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economia
Robert P. Murphy
[N. do T.: o texto a seguir foi considerado pelos leitores do mises.org um dos mais
divertidos e elucidativos já divulgados.]
[Paul Krugman:] Aqui está o problema: por uma questão de simples aritmética,
o gasto total em uma economia é necessariamente igual à renda total (cada
venda é também uma compra, e vice versa). Portanto, se as pessoas decidem
gastar menos em bens de capital, será que isso não significa que elas devem ter
decidido gastar mais em bens de consumo - o que implica que uma queda no
investimento deve sempre ser acompanhada de um correspondente aumento no
consumo? E, sendo assim, por que deveria haver um aumento no desemprego?
[Tyler Cowen comentando a fala acima:] Mas eu creio que o ponto será mais
efetivo se tomado ao inverso. Por que é que, pra começo de conversa, o boom
(forte crescimento econômico) é realmente um boom? A retirada de recursos da
produção de bens de consumo, e sua transferência para a produção de bens de
capital, deveria gerar queda no salário real, e não aumento. Em outras palavras,
a teoria austríaca não gera o altíssimo grau de co-movimento encontrado nos
dados.
Esses são na verdade dois argumentos distintos; ou seja, Cowen fez mais do
que simplesmente "inverter" o argumento, ele alterou-o ligeiramente. Para
ajudar o leitor a entender minha resposta, deixe-me parafrasear (aquelas que
considero ser) as objeções similares (porém distintas) de Krugman e Cowen
à teoria de Mises e Hayek.
A teoria austríaca, em linhas bem gerais, diz que durante o boom econômico
artificial a mão-de-obra dos trabalhadores e outros recursos serão desviados
para projetos de investimento que não são compatíveis com o nível total da
poupança real. Mais cedo ou mais tarde a realidade vai impor sua face
medonha e os projetos insustentáveis terão de ser abandonados antes de
serem finalizados (a menos que o crédito continue sendo injetado na
economia em volumes cada vez maiores, o que geraria um colapso total dos
preços). Os empreendedores percebem que eles se enganaram terrivelmente
durante o boom, todos se sentem mais pobres e cortam o consumo, e muitos
trabalhadores perdem seus empregos até que a estrutura de produção seja
reconfigurada à luz dessa revelação.
Não obstante, Krugman diz que isso não faz sentido. Podemos estipular que
alguns produtores (construtores, por exemplo) expandem suas atividades
muito agressivamente durante um boom, e então repentinamente descobrem
que seus clientes não mais querem comprar seus produtos (prédios
comerciais urbanos, digamos). Mas, explica Krugman, as pessoas na economia
têm de gastar sua renda com alguma coisa. Se a renda não está sendo
direcionada a prédios comerciais de $10 milhões, então ela tem de estar
sendo canalizada para ingressos de cinema, ou para geradores elétricos, ou
para cópias do livro de Peter Schiff[3]. Portanto não é nada óbvio, conclui
Krugman, por que haverá um maciço desemprego no início da "ressaca"
oriunda da farra do crédito. Os empregos destruídos nos estágios "mais altos"
da produção (no jargão austríaco, aqueles que estão no início da cadeia
produtiva, como o setor de máquinas e equipamentos) deverão ser
compensados por empregos recém criados nos estágios mais baixos (aqueles
dos setores de bens de consumo final e serviços).
A objeção de Tyler Cowen é similar, mas, como eu disse, não é bem a mesma.
Cowen quer saber por que as pessoas deveriam se sentir ricas durante o boom
induzido pelo banco central - como os austríacos alegam que ocorreria. Posto
que mão-de-obra e materiais estão sendo desviados para a produção de bens
de ordem mais alta - como tratores e cones alaranjados utilizados durante a
reparação de estradas -, a escassez inerente aos fatores de produção implica
que deveria haver menosbens de consumo (TVs, churrascarias, carros
esportivos) sendo jogados no mercado durante o boom. Se menos bens de
consumo estão sendo produzidos, então a renda real per capita tem de cair, o
que novamente é o oposto do que os austríacos alegam.
Fiz o meu melhor para parafrasear o que entendo ser as posições de Krugman
e Cowen. Devo confessar que, mesmo enquanto digitava, o non sequitur[4]de
cada objeção saltava à vista. Em relação a Krugman, seu argumento se baseia
em uma concepção estática da renda e do gasto. Usando essa mesma
tautologia contábil - sem relacioná-la ao tempo - Krugman poderia também
argumentar que a renda real em uma economia jamais pode ser alterada,
mesmo se o governo anunciar que os 10% mais produtivos trabalhadores de
cada empresa seriam mortos. (Afinal, a renda total ainda assim seria igual ao
gasto total.)
Quanto a Cowen, ele parece estar assumindo que a "renda real" é equivalente
ao "consumo real". Não sei o que dizer, exceto que "Não, não é". Se um
trabalhador arruma um emprego em uma mina de prata e é pago em onças de
prata, as quais ele estoca no porão da sua casa, ele pode ter um "salário real"
muito alto ainda que seu consumo seja muito baixo. Para ser justo, convém
considerarmos que Cowen disparou as bobagens acima apenas em seu blog,
e não em algum jornal acadêmico; eu odiaria ver uma coletânea das coisas
mais estúpidas que já falei em meu blog. Portanto, vamos assumir que ele quis
dizer que a TACE nos faz crer que o consumo real (e não a renda) irá cair
durante o período do boom. O argumento de Cowen é que isso não bate com
os dados. Durante o boom, vemos um aumento dos investimentos em projetos
novos (e mais "indiretos", para usar a linguagem austríaca) e vemos os
trabalhadores sendo mais bem pagos e portanto comprando mais bens de
consumo. Porém, pergunta Cowen, não deveria isso ser impossível já que,
como alegam os austríacos, durante o boom os recursos são retirados dos
bens de consumo (como iPhones) e são redirecionados para a produção de
bens de capital (como tratores e carretas)? Na seção seguinte veremos o que
Cowen está negligenciando.
Mas, infelizmente, eis que um dia Paul Krugman surge na ilha, após o
naufrágio do seu barco. Depois de ser reanimado pelos ilhéus, ele analisa a
humilde economia da ilha e começa a dar palpites e conselhos sobre o que os
ilhéus devem fazer para elevar seu padrão de vida a níveis americanos. Ele
mostra o motor de popa (ainda cheio de gasolina) do seu barco naufragado, e
os ilhéus ficam intrigados. Leigos em economia, eles acham os argumentos
krugmanianos irresistíveis e concordam em seguir todas as suas
recomendações dali pra frente.
Sendo um economista treinado, Krugman sabe bem o que fazer. Ele sugere
que 2 dos colhedores de arroz e 2 dos enroladores de sushi mudem de tarefa
e passem a ajudar os pescadores. Agora com 34 pescadores, os ilhéus se
mostram aptos a pescar a mesma quantidade de peixes que pescavam nos
meses anteriores, mesmo que agora eles estejam utilizando redes
esfarrapadas e barcos dilapidados. Krugman - sendo muito esperto com
números - deslocou o número exato de trabalhadores de modo a fazer com
que a quantidade de peixes pescada pelos 34 ilhéus fosse perfeitamente
compatível com a quantidade de arroz colhida pelos 28 ilhéus que vão para
os arrozeiros todos os dias. Com essa quantidade de peixe e arroz, os 28
trabalhadores ocupados na manufatura de rolinhos são capazes de produzir
556 rolinhos de sushi por dia. Isso permite que cada habitante consuma 5
rolinhos e meio por dia, com um rolinho extra deixado como bônus para
Krugman.
Mas os ilhéus começam a ficar preocupados. Quando começaram a seguir os
conselhos de Krugman, o consumo pulou de 5 rolinhos por dia para 6. E então,
quando as coisas começaram a degringolar, Krugman foi capaz de corrigir o
problema da descoordenação. Não obstante, ainda assim o consumo caiu para
5,5 rolinhos por dia. Krugmam, temeroso, lembra aos ilhéus que 5,5 ainda é
melhor do que 5. Os ilhéus, contudo, ainda não se mostram satisfeitos. Nosso
herói só consegue dispersar a turba inquieta quando começa a falar sobre as
"funções de produção Cobb-Douglas" e a desenhar curvas IS-LM na areia.
Como esse é um website voltado para a família, vamos parar a história por
aqui. Desnecessário dizer que, em algum momento, os 5 ilhéus voltados para
a manutenção das redes e barcos irão decidir que eles têm de cortar seus
prejuízos. Ao invés de tentar manter a frota original de barcos e a coleção
original de redes com apenas 5 trabalhadores, ante os 25 originais, eles irão
concentrar seus esforços nos 20% melhores barcos e redes, e tentar mantê-
los em boas condições. Nesse ponto, será fisicamente impossível para os
ilhéus sustentar sua produção diária de sushis. Para poderem retornar ao
nível original e sustentável de 5 rolinhos de sushi por pessoa por dia, os ilhéus
terão de sofrer um período de privação em que muitos deles serão
redirecionados para a produção de mais barcos e redes. (Só nos resta torcer
para que, a essa altura, o professor Krugman já tenha sido resgatado pelos
suecos).
Conclusão
Como nossa simples história ilustra, nas modernas economias os
trabalhadores utilizam bens de capital para aprimorar sua mão-de-obra, o
que os ajuda a transformar os dons da natureza em bens de consumo. Por
causa da estrutura temporal da produção, é possível turbinar
temporariamente o consumo de todos, mas somente em detrimento da
manutenção dos bens de capital (os barcos e as redes), que então são
"consumidos". Em algum ponto, a realidade da engenharia se impõe e
nenhuma política de estímulo poderá impedir uma queda profunda do
consumo.
Conquanto a história da economia do sushi tenha sido simples, espero que ela
tenha ilustrado as características essenciais do ciclo de expansão (boom) e
recessão. Quando os ilhéus primeiramente implementaram os conselhos de
Krugman, todos se sentiram mais ricos. Afinal, eles de fato estavam comendo
6 rolinhos de sushi por dia, ao invés dos 5 habituais; não há como argumentar
contra os resultados. E eles não tinham razão para suspeitar que essa seria
uma reestruturação insustentável: afinal, eles estavam utilizando um novo
motor de popa. Isso é análogo aos argumentos que utilizaram para descrever
a "Nova Economia" durante o boom das empresas pontocom do final da
década de 90 ou à confiança depositada nos novos instrumentos financeiros
utilizados durante o boom imobiliário. Durante cada novo boom, as pessoas
sempre surgem com novas justificativas para dizer que "dessa vez é
diferente".
No mundo real, isso também acontece: durante a recessão, que vem após um
período de crescimento artificial, os recursos precisam ser rearranjados;
certos projetos precisam ser abandonados (como a procura por gasolina na
economia do sushi); e bens intermediários críticos (como os barcos e as
redes) precisam ser repostos, já que foram ignorados durante o boom.
Leva tempo para que todos os milhões de diferentes tipos de materiais,
ferramentas, máquinas e equipamentos sejam reorganizados de forma a
reiniciar o crescimento normal. Durante essa transição, a contribuição da
mão-de-obra de algumas pessoas é tão baixa que não vale a pena contratá-las
(principalmente com as leis do salário mínimo e de outras regulamentações
trabalhistas).
__________________________________________________
[1] A revista Veja, por exemplo, é pródiga nessa comparação. [N. do T.]
Peter Schiff
Em sua última coluna semanal no The New York Times, o vencedor do Prêmio
Nobel Paul Krugman esgrime argumentos tão inacreditáveis, que o comitê do
Nobel de Economia em Estocolmo deveria pedir a devolução da medalha.
Quanto a isso, ele está certo. Mas a questão é que ele realmente desconhece
quais são os reais problemas e o que ocorrerá tão logo a moeda chinesa seja
valorizada. Sim, ele de fato ganhou o Prêmio Nobel de Economia; porém, se o
comitê adotasse a política de pedir a devolução de seus prêmios para aqueles
laureados que demonstrassem uma completa falta de noções econômicas,
certamente Paul Krugman seria o primeiro nome da lista de chamada. Com
efeito, após essa última coluna ele realmente deveria devolver
espontaneamente sua medalha, pois ficou claro que não há motivos para ele
mantê-la.
Eis um dos parágrafos de seu artigo:
O que você deve perguntar é: o que aconteceria se a China tentasse vender uma
grande parte de seus títulos americanos? As taxas de juro iriam disparar? As
taxas de juro de curto prazo dos Estados Unidos não se alterariam: elas já vêm
sendo mantidas próximo de zero pelo Fed (Federal Reserve, o banco central
americano), que não irá elevá-las enquanto a taxa de desemprego não cair. As
taxas de longo prazo poderiam aumentar levemente, mas elas são determinadas
principalmente pelas expectativas de mercado quanto às taxas de curto prazo
futuras.
Não, elas não são! As taxas de juros de longo prazo [aquelas vigentes para
títulos com prazo de maturação maiores que dois anos] se formam de acordo
com as expectativas de inflação. E se os credores perceberem que a política
monetária do Fed está muito frouxa, que ele está mantendo a taxa básica de
juros em níveis extremamente baixos, as taxas de juros de longo prazo irão
subir. Krugman se perdeu e entendeu tudo errado.
É aqui que ele se revela. O que Paul Krugman está sugerindo é que, se a China
parar de comprar títulos da dívida americana, não haverá problemas, pois o
Fed poderá comprá-los - é só imprimir dinheiro.
Ora, uma coisa é haver compradores legítimos para os títulos da dívida; outra,
totalmente diferente, é colocar o Fed para monetizar a dívida, isto é, imprimir
dinheiro para comprar os títulos. Quando o governo chinês compra os títulos
do governo americano, é a oferta monetária chinesa que cresce [como a taxa
de câmbio entre o dólar e o renminbi é fixa, o banco central chinês tem de
imprimir dinheiro para comprar dólares para poder comprar os títulos];
porém, quando é o Fed quem compra os títulos americanos, é a oferta
monetária dos EUA que cresce. Há uma enorme diferença entre os dois
métodos.
Outra coisa que Krugman não entende é que não seria apenas a China quem
estaria se livrando dos títulos americanos. Se o Fed realmente começasse a
fazer o que Krugman está sugerindo - colocar as impressoras a pleno para
comprar todos os títulos americanos que os chineses quisessem vender -,
então todos os outros países que também possuem títulos do governo
americano iriam fazer o mesmo: os japoneses, os sauditas, os europeus, os
latino-americanos, todos eles também começariam a vender os títulos
americanos. Ninguém iria querer ficar por último, com o risco de não receber
nada.
E, é claro, uma outra coisa que Krugman não entende é que os chineses não
precisam ter o trabalho de vender os títulos americanos que possuem. Eles
simplesmente podem não aceitar rolá-los [trocar um título vincendo por outro
com prazo de maturação maior]. Como o grosso da dívida dos EUA é de curto
prazo, os chineses nem precisam vender os títulos que possuem; tudo o que
precisam fazer é esperar os títulos maturarem e simplesmente pedir o
pagamento do principal.
É verdade que, se a China liquidasse seus ativos dos Estados Unidos, o valor do
dólar cairia frente ao de outras moedas importantes, como o euro. Mas isso seria
bom para os Estados Unidos,
Ou seja, o dólar perdendo valor é uma coisa boa para os EUA. Eis o porquê,
segundo Krugman:
uma vez que tornaria nossos bens mais competitivos e reduziria nosso déficit
comercial.
De quais bens ele está falando? O déficit comercial americano não vai cair
porque as suas exportações ficarão mais competitivas; ele vai cair porque os
EUA não serão mais capazes de importar. O resultado imediato de uma queda
do dólar não será uma explosão das exportações; será um colapso das
importações. E o fato de os americanos não mais terem acesso a esses
produtos importados não vai ajudar em nada a economia dos EUA. No longo
prazo, é claro que isso terá de acontecer, mas Krugman acha que tal medida é
uma panacéia. Não é. É um remédio extremamente amargo que os
americanos terão de engolir. E, no final, quem sairá perdendo serão os
americanos, e não os chineses.
Finalmente,
Por outro lado, seria ruim para a China, que sofreria grandes perdas em seu
patrimônio em dólares. Em resumo, agora os Estados Unidos colocaram a China
em uma sinuca, não o contrário.
As pessoas creem que os chineses são muito pobres, e que não há demanda
suficiente na China para consumir toda a sua produção. Tolice. Como ensinou
Jean-Baptiste Say, a oferta cria demanda; o fato de que os chineses podem
produzir significa que eles podem consumir. O que faz uma pessoa produzir
é justamente seu desejo de consumir. Ninguém produz por esporte. E o fato
de que os EUA não mais podem produzir significa que eles não mais deveriam
consumir - não no nível atual.
Infelizmente, pessoas como Paul Krugman ainda não entenderam isso, ainda
não conseguiram ligar os pontos. Elas percebem que há um problema, mas
não conseguem entendê-lo. Acham ridiculamente que os americanos
colocaram os chineses numa sinuca, quando a situação é praticamente
oposta. E essa ideia, então, de que os chineses irão financiar os americanos
eternamente, e que outros países farão o mesmo, apenas porque não querem
perder o dinheiro de seus investimentos? Acham que os americanos poderão
impunemente continuar pegando dinheiro do resto do mundo? E que, caso
esse processo seja interrompido, os americanos poderão simplesmente
imprimir todo o dinheiro que quiserem sem que isso cause inflação de preços
e sem que afete os juros? Que teoria é essa?
economia
Leandro Roque
segunda-feira, 5 jul 2010
É fácil entender por que Paul Krugman é o preferido dos economistas pró-
establishment, dos empresários com grandes conexões com o governo e de
todos aqueles que dependem do auxílio do dinheiro estatal para sua
sobrevivência.
Em coluna publicada no dia 28 de junho no The New Yok Times (onde mais?),
o iluminado volta a professar sua fé inabalável naquele imperecível fetiche
keynesiano (que beira o erotismo): a expansão do crédito e a criação de
dinheiro pelos bancos centrais mundiais farão "o milagre ... de transformar
pedras em pães". (Keynes de fato disse isso em 1943.)
O bom de Krugman é que você não precisa se esforçar muito para entender
sua obra. Se você ler um artigo dele, você já leu todos. Isso poupa tempo e lhe
permite aprofundar seus estudos em coisas mais sérias — além da vantagem
de não se deixar contaminar pelas informações francamente falsas que ele
passa, como veremos mais abaixo.
Expandir o crédito e criar dinheiro é a mesma coisa que criar riqueza. Vai
dizer que uma teoria dessas não tem apelo?
Embora todos os seus artigos sejam iguais, este em especial contém algumas
passagens interessantes e que merecem ser analisadas e comentadas. É o que
farei agora.
Krugman, que nunca decepciona, já começa seu artigo mostrando que está em
grande forma: mente nos dois parágrafos iniciais e tira uma conclusão
involuntariamente cômica no terceiro parágrafo. Acompanhe. Ele vai de
vermelho, eu vou de preto.
Recessões são comuns; depressões são raras. Até onde sei, houve somente duas
eras na História da economia que foram amplamente descritas como
"depressões" na época: os anos de deflação e instabilidade que se seguiram ao
Pânico de 1873 e os anos de desemprego em massa que acompanharam a crise
financeira de 1929-31.
Temo que agora estejamos nos estágios iniciais de uma terceira depressão. Ela
provavelmente se parecerá mais com a Longa Depressão do que com a
Grande Depressão, que foi muito mais grave. Mas o custo — para a economia
mundial e, acima de tudo, para os milhões de pessoas arruinadas pela falta de
emprego — será imenso.
Esse sistema foi descrito por F.A. Hayek como um "sistema monetário com um
banco central semi-oficial". Como consequência, a criação desse sistema
inflacionário desencadeou um ciclo de expansão e recessão econômica, do
tipo previsto pela teoria austríaca. Os anos que precederam o Pânico de 1873
vivenciaram uma enorme expansão do sistema ferroviário americano, que foi
estimulado tanto pela expansão de crédito fácil quanto pela concessão de
terras feita pelo governo americano. Puxados por essa expansão, setores
relacionados ao transporte e à mineração (por causa do ferro) também
vivenciaram um grande crescimento, bem como os salários relacionados a
esses setores.
Entretanto, que tipo de "depressão" foi essa que vivenciou uma expansão
extraordinariamente vasta da indústria, das ferrovias, da produção de bens, do
produto nacional líquido ou da renda per capita real? Como Friedman e
Schwartz admitem, o período de 1869 a 1879 viu um crescimento anual de 3%
no produto nacional nominal, um crescimento anual de 6,8% no produto
nacional real, e um aumento fenomenal de 4,5% ao ano no produto per capita
real. Mesmo a alegada "contração monetária" nunca ocorreu, tendo a oferta
monetária aumentado em 2,7% ao ano nesse período. De 1873 a 1878, ano em
que ocorreu outro surto de expansão monetária, a oferta total de moeda
bancária aumentou de $1,964 bilhão para $2,221 bilhões — um aumento de
13,1%, ou de 2,6% ao ano. Ou seja, um amento modesto, porém um aumento —
dificilmente uma contração.
Já deveria estar claro, portanto, que a "grande depressão" da década de 1870 é
meramente um mito — um mito criado pela interpretação equivocada do fato
de que os preços caíram acentuadamente durante todo o período. Com efeito,
eles caíram desde o fim da Guerra Civil até 1879. Friedman e Schwartz
estimaram que os preços em geral caíram 3,8% ao ano, de 1869 a
1879. Infelizmente, a maioria dos historiadores e economistas está
adestrada a acreditar que uma queda constante e acentuada dos preços
tem inevitavelmente de resultar em uma depressão: daí seu assombro
com a óbvia prosperidade e crescimento econômico dessa era. Pois eles
ignoram o fato de que, no desenrolar natural dos eventos, quando o governo e o
sistema bancário não aumentam a oferta monetária muito rapidamente, o
capitalismo de livre mercado irá gerar um aumento tão grande da produção e
do crescimento econômico, que o aumento da oferta monetária será
solapado. Os preços irão cair, e as consequências não serão a depressão ou a
estagnação, mas a prosperidade (já que os custos estão caindo também), o
crescimento econômico, e a propagação de um maior padrão de vida para todos
os consumidores.
Ou seja, por algum motivo, crê-se que a crise de 1873 não apenas durou seis
anos, como também crê-se que foram 6 anos de grande penúria, quando a
realidade foi exatamente o oposto disso. Esse é um daqueles mitos que, assim
como a crise de 1929, perduram não se sabe por quê.
Enfim, Krugman, talvez por malícia, talvez por conveniência, está disposto a
ignorar a realidade econômica que perdurou durante a "Longa Depressão"
americana do século XIX. Tenho certeza que os americanos reviveriam com
gosto aquele período.
Prossegue o sábio:
Déficit:
Gastos:
No parágrafo seguinte, Krugman novamente volta a se contradizer em relação
ao parágrafo imediatamente anterior, admitindo um desemprego alto, sem,
no entanto, admitir que a recessão nunca terminou:
Mas futuros historiadores nos dirão que isso não foi o fim da terceira depressão,
assim como a recuperação econômica que começou em 1933 não foi o fim da
Grande Depressão. Afinal, o desemprego - especialmente o desemprego a longo
prazo - permanece em níveis que teriam sido considerados catastróficos há
alguns anos, e não dá sinais de diminuir tão cedo. E tanto os Estados Unidos
como a Europa estão se encaminhando para cair em armadilhas deflacionárias
como as do Japão.
E tem mais:
Diante desse quadro sombrio, você poderia esperar que os responsáveis pelas
diretrizes políticas percebessem que ainda não fizeram o suficiente para
promover a recuperação. Mas não: nos últimos meses, houve um surpreendente
ressurgimento da ortodoxia do equilíbrio orçamentário e da moeda forte.
Ou foi um ato falho ou foi um mea culpa. Qualquer que seja, tudo indica que
nem o próprio Krugman tolerava mais suas desinformações. Essa é a
primeira vez que um keynesiano empedernido admite que Herbert Hoover —
até então tido como um indiscutível adepto da 'mão invisível' — elevou
impostos durante a Grande Depressão. Para ser um relato completo, faltou
apenas falar o quanto o sujeito elevou os impostos: a alíquota máxima do
imposto de renda, por exemplo, subiu de 25% para módicos 63% em apenas
um ano!
Outra acusação comum que os keynesianos fazem a Hoover é que ele tentou
equilibrar o orçamento durante a Depressão. Só que eles convenientemente
deixam de lado dois detalhes fundamentais:
1) isso só ocorreu após ele ter deixado os déficits explodirem (de meados de
1931 a meados de 1932, o déficit pulou de 0,5% para 4%); e
Portanto, Krugman merece aplausos por essa tímida mea culpa. Nem ele
acredita mais nessa história de que Herbert Hoover era adepto do laissez-
faire. (Para mais informações, leia os artigos sobre Hoover indicados ao final
desse texto.)
Mas em termos práticos, os Estados Unidos não estão se saindo muito melhor. O
Fed parece ciente dos riscos de deflação - mas o que ele propõe fazer a respeito
desses riscos é, bem... nada. A administração Obama entende os perigos de uma
austeridade fiscal prematura - mas como os republicanos e os democratas
conservadores do Congresso não autorizarão uma ajuda adicional aos governos
estaduais, essa austeridade virá de qualquer jeito, na forma de cortes
orçamentais em níveis estaduais e municipais.
Conclusão
Por fim, uma palavrinha sobre déficits, essa medida tido como redentora em
períodos de crise por todos os keynesianos. Se um governo reduzir seus
gastos a ponto de zerar seu déficit orçamentário (em termos nominais), ele
não mais precisará pegar dinheiro emprestado para fechar seu
orçamento. Ou seja, ela não mais precisará recorrer à poupança dos
cidadãos. Isso fará com que haja mais fundos disponíveis para serem
emprestados ao setor privado, tanto às empresas quanto aos
consumidores. A poupança que o governo teria absorvido vendendo títulos
agora estará disponível para ser utilizada de maneira mais proveitosa por
empreendedores e consumidores.
Sim, seria perfeito se o governo reduzisse seus gastos a ponto não apenas de
eliminar completamente o déficit, mas também de tornar possível uma
redução radical, quiçá uma completa eliminação, de todos os impostos que
incidem sobre a poupança. Melhor ainda seria se, além dos impostos sobre a
poupança, houvesse a máxima redução possível dos impostos que incidem
sobre o consumo.
Desta forma, a demanda por bens de capital e por mão-de-obra da parte das
empresas seria a mais próxima possível das preferências dos consumidores,
e todos iriam usufruir ao máximo possível os benefícios de sua própria
riqueza e renda. O efeito desse aumento na poupança disponível e nos
consequentes investimentos seria um aumento acentuado no progresso
econômico do país em questão.
Apenas isso pode acabar com recessões. Mas qual governo vai permitir isso?
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Notas
economia
Robert P. Murphy
Neste artigo irei primeiro resumir a posição austríaca (na tradição de Ludwig
von Mises) em relação à teoria do capital, dos juros e dos ciclos
econômicos. Ato contínuo, irei então responder às objeções específicas de
Krugman.
Os austríacos e o capital
Os austríacos e os juros
Como é possível que a comunidade como um todo possa ter mais renda em,
digamos, 30 anos? Obviamente, as famílias creem
ser financeiramente possível, pois seus saldos bancários crescem
exponencialmente com as agora maiores taxas de
poupança. Porém, tecnologicamente falando, isso será possível porque a
composição dos bens produzidos irá mudar. As famílias reduzem os gastos
com jantares fora de casa, compras de iPods e outros apetrechos com o intuito
de dobrar sua taxa de poupança. Isso significa que restaurantes, lojas da
Apple e outros negócios voltados para a satisfação do consumo imediato terão
de demitir empregados e reduzir suas operações. Mas isso significa apenas
que mão-de-obra e outros recursos estão sendo liberados para expandir a
produção nos setores mais intensivos em capital, setores que fabricam brocas
e furadeiras mecânicas, tratores e novas indústrias.
Agora que já fiz um resumo da visão austríaca acerca do capital e dos juros,
temos a recompensa: a explicação para os ciclos econômicos. Quando as taxas
de juros são diminuídas para níveis abaixodaqueles que predominariam em
um mercado livre e desimpedido (por meio de uma política monetária
expansionista do banco central, por exemplo), isso desencadeia os mesmos
processos que ocorreriam caso tivesse havido um aumento na poupança. Em
outras palavras, a essas taxas de juros mais baixas, os empreendedores creem
ser lucrativo iniciar projetos de longo prazo; os setores da economia que são
intensivos em capital começam a contratar trabalhadores e a aumentar a
produção.
Respondendo Krugman
Fiz esse comprido resumo apenas porque tenho a impressão de que Krugman,
apesar de falar muito, simplesmente ainda não conseguiu entender a posição
austríaca. Por exemplo, ele pergunta "Por que existe uma acachapante
evidência de que quando os bancos centrais decidem desacelerar a economia,
a economia de fato se desacelera?" Ora, como a teoria austríaca diz que a
recessão ocorre quando o banco central reduz a expansão monetária e
permite que os juros subam para seu nível "correto", essa objeção de
Krugman não faz sentido algum. Com efeito, se os bancos centrais não
pudessem desacelerar a economia, aí sim um economista austríaco teria de
ficar preocupado com sua teoria.
Krugman também pergunta sobre inflação (de preços) e a conexão entre PIB
nominal e real (o PIB real é simplesmente o PIB nominal ajustado pela
inflação de preços, cujo cálculo utiliza um deflator). Mas creio que aqui ele
está apenas fazendo mais confusão descabida. Os austríacos sabem que as
influências monetárias podem ter efeitos reais. Repetindo: esta é exatamente
a essência da teoria de Mises-Hayek.
Portanto, qual é a essência dessa história austríaca? Basicamente, ela diz que
aquilo que chamamos de crescimento econômico é na realidade algo como o
desastroso Grande Salto para Frente feito pela China, o qual gerou um surto
temporário no consumo, mas somente à custa da degradação da capacidade
produtiva do país. E o subsequente desemprego é o resultado dessa
degradação: simplesmente não há nada de útil para os trabalhadores
desempregados fazerem.
Primeiro, eu gostaria de dizer que fico feliz pelo fato de Krugman ao menos
ter admitido que a explicação austríaca não apenas faz sentido teórico como
também acontece no mundo real — vindo do sujeito que em 1998 se referiu
a ela como o equivalente à "teoria flogista do fogo", trata-se de um progresso
e tanto!
Naquele artigo, com o intuito de garantir que o leitor realmente iria entender
por que Krugman (e Tyler Cowen) estava ignorando algo básico, descrevi uma
situação na qual os ilhéus aumentavam substancialmente seu consumo diário
de sushi ao mesmo tempo em que desenvolviam uma nova tecnologia para
ajudar a aumentar sua pesca. Assim, durante esse período de "crescimento",
um ilhéu mais tolo acreditaria que tanto o consumo quanto o investimento
estavam aumentando.
Para apreender melhor esse aspecto da teoria austríaca, a analogia que Mises
fez com um mestre-de-obras (que faz o projeto de uma casa achando que tem
mais tijolos do que efetivamente possui) ainda é a melhor.
Para ter certeza de que essa história intuitiva bate com os fatos, podemos
fazer um gráfico comparando um índice de preços dos imóveis (linha azul,
eixo da esquerda) ao saldo da conta-corrente (linha vermelha, eixo da
direita). O gráfico abaixo mostra perfeitamente que, à medida que a bolha
imobiliária ia inflando, a conta-corrente foi se tornado cada vez mais negativa
(as importações iam aumentando). E então, quando a bolha imobiliária
estourou, o déficit na conta-corrente começou a diminuir praticamente ao
mesmo tempo, que foi quando os consumidores americanos (e os
investidores estrangeiros) voltaram à racionalidade.
Mas, por outro lado, eu posso apontar pelo menos dois episódios em que a
teoria do "reajuste dos setores" defendida pelos austríacos claramente possui
mais poder explanatório do que a teoria de "demanda insuficiente" defendida
por Krugman. Mais especificamente, no final de 2008, Krugman
argumentou que o estouro da bolha imobiliária pouco tinha a ver com a
recessão, pois as últimas estatísticas haviam mostrado que o desemprego no
nível estadual tinha pouca relação com os declínios nos preços dos imóveis
ocorridos nos estados.
Em outra ocasião (em meados de 2010), Krugman mais uma vez imaginou ter
desferido um golpe fatal na teoria do reajuste dos setores ao apontar que o
setor industrial havia perdido mais empregos do que o setor da construção
civil. Eu mostreique isso também era um engodo, pois, pra começar, o setor
industrial tinha muito mais empregados. E quando se analisava os declínios
em termos percentuais, a construção civil de fato havia contraído muito mais
severamente que o setor industrial. Ademais — e exatamente como prevê a
teoria austríaca —, o declínio do emprego na indústria de bens de
consumoduráveis foi pior do que na indústria de bens de consumo não
duráveis, ao passo que o declínio no setor varejista foi o mais brando dentre
os quatro.
Como foi Krugman quem armou e criou as condições para esses dois desafios,
é bastante significativo que a teoria austríaca tenha sido aprovada com
distinção. Mais ainda: é significativo que a própria teoria de Krugman não
consiga explicar as reais mudanças ocorridas no mercado de trabalho
americano. Lembre-se: Krugman não se sentiu nem um pouco constrangido
pelos dados quando ele (erroneamente) imaginou que a bolha imobiliária não
tivesse praticamente nada a ver com o problema do desemprego.
Conclusão
Não afirmo que a teoria austríaca dos ciclos econômicos apreenda cada
pertinente detalhe das atuais recessões. O que eu realmente afirmo é que
uma teoria — incluindo-se aí quaisquer modelos keynesianos de Paul
Krugman — que ignore a distorção que ocorre na estrutura do capital durante
períodos de expansões econômicas insustentáveis não pode de maneira
alguma receitar corretamente soluções para uma recessão.
economia
Diversos Autores
terça-feira, 5 jul 2016
Enterrada em uma recente postagem de blog feita por Paul Krugman estava a
seguinte e surpreendente declaração:
"Com efeito, a defesa elitista de um comércio cada vez mais livre é uma
enganação. [...] O que os modelos de comércio internacional utilizados pelos
verdadeiros especialistas dizem é que, no geral, acordos comerciais não geram
mais comércio e nem criam e nem destroem empregos."
Sim, isso parece estar correto. O livre comércio não deve ser buscado com o
intuito de "aumentar empregos", mas sim com o intuito de aumentar a renda e
a qualidade de vida. E, sobre a renda, lembre-se de que, segundo o próprio
Krugman, o protecionismo "reduz a renda mundial"!
Suponha, por exemplo, que as camisas possam ser feitas somente de duas
maneiras. A primeira é manualmente. Para um fabricante de camisas que
utiliza este método — independentemente de quantas camisas produz —, o
custo para produzir cada camisa é de $ 250. Trabalhando em tempo integral
na produção manual de camisas, o camiseiro consegue produzir dez camisas
por mês.
A segunda maneira é produzindo as camisas em uma fábrica altamente
mecanizada. Se a fábrica funciona ao máximo de sua capacidade de um milhão
de camisas por mês, cada camisa tem um custo de produção de $ 5. Porém,
como as instalações e todo o maquinário da fábrica exigem um grande
investimento inicial, operar a fábrica abaixo de sua capacidade máxima faz
com que o custo de cada camisa aumente. A razão para este aumento é que
produzir menos camisas — já tendo incorrido em um investimento alto —
impede o fabricante de diluir todo o custo do investimento, algo que só ocorre
quando a produção é máxima. Quanto menor for a produção da
fábrica, maior será o custo por camisa produzida.
Apenas imagine viver em uma sociedade na qual nosso trabalho diário serve
unicamente ao propósito de sobrevivermos, e não para desenvolver nossos
talentos. Pois essa é a realidade nos países que mais restringem o livre
comércio: as pessoas, ao serem praticamente proibidas de utilizar os frutos
do seu trabalho para adquirir aqueles bens e serviços que são mais bem
produzidos por estrangeiros, acabam sendo obrigadas a desempenhar várias
atividades nas quais não têm nenhuma habilidade.
Apenas imagine como seria sua vida se você tivesse de fabricar seu
computador (ou tablet ou smartphone), cultivar a comida que você come,
criar as roupas que você veste, e construir a estrutura na qual você mora. Caso
tivesse de fazer tudo isso, você certamente morreria esquálido, faminto, nu,
desabrigado e desempregado.
___________________________________________
Georgi Vuldzhev é graduando em ciências econômicas e membro do
Instituto para a Economia de Mercado, em Sofia, na Bulgária.
John Tamny é o editor do site Real Clear Markets e contribui para a revista
Forbes.
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economia
Louis Rouanet
Nos últimos anos, Paul Krugman vem incansavelmente defendendo a França e seu estado
assistencialista, chegando até mesmo ao ponto de alegar que a economia francesa estava
em melhores condições do que a britânica.
De acordo com ele, "grande parte do problema da França em 2014 advém de uma
hipocondria, a crença de que sofre de doenças que na verdade não a afligem."
No entanto, com exceção de alguns propagandistas keynesianos, ninguém hoje nega que a
economia francesa esteja em uma crise profunda, e nunca esteve tão óbvio que Krugman
esteve errado todo esse tempo.
O Reino Unido, por outro lado, está crescendo mais rapidamente do que qualquer outra
economia desenvolvida. O crescimento acelerou desde o primeiro trimestre de 2013, e foi
de 2,6% em 2014, sete vezes maior do que a taxa francesa. O emprego na Grã-Bretanha,
tanto em termos absolutos quanto como percentual da população adulta, nunca esteve tão
alto. Até os salários, que estavam deprimidos desde a crise de 2008, começaram a subir
novamente.
Desde 2009, a França e o Reino Unido têm utilizado políticas econômicas opostas. A França
aumentou os impostos e não reduziu os gastos do governo. Já o Reino Unido, por sua vez,
cortou os gastos estatais, mas não aumentou impostos. Entre 2010 e 2013, o Reino Unido
reduziu o seu déficit estrutural em 4,7% do PIB, mais do que qualquer outra economia
desenvolvida.
Se você é um seguidor das ideias de Krugman, tais medidas fariam você acreditar que a
França cresceu mais do que o Reino Unido. No entanto, e nada surpreendentemente, o que
ocorreu foi exatamente o contrário: enquanto a economia francesa está estagnada, o Reino
Unido está acumulando uma recuperação econômica.
Os gastos do governo francês estão atualmente onze pontos percentuais do PIB acima dos
gastos do governo do Reino Unido. Os impostos também são muito mais altos na França do
que no Reino Unido, e as regulações governamentais, particularmente no mercado de
trabalho, são menos problemáticas no Reino Unidodo que na França. Dessa forma, a
estrutura de produção se reestruturou com mais facilidade no Reino Unido após a crise.
Ao passo que o setor público encolheu no Reino Unido, ele cresceu na França. Sendo assim,
medir progresso econômico utilizando apenas o PIB, um método profundamente
falho, subestima o real desenvolvimento da economia britânica.
Os indivíduos que são forçados a financiar o setor público por meio de impostos não estão
expressando suas reais preferências. Como explicado neste artigo: " É realmente verdade
que, da maneira como o PIB é calculado, uma redução nos gastos reais do governo gera uma
redução na taxa de crescimento real do PIB. No entanto, [...] a redução nos gastos do
governo não retarda o crescimento da produção de bens que satisfazem as demandas dos
consumidores. Ao contrário até: pode acelerá-la.
Mas mesmo que a economia francesa estivesse tão bem quanto Krugman diz que está,
então por que tantos franceses estão saindo de seu país para atravessar o Canal da
Mancha? Sempre que você quiser saber como está uma economia, observe de que forma
as pessoas estão votando com os pés.
Se Krugman tivesse feito isso, ele teria verificado que são principalmente os franceses que
estão se mudando para Londres, e não os britânicos para Paris. O prefeito de Londres, Boris
Johnson, gosta de dizer que ele é o prefeito da sexta maior cidade francesa do mundo. Hoje,
há mais de 200.000 imigrantes franceses vivendo em Londres.
É claro que o Reino Unido está longe de ser perfeito. A dívida pública e o déficit
permanecem muito altos e ainda há muito a ser feito, principalmente no sistema de saúde
estatal britânico, uma vaca sagrada na qual nenhum partido tem coragem de tocar. O gasto
público com a saúde continua crescendo — a uma média de 4% entre 2010 e 2011, e
novamente entre 2013 e 2014. Além do mais, o Banco Central da Inglaterra tem conduzido
uma política monetária de juros extremamente baixos, o que pode levar a instabilidades e
novas crises. É bem possível, por exemplo, que haja uma nova bolha imobiliária sendo
inflada na Inglaterra.
No dia 8 de novembro de 2013, Krugman atacou a decisão da Standard & Poor's de reduzir
a nota de crédito da França:
Lamento, mas acredito que quando a S&P reclama da falta de reformas, ela na verdade está
reclamando que François Hollande está aumentando os impostos sobre os ricos em vez de
cortá-los, e que o presidente francês não é suficientemente a favor do livre mercado para o
gosto do pessoal de Davos.
Alguns dias depois de Krugman ter escrito essas linhas, números de emprego melhores do
que o esperado foram divulgados na Grã-Bretanha, ao passo que a França já alcançava
um desemprego de dois dígitos. Já em 2013 era visível que algo estava errado com as
políticas econômicas da França. Mas Krugman estava certo de que esse não era o caso.
No início de Janeiro de 2015, Krugman publicou outro artigo com o objetivo de demonstrar
a superioridade da economia francesa sobre a britânica. E, novamente, não demorou muito
para que novas estatísticas mostrassem que o que Krugman dizia estava simplesmente
errado. Para apoiar seu argumento, ele publicou o seguinte gráfico, sem citar nenhuma
fonte:
Gráfico 2: um gráfico sem fontes publicado por Paul Krugman, comparando a evolução da
renda per capita de EUA (azul), França (vermelho) e Reino Unido (verde)
Krugman escreveu:
Há dois problemas graves com a alegação de Krugman. Primeiro, se você olhar para o
crescimento do PIB per capita — que é o que realmente interessa — desde 2000, o Reino
Unido cresce mais rapidamente do que a França. Segundo, o gráfico de Krugman está
errado. Não importa se você está olhando para os dados do FMI, do Banco Mundial, ou da
agência Eurostat da União Européia: nenhuma estatística bate com os números de
Krugman.
Gráfico 3: a verdadeira evolução do PIB per capita do Reino Unido (azul) e da França
(vermelho). Fonte: Eurostat
Desemprego
Por outro lado, o número de funcionários públicos na França nunca parou de crescer, e o
desemprego ainda está em um nível muito alto. Os keynesianos não explicam como isso
ocorreu. Eles esperavam que a austeridade gerasse um forte efeito recessivo. Mas isso não
foi observado.
Gráfico 4: taxa de desemprego na França (linha azul) e no Reino Unido (linha vermelha)
Para aqueles que são imunes ao charme do keynesianismo, o gráfico acima é fácil de ser
compreendido, bem como os níveis de crescimento superiores do Reino Unido. Uma
redução no número de funcionários públicos é boa, pois isso significa que há mais força de
trabalho disponível para empresas privadas. Consequentemente, os salários caem. Essa
queda torna viáveis novos projetos de investimento. Quando o setor público encolhe,
torna-se comparativamente mais atraente trabalhar no setor privado. Só então as energias
empreendedoras podem ser direcionadas para mais bem servir os consumidores no
mercado, em vez de buscarem privilégios no setor público.
Por outro lado, se um governo aumenta seus gastos, os incentivos para o empreendimento
privado são reduzidos. Por que você vai abrir uma padaria, um restaurante, um comércio
ou uma atividade de serviços se você pode se tornar um burocrata bem pago trabalhando
em uma repartição pública? Por que uma pessoa qualificada vai querer fazer algum estágio
em uma firma de engenharia se o governo abriu vários concursos públicos que prometem
salários nababescos e estabilidade no emprego? Enfim, por que se arriscar no setor
privado, sofrendo cobranças e tendo de apresentar eficiência, se você pode simplesmente
ganhar muito no setor público, tendo estabilidade no emprego e sem ter de apresentar
resultados?
Conclusão
O futuro da França não é tão brilhante quanto Krugman diz, e as suas recomendações estão
longe de serem validadas tanto pela teoria quanto pelos fatos.
Durante uma crise, a melhor regra que um governo pode seguir, como escreveuRothbard,
é não interferir com o processo de ajuste do mercado. Outra coisa que o governo pode fazer
é cortar gastos e impostos. De forma limitada, foi isso que foi feito no Reino Unido,
principalmente em comparação com a França.
economia
William L. Anderson
Sim, concordo que isso que descrevi até aqui é exatamente aquela economia
básica que você encontra nos principais livros-textos da disciplina,
especialmente nos convencionais. Mas os austríacos divergem dos
economistas convencionais quando a análise parte para um ponto de vista
mais amplo acerca da sociedade. Falando mais claramente, os austríacos
acreditam que a liberdade individual para se comercializar as próprias posses
— sejam essas posses a riqueza acumulada na forma de dinheiro ou de bens,
ou a mão-de-obra ou os talentos dessa pessoa — terão efeitos sociais e
econômicos positivos sobre toda a economia, desde que, é claro, os indivíduos
sejam livres para incorrer nesses atos, sem nenhuma coerção. Este é,
simplesmente, o princípio da não-agressão em funcionamento.
Isso é algo que, intuitivamente, parece estar certo, mas que na realidade se
baseia em um princípio fundamentado na crença de que ações individuais e
transações comerciais mutuamente acordadas podem ser deletérias para
toda a economia, e que, mais sespecificamente, se várias pessoas decidirem,
por exemplo, poupar mais dinheiro, isso irá gerar desemprego. Esse ponto
keynesiano-krugmaniano já foi feito em várias ocasiões, e não creio estar
sendo controverso quando o cito desta forma.
Certo. Agora vamos à resposta sobre o que deveria ter sido feito quando os
mercados expuseram os investimentos errôneos. (Observo aqui que
Krugman acredita que, a menos que burocratas do governo estejam ditando
ordens para cidadãos que estejam praticando transações de mercado
pacíficas e voluntárias, os mercados irão para o abismo, arrastando todas as
pessoas junto a ele. No entanto, foram os mercado que expuseram a bolha
imobiliária, assim como foram os mercados que expuseram o esquema
fraudulento de Bernie Madoff, e não as agências reguladoras do governo
americano).
A resposta de Krugman é que o governo deveria criar ainda mais bolhas para
compensar a bolha que estourou, assim como deveria estimular ainda mais
investimentos ruins para compensar aqueles que entraram em colapso, neste
processo desperdiçando ainda mais recursos escassos. Sim, há aquela infame
frase de Krugman, proferida há uma década, dizendo que Alan Greenspan
deveria criar uma bolha imobiliária para compensar o estouro da bolha das
ações pontocom, mas não é a isso que me refiro. A questão é que Krugman
acredita que os governos deveriam tomar dinheiro emprestado ou imprimir
dinheiro (ou ambos) para poderem sair gastando com o intuito de preencher
um "buraco" surgido nos gastos dos consumidores e dos investidores, uma
vez que, sem essa intervenção, não mais haveria dinheiro sendo direcionado
para aquela parte da economia que entrou em colapso (ao menos, não no
mesmo volume de antes) — neste caso, o setor imobiliário.
Então, o que pode ser feito? Um choque financeiro de menor porte, como o
estouro da bolha das ações pontocom, ocorrido no final da década de 1990,
poderia ser resolvido por meio de um corte das taxas de juros. Mas a crise de
2008 foi muito maior, e até mesmo cortar as taxas de juros, reduzindo-as a zero,
não foi suficiente.
De acordo com ele, “grande parte do problema da França em 2014 advém de uma
hipocondria, a crença de que sofre de doenças que na verdade não a afligem.”
O Reino Unido, por outro lado, está crescendo mais rapidamente do que qualquer
outra economia desenvolvida. O crescimento acelerou desde o primeiro trimestre
de 2013, e foi de 2,6% em 2014, sete vezes maior do que a taxa francesa. O
emprego na Grã-Bretanha, tanto em termos absolutos quanto como percentual da
população adulta, nunca esteve tão alto. Até os salários, que estavam deprimidos
desde a crise de 2008, começaram a subir novamente.
Desde 2009, a França e o Reino Unido têm utilizado políticas econômicas opostas.
A França aumentou os impostos e não reduziu os gastos do governo. Já o Reino
Unido, por sua vez, cortou os gastos estatais, mas não aumentou impostos. Entre
2010 e 2013, o Reino Unido reduziu o seu déficit estrutural em 4,7% do PIB, mais
do que qualquer outra economia desenvolvida.
Se você é um seguidor das ideias de Krugman, tais medidas fariam você acreditar
que a França cresceu mais do que o Reino Unido. No entanto, e nada
surpreendentemente, o que ocorreu foi exatamente o contrário: enquanto a
economia francesa está estagnada, o Reino Unido está acumulando
uma recuperação econômica.
Os indivíduos que são forçados a financiar o setor público por meio de impostos
não estão expressando suas reais preferências. Como explicado neste artigo: ” É
realmente verdade que, da maneira como o PIB é calculado, uma redução nos
gastos reais do governo gera uma redução na taxa de crescimento real do
PIB. No entanto, […] a redução nos gastos do governo não retarda o crescimento
da produção de bens que satisfazem as demandas dos consumidores. Ao
contrário até: pode acelerá-la.
Gráfico 1: à esquerda, os gastos do governo (linha contínua) e as receitas do
governo (linha pontilhada) francês. À direita, o mesmo padrão para o governo do
Reino Unido.
Mas mesmo que a economia francesa estivesse tão bem quanto Krugman diz que
está, então por que tantos franceses estão saindo de seu país para atravessar o
Canal da Mancha? Sempre que você quiser saber como está uma economia,
observe de que forma as pessoas estão votando com os pés.
Se Krugman tivesse feito isso, ele teria verificado que são principalmente os
franceses que estão se mudando para Londres, e não os britânicos para Paris. O
prefeito de Londres, Boris Johnson, gosta de dizer que ele é o prefeito da sexta
maior cidade francesa do mundo. Hoje, há mais de 200.000 imigrantes franceses
vivendo em Londres.
É claro que o Reino Unido está longe de ser perfeito. A dívida pública e o déficit
permanecem muito altos e ainda há muito a ser feito, principalmente no sistema de
saúde estatal britânico, uma vaca sagrada na qual nenhum partido tem coragem
de tocar. O gasto público com a saúde continua crescendo — a uma média de 4%
entre 2010 e 2011, e novamente entre 2013 e 2014. Além do mais, o Banco
Central da Inglaterra tem conduzido uma política monetária de juros extremamente
baixos, o que pode levar a instabilidades e novas crises. É bem possível, por
exemplo, que haja uma nova bolha imobiliária sendo inflada na Inglaterra.
Alguns dias depois de Krugman ter escrito essas linhas, números de emprego
melhores do que o esperado foram divulgados na Grã-Bretanha, ao passo que a
França já alcançava um desemprego de dois dígitos. Já em 2013 era visível que
algo estava errado com as políticas econômicas da França. Mas Krugman estava
certo de que esse não era o caso.
Krugman escreveu:
Desemprego
Para aqueles que são imunes ao charme do keynesianismo, o gráfico acima é fácil
de ser compreendido, bem como os níveis de crescimento superiores do Reino
Unido. Uma redução no número de funcionários públicos é boa, pois isso significa
que há mais força de trabalho disponível para empresas
privadas. Consequentemente, os salários caem. Essa queda torna viáveis novos
projetos de investimento. Quando o setor público encolhe, torna-se
comparativamente mais atraente trabalhar no setor privado. Só então as energias
empreendedoras podem ser direcionadas para mais bem servir os consumidores
no mercado, em vez de buscarem privilégios no setor público.
Conclusão
Mas Krugman é esperto: ele sabe ocultar seus interesses. Em vez de se declarar
abertamente como um defensor dos interesses dos grandes bancos, ele posa de
defensor dos trabalhadores. Mas a realidade é inocultável: o socorro aos grandes
bancos é a implicação inescapável das políticas que ele recomenda. Krugman é o
melhor amigo dos banqueiros multinacionais. O mesmo pode ser dito sobre o seu
colega de Princeton, Ben Bernanke.
Podemos ver isso claramente em seu recente artigo, no qual ele exorta o governo
alemão, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu a
emprestarem mais dinheiro para o governo espanhol, mesmo com este se
recusando a cortar gastos.
Krugman quer que a economia espanhola não tenha de passar pelos custos de
quitar os empréstimos tomados junto aos países do continente europeu, mais
especificamente a Alemanha. Sendo assim, ele quer que o governo alemão, o FMI
e o BCE dêem mais dinheiro para o governo espanhol para que este possa
repassar mais subsídios, mais assistencialismos e maiores salários para os
cidadãos em sua folha de pagamento. Estes irão gastar mais, e isso fará com que
a economia deslanche. E isso, por sua vez, permitirá aos devedores espanhóis
pagar os juros que devem aos bancos alemães.
Se isso se parece com aquilo que Bernanke e Henry Paulson fizeram em 2008, é
porque foram eles que criaram esse padrão.
Krugman começa seu artigo fazendo um resumo da promessa feita pelo Banco
Central Europeu de que manteria os governos solventes por meio da compra dos
títulos de suas dívidas. Tal medida era ilegal no passado. Mas o BCE quebrou as
regras do tratado que criou a zona do euro. Esta violação das regras “acalmou” os
mercados, diz Krugman. Tudo o que um país endividado tinha de fazer era pedir
ajuda — no caso, socorro na forma de dinheiro.
Isso é Krugman em estado puro. Ele jamais viu um déficit de que ele não tenha
gostado. Ele jamais conheceu um sindicato de funcionários públicos do qual ele
não tenha gostado.
Ele disse que a Espanha está sofrendo em decorrência do estouro de sua bolha
imobiliária. Ele disse que tal bolha gerou uma forte expansão econômica que
elevou os preços e, consequentemente, deixou indústria espanhola pouco
competitiva em comparação com a do resto da Europa. Mas ele não explica o que
causou a bolha. Por que os preços dos imóveis subiram? Taxas de juros muito
baixas. Por que as taxas de juros estavam baixas? Porque os bancos do
continente europeu, sob a supervisão do BCE, emprestaram volumosas quantias
de dinheiro criado por meio de suas reservas fracionárias tanto para o governo
espanhol quanto para as construtoras espanholas. Dentre estes bancos, os
alemães eram a maioria.
Isso é retórica keynesiana. Os cortes não estão sendo exigidos apenas pelo
sadismo de se infligir dor. Os cortes estão sendo exigidos porque a Espanha está
incorrendo em um grande déficit orçamentário. Os emprestadores querem receber
seus juros corretamente, e em euros.
Pense no que ele está dizendo. Cortes são “selvagens”. Qual é a evidência? O
que constitui ‘cortes selvagens’? Para um keynesiano, quaisquer cortes são
selvagens.
Ele disse que haverá “um período prolongado de tempos difíceis”. Concordo. Os
tempos atuais já são muito difíceis. O desemprego é de 50% entre pessoas na
casa dos vinte anos de idade. Mas por que a Espanha “não tem alternativa
(excetuando a saída da zona do euro)”?
Um euro forte está criando dificuldades para a Espanha porque não há quase nada
que a Espanha possa exportar que alguém no resto da Europa queira
comprar. Sendo assim, por não terem muito o que exportar, os espanhóis não
conseguem “importar” novos euros que poderiam ser coletados pelo governo via
impostos para pagar os juros de sua dívida.
Tendo em mente este cenário, por que sair da zona do euro ajudaria a
Espanha? Sim, poderia haver algum aumento das exportações, mas somente se a
nova moeda, provavelmente a peseta, fosse acentuadamente desvalorizada em
reação ao euro. Por que isso poderia ocorrer? Porque o Banco Central espanhol
agora teria legalmente o poder de imprimir pesetas em grandes quantidades. Ele
estaria livre para inflacionar a moeda. Isto reduziria o valor da peseta em relação
ao euro. Assim, a Espanha conseguiria exportar mais. Porém, em contraste, os
cidadãos da Espanha não conseguiriam importar muita coisa de fora da
Espanha. Com as importações dramaticamente reduzidas, os preços domésticos
estariam livres para subir, pois não haveria a concorrência dos importados. O
público não mais conseguiria comprar tantos bens e serviços como faz atualmente,
exatamente porque a oferta vinda da Alemanha e dos outros países seria
financeiramente inviável.
Krugman quer saber por que alguém recomendaria austeridade. Para ele, todo
mundo parece estar recomendando austeridade.
Ele ironicamente escreve “pessoas muito sérias” em maiúsculas porque julga que
elas não são pessoas economicamente inteligentes. Elas apenas são sérias. Mas
elas não são keynesianas. Elas não entendem que déficits orçamentários são
excelentes para as economias.
Donde surge minha segunda pergunta. O que os déficits orçamentários têm a ver
com uma retirada da zona do euro? Como é que uma saída da zona do euro irá
permitir ao governo central restaurar a economia ao meramente incorrer em
déficits orçamentários? Qual é a mágica das pesetas que fará com que o governo
espanhol supere as atuais agruras econômicas por meio de déficits orçamentários,
sendo que ele não consegue superar estas mesmas agruras ao incorrer em
déficits denominados em euros? Em outras palavras, o que faz do keynesianismo
uma ideologia tão eficaz em reduzir o desemprego? A resposta é clara, de acordo
com os keynesianos: a capacidade do banco central de criar quantias maciças de
dinheiro e emprestá-las para o governo. O governo, sabendo que será livremente
financiado pelo seu próprio banco central (o que não ocorre na zona do euro), irá
incorrer sem temores em déficits substanciais. E isso irá recuperar toda a
economia.
A resistência alemã
Mas essa não é uma explicação boa o bastante para Krugman. Ele quer outra
explicação — neste caso, uma explicação política. Parece que uma ideia ousada
está se espalhando incontrolavelmente pela Alemanha: não é sensato que os
banqueiros alemães concedam novos empréstimos aos espanhóis a juros
baixos. Foi isso que eles fizeram no passado, e foi isso que criou a bolha
imobiliária. Os eleitores alemães creem que seu governo emprestar mais dinheiro
para a Espanha — mais especificamente para o governo espanhol — é o
equivalente a jogar dinheiro de impostos no esgoto.
Não, Dr. Krugman, o pecado e suas consequências não são o problema. Mais
especificamente, foram os parvos banqueiros alemães que não perceberam que
os juros baixos que estavam recebendo quando compraram dívidas espanholas
envolviam um enorme risco de calote. Os tolos banqueiros alemães não se
entregaram ao pecado, mas sim à estupidez econômica. Eles acreditaram que os
PIIGS seriam capazes de quitar suas dívidas, o que significa dizer que eles
imaginaram que os PIIGS tinham algo de valioso para exportar, sendo que eles
não tinham. Agora estes bancos estão à deriva.
Isso vai durar para sempre. Ninguém confiará novamente nos espanhóis que
tomarem empréstimos, a menos que os pagadores de impostos alemães estejam
na cabeceira da mesa garantindo a conta destas dívidas da Espanha.
Os pagadores de impostos alemães sabem que eles são as ovelhas que serão
sacrificadas para salvar o couro dos banqueiros alemães. E eles
compreensivelmente não gostam desta ideia. Eles preferiam que as dívidas
fossem pagas pelos espanhóis que pegaram o dinheiro emprestado. Eles creem
que, já que foram os espanhóis que pegaram o dinheiro emprestado, então eles é
que deveriam quitar a dívida. Essa perspectiva, é claro, é radicalmente anti-
keynesiana. No sistema keynesiano, dívidas supostamente nunca devem ser
quitadas. Eles apenas devem crescer continuamente.
É por isso que os eleitores alemães querem interromper este processo. Não é
porque eles são sádicos que querem infligir dor e sofrimento aos espanhóis.
Tudo se resume a isso. No final, todo mundo quer ser socorrido. Todos aqueles
que ganham muito dinheiro na época da bonança artificial querem ser protegidos
por uma rede de segurança, financiada por terceiros, quando a bonança acaba e
se transforma em depressão.
Foi uma parvoíce ter emprestado euros para empresas espanholas a juros
baixos. A solução keynesiana para essa parvoíce é fazer uma série infindável de
empréstimos a juros baixos para as mesmas empresas espanholas e para os
mesmos bancos espanhóis, os quais devem emprestar para as empresas
espnholas. Em outras palavras, os erros, uma vez cometidos, devem ser
socorridos com novos e piores erros. A ideia é seguir gastando dinheiro, não
importa em quê. Esta é a essência do keynesianismo.
Recentemente, Krugman publicou uma coluna no The New York Times atacando
Ron Paul e sua crença na Escola Austríaca de pensamento econômico (um ótimo
sinal). Krugman alega que Ron Paul só conseguiu sua fama de consistente
porque ele ignora a realidade. O problema é que, se há uma coisa que a
“realidade” demonstrou, foi justamente o quão corretas eram as ideias propagadas
por Ron Paul e pela Escola Austríaca.
A seguir, o trecho relevante da coluna de Krugman (a mídia brasileira, com sua
tradicional competência em assuntos externos, inexplicavelmente creditou
a coluna a Thomas Friedman):
[…]
Em seguida, Krugman parte para uma nova linha de ataque, supostamente sua
evidência contra um dos pilares da Escola Austríaca: a base monetária americana
aumentou substancialmente, mas o Índice de Preços ao Consumidor aumentou
muito pouco. Esse é realmente aquele tipo de “evidência” que poderíamos esperar
apenas do nosso barbeiro e de um economista ganhador do Prêmio Nobel de
economista.
Em primeiro lugar, vale ressaltar que Krugman deturpa por completo a posição
austríaca a respeito do dinheiro, escrevendo que todos os austríacos acreditam
que a base monetária é exatamente a mesma coisa que dinheiro circulando na
economia. Não é, e isso sempre foi explicitado pelos austríacos.
Terceiro, como mostra o gráfico abaixo, embora a base monetária tenha explodido
desde setembro de 2008 — indo de pouco mais de $800 bilhões para US$2,7
trilhões —, o M1 teve crescimento bem mais discreto. Isso ocorreu porque a
quase totalidade do aumento da base monetária transformou-se em “reservas em
excesso”. “Reservas em excesso” são as reservas que os bancos mantêm
voluntariamente depositadas junto ao Fed (o Banco Central americano), além do
volume determinado pelo compulsório. Como a base monetária é igual ao papel-
moeda criado pelo Fed mais as reservas bancárias depositadas junto ao Fed (o
compulsório), conclui-se que uma substancial fatia do aumento da base monetária
foi convertida em reservas em excesso. Os bancos optaram por manter a quase
totalidade de suas reservas (as quais eles podiam utilizar para fazer empréstimos
e, com isso, aumentar o M1) voluntariamente depositadas junto ao Fed, que está
pagando juros sobre elas. Ao fazer isso, o Fed impediu que as reservas bancárias
se transformassem em depósitos em conta-corrente, o que elevaria o M1 — esse é
um dos motivos de a inflação de preços ainda estar contida nos EUA.
O gráfico acima mostra três variáveis: a base monetária (azul), o M1 (verde) e as
“reservas em excesso” (vermelho).
Quarto, alguns austríacos disseram que, cedo ou tarde, quando esse dinheiro que
está represado no sistema bancário “vazar” para a economia — isto é, se esse
aumento na base monetária se transformar em empréstimos em larga escala —,
haverá inflação de preços. Isso é algo óbvio. No entanto, como alguns austríacos
disseram que tal inflação de preços pode vir a ocorrer mais cedo do que mais
tarde, então, de acordo com Krugman, isso significa que toda a teoria monetária
austríaca está errada. (Tal raciocínio representa aquilo que gregos e romanos
chamaram de non sequitur; porém, sem o apelo ao non sequitur, Krugman
simplesmente não teria como escrever colunas).
Mas o fato é que os austríacos não estão nem um pouco surpresos com o que
vem acontecendo com a economia americana. Graças aos pacotes de socorro e
aos pacotes de estímulo, à explosão no número de regulamentações e à retórica
incendiária que emana da Casa Branca, a economia americana está atolada em
uma depressão — exatamente como os austríacos previram que estaria caso as
políticas dos últimos quatros anos continuassem sendo seguidas. Enquanto a
base monetária continuar sendo apenas isso — uma base — e o dinheiro não
circular, a taxa oficial de inflação de preços continuará baixa.
Por outro lado, se os austríacos estiverem errados em sua crença de que uma
expansão na quantidade de dinheiro em circulação irá estimular um aumento de
preços (e é isso que Krugman está insinuando), então toda a teoria monetária está
de cabeça para baixo. A insistência krugmaniana de que os austríacos são
ignorantes em termos monetários é em si um exemplo de ignorância. Os
austríacos enfatizam que o dinheiro é um bem secundário cuja principal utilidade é
facilitar as trocas; e sua produtividade jaz no fato de que ele permite que ocorram
trocas que não ocorreriam em uma economia de escambo. Adicionalmente, os
austríacos afirmam que o dinheiro, assim como quaisquer outros bens, também
está sujeito a todas as leis da ciência econômica, inclusive a Lei da Utilidade
Marginal (não, nós não cremos que ele seja apenas uma quantia variável).
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P.S.: Peter Schiff jamais afirmou que haveria inflação ao estilo Zimbábue nos EUA
e desafiou Krugman para um debatea qualquer momento, em qualquer local, sob
quaisquer termos.
P.S.2: A prova mais cabal da ignorância da teoria econômica de Krugman pode ser
vista nesta compilação de artigos seus, nos quais ele diz que a cura sustentável
para a recessão de 2001 era, adivinhe só!, a criação de uma bolha imobiliária.
Minha resposta a Paul Krugman sobre a teoria austríaca dos ciclos econômicos
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