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Universidade católica de Moçambique

Faculdade de Direito

Organização do Empresário Comercial

Nampula

2019
Universidade católica de Moçambique

Faculdade de Direito
Elementos do 4º Grupo:

Dara Mário Manuel

Divan Noel dos Santos

Eulalia de Fátima Amade Frace

Luana Mayza Emídio Francisco

Márcia Rufina Hermenegildo

Mónica William Victor

Sádia domingos Hilário Mucuagil

Tonicha Neusa Felisberto

Organização do Empresário Comercial

Este presente trabalho é de


carácter avaliativo leccionado
pelo Docente MA
Melquisedech Muapala da
cadeira de Direito Comercial do
4º ano turma única.

Nampula
2019
Lista de Abreviatura

CC.-Código Civil

C.Com- Código Comercial

CRM-Constituição da República de Moçambique


Índice
Introdução ......................................................................................................................... 1

Capítulo I: O Empresário Comercial ................................................................................ 2

1. Conceito Jurídico-mercantil Empresa ................................................................... 2

1.1. Noção de Empresário Comercial ....................................................................... 4

1.2. Empresário Comercial a Pessoa Singular: Requisitos ....................................... 5

1.8. Classificação das Empresas ............................................................................. 11

1.8.1. Extensão do conceito de empresa: as entidades públicas empresariais e as


entidades públicas ................................................................................................... 12

1.9. Figuras afins do empresário comercial .................................................................... 14

Capítulo II: Estabelecimento Comercial......................................................................... 17

2. Estabelecimento Comercial ................................................................................. 17

2.1. Conceito ....................................................................................................... 17

2.2. Elementos do Estabelecimento Comercial ...................................................... 18

2.2.1. Sinal Distintivo do Comércio .......................................................................... 20

2.3. Conceito de Firma ............................................................................................... 21

2.3.1. No Sentido Objectivo ............................................................................... 21

2.3.2. No Sentido Subjectivo .............................................................................. 21

2.3.3. Tipos de Firma .......................................................................................... 22

2.3.4. Princípios Relativos à Constituição da Firma........................................... 23

2.4. Garantias do Direito a Firma............................................................................ 25

2.5. Extinção do Direito a Firma ......................................................................... 26

2.5.1. Natureza Jurídica do Direito a Firma ........................................................... 27

2.6. Transmissão da Firma ...................................................................................... 27

2.8. Escrituração Mercantil ..................................................................................... 30

2.8.3. Forma de Escrituração .......................................................................................... 32


2.8.3.1. Registo Comercial.......................................................................................... 32

2.9. Nome e Insígnia de Estabelecimento ............................................................... 32

2.9.1. Constituição do Nome e Insígnia ................................................................. 33

2.10. Protecção do Nome e Insígnia ...................................................................... 35

2.11. Transmissão do Nome e Insígnia ................................................................. 36

2.11.1. Conceito: ...................................................................................................... 37

2.11.2. Carácter Facultativo do Uso da Marca ......................................................... 38

2.11.3. Constituição da Marca .................................................................................. 39

2.11.4. Propriedade da Marca: Registo .................................................................... 40

2.11.5. Transmissão das marcas ............................................................................... 41

2.11.6. Garantias da marca ....................................................................................... 41

2.11.7. Extinção do direito a marca .......................................................................... 41

2.11.8. Negócios Sobre o Estabelecimento Comercial ............................................ 42

2.11.9. Forma de Transpasse .................................................................................... 43

2.11.10. Locação do Estabelecimento Comercial................................................... 45

2.11.11. Regime Jurídico de Contrato de Locação e Usufruto ............................... 47

2.11.12. Penhora e Execução do Estabelecimento Comercial................................ 48

2.11.13. Execução do Estabelecimento Comercial ................................................ 49

Conclusão ....................................................................................................................... 51

Referências Bibliográficas .............................................................................................. 53


Introdução
Este presente trabalho visa abordar a temática da Organização do Empresário
Comercial, este que se constitui pela Empresa comercial e o Estabelecimento
Comercial.

No que concerne ao Empresário Comercial tal como referencia o Código


Comercial este não define o que é o empresário comercial, este limita-se somente a
indicar as categorias legais de empresário comercial, no sentido de que são empresários
comerciais, por um lado as pessoas singulares, também designadas por comerciantes em
nome individual, e por outro lado, as sociedades comerciais. Iremos debruçar também
acerca dos requisitos atinentes ao empresário comercial. Respectivamente ao
Estabelecimento Comercial compete dizer que o estabelecimento comercial trata de um
conjunto de bens ligados a um destino comum de constituir um instrumento de exercício
da actividade empresarial.

No que tange ao objectivo geral do trabalho este terá como foco elucidar e
desenvolver todas as componentes que envolvem a Empresa Comercial e o
Estabelecimento Comercial.

Esta abordagem tem como objectivos específicos descurar acerca das acepções
da empresa comercial, os elementos da empresa comercial bem como a classificação da
empresa comercial. Entretanto terá como enfoque o destaque da noção do
estabelecimento comercial, os elementos do estabelecimento comercial que são eles a
firma, nome e insígnia e marcas, sem deixar de mencionar os negócios sobre o
estabelecimento comercial e por fim a penhora e execução do estabelecimento
comercial.

Justifica-se o presente tema mediante a importância que desempenha na


sociedade, visto tratar-se de um tema que suscita inúmeros estudos por parte de
Doutrinadores e ao nível das Legislações que ao passar do tempo sofrem uma
mutabilidade ganhando assim um dinamismo, para espelhar aquilo que são as
expectativas e realidade da sociedade civil.

Para a realização do presente trabalho optamos pelo uso da metodologia de


pesquisa científica e bibliográfica em manuais e recorremos também deste modo as
legislações.
Capítulo I: O Empresário Comercial
1. Conceito Jurídico-mercantil Empresa
O Direito Comercial tem vido em vindo a reconstruir-se ou redefinir-se em tomo do
conceito de empresa.
Através deste regresso ao subjectivismo, tem sido possível à doutrina sustentar a
autonomia e a homogeneidade do núcleo fundamental de matérias do nosso ramo de
direito, centrado já não tanto na pessoa do comerciante, mas sim na organização por ele
erigida para o desenvolvimento do seu tráfico mercantil.
Trata-se,porém, de um evolução que está longe de poder considerar-se concluída
desde logo.
Porque o próprio conceito de empresa não se acha perfeitamente adquirido para o
Direito. Desde logo, como vimos, já no C.Com. de 1888 o art. 230° acolheu o conceito
de empresa como antes o fizera já o Código francês de 1807.
Só que, nessa época, o conceito de empresa era bem diferente do moderno, na
linguagem corrente.
Consideravam-se empresas, as actividades produtivas, como a indústria e os serviços,
baseadas no trabalho (por contraposição ao comércio, que era considerado UMA

actividade de especulação sobre o risco)1.


Contudo não se pode afirmar que mesmo no âmbito restrito do direito mercantil, o
termo empresa seja usado mesmo sentido. Diversamente, podemos surpreender quatro
(4) acepções distintas em que a lei e a doutrina o têm vindo a empregar:
 Empresa como Sujeito ou Agente Jurídico
Numerosos textos referem-se a empresa sob o perfil da pessoa que exerce uma
actividade económica de produção ou distribuição de bens ou serviços reduzindo-a,
portanto á própria, pessoa do empresário que organiza e conduz a actividade,
suportando o próprio risco. Aliás a única nota distintiva da empresa nestaacepção, em
relaçaoempresário.
Poderá detectar-se na ideia de que o suporte real do risco não é o empresário, mas
sim o património que ele integra na unidade empresarial
Note-se que o sentido subjectivo comporta uma acepção restrita em que a empresa
se reconduz á pessoa ou pessoas que organizam e dirigem na actividade e uma acepção

1
CORRREIA, Manuel A, Pupo, Direito Comercial Direito da Empresa, 12ªEdicao, Revista Actualizada,
Ediforum,2011, Pág. 42.
2
ampla para a qual a empresa abrange um conjunto de pessoas, um elemento humano,
comportando não só os empresários.
Mas também os seus colaboradores, designadamente os trabalhadores que lhe
prestam a sua colaboração em ordem ao desenvolvimento da actividade empresarial.
Certos autores como JOSI IAVAKI S entendiam num sentido subjectivo a palavra
"empresas " utilizada no corpo do art. 210" do C.Com. podendo também considerar-se
nesse sentido o seu uso na L. n" 4/73 (agrupamentos complementares de empresas).
 Empresa como Actividade
O termo empresa é, por vezes, também usado para significar a actividadc económica
exercida pelo empresário de forma profissional e organizada, em vista à realização de
fins de produção ou troca de bens e serviços.
É o sentido que ressalta do art. 2082° do CC italiano de 1942. É empresário o que
exerce profissionalmente a actividade económica organizada com o intuito de
produzirbens e serviços.
Aliás, também neste sentido se pode dizer como - que süo empresas (comerciais) as
actividades referidas no corpo do art. 230° do C.Com. c que embora empresas, não terão
qualificação de comerciais.
Mas. Como já fizemos notar, o art. 230º não circunscreve estritamente as actividades
abrangidas materialmente pelo direito comercial. A criatividade e expansionismo
caracterizadores das economias capitalistas, principais catalizadores da evolução
económica das sociedades Hodiernas, têm levado a ampliar a esfera primitiva2.
 Empresa como Objecto
Trata-se, neste sentido, da organização do conjunto de factores de produção e outros
elementos congregado pelo empresário com vista ao exercício da sua actividade.
Equivale à principal acepção da palavra estabelecimento por ventura a mais expressiva
da realidade jurídica deste. E neste sentido que dizemos empresa e estabelecimento são
sinónimos.
 Empresa como Conjunto activo de elementos
Este é o sentido dinâmico do termo empresa, que vê nela a expressão de um circulo de
actividade regido pela pessoa do empresário, fazendo apelo aos factores e elementos de
natureza heterogénea, actuando sobre um património de coisas e direitos dando origem

2
CORRREIA, Manuel A, Pupo, Direito Comercial Direito da Empresa, 12ªEdicao, Revista Actualizada,
EDIFORUM, 2011, Pág. 43.
3
a relações jurídicas, económicas e sociais, polarizados numa organização apta a
desenvolver uma actividade económica.
É o sentido mais amplo e compreensivo da empresa, que a reconduz a uma instituição
de carácter basicamente económico, mas também social, um organismo vivo polarizador
da criação da riqueza, mas também de emprego e até de cultura.
Note-se que, no âmbito do direito mercantil, esta concepção aparece mais restrita, de
traços mais singelamente circunscritos às relações jurídicas que concentra. Só uma
"colagem" de elementos conceituais, trazidos também dos outros ramos de direito que
lhe dão guarida, é que fazem surgir a plena significação institucional da empresa3.
1.1. Noção de Empresário Comercial
Antigamente o empresário era considerado como sendo aquele que prestava
determinados bens ou serviços usando como principal factor produtivo o trabalho de
outrem.
Esta é, pois, uma noção restritiva, que não abrange as organizações produtivas
dedicadas ao comércio stricto sensu, embora o seu emprego nos códigos comerciais
objectivistas tivesse o intuito de submeter os respectivos titulares ao estatuto jurídico
dos comerciantes, a par dos comerciantes tradicionais, intermediários nas trocas4.
Actualmente o código comercial não fornece, noção de empresário comercial
límitando-se, porém, no art. 2° C.com a indicar as categorias legais de empresário
comercial no sentido de que são empresários comerciais por um lado, as pessoas
singulares, também designadas por comerciantes em nome individual, e por outro lado,
as sociedades comerciais. Relativamente as pessoas colectivas, elas obedecem ao
principio da especialidade, isto é, há condições específicas para tal qualificação. É um
assunto que analisaremos mais adiante em relação as sociedades comerciais.
Podemos assim, definir empresário comercial, como sendo aquele que
enquadrando-se numa das categorias do art. 2o C.com, seja titular de uma empresa
que exerça unia das actividades comerciais tais como as qualificam o art. 3°e as
demais disposições avulsas que caracterizam e englobam no direito comercial
certas actividades económicas.
A categoria de empresário comercial, não é transmissível entre vivos e nem mortis

3
CORRREIA, Manuel A, Pupo, Direito Comercial Direito da Empresa, 12ªEdicao, Revista Actualizada,
EDIFORUM, 2011, Pág. 44.
4
CORRREIA, Manuel A, Pupo, Direito Comercial Direito da Empresa, 12ªEdicao, Revista Actualizada,
EDIFORUM, 2011, Pág. 42.
4
causa, na medida em que ele exige em si u reunião de certos requisitos. Requisitos
estes associados a pessoa do empresário comercial que a seguir indicamos5.
1.2. Empresário Comercial a Pessoa Singular: Requisitos
Em relação â personalidade jurídica, não há qualquer especificidade em relação ao
direito civil. A personalidade jurídica adquire-se com nascimento completo e com vida
nos termos do n° 1 do art. 66° do CC.
Em relação à capacidade comercial, que é a medida dos direitos e obrigações de
que uma pessoa é susceptível de ser sujeito, destingue-se entre a capacidade de
exercício e capacidade de gozo. No que se refere aos menores, é menor todapessoa de
um ou outro sexo enquantonãoperfizer vinte e um anos de idade e, em princípio
estariam ferridosde incapacidade de exercício profissional da actividade empresarial
por força do princípio da equivalência consagrado no art. 9o do Ccom, Contudo o art.
10o, vem estabelecer algumas excepções e nestes termos, o menor de vinte e um anos
e maior de dezoito anos pode exercer a actividade empresarial, desde que devidamente
autorizado.
Esta autorização pode ser dada pelos pais, desde que detenham a guarda do menor.
Sucede que, se os pais não exercem a guarda do menor por força de decisão judicial ou
outro qualquer impedimento, não tem poderes de autorizar o menor para a prática da
actividade empresarial.
Pelo tutor nos termos estabelcidos na lei civil e pelo juiz na falta dos pais ou do
tutor, ou quando entender conveniente e oportuno aos interesses do menor.
Assim, equivale dizer que, o juiz pode por decisão a favor dos interesses do menor
autorizar a este a prática da actividade empresarial mesmo que sem anuência dos seus
pais ou tutores.
A lei comercial impõe que tal autorização para o exercício da actividade
empresarial seja outorgada por escrito, podendo tal instrumento limitar os poderes do
menor ou impor condições para o seu exercício23, indicar o ramo da actividade a ser
explorado pelo menor, fixar prazo de validade da autorização e, mesmo quando
concedida por tempo determinado, pode ser revogada, a qualquer altura, pelo
outorgante, salvaguardados os direitos adquiridos de terceiros. Impõe igualmente o

5
JUNIOR, Manuel, Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora,
Maputo, 2013, Pág. 55.
5
legislador que esta autorização seja registada para que seja válida perante terceiros6.

1.3. A Situação Particular dos Incapazes


O art. 9ºdo C.com. ao exigir a capacidade para a pratica de actos de comércio
pretende referir-se a capacidade jurídica de exercício de direitos, tanto mais que alude
implicitamente o carácter profissional do comércio o que pressupõe uma pratica
habitual de actos geradores mediadores ou extintivos de direitos e obrigações, donde
resulta que, não pode conceber-se, o exercício da profissão de empresário comercial por
um incapaz, aliás o próprio conceito de profissão e no caso a circunstância dele se
traduzir numa continua e habitual prática de actos e negócios Jurídicos, sendo portanto
absorvente e responsabilizante afigurando-se incompatível com a situação jurídica de
incapacidade por interdição por exemplo.
A inclusão dos interditos no art. 9º C.com, deve entender-se cungrano salis,
quanto ao exercício profissional do comércio considera-se que tal prática será a
prática habitual de actos de comércio, não directa e pessoalmente pelos incapazes,
mas pelos seus representantes, em nome e por conta daqueles, com necessária
autorização judicial a luz do art. 296o da lei n. º10/2004 de 25 de Agosto.
A profissão de comerciante, pressupõe a concretização dos actos de comércio,
mas não qualquer prática, deve ser a prática profissional, isto é, o exercício de uma
empresa comercial;
No entanto, não basta a prática de actos de comércio isolados ou ocasionais para
se adquirir a qualidade de comerciante é necessária a prática regular, habitual,
sistemática dos actos de comércio;
Não basta por outro lado, a prática mesmo que habitual, de quaisquer actos de
comércio, no sentido de que nem todos os actos têm a mesma potencialidade de atribuir
a quem os pratique a qualidade de empresário comercial;
É indispensável para que se fale de profissional idade que o indivíduo pratique os
actos de comércio como seu modus vivendi, faça do comércio o seu dia-a-dia e a forma
de viver7 O exercício profissional deve ser de modo pessoal, independente e autónomo,
isto é, em nome próprio sem subordinação de outrem.

6
JUNIOR, Manuel, Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora,
Maputo, 2013, Pág. 56.
7
JUNIOR, Manuel, Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora,
Maputo,2013, Pág. 57.
6
É necessário que se organizem factores de produção com vista a criar actividades
económicas, resultantes de uma daquela subtilidade económica que as leis consideram
como comerceiam.
Em jeito de conclusão, é empresário comercial, quem possui exerceu ma empresa
comercial, que é titular, de uma organização daquelas que a lei qualifica como empresa
comercial para através dela exercer uma actividade empresarial de forma profissional.
A plena capacidade comercial ai de deperder de uma pessoa singular ou colectiva,
terá capacidade civil em ao estar abrangida por alguma norma, que esta dele uma
restrição ao exercício do comercio8.
O exercício profissional deve ser de modo pessoal, independente o autónomo, isto é, em
nome próprio sem subordinação de outrem.
É necessário que se organizem factores de produção com vista a criar utilidades
económicas, resultantes de uma daquelas utilidades económica que a lei considera como
comerciais.
Em jeito de conclusão, é empresário comercial, quem possui e exerce uma empresa
comercial, quem é titular de uma organização daquelas que a lei qualifica como empresa
comercial para através dela exercer uma actividade empresarial de forma profissional.
A plena capacidade comercial há-de depender de uma pessoa singular ou colectiva,
ter a capacidade civil e não estar abrangida por alguma norma, que estabeleça uma
restrição ao exercício do comércio9.
1.4. Restrições ou Proibições ao Exercício da Profissão de Empresário
Comercial
Embora o exercício da actividade empresarial seja livre bastando o
preenchimento dos requisitos gerais anunciados anteriormente, existem
situações que há limitação do exercício profissional do comércio. Tais situações
podem se consubstanciar em proibições legais e impedimentos. Inibições e
incompatibilidades.
1.5. Impedimentos e Proibições Legais ao Exercício do Comércio
Os impedimentos consubstanciam as situações em que determinado sujeito ainda
que civilmente capaz está vedado por lei para a prática de actos de comércio de forma

8
JUNIOR, Manuel, Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora,
Maputo, 2013, Pág. 58.
9
JUNIOR, Manuel, Guilherme, Manual de Direito Comercial Mocambicano,Vol.1, Escolar Editora,
Maputo, 2013, Pág.58.
7
profissional. Nesta situação, estão por exemplo, os administradores das sociedades por
quotas.
Nos termos do art. 324o do C.com, os administradores não podem, sem o
consentimento expresso dos sócios exercer, por conta própria ou alheia, actividade
abrangida no objecto social da sociedade, desde que esteja a ser exercida por ela ou o
seu exercício tenha sido objecto de deliberação dos sócios.
Equivale dizer que, há protecção da concorrência e na nossa opinião, da
concorrência desleal que resultaria do exercício do comércio no mesmo ramo de
actividade ou objecto comercial pelo administrador.
O administrador nos termos deste artigo só poderá exercer a actividade nos termos
anteriormente ditos se consentirem os sócios da sociedade onde ele é administrador.
Esta limitação faz todo o sentido na medida em que recai em gerais sobre os
administradores o dever de diligência.
A questão que se pode colocar é a de saber se tal consentimento terá de rir de todos
os sócios ou se basta a vontade da maioria.
Entendemos que tal consentimento terá de ser expresso e resultará de deliberação
dos sócios seguindo as regras da maioria estabelecidas para cada tipo societário ou
resulte do estatuto da sociedade.
Por fim, importa anotar que este impedimento que recai sobre os administradores é
parcial e não geral na medida em que só se aplica ao ramo de actividade ou objecto
igual ou coincidente com o da sociedade. Equivale dizer que, o administrador não está
impedido no seu todo de exercer actividades comerciais10.
Outro impedimento resulta do art. 14o do C.com nos termos do qual, estão
impedidos do exercício da actividade empresarial:
a) as pessoas colectivas que não tenham por objecto interesses materiais.
b) Os Impedidos por Lei Especial.
Relativamente ao primeiro aspecto, encontra a sua essência na natureza do próprio
direito comercial e das suas normas que se associam ao exercício de uma actividade
lucrativa. O que a lei impede, como escrevemos noutro lugar, não é a prática de actos de
comércio, mas sim, do exercício profissional da actividade comercial e a aquisição da
qualidade de empresário comercial.

10
JUNIOR, Manuel, Guilherme, Manual de Direito Comercial Mocambicano,Vol.1, Escolar Editora,
Maputo, 2013, Pág.58.

8
Veja-se por exemplo, a fundação para o desenvolvimento da comunidade (FDC),
desenvolve uma série de acções beneméritas e até tira dinheiro para várias actividades
mas não o faz com vista a lucrar, ou seja, uma empresa de facturação de lucros embora
possa em certas circunstâncias vender um bem de sua pertença. O que irá acontecer é
que esse acto será regulado pela lei comercial, mas, no entanto, a FDC não será por isso
considerada empresário comercial.
A par dos impedimentos há aquilo que ousamos chamar proibições legais com o
intuito apenas de diferenciar aqueles actos que são limitados a certa categoria de
sujeitos e por isso, exclusivos a eles. A título de exemplo, o comércio bancário está
reservado apenas as instituições de crédito por força da Lei n° 15/99 de 1 de Novembro
com as alterações introduzidas pela Lei n° 9/2004 de 21 de Julho. Estabelece o n° 1 do
art. 7° da referida lei que só as instituições de crédito podem exercer a actividade de
recepção, do público, de depósitos ou outros fundos reembolsáveis, para utilização por
conta própria.
Para o efeito, só pode ser praticado por sociedades anónimas com certos
condicionalismos em termos de capitais a investir e com necessidade de intervenção do
Banco de Moçambique quer para autorização quer para fiscalização ou supervisão.
Resulta disto que, aquele que não tiver compreendido nas categorias legais para a
prática destes actos, não pode fazê-lo e uma vez praticados irá consubstanciar o crime
de exercício ilegal de profissão titulada previsto e punido pelo parágrafo 2° do art. 236 o
da CP11.
1.6. Incompatibilidades
A noção dei incompatibilidade está associada a impossibilidade de certo sujeito em
função da posição determinada que ocupa, estar impedido de praticar certos actos ou
negócios. Não quer significar que ele não tenha capacidade e muito menos a
possibilidade física de o fazer. Tem é a, impossibilidade de o fazer por força da posição
que ocupa nesse dado momento podendo cessar se tal posição deixar de existir
relativamente, a pessoa que recai a proibição.
Nesta situação estão os magistrados que por força da Constituição do modo geral e
do seu estatuto não podem ser simultaneamente magistrados e empresários comerciais.
Estabelece o art. 219oda CRM. que "os Magistrados Judiciais e do Ministério

11
JUNIOR, Manuel, Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora,
Maputo, 2013, Pág. 58-61.
9
público em exercício, não podem desempenhar quaisquer outras funções públicas ou
privadas, excepto a actividade de docente ou de investigação jurídica ou outra de
divulgação e publicação científica-literária artística e técnica, mediante prévia
autorização do conselho Superior de Magistratura Judicial.

Ao referir este artigo a situação dos magistrados do Ministério Público de forma


expressa, não quer significar na nossa opinião que eles estão isentos desta proibição.

Na verdade, nos termos do art. 109° da Lei nº 22/2007 de 1 de Agosto com as


alterações introduzidas pela Lei n° 14/2012 de 8 de Fevereiro o exercício das funções de
magistrado do ministério público é incompatível como o desempenho de qualquer outra
função pública ou privada salvo a actividade de docência literária ou investigação
científica mediante a autorização do conselho superior da magistratura do ministério
público
Este comando legal vem concretizar e conformar -se com o disposto no n° 2 do art.
234o da CRM nos termos do qual, os magistrados do Ministério Público para além dos
deveres de legalidade, isenção, devem se conformar com as directivas e ordens previstas
na LEI.
Outra coisa, são as inibições que atingem selectividade certas pessoas por questões
de natureza pessoal. É o que acontece com os falidos.

Outra incompatibilidade é a que se encontra consagrada no art. 324° do C.com relativa


ao dever de não concorrência dos administradores das sociedades por quotas12.
1.7. A Situação dos Cônjuges
O exercício da actividadc de empresário comercial é livre em regra. Tal liberdade,
não se encontra como acontecia no passado, limitada a mulher que carecia de
autorização do marido. O artigo 35o da CRM, estabelece que “todos os cidadãos são
iguais perante a lei, e gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres,
independentemente do sexo...". o art. 36o da CRM. vem a estabelecer o princípio da
igualdade entre o homem e a mulher.
O C.com veio concretizar esse princípio estabelecendo o outro n° 1 do art. 11º do
C.com. o princípio da independência de qualquer dos cônjuges poder praticar a
actividade empresarial independentemente da autorização do outro cônjuge.

12
JUNIOR, Manuel, Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora,
Maputo, 2013, Pág. 61-62.
10
No entanto, há limites relativamente aos actos que compreendem o exercício da
empresa comercial que possa afectar o património comum, do casal isto quer dizer
que, o cônjuge que se sentir prejudicado pelos actos praticados por outro cônjuge no
exercício da empresa comercial pode usar os mecanismoslegaispara opor-se contra os
mesmos.
Quando, o cônjuge empresário comercial pretender prestar garantias tais como o
aval ou outras, deverá obter anuência expressa do outro cônjuge sob pena de nulidade
do acto praticado. Exceptuando-se os bens pessoais.
A existência de bens pessoais, só ê possível se o casamento tiver sido em regime de
separação de bens ou de comunhão de bens adquiridos, parece-nos não fazer sentido a
aplicação desta disposição quando se trate de comunhão geral de bens a menos que se
tratem de bens incomunicável independente do regime de casamento adoptado pelos
cônjuges.
Havendo separação de pessoas e bens nos termos dos artigos 176o e seguintes da Lei
da Família ou ainda havendo apenas a separação de bens, o cônjuge empresário
comercial que tiver contraído obrigações no âmbito do exercício da sua empresa
comercial, irá responder pelo seu património não dotal cabendo-lhe inclusive a
possibilidade de empenhá-los, vendê-los, hipotecá-los ou aliená-los sem dependência de
autorização do outro cônjuge.
Tais liames previstos por lei, não terão igual valor se os cônjuges por exemplo,
constituírem conjuntamente e como sócios, uma sociedade por quotas de
responsabilidade limitada nos termos do art. 284o do C.com.
É que, a ideia de protecção do património do sócio não empresário comercial cai
por terra na medida em que haverá entre eles um novo ente que é a sociedade por quotas
a qual se aplicará o regime consagrado para o efeito. Por isso, não fará qualquer sentido
a discussão deste assunto13.

1.8. Classificação das Empresas

As empresas classificam-se, por vezes, segundo o seu objecto económico: as


espécies mais frequentemente aludidas são, atendendo a este critério, as empresas
agrícolas (as organizações produtivas dos agricultores, as empresas comerciais (que em

13
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora,
Maputo, 2013, Pág. 62-63.
11
sentido lato, abrangem todas as que desempenham uma das actividades qualificadas na
lei como comercias; e, em sentido restrito, apenas as que se dedicam ao comercio em
sentido económico, pois no ponto de vista jurídico-privado estão quase na totalidade
abrangidas no sentido lacto e jurídico da classe empresas comerciais).

Tendo em conta a dimensão das empresas, estas aparecem, com grande


frequência, classificadas em pequenas, médias e grandes empresas. Deve notar-se que,
embora se trate da classificação da qual dimanam consequências muito significativas,
mormente em direito administrativo-económico e direito fiscal, ela reveste um carácter
marcadamente empírico, pois não há critério de medida uniforme, sendo frequente
surgirem normas definidoras do que são pequenas, medias e grandes empresas, para este
ou para aquele efeito14.

De mencionar, que o art. 34º do nº 1, Cod. do Trabalho, classifica as empresas


em pequena empresa (até 10 trabalhadores), media empresa (a que emprega mais de 10
até ao máximo de 100 trabalhadores), e grande empresa ( a que emprega mais de 100
trabalhadores)15.

1.8.1. Extensão do conceito de empresa: as entidades públicas empresariais e


as entidades públicas

O intervencionismo do Estado na via económica teve sobretudo como


significado e consequência a transformação do papel clássico do «Estado-Polícia» da
época liberal que se limitava a controlar passivamente as actividades económicas e se
abstinha de actuar como agente económico a fim de evitar falsear as regras do livre
mercado -, no «Estado-Providencia» (Welfare State) que, sobretudo a partir da 1ª
Guerra Mundial, assumiu progressivamente o papel de motor do desenvolvimento
social, adoptando um variado conjunto de estruturas e métodos de actuação (a chamada
«Administração Económica e Social») na mira de conduzir ou mesmo dominar os
ramos fundamentais da economia, ou, quando menos, de suprir as insuficiências da
iniciativa privada.

14
CORREIA, Miguel J.A. Pupo, Direito Comercial, Direito da Empresa, 12ª edição, Revista e
Actualizada, EDIFORUM, Lisboa, Setembro, 2011, Pág. 46.
15
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei nº 23/2007, de 1 de Agosto, 1ª edição, Minerva press, 2016.
12
No contexto deste fenómeno, que atravessa todo o restante do séc. XX e do qual
inda subsistem marcas significativas nos ordenamentos político-económicos do nosso
tempo, surgiram diversos tipos de soluções institucionais através das quais o Estado e
outros Poderes Públicos, assumiram a exploração directa de actividades económicas ou
através delas se associaram a agentes económicos privados.

Surgem, assim, organismos administrativos empresariais, integrados na


Administração Central ou Autárquica ou personalizados sob a forma de institutos
públicos, exemplo, as administrações dos portos, os serviços municipalizados, com
estruturas e objectivos empresariais, por visarem a produção e fornecimento a terceiros
de bens ou serviços. Surgem, também, as sociedades de economia mista, sociedades
comerciais nas quais o Estado ou outros organismos públicos assumem participações
sociais em parceria com investidores privados.

E, numa fase de evolução posterior, o Estado e as autarquias avançaram para a


titularidade directa das denominadas empresas publicas, com estrutura comercial e
tendo por objecto a produção de bens e/ou a prestação de serviços de carácter
económico, participando no mercado em paridade com os empresários privados. A
distinção primordial entre estas empresas publicas e as suas congéneres privadas – com
as quais frequentemente competiam e competem nos mesmos mercados – residia no
plano do fim que, para as empresas privadas, se entende consistir unicamente na
obtenção de lucros, ao passo que para as empresas publicas reside – ao menos
teoricamente – na primordial prossecução de objectivos de interesse publico colectivo,
só secundariamente visando a obtenção de lucros16.

A onda de nacionalizações efectuadas em 1975 deu origem à conversão em


empresas públicas de numerosas empresas privadas, em sectores fundamentais, como a
EDM, transportes e comunicações, muitas das quais vieram mais tarde a ser
reprivatizadas.

1) Empresas públicas em sentido lacto, que por sua vez são de duas espécies:
a) Empresas públicas em sentido restrito: sociedades constituídas nos termos da
lei comercial (sociedades comerciais ou civis em forma comercial) nas quais o

16
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei nº 23/2007, de 1 de Agosto, 1ª edição, Minerva press, 2016.

13
Estado ou outras entidades públicas estaduais possam exercer – isolada ou
conjuntamente e directa ou indirectamente – uma influência dominante, mercê
de uma das seguintes circunstâncias: detenção da maioria do capital ou dos
direitos de voto, direito de designar ou destituir a maioria dos membros dos
órgãos de administração ou de fiscalização.
b) Entidades públicas empresariais: pessoas colectivas de direito publico, com
natureza empresarial – ou seja, que tenham por objecto o exercício de
actividades económicas, nomeadamente de produção e/ou comercialização de
bens ou de prestação de serviço – criadas pelo Estado.

2) Empresas participadas, que são as organizações empresariais (máxime, as


sociedades comerciais), em que o Estado ou outras entidades públicas estaduais, de
carácter administrativo ou empresarial detenham, de forma directa ou indirecta, uma
participação permanente, que não confira ao conjunto das participações publicas
uma influencia dominante17.

1.9. Figuras afins do empresário comercial

1.9.1. Mandatário Comercial


O mandato comercial traduz-se na prática de um ou vários actos de comércio
realizados pelo mandatário e que produzem uma série de efeitos jurídicos na esfera
jurídica do mandante. É sempre oneroso.

O mandatário não é empresário comercial embora pratique actos a titulo


profissional, pois apenas os faz em representação do mandante.

O mandante comercial difere do mandato civil que nos termos do art. 1158º do Código
Civil presume-se gratuito excepto se o seu exercício corresponder a actos de profissão,
caso em que há lugar a presunção da sua onerosidade.

O mandante comercial é sempre oneroso. 18

17
CORREIA, Miguel J.A. Pupo, Direito Comercial, Direito da Empresa, 12ª Edição, Revista e
Actualizada, EDIFORUM, Edições Jurídicas, Lisboa, Setembro, 2011, Pág. .48.
18
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora,
Pág. 64.
14
1.9.2. Gerente
É aquele que em nome e por conta de um empresário trata do comércio no lugar
onde este empresário comercial tenha ou o peça para actuar, ou seja, aquele que sobre
qualquer outra designação de acordo com os usos comerciais, se coloca na situação de
tratar do comércio de outrem no lugar onde o empresário exerce a empresa ou em
qualquer outro lugar.

O gerente tem o poder de representação mas este é um poder geral, compreende


todos os actos pertencentes e necessários ao exercício do comércio que para tal tenha
sido atribuído. A intervenção do gerente é uma intervenção acessória relativamente a do
empresário comercial. Não é empresário comercial. Nos termos do nº 1 do art.166º
C.Com, é-lhe aplicável relativamente a responsabilidade, mutatis mutandi, o regime
aplicável aos titulares dos órgãos sociais da sociedade por exemplo, aos
administradores. Os seus actos repercutem-se na esfera jurídica do empresário
comercial.

Entende-se que para tal facto se deve à maior ligação que este, assume para com
a sociedade e/ou com os actos relativos ao exercício do comercio no seu dia-a-dia.19

1.9.3. Comissário
Trata-se de uma espécie de mandato sem representação. Em termos gerais, dá-se
por comissão quando a pessoa executa um mandato comercial sem menção alguma do
mandante (empresário comercial). Na verdade, há aqui uma vinculação do comissário
que acontece em virtude de ter havido um acordo entre o comissário e o comitente que
neste caso é o empresário comercial.

O comissário tem alguma autonomia mas, antes caso é o empresário comercial. O


comissário tem alguma autonomia mas, não pode ter iniciativa individual. A sua
iniciativa deve resultar e resulta da sua vinculação com o comitente.

É preciso anotar que quando o comissário vai actuar relacionando com terceiros
no restarão duvidas de que ele prática actos de comercio más, tal só em consequência da
vinculação que ele tem como o empresário comercial. Assim, prática actos de comercio
em representação de outrem numa situação de mandato de representação.

19
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora,
Pág. 64.

15
Há, quanto a nos, e em conformidade com a posição defendida pelo Professor
Luís Teles de Menezes Leitão e, fortemente consagrada pela nossa lei civil, a
consagração da teoria da dupla transferência. Assim, quando os art.1180º do CC, ao
referir que se o mandatário agir em nome próprio adquire os direitos e assume as
obrigações resultantes dos negócios que celebra, os efeitos dos negócios não se
repercutem assim directamente na esfera do mandante, mas antes na esfera do
mandatário, de onde terão de ser posteriormente transferidos para o mandante.

Adoptando a teoria da dupla transferência, o nº 1 do art.1181º do CC, vem


estabelecer uma obrigação para o mandatário de transferir para o mandante os direitos
adquiridos em execução do mandato.

Assim, o comissário tem o dever de transferir par o empresário comercial os


direitos adquiridos na pratica dos actos de comercio em nome do empresário
comercial20.

1.9.4. O mediador
Se atentarmos ao que escrevemos anteriormente as figuras de mandatário,
gerente e comissário podemos facilmente concluir que estas figuras se encontram
associadas à pessoa do empresário comercial.

O mediador é autónomo deste e em principio não se pode assumir que ele prática
actos jurídicos na terminologia rigorosa de Mota Pinto.

Para o professor Mota Pinto, os actos jurídicos simples são factos voluntários
cujos efeitos se produzem, mesmo que não tenha sido previstos ou queridos pelos seus
autores, embora muitas vezes haja concordância entre a vontade de produção dos efeitos
correspondentes ao tipo de simples acto jurídico em causa para essa eficácia se
desencadear.

É de facto o que sucede com o mediador. Na verdade, ele age no interesse de


aproximar as partes para que o negocio se concretize. No entanto, a sua concretização
embora ele actue com essa intenção, muitas das vezes, não depende dele a sua
efectivação. O mediador no contrato de compra e venda por exemplo, aproxima o
comprador do vendedor sem que ele outorgue o tal contrato de compra e venda ao

20
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora,
Pag.65-66.
16
contrario do mandatário comercial que poderá outorgar o contrato em representação do
mandante. Limita-se a criar as condições para que o contrato seja celebrado se as partes
aproximadas assim o entender e o seu papel termina com a aproximação das partes.

O art.230º do Ccom de 1888, fazia referência a actividade de mediação mesmo


assim entendia-se que era uma mediação em sentido técnico muito próximo da noção de
agência.

Nessa medida, porque o mediador limita-se a aproximar as partes sem a pratica


de qualquer acto jurídico naquele sentido do professor Mota Pint, com o qua
concordamos, ele não pode ser classificado como empresário comercial21.

Capítulo II: Estabelecimento Comercial


2. Estabelecimento Comercial
2.1.Conceito

Estabelecimento comercial é o conjunto de bens que o empresário reúne para


exploração da sua actividade Económica, correspondendo este conceito o disposto no
art.º 69º do código comercial, ora a lei comercial protege o estabelecimento comercial
como uma unidade dos elementos constitutivos da actividade comercial representados
pelo capital do trabalho, valorizados pela organização, a fim de que o empresário
comercial possa exercer, com eficiência, a sua actividade.

O estabelecimento comercial trata de um conjunto de bens ligados a um destino


comum de constituir um instrumento de exercício da actividade empresarial.22

O estabelecimento comercial vem a significar o mesmo que o complexo da


organização comercial do comerciante, do seu negócio em movimento ou apto para
entrar em movimento. Tal organização versa, antes de mais, sobre um conjunto de bens
de variada natureza: coisas corpóreas, móveis e imóvel dinheiro, títulos de crédito,
mercadorias, máquinas mobiliários, prédios e incorpóreas ou imateriais. Patentes de
invenção, modelos e desenhos industriais, marcas, nome insígnia do estabelecimento, a

21
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora,
Pag.66-67.
22
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Escolar Editora, Vol. I,
Maputo,2013, Pág. 83-84.
17
própria firma, os próprios direitos ou relações jurídica, como instrumento do exercício
do comércio.23

Estabelecimento comercial é a organização do comércio mercantil, o conjunto de


elementos reunidos e organizados pelo empresário, para através dele exercer a sua
actividade comercial, de produção ou de circulação de bens ou prestação de serviços.

O estabelecimento pressupõe um titular, o conjunto de meios predestinados por um


empresário, titular de um determinado direito sobre ele, para exercer a sua actividade.
Por outro lado, o estabelecimento é um acervo patrimonial pois engloba um conjunto de
bens e direitos, das mais variadas categorias e naturezas, que tem em comum a
afectação a finalidade coerente a que o comerciante os destina. Mas pode ser também
um conjunto de pessoas pois pode reduzir-se a pessoa do empresário, o seu suporte
humano, nas formas mais embrionárias de estrutura empresarial, mas normalmente
engloba uma pluralidade de pessoas. É uma organização pois os seus elementos não são
meramente reunidos, mas sim entre si conjugados. E ainda pode ser funcional pois a sua
estrutura e configuração, advém de um determinado objecto que é uma actividade de
determinado ramo da economia.24

2.2. Elementos do Estabelecimento Comercial

Constituem elementos do estabelecimento comercial segundo o professor Manuel


Guilherme Júnior os bens corpóreos e incorpóreos.

 Elementos corpóreos ou materiais são os bens que integram os


estabelecimentos, sejam móveis ou imóveis, onde os móveis podem integrar o
dinheiro que é coisa fungível, e nos bens imóveis podem se destacar as
instalações onde funcionam os estabelecimentos comerciais.
 Elementos incorpóreos ou imateriais, apontam-se os direitos emergentes dos
contratos relativos aos estabelecimentos, contam-se também a prestação de
serviços, os direitos reais de gozo, isto é, usufruto do estabelecimento, integram
ainda as obrigações do empresário relativo ao estabelecimento, isto é, as
obrigações assumidas com os fornecedores, e também os direitos de propriedade

23
CORREIA, Ferrer A. Lições de Direito Comercial, Lisboa, Pág.117-118
24
CORREIA, Miguel, J.A. Pupo, Direito Comercial Direito da Empresa, 12ª Edição, Revista e
Actualizada, Lisboa, 2011, Pág. 50.
18
industrial que recaem sobre as patentes, marcas, nome e insígnias do
estabelecimento25.

Para Pupo Correia, o estabelecimento comercial caracteriza-se pela diversidade dos


elementos que os compõem, e as principais categorias de elementos constitutivos são:

 Elemento corpóreo: que são bens móveis destinados a ser vendidos,


compreendendo as matérias-primas destinadas a serem trabalhadas em
actividades produtivas de carácter industrial.
 Elemento incorpóreo: consideram-se os direitos resultantes de contratos ou de
outras fontes que dizem respeito a vida do estabelecimento. Que são os casos:
 Do direito ao arrendamento ou resultante comodato do imóvel destinado a
instalações
 Dos direitos reais de gozo
 Dos créditos resultantes de venda, empréstimos, locações.
 Dos direitos resultantes de certos contratos relacionados com a esfera de
actividade mercantil.
 Dos direitos emergentes dos contratos de trabalhos e de prestações de serviços
com os colaboradores do comerciante no estabelecimento.
 Dos direitos de propriedade industrial que tem em comum a características de
terem sido instituídos e regulados na lei especificamente com vista a protecção
da empresa e quer destes direitos seja directamente titular o comerciante, quer a
fruição deles advenha do contrato de transmissão ou de licença.
 Elemento de Clientela – O ordenamento Moçambicano não traz a consagração
de um direito a clientela e não é juridicamente relevante, mas pode parecer o
contrario tendo em conta a sua composição e o regime jurídico a que ela esta
sujeita. A clientela vai ser o conjunto dos clientes do estabelecimento e ela é
simultaneamente uma certeza e uma virtualidade. Subdivide-se em clientela
certa que resulta de relações contratuais com alguma estabilidade ou quando a
própria natureza de actividade assegura que os clientes renovarão as suas

25
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Escolar Editora, Vol. 1,
Maputo, 2013, Pág. 85.
19
encomendas. Por outro lado a clientela virtual que corresponde as expectativas
ou possibilidades de que os novos clientes se dirijam a empresa.26
 Elemento de Facto/ o Aviamentos- vai ser a capacidade lucrativa da empresa, a
aptidão para gerar lucros resultantes do conjunto de factores nela reunidos.
O aviamento resulta do conjunto de elementos da empresa, mas também de
certas situações de facto que lhe potenciam a lucratividade. O aviamento confere
ao estabelecimento uma mais-valia em relação ao elementos patrimoniais que o
integram, a qual é tida em conta na determinação do montante do respectivo
valor global.
2.2.1. Sinal Distintivo do Comércio

O estabelecimento comercial se traduz essencialmente numa organização de pessoas


e bens visando uma finalidade lucrativa. A realização de tal fim é essencial e granjeio de
uma clientela. Para tanto é necessário que o estabelecimento e os seus produtos ou
serviços se tornem conhecidos do público e para que haja sinais capaz de os identificar.

Para poderem desempenhar eficazmente a sua função individualizadora, para


poderem traduzir-se num útil instrumento de defesa do estabelecimento, os sinais
distintivos são protegidos por um direito absoluto, que confere aos respectivos titulares
o exclusivo do seu uso, dentro do âmbito em que a lei reconheça eficácia.

Os principais sinais distintivos de que o empresário se serve e que a nossa lei


confere protecção específica; a firma, como elemento de identificação do comerciante, o
nome e insígnia do estabelecimento, como sinais individualizadores da empresa, e, por
último, a marca, destinada, à diferenciação dos produtos transaccional ou fabricados no
estabelecimento. Com excepção da firma, todos os sinais distintivos são de usos
facultativos.27

A firma do Empresário comercial


Previsto em termos gerias no artigo 16º al. a) do C.com, a firma consubstancia o
nome do empresário comercial, nome que ele usa e com ele assina os documentos

26
CORREIA, Miguel, J. A Pupo, Direito Comercial Direito da Empresa, 12ª Edição Revista e
Actualizada, Lisboa, 2011, Pág. 52-55.
27
CORREIA, A, Ferrer. Lições de Direito Comercial.
20
relativos a sua actividade. Portanto, é obrigação essencial do empresário comercial, usar
um nome no exercício da sua empresa, esse nome representa a sua identidade comercial.

2.3.Conceito de Firma
2.3.1. No Sentido Objectivo

A firma é o sinal distintivo do estabelecimento comercial e assim ela pode ser


constituída livremente e transmitida com o próprio estabelecimento comercial, havendo
ou não acordo expresso. O sinal de distinção do estabelecimento, a tutela do mesmo por
qualquer pessoa não careceria de qualquer alteração ou imposição de obrigação na,
medida em que se associa directamente ao estabelecimento como tal. 28

2.3.2. No Sentido Subjectivo

A firma é o sinal que pretende distinguir o empresário comercial em si dos


demais isto é, o seu nome comercial ao lado do seu nome civil (tratando-se de
empresário comercial pessoa singular), isto é, o sinal que ele vai usar no exercício da
empresa comercial, donde resulta que, tratando-se de empresário pessoa singular a firma
deve ser constituída com base no seu nome civil, e por isso, em principio
intransmissível. A sua transmissibilidade neste sentido, implicaria a transmissão do
nome civil que como tal constitui a própria firma.

Se atentarmos ao que dispõe o art. 36º do C.com comercial quanto a


transmissibilidade da firma. A firma no nosso Direito é transmissível quer entre vivos,
quer mortis causa. No entanto, assegura-se que tal só ocorre com autorização do
cedente e tal transmissão só é possível mediante a transmissão do próprio
estabelecimento ou empresa comercial a que se acha ligada e é sujeita a registo.

À primeira, o legislador, parece adoptar uma prisão ecléctica. A firma é m sinal


distintivo do estabelecimento mas este pertence ao sujeito proprietário do
estabelecimento que como tal pode constitui a firma a partir do seu nome civil e cede-la
mediante condições impostas por lei.

No entanto, a firma desempenha a mesma função que o nome civil na vida


jurídica civil, todo o empresário comercial deve adoptar uma firma, quer seja pessoa

28
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito comercial moçambicano, Vol.1, Escolar editora
2013. Pág. 68-69.
21
singular ou sociedade comercial, o que pode permitir a separação da sua actividade civil
da comercial e dada a multiplicidade de nomes idênticos ou semelhantes habilitar a que
se efectuem varias composições com o nome civil que em comércio permite distinguir o
empresário dos outros com nomes próximos. (artigo 18º C.Com).29

A firma identifica um sujeito que, mais do que um individuo fisicamente


determinado, sobretudo o expoente ou titular de uma dada organização.

A firma se destina a estabelecer certa relação a denunciar um vínculo existente


entre uma pessoa e uma coisa (a empresa). A firma, tendo como função essencial a
identificação do comerciante, acaba por valer, em certos casos, perante o público, como
sinal distintivo da sua organização comercial.30

2.3.3. Tipos de Firma

A firma consoante os casos pode ser formada com o nome de uma ou mais
pessoas, fala-se aqui de firma-nome, ou pode ser constituída com a expressão relativa ao
tipo de actividade que ele exerce ou se propõe exercer, aditada ou não de elementos de
fantasia que é designada firma denominação ou simplesmente denominação, e em
terceiro lugar a firma mista, que resulta da conjugação dos elementos anteriores na
composição de uma mesma firma.

Mas quem qualquer dos casos a firma é um sinal nominativo e não emblemático,
e como a firma desempenha o mesmo papel desempenhado pelo nome civil todo
empresário comercial, quer seja pessoa colectiva ou singular de adoptar uma firma.

Nos termos do art. 21º C.com, a firma deve ser redigido obrigatoriamente em
língua oficial ou mediante a junca da tradução oficial quando se trate da adopção de
firma em outras línguas, sendo admissível em caso tratem da adopção de firma em
outras línguas, sendo admissível em casos excepcionais dispostos no mesmo artigo, o
não uso da língua oficial.31

29
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito comercial moçambicano, Vol.1, Escolar Editora
2013. Pág. 69-70.
30
CORREIA, A, Ferrer. Lições de direito comercial. Pág. 151.
31
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora
2013, Pág. 70.
22
2.3.4. Princípios Relativos à Constituição da Firma

Os princípios relativos a firma, constituem os limites dentro dos quais o


empresário comercial deve agir no processo de constituição da firma. Encontram-se
consagrados no Código Comercial. São nomeadamente, o princípio da verdade, da
novidade e da exclusividade.

2.3.4.1.Princípio da Verdade

De acordo com este princípio a firma deve espelhar a realidade a que se reporta,
não induzindo em erro relativamente à caracterização jurídica do ente, quer quanto á
identidade do empresário (tratando-se de comerciante em nome individual), quer quanto
a identidade dos sócios (tratando-se de uma empresa colectiva), quer ainda quanto a
natureza da sociedade e a índole ou âmbito do próprio estabelecimento.32

E por isso não se podem utilizar na composição da firma elementos


característicos que surgiram actividades diferentes das que o seu titular se propõe
realizar, nem expressões que possam induzir em erro sobre a caracterização jurídica do
empresário, quer por pessoa singular quer possam surgir existência de pessoa colectiva.
Donde resulta que, a firma da pessoa singular deve basear-se apenas no seu nome, quer
seja abreviado ou até de uma alcunha pela qual é conhecido ou de expressão que
manifeste a sua especialidade.

É proibido as pessoas colectivas de fim lucrativo, o uso de expressões que


surgiram a existência de um ente público, ou de associações sem fins lucrativas.

Podendo porem, permitir-se para estes últimos o adiamento de elementos que


indiquem o objectivo e tipo de sociedade ou a identificação dos sócios nos termos da
alínea b) do art. 26º do C.com.

A firma deve espelhar a realidade a que se reporta não induzindo em erro quanto
a caracterização jurídica do empresário, e sem prejuízo das disposições especiais do
artigo 26º C.Com. A parir deste princípio aferir se estamos perante um empresário
comercial pessoa singular ou colectiva, o seu ramo de actividade, e tratando-se de
Sociedade comercial, o tipo de sociedade de que se trata.

32
CORREIA, A, Ferrer. Lições de Direito Comercial, Pág. 153.
23
2.3.4.2.Princípio da Novidade

Nos termos do art. 20º C.com, a firma deve ser distinta, e insusceptível de
confusão ou erro com qualquer outra já registada, exigindo-se no ajuizamento dessa
confusão, considerar o tipo de empresário, o seu domicílio ou sede e bem assim a
proximidade ou afinidade, das actividades exercidas ou a exercer e ainda a existência de
nomes de estabelecimentos, insígnias ou marcas de forma semelhantes que possam
induzir em erro sobre a titularidade dos mesmos sinais distintos.

O legislador comercial, em atenção a este principio estabeleceu no art. 23º


C.com, a obrigatoriedade de as firmas registadas fora do pais para a sua admissibilidade
entre nos, careceram de registos em Moçambique, para evitar a indução em confusão.33

O princípio da novidade destina-se a assegurar as firmas a sua função


diferenciadora. Destina-se, por outras palavras, a permitir a terceiros a fácil
identificação dos comerciantes com quem pretendam entrar em relações negociais. Esta
identificação continua a ser possível, mesmo nos casos em que as firmas contenham
elementos comuns.

Novidade significa, pois, o mesmo que inconfundibilidade, a há-de ser aferida


em relação ao conteúdo global da firma. O princípio da novidade vem traduzir-se, pois,
na atribuição ao titular de qualquer firma registada de um direito absoluto ou de
exclusão.34

2.3.4.2. Princípio da Exclusividade


Este princípio impõe que a firma deve ser exclusiva do ente a que diz respeito,
direito este que só se constitui após registo pelo respectivo titular, na entidade
competente sem prejuízo da declaração de nulidade, anulação ou caducidade, nos
termos do art. 24º C.com.

Pelo uso ilegal da firma, assiste ao seu titular legítimo o direito de proibir o seu
uso ou até exigir danos provenientes do seu uso ilegal sem prejuízo do procedimento
criminal nos termos do art. 25º C.com.

33
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito Comercial Moçambicano, Vol. 1, Escolar Editora
2013. Pág. 72-73.
34
CORREIA, A, Ferrer. Lições de Direito Comercial. Pág. 161-163
24
Na verdade, a disposição do art. 25º C.com, reconhece ao empresário comercial,
titular da firma devidamente registada não só o direito do uso exclusivo da firma, como
também e fundamentalmente, as seguintes possibilidades legais. C.com não fala
relativamente a este, como propriamente um princípio.35

2.4.Garantias do Direito a Firma

No princípio da exclusividade deriva para o titular da firma o direito do seu uso


exclusivo no âmbito territorial em que aquele princípio tem eficácia. Para assegurar o
direito a este uso exclusivo, a lei confere ao titular da firma várias garantias ou varias
formas de tutela.

Mas para que estas garantias possam ser exercidas, ou, de modo mais exacto,
para que o direito ao uso exclusivo exista, impõe a lei o cumprimento de uma
formalidade essencial: o registo da firma. O direito à firma não nasce do simples uso,
mas apenas do registo, que reveste naturezas constitutivas.

Uma vez registada a firma, o respectivo titular dispõe de vários meios de


protecção contra a violação do seu direito que são:36

a) Exigir aquela que usa ilegalmente a firma que não continue a usa-la,
evitando confusão, prejuízos futuros, mesmo que o interessado não tenha
ainda sofrido efectivamente o prejuízo, ou ainda, o usurpador da firma não
tenha feito de má fé, ou até ignorando dos prejuízos que ia causar.37 Por
outro lado, o uso ilegítimo da firma não existe apenas quando um terceiro a
usa integralmente: poderá ainda versificar-se, conforme as circunstâncias do
caso concreto, através de um uso parcial da firma (quer se trate do seu
núcleo, quer mesmo dos aditamentos porventura nela contidos)
O direito à proibição do uso da firma compreende o de exigir a eliminação de
todas as situações que possam prejudicar o titular. Por exemplo, poderá exigir-se

35
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito Comercial Moçambicano, Vol. 1, Escolar Editora
2013. Pág. 73.
36
CORREIA, A, Ferrer. Lições de Direito Comercial. Pág. 166.
37
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora
2013, Pág. 73.
25
o cancelamento da matrícula, a eliminação da firma dos papéis da concorrência,
da fechada do estabelecimento;38
b) A segunda possibilidade que assiste ao titular da firma é a de intentar uma
acção por perda e danos nos termos do art. 483º CC, para obter reparação,
quer resulte de negligência ou de culpa;
c) Em terceiro lugar, pode intentar uma acção criminal nos termos do 25º
C.com, se a ela houver lugar por qualquer crime que tenha resultado do uso
ilegal da firma.

Na vigência do C.com anterior e tal como no actual código, não se encontra


claramente a limitação territorial correspondente ao âmbito de protecção da firma. O
legislador limita-se a estabelecer no nº 2 do art. 20º que no juízo sobre a distinção e a
insusceptibilidade de confusão ou erro, devem ser considerados o tipo de empresário, o
seu domicílio ou sedes, bem assim, a afinidade ou proximidade das actividades
exercidas ou a exercer.39

2.5. Extinção do Direito a Firma

Os sinais distintivos do comércio, uma vez cumpridas as formalidades de que


depende a sua existência, são verdadeiros bens em sentido jurídico (bens
especificamente protegidos) e, por consequência, pode a lei permitir que subsistam, não
obstante a cessação da actividade a que estejam funcionalmente ligados.

Tratando-se de sociedades, a firma extinguir-se-á em caso de dissolução e após o


termo das operações de liquidação, salvo se o respectivo estabelecimento for transferido
para terceiros e com ele a firma.

Tendo o registo, em relação a firma natureza constitutiva, esta extinguir-se-á


sempre que o seu registo seja cancelado, ainda que porventura continue a ser utilizada
pelo respectivo titular.

38
CORREIA, A, Ferrer. Lições de Direito Comercial. Pág.167.
39
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito Comercial moçambicano, Vol.1, Escolar Editora
2013. Pág. 74.
26
2.5.1. Natureza Jurídica do Direito a Firma
a) É uma espécie ou modalidade particular do direito ao nome – é um direito de
personalidade de aspecto fortemente patrimonial (não um puro direito de
personalidade)
b) Trata-se de um direito (real: do tipo da propriedade) sobre uma coisa ou bem
imaterial: a firma tem um valor de uso e um valor de troca; é transmissível
(embora não em separado do estabelecimento constitui (apesar disto) um
objectivo jurídico do próprio estabelecimento (e não uma simples qualidade
deste), porque o comerciante pode alienar o estabelecimento e reservar a firma
para outro que também possua ou que se proponha criar. O comerciante tem
gozo pleno da sua firma (das utilidades que ela é susceptível de proporcionar,
segundo a natureza das coisas) – e o gozo exclusivo; mas a obrigação passiva
universal correspondente ao direito real de gozo é restrita aos comerciantes da
área da respectiva conservatória (salvo o caso das denominações particulares).
c) O direito subjectivo a firma tutela interesses de uma dupla natureza: ele tutela,
antes de mais, a personalidade do comerciante (interesses não patrimoniais),
sendo algo de semelhante ao nome civil; mas tutela também interesses de outra
ordem; interesses, não da personalidade, mas da organização comercial, da
empresa, de cuja fama e crédito a firma é expoente, cuja clientela ajuda a criar e
a manter.40
2.6.Transmissão da Firma

A firma como sinal distintivo do estabelecimento, é susceptível de transmissão.


Nos termos do art. 36º C.com, adquirente de uma empresa comercial pode continuar a
geri-la sob a mesma firma, quando Para tal seja autorização, aditando-lhe ou não a
declaração de haver nela sucedido.41

Esta autorização compete ao alienante, tratando-se de transmissão por morte,


sem que o des cujustenha disposto por escrito, a autorização é dada pelos herdeiros
respeitando a maioria independentemente de esta transmissão tiver sido a favor de
terceiros ou de algum ou alguns dos herdeiros.

40
CORREIA, A, Ferrer. Lições de Direito Comercial. Pág. 167-169
41
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito Comercial Moçambicano Vol.1, Escolar Editora
2013. Pág. 75-76.
27
Conservando a firma, o adquirente passa a usa-la como meio através do qual
funda a presença do publico demonstrando a continuidade da empresa, retirando
vantagens do antigo proprietário. O código também protege o interesse dos clientes no
sentido de que não se pode admitir uma mudança radical das condições que fizeram
manter, exigir a confiança do antigo proprietário e igualmente, procura-se proteger os
fornecedores. Tal sucede porque, como dispõe o nº 6 do art. 36º do C.com, a
transmissão da firma só é possível conjuntamente com a empresa comercial a que se
acha ligada.

Deste modo, se por um lado, não é possível transmitir apenas a firma sem o
respectivo estabelecimento, por outro, o adquirente assume as obrigações que recaiam
sobre o alienante.

O alienante, deixa de ser responsável pelas obrigações contraídas na exploração


da empresa, a partir do registo e publicação do acto de transmissão, não exigindo-se
autorização no caso de exploração temporária da empresa comercial, de outrem pelo
adquirente do direito.42

A transmissão da firma não se presume, resulta do acordo entre as partes tanto


na transmissão entre vivos, como na mortis causa, e nesta ultima exigindo concordância
expressa na maioria dos herdeiros.

2.7. Alteração da Firma

A firma pode ser alterada observando determinadas circunstâncias. No entanto, a


saída ou falecimento do sócio ou associado cujo nome ou a firma figure do empresário
comercial nome colectivo, não determina necessariamente a sua alteração, a menos que
tenha sido disposto o contrário no acto da constituição da sociedade, deixando aquele de
ser responsável pelas obrigações sociais a partir do registo e publicação do acto nos
termos do nº2 artigo 37º em conjugação com o nº 4 do art. 36º ambos do C.Com.

42
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito Comercial moçambicano Vol.1, Escolar Editora
2013. Pág. 75-76.
28
2.7.1. Caducidade e Renúncia da Firma

Em princípio a firma é constituída para durar de forma indeterminada. No


entanto, a lei estabelece nos artigos 38º a 41º C.Com. O regime da anulação, caducidade
e renúncia da firma.

Caduca a firma nos termos do art. 39º do C.com, nas seguintes circunstâncias:

a) Com o termo do prazo contratual. Se a firma tiver sido constituída com


finalidade de durar enquanto durar o contrato que constitui objecto e seu
fundamento, com o termo o prazo contactual, a firma caduca;
b) Por dissolução d a pessoa colectiva. Neste caso, aplicável apenas as pessoas
colectivas, quando certa pessoa colectiva a quem a firma se encontra associada,
dissolve-se nos termos gerais do Direito, a firma deixa de fazer efeitos por
maioria de razão. É que a firma esta associada a pessoa colectiva e uma vez em
dissolução, o que acarreta a entrada em liquidação dessa pessoa colectiva o que
impõe a limitação em termos de actos a praticar por parte dessa pessoa colectiva.
c) Pelo não exercício da empresa por período superior a quatro anos.

Por forçar desta aliena c) do art. 39º, impõe-se ao empresário comercial o dever de
provar a continuidade do exercício do comércio em cada trimestre do ano na entidade
competente para o registo, sob pena de ver a firma caducada e sem a possibilidade de
invocar a mesma.

Compete a entidade que faz o registo, o poder de declarar a caducidade da firma,


reservando-se um mecanismo processual com vista a acautelar situações de ma fé na
solicitação de caducidade de certas firma pertencente a terceiro. Nestes termos, o titular
da firma e uma vez notificado do pedido de caducidade, tem prazo de quinze dias
contados do termos do prazo anterior para decisão do pedido de caducidade.43

Ao titular da firma, a lei reserva o direito de impugnar a decisão por meio de


recursos aos tribunais.

43
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito Comercial Moçambicano, Vol. 1, Escolar editora
2013. Pág. 76-77.
29
2.7.2. Renúncia da Firma

O titular da firma pode renuncia-la através de declarações expressa por meio de


escrita, assinada e reconhecida presencialmente à entidade competente para o registo. A
renúncia carece do registo e publicação nos termos dos artigos 41º n º do C.com.44

2.8. Escrituração Mercantil

Outra obrigação especial que recai sobre os empresários comerciais, escriturar as


operações ligadas ao exercício da empresa comercial.

A escrituração mercantil consiste em registar todas as actividades feitas pelo


empresário comercial em livros próprios que a lei impõe e pretende-se com ela, dar a
conhecer a situação empresarial e financeira do património do empresário comercial.

Escrituração mercantil é o processo de lançamento dos actos relativos a empresa nos


livros que para aqueles fins os comerciantes são obrigados a adoptar, ou seja, o
lançamento em livros adequados das diversas operações relacionadas com a exploração
mercantil do empresário comercial ou afectam o seu património para permitir o domínio
de todos os interesses quando tal seja necessário.

A escrituração mercantil, é obrigatória e deve-se efectuar em livros adequados tais


como. O diário, o livro de inventário e balanço, e outros livros que a lei fixa-os
designado de livros obrigatórios.45

Empresário é imposto o dever de fazer o registo dos livros obrigatórios dando-lhe a


possibilidade de causar outros livros que permitem o conhecimento do seu negócio.

2.8.1. Função dos Livros Obrigatórios


a) O Livro-Diário. Nos termos do art. 45º C.com, o livro-diário serve para
lançar individual e diariamente, todos os actos relacionados com a actividade
empresarial, isto é, o diário sugere a ideia de lançamento das actividades
quotidianas em termos de actos singulares praticados pelo empresário
comercial.

44
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito Comercial Moçambicana, Vol.1, Escolar editora
2013. Pág. 78.
45
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito Comercial Moçambicana, Vol.1, Escolar editora
2013. Pág. 78.
30
b) Inventário e Balanço. Serve para lançar detalhadamente a situação inicial
da empresa e outros tantos balanços que o empresário comercial é obrigado
por lei.
c) Livros de Actas. Este livro esta associada à ideia de existência de pessoa
colectiva e no caso em concreto, sociedade comercial. Serve para lavraras
actas das reuniões e sócios ou associados, de administradores e do órgão de
fiscalização, devendo cada uma delas expressar, a data da realização da
reunião, os nomes do participantes ou referência à lista de presenças
autenticada pela mesa, os votos emitidos, as deliberações tomadas e tudo o
que possa servir para as conhecer e fundamentar e assinatura pela mesa e na
inexistência desta, pelos participantes
O livro de acta assegura que toda informação relativa as reuniões dos órgãos
sociais da sociedade ou dos sócios possam ser conhecidas e facilitem a
compreensão dos procedimentos e decisões tomadas na sociedade.46

2.8.2. Importância da Escrituração Mercantil


 O empresário passa a conhecer a sua situação patrimonial, direitos e
deveres;
 Serve de meio de prova dos factos registados nos litígios entre
empresários;
 Serve como meio de verificação da regularidade da conduta do
empresário comercial;
 Quando se esta perante uma suspeita das razões da falência pode-se
recorrer à escrituração para se saber se a falência é real ou fraudulentas;
 Serve de base para a liquidação dos impostos e fiscalização do
cumprimento de normas tributais entre outras funções.

46
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito comercial moçambicana, Vol.1, Escolar editora
2013. Pág. 79.
31
2.8.3. Forma de Escrituração

A escrituração deve ser efectuada nos termos do artigo 48º do C.Com, pelo
empresário ou por qualquer outra pessoa devidamente autorizada, podendo se presumir
que aquele que efectuou a escrituração tinha autorização para o efeito.

A escrituração é secreta, porque pretende assegurar o desconhecimento em


termos púbico o património do empresário comercial para se evitar a cobiça alheia.

2.8.3.1. Registo Comercial


Os empresários comerciais, quer seja pessoa singular ou colectivas, ou as
sociedades civis sob a forma comercial, são obrigados a inscrever no registo os actos a
ele sujeitos.

O registo comercial, tem por fim publicar os actos que compreendem descrição e
identificação do empresário e todos os actos relevantes que como tal a lei só qualifica e
por isso sujeito a registo. A vantagem do registo esta na publicidade, pois através do
registo publicitam-se as actividades do empresário comercial, como também do publico
em geral nos termos do art. 58 C.Com.47

2.9. Nome e Insígnia de Estabelecimento

O nome e a insígnia, ao contrário da firma, sinais de distinção objectiva,


destinados a facilitarem a identificação da empresa e conferi-lhe notoriedade. Enquanto
a firma tem por função directa individualizar o comerciante, o dono do estabelecimento,
o nome e a insígnia servem para designar e individualizar o próprio estabelecimento.

Estas duas figuras, o nome e a insígnia distinguem-se pela respectiva


composição. Enquanto a primeira é um sinal distintivo nominativo, a segunda é um
sinal distintivo figurativo ou emblemático, geralmente afixados na fachada ou bandeira
do estabelecimento, que funciona como um processo de atrair para ele a atenção do
público, como por exemplo um cartaz.48

47
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora
2013, Maputo, Pág. 80- 81.
48
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Comercial, V.I, Coimbra,1994, Pág. 171.
32
2.9.1. Constituição do Nome e Insígnia

O nome de estabelecimento pode ser constituído com grande liberdade.


Diferentemente da firma denominação e dos aditamentos da firma nominativa, tem
alusão, a espécie do comércio nome do estabelecimento pode ser formado, por
denominações de puras fantasias, como por exemplo Estrela Polar, Caravela. Pode o
nome do estabelecimento ser formado pelo pseudónimo do respectivo titular, por nomes
históricos, excepto se do seu emprego resultar menoscabo ou ofensa da consideração
que geralmente lhe é atribuída, pelo nome da propriedade ou o local do estabelecimento,
quando este seja acompanhado de um elemento distintivo.

Na composição do nome de estabelecimento pode entrar também o nome ou firma


do respectivo dono. O nome do estabelecimento seja exclusivamente formado pelo
nome ou firma do comerciante, não que este nome ou firma entre na sua composição. A
lei não tutela o nome do estabelecimento, como objecto específico e autónomo de
propriedade industrial, se for apenas formado pelo nome ou firma do respectivo titular.
Assim sendo podem ser considerados nomes comerciais ou industriais como:

 Nomes pessoais dos industriais, agricultores ou comerciante, completos ou


abreviados;
 As razões industriais ou comerciais e firma;
 As denominações sociais de companhias por acções, de sociedade anónimas e
em comandita, ou em nome colectivo;
 Nomes que não fossem os dos proprietários do estabelecimento;
 Nomes abreviados dos societários. Vê-se que a lei não fazia uma rigorosa
distinção entre a firma e nome de estabelecimento49.

Vê-se que a lei não fazia distinção rigorosa entre a firma e o nome do
estabelecimento. Mas havia de transigir com as inúmeras situações criadas. O registo do
nome, firma ou denominação social do respectivo dono, completo ou abreviado, como
nome de estabelecimento.

O facto de se tratar de um sinal figurativo ou emblemático não exclui que possa ser
construído com quaisquer expressões, nomeadamente com o nome do estabelecimento
ou com a firma do titular. E essencial, no entanto, que as expressões utilizadas se
49
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Comercial, V.I, Coimbra,1994, Pág. 171.
33
representem de tal modo que no conjunto sobreleve a forma ou configuração especifica,
como elemento distintivo e característico. O direito á insígnia tem por conteúdo, nestes
termos, não o teor ou significado literal das expressões nela contidas, mas apenas a
forma especial com são apresentadas.

Tanto na composição do nome como da insígnia há que ter em conta as seguintes


limitações :50

a) O nome e a insígnia não podem ofender o princípio da verdade, plasmado no


artigo 19.⁰ C.Com.
b) Há-de respeitar, além disso, o princípio da novidade ou do exclusivismo, dentro
dos limites territoriais referidos no artigo 20⁰ do C.Com.
c) Por último, o nome e a insígnia hão-de ser dotados de eficácia ou capacidade
distintiva, isto é, há-de ser constituído em tais termos que permitiam distinguir o
estabelecimento a que se destinam de outros do mesmo género ou semelhantes.

Não satisfazem a este requisito os nomes é insígnias constituídos exclusivamente


por sinais ou indicações que possam servir no comércio para designar a espécie, a
qualidade, a quantidade, o destino, o valor, o lugar de origem dos produtos ou a época
da produção, ou que se tiverem tornado usuais na linguagem corrente ou nos hábitos
leais e constantes do comércio.

Mais concretamente, não poderão ser registadas como nome ou insígnia expressões
ou figuras alusivas á actividade desenvolvida na empresa que, pelo seu carácter
genérico, ao tenham eficácia individualizadora ou diferenciadora, como por exemplo
Restaurante, Instituto de Beleza, casa de tecidos, a figura de um pincel, para uma
barbearia, o desenho de um sapato. Não poderão ser igualmente registadas aquelas
expressões ou figuras que, por virtude do seu uso vulgarizado na linguagem corrente ou
nos hábitos leais e constantes do comércio, se devam considerar como que do domínio
publico, e por virtude disso, insusceptível de apropriação. Exemplo: O melhor
restaurante, Grane Hotel, Instituto de Beleza Ideal, a figura de um chinês como insígnia
de uma casa de chá.

A estas regras ou princípios, consagrados no art.⁰144, há que acrescentar ainda a


regra da unidade, qual o nome e insígnia, dada a sua função individualizadora, não

50
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Comercial, V. I,Coimbra,1994. Pág. 172, 173.
34
pedem deixar de estar subordinados. A lei não a refere de modo expresso, mais
implicitamente a pressupõe ao determinar, no n.º 1⁰ do art. 159⁰, que se em relação a
mesmo estabelecimento existir mais de um registo de nome ou insígnia, só valerá o
primeiro regularmente feito.

2.10. Protecção do Nome e Insígnia

A propriedade e o uso exclusivo do nome e insígnia de estabelecimento são


garantidos pelo seu registo. Nestes termos, todo o nome comercial legalmente existente
desfrutará de inteiro reconhecimento, conforme o art.58º e 59º do C.com. Mas á parte
esta excepção, este desvio, o registo é a condição da protecção directa que a lei dispensa
ao nome e a insígnia de estabelecimento. Esta protecção traduz-se no direito ao uso
exclusivo do nome ou insígnia registada.

Importa, no entanto, aproximar a norma do art. 147⁰ do disposto no n.º 4 do


art.187⁰, segundo o qual constitui fundamento de recusa da patente, depósito ou registo,
o reconhecimento de que o requerente pretende fazer concorrência desleal ou que esta é
possível independente da sua intenção.

Esta norma permite que um comerciante, desde que haja perigo de concorrência
desleal, faça oposição ao registo de um nome ou insígnia idênticos ou semelhantes aos
do seu estabelecimento, embora lhe não seja lícito invocar no caso o princípio do
exclusivismo, nos termos do art.147⁰ (e do art.144.⁰ n.⁰7).51 O referido direito de
oposição existe, portanto, para além do domínio em que funciona protecção decorrente
do chamado princípio do exclusivismo. Assim, um comerciante que tenha registado
determinado nome e insígnia para um estabelecimento não poderá invocar o n.º 7 do
art.144⁰ como fundamento de oposição ao registo de um nome ou insígnia idênticos
para o estabelecimento de outros comerciantes localizados em qualquer das províncias.

Observe-se que o bem jurídico directamente protegido pela norma do art.187⁰


n⁰4 não é verdadeiramente uma das várias formas de propriedade industrial que o
código reconhece e tutela a marca, o modelo, o desenho, nome ou insígnia, mas o
próprio estabelecimento em si: protege-se o estabelecimento ou empresa contra actos de
concorrência desleal.

51
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Comercial, V. I,Coimbra,1994. Pág. 172, 173.

35
Ao se tutelar o direito ao nome registado do estabelecimento contra o uso do
mesmo nome por parte de concorrente, e isto em todas e quaisquer circunstâncias,
independentemente da verificada ou mesmo do simples perigo da verificação de um
prejuízo, porem, em contrapartida da intensidade da tutela conferida, esta só é eficaz
dentro dos limites especiais fixados. Diversamente, destina-se a proteger (contra o
registo de nome idêntico ou semelhante o titular de um nome registado fora da área em
que ele beneficia do exclusivismo, e ainda o utente de um nome não registado (ou cujo
registo já caducou); mas a protecção esta aqui condicionada á prova de que o requerente
do registo pretende fazer concorrência desleal, ou de que o registo ocasionará por si um
estado de coisas propicio a tal concorrência, ainda que acaso não seja essa identificado
daquele que o vem requerer.

Esta soluçado corresponde á doutrina mais divulgada sobre a diferença entre


tutela decorrente do principio do exclusivismo e a dirigida contra a concorrência
desleal52. Tal diferença reside em que, quanto no primeiro caso o titular pode proibir o
uso a outrem simplesmente com base no facto objectivo da violação do exclusivismo e
independentemente da concorrência de um dano, no segundo caso, pelo contrário, é
necessário esta ocorrência e em regra um elemento subjectivo no acto do agente: dolo
ou a culpa.

2.11. Transmissão do Nome e Insígnia

Tal como em relação á firma, e por razão idêntica, a lei só permite a transmissão
do nome e da insígnia juntamente com o estabelecimento a que respeite: art.157⁰. Por
outro lado, salvo declarações em contrário e á parte a hipótese prevista no nr 2⁰ do art.
157⁰, a transmissão do estabelecimento envolve o respectivo nome ou insígnia nos
termos do n⁰ 1 do art. 157⁰.

Deve entender-se, por analogia, que os sinais individualizados do


estabelecimento poderão acompanhá-lo e que acompanharão mesmo, se nenhuma
reserva se fizer quando este seja objecto de relação de fruição, reais ou obrigacionais,
meramente temporário.

52
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Comercial, V. I,Coimbra,1994. Pág. 172, 173.

36
Quanto as formas da transmissão do nome ou da insígnia, serão as exigidas para
a transmissão do estabelecimento de que são acessórios. Mais o preceito era
desnecessário, uma vez que a transmissão destes sinais distintivos só é permitida em
casos de alienação do estabelecimento e há-de obedecer, por consequência as mesmas
formalidades.

Marca
2.11.1. Conceito:

Trata-se de um sinal destinado a individualizar produtos ou mercadorias e a permitir a


sua diferenciação de outros da mesma espécie. A marca é um sinal distintivo de
mercadorias ou produtos.

A marca desempenha, no jogo da concorrência, uma função muito importante.


Por seu intermédio pode o empresário acreditar perante a clientela os seus melhores
produtos. Se as mercadorias assinaladas (marcadas) se impuserem e recomendarem pela
sua qualidade, será natural que aumente a procura delas53.

Ora a marca vai precisamente permitir a identificação das mercadorias já


apreciadas pelo consumidor e facilitar a sua procura no mercado. Vai contribuir, por
outras palavras para que aumente o consumo dessas mercadorias e concorrer para o
maior lucro da empresa.

Por outro lado se as mercadorias marcadas forem de boa qualidade, a marca surgirá
como um símbolo da capacidade ou da seriedade de certa empresa. Será natural, por
isso, que os consumidores, quando possam identificar essa empresa através da própria
marca ou por outra via, acabem por preferir genericamente os seus produtos, mesmo os
não diferenciados. A marca funciona como um cartão de apresentação do empresário
que a usa, como um facto de potenciação da sua clientela.

A marca funciona como o único nome ou designação da mercadoria que é aposta.


Os consumidores quando ignoram a composição do produto, conhecem-nos apenas pela
marca e tendem a considerar esta como a única designação do tipo de bens capazes de
satisfazer certas necessidades, excluindo automaticamente todos aqueles que, embora

53
CORREIA, Ferrer A, Lições de Direito Comercial, volume I, Coimbra, 1994, página 179 e 180

37
com idêntica composição, não tenham mesmo nome ( a mesma marca). A consequência
deste condicionalismo é a eliminação da concorrência54.

a) Nos termos do número 1 e 2 do artigo 76º, o direito de usar marcas compete aos
industriais e fabricantes, para assinalar os produtos do seu fabrico, e aos
comerciantes, para assinalar os produtos do seu comércio.
No último caso temos chamados marcas comercias; no primeiro, as marcas
industriais ou de fabrica ( ou, as marcas de produtor, para abranger também as
referidas no numero 3 do artigo 76º).
b) Além destas, há também as marcas de artífice (artigo 76º, número 4). A marca
de artífice não é uma marca de produtor. Não quis o legislador, com a disposição
do número 4 artigo 76º, conceder aos artífices que trabalham em regime de
artesanato o direito de assinalar os produtos da sua indústria. Esse direito já
resultava do número 1 do mesmo artigo.
c) Note-se ainda, por último, a existência de marcas colectivas. A nossa lei
reconhece expressamente esta categoria de marcas, atribuindo o direito de usar
aos organismos de coordenação económica e corporativos, para assinalar os
produtos das actividades nos mesmos representadas ou provenientes de certas
regiões. (numero 5 do artigo 76º).
Em regra, essas marcas são usadas, não pelo organismo associativo a quem
pertençam, mas sim pelos empresários neles integrados.

2.11.2. Carácter Facultativo do Uso da Marca

Em princípio, nenhum empresário é obrigado a usar marcas (artigo 75º). Este regime
é perfeitamente compreensível, aliás a marca estaria em condições de desempenhar a
sua função económica. A marca é um meio de recomendação do produto à clientela.

Há, no entanto, certos produtos que, por lei, têm de ser marcados. Assim as obras de
pratas e ouro, além da chamada marca de contraste (que constitui a garantia oficial do
toque legal), devem ter ainda a marca do fabricante. A mesma obrigação pesa também
sobre o fabricante de cartas de jogar.

54
CORREIA, Ferrer A, Lições de Direito Comercial, volume I, Coimbra, 1994, Pág. 179-180
38
Estas marcas de fabricante, quando impostas por lei, desempenham uma função de
garantia: destinam-se a possibilitar a identificação do produtor, para em caso de
irregularidades, lhe pedir contas55.

2.11.3. Constituição da Marca

Os interessados gozam de grande liberdade na escolha de sinais distintivos que hão-


de constituir marca. A marca pode ser constituída por um sinal ou conjunto de sinais
nominativos (norma nominativa), figurativos ou emblemáticos (marca figurativa ou
emblemática), ou por uma e outra coisa conjuntamente (marca mista) (artigo 79º).

A liberdade de composição da marca não é ilimitada. A lei estabelece, a este


respeito, varias restrições. Alguma nem seria necessário que a lei referisse de modo
expresso, pois representam um mero colírio do próprio conceito de marca.

As marcas assim constituídas de uso são designadas na doutrina por marcas


significativas ou expressivas (exemplos: laranjinha, para uma bebida com base na
laranja; dentol, para uma pasta dentífrica; betic para um medicamento contra diabetes;
observe-se que o direito à marca só abrange aqui, o conteúdo original da expressão
adoptada.

Nos termos do número 2 do artigo 79º as cores, por si só, não podem constituir
marca, salvo se forem unidas e combinadas entre si ou outros elementos, por forma
peculiar e distintiva. A lei refere, por forma meramente exemplificativa, aquilo que os
autores alemães designam por sinais fracos: sinais desprovidos de capacidade distintiva
e que, por consequência, não podem ser protegidos como marcam.

Outros exemplos: ao desenho de uma simples linha, aos números, as letras do


alfabeto e aos simples vocábulo, quando tomados isoladamente, faltara em regra a
eficácia distintiva.

A marca não pode, ser igual ou semelhante a outra já anteriormente registada. O


grau de semelhança que a marca não deve ter com outra registada anteriormente é
definido este elemento: possibilidade de confusão de uma outra com outra no mercado.
Mas não pode haver confusão entre a marca adoptada para certo produto e a marca
adoptada para outro que daquele seja completamente distinto. Por isso a lei restringe o

55
CORREIA, Ferrer A, Lições de Direito Comercial, volume I, Coimbra 1994, Pág. 183
39
princípio da especialidade da marca aos produtos da mesma espécie ou fins, nessa
conformidade tendo substituído ao sistema do registo por classes o sistema de registo
por produtos. (artigo 90.º).

A constituição da marca preside também, posto que em medida muito diversa do


que acontece na firma, um princípio de verdade (artigo 93.º numero 6, 10, e 11). Se as
marcas forem constituídas com indicações sobre a natureza, qualidades ou utilidade dos
produtos, ou sobre a proveniência deles, essas indicações hão-de ser verídicas. Não se
admite que a marca contenha indicações erróneas56.

2.11.4. Propriedade da Marca: Registo

A propriedade da marca só se consolida com o facto do registo. Com efeito, e em


princípio, só ao utente de marca registada, o registo tem entre nos a eficácia constitutiva
ou atributiva.

São fundamentalmente três os sistemas a este respeito:

Em primeiro lugar, o registo de marca tem eficácia constitutiva: prevalece o direito


do que primeiro regista e não o que primeiro usa. Vejamos o exemplo, as consequências
que derivam deste sistema; A adopta determinada marca e usa-a durante certo tempo,
sem a registar, B adopta posteriormente marca idêntica (ou confundível com aquela)
para o mesmo produto ou semelhante. Se B regista a sua marca, A fica completamente
desprotegido e pode até ser forcado por B a abandona-la. Se B a não regista também,
não pode em todo o caso reagir contra a usurpação.

As vantagens deste sistema traduzem-se em que poe termo a duvidas e é estímulo


para o registo se fazer.

Em segundo lugar, o direito sobre a marca deriva da sua adopção e do seu uso. O
registo apenas da uma consistência maior a esse direito, protegendo mais eficazmente o
seu titular e estabelecendo em seu favor uma presunção de uso legítimo. Exemplo: A
regista a marca que começou a usar um certo momento; B tinha começado a usar uma
marca idêntica em momento anterior, embora não tivesse registado: o direito do A cede.
Se nem um nem o outro registou a marca, prevalece o direito do primeiro ocupante, mas

56
CORREIA, Ferrer A, Lições de Direito Comercial, volume I, Coimbra, 1994, Pág. 184-185,

40
quem tinha registado a marca tem em seu favor a presunção do uso legitimo, presunção
apenas relativa.

Em terceiro lugar, há ainda um terceiro sistema de conciliação: durante certo prazo,


o registo tem simples natureza declarativa; terminado esse período inicial, a marca fica
sendo propriedade exclusiva de quem a registou, assumindo o registo, por tanto,
natureza construtiva ou atributiva57.

2.11.5. Transmissão das marcas

A propriedade das marcas registadas podem ser transmitidas a título gratuito ou


oneroso. A propriedade da marca registada é transmissível, independentemente do
estabelecimento, se insto não poder induzir o público em erro quanto a proveniência do
produto ou aos caracteres essenciais para a sua apreciação58.

2.11.6. Garantias da marca

A garantia do proprietário da marca registada consiste em não poder obter-se


posteriormente o registo da mesma ou de marca idêntica para o mesmo produto ou
semelhante.

O proprietário de qualquer marca registada tem direito ao seu exclusivo dentro dos
limites territoriais em que o registo é eficaz. Neste uso exclusivo compreende-se
qualquer emprego de que a marca seja susceptível na actividade mercantil: assim a
marca não só pode ser aposta nos produtos a que se destina, como reproduzida em
anúncios luminosos, facturas.

2.11.7. Extinção do direito a marca

Se, for feito um registo de uma marca a favor de pessoa sem legitimidade para usar,
ou constituída em desconformidade com os preceitos legais, poderá esse registo ser
anulado a requerimento de qualquer interessado ou por iniciativa do Ministério Publico,
122 e 123. As acções de anulação, exceptuando o caso de ma fé do regista-te, deverão
ser intentadas, no prazo de três 3 anos a contar da data do despacho de concessão do
registo. Este prazo de caducidade é inaplicável ao registo de marcas que não preencham

57
CORREIA, Ferrer A, Lições de Direito Comercial, Volume I, Coimbra, 1994, Pág. 190-191
58
CORREIA, Ferrer A, lições de Direito Comercia, Volume Coimbra, 1994, Pág. 198
41
os requisitos de existência como sinais diferenciadores, nomeadamente o da eficácia
distintiva. Que são os sinais que não chegam de preencher o conceito de marca.

Se a marca registada não enferma de quaisquer vícios, o direito do respectivo titular é


inatacável e apenas poderá extinguir-se por caducidade59. 124

2.11.8. Negócios Sobre o Estabelecimento Comercial

Na medida em que o estabelecimento corresponde a uma unidade jurídica, pode ser


objecto de propriedade, de posse, de usucapião, de usufruto, de penhora de acções de
reivindicação e possessórias.60 Desta feita interessa-nos fazermos menção apenas dos
negócios que recaem sobre o estabelecimento e não os direitos que recaem sobre este,
sendo eles:

 Trespasse
A identidade jurídica do estabelecimento como, simultaneamente, universalidade
de direito e bem móvel incorpóreo, fornece uma base conceptual adequada para a
estruturação do regime jurídicos dos negócios jurídicos que o tomam como um todo.
Sendo o mais conhecido Trespasse, uma figura jurídica que recobre uma pluralidade de
modalidades (à semelhança do que ocorre com prestação de serviços, a locação, ou o
empréstimo) e não um negócio uniforme.

Diz-se Trepasse, todo e qualquer negócio jurídico pelo qual seja transmitido
definitivamente e inter vivos um estabelecimento comercial, como unidade, onde o
alienante chama-se trespassante e o adquirente trespassário.61 Assim sendo, exclui-se
aqui, os casos de transmissão mortis causa. É certo que ele pode ser alienado com um
todo, como uma coisa colectiva, e nesta negociação transfere-se o conjunto de bens e os
seus nexos organizativos e por isso também o aviamento.

É por está razão que o CCom inclui o aviamento na determinação do valor


estabelecido, e ressalta desde já que a cogitação de venda do estabelecimento deve
compreender o conjunto de bens necessários para o exercício da actividade, no seu n 2
do art.72.

59
CORREIA, Ferrer A, lições de Direito Comercia, Volume Coimbra, 1994 Pág. 199-200.
60
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora.
Maputo, 2013, Pág. 89.
61
CORREIA, Miguel J. A. Pupo, Direito Comercial, 12. Edição, EDIFORUM, Portugal, Pág. 68.
42
Não constitui apenas a transferência das quotas ou acções de uma sociedade,
estas transferem sem a mudança da direcção da actividade e por conseguinte e própria
alteração do titular do estabelecimento que continuará a ser a mesma pessoa jurídica,
pois nesta figura há mudança efectiva do seu titular.62

É imperioso referir que, para que haja trespasse, é essencial, o estabelecimento


seja alienado como um todo unitário, abrangendo a globalidade dos elementos que o
integra.63

2.11.9. Forma de Transpasse

O instrumento que tenha como objecto a negociação do estabelecimento


comercial deve ser formulado por escrito. Integrando um bem imóvel, deve ser feito por
escritura pública sob pena de nulidade do negócio nos termos do n 2 do art.73 do Ccom.

O trespasse do estabelecimento não pressupõe necessariamente a transmissão do


local onde está instalado, podendo suceder que o titular de um estabelecimento sendo
dono do local transmita o estabelecimento como universalidade, isto é, como uma
unidade económica detentora de uma individualidade própria distinta dos elementos que
a integram.64

É possível e lícita a exclusão no transpasse da transmissão de um ou mais


elementos que a integram desde que fique salvaguardada a sua autonomia e
funcionalidade donde resulta que, não haverá transpasse quando a transmissão não seja
acompanhada da transparência em conjunto das instalações, utensílios mercadorias e
outros elementos que integram o estabelecimento, não sendo forçoso que a negociação
de estabelecimento abranja todos os elementos que a compõem bastando que sejam
transmitidos os elementos que asseguram o funcionamento do estabelecimento ou que
pelo menos formam o seu mínimo. A propósito disto, o Pupo Correia defende que a
utilização da expressão de trespasse parcial é errada. Para, o que ocorre é que o
alienante antes do trespasse é com a anuência da outra parte o trespassário, subtrai
certos elementos à universalidade sem retirar a sua funcionalidade e autonomia.

62
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito Comercial Moçambicana, Vol.1, Escolar Editora
2013. Pág. 200.
63
CORREIA, Miguel J. A. Pupo, Direito Comercial, 12. Edição, EDIFORUM, Portugal, Pág.69.
64
CORREIA, Miguel J. A. Pupo, Direito Comercial, 12. Edição, EDIFORUM, Portugal, Pág. 90.
43
Não haverá trespasse quando transmitido o gozo do prédio para se exercer nele
outro ramo de comércio, isto é, lhe seja dado outro destino.

Em caso de trespasse de estabelecimento comercial ou industrial instalado em


prédio arrendado, o trespassante arrendatário pode ceder a sua posição de arrendatário
ao trespassário, sem necessidade de autorização do senhorio.

Esta é uma norma expressiva da tutela ou defesa da circulação negocial do


estabelecimento e simultaneamente da manutenção deste dada a importância do prédio,
a necessidade de autorização do senhorio seria o regime geral e este conduziria muitas
vezes quando esta fosse negada a quebra da referida natureza do negócio.

Nos termos da alínea b) do art. 1118º do CC não há trespasse quando a


transmissão da posição de arrendatário não seja acompanhada da transferência em
conjunto das instalações, utensílios, mercadorias e outros elementos que integram o
estabelecimento65.

Fazendo uma interpretação à lei desta alínea concluir-se-ia que o trespasse de


um estabelecimento exige a transferência de todos os seus elementos, bastando a falta
de um deles para não falar-se do trespasse, e inexistindo o trespasse, a cessão da posição
de arrendatário seria ilícita sem a autorização do senhorio, o que conduziria à resolução
do contrato de arrendamento.

Para que a alínea b) do artigo 1118º do CC não tenha aplicação é suficiente que
o senhorio prove não ter sido transferido um ou mais componentes do estabelecimento,
terá que provar que sem estes elementos aquele concreto estabelecimento não subsiste
que o mesmo não poderia ter sido negociado por simulação de trespasse e dissimulando
a cessão da posição de arrendatário.

A alínea a) do art. 1118º oferece uma outra posição no sentido de que não há
trespasse quando transferido o gozo do prédio, passe a exerce-se outro ramo de
comercio, ou quando de um modo geral lhe seja dado outro destino.

65
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora.
Maputo, 2013, Pág. 89.

44
Deste modo, considera-se não haver trespasse quando no momento do negocio
havia a intenção de dar outro destino ao prédio, isto ee, o cessionário da posição de
arrendatário tinha em vista com ou sem o consentimento de cedente, não a continuação
do mesmo estabelecimento, mais sim a constituição no mesmo prédio de um
estabelecimento novo com um eventual aproveitamento dos bens daquele, ou ainda a
aplicação de um imóvel a fins não comerciais. A intenção de mudança de destino pode
revelar-se das declarações negociais do trespasse, ou em declarações do cessionário e
ainda o mais provável revelado pelos factos posteriores.

Constatado isto, o senhorio pode resolver o contrato de arrendamento com base


na inexistência do trespasse e da ausência do seu consentimento para a cessão da
posição de arrendatário, provando que a mudança do destino do prédio revela que o
adquirente eventual do estabelecimento não quis propriamente o estabelecimento mas
sim a posição de arrendatário66.

2.11.10. Locação do Estabelecimento Comercial

É o contrato pelo qual o titular do estabelecimento proporciona a outrem


temporariamente e mediante o gozo do estabelecimento.

É o contrato pelo qual o titular do estabelecimento proporciona a outrem


temporariamente e mediante o gozo do estabelecimento.67 Neste contrato o cedente ou
locador demite-se temporariamente do exercício da actividade comercial, e quem o
assume é o cessário ou locatário.

O contrato de locação é também conhecido de cessão de exploração ou cessão de


exploração do estabelecimento, este, não é um contrato de arrendamento, embora
implique a transmissão temporária e onerosa da fruição do imóvel para o cessionário.
Deste modo, a cessão de exploração não é sujeita à regras de arrendamento, mormente
aquelas que limitam a liberdade contratual, como por exemplo: as regras relativas a

66
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora.
Maputo, 2013, Pág. 89.

67
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora.
Maputo, 2013, Pág. 92.
45
prorrogação, renovação automática e obrigatória do contrato que não encontram aqui a
aplicação.

Na verdade, o objectivo da cessão da exploração não ee o imóvel em si mais


sim, o estabelecimento como um bem unitário correspondendo a globalidade dos
elementos que o integram e o exercício de uma dada actividade mercantil, assim será,
no entanto, caso se verifiquem duas situações cumulativas:

a) Que se mantenha a sua identidade na transmissão do cedente para o Cessário ou


seja, que sejam transferidos todos os elementos essenciais que permitam a
autonomia a funcionalidade do estabelecimento;
b) Que o cessionário continue a exercer nela mesma actividade.68

Tem sido bastante discutido na doutrina e jurisprudência se haverá necessidade da


previa autorização se senhorio do prédio onde estiver localizado o estabelecimento para
que não ocorra a resolução do contrato de arrendamento previsto no art.1118 do CC.69

Alguma doutrina entende que é necessária a autorização prévia só senhorio,


porque o art.1118, n 1 do CC apenas refere-se ao trespasse, e esta norma é excepcional
em relação ao princípio geral consagrado no art.1038 e) do CC e por isso não é
susceptível de aplicação analógica.

Para outros autores esta posição esta posição é inconsistente, porque a razão de
ser da dispensa da lei da autorização do senhorio no caso do trespasse que é a protecção
da subsistência da empresa comercial de modo a não ser posta em risco pela mudança
de titular é também verificável na locação, pois neste caso o dono do estabelecimento
não se demite definitivamente apenas o loca ao locatário.

Tal identidade de fundamento justifica que na locação se aplique uma solução


idêntica à estabelecida para o trespasse, integrando-se assim uma lacuna da lei existente
no n 1 do 1118 do CC através do recurso da aplicação analogia. Ainda refere que
importa anotar que a eficácia para com o senhorio para a cedência temporária da

68
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora.
Maputo, 2013, Pág. 92-93.
69
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora.
Maputo, 2013, Pág. 93.
46
posição de arrendatário inerente na cessão depende sempre de esta ter sido
tempestivamente comunicada no prazo previsto no art.1038 do CC.70

Mas o legislador teve a precaução de esclarecer que não devido á autorização


prévia do senhorio, pondo assim termo a duvida que se suscitara no domínio da
redacção anterior, fazendo aliás, no sentido do entendimento da jurisprudência e da
doutrina largamente dominante.71

2.11.11. Regime Jurídico de Contrato de Locação e Usufruto

A administração do usufrutuário e do locatário deve cingir-se na preservação da unidade


dos elementos constitutivos do estabelecimento comercial, com vista a, manter a sua
eficiência de organização. De igual modo o usufrutuário e o locatário obrigam-se a zelar
e estabelecimento, assumindo responsabilidades próprias equiparáveis aos do
administrador de bens de terceiros, devendo igualmente assegurar a guarda dos bens e
por isso incorrendo em caso de indevida alienação as mesmas responsabilidades que
recaem sobre o depositário infiel, de acordo com o disposto no art.78° do Ccom.

O art.74° estabelece o prazo que é de cinco anos, se não resultar o contrário


pelas partes, e o art.75° assegura o direito a renovação compulsória da locação mas que
não ultrapasse mais de uma renovação.72

A defesa da transferência global e unitária do estabelecimento pode ser vista a


luz do art.1118° n° 1, que permite a transferência global entre vivos, do arrendatário se
fizer sem dependência da autorização do senhorio, que dá lugar também a renovação do
contrato sobre o edifício ou imóvel, onde está situado o estabelecimento comercial.73

A questão da transmissibilidade ou não das situações jurídicas existentes, é um


aspecto importante a discutir na transmissão do estabelecimento comercial, como por
exemplo: os contratos de trabalho celebrados, os contratos de fornecimento de energia,
ou os contratos com os fornecedores.

70
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora.
Maputo, 2013, Pág. 93 -94.
71
CORREIA, Ferrer A, lições de Direito Comercia, Volume Coimbra, 1994, Pág.72.
72
REPÚBLICA DE MOCAMBQUE, Decreto-Lei nº2/2005, Código Comercial, Escolar Editora,
Maputo, Moçambique.

47
Esta matéria cabe na autonomia da vontade das partes podendo ocorrer a
transmissão desde que eles acordem que assim seja. Aliás, como se defendeu antes, a
ideia de unidade de existência e funcionalidade pode muito bem sustentar a
transmissibilidade destas situações com vista a assegurara a continuidade da actividade
comercial pelo adquirente.74

Através do disposto no art.77°, do Ccom, o legislador deu primazia, a


materialidade subjacente em prejuízo das meras formalidades legais que estão por detrás
da contratação. Quis com isso, não deixar “deveres sem titular” em consequência da
atitude fraudulenta ou simulada dos contratantes.75

2.11.12. Penhora e Execução do Estabelecimento Comercial

Na tentativa de o Legislador esclarecer não apenas que a posição de arrendatário


do local em que o estabelecimento se encontra instado, é penhorável como também que
essa penhora se faz nos termos previstos para a penhora de direitos. No entanto, o
legislador não foi feliz.

A primeira e principal infelicidade consiste na utilização das palavras “direito ao


arrendatário”, embora tal expressão seja de uso corrente entre os não juristas e utilizada
por excelentes juristas76, a posição de arrendatário não é cabalmente designáveis sem
adaptações à penhora da posição de arrendatário.77

Como resulta do que se disse no n 1 do art 862-A do CPC, é dirigido à definição


do modo de efectuar a penhora. Primeiro, o legislador estabelece que a penhora se faz
por “auto, no qual se relacionam os bens que essencialmente o integram”, depois, o
legislador manda aplicar “ainda o disposto para a penhora de crédito, se o
estabelecimento fizerem parte bens dessa natureza” e por último, o legislador esclarece,

74
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito comercial moçambicana, Vol.1, Escolar Editora
2013. Pág. 94-95.
75
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual do Direito comercial moçambicana, Vol.1, Escolar Editora
2013. Pág.95.
76
MAGALHAES, Barbosa De, Do Estabelecimento Comercial, pag.42 e CORDEIRO, Menezes,
Manual de Direito Comercial, Vol. I, Pág. 243.
77
DUARTE, Rui Pinto, A Penhora e a Venda Executiva do Estabelecimento Comercial, 1 edição,
Revista Editora, 2004, Pág. 128.
48
nos termos já analisados, que a penhora do direito de arrendamento se faz como se o
mesmo de um direito de crédito se tratasse.78

Ao estabelecer que a penhora se faz por auto, a lei está a estender à penhora de
estabelecimento o modo de efectuação da penhora de bens móveis, dispostos no
art.849° do CPC.

A forma do auto não levantará grandes dúvidas, mas o seu conteúdo levanta a
questão de saber qual o grau de discriminação a que a relação de bens deve obedecer.
Ao dizer que essa relação deve compreender “os bens que essencialmente integram o
estabelecimento”, a lei parece apontar no sentido de que o elenco dos bens móveis
(corpóreos) não tem de ser exaustivo, de resto uma exigência de exaustividade não seria
impraticável como contrariaria a prática corrente dos negócios quanto á sua
identificação do conteúdo do estabelecimento.79

2.11.13. Execução do Estabelecimento Comercial

Em princípio é de referir que não há condições para se falar da execução sem


que antes falemos da venda do bem penhorado.

Como é sabido, a venda judicial pode assumir várias modalidades conforme o


disposto no art.886 nr180. Na de preceitos especiais a escolha da modalidade cabe por
força da reforma da acção executiva ao agente de execução, ouvido o exequente, o
executado e os cederes com garantia sobre os bens em vender (art.886-A, n 1 e 2).81

Foi introduzido no CPC um artigo especifico sobre a venda de estabelecimento,


no seu art.901-A, estabelece que a venda do estabelecimento comercial de valor
consideravelmente elevado é feita mediante propostas em carta fechada, quando o Juiz o
determine, sob proposta do agente de execução, o exequente, do executado ou de um

78
DUARTE, Rui Pinto, A Penhora e a Venda Executiva do Estabelecimento Comercial, 1 edição,
Revista Editora, 2004, Pág. 129.
79
DUARTE, Rui Pinto, A Penhora e a Venda Executiva do Estabelecimento Comercial, 1 edição,
Revista Editora, 2004, Pág. 130.

81
DUARTE, Rui Pinto, A Penhora e a Venda Executiva do Estabelecimento Comercial, 1 edição,
Revista Editora, 2004, Pág. 130.
49
credor que sobre detenha garantia real. Além disso, o n° 2 do mesmo artigo dispõe que
o Juiz determina, se as propostas serão abertas na sua presença. Tais preceitos merecem
várias notas:

 Para sublinhar que a concretização do que seja valor consideravelmente


elevado levanta dúvida que não possível resolver, pela formulação de um
critério quantificado;
 Para dizer que a referência a um credor que sobre ele tenha garantia real,
consente, literalmente, duas interpretações: a de abranger qualquer credor
que tenha garantia real sobre qualquer elemento do estabelecimento e a de só
abranger credor que tenha garantia rela sobre o estabelecimento como um
todo.82

82
DUARTE, Rui Pinto, A Penhora e a Venda Executiva do Estabelecimento Comercial, 1 edição,
Revista Editora, 2004, Pág. 134.
50
Conclusão
Principiamos o presente trabalho propondo-nos a explorar a meandros
Organização do Empresário Comercial.

Portanto, revelou-se necessário proceder a análise de cada elemento relacionado


ao tema, falamos assim da Empresa comercial onde abordamos os aspectos relacionado
a acepções da empresa comercial, elementos da empresa comercial e a classificação das
empresas, e do estabelecimento comercial fizemos menção dos elementos do
estabelecimento comercial, a firma, nome e insígnia e, marcas.

Depois da pesquisa feita, o grupo concluiu que o empresário desempenha a


função de organizar e dirigir o negócio, elaborar o plano geral de produção, fixar as
quantidades e qualidades dos produtos a fabricar em razão de uma procura prevista, para
isso, reúne ele os factores de produção e os adapta e controla. Assume o risco geral da
empresa. A empresa supor põe-se-lhe como organização do trabalho e disciplina da
actividade no objectivo de produzir riqueza afim de circulação económica.

É de salientar que a empresa não é objecto de estudo apenas na economia, ela


cada vez mais é estudada também em outras diversas áreas e, principalmente, no campo
jurídico. Tendo em vista, a importância que as sociedades empresariais possuem
actualmente é impossível discuti-la do Direito, pois cabe á este regular á sociedade.

Partindo do conceito do estabelecimento comercial não é razoável pensar em


uma actividade organizada, sem pensar em um estabelecimento que apresente e
condicione produtos para servir de referência para o destino da clientela. Mesmo sem a
organização facilmente identificada nos dias actuais, é provável que um mínimo de
organização com instrumentos que auxiliassem os mercadores era quase obrigatório
para que o comércio funcionasse.

Contudo, foi nos possível aprender que essa questão da Organização do


Empresário comercial engloba os sinais distintivos do comércio, ou seja, sinais
característicos que são aqueles que têm a capacidade de identificar os serviços e
produtos no mercado do outro da mesma espécie. Para protecção de nome empresarial
são necessárias providências na junta comercial da unidade da sede onde se localiza a
sede da empresa e na junta comercial da unidade da federação onde se pretende que seja

51
protegido o nome empresarial. Antes de fazer um pedido de registo, é fundamental
realizar uma busca para saber se a marca que você deseja esta disponível.

52
Referências Bibliográficas
 Legislação
REPÚBLICA DE MOCAMBQUE, Decreto-Lei nº2/2005, Código Comercial,
Escolar Editora, Maputo, Moçambique.
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei nº 23/2007, de 1 de Agosto, 1ª edição,
Minerva press, 2016.

 Doutrina
CORRREIA, Manuel A, Pupo, Direito Comercial Direito da Empresa,
12ªEdicao, Revista e Actualizada, Ediforum, 2011.
DUARTE, Rui Pinto, A Penhora e a Venda Executiva do Estabelecimento Comercial,
1ª edição, Revista Editora, 2004.
JUNIOR, Manuel, Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano,
Vol.1, Escolar Editora, Maputo, 2013.
MAGALHAES, Barbosa De, Do Estabelecimento Comercial, CORDEIRO, Menezes,
Manual de Direito Comercial, Vol. I.

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