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FICHAMENTO IMMANUEL WALLERSTEIN

As estruturas do conhecimento ou quantas formas temos nós de conhecer?

A secularização da sociedade, um traço constante do desenvolvimento do sistema-mundo


moderno, encontrou expressão no mundo do conhecimento como um processo em dois
tempos. O primeiro foi a da rejeição da teologia enquanto modo de conhecimento exclusivo, ou
até dominante. A filosofia substituiu a teologia, isto é, os humanos substituíram Deus enquanto
fonte de conhecimento. Na prática, isto significou uma mudança das autoridades que podiam
proclamar a validade do conhecimento. Ao invés de padres passamos a respeitas homens
racionais, dotados de uma perspectiva especial para o conhecimento da lei natural ou das leis
naturais.

Essa viragem não foi suficiente para alguns, que entendiam ser a filosofia uma mera variante da
teologia: em ambos os casos, mantinham, se proclamava que o conhecimento era decretado
pela autoridade, seja de padres, seja de filósofos. Estes críticos insistiam na necessidade de
provas a partir de estudos da realidade empírica. Tais provas, segundo eles, seriam a base de
uma outra forma de conhecimento, a que chamavam de “ciência”. No século XVIII, os
protagonistas da “ciência” rejeitavam abertamente a filosofia, que consideravam ser uma mera
dedução especulativa, e proclamavam que a sua forma de conhecimento era única racional.

Esta rejeição da filosofia parecia, por um lado, defender uma recusa das autoridades. Nesse
sentido, ela era “democrática”. Os cientistas pareciam afirmar que qualquer um poderia
produzir conhecimento, desde que utilizasse os “métodos” adequados, e que a validade de
qualquer conhecimento apresentado por qualquer cientista poderia ser posta à prova por
qualquer outra pessoa simplesmente através da replicação das observações empíricas e da
manipulação dos dados.

Uma vez que parecia também capaz de dar origem a invenções práticas, este método de afirmar
o conhecimento apresentava-se como um modo de conhecer com um poder especial. A
“ciência” não tardou, assim, a alcançar uma posição dominante na hierarquia da produção do
conhecimento.

Ciência procura a “verdade”. E a teologia e a filosofia reivindicam sobre o bem. Essa distinção
entre a “verdade” e o “bem” desenvolveu duas culturas. A filosofia foi relegada para a procura
do bem (e do belo). A ciência instituiu a busca da verdade.

O caminho da ciência empírica era, de fato, menos democrático do que parecia apregoar.
Depressa foi suscitada a questão de saber a quem competia julgar reivindicações científicas da
verdade que concorressem entre si. Os cientistas respondiam que apenas a comunidade de
cientistas o podia fazer. Mas, uma vez que a especialização do conhecimento científico era
inevitável e crescente, isso significava que apenas subconjuntos de cientistas (em cada sub-
especialidade) eram considerados parte do grupo que podia reivindica a avaliação da verdade
científica. P. 126.

Outro problema era a dificuldade de separar a demanda da verdade da demanda do bem.


Especialmente quando o objeto de estudos era a realidade social.
Tais dificuldades mantiveram-se controladas durante 200 anos, mas regressaram para nos
assombrar no último terço do século XX.

Foram lançados dois ataques à divisão tripartida do conhecimento, entre ciências naturais,
humanidades e ciências sociais, e nenhum deles teve origem no interior das ciências sociais.

Os “estudos da complexidade” e os “estudos culturais” atacaram à divisão tripartida do


conhecimento entre ciências naturais, humanidades e ciências sociais. Na realidade, partindo
de pontos de vista bem diferentes, ambos os movimentos tomaram como alvo de ataque o
mesmo objeto, o modo dominante das ciências naturais desde o século XVII, isto é, a forma de
ciência baseada na mecânica newtoniana.

No início do século XX, a física newtoniana enfrentou a física quântica que partilhava ainda a
premissa fundamental da física newtoniana de que a realidade física era determinada e
apresentava simetria temporal e que, por isso, estes processos eram lineares, e que as
flutuações regressavam sempre ao equilíbrio. Nessa perspectiva, a natureza era passiva e os
cientistas podiam descrever o seu funcionamento em termos de leis eternas que poderiam,
eventualmente, ser afirmadas sob a forma de equações simples.

Quando afirmamos que a ciência, enquanto modo de conhecimento, se tornou dominante no


século XIX, é a este conjunto de premissas que nos estamos a referir.

Os estudos da complexidade. Não se trata de rejeitar a ciência enquanto modo de


conhecimento. Trata-se de rejeitar uma ciência baseada na concepção de uma natureza passiva,
em que toda a verdade já está inscrita nas estruturas do universo. Trata-se na verdade de
acreditar que “o possível é mais rico do que o real”. Os estudos da complexidade significam que
o processo de compreensão é bastante mais complexo do que a ciência tradicionalmente
afirmava.

Os estudos culturais atacaram o mesmo determinismo e universalismo que foi alvo dos
cientistas da complexidade. Mas a maior parte dos que partilhavam esta perspectiva
negligenciou a distinção entre a ciência newtoniana e a ciência da complexidade ou, em muitos
casos, não tinha consciência da existência da segunda. Os estudos culturais atacaram o
universalismo, antes de mais, por entenderem que as afirmações sobre a realidade social feitas
em nome deste não eram, na verdade, universais.

Tratou-se de um ataque à perspectiva dos estratos dominantes do sistema-mundo, que


generalizavam as suas realidades como realidades humanas universais, “esquecendo”, assim,
segmentos inteiros da humanidade, não só nas suas afirmações substantivas como também na
própria epistemologia da sua investigação.

Ao mesmo tempo em que estudos culturais representaram um ataque ao modo tradicional dos
estudos huamísticos, que afirmavam valores universais no domínio do bem e do belo (os
chamados cânones) e analisavam os textos como se estes encarnassem essas apreciações
universais. Os estudos culturais insistem em que os textos são fenômenos sociais, criados num
determinado contexto, e lidos ou apreciados também em determinados contextos.

Os estudos culturais e da complexidade buscam “abrir” o campo do conhecimento a novas


possibilidades que haviam sido fechadas devido ao divórcio no século XIX entre ciência e
filosofia.
Estudos culturais chamam atenção para o contexto social em que os textos e todas as
comunicações são elaborados e recebidos reconhecendo um tema central as ciências sociais e
salientam a não uniformidade da realidade social e a necessidade de valorizar a racionalidade
do outro.

A divisão tripartida do conhecimento organizado é um obstáculo a uma compreensão mais


completa do mundo.

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