Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
1 de 23
I. PRELIMINARES
De plano, o Autor requer que todas as futuras notificações e intimações referentes aos presentes
autos no Diário da Justiça, salvo aquelas de caráter personalíssimo, sejam endereçadas ao seu procurador,
com inscrição na OAB/[ ] sob nº [ ].
Nos termos do art. 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal, o Estado prestará assistência
judiciária integral e gratuita aos que não tenham suficientes recursos, estando a Lei nº 1.060/50 a aduzir
que o beneficiário deverá assim afirmar, mediante declaração.
Pelo exposto, requer, como medida de justiça, e com base nos arts. 3º e 4º da Lei nº 1.060/50, a
concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita.
II.1. SÍNTESE
Em abril de 2010 o Autor firmou com a Ré contrato de financiamento (cédula de crédito bancário) ,
pelo qual financiou o veículo Audi A3 1.8 ano 2000, colocado à venda ao valor de R$35.500,00, tendo
efetuado pagamento a título de “entrada” (prestação à vista), de modo que o valor liberado do crédito
(“valor líquido do crédito”) seria o de R$19.000,00, a ser pago em 60 meses, com a aplicação de juros de
1,72% ao mês.
Verificou a existência de diversas cláusulas abusivas, bem como que lhe estava sendo exigido,
mediante financiamento diluído nas parcelas, o pagamento de “tarifa de cadastro”, “de avaliação”,
“repasse de despesas com serviços de terceiros” e “registro de contrato”, além do repasse de IOF, este
calculado tendo como base o valor global com a adição da “tarifa de cadastro”.
Assim, verificou-se que o valor financiado, frente ao número de meses e a taxa de juros mensal
anunciada, encontrava-se viciado pelo efeito capitalização (em que pese a inexistência de informação clara
ao consumidor neste sentido), o que gerou um valor de parcela completamente dissonante do contratado,
ante os encargos que indevidamente compuseram o importe total (doc. 04). Observou, ainda, que nos
Pg. 2 de 23
casos de pagamento extemporâneo, os encargos de mora exigidos e efetivamente recebidos pela Ré eram
ilegais, nos termos da lei e da jurisprudência do Egrégio Supremo Tribunal Federal e na C. Corte Cidadã.
Nestas condições, dentre diversas ilegalidades, esteve o Autor a quitar as 9 primeiras parcelas do
financiamento, estando a Ré a lhe cobrar o pagamento efetivo pelo valor do financiamento, de
R$19.000,00 o importe total de R$34.023,00, ou seja, quase duas vezes o valor financiado: em
prevalecendo as exigências impostas pela Ré, terá ao final pago cerca de R$50.523,00 (vincendas
adicionadas ao total já pago em financiamento, mais o valor de entrada) por um bem hoje avaliado em
não mais do que R$21.471,00 (tabela FIPE – doc. anexo), entregando pelo principal o importe de
R$15.023,00 apenas em acessório, ou seja, quase duas vezes o próprio principal!
Conforme Vossa Excelência poderá verificar após detida análise dos comprovantes de pagamento
anexos, a parte demandante sempre efetuou os pagamentos, de modo regular e contínuo, em que pese os
pesados valores e altos encargos de mora exigidos (abusivos e ilegais, conforme adiante se verá). Assim,
propõe-se a manter a contratação, contudo não pode aceitar o financiamento, mês a mês, de referidas
“tarifas”, requerendo outrossim jurisdição que lhe permita afastar a mora nos moldes legais, depositando
regularmente a parcela mensal recalculada com a taxa de juros mensal efetivamente contratada,
extirpado-se o efeito capitalização mensal e a incidência das “tarifas”.
De fato, o item 13 das cláusulas e condições gerais do contrato de adesão (Cédula de Crédito
Bancário) em exame (redigido em fonte de tamanho minúsculo e em linguajar obscuro ao
consumidor médio), estabelece que “sobre o valor total do crédito incidirão juros anuais efetivos no
percentual indicado no item 5.1 (...) que decompostos constituem a taxa mensal efetiva ”, nada aduzindo
sobre a capitalização mensal, sendo forçoso reconhecer que - ainda que fosse permitida – a capitalização
in casu sequer foi expressamente pactuada.
Desta forma, não resta ao Autor alternativa senão buscar auxílio na sabedoria de Vossa
Excelência, visando revisar o contrato e as exigências dele decorrentes, extirpando-se as cobranças
métodos e previsões contratuais abusivas para ao final formular pedidos a fim de tutelar seus direitos.
III. MÉRITO
MM. Magistrado, conforme jurisprudência já pacificada nos Tribunais pátrios, as normas do Código
de Defesa do Consumidor são aplicáveis às instituições financeiras, desde que a pessoa física ou jurídica
adquira os bens ou contrate a prestação de serviços na condição de destinatária final, o que certamente se
opera no caso em discussão.
Pg. 3 de 23
A situação de fato em análise indica a existência de uma relação de consumo, em que são partes
Autor e banco Réu, tendo o primeiro se utilizado da prestação de serviços creditícios disponibilizados no
mercado pelo segundo, mediante termo de adesão a contrato não negociável, fazendo-o com o objetivo de
obter para si bem durável, qual seja, veículo automotor.
Assim, à luz do disposto nos arts. 2º e 3º, §§1º e 2º do Código de Defesa do Consumidor, bem
como em vista da jurisprudência consolidada no Egrégio Superior Tribunal de Justiça (REsp nº 437.660/SP,
REsp nº 472.594/SP e REsp nº 264.592/RJ, ensejadores da edição do Enunciado de Súmula nº 297 do
STJ), se fazem aplicáveis à presente demanda os preceitos consumeristas, com todos os seus
consectários, inclusive no que pertine à formação do contrato (art. 54, § 3º do CDC), à facilitação da
defesa do consumidor e a inversão do onus probandi, nos termos do art. 6º, inciso VIII, do CDC, o que
desde logo se postula.
É entendimento mais do que pacífico que a relação travada entre as partes é de consumo, a teor
do que dispõe a súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça, in verbis: "O Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras".
É sabido que a Lei nº 8.078/90 (CDC) trouxe inovações importantes no que diz respeito à função
social intrínseca a todo contrato. Seu art. 6º concede a prestação jurisdicional ao consumidor no sentido
de rever ou modificar as cláusulas desproporcionais, onde se lê:
A experiência nesse campo do direito parece ter sido fundamental para consolidar a inclusão, nos
contratos bilaterais, de mais dois princípios, quais sejam, o da probidade e o da boa-fé. O princípio da
pacta sunt servanda deve ser empregado com a parcimônia necessária, de modo a não afastá-lo dos
princípios da boa-fé e da proteção ao consumidor contra a onerosidade excessiva decorrente de práticas
ilegais e abusivas, constantemente perpetradas por grandes instituições financeiras, caso da Ré. Tal
assertiva decorre especialmente do caráter adesivo da contratação, onde não cabe ao consumidor discutir
qualquer cláusula, mesmo porque, in casu, sequer lhe foi dado conhecimento acerca destas.
Neste tocante, sem deixar transparecer quaisquer dúvidas, o novel Código Civil estabeleceu de
forma expressa, que:
Assim, não há dúvidas quanto à possibilidade de discussão do contrato, vez que aplicáveis as
disposições contidas no CDC à revisão de contratos firmados por instituições financeiras, consoante a
Súmula 297 do STJ, fato este que acarreta relativização dos princípios inerentes ao direito privado, como o
pacta sunt servanda (Neste sentido, dentre muitos precedentes: STJ, AgRg no REsp 1018282/MS, TJ-PR.
Apelação Cível nº 0630853-2, e TJ-PR. Apelação Cível nº 0672.189-7).
Salienta-se uma vez mais que as condições gerais do contrato de adesão entregue ao Autor não
são passíveis de negociação, e encontram-se elaboradas em contrariedade à lei, especificamente o art. 54,
§§3º e 4º, do CDC, que estabelecem que:
Ainda que não seja o caso dos autos (onde se impugnam especificamente as cobranças e práticas
ilegais e abusivas), convém salientar que precedentes do STJ firmaram entendimento no sentido de que é
possível ao juiz reconhecer, de ofício, o caráter abusivo de cláusulas contratuais, anulando-as, por se
tratar, nos termos do art. 51, IV, do CDC, de nulidade de pleno direito. Neste exato sentido são os
seguintes julgados da E. Corte Cidadã: REsp 248.155/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ
07/08/2000 e REsp 90162/RS, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 24/06/1996.
Assim, à luz do novo sistema de defesa do consumidor ensejado pela Constituição Cidadã, ainda
que pactuadas no bojo de um contrato de adesão, são passíveis de invalidação as cláusulas eivadas de
abusividade ou ilegalidade. Com efeito, cláusulas abusivas foram impostas no contrato de adesão
originário da presente demanda, vez que o consumidor, in casu, viu-se compelido a arcar com juros
remuneratórios e moratórios mensalmente capitalizados e “tarifas” e repasses diversos. Todos, inexigíveis.
Ainda no seio do CDC, merece destaque o seu art. 51, cujo teor disciplina a nulidade das cláusulas
que transferem ao consumidor os custos operacionais do fornecedor, assim como aquelas que permitam
ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral, subtraiam do consumidor
a possibilidade de ter reembolsado o valor já pago, ou ainda as que dão a opção de cancelar o contrato
sem dar igual opção ao consumidor, dentre outras hipóteses, conforme se infere de sua dicção infra:
Ainda, em contrariedade à legislação e a boa-fé contratual, não houve explicitação acerca de quais
serviços e/ou produtos se referiam os repasses de “tarifas”, nem mesmo foi informado ao demandante que
o método de aplicação da taxa de juros mensal se daria pelo sistema de capitalização mensal de juros
(sistema price), o que levou o consumidor-Autor a crer que pagaria taxa de juros mensal de 2,17 % a.m.,
o que não ocorreu. Tudo ao arrepio dos primados da transparência e da plena informação nas relações de
consumo (arts. 4º e 6º, inciso III, do CDC).
Assim, desde logo se postulando a aplicação à presente demanda dos consectários jurídicos
decorrentes da relação consumeristas, inclusive com a inversão do ônus da prova, haja vista o fumus boni
iuris que permeia as teses da parte autora, passa-se à análise das ilegalidades perpetradas pela Ré. Senão
vejamos.
MM. Magistrado, com a renovação da teoria contratual, a partir da superação dos paradigmas
clássicos da teoria geral dos contratos, busca-se o reequilíbrio das partes contratantes com aplicação do
princípio da boa-fé. No caso em análise, o só fato de se constatar que o valor total exigido a título de
Pg. 5 de 23
pagamentos é capaz de comprar, ao final da contratação, quase três veículos iguais ao financiado, por si
só demonstra a prática agressiva de imposição de encargos e juros abusivos. Não obstante a cobrança de
“tarifas” sob diversos nomes somando nada menos que R$1.586,30 financiados mês a mês, incidindo
juros capitalizados mensalmente sobre tal quantia, inobstante os adicionais exorbitante pagos nos casos
de mora, à toda prova se evidencia a onerosidade a que tem sido submetido o demandante. Senão
vejamos.
MM. Magistrado, de início, cumpre ressaltar que as cobranças embutidas no contrato, referentes a
“tarifa de cadastro” e “de avaliação”, “repasse de despesas com serviços de terceiros” e “registro de
contrato” foram impostas de forma nebulosa e obscura, e sendo cláusulas restritivas nulas de pleno
direito, deveria a Ré ao menos ter o zelo de elaborá-las nos moldes dos já mencionados §§3º e 4º do art.
54 do CDC, prestando informação inequívoca ao contratante.
Ainda que assim fosse, tratam-se de cláusulas nulas de pleno direito, vedadas pelo art. 51 e
outros, do CDC, devendo sua exigência ser declarada abusiva, sendo mais do que pacífico o entendimento
segundo o qual é plenamente possível a discussão de cláusulas abusivas e/ou ilegais ainda que
expressamente contratadas (neste sentido, dentre milhares, o seguinte precedente: TJPR - Apelação Cível
nº 1500165).
Tais cobranças embutidas nas parcelas mostram-se ilegais, pois não se referem a qualquer serviço
prestado, evidenciando um plus que implicou na majoração dos encargos onerando o Autor excessiva e
imotivadamente, ampliando de forma ilícita os já expressivos lucros auferidos pela Ré.
Ora, é risível admitir que uma empresa do porte da Ré tenha despesas de vulto simplesmente
para cadastrar um cliente. Destaca-se que as “tarifas”, estão efetivamente sendo exigidas, sendo certo
que nada são senão um acréscimo elaborado a fim de aumentar o valor da parcela e gerar lucros à Ré. Os
“serviços de terceiroS”, aliás, nada mais é que o retorno financeiro dado pelo banco à concessionária de
veículos (comissão pelo uso da ‘bandeira’ do banco). Ora, descabe ao consumidor pagar o lucro da
parceira de vendas da Ré! Exigir que o ora consumidor arque com os lucros da loja parceira da Ré é
vilipendiar sobremaneira o consumidor. Da mesma forma, inadmissível exigir do consumidor o
ressarcimento da comissão dada pela Ré à sua preposta promotora de vendas, bem como o ressarcimento
pelo “registro do contrato”.
A inexigibilidade de tais cobranças vem sendo reiteradamente declarada no âmbito das Câmaras
Cíveis do Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná, havendo múltiplos precedentes neste sentido (TJPR - 17ª
C.Cível - AC 0666873-7 - Foro Central da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Des. Lauri Caetano da
Silva - Unânime - J. 06.04.2011).
Pg. 7 de 23
Assim posto, ante a ilegalidade consistente na cobrança de tais rubricas, requer, com fulcro no art.
51, inciso IV, do CDC, no art. 113 do Código Civil, e demais dispositivos cabíveis, seja declarada sua
inexigibilidade, condenando-se a Ré a devolver/compensar na forma simples o que já foi pago e a abster-
se de permanecer cobrando tais rubricas na parcela mensal do financiamento.
MM. Magistrado, a operação financeira realizada entre as partes consubstancia-se em fato gerador
do IOF (art. 103, inciso V, da CF, e 63 e seguintes do CTN), sendo a base de cálculo composta pela soma
do capital emprestado com os juros totais cobrados, ou seja, principal somado a acessório (art. 64, inciso
I, do CTN, e IN nº 46/2001 da Receita Federal do Brasil).
Entretanto, não há cláusula que obrigue o Autor a arcar com referido tributo, e, ainda que assim
houver, trata-se de cláusula não informada de forma clara e ostensiva, e, ademais, potestativa, sendo
nula de pleno direito, vez que se impõe ao tomador do crédito a obrigação de arcar com os custos do
imposto que também incide sobre os juros (parcela remuneratória da Ré), de modo que o Autor se vê
obrigado a pagar parcela de imposto integral do IOF aplicado não apenas pelo crédito, mas também pelo
saldo devedor, incidindo juros sobre esta rubrica ao longo de toda a contratação.
A Lei nº 5.143/66, em seu art. 1º, assenta que o IOF incide nas operações de crédito realizadas
por instituições financeiras e seguradoras, e tem como fato gerador a entrega do respectivo valor ou sua
colocação à disposição do interessado.
No mesmo diploma legal, vê-se que a base do imposto, nas operações de crédito, é o valor global
dos saldos das operações (art. 2º, inciso I), sendo aplicável a alíquota é de 0,3% (art. 3º, inciso I), ao
passo que é contribuinte do imposto a financeira que realiza a operação (art. 4º, inciso I).
Ainda que se considerasse lícito o repasse, no caso em tela a alíquota aplicável seria a de
0,0082%, nos termos do art. 7º, a, 2., do Decreto nº 6.306/07, eis que ali se especifica a alíquota
incidente sobre a operação de crédito tal como a ora delineada. Contudo, a Ré, onerando ainda mais o
contrato, utilizou-se - de forma irregular e manifestamente abusiva - da regra do art. 6º do Decreto
nº 6.306/07, inadequada para o caso em exame, regra esta que aduz que "será cobrado à alíquota
máxima de um vírgula cinco por cento ao dia".
Novamente, vê-se que a Ré infringe o ordenamento jurídico nos menores detalhes, tudo para
elevar seus lucros às custas do consumidor incauto.
Muito embora seja, de plano, ilegal transferir ao adquirente final as despesas derivadas das
atividades do fornecedor, verifica-se, no caso, nítida duplicidade de cobranças.
Ora, no momento em que a instituição financeira estipula uma taxa de juros compensatórios pelo
financiamento concedido ao contratante, presume-se que toda e qualquer despesa derivada da atividade
do fornecimento de crédito está sendo ressarcida por tal encargo, pelo que a instituição financeira não
poderia estabelecer que além da taxa de juros remuneratórios caberia ao contratante efetuar ainda o
pagamento de valores que dizem respeito ao custo administrativo da operação, mesmo porque os juros
compensatórios abrangem o pagamento do IOF. De ressaltar que, sobre o valor do IOF
indevidamente repassado, incidiram os juros remuneratórios mensalmente capitalizados, com
juros compostos, igualmente indevidos.
Assim posto, no caso em tela, a cumulação da taxa de abertura de crédito e do IOF com os juros
remuneratórios coloca o consumidor em desvantagem exagerada, razão pela qual deve ser declarada a
nulidade da cobrança, na forma prevista no art. 51, inciso IV, do CDC.
De ressaltar que, não bastasse a abusividade da cobrança, a alíquota incidiu sobre o principal
financiado somado à “tarifa de cadastro”, “de avaliação”, “serviços de terceiros” e registro de contrato”,
valores estes também financiados, de modo que a base de cálculo encontra-se viciada, por estar composta
de valor não tomado a título de financiamento.
Ante o exposto, pugna pela declaração de nulidade de da transferência do ônus financeiro do IOF
ao Autor, em razão de ser a Ré a detentora do capital emprestado e beneficiária do lucro com a operação,
sendo remunerada pelos juros, condenando-se-a a restituir o valor e os juros sobre si aplicados. Única e
tão-somente no caso de desprovimento do pedido nos exatos termos acima formulados, requer, em
sede de pedido sucessivo (art. 289 do CPC), ante o princípio da eventualidade, pela aplicação da
alíquota de 0,0082% de IOF tendo como base de cálculo apenas o valor global financiado ( excluídas as
“tarifas” que venham a ser declaradas inexigíveis), para que tal rubrica (IOF) não reste financiada sob ela
incidindo juros remuneratórios.
Não obstante a inclusão de “tarifa de cadastro”, “de avaliação”, “serviços de terceiros” e registro
de contrato” mês a mês, além do repasse do “IOF” no total financiado - no que desde logo se reitera
pelo expurgo do cobrado a maior -, verifica-se que a suposta mora merece descaracterização ante a
adoção de prática ilegal de cálculo de juros. Vê-se do contrato de fls. que houve a pactuação de taxa de
juros mensal de 1,72% ao mês, quando em verdade a Ré efetuou a cobrança efetiva da taxa anual que
monta a 22,71% de juros ao ano. Não obstante a capitalização escancarada, ante a simples
incongruência entre a taxa mensal e a taxa anual, de acordo com a perícia realizada por expert, ora
acostada (doc. 04), o percentual contratado de juros não foi respeitado.
De plano, deveria ter sido utilizada a taxa de juros mensal contratada, eis que, a teor das
disposições do Código de Defesa do Consumidor referentes à vinculação do fornecedor à proposta
apresentado, bem como em face do disposto no art. 427 do Código Civil, “a proposta de contrato obriga o
proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do
caso”. Contudo, reitera-se: não vem sendo aplicada a taxa de juros contratada.
Pg. 9 de 23
Conforme esclarecido pela perícia financeira anexa, a prestação mensal calculada na Tabela Price
contempla juros com capitalização mensal, e é maior que a prestação calculada pelo sistema de juros
simples. Neste passo, a adoção do sistema de capitalização mensal de juros (sistema Price) acaba por
aplicar taxa mensal superior à contratada. Ao efetuar-se a soma de todas as parcelas em cada sistema, ao
fim do financiamento, obtém-se uma diferença considerável.
No caso em tela, a utilização da Tabela Price é notória, ante a disparidade das taxas
mensal e anual.
Sobre o tema, mostra-se oportuno citar o entendimento técnico de Wilson Alberto Zappa Hoog:
Nessa ordem, já ficou decidido, em caso precedente, que "nos contratos bancários é vedada a
capitalização mensal dos juros se inexiste legislação específica autorizadora" (cf. STJ, A.Reg. no R.Esp. n.
606233/RS, j. 20/09/2004, 3a Turma, Humberto Gomes de Barros, DJde 18/10/2004, p. 277). Em
recentíssima decisão exarada no âmbito do Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná, restou assentado que
“a estipulação de parcelas em valores fixos, ainda que anteriormente à formação do próprio
contrato, não afasta a ilegalidade da contratação de juros remuneratórios de forma
capitalizada, que evidenciada pela discrepância entre a taxa de juros mensal e anual” (17ª
Câmara Cível. Apelação nº 0726364-3. Relator Des. Francisco Jorge).
De se destacar que o fato de o contrato ter sido celebrado após a vigência da Medida Provisória
supra, não dá azo à instituição bancária fazer a cobrança dos juros mensalmente capitalizados, restando
incólume a dicção da Súmula nº 121 do Egrégio STF, assim como o fato de ter o contrato parcelas fixas
não justifica a ilegalidade da capitalização dos juros; conclusão contrária iria contra as normas do art. 4º,
III e 51, IV do Código de Defesa do Consumidor que visa garantir o equilíbrio da relação de consumo
mediante o estabelecimento de um modelo de comportamento leal e honesto de ambas as partes.
Necessário esclarecer, também, que não se entende por “expressamente convencionada” a mera
previsão da taxa mensal e anual de juros, sendo imprescindível haver uma cláusula expressa e clara, em
destaque e inteligível ao consumidor médio, estabelecendo o período de capitalização, e mais: tal
disposição contratual deve ser ostensiva, nos termos dos arts. 6º, inciso II, 14, 31, e 54, §§3º e 4º,
todos da Lei nº 8.078/90 – CDC, o que não ocorre no caso em exame.
Neste sentido, emergem diversos julgados do Egrégio TJPR e mesmo do C. STJ: AC 0709128-3 -
Rel.: Des. Lauri Caetano da Silva - Unânime - J. 29.09.2010; Turma Recursal - Recurso Inominado nº
2010.0012167-7/0 – Rel.: Juiz Leo Henrique Furtado Araújo. J. 31.03.2011; AC 677939-7 - Rel. Des.
Mario Helton Jorge - J. 27.09.2010; STJ - REsp 1020140/RS - Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, J.
09.11.2009; AgRg no Ag 877057/SP - Rel. Ministro Carlos Fernando Mathias, J. 05.02.2009; AgRg no Resp
999034/RS - Rel. Min. Fernando Gonçalves, J. 24.11.2008; AgRg no REsp 1026033/RS, Rel. Ministro Aldir
Passarinho Junior, J. 23.06.2008.
Efetivamente, a Ré manipulou a incidência das taxas de juros, utilizando-se de uma taxa anual
superior em muito a doze vezes a taxa mensal, desrespeitando o contrato no que pertine à aplicação da
taxa de juros mês a mês. Conforme se denota do documento anexo, a Il. Perita deixou clara a incidência
da capitalização, utilizando-se para tanto de métodos científicos inteligíveis e de fácil compreensão.
Em que pese a clara dicção da Súmula 121 do STF, parte da jurisprudência tem ainda admitido
que em cédulas de crédito bancário a capitalização mensal de juros apenas é possível quando há previsão
expressa e clara desta prática no instrumento de contrato, em conformidade com as regras insertas no
art. 54, §§ 3º e 4º do CDC, o que indubitavelmente – reitera-se – inocorre nos autos, ante as já
mencionadas disposições do CDC e sua clara aplicabilidade ao caso concreto.
Assim posto, com base na fundamentação supra, os valores exigidos encontram-se eivados,
também, pela ilegalidade consubstanciada na cobrança de juros mensalmente capitalizados, sendo
necessária a realização de perícia para aferir o valor que efetivamente deveria ter sido cobrado, com base
na taxa de juros mensal contratada, o que desde logo se requer. Pugna pelo proferimento de jurisdição
que declare a abusividade e a ilegalidade consubstanciada na cobrança de juros remuneratórios
capitalizados, a teor da súmula nº 121 do STF, de modo que o valor mensal da parcela venha a ser
recalculado, compensando-se ao Autor a diferença entre o valor efetivamente pago e o que efetivamente
seria devido caso não tivesse incidido a capitalização, com os devidos acréscimos de juros e atualização
monetária.
Emérito Magistrado, nos termos do art. 53 do CDC, “nos contratos de compra e venda de móveis
ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia,
consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em
benefícios do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do
produto alienado”.
Prevê o item 17 das condições gerais do termo de adesão ao contrato (anexo) que o contrato se
considera vencido e exigível antecipadamente, no valor integral da cédula, com a exigência da garantia
(veículo) se o Autor deixar de promover determinadas medidas.
Assim, em que pese a obscura dicção do teor da cláusula potestativa, desde logo assevera que
eventual conclusão da Ré pela exigibilidade do perdimento das prestações até então pagas, com a
consequente retomada da posse do bem, é ilegal e abusiva. E mais: totalmente contrária ao festejado
princípio da boa-fé contratual.
financiamento. Tal prática, destaca-se, é ilegal e imoral, não podendo subsistir no arcabouço
jurídico instalado após a Constituição Federal de 1988 e a vigência do CDC.
De toda sorte, as disposições do Decreto 911/69, em especial em seu art. 2º, adéquam-se às
posteriores leis consumeristas, não podendo subsistir ante as modificações trazidas ao ordenamento
jurídico pela CF e pelo CDC, bem como pelo novel Código Civil, pelo que deve ser declarada nula eventual
cláusula que disponha que a financeira considerará antecipadamente vencido o contrato e exigível o
pagamento da dívida vencida e vincenda, além e encargos na data do vencimento antecipado, com a
perda total das prestações pagas. Por analogia, citam-se os seguintes precedentes:
No que tange ao “valor estipulado de perda”, ou eventual cláusula que permita a rescisão do
contrato com a perda das parcelas pagas, ou mesmo exigência de parcelas vincendas, ou ainda que
remeta à providência de leilão extrajudicial do bem, o entendimento remansoso da jurisprudência é no
sentido de considerar tal medida ilegal e abusiva, o que se infere da ementa infra:
Em suma, conclusão que destoe do art. 53 do CDC violaria a lei, a justiça contratual e a boa-fé
objetiva inerentes ao contrato de consumo.
Nesta esteira, Rodolfo de Camargo Mancuso assevera que "as contraprestações periódicas
configuram uma sorte de obrigações propter rem (exigíveis por causa da coisa), estabelecidas em trato
sucessivo, donde o corolário de que, cessando a possibilidade de fruição da coisa, a lógica jurídica indica
que, a partir desse momento, as contraprestações vincendas não podem ser exigidas (...) em que pese o
desfazimento antecipado do contrato, (in Leasing. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002,
p. 287/288).
Nesse sentido, requer desde logo sejam declaradas nulas eventuais cláusulas ou práticas
elaboradas em termos tais como acima indicado, em especial quanto à perda das parcelas pagas cumulada
com a rescisão contratual.
MM. Magistrado, conforme já exposto, pretende a Ré que o Autor pague mais do que o dobro do
valor de mercado do veículo, aplicando para tal desiderato a técnica de juros compostos – capitalização
mensal pelo sistema price.
Denota-se do item 16. do contrato de adesão que a Ré pretende exigir multa de mora de 2%,
além de comissão de permanência em 12% (item 7). Cumulação esta que é vedada!
Ocorre que, não bastasse o alto valor exigido, nas hipóteses de mora no pagamento das parcelas,
esteve a Ré a exigir quantias altíssimas face ao saldo devedor representado pelo valor histórico das
prestações periódicas, estando a parcela em aberto somada a encargos moratórios estratosféricos.
Evidentemente, os encargos de mora impostos pela Ré tornaram o contrato, que inicialmente já se
Pg. 13 de 23
Com efeito, imperioso se faz com que seja reequilibrada a equação contratual, haja vista a
excessiva onerosidade decorrente dos absurdos encargos exigidos pela Ré, em especial quando da
imposição do contrato de financiamento.
Os valores cobrados e o próprio contrato denotam que, quando do pagamento em atraso, incidem
encargos de comissão de permanência superiores ao contratado, sendo certo que tal rubrica é cobrada na
forma de “juros sobre juros”, somando-se o saldo de juros diário ao valor-base do dia seguinte.
Assim aduz a parte autora, inicialmente, em razão de que, ao consultar o débito exigido em aberto
referente à ultima parcela, viu que os juros moratórios foram mesmo calculados e pagos em patamares
superiores a 1% (um por cento) ao mês, ou 12% (doze por cento) ao ano, sendo tal fato constatável pela
simples análise da “lâmina” de pagamento. Ademais, fica evidenciada a cobrança da “comissão de
permanência” cumulada com multa de mora, procedimento este em desconformidade com as normas de
regência.
Desta forma, resta evidenciada a cobrança de juros moratórios e/ou comissão de permanência na
forma capitalizada, “fazendo incidir a taxa de juros sobre juros anteriormente calculados e embutidos na
base de cálculo”, bem como a cumulação da comissão de permanência e encargos não discriminados.
Insta frisar, Dd. Juiz, que não se está a tratar, neste tópico, da discussão acerca da
incidência de juros remuneratórios no período de contratação do financiamento, e sim de
capitalização (“juros sobre juros”) nas hipóteses de mora.
Nem se está a falar da ultrapassada tese do teto de 12% ao ano para juros
remuneratórios, do já revogado art. 192, §3º, da CF.
Assim, como se evidencia da análise dos altos valores impostos pela Ré, os encargos diários de
mora sofreram capitalização. Tal situação restará esclarecida pela competente perícia contábil. Porém,
desde logo cabe destacar que a figura do anatocismo, capitalização dos juros, é absolutamente rechaçada:
"É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada" (Súmula 121 do
STF).
Esta repulsa se encontra com abundância nos entendimentos jurisprudenciais:
"É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada
(súmula 121); dessa proibição não estão excluídas as instituições
financeiras, dado que a súmula 596 não guarda relação com anatocismo.
A capitalização semestral de juros, ao invés da anual, só é permitida nas
operações regidas por leis especiais, que nela especialmente constem".
(STF. Recurso Extraordinário nº 90341/1).
"A capitalização de juros (juros de juros) é vedada pelo nosso direito,
mesmos quando expressamente convencionada, não tendo sido revogada a regra
do Art. 4º do Decreto 22.626/33, pela Lei 4.595/64. O anatocismo repudiado pelo
verbete 121 da súmula do Supremo Tribunal Federal não guarda relação com o
enunciado nº 50 e TRF/164." (Recurso Especial 1285 - GO. Rel. Ministro Sálvio de
Figueiredo).
"... a capitalização de juros é vedada, mesmo em favor das instituições."
(RTJ 92/1.341, 98/851, 108/277, 124/616; STF - Bol. AASP 1343/218).
Pg. 14 de 23
Ademais, a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, observando o rito dos recursos
repetitivos (artigo 543-C do CPC), julgou o Recurso Especial nº 1.061.530/RS, tendo em vista a
multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito, assim jurisdicionando a fim de
que todos os processos que versem sobre o mesmo tema sejam julgados conforme as orientações
estabelecidas pelo STJ no julgamento desse Recurso Especial.
No que tange à cobrança cumulada de comissão de permanência com outros encargos, da mesma
forma merecem revisão os critérios utilizados pela Ré. Concernente a este rubrica (comissão de
permanência), a exigência não poderá ser feita cumulando-a com qualquer outro encargo. A súmula nº
30 do STJ expressa que "a comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis".
Ante o exposto, postula-se seja procedida a revisão dos valores cobrados quando das eventuais
hipóteses de mora do Autor, no que tange à adoção do sistema de juros moratórios sobre juros moratórios
(efeito anatocismo), cobrança de juros de mora em patamar superior a 1% ao mês, e cobrança de
Pg. 15 de 23
comissão de permanência cumulada com outros encargos, mesmo a multa de mora, de forma a alcançar o
valor total dos débitos já pagos, excluindo-se todos os encargos a maior, restituindo-se e/ou
compensando-se eventual saldo devedor com os valores pagos, expurgando-se-os.
MM. Magistrado, as transformações sofridas pelo Direito Privado em face da aplicação dos
princípios constitucionais, de caráter normativo, bem como dos princípios estabelecidos no Novo Código
Civil, principalmente a “função social do contrato” prevista no artigo 421, do Código Civil, permitem ao
Judiciário a intervenção no contrato para restabelecimento do seu equilíbrio.
Assim, inicialmente, frisa-se que o Autor vem efetuando o pagamento assíduo de suas parcelas,
de um extenso financiamento de sessenta meses. À inicial, evidenciando o fummus boni iuris, acosta
perícia financeira (doc. 04) elaborada por expert, onde se esmiúçam os valores indevidamente cobrados,
apontando para um valor de parcela correta, caso a taxa de juros aplicada houvesse sido a contratada,
afastando o sistema price.
Ora, Douto Magistrado, sendo o Autor responsável e correto com suas obrigações, não tem por
intenção com esta ação cível de natureza revisional de contrato questionar unicamente a abusividade de
juros com vistas e eximir-se de obrigação assumida. Porém, não pode aceitar pagar passivamente a
imposição de valores excessivos face o bem contratado, decorrentes de cobrança de “tarifas” e “encargos
contratuais e moratórios” ilegais, unilaterais e abusivos, que incidem nos carnês de pagamento de forma
ilegítima.
Nos termos do art. 890 do codex processual civil, pode o devedor requerer, na petição inicial, a
consignação da quantia por si devida, cessando-se os juros e os riscos, conforme disposição do art. 891 do
mesmo diploma legal.
Outrossim, estabelecem os arts. 337 e 335, inciso V, do Código Civil que caberá a consignação nas
hipóteses em que pender litígio sobre o objeto do pagamento, cessando para o depositante os juros da
dívida e os riscos.
No que se refere à antecipação dos efeitos da tutela, dispõe o artigo 273 do Código de Processo
Civil:
Pg. 16 de 23
Assim, de acordo com o CPC, para que o juiz conceda a antecipação são necessários dois
requisitos: a prova inequívoca e o convencimento da verossimilhança da alegação.
Destaca-se que o Autor recebeu apenas proposta de pré-contrato de adesão, pactuando taxa de
juro mensal de 1,72%, o que, a teor do art. 48 do CDC, enseja execução específica nos termos do art. 84
do mesmo diploma legal, in verbis:
Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do
adimplemento.
Diante de tudo o que até aqui se alegou, com base em provas acostadas a este pedido
inicial, está plenamente caracterizada a possibilidade da concessão de liminar no sentido de possibilitar o
depósito judicial conforme delimitado em perícia financeira, haja vista que a permanência da sua situação
em mora poderá lhe acarretar o superendividamento, decorrente dos abusivos encargos exigidos pela Ré,
bem como poderá implicar na remessa dos dados do Autor para os cadastros de proteção ao crédito, muito
embora seja o valor exigido pela Ré composto visivelmente por parcelas abusivas. Não obstante, poderá
ensejar apreensão do bem, em que pese a mitigação da mora.
Baseando-se nos valores ora trazidos, apenas no que se refere aos expurgos das tarifas
abusivamente exigidas e pagas pelo Autor, tem-se que desde o início da contratação deveria ter sido
cobrada uma prestação diferida de R$520,20, que implicaria em uma diminuta porém justa redução, isto
ainda aplicando-se juros mensalmente capitalizados. Uma vez expurgados os valores cobrados
indevidamente a título de tarifas, se lhes extirpando sobre o quantum debeatur (a ser mensurado de
forma exauriente mediante perícia financeira do juízo), chega-se a um valor mensal remanescente de
R$506,83 conforme a perícia financeira ora acostada - doc. anexo, e mediante método de juros simples,
chegaria-se a um saldo devedor de R$14.666,27, implicando em parcela mensal de R$403,12, decorrendo
a diferença do alto valor financiado a título de “tarifas” e da capitalização mensal incidente sobre o cálculo
imposto pela Ré (doc. 04, relatório circunstanciado).
Nesse sentido, requer desde logo seja deferida a possibilidade de pagar em juízo o restante das
parcelas com os devidos descontos, nos termos da (planilha 05, baseada na retirada das “tarifas”,
acostada sob a rubrica doc. 04) fundamentação supra, ficando garantidas ambas as partes, em especial
devido ao fato de que o devedor, na eventualidade de um julgamento de improcedência da ação, fará uma
reserva que lhe facilitará o pagamento da dívida, tendo o credor ao seu alcance a importância devida,
satisfazendo seu crédito.
De acordo com o Egrégio STJ, o pleito deve ser deferido na hipótese de conjugação de três itens:
(I) ação proposta contestando a existência parcial ou integral do débito (II) demonstração de que a
cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e na jurisprudência superior (III) que, sendo a
contestação apenas de parte do débito, deposite, ou preste caução idônea, ao prudente arbítrio do
magistrado, o valor referente à parte tida por incontroversa.
Ora, no caso dos autos é clara a demonstração de que a cobrança indevida se funda na
jurisprudência pacífica do STJ e do STJ, além do entendimento assente no TJ-PR.
Pois bem. Ajuizada a ação, pleiteado o pedido de depósito da parcela incontroversa, retirados os
encargos indevidos já pagos, com aplicação de repetição de indébito, tendo por base jurisprudência
assentada nos tribunais superiores, requer igualmente o provimento jurisdicional no sentido de oficiar ao
SPC e ao SERASA quanto a impossibilidade de cadastramento do nome do autor por dívida relativa
especificamente ao contrato revisto:
Assim, afastada a mora em razão da cobrança, sobre o saldo devedor, de encargos de mora
ilegais, e de encargos aplicados sobre valores compostos por tarifa de cadastro, dentre outros já
mencionados, em contrariedade à boa-fé, bem como juros remuneratórios e moratórios, ambos
capitalizados, e comissão de permanência cumulada com diversos encargos, faz jus o Autor ao provimento
jurisdicional que lhe permita discutir o débito em contudo ter seu nome inscrito em cadastros de proteção
ao crédito. Neste sentido é o entendimento da 2ª Turma do Egrégio Superior Tribunal de Justiça:
débito objeto deste feito. Agravo improvido” - grifei (STJ - AgRg nos EDcl no Ag
684.185/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, 3ª Turma, DJ 03/10/2008).
Nesse sentido, a teor da fundamentação supra, uma vez preenchidos os requisitos para a
concessão da antecipação da tutela para fins de consignar em juízo os pagamentos, mister se faz com que
se impeça a inscrição do nome do Autor, o que desde já se requer.
A matéria, tratada na legislação de regência pelos arts. 394 a 401 do Código Civil, decorre do
latim mora, que em sentido originário significa a tardança, a delonga ou o adiamento em se fazer ou se
executar o que se deve ou o a que se está obrigado no momento aprazado.
No sentido técnico-jurídico do vocábulo não se afasta o sentido literal: mora é a falta de execução
ou cumprimento da obrigação no momento em que se torna exigível. Ou seja, é “ o retardamento ou a
demora na execução da obrigação, quando deveria ser executada ou cumprida” (In, VOCÁBULO JURÍDICO,
De Plácido e Silva).
Ocorre que a jurisprudência das mais altas Cortes de justiça tem paulatinamente asseverado que
a cobrança de encargos ilegais e abusivos (assim considerados à luz da jurisprudência das Cortes
Superiores) resulta na mitigação da mora ("A descaracterização da mora ocorre pela cobrança de encargos
indevidos, como, no caso concreto a capitalização mensal dos juros, entendimento amparado pela
jurisprudência pacífica na 2ª Seção do STJ" - Ag no REsp 988718/RS”).
De fato, o art. 396 do Código Civil estabelece que “não havendo fato ou omissão imputável ao
devedor, não incorre este em mora”.
No mesmo sentido é a posição da doutrina, eis que, de acordo com o magistério de Celso Marcelo
de Oliveira, “a exigência de parcelas indevidas justifica a resistência do devedor e descaracteriza a mora,
pois o não-pagamento do indevidamente cobrado é imputável a quem cobra o que não tem direito” (In
Limite constitucional dos juros bancários, 2001).
Maria Helena Diniz, ao comentar o dispositivo do Código Civil, assenta que “ verificando-se mora
simultânea, isto é, de ambos os contratantes, dá-se a sua compensação, aniquilando-se reciprocamente
ambas as moras”. (In Tratado teórico e prático dos contratos, 2002)
Especificamente quanto à mitigação da mora em casos de cobranças tais como as que aqui se
examinam, como bem salientado pelo eminente Ministro Massami Ueda do Egrégio Superior Tribunal de
Justiça (em voto datado de 17/12/2009, no AgRg no AgRg no REsp nº 1.092.014/RS), "a jurisprudência
do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de sua descaracterização apenas no caso de cobrança de
encargos considerados ilegais no período da normalidade, como ocorreu no caso destes autos em
face da cobrança da tarifa de abertura de crédito, da tarifa de emissão de boleto, além do IOF,
encargos considerados abusivos pela Corte de origem” (ut AgRg no REsp 796541/RS, Rel. Min.
Humberto Gomes de Barros, DJ 9/10/2006).
Na mesma sessão, anotou o eminente Min. Antônio de Pádua Ribeiro, que “ o CDC trouxe ao
ordenamento jurídico princípios fundamentais, tais como o reconhecimento da vulnerabilidade do
consumidor, a necessidade de equalização da relação de consumo e o direito à modificação de cláusulas
excessivamente onerosas, o que levou também a mitigarem-se as interpretações quanto àquele
dispositivo”.
Outra não é a opinião do eminente Ministro César Asfor Rocha, para quem a cobrança de encargos
indevidos pelo credor afasta a mora do devedor, nos termos do entendimento pacificado da 2ª Seção do
STJ (AGResp nº 399937).
Neste passo, restando assente o entendimento do C. STJ de que a cobrança de encargos indevidos
afasta a mora, forçoso o provimento de jurisdição que mantenha o Autor na posse do bem. Neste sentido,
ainda, os recentíssimos seguintes precedentes do STJ:
Em recente e brilhante voto lavrado pelo ínclito Desembargador Stewalt Camargo Filho, no Agravo
de Instrumento nº 793.786-8, em 05 de julho de 2011, acompanhando entendimento já consolidado
quando do julgamento da Apelação Cível nº 0716223-4 (17ª Câmara Cível, em 13 de janeiro de 2011),
onde se julgava questão análoga à presente, restou assentado, no que pertine à questão levantada no
presente tópico:
Assim posto, havendo boa-fé do Autor, ao passo que a conduta da Ré é amplamente ilegal sob
diversos prismas, não se mostra concebível permitir eventual rescisão do contrato com eventual entrega
do bem à Ré, eis que pretende o Autor manter a avença, porém pagando o justo e incontroverso, em sede
de consignação em pagamento.
Logo, ante "a descaracterização da mora decorrente da cobrança de encargos indevidos, como, no
caso concreto a capitalização mensal dos juros, entendimento amparado pela jurisprudência pacífica na 2ª
Seção do STJ" (Ag no REsp 988718/RS), e o adimplemento da avença, bem como ante o fato de que o
veículo é utilizado para as atividades do Autor pugna pelo proferimento de decisão antecipatória de tutela
que o mantenha na posse do bem enquanto perdurar a presente lide, mitigando-se, neste ponto, os
efeitos da mora.
Projetando-se a prestação tendo como parâmetro a taxa de juros mensal efetivamente contratada,
extirpando-se a capitalização mensal, tem-se que o valor a ser exigido desde o início era de R$451,60
mensais, isto incluindo-se as “tarifas”, ao passo que excluindo-as chegaria-se ao importe de R$472,88
(doc. 04, planilhas 04). Admitindo-se o sistema de prestação constante a juros simples, único método apto
a extirpar os juros mensalmente capitalizados, mediante correção do saldo devedor, chega-se ao importe
mensal de R$[ ] com a inclusão no financiamento das “tarifas”, e R$[ ] excluindo-as.
De observar que nestes cálculos o IOF está sendo computado no financiamento, em razão de que
sua inexigibilidade em contratos como o em exame ainda não se consubstancia em matéria pacificada na
jurisprudência.
Assim, para fins de depósito judicial a fim de obter jurisdição que promova a retirada do nome o
autor dos sistema de restrição ao crédito, bem como mantê-lo na posse do veículo, requer seja analisado
em sede de pedido sucessivo o depósito das parcelas em conformidade com o método que Vossa
Excelência entender cabível, a ponto de afastar a mora, o que faz com supedâneo no art. 289 do Código
de Processo Civil.
Emérito Magistrado, conforme se depreende da análise dos documentos anexos, bem como dos
fatos alegados e comprovados nos tópicos acima, o efetivo valor a ser restituído/compensado pela Ré ao
Autor, em virtude da aplicação de encargos ilegais, excessivos, comissão de permanência cumulada, juros
Pg. 22 de 23
abusivos, capitalização mensal de juros, dentre outros, demanda a análise de diversos e intrincados
fatores.
Desta forma, o Autor traz com esta petição inicial os elementos necessários à constatação do
fummus boni iuris, tornando-se necessária a incursão por perícia judicial de forma a se estabelecer a
quantia efetivamente paga de forma indevida, bem como saldo devedor.
Assim, com base no art. 276 do Código de Processo Civil, deve formular o autor quesitos quando
requerer perícia, e diante da necessidade da análise efetuada por expert para se alcançar o quantum
debeatur a ser restituído, formulam-se abaixo quesitos à perícia, os quais poderão elucidar o total a ser
restituído:
1. É possível aferir a taxa efetiva de juros remuneratórios aplicada ao contrato? Qual(quais) a(s)
taxa(s) de juros efetivamente praticada(s) ao longo do período compreendido entre o primeiro
pagamento e o pagamento final?
2. É possível aferir a taxa mensal efetivamente cobrada?
3. A taxa mensal, multiplicada por 12 meses, resulta na taxa de juros anual? Foi utilizado o sistema
price? Referido sistema comporta juros com capitalização mensal?
4. A análise dos débitos impingidos à parte autora, nas hipóteses de mora no pagamento, permite
constatar a cobrança de juros de mora sobre juros de mora?
5. Houve, nos casos de mora, a cobrança de juros diários?
6. Houve cobrança de juros de mora em patamar superior a 1% ao mês?
7. Houve cobrança de comissão de permanência cumulada com quaisquer outros encargos de mora?
Em caso positivo, que encargos de mora foram somados à comissão de permanência?
8. A análise dos débitos impingidos à parte autora, nas hipóteses de mora no pagamento, permite
constatar a cobrança de multa de mora e juros de mora com “comissão de permanência”?
9. Sendo positiva a resposta às perguntas 7 a 8 acima, quais seriam estes encargos e quais seus
valores?
10. Nos casos de mora no pagamento, qual a “maior taxa do mercado” aplicável à título de “comissão
de permanência”, durante todo o período?
11. Aplicando-se a cobrança tão-somente de “comissão de permanência”, qual seria o valor correto e
ser aplicado a cada qual das parcelas pagas em atraso?
12. Houve a cobrança e o pagamento de “tarifa de cadastro” e “tarifa de avaliação” e embutida no
valor total do financiamento?
13. Cobrou-se a “tarifa de emissão de carne”? Caso positivo, em quantas parcelas?
14. Houve a cobrança sumulada de “serviços de terceiro”, “tarifa de avaliação”, “tarifa de cadastro” e
“registro de contrato” embutida no financiamento? Sob estas rubricas, incidiu juros mensalmente
capitalizados? Em caso positivo, em que percentual e qual o reflexo do financiamento destas
“tarifas” no valor mensal da parcela?
15. Sendo positivas as respostas às perguntas 12 a 14 acima, qual o valor efetivamente pago pela
parte autora sob estas rubricas?
16. Qual o total a ser restituído pela Ré, tão-somente no que se refere aos encargos e tarifas
contratuais, aplicando-se a devolução simples?
17. A cobrança de IOF se deu conforme a alíquota exigível para a data da contratação?
18. Qual era a alíquota máxima exigível do tomador?
19. Qual a base de cálculo do IOF para a operação?
20. A base de cálculo, no caso concreto, inclui o valor financiado apenas, ou o valor financiado
somado aos juros e demais encargos?
21. Em resposta afirmativa ao item acima, calculando-se o IOF apenas sobre o total tomado, qual
seria o impacto mensal de tal rubrica sobre a parcela mensal, e o contrato de forma global?
22. Quanto pagou a mais o autor, considerando-se indevidos os pagamentos de “TAC”, “tarifa de
avaliação”, “serviços de terceiros”, e “registro de contrato”, e juros sobre estes encargos, além de
juros de mora capitalizados, comissão de permanência cumulada, e juros remuneratórios
capitalizados?
23. Qual o efetivo quantum debeatur exigível da parte autora?
24. Há saldo credor em favor da autora? Qual seria este saldo, aplicados os juros e correção legais?
25. Expurgados os valores tidos pelo Autor como indevidos, feita a devolução simples diluída nas
parcelas, qual seria o valor mensal correto a ser pago a título de prestação?
V. PEDIDOS
d) Seja ao final julgada procedente a presente ação, com a revisão judicial do contrato, sendo
declaradas ocorrentes e abusivas/ilegais as cobranças de juros remuneratórios mensalmente
capitalizados, juros de mora superior a 1% ao mês, juros de mora incidentes sobre juros de mora
(capitalização de juros moratórios), cobrança de comissão de permanência cumulada com outros
encargos, “tarifa de cadastro”, “tarifa de avaliação”, “serviços de terceiros” e “registro de
contrato”, além do IOF, conforme fundamentos expendidos supra, e demais tarifas inominadas
que venham a ser detectadas ao longo da instrução processual, declarando-se-as ilegais, abusivas
e passíveis de restituição/compensação,
e) A condenação da Ré a devolver/compensar na forma simples tudo quanto tenha efetivamente
exigido e recebido indevidamente, acrescidos dos juros legais e correção monetária pelo IGPM
(com termo inicial na data de cada pagamento), conforme o quantum debeatur apurado em
perícia, recaindo a restituição na compensação com o saldo devedor, se houver,
f) Seja concedida, em sede de tutela antecipada, a autorização para depósito em juízo da parcela
incontroversa, nos termos da planilha elaborada por perito, mantendo-se o Autor na posse do
bem, bem como impedindo-se a Ré de inscrever seu nome nos cadastros de restrição ao crédito
em decorrência do contrato ora revisto, nos termos da fundamentação acima; f.1.) na remota
hipótese de inacolhimento do pedido de depósito judicial na forma exposta, pela análise dos
pedidos sucessivos,
g) A produção de provas nos seguintes termos: g.1.) a inversão do onus probandi, de acordo com o
artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor; g.2.) constatada a complexidade dos cálculos
necessários a apurar o valor devido, requer seja deferida a perícia técnico-contábil e financeira às
expensas da ré, visando apurar os resultados objetivados, nomeando desde logo assistente a Sra.
Perita Vivianne Luiza Costa, mestre em cálculos numéricos pela UFPR g.3.) a juntada de
documentos, o depoimento das partes e, invocado o princípio legal, quaisquer outras provas que
se fizerem necessárias, e
h) A condenação da Ré ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, a serem
fixados nos termos do art. 20, §§2º e 3º do Código de Processo Civil.
i) Pugna pela concessão dos benefícios da Lei nº 1.060/50, conforme declaração acostada.
Dá-se à causa, somente para fins de alçada, o valor de R$5.650,02, consubstanciado no conteúdo
econômico da demanda provisoriamente aferido (diferença entre o valor total exigido o valor total
incontroverso).
[ ]