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e PCdoB
26 de março de 2009
Parte I
8) Vale ressaltar que nesse período o Brasil era um País industrial, o “milagre
econômico” estava começando, a classe operária aumentando
exponencialmente, o processo de urbanização acelerando-se com a intensa
migração do campo para a cidade e a grande maioria da população vivia nas
grandes metrópoles. Enquanto isso, os companheiros do PC do B tinham uma
avaliação do País inteiramente diferente, na verdade um profundo
desconhecimento da realidade brasileira.
11) Ressalte-se que o Brasil conquistou a democracia pela via pacífica, através
da Frente Democrática, com os limites e debilidades próprios da correlação de
forças na sociedade brasileira, a guerrilha do Araguaia foi aniquilada e quase
todos os seus heróicos integrantes (quase todos jovens estudantes) foram
massacrados pelas Forças Armadas, muitos dos quais assassinados após serem
capturados vivos. No entanto, surpreendentemente, o PC do B não realizou no
período qualquer balanço crítico ou autocrítico dessa estratégia de luta.
13) É importante frisar que a Ação Popular era um agrupamento político muito
maior que o PC do B, com uma base social na cidade e no campo que o PC do B
não possuía. A simpatia pelo maoísmo serviu para aprofundar as discussões,
aparar arestas e buscar identidades. Esse processo culminou com a decisão da
maioria AP de se incorporar ao PC do B em 1973. Ressalte-se que inicialmente a
direção do PC do B manifestou resistência em relação à fusão com a Ação
Popular porque considerava esta organização pequeno burguesa e
inconseqüente do ponto de vista da luta armada. Esta avaliação está no
documento (Acerca da Proposta da AP) – também surpreendentemente omitido
na citada coletânea de documento do PC do B –, onde se avaliava que a
estratégia das duas organizações era diferente: o PC do B tinha uma estratégia
etapista (nacional libertadora), enquanto a AP tinha como estratégia a revolução
socialista.
14) Por influência dos chineses, que queriam um partido com maior influência
política e numérica para se contrapor aos partidos de linha soviética, a Ação
Popular rebaixou a sua estratégia, reconheceu o PC do B como legítimo partido
do proletariado brasileiro e incorporou no PC do B toda a sua estrutura nacional
de organização, indicando ainda seus principais quadros para o Comitê Central
do PC do B, o que prontamente foi aceito. Naquele momento os oriundos da AP
equivaliam a um terço do Comitê Central do PC do B.
19) Ou seja, mais de 10 anos depois da linha traçada pelo Partido Comunista
Brasileiro (PCB), no VI Congresso, de 1967, o PC do B conseguiu chegar a
conclusões semelhantes. Mas, para se manter fiel às suas oscilações políticas, a
partir de 1978 o PC do B começou o rompimento com o Partido Comunista
Chinês, sem sequer uma linha de autocrítica. Como é de costume, os
companheiros procuraram rapidamente apagar da memória os tempos em que
considerava o PC Chinês a vanguarda do proletariado mundial. Rapidamente, o
PC do B se alinhou ao Partido do Trabalho da Albânia, do líder Enver Hoxha, e
passou considerar a Albânia o “farol do socialismo” da mesma forma que
considerava anteriormente Mao Tse Tung o maior marxista da humanidade.
20) Vale ressaltar que a aliança com o Partido do Trabalho da Albânia foi a mais
longeva do PC do B: este partido se manteve fie ao regime albanês até a sua
queda, em 1991. Em 1988, por exemplo, o PC do B em seu VII Congresso, ainda
afirmava categoricamente: “Não obstante os esforços da burguesia reacionária,
com propósito de negar o socialismo, este vive e floresce na Albânia, que resiste
firmemente à pressão imperialista-revisionista (…) Sob a direção do camarada
Ramiz Alia, que ocupa com destemor o posto deixado pelo saudoso camarada
Enver Hoxha, o partido dos comunistas albaneses, o PTA, projeta e realiza à
frente do proletariado e do povo a gigantesca obra da edificação socialista, que
estimula, pelo exemplo, a luta revolucionária de todos os povos”.
22) A relação com o partido albanês era tão forte que os militantes do PC do B
aprofundaram o culto a Stalin. Em sua conferência de 1978, decidiu que o partido
comemoraria 1979 como “O Ano Stalin”. A pequena, camponesa e atrasada
economicamente Albânia passou a ser considerada pelos dirigentes e militantes
do PC do B “o farol da humanidade”. Muitos dirigentes do PC do B passaram a
morar em Tirana, capital albanesa, de onde diariamente transmitiam informações
sobre o Brasil através da rádio Tirana.
25) Esse é o principal fator que explica a trajetória do PC do B: no início Mao Tse
Tung era “o maior marxista-leninista da atualidade”, depois virou renegado e
traidor dos ideais da causa socialista; todos os Partidos Comunistas do mundo
que se alinhavam com a União Soviética, inclusive o PC Cubano, eram
revisionistas e traidores do socialismo. Agora o PC do B se orgulha de estar
inserido no movimento comunista internacional. Mas o estranho é que essa
pirotecnia política foi realizada sem uma palavra de autocrítica sobre o passado.
28) Após a derrota da luta armada no campo e na cidade (muitos grupos oriundos
do PCB também aderiram à guerrilha urbana), quase todas as forças de esquerda
fizeram autocrítica do militarismo e terminaram aderindo ao MDB, inclusive muitos
dos que participaram da luta armada nas organizações guerrilheiras urbanas. A
vida demonstrou que a linha política desenvolvida pelo PCB no Congresso de
1967 fora vitoriosa, uma vez que foi exatamente o movimento democrático amplo
que pôs fim aos 21 anos de ditadura militar no País.
30) O documento de Pomar sobre o Araguaia era bastante crítico, mas não pôde
ser difundido como resolução em função da queda da reunião do Comitê Central
do PC do B. Vejamos o que dizia Pomar em seu documento para a reunião onde
ocorreu o Massacre da Lapa: “Não há como fugir à amarga constatação de que a
guerrilha sofreu uma derrota completa e não temporária. Infelizmente o Comitê
Central tem que aceitar a dura verdade de que o resultado fundamental e mais
geral da batalha heróica travada por nossos camaradas foi o revés”, diz o
documento.
31) No entanto, o documento que se tornou oficial foi o que definiu a guerrilha do
Araguaia, como “uma gloriosa jornada de lutas”. Neste episódio se revela com
clareza a herança cristã dos atuais companheiros do PC do B atual: ao glorificar a
guerrilha massacrada, sem analisá-la em bases objetivas, se comportam como os
cristãos primitivos, que faziam do sofrimento uma glória para alcançar o reino dos
céus. A apologia do sofrimento e do sacrifício substituem, no caso, a análise
concreta da situação concreta, mitifica o problema e, dessa forma, foge-se da
questão central, que é o balanço do trabalho de direção no período, os erros ou
acertos da decisão política de se montar a guerrilha.
1.6 A aproximação com o movimento comunista
32) Aliás, como se pode notar, o PC do B tem uma enorme dificuldade em realizar
uma autocrítica. Quando o socialismo albanês, “o mais puro entre os
socialismos”, “o farol da humanidade” se desagregou na esteira da crise do Leste
Europeu, o PC do B não realizou nenhuma autocrítica sobre sua linha política
anterior. Fez de conta que não tinha nada a ver com a Albânia e seu modelo de
socialismo, sequer fez um documento interno analisando sua trajetória comum
com os albaneses.
33) A partir daí, passou a se aproximar de todos os partidos que há pouco tempo
chamava de reformistas e traidores do socialismo. Como não foi golpeado
orgânica e financeiramente como os PCs tradicionais, aliados à antiga URSS,
porque não tinha nada a ver com a União Soviética ou o Movimento Comunista
Internacional e já estava reorganizado a partir de meados da década de 80,
puderam participar das iniciativas internacionais dos partidos comunistas nos
anos 90 como se fosse um deles.
37) Com esses militantes históricos, o PCB esteve presente nas principais
batalhas dos trabalhadores e da população brasileira, nos campos da cultura, das
artes e da ciência. Pode-se dizer mesmo que, em função dessas circunstâncias, o
PCB produziu, ao longo do século XX, a maior parte dos heróis do povo brasileiro
em todos os campos do conhecimento.
38) Além disso, o PCB não se envergonha de sua história e não precisa omitir
documentos com o objetivo de maquiar sua trajetória para parecer diferente.
Contamos nossa história por inteiro. Uma história cheia de heroísmo, acertos e
também de muitos erros, mas uma história que podemos contar integralmente,
sem medo de comprometer nossa posição política em qualquer conjuntura. Por
isso, nesses 87 anos de lutas assumimos globalmente nosso passado e dele nos
orgulhamos porque faz parte da história de cada um de nossos camaradas.
Parte II
42) Com a resolução do XIII Congresso, o PCB rompeu com um dos elementos
teóricos que mais atrasava a formulação estratégica do Partido e com uma
concepção equivocada da realidade brasileira. Ao caracterizar a revolução
brasileira como socialista, em função das condições objetivas do capitalismo
brasileiro e da globalização, e se definir pela construção do bloco histórico do
proletariado, o Partido atualizou sua estratégia em relação à contemporaneidade
do capitalismo brasileiro e mundial e desatou as amarras que o prendiam a uma
formulação da década de 50, quando o capitalismo brasileiro tinha outra
configuração. Ao definir claramente o bloco de forças sociais da revolução, o PCB
rompeu com as ilusões terceiro-mundistas e nacionais-democráticas que foram
características da esquerda no passado, e definiu claramente que a burguesia
nacional não pode desempenhar nenhum papel em qualquer transformação
social no País.
45) O PCB rompeu com o governo Lula antes dos escândalos de 2005, entregou
os cargos que possuía no governo, e se colocou na oposição a este governo.
Realiza uma política de alianças eleitorais e nos movimentos sociais com a
esquerda e na última eleição presidencial foi parte constitutiva da Frente de
Esquerda, cuja candidata era a senadora Heloisa Helena. No segundo mandato,
continuou em oposição ao governo Lula, muito embora tenha recomendado o
voto crítico em Lula no segundo turno, para evitar uma vitória da extrema-direita.
A oposição a este governo ocorre em função do fato de que Lula faz um governo
para os banqueiros, para o grande capital e o agro-negócio, traindo os
trabalhadores e deixando para estes apenas algumas migalhas do festim
neoliberal, como o Bolsa Família. Em sua ação política o PCB só faz aliança com
a esquerda, quer nas eleições, quer no movimento sindical, juvenil ou social.
55) Por tudo isso, acreditados que as divergências entre o PCB e o PC do B são
grandes e tenderão a se aprofundar ainda mais com o acirramento da luta de
classe no País, pois enquanto o PCB optou por uma estratégia de longo prazo
para a construção das bases da revolução brasileira, combinando a luta
institucional com a luta não institucional, o PC do B se transformou num partido
da ordem e se institucionalizou completamente. Como tudo na luta política, só o
futuro dirá quem está com a razão, muito embora a experiência mostre que
resultaram em grande fracasso a política dos partidos comunistas que optaram
pelo caminho da institucionalidade.
56) É com estas ponderações que costumamos afirmar que lugar de comunista é
no PCB. A vida está provando que é uma ilusão querer construir uma vanguarda
revolucionária descasada ideologicamente do marxismo-leninismo e de suas
concepções estratégicas, táticas e orgânicas. Na conjuntura de reorganização da
esquerda e dos comunistas no País, após a crise que tirou do Partido dos
Trabalhadores a condição de agente das transformações sociais, esperamos que
todos os militantes que reivindicam o legado da Comuna de Paris, da revolução
Bolchevique de 1917 e da fundação do PCB em 1922 se incorporem às fileiras do
PCB, de forma a que possamos construir um Partido Comunista forte, coeso,
disciplinado e disposto a lutar pela conquista do poder político no País e pela
construção do socialismo em nossa pátria.
Viva o Socialismo!
Viva o Comunismo!