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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL

DHE – Departamento de Humanidade e Educação

Curso de Psicologia

CRISTIANE THEISEN

ANSIEDADE: SINTOMA SOCIAL CONTEMPORÂNEO

Santa Rosa – RS

2015
1

CRISTIANE THEISEN

ANSIEDADE: SINTOMA SOCIAL CONTEMPORÂNEO

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao curso de Graduação em
Psicologia do Departamento de
Humanidades e Educação da
Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul- UNIJUI,
como requisito parcial para a obtenção do
título de Bacharel em Psicologia.

Orientadora: Profª Sílvia Cristina Segatti Colombo

Santa Rosa – RS

2015
2

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho às pessoas que mais


acreditaram em mim e me apoiaram
durante o transcorrer do curso, meus
queridos pais Mário e Maria Elenir, e meu
querido namorado Alexandre.
3

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer primeiramente aos meus pais Mário e Maria Elenir, que me
apoiaram e incentivaram a sempre acreditar que estudar traz inúmeras recompensas.
Pelas palavras de incentivo e pelos inúmeros conselhos que foram determinantes para
a realização deste sonho.

Ao Alexandre, meu querido namorado, por dividir comigo os momentos difíceis,


importantes e os mais felizes durante esta caminhada. Pelo apoio, carinho e incentivo
que foram essenciais para alcançar essa vitória.

A minha querida orientadora Sílvia, pela dedicação, paciência e pelas palavras


de ânimo, bem como pela disponibilidade em sempre me atender muito bem.

Ao meu chefe e colegas de serviço, pelo apoio e coleguismo durante o curso.

A todos os professores e colegas que ajudaram na construção e formação


pessoal e acadêmica, que serão sempre lembrados com muito carinho. Em especial
às queridas Cristiane e Fernanda.
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“Precisamos dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao


dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar
os lírios do campo e as aves do céu”.

Érico Veríssimo
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RESUMO

Este trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica que visa entender o aumento da
ansiedade na vida das pessoas na atualidade, além de tentar esclarecer o que está
provocando o aumento de sua incidência, bem como as consequências na vida de
quem é portador da mesma. Para investigar essa temática, inicialmente o trabalho
discute as manifestações atuais do sintoma, bem como sua incidência no meio social.
Após, apresentamos brevemente os diferentes tipos de transtornos de ansiedade e
esclarecemos o que é a ansiedade patológica, ou seja, a angústia. Veremos o que
torna a ansiedade uma patologia da modernidade e sua elevada incidência no meio
social, portanto, daí ser considerada um sintoma social. Visto que nos últimos tempos
a grande maioria das pessoas queixa-se em relação à compromissos, cobrança e
resultados, deixando transparecer alguns sintomas da ansiedade.

PALAVRAS-CHAVE: Sintoma social. Ansiedade. Contemporaneidade. Angústia.


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................7

1. A GÊNESE DOS SINTOMAS.................................................................................10

1.1- O QUE É UM SINTOMA?.....................................................................................10

1.2- SINTOMA SOCIAL..............................................................................................18

2. MANIFESTAÇÕES ATUAIS DO SINTOMA...........................................................22

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................42
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INTRODUÇÃO

Atualmente vivemos em uma sociedade que exige respostas rápidas e


urgentes, em que o ser humano precisar adaptar-se a essas condições de existência,
pois caso contrário, corre um sério risco de cair em adoecimento. Esse modo de viver
exige muito do sujeito, implicando muitas vezes em sofrimento e consequências, tais
como a ansiedade e seus sintomas.

A escolha deste tema se deu devido a essa percepção do cenário atual. São
as cobranças de datas, horários, resultados, entre outros, que estão dominando a vida
dos sujeitos. O que na ordem natural das coisas é ao contrário, seriam os sujeitos que
dariam conta destes infortúnios, que deveriam ser passageiros. Pois é, deveriam ser
passageiros, porém percebe-se cada vez mais o aumento de queixas em relação a
falta de tempo e o estresse gerado em consequência do mesmo.

Ao longo da história a ansiedade já encontrava-se presente na sociedade, não


de forma tão explícita como no momento atual, mas causando também inúmeras
consequências para os portadores da mesma. Atualmente a maioria das pessoas vive
sob alguma forma de pressão, e não conseguindo mais dar conta da mesma acaba
entrando em sofrimento em consequência do conflito psíquico que surge em função
de tal situação, e é aí que surge a ansiedade.

A ansiedade traz consigo inúmeros sintomas, sendo eles físicos e psíquicos.


Dessa forma, considera-se relevante esclarecer o que é um sintoma, bem como o que
é um sintoma social. Diversas são as explicações que giram em torno de tais
conceitos. A fim de mais esclarecimentos é feita uma retomada às obras de
psicanálise, bem como a algumas obras da área da psiquiatria. Inicialmente com base
na teoria psicanalítica, o trabalho desenvolve o conceito de sintoma, bem como sua
estruturação e manifestação na vida dos sujeitos.

Como veremos no primeiro capítulo o sintoma pode ser definido pela


psicanálise como sendo umas das manifestações do inconsciente, ou seja, através da
expressão de um sintoma pode-se ter acesso à conteúdos inconscientes. Também é
um facilitador no processo da formulação do diagnóstico de determinada patologia,
pelo fato de ser único e subjetivo de cada um, pois encontra-se presente na estrutura
do sujeito, ou seja, encontra-se estruturado no inconsciente.
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No primeiro capítulo, também será abordado e analisado o conceito de


sintoma social. Diversos autores com base na psicanálise atestam para a relação do
mesmo com a cultura, afirmando que o sintoma social está presente no discurso
dominante da mesma. Dessa forma, buscamos entender a relação entre o sintoma e
a ansiedade, bem como a forma que a mesma se torna um sintoma social.

A etiologia e o conceito de ansiedade, serão abordados no segundo capítulo,


onde irão ser revisados os diversos estados e transtornos presentes na estrutura da
mesma, bem como as consequências na vida dos sujeitos ansiosos. Veremos que a
ansiedade pode ocorrer em função de uma discórdia interna, ou seja, quando há um
conflito psíquico que surge em função a uma determinada situação que o sujeito não
consegue elaborar satisfatoriamente. O presente trabalho, também irá propor uma
investigação a respeito da angústia, sendo esta um estado posterior à ansiedade, que
de forma avassaladora afeta a vida do sujeito acometido pela mesma.

Este trabalho de cunho cientifico tem o propósito, de trazer inúmeros


elementos a respeito de um determinado tema de pesquisa. Dessa forma, com este,
pretende-se pesquisar, organizar e tornar público um material referente ao tema
proposto: Ansiedade, o Sintoma Social Contemporâneo.

No transcorrer do trabalho serão analisados diversas fontes conceituais,


assim como, diversos autores de distintos campos teóricos, sendo eles a psicanálise
e a psiquiatria. Considerando essas diferenças teóricas, buscará se fazer um
apanhado geral de cada uma, não menosprezando, muito menos aniquilando uma a
outra, mas procurando possíveis articulações a serem elaboradas a partir das
mesmas.

Através destas diferentes conceituações nota-se a importância de estudar


sobre os estados de ansiedade, pelo fato de estarem se tornando cada vez mais
comuns em nossa sociedade. Sendo que é preciso haver um conhecimento acerca
para a melhor compreensão dos sujeitos que estão em sofrimento, já que seus
sintomas são avassaladores e assustadores, comparados em algumas vezes a
experiência de morte.

Torna-se relevante esta pesquisa pelo fato da ansiedade poder ser


considerada um sintoma social, aumentado a demanda de trabalho ao profissional da
Psicologia. Mas para atender esta demanda o profissional precisa estar preparado e
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ser possuidor de muitos conhecimentos que dizem respeito aos sintomas da


ansiedade. Sendo assim, através desta pesquisa surgirá a oportunidade de conhecer
mais a fundo os sintomas, a etiologia e as características desta patologia, agregando
assim um vasto campo de contextualizações a respeito do assunto e também a
procura por um aperfeiçoamento do mesmo para valer-se deste após a conclusão do
curso.
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1. A GÊNESE DOS SINTOMAS

Cada sujeito, assim como cada época tem seu modo de viver. Cada discurso
produz um laço. Os laços são com o Outro1. Quando estes laços encontram
fragilidades, produz-se sintomas.

O sujeito com o transtorno de ansiedade, ou quando sofre com o estado da


mesma, pode ser reconhecido com os sintomas quando estes passam a se tornar
exagerados, de forma desproporcional em relação aquilo que é incitado. Os sintomas
passam a interferir na qualidade de vida dos sujeitos, a forma de lidar com suas
questões emocionais e psíquicas, além de interferir no desempenho das atividades e
afazeres diários.

Um sintoma diz de uma verdade. Um sintoma social pode ser caracterizado


em poucas palavras como aquele sintoma que está se tornando recorrente e frequente
na sociedade. Também pode ser percebido quando há um aumento do número de
queixas dos sujeitos portadores de determinada patologia. Sujeitos que sofrem,
individualmente ou em grupos, efeitos do desconhecimento da causa de seu
sofrimento.

No primeiro momento deste estudo será abordado este tema que possui
grande relevância, tema de muitas discussões no seleto grupo dos seguidores da
psicanálise. Neste capítulo serão abordados os conceitos de sintoma e sintoma social.
Conceitos que possuem uma vasta trajetória no campo analítico, na busca de
contextualizar suas manifestações, partindo do pressuposto de que o sintoma é uma
manifestação do inconsciente. Lembrando que o sintoma não se estrutura sozinho,
portanto, torna-se necessário esclarecer suas relações com outros conceitos do
inconsciente.

1.1 . O QUE É UM SINTOMA

O sintoma é expresso quando há vivência de uma angústia ou de um


sofrimento, aparecendo em diversas manifestações do dia a dia. Pode ser tomado a

1
Lacan diferencia “o outro com A, que é o Outro de que se trata na função da fala, e o outro com a, que é o eu,
ou mais exatamente a imagem do eu”. BRAUER, 1994.
11

partir das manifestações que ele mesmo apresentar. O sintoma trata ser uma defesa
do ego, uma força inconsciente que busca defender o ego das ideias que possam
causar algum sofrimento ou conflito psíquico.

Como afirma Freud (1915-1916, p.41) “Os conflitos psíquicos são


excessivamente frequentes; observa-se com muita regularidade o esforço do eu para
se defender de recordações penosas, sem que isso produza a divisão psíquica”.
Portanto, o sintoma pode criar sua própria “teoria” sobre determinado fato para
neutralizar conflitos.

Há uma estrita ligação entre o ego e o sintoma, como já afirmado


anteriormente, o sintoma é uma defesa do mesmo. Freud (1926[1925]) afirma que o
ego se trata de uma organização e que para tanto, pretende incorporar a si os
sintomas, através de seus vínculos, tentando impedir o isolamento dos mesmos. E
mais, este processo não é estranho à formação dos sintomas, já que faz parte de sua
própria formação.

Tais sintomas participam do ego desde o início, visto que atendem a uma
exigência do superego, enquanto por outro lado representam posições
ocupadas pelo reprimido e pontos nos quais uma irrupção foi feita por ele até
a organização do ego. Constituem uma espécie de posto de fronteira com
uma guarnição mista. (...) O ego passa agora a comportar-se como se
reconhecesse que o sintoma chegara para ficar e que a única coisa a fazer
era aceitar a situação de bom grado, e tirar dela o máximo proveito possível.
Ele faz uma adaptação ao sintoma(...) (FREUD, 1926[1925], p. 102).

Dessa forma,

(...) O sintoma gradativamente vem a ser representante de interesses


importantes; verifica-se útil na afirmação da posição do eu (self) e se funde
cada vez mais estreitamente com o ego, tornando-se cada vez mais
indispensável a ele (FREUD, 1926[1925], p. 103).

Da mesma forma o autor também afirma que o ego não apenas criou um
sintoma para fruir-se de suas vantagens, trazendo o exemplo de combatente que
perde a perna durante uma batalha. Este homem não colocaria sua perna em risco
para apenas viver eternamente da pensão, sem precisar executar nenhuma tarefa a
mais sequer.
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Pode-se entender que um sintoma é criado quando há uma situação de


enfrentamento frente a algo, e que possivelmente causará angústia e sofrimento,
tendo o mesmo a função de defensor frente a uma ameaça.

Freud (1925-1926) afirma que há duas linhas de comportamento do ego em


relação ao sintoma, sendo as mesmas, opostas uma a outra. Uma segue a linha da
repressão e assim se torna menos amistosa que a outra. A linha de comportamento
que é considerada pelo autor como pacífica possui a pretensão de absorver o sintoma
e “torná-lo parte dele mesmo”, já em relação a outra linha de comportamento do ego
que diz respeito ao sintoma Freud afirma:

É do próprio sintoma que provém o mal, pois o sintoma, sendo o verdadeiro


substituto e derivativo do impulso reprimido, executa o papel do segundo; ele
continuamente renova suas exigências de satisfação e assim obriga o ego,
por sua vez, a dar o sinal de desprazer e a colocar-se em uma posição de
defesa (FREUD, vol. XX, 1926[1925], p. 104).

O sintoma em Freud, está ligado a uma direta relação com a experiência do


paciente, “quanto mais individual for a forma dos sintomas, mais motivos teremos para
esperar que seremos capazes de estabelecer esta conexão.” (Freud, 1915-1916, p.
277). Afirma que nem todos os sintomas são parecidos, e que portanto, há diferenças
nas experiências dos pacientes, ou seja, conforme há uma vivência distinta, há
também um sintoma distinto, chamado por Freud de sintoma ‘típico’.

Existem, contudo – e são muito frequentes – sintomas de tipo bem diferente.


Devem ser descritos como sintomas ‘típicos’ de uma doença; são quase os
mesmos em todos os casos, as distinções individuais neles desaparecem, ou
pelo menos diminuem, de tal forma, que é difícil pô-los em conexão com a
experiência individual dos pacientes e relacioná-los a situações particulares
que vivenciaram (FREUD, 1915-1916, p. 277).

Essas diferentes formas de sintoma afirma Freud, é que possibilitam um


esclarecimento acerca da patologia no momento do diagnóstico.

Um paciente evita apenas ruas estreitas, e um outro, somente ruas largas;


um consegue sair somente se houver poucas pessoas na rua, ao passo que
um outro apenas sai se existem muitas. (...) e não devemos esquecer que
são estes sintomas típicos, na verdade, que nos dão a orientação com que
fazemos nosso diagnóstico (FREUD, 1915-1916, p. 278).
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Para Freud também há uma relação entre os sintomas e as experiências


patogênicas ou os traumas psíquicos, observação essa, feita por Breuer, afirmando
que esta relação é também observável na teoria da repressão. Assim como o
desvendamento desses sintomas é que pode levar à cura através da psicanálise.

Esta substituição da ideia reprimida – o sintoma – é protegida contra as forças


defensivas do ego e em lugar do breve conflito, começa então um sofrimento
interminável. No sintoma, a par dos sinais do disfarce, podem reconhecer-se
traços de semelhança com a ideia primitivamente reprimida. Pelo tratamento
psicanalítico desvenda-se o trajeto ao longo do qual se realizou a
substituição, e para a recuperação é necessário que o sintoma seja
conduzido pelo mesmo caminho até a ideia reprimida (FREUD, 1910 [1909].
p. 42).

Reforçando a ideia da relação entre os sintomas e os conteúdos reprimidos,


Freud (1926[1925], p. 95) traz que “Um sintoma é um sinal e um substituto de uma
satisfação instintual que permaneceu em estado jacente; é uma consequência do
processo de repressão”.

Assim como foi tratado a relação do sintoma com a repressão, também, o


estudo tratará a relação com a inibição. Pois como se sabe, tanto a repressão, como
a inibição também é estruturada no inconsciente e que ambas possuem estreita
ligação com a fenomenologia do sintoma.

Freud (1925-1926) faz uma distinção entre os termos linguísticos das palavras
inibição e sintoma para fazer a atribuição de seus significados, já que há uma relação
entre ambos. Afirma que:

Na realidade, dificilmente poderíamos pensar que valeria a pena diferenciar


exatamente entre os dois, não fosse o fato de encontrarmos moléstias nas
quais observamos a presença de inibições mas não de sintomas, e ficamos
curiosos para saber a razão disso (FREUD, 1926[1925], p. 91).

Também assevera que a diferença entre os dois termos não estão presentes
no mesmo plano, em decorrência da função ser ou não ser patológica.

A inibição tem uma relação especial com a função, não tendo


necessariamente uma implicação patológica. Podemos muito bem denominar
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de inibição a uma restrição normal de uma função. Um sintoma, por outro


lado, realmente denota a presença de algum processo patológico. Assim,
uma inibição pode ser também um sintoma. O uso linguístico, portanto,
emprega a palavra inibição quando há uma simples redução de função, e
sintoma quando uma função passou por alguma modificação inusitada ou
quando uma nova manifestação surgiu desta. Muito amiúde parece ser
assunto bem arbitrário, quer ressaltemos o lado positivo de um processo
patológico e chamemos o seu resultado de sintoma, quer ressaltemos seu
lado negativo e intitulemos seu resultado de inibição (FREUD, 1926[1925] p.
91).

Lacan retoma abordagem freudiana do sintoma, orientando-o em termos de


estrutura, um traço constitutivo do sujeito. Traço esse, que se torna presente para o
indivíduo na dimensão simbólica.

No Seminário 23, (1975-1976. p.15), afirma que o sintoma é referenciado à


frase “mas isso não”, direcionado ao sexo feminino, afirmando que “a mulher só é toda
sob a forma pela qual o equívoco toma de nossa lalíngua o que ela tem de picante,
sob a forma do mas isso não”. Podemos entender que sintoma é algo que não está
ao alcance de nossos olhos, mas sim é algo que encontra-se estruturado no
inconsciente.

Afirma que o sintoma é algo a ser deslocado, ou ainda que pode ser
multiplicado através da linguagem, por se tornar possível o conhecimento acerca do
mesmo pela linguagem, assim como o inconsciente se torna perceptível aos ouvidos
quando expresso em palavras. Afirma que não exige a interpretação, pois esse não
tem a finalidade de um pedido, ou seja, não é utilizado para ganhos em relação ao
Outro.

Em se tratando do sintoma, é claro que a interpretação é possível, mas com


uma certa condição que vem somar-se a ela, isto é, que a transferência se
estabeleça. Por natureza, o sintoma não é como o acting out, que pede a
interpretação, pois (...) o que a análise descobre no sintoma é que ele não é
um apelo ao Outro, não é aquilo que mostra ao Outro. O sintoma, por
natureza, é gozo, não se esqueçam disso, gozo encoberto, sem dúvida (...)
não precisa de vocês como o acting out, ele se basta. (...) é por isso que tal
gozo pode traduzir-se num Unlust (...) desprazer (LACAN, 1962-1963, p.
140).

O sintoma em Lacan é denominado como o quarto círculo que é responsável


pela ligação/amarramento do real, do simbólico e do imaginário. Assim afirma
Lacan(1975-1976, p.21): “A configuração seguinte, à esquerda, esquematiza o
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imaginário, o simbólico e o real como separados uns dos outros. Vocês têm a
possibilidade de liga-los. Com o quê? Com o sinthoma, o quarto”.

Com a união desses quatro termos/círculos, Lacan chega à conclusão de que


o sintoma também faz laço com o Complexo de Édipo e com o Nome do Pai. “O
complexo de Édipo é, como tal, um sintoma. É na medida em que o Nome-do-Pai é
também o Pai do Nome, que tudo se sustenta, o que não torna o sintoma menos
necessário” (1975-1976. p. 23). Portanto, um traço da constituição do sujeito.

Maria das Graças Villela Dias faz uma análise sobre o que afirmava Lacan
sobre a conexão entre a linguagem e o sintoma e a concepção de Freud sobre o
assunto.

Em Freud, o sintoma nunca é simples; ele é sempre sobredeterminado, e


esse fenômeno, para Lacan, só é concebível na estrutura da linguagem. A
sobredeterminação nada mais é do que a articulação das cadeias
significantes ao se decifrar o sintoma, isto é, ao fazer deslizar e desdobrar os
significantes recalcados que a ele estão ligados. (...) Lacan, porém, na
primeira época de seu ensino, prioriza a noção do inconsciente e do sintoma
estruturados como linguagem, deixando de lado a referência à insatisfação
contida no sintoma e localizando a pulsão, o que não pode se dizer, fora do
campo interpretação analítica. O sintoma mesmo é linguagem e, pela
interpretação, é possível alcançá-lo evocando suas ressonâncias
semânticas. O tratamento, é então, orientado para libertar, pela via
significante, a insistência repetitiva que há no sintoma e a verdade que aí se
oculta (DIAS, 2006, p. 402).

Larousse (1993) afirma que Lacan elaborou esse termo “sinthome” para
nomear o nó de borromeu2, também para “significar que o sintoma deve “cair”, o que
é subentendido por sua etimologia, e que o “sinthoma” (...) é aquilo que não cai, mas
modifica-se, transforma-se, para que continue sendo possível o gozo, o desejo.”

Desta forma afirma também Dias (2006, p. 403):

Lacan avançará no sentido de conceber que o sintoma não é regido somente


pela rede simbólica, pois algo resta após o desvendamento do encadeamento
significante. A esse resto Lacan dará o nome de gozo, passando a entender
o sintoma não somente como uma forma de o sujeito organizar seu gozo. Por

2
Nó de Borromeu é um conceito de Lacan que significa um elo, uma ligação entre o real, o simbólico,
o imaginário e o sintoma.
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essa razão, mesmo depois de ter seu sintoma decodificado pela


interpretação, o sujeito não renuncia a ele.

Dias afirma que o sintoma pode se equiparar com o inconsciente, pois está
elaborado como uma linguagem, está integrado a mesma e também à suas ordens.
Podendo ser uma fala direcionada ao Outro, na condição em que o sujeito ganha “o
sentido a significação de seu sintoma”.

Larousse (1993) escreve que para Lacan o sintoma é fruto do real, e que
portanto, retornaria ao mesmo, sendo descrito pelo psicanalista como um “sinal de
uma disfunção orgânica”, afirmando que o sintoma é o que de mais real o sujeito
possui. Portanto, Lacan afirma que o sintoma não poderia ser aniquilado durante o
tratamento, já que o mesmo é um “efeito estrutural” do paciente.

Um sintoma pode ser referido a uma característica duradoura, em que persiste


por algum tempo. Alain Vanier (2002) afirma que “Em geral, o sintoma é uma marca
individual e se manifesta como algo que se afasta em relação a uma norma de
funcionamento fisiológico ou comportamental”.

Para Garcia (1994, p.115):

O sintoma é na definição de Freud um derivado do inconsciente, um produto


da repressão e característico da estrutura neurótica. Para Lacan o sintoma é
a própria repressão. Na vida do neurótico o sintoma configura-se como um
enigma e como tal requer algum tipo de deciframento. O neurótico sabe que
o sintoma quer dizer algo, mas esse algo se lhe apresenta como uma
linguagem cifrada. O sintoma amarrado ao inconsciente demanda
interpretação.

Estes acontecimentos tais como equívocos, chistes, lapsos, sintomas,


apresentam-se ao eu como instantes de surpresa, espanto, provocados pela
emergência súbita do inesperado que corresponde ao aparecimento do inconsciente.
(GARCIA, 1994).

Decididamente, com o descobrimento do inconsciente, o sintoma deixa de


ser algo para ver, para converter-se em algo que fala, pelo simples fato de
que ele próprio é estruturado como uma linguagem, mas uma linguagem cuja
palavra deve ser liberada. E na articulação do inconsciente com o simbólico,
que o sintoma aparece a nível do corpo que faz sua representação imaginária
(GARCIA, 1994. p. 118).
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Jaqueline Künzel (1997) seguindo as ideias de Lacan, afirma que um sintoma


é algo que se repete, que procura ocultar a falta. Para a autora sintoma trata ser um
gozo fálico, que é regido pela menção ao pai, portanto, trata ser uma forma de procurar
um limite, a lei conjugada pela função paterna.

Após feita uma análise da etiologia do sintoma em bases psicanalíticas e


outras áreas afins, ligadas a mesma, será apresentado em seguida o significado do
presente tema em diferentes fontes, ligadas principalmente a áreas afins da medicina.
Lembrando que a base psicanalítica nos possibilita ver a raiz da questão, ou seja, é
através da psicanálise que podemos entender a forma que o sintoma se estrutura.
Mas cabe ressaltar que há outros estudos referente ao sintoma, que merecem
destaque no presente trabalho.

Essas duas visões da etiologia não servem para uma aniquilar a outra, mas
sim para acrescentar ao conceito de sintoma, significados de diferentes ordens, que
possibilitem uma visão geral de um tema que há ainda muito a ser investigado. São
conceitos diferentes ligados a uma mesmo contexto, portanto, sendo um
complementar ao outro, com visões distintas.

O sintoma, na medicina, é compreendido como sendo um sinal, signo de


alguma patologia, de algum problema em algum órgão do corpo, podendo ser definido
no momento em que o paciente apresenta suas queixas. Nelson Pires (1962) afirma
que o sintoma a partir da concepção da área médica indica um “sinal ou indício de
doença”.

Afirma que há dois tipos de sintoma, o objetivo e o subjetivo. O primeiro indica


um sintoma no qual não há queixa, já o segundo, afirma o autor, pode ser comparado
a uma dor leve, ou seja, uma queixa.

O autor afirma também que esta relação entre o sintoma e a doença pode se
dar de forma direta ou indireta, segundo ele,

A relação entre sintoma e doença pode ser direta: tumor comprime a medula
e causa paraplegla crural. Mas essa relação entre sintoma e doença pode
aparecer, por vezes, complicada e indireta: síndromes da menopausa vistas
em Ginecologia e em Psiquiatria, irregular curso evolutivo dos sintomas de
eczemas, inesperada ocorrência ou curso evolutivo dos sintomas da asma,
das dores da úlcera gástrica, enigmático surgimento ou curso dos sinais de
distonia vegetativa, autóctone ou não, e muitas outras. A relação entre o
sintoma e a doença tida como causal pode tornar-se tão indeterminada que
desaparece. (PIRES, 1962)
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O autor espanhol Manuel Desviat em 2010 afirmou que o sintoma é uma


manifestação da doença. Fazendo uma comparação entre sintoma e signo, que
segundo ele, um se define como aquilo do qual o paciente queixa-se e o outro como
algo que pode ser observado, testado, ou seja, um fato.

La cuestión es que hoy, en medicina, el síntoma es la expresión de la


enfermedad (del mal estado de la salud de un sujeto). La medicina, y con ella
la psiquiatría, no distingue generalmente entre síntoma (un fenómeno: lo que
el paciente dice de su malestar) y signo (un hecho: anomalías observaciones,
pruebas). Entre un acto de conducta y un coma. No distingue, pues, para la
medicina todo síntoma es un hecho, un dato, expresión directa de una lesión,
señal de un órgano o del mal funcionamiento fisiológico (DESVIAT, 2010)

A definição de sintoma no dicionário de língua portuguesa se concentra em


ser um “Indício, sinal. Fenômeno acidental que revela a existência, natureza ou sede
da moléstia.” (LUFT, 1921) Percebe-se que essa definição foi elaborada há muito
tempo, sendo que, ainda condiz com a área médica enquanto sendo uma “sede da
moléstia”, representando ser lado negativo, o que nos remete a afirmação de Freud
(1925-1926), de que o sintoma possui um lado malevolente.

Sintoma é algo que pode ser encontrado em qualquer sujeito que sofre de
alguma patologia, é através dele que o profissional da saúde pode formular um
diagnóstico. Possui várias definições em diferentes ramos da área da saúde, mas
apenas a psicanálise aborda a forma pela qual o mesmo é estruturado. Não
desmerecendo outras teorias que falam do sintoma enquanto algo presente numa
queixa, ou seja, já está estruturado e apresenta-se de determinada forma.

1.2 – SINTOMA SOCIAL

Após uma breve apresentação sobre a estrutura e o significado do sintoma, o


presente trabalho abordará a respeito de sintoma social e suas implicações na vida
do sujeito, e obviamente na sociedade em geral. Pensando também na relação do
mesmo com a ansiedade e suas incitações.
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Não tem como falar de sintoma social sem abordar seu comprometimento com
a cultura, já que o sintoma está inserido neste contexto. Afirmou Contardo Calligaris
em 1993 que a cultura possui relação com o discurso.

Uma cultura é fundamentalmente um fluxo discursivo, quer dizer, tudo o que


se foi articulando discursivamente, oralmente ou por escrito, no quadro desta
cultura. Imaginem que seja uma espécie de rio de palavras que vai andando
e, no meio desse rio, pede-se carona. De repente, o que se diz só encontra
significação no que vai ser dito ou no que foi dito antes. Uma cultura é isso,
um enorme fluxo de produção discursiva (CALLIGARIS, 1993. p. 194).

Em se tratando de sintoma e sintoma social, Künzel (1997) indica o que é um


e outro. Para ela o sintoma, sendo ele individual, trata ser algo particular do sujeito,
aquilo que o mesmo leva para análise, como não sendo isolado de sua história de
vida. Conceitua sintoma social como aquele que surge da cultura, estando presente
em relação ao discurso dominante, marcando a estrutura presente.

Da mesma forma, a autora defende que todo o sintoma social possui função
com o discurso dominante. Discurso esse, que é facilmente encontrado em nossa
cultura, pois se trata daquele que possui uma maior influência na vida das pessoas.

Segundo Betts (1993 apud KÜNZEL, 1997, p. 115) o sintoma se torna social
quando o seu vínculo de discurso subjetivo encontra um registro especifico no
discurso social dominante. Künzel (1997, p. 115) coloca que “(...) se o inconsciente
está estruturado como uma linguagem, segundo Lacan, o sujeito do qual falamos está,
desde que nasce, inscrito numa rede de fala própria da linguagem”.

Dessa forma, todo discurso que aparecer na clínica de psicanálise possui a


perspectiva de um sintoma social, e que está inscrito de modo imponente na cultura e
na vida dos sujeitos. Imponente é pelo modo que esse sintoma se aloja na vida do
sujeito, pois está estruturado em seu inconsciente desde seu nascimento, sendo
assim, todos os sujeitos passam pela experiência de vivenciar um sintoma social.

Arnaldo Chagas (2001, p. 108) nos afirma que a partir do discurso ocorre uma
relação do sujeito com o social, e que essa relação estabelece o sintoma do sujeito
no social, portanto se trata do fato de que “todo sintoma é social”.

O fato de estarmos inseridos em uma cultura faz com que estejamos


envolvidos num discurso civilizador, é o que nos afirma Mára M. M. Bellini (1998, p.
249):
20

O sintoma é, pois, uma afirmação substitutiva que tenta dar conta da


incompletude, do buraco ao redor do qual estamos constituídos
simbolicamente. Mas, para que o sintoma seja social, há necessidade de um
laço de identificação entre os sujeitos. Na medida em que conseguimos
conceber a influência de formas socialmente dominantes de representar o
inconscientizado, se torna impossível escutar apenas como individuais,
singulares, os sintomas que nos são referidos singularmente, porque este
sujeito também está enlaçado no discurso civilizador.

É na cultura que o sujeito defende-se “de suas deficiências e de seus


excessos” é o que afirma Luís Claudio Figueiredo (1999, p. 26), quando faz uma
citação às obras de Freud: O Futuro de Uma Ilusão(1927) e Mal-Estar na Cultura. O
autor escreve que é na cultura, segundo Freud, que são integrados instrumentos e
técnicas necessários ao controle das “forças naturais, os regulamentos – interdições
e prescrições – ordenadores das relações entre os homens, os modelos e os ideais
capazes de organizar e estabilizar a vida coletiva e ainda as ilusões necessárias à
conservação da própria cultura”.

Bellini (1998, p. 248) faz uma breve análise sobre a afirmação de Lacan, de
que todo sintoma é social e de sua relação com a cultura:

Lacan já dizia que todo sintoma é social. E isso pode ser apreendido na
medida em que percebemos o quanto uma rede discursiva nos enlaça e
organiza formas de expressão singulares em cada cultura. Quando alguém
nasce, é perpassado por uma rede de representações pré-existente que,
através da linguagem, o inserirá e o produzirá como um efeito daquela
cultura. Entendo o caráter de transubjetividade do qual Lacan fala quando se
refere ao inconsciente como exatamente isso: nossa subjetividade nos
transcende, é Outra, é extrínseca a nós. O sintoma social dominante em uma
dada cultura será, pois, a formação substitutiva predominantemente
articulada dos elementos constitutivos e significantes que, após o recalque,
não têm mais acesso à consciência, só fazendo por meio de representantes.

O autor faz uma analogia do mito do assassinato do pai da horda primitiva,


onde este pai foi morto e devorado por seus filhos com a intuição destes de introjetar
simbolicamente o saber do pai, para assegurar-lhes um “gozar da liberdade das
pulsões”. Desta forma, afirma que o sintoma social continua esboçando por meio de
maneiras complexas o fracionamento de um gozo possível, sendo que, esse gozo
também pode implicar em sofrimento.
21

Alejandro Raggio (1998) escreve que o sintoma social é uma questão a ser
pensada, considerando que o ser humano possui também sintomas individuais.

A própria denominação sintoma social já nos coloca numa questão que


requer ser analisada: se considerarmos a existência de um sintoma social e
outros que não se revestem desta característica – sintomas individuais -,
imediatamente temos que pensar que o social é um elemento alheio a isso
que se costuma chamar “psiquismo individual”, que se limita a influenciar ou
produzir efeitos sobre uma matéria previamente gerada (RAGGIO, 1998.
p.318).

Também afirma que

O que poderíamos chamar a “fenomenologia”, do chamado sintoma social,


em referência às áreas nas quais se manifesta ou pelo menos nas quais se
torna perceptível ao nosso olhar, coloca outro problema: o problema de
definição do sintoma em relação ao seu âmbito empírico de emergência. Não
é menos social um sintoma qualquer abordado na clínica particular que a
chamada “toxicomania” como problema comunitário. (p.324)

Podemos também pensar a ansiedade como sintoma social, por esse se


caracterizar por uma organização sobre uma forma discursiva, sendo na
contemporaneidade o que produz um laço social. Esse laço social muitas vezes pode
ser comparado aos grupos de adolescentes, pois nestas há uma identificação entre
os sujeitos que ali estão envolvidos, assim como ocorre uma identificação nos casos
de um sintoma social.

A respeito dessa identificação Alfredo Jerusalinsky (1998, p. 405) afirma:

Como é dito atualmente entre os adolescentes, a tribo não tem outra


finalidade do que a identificação mesma no campo do objeto, quer dizer, uma
inscrição de ordem imaginária que não tem uma inscrição simbólica maior, a
não ser a identificação com o grupo mesmo.

A ansiedade apresenta-se atualmente como um sintoma social dominante,


tanto pela pressão que emerge sobre os indivíduos, quanto pela sua ocorrência
constante na vida desses sujeitos. O próximo capítulo abordará sua etiologia e sua
incidência na sociedade capitalista atualmente.
22

2. MANIFESTAÇÕES ATUAIS DO SINTOMA

No presente capítulo será feita uma breve análise sobre a etiologia da


ansiedade, sua relação com outros transtornos neuróticos, e consequências da
mesma na vida das pessoas.

A palavra ansiedade no senso comum, muitas vezes está associada ao termo


medo/fobia, dessa forma, pode inibir as pessoas de realizarem suas tarefas rotineiras
por se julgarem incapazes de fazer, de realizar o trabalho, temendo fazer de maneira
incorreta, sem nem mesmo tentar. Já por outro lado a ansiedade estimula o indivíduo
a entrar em ação, a fazer movimentos, mas corre-se o risco de tornar patológico
quando está presente em excesso, ou seja, pode tornar-se uma angústia.

A ansiedade segundo Sigmund Freud (1915-1916) está entrelaçada à


existência de um sofrimento psíquico na vida do sujeito, em decorrência da presença
de uma discórdia interna. Em sua obra afirma que a ansiedade surge quando a libido
está em decadência, sendo assim, a ansiedade surgiria quando a libido do sujeito não
está sendo satisfeita. “Não é possível, a princípio, discernir como a ansiedade surge
da libido; apenas podemos reconhecer que a libido está ausente e que a ansiedade
está em seu lugar” (FREUD,1915-1946, p.404).

A ansiedade pode estar ligada a diferentes objetos e também pode não estar
ligada a nenhum deles, como aponta Freud. Uma é a realidade realística e a outra é
realidade neurótica, sendo a última uma realidade do desconhecido, do sem objeto.
Freud (1925-1926 p. 165) atesta que “Um perigo real é aquele que ameaça uma
pessoa a partir de um objeto externo, e um perigo neurótico é aquele que a ameaça a
partir de uma exigência instintual”.

Continua a afirmar Freud (1926[1925], p.163):

Em alguns casos as características da ansiedade realística e da ansiedade


neurótica se acham mescladas. O perigo é conhecido e real, mas a ansiedade
referente a ele é supergrande, maior do que nos parece apropriado. É esse
excedente de ansiedade que trai a presença de um elemento neurótico. Tais
casos, contudo, não introduzem qualquer princípio novo, pois a análise revela
que ao perigo real conhecido se acha ligado um perigo instintual
desconhecido.
23

Assim como no capítulo anterior foi exposta a relação entre o sintoma e o ego,
sendo o primeiro uma defasa do segundo, além da relação do sintoma com a
repressão, também será feita uma analogia entre a ansiedade e os dois termos acima
citados. Freud (1925-1926) afirma que o surgimento da ansiedade em relação com a
repressão não se dá de maneira fácil, afirmando que o ego seria o lugar em que se
fixa a ansiedade. Então, sobre o surgimento da ansiedade Freud (1925[1926], p.96)
escreve que:

O problema de como surge a ansiedade em relação com a repressão pode


não ser simples, mas podemos legitimamente apegar-nos com firmeza à idéia
de que o ego é a sede real da ansiedade, e abandonar nosso ponto de vista
anterior de que a energia catexial do impulso reprimido automaticamente
transformada em ansiedade.

Entendendo um pouco mais sobre a etiologia da ansiedade, na obra de Freud


encontram-se muitos fragmentos que discorrem sobre vários elementos referentes ao
assunto. Dessa forma, julga-se relevante a citação em que aparecem mais fragmentos
sobre a relação da ansiedade e o ego.

O determinante fundamental da ansiedade automática é a ocorrência de uma


situação traumática; e a essência disto é uma experiência de desamparo por
parte do ego face de um acúmulo de excitação, quer de origem externa quer
interna, com que não se pode lidar(...). A ansiedade ‘como um sinal’ é a
resposta do ego à ameaça da ocorrência de uma situação traumática. Tal
ameaça constitui uma situação de perigo. Os perigos internos modificam-se
com o período de vida (...), mas possuem uma característica comum, a saber,
envolver a separação ou perda de uma objeto amado, ou uma perda de seu
amor(...) uma perda ou separação que poderá de várias maneiras conduzir a
um acúmulo de desejos insatisfatórios e dessa maneira a uma situação de
desamparo (FREUD, 1925[1926]. p. 85).

Várias são as situações que podem ocasionar, ou então desencadear os


transtornos de ansiedade. Mas como aponta Freud (1925-1926), é uma forma de
resposta frente a um perigo eminente, que surge devido a um trauma que não foi
elaborado satisfatoriamente pelo sujeito ansioso.

O mesmo aponta como uma guisa de conclusão que

A ansiedade é uma reação a uma situação de perigo. Ela é remediada pelo


ego que faz algo a fim de evitar essa situação ou para afastar-se dela. Pode-
se dizer que se criam sintomas de modo a evitar a geração da ansiedade.
24

Mas isto não atinge uma profundidade suficiente. Seria mais verdadeiro dizer
que se criam sintomas a fim de evitar uma situação de perigo cuja presença
foi assinalada pela geração de ansiedade. (...), o perigo em causa foi o de
castração ou de algo remontável à castração (FREUD, 1925-1926. p. 129).

O estado de ansiedade, portanto, pode ser considerado um estado preliminar


da angústia, sendo a última considerada uma patologia mais grave e que implica-se
de maneira mais avassaladora na vida do sujeito. A respeito da angústia Nilson
Sibemberg (2007, p.22) fez uma narrativa sobre a etiologia do conceito em Freud:

A primeira teoria de Freud sobre a neurose de angústia situa sua etiologia,


então, no acúmulo de tensão sexual não eliminada e na ausência ou
insuficiência de elaboração psíquica da excitação sexual somática, pelo qual
ela não pode transformar-se em libido psíquica. (...) o que nos importa nessa
primeira elaboração não passa por uma etiologia situada na falta de descarga
da excitação sexual como no coitus interrupstus, mas na insuficiência
psíquica para elaborar as manifestações físicas da sexualidade. Na segunda
tópica, a angústia virá sinalizar um perigo não distintamente identificado. Essa
reação diante do perigo, invalidante na crise de pânico, estaria assimilada,
para Freud, à reativação de uma situação traumática passada, atualizada em
sua carga afetiva. As situações passadas encontram seus paradigmas na
trauma do nascimento como primeira situação de perigo vivenciada pela
criança; a condição de dependência absoluta do bebê e a primeira separação
da mãe, situação destinada a se repetir em cada ocasião em que a ausência
de objeto tiver que ter uma resolução psíquica. A problemática da angústia
coloca em cena o temor da perda do objeto, seja ele materno ou de amor,
deixando o sujeito exposto por vezes ao tormento da castração e da ideia de
morte.

Freud elaborou dois conceitos a respeito da etiologia da angústia, mas esta


elaboração da segunda tese não substitui a primeira, muito menos provoca uma
ruptura entre os dois conceitos. Os mesmos marcam uma distinção dos momentos de
elaboração psicanalítica com o conceito de angústia.

Essas duas formas de pensar a etiologia da angústia possibilita ter uma visão
geral sobre o conceito na visão de Freud. Lembrando que possuímos como exemplo
sobre angústia, o caso do paciente de Freud, o “Pequeno Hans”. Pedro Teixeira
Castilho (2007) afirma a respeito do exemplo acima citado que a “A angústia do
pequeno Hans é o que ficou recalcado pela castração. O medo do cavalo é um
substituto da idéia inicial de ser castrado pelo pai.” Portanto Hans deslocou a angústia
para o medo, dessa forma afirma Freud (vol. XX, 1925-1926, p. 127) em relação a
25

fobia de seu paciente “(...) o que acontece numa fobia, em último recurso, é substituído
por outro”.

Outro psicanalista que fez um extenso estudo sobre o conceito de angústia é


Jacques Lacan. Em seu texto “A angústia”, 1962-1963, Lacan aponta que a angústia
não se trata de uma emoção e sim de um afeto. Pois o afeto possui uma ligação direta
com a estrutura do sujeito, porque em momento algum ele é recalcado. Dentre os
vários conceitos que Lacan atribui à angústia, difere muitas vezes com os conceitos
de Freud, onde o objeto é o que marca essa diferença.

Freud traz a ideia de que a angústia se dá frente à alguma coisa, ou seja, um


objeto, já para Lacan deve-se elaborar melhor essa estrutura, ir além disso, não
contentar-se com essa formulação. Segundo o psicanalista a angústia é um sinal que
está ligado a um afeto.

Assim, tentemos seguir passo a passo a estrutura e apontar onde


tencionamos situar a característica de sinal em que Freud se deteve como a
mais apropriada para nos indicar, a nós, analistas, o uso que podemos fazer
da função da angústia. Somente a idéia de real, na função opaca de que falo
para lhe opor a do significante, permite que nos orientemos. Já podemos dizer
que esse etwas diante do qual a angústia funciona como sinal é da ordem de
irredutibilidade do real. Foi nesse sentido que ousei formular diante de vocês
que a angústia, dentre todos os sinais, é aquele que não engana (LACAN,
1962-1963, p. 178).

Castilho (2007) fez uma análise sobre o conceito da angústia em Freud e em


Lacan, destacando a relação da mesma com o objeto. Freud afirma haver uma ligação
entre os dois conceitos. Lacan aponta que não há angústia sem objeto, ou seja, o
mesmo já se encontra presente em sua estrutura.

Lacan nos convida a fazer uma orografia da angústia, a descrição de um


relevo e grafos, colocando a angústia em uma topologia, momento que o eu
é lançado (jeté) da sua unidade e, o que surgir é o deslizamento de sua
onipotência. Se, para Freud, a angústia estaria ligada a um objeto, como a
agressividade ao pai, para Lacan, a angústia não é sem objeto. Cabe apontar
o que levou Lacan a construir sua concepção de angústia enquanto "um afeto
que não é sem objeto". (CASTILHO, 2007)

Para Lacan portanto, ocorre um resvalamento da onipotência do eu quando a


angústia emerge, desta forma, há uma ligação entre o objeto causa de angústia e os
significantes que o sujeito já possui.
26

A angústia é tema de muito estudo, porém como o foco do presente trabalho


é a ansiedade, cabe ressaltar que em muitos autores os dois termos possuem o
mesmo significado, mas conceitualmente se diferem, já que a ansiedade trata ser um
estado preliminar da angústia. Alfredo Simonetti (2011, p. 97) nos traz uma reflexão
acerca do assunto. Aborda os dois conceitos na ordem da psicopatologia fundamental.

Angústia e ansiedade, embora entrelaçadas, ambíguas, sobrepostas e


complexas, e usadas como sinônimos, tanto por psiquiatras como por
psicanalistas, ainda guardam suas diferenças quando o discurso se torna
mais rigoroso, tanto na psicanálise quanto na psiquiatria. Ao lado da
ambiguidade coexistem tentativas históricas para separar angústia de
ansiedade.

Em sua tese de doutorado Milena de Barros Viana (2010, p. 78) fez uma
analogia do conceito de ansiedade em Freud e no DSM – IV. A autora chega a
conclusão a respeito do conceito de ansiedade com a seguinte afirmação:

A ansiedade é definida, portanto, como um estado afetivo, que possui um


caráter acentuado de desprezar, e que produz a repressão, não sendo,
portanto, consequência dela. O desprazer que a caracteriza parece ter um
aspecto próprio, não óbvio, cuja presença é difícil de provar. Além disso, este
desprazer se faz acompanhar de sensações físicas, mais ou menos definidas,
que podem ser referidas a órgãos específicos do corpo, como os órgãos
respiratórios e o coração, o que sugere, alega Freud à semelhança de outros
autores de sua época, que as inervações ou descargas motoras
desempenham um papel importante no fenômeno da ansiedade.

Esse desprazer que define a ansiedade segundo a autora, é comumente


encontrado na sociedade contemporânea. Esse sentimento pode levar a pessoa ao
suicídio, acreditando ser o único refúgio frente a esse sofrimento. As autoras Lívia
Calastri e Sabline Rodrigues (2014) escreveram um artigo questionando a respeito do
risco de suicídio em sujeitos portadores de transtorno da ansiedade. Usaram em seu
estudo dados de uma artigo realizado por Moisés Rodrigues e seus auxiliares, da
Universidade Católica de Pelotas – RS, onde constam dados de uma pesquisa
realizada pelos mesmos com a população jovem, de 18 a 24 anos da cidade de
Pelotas, no período de novembro de 2007 a junho de 2009, em que buscam observar
a relação entre o suicídio e o estado de ansiedade. Dessa forma, julga-se necessário
citar a escrita das autoras:
27

A ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo e apreensão,


caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo,
de algo desconhecido ou estranho. Está entre os transtornos mais comuns
nas síndromes psiquiátricas e é percebida como um fator iminente de risco
de suicídio. (...) Nos jovens com algum transtorno de ansiedade, o risco de
suicídio foi identificado em 27%. Por outro lado, os jovens que não
apresentavam um transtorno de ansiedade o risco de suicídio foi
significativamente menor (3,7%; p<0,001). (...)Nos indivíduos com algum
transtorno de ansiedade, o risco de suicídio foi mais de seis vezes maior do
que nos indivíduos sem tal ocorrência (CALASTRI e RODRIGUES, 2014).

Com os resultados da pesquisa torna-se perceptível a relação do suicídio com


a ansiedade, demonstrando o quanto este transtorno pode interferir na vida dos
portadores do transtorno, e também dos familiares, que precisam acompanhar e
apoiar o sujeito que está em sofrimento. São dados que requerem atenção e que
precisam ser avaliados e acompanhados, pois assim como o transtorno de ansiedade,
o suicídio é um problema da saúde pública atual.

Antônio L. Teixeira e Patrícia Figueiredo (2006), abordaram essa relação do


transtorno de ansiedade – suicídio, enfocando o transtorno do pânico, um tipo de
transtorno presente na ansiedade:

Existe uma relação entre as características da doença apresentada e o risco


suicida do paciente. Pacientes com maior frequência de ataques de pânico,
longo período de doença, maior sensação de gravidade e de perda de
controle nos ataques, maior temor a novos ataques, maior nível de ansiedade
antecipatória, presença de hipervigilância e evitação em relação às
sensações corporais e agorafobia têm maior risco de ideação ou tentativa de
suicídio. Estes pacientes vivenciam o ataque de pânico como uma
experiência intolerável, ou seja, com altos níveis de sentimentos negativos
como angústia, humilhação, irritabilidade e hostilidade, e vêem no suicídio
uma saída para não vivenciarem mais esta experiência.

Desta forma, podemos citar Holmes (2001) que aponta que a ansiedade
interfere na vida do sujeito de forma avassaladora e assustadora, pelos sintomas que
provoca no mesmo. Quando há o desencadeamento de uma crise o sujeito pode ter
vários sintomas somáticos, tais como: palpitação, suor excessivo, dor no peito,
tontura, tremedeira, etc., como também pode apresentar sintomas psíquicos: como
irritabilidade, inquietação, perturbação do sono, entre outros.

Encontramos nos estudos de Holmes que a ansiedade pode ser primária ou


secundária, ou seja, surge por diversos fatores e em diversas ocasiões, pode
desencadear-se na infância, assim como também pode aparecer apenas na vida
28

adulta. Pode decorrer de situações traumáticas, como também pode ser advinda de
outras patologias, sendo portanto de ordem secundária, em que é apenas um sintoma
de determinada doença. Segundo Holmes (2001, p. 84) “(...) nos transtornos de
ansiedade, a ansiedade é o sintoma primário ou a causa primária de outros sintomas,
enquanto nos demais transtornos a ansiedade é o resultado de outros problemas”.

A ansiedade possui uma estreita ligação com as fobias, segundo Holmes


(2001, p. 85) “fobias são medos irracionais e persistentes de um objeto, atividade ou
situação específicos. As fobias envolvem medos que não têm justificativa na realidade
(...) ou medos que são maiores do que seria justificado”.

Portanto, a ansiedade está associada a um determinado objeto, ou seja


podem aparecer sintomas de ansiedade em sujeitos que possuem fobia em relação a
uma determinada situação. Como por exemplo o sujeito pode tornar-se ansioso
quando está em lugar fechado - claustrofobia.

Dentre as fobias, as mais sentidas frequentemente por crianças são as fobias


de animais, que perpassam a vida infantil e vão para a vida adulta. Freud (1925-1926,
p. 127) com relação a essa fobia de animais, coloca que:

A ansiedade sentida nas fobias de animais é, portanto, uma reação afetiva


por parte do ego ao perigo; e o perigo que está sendo assinalado dessa forma
é o perigo de castração. Essa ansiedade não difere em aspecto algum da
ansiedade realística que o ego normalmente sente em situações de perigo,
salvo que seu conteúdo permanece inconsciente e apenas se forma
consciente sob a forma de uma distorção.

O medo é uma característica muito ligada ao estado de ansiedade, o que nos


leva a considerar importante descrever o mesmo, bem como, mostrar que seu
conceito é diferente do conceito de ansiedade. O medo geralmente está associado a
um perigo real, quando o sujeito encontra-se frente a situação de risco. Já a ansiedade
está ligada a um comportamento frente a uma situação de ameaça, onde o perigo não
está comprovado.

(...) a ansiedade é a emoção relacionada ao comportamento de avaliação de


risco que é evocado em situações em que o perigo é incerto (ameaça
potencial), seja porque o contexto é novo ou porque o estímulo do perigo
(e.g., um predador) esteve presente no passado, mas não está mais no meio
ambiente. Ao contrário, o medo está relacionado a estratégias defensivas que
ocorrem em resposta ao perigo real que está a certa distância da vítima
29

(ameaça presente). Neste caso, o animal ou evita a situação sempre que


exista uma rota de fuga disponível ou se torna imobilizado de forma tensa
(congelamento) quando não há nenhuma saída. (GRAEFF, 2007)

Os seres humanos estão em uma constante busca pela realização, uma


realização que compreende tapar um vazio, através do objeto ideal. Sobre o assunto,
Künzel(1997), nos afirma que nesta busca o indivíduo se entrelaça numa investida de
“realização do gozo fálico”. Sendo a mesma algo comum na vida dos sujeitos que
estão procurando defender-se daquilo que se apresenta como sendo impossível, ou
seja, “de ser castrado”.

Sobre o mesmo afirma Freud (1925-1926, p. 137):

(...) a ansiedade aparece como uma reação à perda sentida do objeto e


lembramo-nos de imediato do fato de que também a ansiedade de castração
constitui o medo de sermos separados de um objeto altamente valioso, e de
que a mais antiga ansiedade – a ‘ansiedade primeva’ do nascimento – ocorre
por ocasião de uma separação da mãe.

Portanto, para Freud essa castração simboliza para a criança a perda do lugar
do falo materno, do objeto de desejo, pois a criança é separada da mãe já a partir de
seu nascimento. Porém, teme a castração por ter que renunciar ao lugar que o grande
Outro lhe oferece.

O estudo até o presente momento deteve-se em apresentar a etiologia do


conceito de ansiedade com base em autores e estudos ligados à área psicanalítica.
Como afirmado no capítulo anterior, a psicanálise elucida uma abordagem que diz
respeito a estrutura e constituição das teorias atuais existentes, não sendo diferente
em relação aos transtornos mentais. O trabalho seguirá com uma abordagem mais
dinâmica, buscando fundamentar os conceitos aqui expostos em diversas
abordagens, entre elas, abordagens da psiquiatria.

A ansiedade possui uma classificação de subtipos, que são os transtornos de


ansiedade. Entre eles, há os transtornos fóbicos, a agorafobia, fobia, social e fobia
específica. A seguir será feita uma descrição de cada item com base no obra de
Holmes (2001), Psicologia dos Transtornos Mentais, que possui uma ligação mais
direcionada a área da psiquiatria do que da psicologia propriamente dita.
30

Os transtornos fóbicos podem ser descritos como como medos irracionais e


perseverantes de algum determinado objeto, ação, ou de alguma situação em
especial. São geralmente medos que na realidade não possuem nenhuma explicação
lógica, ou seja, que não possuem justificativa (HOLMES, 2001).

Já a agorafobia se caracteriza por ser tratar de medos em relação a lugares


onde haja uma maior concentração de pessoas, em que o sujeito sente-se inseguro,
pois caso lhe ocorra uma crise de ansiedade se tornaria difícil sair do local. Segundo
Dessimoni (2012), esse tipo de situação geralmente diz respeito a lugares ou
situações que envolva um grande número de pessoas, viagens para lugares distantes
de casa.

A fobia social diz respeito a um medo de julgamento e críticas de outras


pessoas caso se comportar de modo constrangedor, motivo pelo qual teme e evita
lugares públicos. Já a fobia específica está relacionada a um medo irracional frente a
uma situação diferente de multidões, como por exemplo agorafobia, bem como, frente
a uma possível crítica pessoal, ou seja, fobia social. Nesta estão incluídas os demais
tipos de fobias (HOLMES, 2001).

Já os estados de ansiedade estão divididos em quatro formas diversas, tais


como o transtorno do pânico, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de
estresse pós-traumático, transtorno obsessivo-compulsivo e o transtorno de estresse
agudo (HOLMES, 2001). No presente trabalho será aprofundado o conceito de
ansiedade generalizada, não abstendo-nos profundamente aos outros, mas se
fazendo necessário abordar os mesmos para haver um conhecimento acerca de seus
conceitos.

O transtorno do pânico é caracterizado por “breves períodos de ansiedade


espontânea excepcionalmente intensa. Tais períodos vêm e vão subitamente, via de
regra durante apenas alguns minutos, e sua ocorrência é imprevisível” (HOLMES,
2001. p. 88). Este pode apresentar sintomas físicos, como também psicológicos, os
ataques do transtorno se caracterizam por serem apavorantes tanto que muitos
sujeitos acometidos por tais sintomas afirmam enfrentar momentos parecidos com a
morte.

O transtorno de ansiedade generalizada é aquela em que a mesma persiste


por um longo período de tempo, no mínimo um mês. Aparentemente sua causa é
31

desconhecida por não apresentar nenhum objeto ou situação especifica que possa tê-
la desencadeado.

De acordo com o CID 10, a ansiedade generalizada pode ser descrita da


seguinte forma:

O aspecto essencial é ansiedade, a qual é generalizada e persistente, mas


não restrita ou mesmo fortemente predominante em quaisquer circunstâncias
ambientais em particular (isto é, ela é “livremente flutuante”). Como em outros
transtornos ansiosos, os sintomas dominantes são altamente variáveis, mas
queixas de sentimentos contínuos de nervosismo, tremores, tensão
muscular, sudorese, sensação de cabeça de leve, palpitações, tonturas e
desconforto epigástrico são comuns. Medos de que o paciente ou um parente
irá brevemente adoecer ou sofrer um acidente são freqüentemente
expressados, junto com uma variedade de outras preocupações e
pressentimentos. (OMS, 1992. p. 138)

Um transtorno de estresse pós-traumático apresenta como aspectos


singulares a reedição de uma situação traumática. Estes podem ocorrer devido a um
acidente, uma frustração que não foi elaborada, catástrofes naturais, torturas,
assaltos, estupros, entre outros. Segundo Holmes (2001), o sujeito possui uma vida
barrada e emocionalmente não aprofundada, e principalmente marcada por
experiências emocionais intensas circundadas pelo trauma vivido.

O sujeito portador do transtorno obsessivo-compulsivo se abstém em ideias


obsessivas e de ordem compulsivas, ou seja, são ideias recorrentes e persistentes
que inibem o indivíduo frente a elas, pois o mesmo possui dificuldades em tirá-las de
sua mente.

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é caracterizado pela presença de


obsessões e compulsões. Obsessões são idéias, pensamentos, imagens ou
impulsos repetitivos e persistentes que são vivenciados como intrusivos e
provocam ansiedade. Não são apenas preocupações excessivas em relação
a problemas cotidianos. (...) Compulsões são comportamentos repetitivos ou
atos mentais que visam reduzir a ansiedade e afastar as obsessões. Esses
rituais freqüentemente são percebidos como algo sem sentido e o indivíduo
reconhece que seu comportamento é irracional. Geralmente a pessoa realiza
uma compulsão para reduzir o sofrimento causado por uma
obsessão (GONZALES, 1999).

O transtorno de estresse-agudo é considerado uma patologia recentemente


listada no DSM-IV, e trata ser um quadro de ansiedade intensa que pode persistir
32

aproximadamente por um mês ou mais. Holmes (2001) afirma que sua origem pode
ser ligado a um fator situacional transitório, como por exemplo um desastre natural,
ou então pode prover de uma experiência pessoal, um assalto, por exemplo. Sua base
pode estar ligada ao transtorno de estresse pós-traumático.

Outro importante ponto a ser destacado é a diferença que marca a ansiedade


como traço da ansiedade como estado. A primeira, segundo Holmes (2001), se
caracteriza por ser relativamente duradoura, ou seja, sentem-se ansiosos frente onde
estão e/ou o que estão fazendo, já os sujeitos que sofrem da ansiedade-estado
apenas são acometidos frente a situações particulares, como por exemplo, uma prova
que avalie conhecimentos, aos quais não domina totalmente.

Após essa breve apresentação dos diferentes transtornos e características de


ansiedade, cabe ressaltar que a mesma ocorreu a fim de proporcionar um
conhecimento geral sobre o conceito, para que assim possa ser delimitado o tema de
pesquisa. O presente estudo continuará sendo desenvolvido a partir da descrição e
análise de apenas um destes transtornos, ou seja, o conceito de transtorno de
ansiedade generalizada, com o propósito de apresentar suas características e
também suas incidências na vida dos sujeitos portadores da mesma.

A ansiedade está presente e encontra-se perceptível desde a infância,


demonstrando o quanto a mesma causa impactos na vida do sujeito durante a fase
de constituição. Os autores afirmam que a criança sofre de uma ansiedade de
separação, que se dá quando uma figura que lhe indica segurança e confiança,
geralmente a figura materna, se afasta dela. Mas este sintoma muitas vezes se dá por
antecipação ao ato, causando sofrimento antecipatório em função de uma ansiedade
que se manifesta antes mesmo da separação.

Marcelli & Cohen (2010) em seu texto Os transtornos de ansiedade, os


sintomas e a organização de aparência neurótica afirmam que a separação já ocorre
na infância, no período em que a criança precisa aprender a lidar com esse sentimento
de impotência, frente a ansiedade de separação.

A ansiedade de separação consiste em um medo excessivo e intenso após


um separação ou afastamento da figura de apego, em geral a mãe ou o pai
da criança, bem além do período habitual (2-4 anos) ou de maneira muito
exagerada e rígida. No plano clínico, a ansiedade, a cólera, as lágrimas
também podem estar presentes de maneira antecipatória a fim de evitar
situações de separação (MARCELLI & COHEN, 2010. p. 305).
33

Como citado anteriormente a ansiedade pode ser encontrada também na


infância, principalmente em relação a separação das figuras parentais. Mas a mesma
pode persistir além da fase de separação, Leahy (2012) aponta que torna-se mais
perceptível os sintomas de ansiedade em crianças que estão na fase escolar,
demonstrando impedimentos no que diz respeito à aprendizagem e também ao
convívio social. Aponta que “(...)16% dos casos começam na infância e causam
impactos sobre o desenvolvimento. Meninos e meninas com o transtorno têm mais
dificuldades na escola (...) e muito mais risco de se tornarem adultos com problemas
psicológicos.”

Da infância para a vida adulta o sujeito passa por muitas pressões e


cobranças, principalmente em relação a resultados positivos. As crianças que estão
em fase escolar geralmente devem destacar-se da média para não serem
considerados alunos com déficit cognitivo. Dessa forma, surge a ansiedade frente aos
medos que essas crianças sentem em relação a essas cobranças como um modo de
tampona-lo.

Na sociedade atual o sujeito precisa se fazer reconhecer frente aos outros,


precisa responder de algum lugar, e além de tudo, precisa mostrar o quão é capaz de
superar dificuldades e obstáculos. Tudo isso, porque atualmente há uma competição
diária, imposta pela cultura e muitas vezes pelos próprios sujeitos que não aceitam
fracassos. Porém, essa pressão causa malefícios aos sujeitos, que não respondem
mais de um lugar de liberdade, aos quais é dada como ordem natural das coisas, mas
já encontram-se alienados a uma supressão dessa liberdade.

Ana Beatriz B. Silva em seu texto Estado de Alerta (2012) introduz à obra se
reportando aos transtornos de ansiedade em decorrência das reações exacerbadas
em função das competitividades e inovações frequentes.

Acompanhamos a virada de milênio ouvindo projeções para o século 21


repletas de facilidades tecnológicas que poupariam o excesso de trabalho e
nos dariam mais conforto, felicidade e tranquilidade. Hoje constatamos, com
certa perplexidade, que tocamos a vida sem compreender muito bem o
porquê de tanta correria. Dispomos de equipamentos cada vez mais rápidos,
muito mais velozes que a capacidade de nosso cérebro de processar tanta
informação. Dentro desse rodamoinho de competitividade e inovações
constantes, muitos de nós somos tomados pelo medo que cruza as fronteiras
entre o saudável e o patológico. Ao reagirmos de forma exacerbada aos
contratempos e dificuldades do dia a dia, o medo deixa de ter função protetora
e se converte numa ameaça para a mente, dando origem aos transtornos de
ansiedade (SILVA, 2012. p. 36).
34

Essa suposta felicidade introduzida pela ascensão da tecnologia


desencadeou nos sujeitos uma sensação de incapacidade e inferioridade frente a
nova promessa de perfeição das máquinas. Em que teriam que se mostrar melhor e
mais capacitados do que o sistema para garantir seu status e também sua
sobrevivência no mercado de trabalho, causando assim sofrimento e preocupações
em função de um futuro incerto, ou seja, ocasionando uma ansiedade por
antecipação.

Os sujeitos não encontram tempo para dedicar-se a atividades nas quais


possam sentir prazer, muitos também não o procuram, estão tão preocupados com o
futuro, com o amanhã que estão deixando de aproveitar o presente. Mas isso se dá
em função de uma preocupação causada pela ansiedade antecipatória, que insiste no
fato do sujeito sofrer por algo que ainda está por vir, porém sua intencionalidade é de
inibir qualquer sofrimento posterior.

Podemos reconhecer que é comum na atualidade encontrar sujeitos que


sofrem com uma ansiedade por antecipação, em que possuem dificuldades em lidar
com perspectivas ou tempos de espera. Dessa forma, pode ficar ansioso antes de
uma apresentação de trabalho, um jogo importante ou frente a chegada de alguém
importante.

Esta ansiedade antecipatória pode estimular o indivíduo a pôr-se em


movimento, buscar resultados, mas como também pode gerar sofrimentos em função
de não conseguir lidar com estado preliminar que a ansiedade condiciona, podendo
ocasionar a angústia. Porém, a sociedade capitalista não aceita a manifestação de
qualquer tipo de insatisfação, e muito menos de frustrações e fracassos.

A condição do ser humano exige uma suposta aparência de felicidade frente


a sociedade, em que não deve deixar transparecer seus problemas, porém a mesma
pode causar sofrimento constante frente a esse status. Essa cobrança alude muitas
formas de preocupações, podendo ser um sofrimento em decorrência da relação do
sujeito com os demais indivíduos, que causa uma certa insatisfação e um mal-estar
frente a sociedade.

Mal-estar este, que surge em função do fluxo discursivo que circula na cultura,
o que nos remete ao conceito de sintoma social e sua relação com a ansiedade. O
sujeito pode sofrer frente à determinadas situações reais vividas no dia a dia que estão
35

inseridas numa rede discursiva, quando estas não são elaboradas satisfatoriamente,
os conflitos internos se dão em decorrência, surgindo a ansiedade em função desses
conflitos. Dessa forma, se torna possível afirmar que a ansiedade pode ser
considerada um sintoma social.

Freud em seu trabalho O Futuro de uma Ilusão, o Mal-Estar na Civilização e


outros trabalhos (1927-1931, p. 73) fez uma análise dos sujeitos que vivem em função
do que os outros pensam. “É impossível fugir à impressão de que as pessoas
comumente empregam falsos padrões de avaliação – isto é, de que buscam poder,
sucesso e riqueza para elas mesmas e os admiram nos outros, subestimando tudo
aquilo que verdadeiramente tem valor na vida”.

Na mesma obra o autor traz uma abordagem sobre a ameaça que a felicidade
corre em decorrência do sofrimento, ou seja, o ser humano vive em uma condição
inerente ao sofrimento. O mesmo encontra-se presente em três condições segundo
Freud (1930-1929, p. 85),

(...) nossas possibilidades de felicidade sempre são restringidas por nossa


própria constituição. Já a infelicidade é muito difícil de experimentar. O
sofrimento nos ameaça a partir de três condições: de nosso próprio corpo,
condenado à decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode pensar o
sofrimento e a ansiedade como sinais de advertência; do mundo externo, que
pode voltar-se contra nós com forças de destruição esmagadoras e
impiedosas; e, finalmente, de nossos relacionamentos com os outros
homens.

Arnaldo Chagas (2001, p. 57) afirma que “A idéia de ser o melhor, o mais
eficiente, querido, esperto, inteligente, rico, o mais tudo, acaba provocando nas
relações humanas uma competição demasiada e uma espécie de ‘paranóia
generalizada’ entre as pessoas”. Dessa forma, a ansiedade é uma das formas de
manifestação desse mal-estar que toma conta dos sujeitos que se arriscam nessa
aventura pela busca do destaque. O autor em seu texto A Ilusão no Discurso da Auto-
Ajuda e o Sintoma Social (2001), faz uma análise do quanto os sujeitos ainda buscam
e acreditam nessa forma de ascensão na vida.

(...) o homem da sociedade contemporânea está às voltas com a valorização


necessariamente exagerada dos objetos, de seu uso e de sua utilidade; sofre
de uma angústia provocada por esse controle enlouquecedor, do qual não
encontra saída. O discurso da auto-ajuda, em forma de subjetivação, pode
apresentar-se como um meio de dar sentido a fenômenos que o sujeito não
36

compreende bem, são estranhos a ele. Assim sendo, nos referidos manuais,
pode encontrar ‘razões’ suficientes para justificar aquilo que, para ele, era tão
complexo, distante e desorientador. Agora, valendo-se da auto-ajuda, o
sujeito sente-se protegido e em condições de formular teorias sobre os
acontecimentos do mundo (CHAGAS, 2001. p. 56).

Essa ideia do discurso de autoajuda que leva muitos sujeitos à onipotência é


criticada por Robert L. Leahy (2012). O mesmo alega que essa forma de pensamento
leva as pessoas a culpar e julgarem-se responsáveis pelos seus próprios fracassos.
Sendo assim, esse equívoco, que no princípio era tido como uma forma de realização
e sucesso, torna-se em mais uma frustração e motivo de ascensão dos transtornos
de ansiedade.

O falso ideal de felicidade também pode ser questionado quando diz respeito
a auto realização pessoal e profissional. Por que há tantas promessas de realização
plena (profissional e familiar)? Por que o sujeito ainda acredita na possibilidade da
felicidade ser comprada?

Frente a estas questões e tantas outras que poderiam ser elaboradas pode
se chegar a resposta, talvez não satisfatória, muito menos conclusiva, de que os seres
humanos atualmente estão muito mais preocupados com o que possuem para mostrar
aos outros do que na possibilidade de poder usufruir desses bens. Ou seja, há uma
necessidade de exibicionismo, onde o que mais se destaca nas rodas de conversa é
o narcisismo de cada um.

Narcisismo que está deixando os sujeitos ansiosos por nem sempre


alcançarem o êxito esperado, frustrando-os com sua imagem refletida na sociedade e
denegrindo seu ego. Esta busca pela realização plena, com alcance praticamente
impossível, faz com que os seres humanos se sintam na obrigatoriedade de fazerem
tudo ao mesmo tempo, ter o carro do ano, a casa mais bonita do bairro, a roupa da
moda, entre outros, e não importando-se com suas reais condições de aquisição ou
não. Precisam tamponar um vazio com um objeto de gozo de difícil acesso, surgindo
assim a ansiedade como resposta frente a esta incansável batalha.

Künzel afirma que os sujeitos da modernidade encontram-se em estado de


alienação frente a sociedade capitalista, em que muitas vezes pode ocorrer o
aniquilamento da própria subjetividade “(...), os sujeitos no discurso do senhor
moderno ocupam uma posição de instrumento, ou melhor, se alienam, onde a sua
37

própria subjetividade é esquecida, recalcada, para que o senhor goze, para fazer o
falo goza.” (1997, p. 111). A autora escreve segundo o pensamento de Lacan, de se
tratar de um gozo fálico, inscrito pela linguagem e possuidor de um limite.

Sob o ponto de vista do senso comum, a sociedade atual vive em ritmo em


que tudo precisa ser feito com certa urgência, assim, como também não tolera atrasos
ou suspensões. Pode-se afirmar que a sociedade atual vive em um contexto de
hiperatividade, os homens são cobrados a dar resultados, mas com toda a pressão
acabam por não conseguirem gerar resultados esperados e satisfatórios. Apenas
tornam-se hiperativos em consequência da ansiedade gerada pela condição forçada
de resultados positivos.

Outro fator comumente encontrado em nossa sociedade e que possui estreita


ligação com a ansiedade, é a questão da busca pelo corpo perfeito como também,
seu processo inverso, a obesidade. As promessas feitas pela mídia e pelo marketing
influenciam as pessoas a buscarem e terem como objetivo um corpo com linhas e
curvas perfeitas, onde tudo que não se enquadra nesse padrão passa a incomodar e
provocar repúdio. Lembrando que esse ideal de perfeição é aquele que é exibido
diariamente em capas de revistas e outras mídias, que não possuem nada mais do
que objetivos financeiros e lucrativos, dando pouca importância à subjetividade das
pessoas.

É uma onda que pode causar algum tipo de ansiedade, como também formas
de sofrimento naqueles sujeitos que apesar dos esforços não alcançam esse objetivo.
Muitos deles julgam-se fracassados por não conseguirem acompanhar o discurso
social dominante, e culpam-se para que através dessa forma de masoquismo sintam-
se perdoados frente ao suposto fracasso.

A ansiedade também provoca várias reações físicas. Muitas pessoas dizem


que quando estão ansiosas buscam se alimentar em demasia, conseguindo
desta forma, diminuir os sintomas ansiosos, o que acaba resultando em
alguns quilos a mais. O ganho de peso não costuma ser linear, o que se
observa é um ganho ou uma perda de peso em forma de escada, que a
maioria de obesos não consegue seguir (CAPITÃO & TELLO, 2004).

Essa ansiedade em decorrência de uma onda de momento na obesidade


pode ocasionar um efeito indesejado, ou seja, pode provocar efeitos colaterais,
opostos aos que a pessoa acreditava alcançar. A ansiedade, na maioria dos casos
38

induz a pessoa a ingerir e consumir mais alimentos, para ser essa uma forma de
amenizar sua dor, ou seja, a pessoa acredita que essa alimentação seria uma
compensação em função da dor emocional que está sentindo. A ingestão de comida
passa a ser de modo compulsivo, sem que o sujeito o perceba.

Comer por compulsão pode ser extremamente sofrido. Pessoas que sofrem
de obesidade freqüentemente tendem a se autodepreciar, levando o assunto
para o terreno da ironia, das piadas. Como em um ciclo, acabam centrando a
vida no comer, expressando um desespero interior, pois o que lhes falta é
consideração e prazer pela vida (CAPITÃO & TELLO, 2004).

A ansiedade pode nesses sujeitos tornar-se patológica em função da


exigência que o mesmo se faz frente a essa compulsão pela ingestão dos alimentos.
A primordialidade de tamponar a falta de acesso ao objeto de gozo da qual o sujeito
obeso sofre se dá através da busca pela satisfação das necessidades fisiológicas, ou
seja, o ato de comer, geralmente de forma exagerada, em atribuição a ansiedade que
causa essa necessidade.

Cada vez mais sujeitos são acometidos pela necessidade de aprovação,


superação frente a sociedade, como também frente ao seu ego, como prova de que
são capazes de enfrentar dificuldades impostas pela vida. Mas ocorre muitas vezes
que o indivíduo não percebe que está no seu limite, ou até que já o ultrapassou,
aumentando ainda mais sua cobrança em relação a resultados esperados. Esse ato
causa malefícios ao sujeito, que não percebe que está acometido de uma patologia,
ou seja, que é um sujeito ansioso e que espera e cobra de si além daquilo que pode
corresponder de maneira saudável.
39

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao iniciar este trabalho, teve-se como propósito mostrar o quanto a ansiedade


está se tornando presente em nossa sociedade. O quanto suas manifestações e
sintomas influenciam a vida dos sujeitos. A ansiedade, assim como afirmado por
Freud (1915 – 1916) está ligada a uma forma de sofrimento psíquico ocorrendo em
função de um conflito interno. Ou seja, ela pode ser desencadeada por momentos de
tensão, dessa forma, o sujeito já possui uma condição pré-existente a esse momento.

Como foi visto no presente trabalho é possível encontrar diversas formas de


ansiedade em sujeitos ansiosos, ou seja, a mesma pode estar ligada a diversos tipos
de objetos e animais. Dessa forma, se torna plausível a busca pelo entendimento
referente às manifestações de sintomas de ansiedade em alguns sujeitos e outros
não.

Primeiramente, tornou-se necessário ser feita uma análise referente ao


sintoma, para assim compreendermos sua estruturação e implicação na vida dos
sujeitos, ou seja, compreender o que é um sintoma do qual tanto se fala e que implica
em tanto sofrimento. Foi preciso esclarecer o conceito de sintoma para a partir disso
contextualizar sobre sintoma social, referindo-o com a relação com a cultura, o laço
social e a rede discursiva.

Constatamos que o termo sintoma denota à algo que se manifesta, que


aparece. Como afirmado por Freud (1915-1916) que atesta que o sintoma está ligado
diretamente a experiência do sujeito. Por isso entende-se a relação do sintoma com a
ansiedade, e também o motivo da diferença das manifestações da mesma, ou seja, é
necessário haver uma experiência que tenha desencadeado uma situação de conflito.

Afirmar que a ansiedade está se tornando um sintoma social exige também


uma reflexão. O sintoma social, aquele que está dominantemente presente na
sociedade e manifestando-se com frequência de forma discursiva, pode ser
relacionado com a ansiedade, pelo fato que na contemporaneidade a ansiedade está
produzindo um laço social.

Percebemos que a busca pela felicidade plena está fazendo com que os
sujeitos não desistam de seus sonhos. Mas para alcançar estes sonhos, na maioria
das vezes, há muito a batalhar, se submeter, ir além do esperado, considerando o fato
40

de que há muita competitividade no cenário atual da economia. Sendo necessário


levar em conta, o constante crescimento da era tecnológica, que em muitas vezes
ameaça a mão-de-obra em função da substituição por máquinas. Porém, há
consequências em função dessa pressão, e muitas vezes ocorre frustração, pelo fato
do indivíduo nunca alcançar a felicidade plena.

Sendo assim, a ansiedade surge quando o sujeito já não consegue mais


manter o equilíbrio frente a situações que lhe exigem mais, ou seja, ele sente-se
ameaçado frente a estas situações. A ameaça é em função de não haver nenhum
perigo real comprovado, como no caso do medo.

Verificamos que há muitas pessoas que apresentam sintomas de ansiedade


frente a determinadas situações que lhe exigem mais do que cotidianamente, um bom
exemplo disso, são provas, que exigem do indivíduo um grau de conhecimento a ser
avaliado. Essa ansiedade “passageira” pode ser descrita, como afirma Holmes (2001),
como ansiedade estado, ou seja, há um estado e não um traço da personalidade.
Entende-se também por ser um estado, por acometer a maioria das pessoas, portanto,
se torna normal e não patológico.

Percebe-se uma maior incidência da ansiedade na vida das crianças, pois


além dos adultos, elas também já possuem cobranças e compromissos. São através
dessas inúmeras exigências que as mesmas estão tornando-se adultos precoces.
Portanto, há uma forma de ansiedade antecipatória até mesmo no desenvolvimento
humano. Leahy (2012) apontou que estes sintomas de ansiedade em decorrência de
cobranças e compromissos se tornam mais perceptíveis em crianças que estão em
fase escolar, comprometendo a aprendizagem e o convívio social.

Através do presente trabalho torna-se notável que tudo precisa ser feito com
certa urgência, não há tempo para esperar e nem para perder, tudo precisa estar
funcionando, não podem haver faltas e nem erros. São esses os sentimentos que
estão dominado na contemporaneidade, fazendo com que muitos sujeitos sintam-se
impotentes frente à pressão que precisam dar conta. Esta impotência acaba dando
lugar para o surgimento da ansiedade e do sofrimento.

Dessa forma os sujeitos não estão mais conseguindo dar conta de tudo de
maneira saudável. Muitas vezes se obrigam a ultrapassar seus limites para
corresponder a um ideal de vida perfeita, em que devem manter uma suposta
41

realização pessoal e profissional de felicidade. Isso acaba fazendo com que muitos
indivíduos não saibam lidar com perdas e frustrações, sofrendo quando algum
infortúnio lhes ocorre.

Portanto, a ansiedade de forma avassaladora torna-se presente na vida dos


sujeitos, sendo que na maioria das vezes os mesmos nem percebem estar acometidos
por tal. Em muitos casos até convivem com a mesma de forma natural, julgando ser
assim a melhor maneira de se viver, porém, sabe-se através deste estudo, que essa
não é uma forma saudável de vida, pois o sofrimento e as consequências da mesma
podem comprometer a vida dos sujeitos acometidos pelo transtorno de ansiedade.
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