrava por empresas inescrupulosas, vistos como matéria prima de
uma indústria que vende vidas e sob o controle da “lei” implacável das
facções criminais devemos lutar contra a privatização do sistema
penitenciário.

Com quem dialogar para encontrar saídas?

É importante principalmente que as agrupações progressistas,


nacionalistas e de esquerda despertem para o fato de que os
trabalhadores do sistema penitenciário são um contingente a ser
disputado e que rompa com o cerco que faz com que a direita domine o
discurso e acabe sendo referência para os trabalhadores na segurança
pública, integrando-os a ideologia de mão dura, uma vez que passam a
ser a única voz que os afeta.

É fundamental que a esquerda discuta segurança pública com os


trabalhadores deste setor, o academicismo e uma visão estereotipada
de que estes trabalhadores são o inimigo, pois afinal são parte das
“forças de repressão”, nos leva ao retrocesso e avanço de um cenário
distópico.

Chamamos atenção a possibilidade de aliança com este setor de


trabalhadores, porque os mesmos são vítimas de um processo constante
de assédio moral e invisibilidade e males degradantes de suas saúdes
mentais.

https://medium.com/@caosober/a-guerra-hibrida-e-a-venda-de-vidas-ac8652c4088d 12/14
10/04/2019 A Guerra hibrida e a venda de vidas – Caos soberano – Medium

E que o assunto sistema prisional esteja sendo pautado como agenda


pelo MP

Também é importante conformar um discurso alternativo de gestão da


política pública e populariza-lo, ainda que leve tempo, buscando
consolidar experiências práticas de gestão da segurança pública dentro
de parâmetros democráticos e de respeito aos direitos humanos de
encarcerados, trabalhadores do sistema penitenciário e familiares.
Consideramos também a necessidade de uma estratégia de
comunicação política estratificada, com significantes de interesse
comum, constituído por relações horizontais entre diferentes setores, e
ganhos compartilhados deve ser desenvolvida por largo prazo para
constituir um novo sentido comum.

https://medium.com/@caosober/a-guerra-hibrida-e-a-venda-de-vidas-ac8652c4088d 13/14
10/04/2019 A Guerra hibrida e a venda de vidas – Caos soberano – Medium

https://medium.com/@caosober/a-guerra-hibrida-e-a-venda-de-vidas-ac8652c4088d 14/14

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