Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
CERRO LARGO
2014
VANESSA DANIELI MOREIRA DA SILVA
CERRO LARGO
2014
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a minha família, pelo carinho e apoio recebido em todos
os momentos de minha vida. Pela compreensão e incentivo durante a realização do
curso.
Dedico também ao meu orientador Prof. Ms. Luís Fernando Gastaldo, pela
amizade e ajuda durante toda a elaboração da presente pesquisa.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente quero agradecer a nosso bom Deus, pela sua infinita bondade,
pelo dom da vida, pelas oportunidades e amigos que ele me proporcionou nessa
caminhada.
À minha família, que sem dúvidas foi a minha fortaleza durante os momentos
de adversidade, á qual sempre me deu apoio e incentivo, dividindo junto comigo as
alegrias e dificuldades dessa jornada.
Ao meu orientador professor Ms. Luís Fernando Gastaldo, pela sua amizade,
pelo seu comprometimento, por ter acreditado em meu trabalho e me auxiliado na
realização da presente pesquisa, dividindo comigo os seus conhecimentos.
Ao professor Ms. Fábio César Junges, da URI Santo Ângelo, pela sua
amizade e incentivo.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6
1 A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA EM KUPFER ............................................................... 9
1.1 FALTA DE LIMITES E REFERENCIAIS .......................................................... 13
1.2 AUTORIDADE NA ESCOLA ............................................................................ 15
2 A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA EM BOURDIEU ......................................................... 17
2.1 O CAPITAL ...................................................................................................... 20
2.2 O JULGAMENTO PROFESSORAL ................................................................. 22
2.3 O PODER SIMBÓLICO .................................................................................... 24
3 O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL EM MEIO A VIOLÊNCIA
SIMBÓLICA .............................................................................................................. 26
3.1 O PAPEL DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ................................................ 27
3.3 O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL EM MEIO A VIOLÊNCIA
SIMBÓLICA NECESSÁRIA E ESTRUTURANTE DE KUPFER E A PERVERSA DE
BOURDIEU ............................................................................................................ 28
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 36
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 38
6
INTRODUÇÃO
A escola de hoje virou cenário de violência. Não é a toa que a mesma tem
buscado auxílio junto á polícia para resolver seus conflitos. São inúmeros os casos
de vandalismo, depredação do patrimônio público, brigas e desrespeito dentro dos
ambientes de ensino. Diante desses acontecimentos, a gestão escolar tem buscado
maneiras de solucionar esses problemas e ter de volta a tão sonhada paz dentro das
instituições. Dentro da escola a pessoa responsável por mediar os conflitos e intervir
nos casos de violência é o orientador educacional, que busca, através de estratégias
planejadas, tornar o ambiente de ensino pacífico e produtivo, visando o sucesso dos
educandos.
No entanto, Bourdieu nos alerta para outra face da violência simbólica, que é
o abuso da autoridade da ação pedagógica. Segundo o autor, a escola tem usado
de seus poderes para impor a cultura das classes dominantes como legítima,
privilegiando aqueles que já nascem inseridos nessa cultura e menosprezando
aqueles que pertencem à outra cultura, que precisam despir-se de suas ideologias e
aceitar as impostas por essa nova cultura. Caso contrário, são excluídos e
ridicularizados, acabando sempre às margens da sociedade. Assim há também a
imposição de uma violência simbólica perversa que humilha e oprimi e que muitas
vezes traz consequências mais severas que a própria violência real.
A autora inicia com a ideia de que existe uma violência própria da educação.
Segundo a mesma, educar exige um esforço de humanização. Esse esforço é
chamado de violento, pois impõe a essas crianças e jovens certa força, ou seja, uma
regulação que faz com que estes sejam moldados pela cultura criada pela
sociedade. Essa impõe a forma como devem se comportar, a linguagem, a cultura,
bem como, as leis, impedindo assim que outras significações venham a se
manifestar. Não há escolha e não tem nada de natural como afirma Kupfer, porém
essa imposição não é arbitrária, pois aquele que a exerce também está submetido a
essa ordem. Trata-se de uma violência simbólica, que, ao impor a cultura e as
normas, impede que a criança desenvolva outras formas de interpretação para as
sensações que a cercam. No entanto, ao fazer isso, torna-se plausível a
possibilidade de tornar existentes e compartilhadas por um código comum as suas
necessidades e anseios.
Essa experiência pode ser vista como relatada por Kupfer, quando uma mãe
atribui ao choro da criança o sentido, que pode ser de fome, frio, dor ou outra
sensação, indo assim de encontro com a necessidade da criança que passa a
chorar sempre que a sente. Dessa forma, perde a chance de escolher, por exemplo,
outra forma de chamar esses movimentos peristálticos, mas ganha a chance de
torná-los existentes.
Nessa teoria, tem-se uma perspectiva muito importante, por entender que
mesmo sendo essa imposição violenta, incisiva e sem meias medidas, como fala
Kupfer, ela não é arbitrária. Isso por que aquele que a impõe, seja o adulto à criança
10
ou os professores aos alunos, também está submetido a ela, ao jogo simbólico, que
se expressa numa restrição a algo. Sendo assim, toda essa violência e imposição
não estão ligadas às vontades pessoais dos agentes que a impõe, mas sim no
registro da lei.
estende sobre a educação está aos pedações. Não se vê mais a antiga reverência
aos professores como se via antigamente. O professor está desvalorizado, não é
visto mais como o grande mestre, mas como o coitado do professor. Os jovens de
hoje não encontram sentido na escola e não conseguem situar o professor em uma
cadeia simbólica. O professor já não transmite mais a cultura de seus antepassados.
Ao contrário, carrega sobre si o peso de sustentar em nome próprio o conhecimento
construído ao longo dos séculos. Essa é uma tarefa muito difícil e quase impossível
de ser realizada.
É claro que no meio de tudo isto, surgem de maior ou menor escala, atos de
violência reais, talvez resultantes justamente de ordem simbólica. Alguns alunos,
além da troca de insultos, têm partido para os atos de agressão e depredação. Sem
nenhuma razão ou motivação específica, simplesmente partem para a agressão e
vandalismo. Kupfer faz uma comparação desses alunos com psicóticos, afirmando
que estas:
12
Outro exemplo dado pela autora e de grande contribuição para entender essa
busca pela violência simbólica pode ser vista nas periferias e em bairros
desprivilegiados. Nas periferias, os adolescentes muitas vezes instauram a lei do
tráfico, do crime, em uma busca desesperada de instaurar uma ordem para as suas
vidas uma regulação, mesmo que fracassada e que lhe cause sofrimento, que
substitua a autoridade falida da escola. Aí está presente mais uma vez no plano real
a busca pelo simbólico.
Em síntese a tudo que foi dito a cima, segundo a teoria de Kupfer, o jovem
agressor e depredador, não é apenas um reflexo das injustiças sociais, mas está
buscando no real recuperar pontos de identificação e de referências. A autora
remete ao fato de que na infância algumas marcas são inscritas nesses jovens e que
mais tarde na adolescência precisam ser reformuladas. Se caso não forem bem
formuladas, se na infância esses jovens não encontrarem no professor esses pontos
de referência que os ajudem a se constituírem, todos esses inscritos desde a
infância podem vir a se perder. Portanto, se o professor não oferecer a esses jovens
imagens ideais, pontos de referência e identificatórios, várias consequências virão à
tona. Ao não acreditar nas regras da sociedade, os jovens acabam deixando a
escola e caem na delinquência.
Por fim, talvez o termo aqui usado violência simbólica não caberia, por ser
essa tão necessária e estruturante. Mas se mantém para que se possa relacioná-lo
com a violência nos três níveis: o da violência real, imaginária, chegando, por fim, ao
simbólico, para que se consiga entender esses três eixos como norteadores de um
único pivô a violência. (KUPFER, 2007).
pais acerca dos bens que os faz comprarem. Para essas duas autoras, a sociedade
de hoje vive na era do “gozo”, onde quem decide o que gozar são às crianças.
A sociedade está dividida em classes e essas, por sua vez, se diferem uma
em relação à outra por meio de sua cultura. A classe dominante possui um sistema
cultural que se manifesta na linguagem, na vestimenta, na maneira de se comportar
e também nos valores. A classe dominada também possui o seu sistema cultural,
porém estes se diferem muito do sistema da classe dominante. Essas diferenças
culturais é o que mantém a separação entre as classes.
simbólica, pois impõe um poder arbitrário. Esta arbitrariedade se refere como tal,
pelo fato da cultura das classes dominantes ser imposta como cultura legítima e
oficial para todos, desconsiderando a cultura das classes dominadas. Já o nome
poder arbitrário é pela razão da sociedade estar dividida em classes. A ação
pedagógica através de suas práticas acaba por reproduzir a cultura dominante e a
sociedade de classes.
2.1 O CAPITAL
escola não tem transmitido o conhecimento da mesma forma para todos os alunos
como ela tem feito parecer. Para esse autor, os alunos que pertencem às classes
mais favorecidas, trazem de berço uma herança que ele denominou de capital
cultural. A cultura nada mais é do que os valores e significados que orientam e dão
personalidade a um grupo social. Segundo o mesmo a cultura que está dividida em
classes se transforma em uma moeda utilizada pelas classes dominantes para
estabelecer as diferenças.
Por essas razões o discurso que a escola faz de igualdade não se mostra
eficaz na prática. Assim ela não cobra dos mesmos os saberes ensinados tão
somente, mas cobra habilidades que são fáceis para uns e difíceis para outros que
não as conhece. Assim ela acentua as diferenças culturais e aqueles que não
possuem a cultura valorizada pela escola se enganam pensando que as dificuldades
enfrentadas por eles são faltas de inteligência. Da mesma forma, essa dominação
pode ser vista na seleção de certas disciplinas em detrimento de outras, mantendo
assim a dominação de uma classe sobre outra.
Para o autor, seu estudo comprovou que quanto mais baixa a origem social,
maiores foram os agravos nos qualificativos negativos, mais desprezo e repudio ao
classificar e até mesmo os elogios suavam de maneira hesitante. O contrário
aconteceu nas apreciações dos alunos oriundos das classes mais altas que
receberam os melhores qualificativos e honrosos elogios.
Bourdieu, em sua obra “O poder simbólico” (2008) retrata bem sobre o poder
que é exercido de maneira implícita na sociedade. Esse poder é ignorado por
aqueles que o estão sujeitos e também por aqueles que o praticam. Segundo o autor
o mesmo só pode ser exercido se houver a cumplicidade dos agentes envolvidos.
Esse é visto como algo normal, inevitável, portanto não é reconhecido como algo
ruim.
já que ela não é uma instituição isolada do mundo, mas sim uma parte ativa da
sociedade.
É claro que a violência simbólica, como nesse estudo foi visto em capítulos
anteriores, não possui um caráter apenas perverso. Kupfer demonstrou em sua
teoria a respeito da violência a necessidade de uma ordem de uma imposição, que
regule a vida das pessoas, sendo essa não arbitrária, pois não se trata de impor as
vontades pessoais, mas sim à lei, que segundo a psicanálise seria uma restrição ao
desejo materno, e o que a impõe está também submetido à mesma. Essa, segundo
a autora, é necessária e estruturante, indispensável para o bom desenvolvimento da
personalidade e sua falta à causadora da violência dita como real.
De acordo com a teoria de Kupfer, a violência deve ser encarada como uma
busca desesperada de restituição de pontos de identificação e da violência simbólica
que está em falta. Nessa perspectiva, o jovem depredador age de forma violenta por
não ter encontrado uma rede de sustentação simbólica que regule e de sentido a
sua vida. Cabe aos professores e ao orientador educacional trabalhar para que a
escola cumpra com seu papel na construção de redes simbólicas que sustentem
imagens ideais capazes de alcançar os jovens em suas necessidades enquanto
indivíduos desejantes. De acordo com a autora,
crime, para a delinquência, para a drogadição, pois através do mesmo eles buscam
instaurar, mesmo que de forma fracassada uma regulação para suas vidas, o
simbólico.
Assim, ao olhar para trás o aluno poderá perceber que a família é a base, o
alicerce e a escola a continuidade de sua formação enquanto sujeito, além de ser a
escola fator crucial para o sucesso ou fracasso. Nessa perspectiva, pode o educador
ser ensinante ou mutilante, de acordo com suas práticas, tendo papel determinante
na vida dos sujeitos.
vontade, mas foi conquistado, por meio de bons exemplos, pois, quem não se
encanta diante de bons referenciais, de belas atitudes, de aulas feitas com
entusiasmo e amor, com mais alegria.
Pode-se tomar como alicerce para unir essas duas teorias as palavras de que
o educador deve educar com suavidade e firmeza, com amor, mas com exigência.
Unindo assim a teoria de Kupfer e Bourdieu, sendo firme, impondo sim as normas,
as regras, mas com amor e ética, visando o bem maior que é o sucesso dos
educandos. Para isso, cabe à orientação educacional propiciar meios para que essa
educação justa e humanitária aconteça, zelando pelas boas relações no ambiente
escolar, de maneira a extinguir qualquer forma de exclusão e prepotência.
SCHMITZ (1997) nos remete para o papel que a orientação educacional tem
de trabalhar para a emancipação das classes populares, contrariando assim a
violência simbólica denunciada por Bourdieu. Para esta autora o orientador
34
CONCLUSÃO
Também vimos, de acordo com Bourdieu e Passeron, que a escola não tem
cumprido com o seu papel de libertadora e emancipadora. Para esses autores, a
escola tem sido um meio mascarado dê impor uma violência de nível simbólico que
acaba por reproduzir as desigualdades sociais. “Toda ação pedagógica é
objetivamente uma violência simbólica enquanto imposição, por um poder arbitrário,
de um arbitrário cultural” (BOURDIEU, 2008, p. 26).
REFERÊNCIAS
KUPFER, Maria Cristina Machado. Por uma vara de vidoeira simbólica. In: AQUINO,
Júlio Groppa. Autoridade e autonomia na escola: alternativas teóricas e
práticas. São Paulo: Summus, 1999.
OLIVEIRA, Eloíza da Silva Gomes de; Grispun, Mirian Paura Sabrosa, Zippin/
Princípios e Métodos da Supervisão e Orientação Educacional/Curitiba: IESDE Brasil
S.A. 2009.160 p.
PESCAROLO, Joyce Kelly. MORAES, Pedro Rodolfo Bodê de. A violência na escola e
o papel dos educadores. O ambiente escolar pode reforçar comportamentos violentos
originados em outros contextos ou dar condições para os alunos romperem com
esses padrões. . Revista Pátio. A escola enfrenta violência. São Paulo, n.68. Nov
2013.