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TÜPINIQÜIM
Roberto Gomes
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ili
FTD
Copyright (c) Roberto Gomes, 1990
Todos os direitos de edição reservados à
EDITORA FTD S.A.
MATRIZ Rua Rui Barbosa 156 (Bela Vista) São Paulo
CEP 01326-010 Tel. 253.5011
FAX (011)288 0132
94-0590 CDD-199.81
índices para catálogo sistemático:
1. Brasil : Filosofia 199.81
2. Filosofia brasileira 199.81
O
se de título de um livro, supõe-se que denuncie um te-
ma. Ocorre que este tema jamais foi explicitado, não
existindo. Fácil constatar que entre nós esta Razão esta-
rá adormecida ou pulverizada em mil manifestações que
seria problemático reunir num único nó com a virtude da síntese
Talvez seja impossível o tema deste livro, embora seu título
possa ser até sugestivo. Não é fácil escrever sobre algo que só exis-
tirá caso seja inventado. Uma Razão Brasileira, não existindo atual-
mente, precisaria antes do mais ser providenciada, vindo à tona.
Então, das duas uma: ou este livro não pode ser escrito ou será
uma tentativa de "inventar" esta Razão, seguindo vestígios espar-
sos no romance, na poesia, na música popular e até - pois é ca-
paz de que mesmo aí transpareça - nalguns livros de Filosofia.
6 Um título
Mas estas alternativas devem ser rejeitadas. Primeiro, me é
impossível não escrever este livro. Segundo, é absurda a pretensão
de "inventar", aqui, seu tema. Outra será sua pretensão.
Partamos de algo pacífico: mal sabemos o que seja uma Ra-
zão Tupiniquim. Uma piada, talvez. Hipótese que nos causaria gran-
de prazer. Gostamos muito de piadas. Há todo um espírito brasi-
leiro que se delicia com a própria agilidade mental, esta capacida-
de de ver o avesso das coisas revelado numa palavra, frase, fato.
Somos, os brasileiros, muito bem-humorados. Conseguimos rir de
tudo. Do governo que cai e do governo que sobe. Das instituições
que deveriam estar a nosso serviço, dos dirigentes que deveriam
representar nossos interesses. E não é só. Chegamos a fazer pia-
das sobre nossa capacidade de fazer piadas. Nada mais ilustrativo
do que a série de piadas onde representantes de outros países são
ridicularizados pelo desconcertante "jeitinho" de um brasileiro.
Neste plano, seja dito, nos movemos com facilidade gritante.
Desta atitude seria útil extrair o avesso. Embora tenhamos
uma imensa mitologia construída em cima de nosso jeito piadísti-
co, no momento de pensar não admitimos piada. Queremos a coi-
sa séria. Frases na ordem inversa, palavras raras, citações latina
e é impossível qualquer piada em latim, creio. Isto criou situações
constrangedoras, como as fúteis críticas sérias a Oswald de An
de, acusado de mero piadista. Estranha gente, esta. Gaba seu ini-
mitável jeito piadístico, mas na hora das coisas "culturais" mergu
lha num escafandro greco-romano.
j Creio que a existência de uma piada tipicamente brasileira
deveria ser objeto de estudo mais aprofundado. Possuirá caracte-
rísticas específicas? Que atitudes básicas revela? Uma saudável
maneira de suportar um existir humilhado? Um modo de estar aci-
ma daquilo que amesquinha nosso dia a dia? Talvez sim. Certa-
mente sim. Uns reagem com dramaticidade, tragédia e muito san-
gue - ocorreu-nos reagir com o riso.
Talvez uma posição existencial muito nossa. O riso - um cer-
to tipo de riso, o nosso - nos salva, tiraniza o tirano, amesquinha
quem nos tortura, exorciza nossas angústias. Não creio, aqui de
Um título 7
meu ponto de vista brasileiro - e que outro ponto de vista poderia
me importar? - que pudéssemos ter feito melhor.
Há um perigo, porém. Sempre há um perigo. A mesma pia-
da que salva pode mascarar-se em alienação. Como qualquer cria-
ção humana, também a piada deve ser essencialmente crítica, já
que é de sua pretensão ser isso: uma forma de conhecimento. Ora,
quando o riso se perde em pura facilidade, em distração, morre a
atitude crítica. E o "jeito piadístico" estará a serviço de nossa ina
tenticidade. Há indícios, entre nós, de tal coisa: deixar como está
pra ver como é que fica; não esquentar a cabeça; analisa não; dá-
se um jeito.
O conformismo brasileiro encontra aí seu terreno de eleição.
Justificar, por exemplo, sua própria condição - dependência, insol-
vência política, jogos de privilégios - através de um simples "o bra
sileiro é assim mesmo", eis o que impede seja criada entre nós
uma atitude tipicamente brasileira ao nível da reflexão crítica, pro-
posta e assumida como nossa. Desconhecendo-se, mal sabendo
de uma Razão Tupiniquim, o brasileiro aliena-se de dois modos:
rindo de sua sem-importância ou delirando em torno do "país do
futuro", em variados "anauês". Na verdade, conformismo e ausên-
cia de poder crítico, pois nos dois casos há um abandono - "dei-
xa como está para ver como é que fica" - e uma esperança mági
ca - "dá-se um jeito".
N
É necessário não desperdiçar título tão sugestivo. Cab
agora perguntar: trata-se de tema "sério"?
Pelo que ficou dito, propõe-se ser sério, não uma
piada. Quero que me entendam: não uma piada em seu
sentido alienante. É tema que deverá ser "seriamente" considera-
do. Mas: conseguiremos pensar "a sério"? Razão Tupiniquim?
Não é coisa no que se pense - e sobretudo nestes termos. Só po-
de ser brincadeira, jamais um tema "sério". Quer dizer: não cons-
ta de nenhuma tese defendida na Sorbonne ou em Freiberg.
Prestando atenção, vemos que há vários empregos possíveis
para a palavra "sério" e, conseqüentemente, vários sentidos par
a "seriedade". Creio que isso fique claro se considerarmos estas
duas ocorrências: "Fulano de Tal é um homem sério" e "Ful
de Tal leva a sério seu trabalho".
Entre os dois empregos não há apenas o acréscimo de uma
letra, mas uma mudança de perspectiva e de acentuação. Mudou
o caráter da seriedade em questão. No primeiro caso queremos
dizer que Fulano de Tal é um homem que zela pela seriedade das
japarências. É respeitador das normas e convenções sociais. Seria
incapaz de "sair da linha". Dele não se esperam coisas que fujam
A séno: a seriedade 11
ao normal estatístico. Isto vale dizer: Fulano de Tal é um homem
respeitador e respeitável.
Na segunda ocorrência, a seriedade em questão remete-se a
outra gama de significações. Levar a sério, seja um trabalho,
lugar ou um amor, não consiste no zelo pela vigência de normas
sociais. Ao contrário. O acento faz com que toda carga significati-
va recaia sobre o aspecto interno e virtualmente negador do social-
mente admitido. Se levo a sério, isto é algo que sai de mim em
reção ao objeto da seriedade. Se sou sério, me coisifico como obje-
to de seriedade. Aí está a diferença entre o que é dinâmico - ete
namente em questão -, encontrado no a sério, e o caráter de
sa acabada e estéril da seriedade do sujeito objetificado. A séri
revigoro o mundo com uma quantidade imensa de significações.
Sério, reduzo-me a objeto morto, caricato, de existir centrado
externo.
Ao levar a sério, estou profundamente interessado em al
ma coisa, a ponto de voltar todas as minhas energias no sentido
de sua realização - outro não sendo o princípio de erotização do
agir. Mesmo quando isso exige "sair da linha". Só aqui poderemos
encontrar o germe revolucionário indispensável à criatividade.
Fixemos, por exemplo, o caso do artista. O protótipo do artis-
ta, se quiserem. E óbvio que aí encontramos uma figura muito dis-
tante daquilo que se considera sério. Valores não convencion
palavras e frases talvez extravagantes, um modo de vida que tor-
ce o nariz aos bem pensantes. O artista - e o filósofo, quando fiel
à sua vocação igualmente marginal - tem recebido ao longo da
história o rótulo de louco. E sua "loucura" consiste nisto: não é
um homem sério.
Por oposição, nada parece ser levado tão a sério quanto o t
balho artístico. Atividade desinteressada - não no sentido de alie-
nação das questões de sua época, mas em oposição à seriedade
daquilo que é vigente. Não é sem motivo que hoje se busca no ar-
tista um modelo de ação não repressiva e de reerotização do agir.
O critério segundo o qual se orienta não é o lucro ou a dominação
do outro, sendo flagrante que o artista realiza um conjunto de valo-
res que se chocam frontalmente com aqueles que são vigentes.
12 A séno: a serieda
No homem sério, ao contrário, encontramos a perfeita en
nação do "interessado" - palavra agora utilizada em sua conota-
ção menor: eu como objeto da seriedade. É ambicioso, calculista,
visa lucro, poder, organiza suas relações em termos de futuro pro-
veito etc. Curioso notar que nada poderia estar tão distante dos
valores idealmente apregoados pela tradição do pensamento oci-
dental do que o homem sério. No entanto, é o artista que, ao c
cretizar estes valores, acaba recebendo toda a carga de agressão
sob o rótulo de "louco".
O artista, este marginal, é objeto de tabu, suportando a mes-
ma agressiva ambivalência por parte do homem sério: amor e ód
Aliás, duas são as coisas que o homem sério faz ao chegar ao
der: instaura a censura e constrói suntuosos museus e teatros. E
distribui prêmios literários. Isso só parecerá contraditório se deixar
mos de considerar que existem duas maneiras de aniquilar com o
artista: censurando-o ou promovendo-o a uma espécie de ornamen-
to social. E é assim que o homem sério exorciza aquilo que teme.
I Algumas conclusões são possíveis. Antes de mais nada, é ób-
vio que o sério está a serviço de uma máscara social - é uma
isona que assumo. Ou: que me assume. Casca normativa que nos
vem do exterior e que nos dita o que convém, esta a essência de
tal seriedade. A partir disso, pouco ou nada importam as intuições
que procedam do interior, ficando nossa expressão mais pessoal e
crítica eliminada. Eis como existem coisas que um professor faz -
e outras que não faz. Usar óculos, ser carrancudo e empertigado.
Afogar-se e suar desesperadamente num terno e gravata. Falar
num jargão convencional e altamente "erudito" - coisas que cabem,
que convêm. Outras, nem tanto.
O mesmo se dá com aqueles que praticam a Filosofia entre-
nós, a imensa maioria composta por professores. Existem coisas
sérias, consagradas pelo uso acadêmico, de bom tom e alta ilus
ção. São coisas que vêm sendo discutidas na Sorbonne, em Oxford,
publicadas em Paris ou Berlim, apresentadas em congressos. Cons-
tituiu a Filosofia, desta forma, seus próprios temas e maneiras de
tratá-los - aqueles que convêm. Quer dizer, seus sufocantes ternos
e gravatas. E o triunfo do homem sério é atingido quando se ch
A sério: a seriedade 13
ga à completa ritualização. Quando já não importa o dito, mas a
maneira de dizer dentro de padrões previamente consagrados. As-
sim, uma comunicação a um congresso pode ser absolutamente
vazia e soberbamente tola - mas, cumprido o ritual, o aspecto "sa-
crossanto" da cultura é preservado. Eis aí coisas convenientes, per-
feitamente sérias.
Quero com isto dizer - não principalmente e não só - que
o tema providenciado para este título exigiria sair do sério. P
ce evidente que Filosofia brasileira só existirá a partir do momen-
to que vier a ser, como a piada, uma investigação do avesso da se-
riedade vigente. Obras sérias são feitas com arquivos, notas ao
da página e num jargão que me aborrece. É esta máscara sér
que vem sufocando o pensamento brasileiro, onde ela mais profun-
damente aderiu ao rosto. A ritualização, triunfo do sério, consi
exatamente nisto: fala-se agora sobre temas adequados, pouco im-
portando se importam. Vale dizer: mesmo que se trate de especu-
lações sem qualquer raiz na realidade que nos circunda. Assim,
perdeu-se a ligação e a referência crítica à realidade, que sempre
foi a pretensão básica da Filosofia quando soube ser fiel à sua mis-
são marginal.
S
O que chamamos de Filosofia grega nada mais é do que
o síreap-íease cultural que a Razão grega realizou de si
mesma. É deste ato - mais simples do que gostariam
de supor os pensadores tupiniquins -, no qual uma Ra-
zão se descobre em sua originalidade e conhece seus mais íntimos
projetos, que emerge a possibilidade de Filosofia.
Mas no que consiste descobrir-se em sua originalidade? Te-
mos aqui duas questões: sobre o que seja descobrir-se e sobre a
natureza da originalidade. E algo anterior: as condições desta des-
coberta.
Se parto do suposto que descobrir-se é, de algum modo, des-
cobrir alguma coisa, desde logo me coloco em oposição a isto que
deverei descobrir. No momento em que encontrasse tal objeto, te-
ria concluído minha tarefa. Mas não existe de fato nada com o
que, ou com quem, eu deva me encontrar para descobrir-me. Os
encontros com são externos e superficiais.
Uma Sazão que se expressa 19
De fato, descobrir-se é encontrar-se em, pelo simples fato
de não haver um "outro" que eu deva descobrir - desde o início
sou eu quem está em questão. A descoberta é, pois, fenômeno pri
mário: um re-conhecimento.
Se nos despimos de todas as artificialidades que providencia-
mos para nossa instalação no real, verificamos que a questão so-
bre o esíar permanece além de todas. Assim, desde o início a ques
tão a respeito do que eu sou remete-se à pergunta: "Onde es
tou?" E onde estou? Num tempo, num lugar, entre coisas qu<
me rodeiam, pessoas com quem falo. A consciência é primariamen-
te este contato com a proximidade, com os contornos que imedia-
tamente me chocam, exigem e perturbam. Estou em determina-
do lugar e, a partir dele, principio a ser. Antes estou, depois sou.
A Filosofia, onde uma Razão se expressa, sempre se revelou
pela fidelidade a este dado. Súbito, uma Razão descobre-se em.
Em Mileto, por exemplo. Por mais abstrato que possa parecer
um pensamento, sempre traz em si a marca de seu tempo e lugar.
Ao inverso do comumente suposto, não é a desvinculação
do lugar e do tempo que confere profundidade a um pensamento,
como, por exemplo, o de Platão. Seu grande mérito é ser a expres-
são realizada do espírito grego num dado momento - pois este ho-
mem foi, sem dúvida, um grego. Compreendemos mal o que dis-
se se quisermos conservar de sua obra aquilo que não se "mistu-
ra" impuramente com as atribulações de sua época. A consciência
aguda, altamente diferenciada da Razão grega naquele momento,
eis a raiz de sua profundidade e a natureza de sua lição. Seu pen-
samento torna-se incompreensível se não levarmos em conta a ínti-
ma conexão que aí existe entre Política e Filosofia, sendo esta es-
clarecida por aquela, na medida em que reflete a seu respeito. O
fracasso político na Sicília, as condições políticas perturbadoras,
morte de Sócrates o levaram ao postulado fundamental de seu idea-
lismo: o mundo material deve ser modificado - quer dizer: nega-
do - a partir das verdades obtidas na intuição das idéias. Assim,
ao postular a reforma da cidade, o "mundo das idéias" mostra-se
como o não-ser negador do vigente, a síntese de sua crítica a seu
tempo. E só assim, visto em sua essência inegavelmente política,
20 Uma Sazão que se expressa
faz pleno sentido. Fora disso, parecerá construção vazia e "platô-
nica" - o que de fato nunca foi.
Quanto a Tomás de Aquino - um dos autores, aliás, pelo
qual devemos ter o máximo de piedade, pois foi vítima do pio
dos preconceitos, o preconceito a favor -, devemos notar que, "his-
toricamente, o tomismo não surgiu como o sistema intemporal e
'sabe-tudo' que nos apresentam (...) era a resposta patente a um
problema inadiável do momento".1 Encontrava-se em dada posi-
ção e dela buscava a resposta àquilo que era urgente questionar.
Assim, tentar eternizá-lo, colocando-o acima do tempo, é desservi-
lo - donde se conclui que, em matéria de desserviços, os tomista
conseguiram mais do que os mais severos críticos de Tomás d
Aquino. "Isolada do contexto histórico que a viu nascer, a síntese
tomista aparece como anacrônica."2
Os exemplos poderiam continuar e toda uma história da Filo-
sofia poderia ser escrita a partir daí. Fiquemos apenas com o es-
sencial. Como entender Hegel sem a Revolução Francesa, sem re-
ferência à necessidade de reorganização do Estado e da socieda-
de em bases racionais? "Os esforços históricos concretos para
estabelecimento de um tipo de sociedade racional haviam sido
transpostos, na Alemanha, para o plano filosófico e transpareciam
nos esforços para elaborar o conceito de Razão. Tal conceito es-
tá no cerne da Filosofia de Hegel. Este sustenta que o pensamen-
to filosófico nada pressupõe além da Razão, que a história trata
da Razão, e somente da Razão, e que o Estado é a realização da
Razão. Estas afirmações não são compreensíveis, porém, se a Ra
zão for tomada como um puro conceito metafísico, pois a idéia
que Hegel fazia da Razão preservava, ainda que sob forma idealís-
tica, os esforços materiais no sentido de uma vida livre e racional.
(...) A não ser que se apreenda com clareza o sentido de tais con-
ceitos, e sua intrínseca correlação, o sistema de Hegel aparecerá
A
justificar-se. Não no sentido em que as ciências devem
justificar-se. Quanto à ciência, urge saber de sua valida-
de, das condições de construção de seus objetos e deter-
minar, no conjunto da cultura, o lugar do conhecimen-
to que propõe. Não é o que ocorre com a Filosofia.
A ciência e seu saber procedem de um movimento do espíri-
to em direção ao real que nos circunda, real suposto independen-
te de mim. Em nossos dias isto assumiu um caráter pragmático:
seu valor é o de seus resultados em termos de técnica. Antes mes-
mo de determinado o lugar e a validade da ciência, já damos por
suposta sua importância. A ciência nos importa, sendo ú
seus resultados. Antes mesmo de questionarmos a respeito de seus
supostos e conseqüências, damos por admitido que os resultados
do saber científico são desejáveis, gerando progresso. É claro que
mal sabemos o que seja progresso, mas não importa: o cientista é,
do ponto de vista do vigente, dispensado de defender a cidadania
da ciência. Ela já a tem, admitida.
As coisas mudam quando tratamos da Filosofia. Torna-se ago-
ra urgente justificar e assumir a Filosofia. Justificá-la não é ainda
a defesa de sua cidadania, mas algo anterior. Antes do mais, impli-
28 Filosofia e negação
ca certa atitude geral diante do Universo - atitude muito diversa
daquela adotada pela ciência. Nesta lidamos com determinados
objetos munidos de determinados instrumentos, sendo que antes
convencionamos os limites e o valor de sua utilização. Na Filosofia,
deparamos com um modo de colocar a existência em questão. Sen-
do que este modo gera seus próprios objetos. Não há, já foi visto,
objetos que aí estejam - "filosoficamente" - à espera de um trata-
mento adequado. Tais objetos são criados pelo espírito, isolados
num ato de intuição. Não ocorre a simples seleção de um objeto,
mas sua invenção. Por Sm, sua projeção existencial no plano de
nossas importâncias e urgências.
Estes momentos - atitude, invenção, projeção e determina-
ção das urgências - descrevem um único processo. No entanto,
não é tudo. Ocorre um momento paralelo: urge assumir a Filoso-
fia. Talvez isto signifique algo simples: pergunta-se aqui se a Filoso-
fia é, para nós, importante. Será que, além do bolor acadêmico
do qual se reveste e da busca de sucesso intelectual, a Filosofia re-
almente nos importa? Responder a tal questão implica determinar
a distância que vai da justificação da atitudefilosófica(crítica) ao
uso da Filosofia para justificar atitudes (ideologia).
Não basta estabelecermos os vícios de nossa costumeira posi-
ção intelectual, ainda que isso seja decisivo. E preciso perguntar
além, na origem. Ou seja: precisamos mesmo de Filosofia? Propor
esta questão não é um mero perguntar-se acadêmico - e "brilhan-
te", num jogo de palavras. É levar o questionamento a seu limite:
o limite de sua importância.
É verdade que qualquer executivo esbarra ao longo da vida
com questões que constam entre aquelas problematizadas pelos
filósofos. Mas só isto não concede importância a tais quest
preciso que eu esteja envolvido num processo no qual tais ques-
tões emerjam como decisivas, vindo a ser urgentes, quando as le-
vo a sério.
Descobrimos para lá da importância da Filosofia dada pelo
homem sério - erudição, brilho, status, justificação ideológica
vigente - a importância da Filosofia quando levada a sério -
emergência da consciência negadora.
Filosofia e negação 29
As questões decorrentes são as seguintes. Onde, entre-nós,
esta importância a sério do filosofar? Onde, o objeto
preocupações referido ao que nos rodeia e inventado por ato de
uma consciência crítica brasileira? Onde, a autenticidade e a cida-
dania de uma Filosofia nossa?
Estas, as questões que entre-nós foram extraviadas. Isto por-
que a grande tentação da Filosofia - algo que compartilha com a
arte - é apresentar-se como "respeitável", quer dizer, com preten-
sões sérias.
O conceito de responsabilidade é, assim visto, essencialmen-
te acrítico; e já sabemos que o homem respeitável é o homem sé
rio. Tal homem está definitivamente comprometido com dado siste-
ma, molde e fim de seus atos. A partir do momento em que a Filo-
sofia adquire respeitabilidade, pode conseguir tudo - verbas, diplo-
mas, honrarias, imortalidades acadêmicas -, menos o essencial: es-
pírito crítico.
Em livro de introdução à Filosofia, por exemplo, é comum
encontrarmos a insistência com relação à "utilidade" da Filosofia
- versão séria da importância. É apresentada como co
to desinteressado (o que, de resto, ou é equívoco ou não existe,
sendo todo conhecimento interessado, já que é assumido como ur-
gente), embora fosse melhor dizer inofensivo. E assim busca-se
mostrar os benefícios informativos e formativos - "espirituais" -
da Filosofia. Esta atitude dos manuais equivale a pedir um lugar
ao sol para um pobre mendigo, o filósofo. Jura que é inofensivo,
sério, e que cuida apenas das coisas do espírito - e pede um pou
co de sol. Desconfio que tal sujeito mendiga errado, já que não sa-
be do que precisa.
Ao se ressaltar a utilidade da Filosofia - e é uma importância
séria que lhe será dada - estaremos de imediato liquidando c
esta Filosofia. Poderá a partir de então reproduzir ideologicamen-
te o que é vigente, só. "Pense" o que quiser, será sempre ideológica.
Tal Filosofia ficará impossibilitada de, antes de mais nada,
criar um mundo - o que equivale a dizer: destruir um mundo, aque-
le que impede o próximo. Visará manter o mundo dado com to
da a sua seriedade. Assim, as duas características anteriormente
30
Filosofia e negação
exigidas, autenticidade e cidadania, ficam prejudicadas. E a Filoso-
fia permanecerá entre-nós como aquele agregado de Machad
de Assis, o José Dias, que aplaude e concede para sobreviver.
A Filosofia não pode prescindir de sua missão primeira: des-
truir um mundo. Efetivamente, o que é Filosofia? A mim parece
ser isto: dizer o contrário.
Esta, a lição primária que uma história do pensamento deve-
ria sempre ressaltar. Os grandes momentos do pensamento surgem
no auge de uma curva, dando consistência e definição a um mo-
mento do processo histórico. E condensam isto numa intuição po-
tencialmente criadora. Imediatamente após o período de criação
surge a cristalização e a esterilidade - e aí encontramos os preten-
sos seguidores. É quando aquela intuição originária se perde nalgu-
ma escolástica. Só mais tarde surgirá o verdadeiro sucessor: aquele
que disser o contrário, respondendo à intuição envelhecida em con-
ceito com uma nova intuição. E o processo segue.
Antes de mais nada, Sócrates diz não a tudo que o precede,
como Tales havia dito não às cosmogonias e como Platão dirá não
a Sócrates - encontrando em Aristóteles aquele que lhe diz o con
trário. Os verdadeiros seguidores de Platão não são os neoplatôni-
cos, pois estes festejam um cadáver. Poderíamos construir toda
uma história da Filosofia, que se recusasse a ser mero arsenal ilus-
trativo de dados históricos, mostrando que qualquer momento cria-
dor foi, na origem, uma negação. Isto não envolve, advirto, a idéia
de uma necessária sucessão linear que conduzisse a um "progres-
so" contínuo para algo melhor - apenas envolve momentos legíti-
mos de um processo que, embora produto humano, nos escapa
em seu sentido globaL
Oswald de Andrade, que entre-nós representou um momen-
to de devastadora destruição e, portanto, de máxima criação, fez
bem em notar com relação à arte: "Essa necessidade de moderni-
zar é de todos os tempos (...) Giorgio Vasari, o grande crítico do
Renascimento, fala sempre e insistindo em exaltar, na 'maneira
moderna' de Leonardo da Vinci, de Rafaelo Sanzio de Urbino,
esses que são hoje os clarins supremos do classicismo. E o são jus-
tamente porque foram 'modernistas'. Se não o fossem, aguavam
Filosofia e negação 31
repetindo Giotto e Cimabue, em vez de produzir a Língua nova
da Renascença."4
Qualquer conhecimento inicia sendo negação, ou seja, como
essencialmente crítico. O que não é, está visto, exclusividade da
Filosofia. Das artes plásticas à ciência, assistimos à sucessão de in-
tuições criadoras degradando-se em estereótipos até serem recupe-
rados por nova intuição.
Há, no entanto, uma condição para este não. A crítica é al-
go a ser assumido, é uma posição do espírito. E não a assumo do
ponto de vista da eternidade. Por um motivo simples: não estou
na eternidade. Estou no tempo, num lugar. Ao assumir a postura
crítica a partir deste tempo e lugar, deixa de haver distância entre
o que digo e o que sou - inexistindo qualquer diferença entre es-
tar e ser. Digo o que sou. Isto é Filosofia. Meu streap-tease cultural.
Entre-nós, porém, encontramos atitude oposta, que chamare
de "mito da imparcialidade". Queremos estar acima das oposições.
Não no sentido de assumi-las e então resolvê-las. Mas no sentido
de evitá-las e então dissolvê-las. Aguando, como diria Oswald de
Andrade.
E fato constante nossa tendência a evitar o choque de idéias
e as tomadas de posição. Encontramos sempre um meio-termo en-
tre, digamos, idealismo e realismo, subjetivismo e objetivismo, e
houve mesmo quem entre-nós encontrasse um meio-termo entre
positivismo e marxismo, disparate que me intriga. Tudo isto pode-
ria consistir em empresa louvável, mas não do modo como a con-
duzimos: dissolvendo oposições. Cabe, a propósito, alertar que no
meio não está a virtude, como muitos pensam. No meio está o
medíocre.
Eis por que, não assumindo uma posição nossa, um pensar
brasileiro torna-se impossível - impossibilitado de criar por não
aceitar destruir o passado que nos impuseram -, recusando assu-
mir sua condição básica: que seja nosso, negador do alheio.
4. ANDRADE, Oswald de. Ponta de Lança. 3? ed., Rio de Janeiro, Civilização Brasi
ra, 1972, p. 12.
CapüubS
O mito da impar-
cialidade: o ecletismo
O mito da imparcialidade: o ecletismo
A gente dá um jeito.
(Do povo)
0
corrente que damos um jeito em tudo, do existencial
ao político, do físico ao metafísico. E não paramos a
ficamos muito satisfeitos em ser, pelo que nos parece,
o único povo capaz de tão saudável atitude.
Creio que o elemento constitutivo do jeito seja a não-radicali-
zação Um distanciamento das posições a serem tomadas, o que
combina com nosso modo oblíquo de olhar as coisas e nosso pecu-
liar ceticismo. Um homem que se exalta perde a capacidade de
"dar um jeito". Um país que entra num processo revolucionário
não soube descobrir o "jeito" de evitar coisa tão desagradável É
saber ver: para o brasileiro - futebol posto de lado - , o máximo
ridículo é ser apanhado "crendo". Seja em política, Filosofia o
ligião. Nunca nos sentimos mais estúpidos do que no momento
em que alguém aponta a nossa radicalização, nosso empenho num
projeto. Envolver-se determina a perda daquilo que confundimos
com espírito crítico: a imparcialidade da Razão Tupiniquim. Nu
ma atitude dissolvente que sempre nos acompanha, ao modo de
manter um pé atrás, nos afastamos das posições a assumir. Daí, o jeito.
Nasce o espírito conciliador. Afinal, as coisas da existência,
seja pessoal ou social, não estão aí para serem levadas tão a sério
Conciliador e obediente, cordial, o brasileiro jamais conduz as ten-
sões àquele nível em que geram um limite sem retorno.
O mito da concórdia.' o jeito 45
O que fazer diante de uma condição, a existência, que conti-
nuamente se apresenta como urgente, exigindo que se assuma
uma posição? Existir é radicalizar. Radicalização que será posterior-
mente negada, num processo indefinido. Posição é estar e preten-
der. Necessariamente uma escolha e uma radicalização. Não pos-
so ver a vida como espetáculo, como não a posso ver do "ponto
de vista da eternidade".
Resta saber: a gente dá um jeito?
11. VITA, Luís Washington. Escorço de Filosofia no Brasil Coimbra, Atlântida, 1964, p. 51
O mito da concórdia: o jeito 47
que é o grupo fanatizado, a visão mágica emerge. Divergir é cri-
me. Discordar é subversão. Perguntar já é um ato de desobediên-
cia. Isso no país do jeitinho, do homem cordial, do carnaval eter-
no. Com efeito, o real não apresenta a linearidade das distinções
lógicas. Nele, o indiferenciado, o inconsciente, é o que mais atua
e sob a forma mais arcaica.
Urgente, pois, que se faça a leitura além das aparências dos
mitos com os quais gostamos de nos revestir de modo narcisista.
Além da cordialidade, do espírito aberto e conciliador; são mitos
e apresentam algo comum aos mitos: estruturam uma visão de
mundo e pretendem ser inquestionáveis. Gerados pela ausência
de uma posição crítica, são produto da indiferenciação intelectual
Eis por que, ausente a crítica, seu contrário emerge sob a forma
de intolerância, sectarismo, partidarismo estéril, repressão, censu-
ra - um campo fértil para a atuação da autoridade irracional e pa-
ra os regimes que dela façam uso.
S
atitude de tolerância e de abertura intelectual Como
expressão da Razão Conciliadora, um dos produtos mais
lamentáveis, de potencial despótico e conservador.
Há um retrato possível, cruel mas verdadeiro, do
praticante de Filosofia no Brasil - a imensa maioria composta de
professores, tipos entre os quais predomina, a despeito das alegóri-
cas pretensões reformistas (idealizadas, de resto), o espírito mais
retrógrado e legitimador do vigente. Neste retrato vemos alguém
sempre disposto a encontrar analogias - as quais pretende brilhan-
tes - entre as teorias mais opostas e irreconciliáveis, fazendo sua
tradicional salada filosofante, onde, em proporções idênticas ou
não, entra algo de tomismo e de Comte, de Comte e de Marx,
de Marx e de estruturalismo, de estruturalismo e Marcuse.
Ocorre, porém, uma coisa estranha: o mesmo homem que rea-
liza a mais dissolvente conciliação, urra de ódio contra os oposito-
res. A maldosa crítica fora de propósito, dirigida contra pessoas e
não contra idéias, passa a ser então a arma de que se vale este cu-
rioso arrivista, o intelectual tupiniquim. Somos incapazes de convi-
ver e dialogar com alguém que discorde de nosso modo de ver -
embora sejamos capazes de conviver com autores e obras mutua-
50 Originalidade e jeito
mente excludentes, adotando a todas com igual entusiasmo. No
que se percebe pouca razão.
Há razão, porém. Mesmo o irracional tem uma Razão atra-
vés da qual podemos dele nos dar conta. A atitude conciliadora é
ausente de critérios, de intuições geradoras de pensamento. Pen-
sar é unificar. O esforço secular da Filosofia tem sido a tentativa,
continuamente renovada, de apreender o real num único ato de
saber. Comumente - e isto é ostensivo entre-nós - confundimos
o filósofo com aquele sujeito que sabe muitas coisas e que discur-
sa sobre tudo. Em suma: o filósofo é tido como o homem de mui-
tas idéias. Equívoco total. O filósofo é o homem de uma idéia s
Idéia que, por sua virtualidade criadora, é capaz de desenvolver
no espírito uma visão unificada do mundo.
C
de Filosofia no Brasil, clarificado o sentido deste termo.
Há Filosofia no Brasil porque ela aqui se encontra entre-
nós, manifestando sua presença. Talvez um corpo estra-
nho, mas presente. Não só contamos com documentos
a respeito, documentos com data marcada, como encontramos re-
vistas e livros que versam sobre seus temas. Aqui realizam-se con-
gressos, encontros, debates, e nos currículos universitários a Filoso-
fia consta obviamente - cada vez menos, mas consta. Tudo isso in-
dica que a Filosofia está entre-nós. Como um parente distante,
uma tia talvez, que chega e vai ficando -mas, seja como for, entre-nós.
Esta presença e seu caráter se evidenciam se procurarmos
extrair o negativo das seguintes palavras de Luís Washington Vita:
"De fato, cumprindo seu destino e sua vocação, o pensamento bra-
sileiro, mais do que criativo, é assimilativo das idéias alheias, e,
ao invés de abrir rumos novos, limita-se a assimilar e a incorporar
o que vem de fora. Daí a história da Filosofia no Brasil ser, em
geral, uma história da penetração do pensamento alheio nos reces-
sos de nossa vida especulativa, ser, em suma, a narrativa do grau
A Filosofia entre-nós 57
de compreensão, da nossa capacidade de assimilação nas diferen-
tes épocas e do nosso quociente de sensibilidade espiritual".15
Em termos de retrato, perfeito. Mas creio que Luís Washing-
ton Vita não conseguiu extrair do negativo que tinha nas mãos a
revelação verdadeiramente significativa. Afirma que "cumprindo
seu destino e sua vocação" - o que equivale a dizer que existe ins-
crito em algum céu transcendental algo que seja o "destino" e a
"vocação" do pensamento brasileiro. Ao contrário, vejo aí a confir-
mação de que, manifestação de um país dependente, nossos inte-
lectuais assumiram ao limite o papel que lhes reservou a condição
de colonizados: serem assimflativos. Introjetou-se aqui a função
do dependente: compreender as idéias alheias e, curiosamente, re-
duzir a história da Filosofia no Brasil à narrativa de nossa "capaci-
dade de assimilação" e de nosso "quociente de sensibilidade espiri-
tual", quando, numa adequada compreensão histórica, caberia, is-
to sim, extrair desta constatação o significado mais profundo: os
modos de falsificação dos quais temos sido vítimas e co-autores. "O
simples fato da questão (como ser original) - nota Antonio Candi-
do - nunca ter sido proposta revela que, nas camadas profundas
da criação (as que envolvem a escolha dos instrumentos expressi-
vos) sempre reconhecemos como natural a nossa inevitável depen-
dência."16
Com a naturalidade com que esquecemos de ser originais,
deixamos de observar que um pensamento alheio se enraíza e tem
em mira uma situação histórica diversa daquela na qual nos encon-
tramos. O que se envidencia pela preocupação de Luís W. Vita
com nosso "grau de compreensão" do pensamento alheio. Esque-
cemos igualmente que idéias vitais para um europeu ou norte-ame-
ricano poderão ser aqui meros ornamentos intelectuais, desfibra-
dos e mambembes.
Seja como for, há Filosofia entre-nós. Lembro, no entanto,
que isso não esgota a problemática a respeito de uma Filosofia
brasileira, propondo, no mais das vezes, seu avesso: os sinais de
N
bora superficialmente tal oposição possa ser justificada,
a verdade é que o aparecimento - e o triunfo - do po-
sitivismo nada mais fez do que desdobrar um componen-
te já implícito no ecletismo anterior: a Razão Afirmati-
va. A Razão que diz sim.
Indiferenciada e dependente, precisando legitimar idéias e
modelos providenciados estranhamente, a Razão Afirmativa encon-
trou em nosso ambiente intelectual um campo de fácil penetração.
"Nas condições peculiares do pais - ausência de tradição filosó
ca, fragmentação e dispersão do único grupo, a Escola de Recife,
que reivindicava a metafísica ao mesmo tempo em que recusava
a volta à antiga Filosofia já superada etc. - , a ação antífilosófica
dos positivistas estava fadada a alcançar resultados desproporcio-
nais não só à sua força efetiva como à consistência mesma da dou-
trina." 30 Com efeito, olhando criticamente e face às urgências histó-
ricas que se apresentavam ao Brasil, o positivismo só poderia ter
sido aceito em função dos interesses vigentes e da reprodução da
hegemonia das classes dominantes.
S
mos dizer que com a Semana de Arte Moderna, em
1922, realizamos uma primeira tentativa de real indepen-
dência cultural face ao passado europeu e aos modelos
estrangeiros. Com exagero - este sim, bastante nosso -
efetuamos a constatação do óbvio: à nossa volta não havia fog, ne-
ve ou castelos medievais - mas bananeiras, coqueiros, casas de ca-
boclo e gente de nariz batatudo e lábios grossos. O parnaso super-
refinado, os traços suaves das madonas, o bom gosto oficial vieram
abaixo; nossos artistas retiraram de seus ombros a carga de um
passado alheio e que lhes pesava. Tornava-se possível criar. O re-
sultado foi uma revolução. De Mário e Oswald a Drummond e
João Cabral de Mello Neto, súbito percorremos os caminhos de
uma emancipação artística. Os imensos pés das figuras de Portina-
ri denunciam: encontrou-se um chão sobre o qual pisar.
É claro que análises detalhísticas encontrariam por detrás
do Manifesto Antropofágico o italianíssimo Marinetti. Mas uma
coisa se ressalta: mudou o espírito, a atitude. A partir daí uma re-
ação em cadeia será liberada, permitindo produzir uma arte cujo
Razão Dependente e negação 97
significado é flagrante: assumir nossa posição. "Confesso - diz Os-
wald de Andrade - que a revolução modernista eu a fiz mais con-
tra mim mesmo (...) Pois eu temia escrever bonito demais. Temia
fazer a carreira literária de Paulo Setúbal. Se eu não destroçasse
todo o velho material lingüístico que utilizava, amassasse-o de no-
vo nas formas agrestes do modernismo, minha literatura aguava e
eu ficava parecido com D'Annunzio (...) Não quero depreciar ne-
nhuma destas altas expressões da mundial literatura. Mas sempre
enfezei ser eu mesmo. Mau mas eu."42
O modernismo brasileiro instalava-se sobre o signo da nega-
ção. Havia que destruir, como diz Oswald, aquilo que falsamente
viéramos a ser: "A revolução modernista eu a fiz contra mim mes-
mo". Destruir as condições internas e subjetivas da dependência,
pois esta não é simples fato externo - se existem fatos puramen-
te internos ou externos - mas disposição internamente assumida:
o escravo traz o senhor dentro de si. Lutando contra si mesmo,
contra seus próprios fantasmas, os modernistas sentiam a urgência
de se libertarem dos vínculos que os mantinham presos a uma Eu-
ropa idealizada.
"A Alemanha racista - diz Oswald - purista e recordista pre-
cisa ser educada pelo nosso mulato, pelo chinês, pelo índio mais
atrasado do Peru ou do México, pelo africano do Sudão. E preci-
sa ser misturada de uma vez para sempre. Precisa ser desfeita no
melting-pot do futuro. Precisa mulatizar-se."43 Um mundo desaba-
va. E a primeira coisa a fazer - assim como nas revoluções - era
queimar os retratos e bustos dos tiranos. Não contra os tiranos -
mas contra nós mesmos. E o efeito de substituição: a tomada de
consciência do mulato, do índio, da América Latina. A consciência
daquilo que nos constituía e sem o que nada poderíamos ser.
Após a derrubada do ídolo - saudavelmente barulhenta -
assistimos à aproximação de nossos valores, de nossos limites e
possibilidades. "Nada podemos esperar da Europa européia, para
Sugestões de
atividades
didáticas
Um título Cap. 1
1. Fazer uma sessão de apresentação/repre-
sentação das melhores piadas que o grupo
conhece. Em seguida analisar as relações
entre os personagens; apontar as piadas crí-
ticas e as alienantes.
2. Pesquisar sobre o Movimento Modernis-
ta, Oswald de Andrade e Mário de Andra-
de. Apresentar os resultados.
3. Comentar a frase do texto: "Gaba seu
inigualável jeito piadístico, mas na hora das
coisas 'culturais' mergulha num escafandro
greco-romano".
4. Apontar formas de conformismo nos vá-
rios campos da vida brasileira.
5. Elencar algumas obras dos autores cita-
dos na página 12.
6. Montar painéis com reportagens e arti-
gos sobre o caráter brasileiro.
7. Analisar as ilustrações do capítulo (o
mesmo vale para os capítulos seguintes).
112 Sugestões de atividades didática
O mito da impar-
cialidade: o ecletismo Cap. 5
1. O que é ecletismo? Vantagens e desvan-
tagens.
2. O brasileiro é um ser cordial?
3. Sinais da dependência cultural do brasileiro.
4 . 0 Brasil é um país velho, jovem ou infantil?
5. Comentar: " O espírito da dúvida é o iní
cio e a essência do pensamento". Vanta-
gens e desvantagens da dúvida como atitu-
de mentaL
114 Sugestões de atividades didátic
6. Fazer um cartaz (com colagens, dese-
nhos) criticando a frase: "Mais uma vez, a
Europa se curva perante o Brasil".
O mito da concórdia:
Cap. 6
o jeito
1. Fazer uma pesquisa sobre as revoltas san-
grentas na História brasileira, passada e re-
cente.
2. Entrevistar um burocrata assumido, sobre
o que ele considera a importância da buro-
cracia.
3. Entrevistar uma vítima da burocracia.
4. A partir dos depoimentos, montar uma
pequena peça teatral.
5. Apontar no cotidiano manifestações de
jeitinho e de intolerância. Ver como elas
aparecem na musica popular.
Cap. 10
1. Pesquisar sobre Comte e o positivismo.
2. Comentar a opinião de Comte sobre o
voto e os direitos humanos.
3. Comparar o positivismo e o ecletismo.
116
Sugestões de atividades didática
O autor
Igual a todo mundo, nasci Mas, em 8/10/1944, na cidade de Blume-
nau, Maternidade Santa Isabel, num domingo às 15 horas, só eu e um
amigo de infância, chamado Cacaes, com quem nunca mais cruzei na vi-
da. Um ponto a menos para os horóscopos. Aos treze anos, por culpa
de Mark Twain, disparei a ler livros, revistas, jornais, folhetos, cartazes,
bulas de remédios, receitas de bolo, regulamentos de hotéis (desses qu
ficam pendurados atrás das portas). Desde então vivo com uma porção
de livros por perto e quase me transformo em personagem de Borges.
Aos 16 anos, resolvi que ia ser escritor e gastei o primeiro salário de au-
xiliar de desenhista da prefeitura na compra de uma máquina de escre-
ver usada. Nela e em mais três outras, até chegar ao micro que uso ho-
je, escrevi contos, romances, artigos, reportagens, crônicas, o que resultou
numa imensa montanha de papel e em nove livros publicados, além de
uns três ou quatro inéditos. O livro Crítica da Razão Tupiniquim
crito entre 1974 e 1977. Nele eu investi contra a hipocrisia intelectual,
contra a falsa cultura, contra a filosofia desfibrada e mole qüe se prati-
cada) no Brasil. Mas também investi contra mim mesmo, quer dizer, con
tra aquilo que o ensino, a escola e a universidade haviam feito de mim.
Foi uma libertação emocional e intelectual pela qual agradeço até hoje.
A minha esperança é que o mesmo aconteça com os leitores.
Roberto
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A Filor er vista e apresentada como
algo c* esquisitices de gregos e ale-
mães .o uma coleção de teorias que
se Tf nas que, de tão profundos, são
in' comum dos mortais. A preocu-
P mérito, desta CRÍTICA DA RAZÃO
,razer estas questões para o solo
3 no dia-a-dia, fazendo da indaga-
m questionamento que parte do co-
. 10 que nos é próximo, das formas que
.•a particular usa para nos construir
, numanos. Darcy Ribeiro disse a propó-
ablicação deste livro: "O Brasil volta, final-
j, a filosofar." Preocupado em reconstruir o
modo como nós brasileiros nos apropriamos da tra-
dição européia, Roberto Gomes tem da Filosofia
uma visão muito particular. Ela é uma crítica dos
mecanismos por meio dos quais nos tornamos dig-
nos ou indignos da Razão.
Livros desta coleção:
PLATÃO - OUSAR A UTOPIA Jorge Cláudio Ribeiro
ARISTÓTELES - O EQUILÍBRIO DO SER Otaviano Pereira
DESCARTES - A PAIXÃO PELA RAZÃO Mario Sérgio Cortella
ROUSSEAU - O BOM SELVAGEM Luiz R. Salinas Fortes
MARX - TRANSFORMAR O MUNDO Moacir Gadotti
SARTRE - É PR0D3ID0 PROIBIR Fernando José de Almeida
GANDHI - POLÍTICA DOS GESTOS POÉTICOS Rubem Alves
CRÍTICA DA RAZÃO TUPINIQUTM Roberto Gomes
FTD