Vous êtes sur la page 1sur 13

Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5

SEPSE Choque Séptico É definido como um subgrupo da


Sepse onde as anormalidades metabólicas/celulares e
de circulação são tão profundas a ponto de gerar
aumento de mortalidade.
Sepse: disfunção orgânica potencialmente fatal
causada por uma resposta imune desregulada a uma
infecção. Os termos septicemia e sepse grave não são mais
utilizados.
Choque Séptico: sepse acompanhada por profundas
anormalidades circulatórias e celulares/metabólicas
capazes aumentar a mortalidade substancialmente.

CRITÉRIOS CLÍNICOS

Sepse: suspeita ou certeza de infecção e um aumento


agudo de ≥ 2 pontos no SOFA em resposta a uma
infecção (representando disfunção orgânica).

Choque Séptico: sepse + necessidade de


vasopressor para elevar a pressão arterial média
acima de 65 mmHg e lactato > 2 mmol/L (18 mg/dL)
após reanimação volêmica adequada.

SEPSE

Como era?

Sepse ERA definida como a presença de dois ou mais


pontos do escore da Síndrome da Resposta
Inflamatória Sistêmica (SIRS) associado a suspeitas de
infecção, ou seja, Sepse era a infecção associada com
uma resposta inflamatória sistêmica.

Como é?

Sepse É definida como uma disfunção orgânica


ameaçadora resultado de uma resposta inflamatória
desregulada à infecção.

CHOQUE SÉPTICO

Como era?

Choque Séptico ERA definido como Sepse + a


hipotensão refratária a reposição volêmica adequada.
Choque Séptico era um estado de falência circulatória
aguda caracterizado por hipotensão arterial
persistente inexplicada por outras causas. [4]

Como é?

1
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5

2
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5
· Temperatura > 38°C ou < 36°C;
· Frequência cardíaca > 90bpm;
· Frequência respiratória > 20ipm ou PaCO2<
32mmHg;
· Leucocitose (leucócitos>12 000céls/mm3) ou
leucopenia (leucócitos <4000 céls/mm3)

FALÊNCIA DE MÚLTIPLOS ÓRGÃOS

A Síndrome da Disfunção Múltipla de Órgãos é uma


síndrome complexa e um dos paradigmas atuais da
medicina moderna. Esta “síndroma do progresso”
surge como uma disfunção fisiológica progressiva e
potencialmente reversível de dois ou mais
Ao avaliar um paciente com suspeita de infecção fora órgãos/sistemas no doente crítico, constituindo a
da UTI, o médico deve procurar pelas variáveis do etapa final do espectro de gravidade da SRIS e da
qSOFA Score (GCS < 15, FR >= 22 e PAS =< 100). Sépsis.
Caso o paciente preencha 2 ou mais critérios do
qSOFA Score a árvore diagnóstica continua.
A SDMO primária surge como consequência de uma
Exames laboratoriais devem ser coletados para que
agressão bem definida, em que a disfunção de órgãos
o SOFA Score seja calculado. Um SOFA Score que
ocorre no início e pode ser directamente atribuída a
demonstre aumento de 2 ou mais pontos leva à
essa agressão. O exemplo clássico da SDMO primária
confirmação do diagnóstico de sepse.
é a disfunção de órgãos que surge como resultado
Se esse paciente tiver a necessidade de uso de imediato de um traumatismo com choque
vasopressor para manter uma pressão arterial média hipovolémico, contusão pulmonar e lesão renal
maior que 65 mmHg e se o nível de lactato for > 2 aguda devida a rabdomiólise, ou a coagulopatia
mmol/L mesmo após reanimação volêmica adequada devida a múltiplas transfusões. Na SDMO primária, a
ele se encaixa no diagnóstico de choque séptico. existência de uma resposta inflamatória exacerbada,
tanto no início, como na progressão da síndrome não
é tão evidente como na SDMO secundária.
SÍNDROME DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA
AGUDA
A SDMO secundária surge, não como uma resposta
O termo Síndrome da Resposta Inflamatória directa a uma agressão fisiológica com activação do
Sistêmica (SIRS) foi proposto para descrever a reação “processo inflamatório”, mas sim como uma
inflamatória desencadeada pelo organismo frente a consequência da resposta exacerbada do hospedeiro
qualquer agressão infecciosa ou não- a essa agressão, sendo identificada no contexto de
infecciosa. Infecção é um fenomeno microbiano uma SRIS. Na Síndrome de Resposta Inflamatória
caracterizado por resposta inflamatória à presença Sistémica, por sua vez, ocorre uma activação
de microrganismos ou à invasão dos tecidos generalizada da resposta inflamatória em órgãos
normalmente estéreis. Bacteremia é a presença de distantes da agressão inicial.
bactérias viáveis no sangue. Sugeriu-se eliminar o
termo septicemia pois, existem vários significados
diferentes na literatura médica.
EPIDEMIOLOGIA

A sepse vem adquirindo crescente importância


A SRIS consiste, de acordo com a Conferência de devido ao aumento de sua incidência, seja pela
Consenso da ACCP e da SCCM, de 1991, em uma melhoria no atendimento de emergência, fazendo
resposta inflamatória sistêmica a uma variedade de com que mais pacientes graves sobrevivam ao insulto
insultos clínicos graves de caráter infeccioso ou não, inicial; aumento da população idosa e do número de
manifestada por duas ou mais das seguintes pacientes imunossuprimidos, criando assim uma
condições: população suscetível para o desenvolvimento de
infecções graves.

3
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5
Além disso, o crescimento da resistência bacteriana entre outros. O foco infeccioso tem íntima relação
também contribui para esse aumento. Embora os com a gravidade do processo. Por exemplo, a
números reais não sejam conhecidos e devam estar letalidade associada à sepse de foco urinário é
subestimados, uma estimativa projeta cerca de 17 reconhecidamente menor do que a de outros
milhões de casos anualmente em todo o mundo. Um focos[14]. Tanto infecções de origem comunitária
estudo recente mostrou aumento significativo do como aquelas associadas à assistência à saúde
número de casos de sepse grave reportados nos podem evoluir para sepse, sepse grave ou choque.
Estados Unidos de 415 mil em 2003 para mais de 700 Mesmo germes amplamente sensíveis advindos da
mil casos reportados em 2007. Os custos associados comunidade podem levar a quadros graves. Nem
também aumentaram significativamente de 15,4 sempre é possível identificar o agente. As
bilhões de dólares para 24,3 bilhões em 2007. A hemoculturas são positivas em cerca de 30% dos
despeito disso, sua gravidade tem sido casos e em outros 30% a identificação é possível por
negligenciada. meio de culturas de outros sítios [15]. O perfil de
resistência do agente etiológico parece ser um fator
Parte desse crescimento pode ser decorrente relevante para determinar a má evolução. A
também do aumento de notificação, secundária a multirresistência bacteriana, amplamente presente
melhor percepção por parte dos profissionais de em nossas instituições, é uma das principais causas
saúde do problema. Sepse é a principal causa de
de aumento da incidência, embora sua relação direta
morte em unidades de terapia intensiva (UTIs) não
com maior letalidade não esteja clara. Pacientes com
cardiológicas, com elevadas taxas de letalidade.
germes multirresistentes muitas vezes trazem
Essas taxas variam, essencialmente, de acordo com consigo outros determinantes de mau prognóstico.
as características socioeconômicas do país. Em termos dos agentes etiológicos, tanto bactérias
Não se deve esquecer que estes dados podem estar Gramnegativas como Gram-positivas estão
subestimados, pois muitas vezes a causa da morte é implicadas. As infecções fúngicas, mormente por
atribuída à patologia de base e não propriamente à espécies de Candida, representam uma parcela
sepse. menor, embora crescente, dos casos onde o agente é
identificado. Não há dados recentes disponíveis
Os dados nacionais disponíveis apontam para uma sobre a nosologia mais prevalente no Brasil. No maior
elevada letalidade, mormente em hospitais públicos estudo brasileiro já publicado, contando com 75 UTIs,
vinculados ao Sistema Único de Saúde. Infelizmente, os bacilos Gram-negativos representaram a maior
o número de casos de sepse no Brasil não é parte dos casos onde o agente foi identificado,
conhecido. Um estudo de prevalência de um só dia seguidos dos cocos Gram-positivos, especificamente
em cerca de 230 UTIs brasileiras, aleatoriamente Staphylococcus aureus [16]. Os fungos contribuíram
selecionadas de forma a representar de maneira com 5% dos casos. Em outra casuística, foram
adequada o conjunto de UTI do País, aponta que 30% analisados pacientes com infecção, nem todos com
dos leitos de UTI do Brasil estão ocupados por sepse grave, internados em 90 UTIs brasileiras [17].
pacientes com sepse grave ou choque séptico. Nela, o isolamento do agente foi possível em metade
dos casos e os agentes mais encontrados foram
Esse estudo conduzido pelo Instituto Latino-
Gram-negativos (72%), seguidos de Gram-positivos
Americano de Sepse (ILAS) ainda não foi publicado,
(33,9%) e fungos (14,5%). São também elevados os
mas seus resultados iniciais são alarmantes, com
custos diretos relacionados ao tratamento destes
letalidade próxima dos 50%. Esses dois achados nos
pacientes e àqueles indiretos secundários ao capital
fazem perceber o custo elevado da sepse em nosso
humano. Existem vários estudos abordando custo em
país, tanto do ponto de vidas perdidas como do ponto
diferentes países [18-20]. A estimativa de custo de um
de vista econômico.
caso de sepse nos Estados Unidos da América é cerca
de 38.000 dólares e na Europa varia entre 26.000 a
32.000 dólares. A projeção destes números sugere
A despeito de a sepse poder estar relacionada a que entre 20% a 40% do custo total das UTIs resulta
qualquer foco infeccioso, as infecções mais de cuidados a pacientes com sepse. Esses gastos têm
comumente associadas à sua ocorrência são a íntima relação com gravidade e tempo de internação.
pneumonia, a infecção intra-abdominal e a No Brasil, o estudo COSTS mostrou dados
infecção urinária. Pneumonia, na maior parte dos semelhantes [5]. O gasto hospitalar com cuidados aos
levantamentos epidemiológicos, é o foco pacientes com sepse grave ou choque séptico foi de
responsável pela metade dos casos. São ainda U$ 10.595, com um gasto diário médio de U$ 1.028.
focos frequentes a infecção relacionada a cateteres, De forma interessante, o custo diário de pacientes
abcessos de partes moles, meningites, endocardites não sobreviventes foi persistentemente mais
4
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5
elevado, corroborando a ideia da associação entre quando olhamos os dados do estudo PROGRESS, que
gravidade e custos. Os fatores determinantes de má apontou para importante diferença de letalidade
evolução e óbito não são totalmente compreendidos. entre outros países do mundo e o Brasil [24]. Nessa
Sabe-se que, além do perfil do agente agressor, casuística global de 12.570 pacientes, a letalidade
características ligadas ao hospedeiro são hospitalar foi de 49,6%. No Brasil, a letalidade foi de
importantes. A presença de imunossupressão 67,4%, comparável apenas com a da Malásia (66,1%)
decorrente de neoplasias, infecção pelo vírus da e bem distante da letalidade de outros países
imunodeficiência adquirida ou uso de (Alemanha – 43,4%, Argentina – 56,6%, Canadá –
imunossupressores são fatores clássicos. Além disso, 50,4%, Índia – 39,0%, Estados Unidos – 42,9% e
características gené- ticas estão claramente Austrália 32.6%). A maior casuística disponível no
associadas com a modulação da resposta inflamatória Brasil, embora não publicada, é a do Instituto Latino-
e anti-inflamatória. Notoriamente, a precocidade e Americano de Sepse (ILAS), instituição envolvida no
adequação do tratamento estão relacionadas à treinamento de hospitais no processo de
evolução. Em relação à letalidade, há inúmeras implementação de protocolos gerenciados de sepse
publicações com dados epidemiológicos em [25]. O banco de dados do ILAS, construído ao longo
diversos cenários. Esses dados apontam para dos últimos 10 anos, tem hoje quase 30 mil pacientes.
diferenças importantes de letalidade entre países A despeito do viés inevitável, pois se tratam de
desenvolvidos e países com recursos limitados. instituições envolvidas em programas visando
Como já mencionado, recentemente foi publicada redução de mortalidade, os dados são bastante
casuística da Austrália e Nova Zelândia [14]. Em 2012, preocupantes. A letalidade global atualmente é de
a letalidade global da sepse era de 18%, a menor já 46%. Entretanto, o que mais chama a atenção é a
reportada em estudos com grandes populações. diferença significativa de letalidade entre instituições
Esses dados mostraram que a letalidade por sepse públicas (58,5%) e privadas (34,5%). Além disso,
pode ser tão baixa quanto 5% em pacientes com chama atenção a elevada letalidade entre pacientes
sepse de foco urinário e idade menor que 44 anos. provenientes dos serviços de urgência e emergência
Por outro lado, casuísticas infelizmente pequenas e da rede pública (58,7%) em comparação com os
pouco representativas mostram letalidade muito mais dados da rede privada (27,5%). Dados da literatura
elevada em países com recursos limitados [21]. apontam para uma menor letalidade nesse subgrupo
de pacientes (26,5%) em comparação com pacientes
Os dados brasileiros já publicados são um pouco que fazem sepse quando já internados em unidades
antigos. Temos três estudos multicêntricos. O regulares de internação (39,8%) ou em unidades de
primeiro, denominado BASES, foi conduzido em terapia intensiva (42,8%) [9]. Essa menor letalidade
cinco unidades de terapia intensiva de maio de 2001 se explica pela maior frequência de pacientes jovens,
a janeiro de 2002 [22]. Ele mostrou que a letalidade sem comorbidades e com infecções comunitárias em
por sepse grave e choque séptico foi de 47,3% e comparação com os demais cenários onde parte
52,2%, respectivamente. O estudo Sepse Brasil de importante das infecções é associada à assistência à
2003, abrangendo 75 UTIs de 17 estados brasileiros, saúde em pacientes portadores de outras doenças.
mostrou que 17% dos leitos de terapia intensiva são Há várias possíveis razões para essa mortalidade
ocupados por esses pacientes [16]. A taxa de elevada no Brasil e, particularmente, na rede pública.
letalidade para sepse grave e choque séptico foi de Não se pode afastar a possibilidade de que pelo
34,4% e 65,3%, respectivamente. O COSTS, com menos parte dessa mortalidade seja decorrente de
dados colhidos entre 2003 e 2004 em 21 UTIs um viés de seleção. Os estudos epidemiológicos
brasileiras, mostrou um dado de alta relevância: uma brasileiros são centrados nos pacientes que foram
letalidade maior em hospitais ligados ao Sistema efetivamente admitidos em UTIs. Dada à carência de
Único de Saúde (SUS) (49,1%) em relação àqueles do leitos de terapia intensiva, são admitidos nessas
Sistema de Saúde Suplementar (36.7%) [5]. unidades os pacientes mais graves. Entretanto, parte
Posteriormente, uma análise mais detalhada desses dos dados do ILAS se refere a pacientes de todo o
pacientes apontou algumas diferenças importantes hospital e a alta letalidade ali demonstrada não pode
entre a rede privada e a pública, sugerindo que o ser explicada por esse viés. Outras potenciais razões
atraso no diagnóstico e a baixa aderência aos são o desconhecimento entre os profissionais de
indicadores de tratamento são mais frequentes no saúde, principalmente médicos e enfermeiros, sobre
sistema público, o que explica, pelo menos os sinais de alerta de gravidade associados a quadros
parcialmente, a maior mortalidade [23]. No estudo infecciosos fazendo com que esses pacientes sejam
Sepse Brasil não foi feita avaliação em separado da reconhecidos tardiamente [26-27]. Além disso, a
letalidade em hospitais públicos ou privados [16]. despeito da existência de diretrizes claras de
Essa letalidade elevada no Brasil fica ainda mais clara tratamento [28], parte dos profissionais de saúde
5
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5
desconhece as medidas iniciais de tratamento, o que ocorrem fenômenos inflamatórios, que incluem
retarda sua aplicação. A dificuldade em transpor ativação de citocinas, produção de óxido nítrico,
diretrizes para cuidados efetivos beira leito é radicais livres de oxigênio e expressão de moléculas
bastante conhecida. Parte dessa limitação também se de adesão no endotélio. Há também alterações
deve à falta de infraestrutura e número inadequado importantes dos processos de coagulação e
de profissionais para atendimento. Isso é fibrinólise. Deve-se entender que todas essas ações
provavelmente mais significativo nos atendimentos têm o intuito fisiológico de combater a agressão
ligados ao SUS. No Brasil, o sistema privado de saúde infecciosa e restringir o agente ao local onde ele se
é geralmente considerado de melhor nível, encontra. Ao mesmo tempo, o organismo contra
principalmente no que tange a infraestrutura e regula essa resposta com desencadeamento de
qualidade de gestão. O sistema público apresenta resposta anti-inflamatória. O equilíbrio entre essas
déficits importantes em todos os níveis. Não estão duas respostas é fundamental para que o paciente se
bem definidas as razões pelas quais os pacientes em recupere [13]. O desequilíbrio entre essas duas
sepse têm letalidade maior nessa última categoria de forças, inflamatória e anti-inflamatória, é o
hospital. Faltam dados recentes no tocante às responsável pela geração de fenômenos que
diferenças no perfil demográfico e de gravidade dos culminam em disfunções orgânicas. Basicamente,
pacientes admitidos nesses hospitais, bem como no temos alterações celulares e circulatórias, tanto na
tratamento recebido por esses pacientes. Esse circulação sistêmica como na microcirculação. Entre
melhor entendimento pode embasar ações de saúde as alterações circulatórias, os pontos mais marcantes
voltadas para combate a essa doença, responsável são a vasodilatação e o aumento de permeabilidade
por número significativo de óbitos no nosso país. Por capilar, ambos contribuindo para a hipovolêmica
outro lado, o estudo SPREAD, recentemente relativa e hipotensão. Do ponto de vista da
conduzido pelo ILAS e ainda não publicado, avaliou microcirculação, temos heterogeneidade de fluxo
229 UTI selecionadas aleatoriamente em todo o Brasil. com redução de densidade capilar, trombose na
Os dados, baseados num dia de coleta, mostram que microcirculação e alterações reológicas das células
quase 30% dos leitos das UTI brasileiras estão sanguíneas. Todos esses fenômenos contribuem para
ocupados com pacientes em sepse grave ou choque. a redução da oferta tecidual de oxigênio e, por
Além disso, a mortalidade foi elevada (55.4%). consequência, para o desequilíbrio entre oferta e
Entretanto, esse estudo não apontou para diferenças consumo de oxigênio, com aumento de metabolismo
de mortalidade entre hospitais públicos e privados. anaeróbio e hiperlactatemia. Além disso, fazem parte
Essa inconsistência com os resultados obtidos no dos mecanismos geradores de disfunção os
banco de dados do ILAS pode ser justificada por fenômenos celulares de apoptose e hipoxemia
maior eficácia em termos de implementação de citopática, quando há dificuldade na utilização de
protocolos gerenciados em hospitais privados. oxigênio pelas mitocôndrias. Esses achados se
Infelizmente, o ônus da sepse não se restringe ao encontram esquematizados na figura 1.
período de internação hospitalar. Sabe-se que os
pacientes, quando sobreviventes da sepse,
desenvolvem complicações decorrentes do próprio
processo de saúde-doença, das medidas
terapêuticas necessárias ao tratamento da afecção,
bem como do prolongado período de internação
[29]. Além disso, a mortalidade pós-alta desses
pacientes é elevada, não sendo facilmente explicada
por eventuais doenças de base presentes antes do
evento séptico [30]. O entendimento das razões para
essa mortalidade ainda não é completo.

FISIOPATOLOGIA

Embora a discussão detalhada da fisiopatogenia da


sepse fuja do escopo desse texto, é importante
ressaltar alguns aspectos. O desencadeamento de QUADRO CLÍNICO
resposta do hospedeiro à presença de um agente
agressor infeccioso constitui um mecanismo básico As manifestações clínicas da sepse incluem aquelas
de defesa. Dentro do contexto dessa resposta, associadas ao foco infeccioso em questão. Entretanto,

6
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5
a discussão desses sinais e sintomas foge do escopo Como já mencionado, a redução da oferta de
desse texto. Como já foi detalhado anteriormente, a oxigênio e as alterações celulares levam à disfunção
sepse se caracteriza pela presença de sinais de orgânica. As principais disfunções são
resposta inflamatória. No caso de sepse grave, a esse cardiovascular, respiratória, neurológica, renal,
quadro somam-se os sinais de disfunção orgânica, hematológica, intestinal e endócrina.
com manifestações clínicas decorrentes dos órgãos
em disfunção (Quadro 3). O choque séptico é o de
mais pronto diagnóstico, pois a hipotensão é a) Disfunção cardiovascular
facilmente perceptível. Entretanto, o diagnóstico
nessa fase pode ser considerado tardio. Todos os A disfunção cardiovascular é a manifestação mais
esforços devem ser feitos no sentido de diagnosticar grave do quadro séptico. A hipotensão é secundária
a sepse em seus estágios iniciais, quando a a vasodilatação (redução da resistência vascular
intervenção tem maiores possibilidades de evitar o sistêmica) e diminuição nas pressões de enchimento
óbito. A taquicardia é geralmente reflexa à redução das câmaras cardíacas. Esse estado de hipovolemia
da resistência vascular, objetivando garantir o débito pode ser agravado pelas perdas secundárias ao
cardíaco. A taquipneia advém do aumento da extravasamento capilar característico dos quadros
produção de CO2 , do estímulo direto do centro sépticos. Contribuem para a hipovolemia o aumento
respiratório por citocinas ou, quando há insuficiência das perdas insensíveis em decorrência da febre ou
respiratória, surge em consequência da hipoxemia. taquipneia e a redução da ingestão de líquidos. O
Em algumas subpopulações específicas, entretanto, débito cardíaco pode estar aumentado na sepse, em
esses sinais não são frequentes e, por vezes, o valores absolutos, principalmente após reposição
diagnóstico de sepse só é dado de forma tardia, volêmica. Entretanto, apesar de normal, esse débito
quando já está presente a disfunção. São exemplos pode não estar adequado ao aumento da demanda
clássicos os pacientes imunossuprimidos ou idosos. metabólica induzida pela sepse. Além disso, pode
Por outro lado, o diagnóstico de sepse tem graves ocorrer redução de débito mesmo em termos
limitações decorrentes da excessiva sensibilidade, absolutos, quadro conhecido como depressão
pois sinais de resposta inflamatória podem estar miocárdia. Ela é induzida por mediadores
presentes em diversas outras situações clínicas. Tais inflamatórios e se caracteriza por redução da
sinais são comuns não só aos processos infecciosos, contratilidade e diminuição da fração de ejeção. Pode
mas também aqueles derivados de agressão ao ocorrer elevação discreta de troponina e alterações
organismo por outras causas, o que compromete sua eletrocardiográficas que simulam doença
especificidade. Como já mencionado, a coronariana isquêmica, além de arritmias. Em
diferenciação entre SRIS e sepse pode ser decorrência de todos esses fatores, há
relativamente fácil num paciente atendido no pronto- comprometimento da perfusão tecidual e redução da
socorro com história clássica de pneumonia. Porém, oferta tecidual de oxigênio. A redução do enchimento
constitui um grande desafio quando se trata de capilar, cianose de extremidades e livedo são
diagnosticar sepse num paciente politraumatizado, marcadores de hipoperfusão. Os tecidos passam a
em pós-operatório, grande queimado ou portador de produzir energia de forma anaeróbica e os níveis de
pancreatite. Dessa forma, a busca por esses sinais lactato se elevam. Hiperlactatemia é um claro sinal de
tem tanto problemas de sensibilidade como de gravidade na sepse e é utilizada como um dos
especificidade. Da falta de especificidade e critérios de disfunção orgânica. Além disso, níveis
sensibilidade dos critérios supracitados surgiu a acima de duas vezes o valor normal constituem sinal
necessidade de agregar-lhes biomarcadores. de alerta e requerem imediata atenção no sentido de
Infelizmente, nenhum exame laboratorial até o otimização hemodinâmica como será posteriormente
momento permite o diagnóstico apropriado de sepse abordado na sessão de tratamento.
ao contrário do que ocorre, por exemplo, com o
infarto agudo do miocárdio. As alterações
leucocitárias têm acurácia baixa para diagnosticar b) Disfunção respiratória
sepse em pacientes com SRIS por outras causas.
Apesar de também serem limitados na capacidade de Taquipneia, dispneia e comprometimento das trocas
fazer essa diferenciação, alguns achados clínicos e gasosas com hipoxemia caracterizam a lesão
laboratoriais podem ser úteis, como edema pulmonar na sepse. Ocorre redução na complacência
periférico ou balanço hídrico muito positivo, pulmonar, pela presença de colapso alveolar
sugerindo aumento de permeabilidade capilar, secundário ao aumento da permeabilidade vascular
níveis aumentados de lactato, níveis aumentados de e diminuição de surfactante. Consequentemente,
proteína C-reativa e procalcitonina e hiperglicemia. estes pacientes apresentam oxigenação inadequada,

7
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5
com redução na relação PaO2 /FiO2. Podemos definir orgânicas e não o sangramento. O coagulograma se
disfunção pulmonar de causa inflamatória quando mostra alterado, com alargamento do tempo de
esta relação encontra-se abaixo que 300, na ausência tromboplastina parcial e redução da atividade de
de comprometimento primariamente cardíaco. Os protrombina. É frequente queda abrupta da
novos conceitos denominam síndrome do contagem de plaquetas, com manutenção dos níveis
desconforto respiratório agudo (SDRA) leve quando ainda normais ou franca plaquetopenia, com clara
essa relação está entre 200 e 300, moderada quando correlação prognóstica. Esse comprometimento é
entre 100 e 200 e grave quando abaixo de 100 [31]. secundário tanto ao consumo exacerbado como à
Tais alterações acompanham-se à radiografia de redução da produção de plaquetas secundaria a
tórax, de opacificações compatíveis com infiltrado disfunção da medula e diminuição da produção de
intersticial bilateral. trombopoetina. Outra disfunção frequente no sistema
hematológico é a anemia, secundária a múltiplos
fatores. Ocorre perda sanguínea por sangramentos
evidentes, incluindo a “anemia iatrogênica”
decorrente da coleta seriada de amostras para
c) Disfunção neurológica exames, procedimentos invasivos, hemólise ou
mesmo perda oculta de sangue. Deficiências
A sepse pode cursar com graus variáveis de alteração
nutricionais prévias podem desempenhar um papel.
do nível de consciência, da confusão ao estupor ou
Além disso, existem fatores mais específicos como
coma. Delirium é bastante frequente, principalmente
alterações no metabolismo do ferro, redução na
em pacientes idosos. A polineuropatia e as miopatias
produção de eritropoietina, depressão medular pelas
são frequentes, embora não surjam nas fases mais
citocinas levando à diminuição na eritropoiese e
agudas, exigem atenção. A resposta inflamatória
aumento do sequestro esplênico.
parece ser o principal fator responsável pela
degeneração axonal difusa motora e sensitiva
característica da sepse. Ela se expressa por
hiporeflexia, fraqueza e atrofia muscular, dificultando f) Disfunção gastrointestinal
o desmame, prolongando o tempo de ventilação A disfunção gastrointestinal na sepse é bastante
mecânica e aumentando o risco de pneumonia e de frequente e, muitas vezes, negligenciada. Entre suas
novos episódios sépticos. Além disso, como já manifestações, destacase a colestase trans-
mencionado, o comprometimento cognitivo persiste infecciosa, secundária ao comprometimento da
mesmo após meses do evento séptico [29]. O mesmo excreção canalicular de bilirrubina, expressando-se
pode ocorrer com o comprometimento por elevação das enzimas canaliculares, fosfatase
neuromuscular, fazendo com que a reabilitação física alcalina e gamaglutamiltransferase. O hepátocito
dos pacientes seja demorada. geralmente consegue preservar suas demais
funções, de sorte que a insuficiência hepática franca
é rara, exceto em pacientes com comprometimento
d) Disfunção renal prévio da função hepática. A elevação de
transaminases é, portanto, discreta. Gastroparesia e
A fisiopatogenia da disfunção renal na sepse é
íleo adinâmico são frequentes, dificultando a
multifatorial, tanto prerenal por hipovolemia e
manutenção do suporte nutricional. A mucosa
hipotensão, como por lesão direta. Pode ocorrer
também pode sofrer lesões secundárias a isquemia,
necrose tubular aguda e lesão por apoptose celular.
manifestando-se como lesão aguda da mucosa ou
Caracteriza-se pela diminuição do débito urinário e
hemorragia. As alterações no sistema digestivo
pelo aumento dos níveis séricos de ureia e creatinina.
podem levar à intolerância à dieta, refluxo importante
e diarreia. Embora não claramente demonstrada, a
translocação de bactérias da luz intestinal para o
e) Disfunção hematológica sistema linfático ou para o sangue através dessa
mucosa lesada pode contribuir para o agravamento
Durante a tempestade inflamatória gerada por
do quadro séptico.
agressão, o endotélio se torna pró-coagulante,
contribuindo para a geração de trombose na
microcirculação, hipoperfusão e, consequentemente,
disfunção orgânica. Esse quadro denomina-se g) Disfunção endocrinológica
coagulação intravascular disseminada (CIVD). Na
O sistema endócrino também faz parte do quadro de
sepse, ao contrário de outras doenças, as principais
disfunção generalizada associada à sepse. Pode
manifestações clínicas da CIVD são as disfunções
8
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5
ocorrer disfunção tireoidiana, alterações de Medicine (ESCCM) e o International Sepsis Forum,
suprarrenal e distúrbios glicêmicos. A disfunção que conta desde seu início com o apoio do Instituto
adrenal pode contribuir para o quadro de Latino-Americano de Sepse [32]. Em 2004, foram
vasodilatação e hipotensão já característicos da elaboradas e publicadas diretrizes para tratamento
sepse. Distúrbios eletrolíticos como hiponatremia e da sepse [33], sendo as mesmas revistas em 2008 [34]
hipercalemia são mais dificilmente identificados, e 2012 [28]. A despeito de algumas controvérsias
visto serem mascarados pelos líquidos infundidos no existentes, essas medidas estão bem embasadas na
paciente no decorrer do tratamento. A reposição com literatura hoje disponível, constituindo importante
doses baixas de hidrocortisona pode ser necessária arma no combate à doença. A precocidade na
em pacientes com choque séptico refratário. A identificação e no diagnóstico da disfunção orgânica
hiperglicemia faz parte da resposta inflamatória, seja e, consequentemente, seu tratamento estão
ela associada ou não à sepse. Contribuem diretamente relacionados com o prognóstico do
sobremaneira para hiperglicemia, a resistência paciente. Uma vez diagnosticada a sepse grave ou o
periférica à insulina e o aumento da produção de choque séptico, condutas que visam à estabilização
glicose pelo fígado. do paciente são prioritárias e devem ser tomadas
imediatamente, dentro das primeiras horas. Uma vez
que inúmeros motivos podem atrasar sua adoção na
prática clínica, a Campanha recorreu ao Institute for
Healthcare Improvement para elaborar um programa
educacional no sentido de acelerar esse processo.
Foram então criados os pacotes (bundles) da sepse
grave. Conceitualmente, pacote se refere a um
conjunto de intervenções baseadas em evidências
científicas sólidas oriundas de estudos publicados na
literatura que, quando praticadas em conjunto,
apresentam maior eficácia do que quando aplicadas
individualmente. Inicialmente foram criados os
pacotes de seis e 24 horas. Os pacotes atuais, de três
e seis horas contêm sete intervenções diagnósticas e
terapêuticas selecionadas entre as diretrizes, criando
assim prioridades no tratamento inicial da doença
[28]. Eles enfatizam a importância do tratamento no
tempo adequado. Esses pacotes devem ser
implementados em bloco. O primeiro deles deve ser
implementado nas primeiras três horas. Após esta
Importância do diagnóstico e tratamento precoce primeira fase, no grupo de pacientes mais graves,
com choque séptico ou hiperlactatemia, devem ser
tomadas medidas adicionais em termos de
Face ao problema representado pela elevada ressuscitação hemodinâmica, ainda dentro das
incidência, altos custos e mortalidade, o principal primeiras seis horas. Os pacotes estão sumarizados
desafio dos prestadores de serviço à saúde é no quadro 4. Quadro 4 - Pacotes de três e de seis
implementar, de forma institucionalmente horas para manejo dos pacientes com sepse grave ou
gerenciada, programas que levem à beira do leito as choque séptico.
melhores evidências científicas disponíveis, visando
garantir a melhor prática assistencial. Na sepse, as
diretrizes para tratamento são bem estabelecidas, o
que teoricamente dá sustentação à implementação de
processos adequados de assistência. Entretanto,
paradoxalmente, diversas atitudes que melhoram a
sobrevida de pacientes sépticos não são
rotineiramente empregadas. Reconhecendo esta
situação, foi lançada em 2004 a Campanha de
Sobrevivência à Sepse (Surviving Sepsis Campaign,
SSC), uma iniciativa de 11 sociedades mundiais,
primariamente a Society of Critical Care Medicine
(SCCM), a European Society of Critical Care
9
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5

 A importância da coleta de lactato


 Coleta de culturas
A determinação do lactato sérico é obrigatória nos
casos suspeitos de sepse grave. Essa dosagem deve Juntamente com os exames iniciais em pacientes com
fazer parte dos exames coletados em pacientes com suspeita de sepse grave devem ser colhidas culturas.
infecção, mesmo sem clara disfunção orgânica, visto Como existe indicação de antimicrobianos de amplo
que níveis acima do normal por si são considerados espectro, é fundamental que todos os esforços sejam
como disfunção e definem a presença de sepse feitos para a identificação do agente causador, de
grave. A hiperlactemia na sepse é atribuída ao forma a permitir que o de-escalonamento dos
metabolismo anaeróbio secundário à má perfusão antimicrobianos seja feito de maneira adequada. A
tecidual. Apesar de haver outras possíveis razões coleta deve ser idealmente feita antes da
para sua elevação, como a redução da depuração administração da primeira dose de antimicrobianos,
hepática e hipoxemia citopática (Figura 2), é visando aumentar a sensibilidade. Em todos os
considerado o melhor marcador de hipoperfusão pacientes, independente do foco infeccioso suspeito,
disponível à beira leito. A lactatemia reflete a devem ser colhidas hemoculturas. Entre 30 a 50% dos
gravidade destes pacientes e tem valor prognóstico pacientes têm hemoculturas positivas,
bem estabelecido, principalmente se os níveis principalmente os acometidos de pneumonia e
persistirem elevados. Alguns estudos mostraram que infecção intra-abdominal. Devem ser colhidos pelo
pacientes cujos níveis se reduzem com as menos dois pares de hemoculturas de sítios
intervenções terapêuticas, ou seja, em quem há diferentes, com volume de sangue suficiente, de
clareamento do lactato, têm menor mortalidade [45]. sorte a garantir maior sensibilidade. Trata-se de
Níveis iguais ou superiores a 4.0 mM/L (36 mg/dL) na urgência, pois os antimicrobianos devem ser
fase inicial da sepse indicam a necessidade das administrados na primeira hora após o diagnóstico.
medidas terapêuticas de ressuscitação [28]. Nesse Embora a coleta durante o pico febril aumente a
caso, novas mensurações, a cada duas a três horas sensibilidade, não se deve aguardar o pico febril nem
estão indicadas para acompanhamento do seu manter intervalos de tempo entre as coletas. Além da
clareamento, como definido no pacote de 6 horas. coleta de hemoculturas, deve-se colher culturas de
Essas medidas devem visar à normalização do todos os sítios pertinentes ao foco suspeito de
lactato, como será posteriormente abordado. infecção, como espécimes de secreção do trato
respiratório, urocultura, secreções de abcessos ou
coleções, líquidos articulares, pontas de cateteres,
líquor etc. Embora seja importante a questão do
aumento da sensibilidade, não se deve aguardar a
coleta por tempo excessivo para o início da
antibioticoterapia. Além disso, as boas práticas em
relação aos espécimes colhidos devem ser
observadas. A antissepsia da pele e técnicas
adequadas de coleta para evitar contaminação, o
pronto envio e processamento das amostras devem
ser observados. 7. 3. Antibióticos e controle do foco

10
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5
Após obtenção de culturas apropriadas, deve-se pelo aumento da permeabilidade capilar como pela
administrar antibióticos de largo espectro, por via reposição volêmica. As doses nas primeiras 24 horas
intravenosa, o mais rapidamente possível e, não devem ser corrigidas para disfunção renal ou
idealmente, na 1ª hora após o diagnóstico. A redução hepática. Assim como a rápida administração de
da carga bacteriana ou fúngica é fundamental para o antimicrobianos, o controle do foco infeccioso, com
controle da resposta inflamatória. A Campanha de consequente redução da carga bacteriana, é
Sobrevivência à Sepse considera essa recomendação fundamental para que se interrompa a ativação da
como forte, tanto para pacientes com sepse grave cascata inflamatória. Apesar do termo controle de
como para aqueles com choque séptico. Nesse foco ser utilizado frequentemente como tratamento
sentido, é fundamental viabilizar em todos os setores cirúrgico, os procedimentos de remoção de
do hospital a rápida disponibilidade das principais cateteres, próteses e corpos estranhos também estão
drogas utilizadas. Sabe-se que o tratamento associados a este conceito. Faz-se necessário, diante
antimicrobiano inadequado ao agente em questão de indícios infecciosos, a realização do diagnóstico
está associado ao aumento da mortalidade [46], mas anatômico específico para verificar se há
existem evidências claras de que a demora no início necessidade emergencial de remoção do foco. São
da antibioticoterapia também aumenta o risco de exemplos de focos a serem abordados
óbito [47]. Assim sendo, não se deve aguardar a cirurgicamente os abscessos, infecção intra-
identificação do agente infeccioso para instituir a abdominal, empiemas torácicos, artrite séptica,
terapêutica. A antibioticoterapia inicial deve ser pielonefrite obstrutivas, colangites, necrose
ampla o suficiente para alcançar os prováveis pancreática infectada e mediastinite. Outros focos
agentes infecciosos, incluindo uma ou mais drogas requerem apenas a sua retirada como, por exemplo,
com atividade contra todos os patógenos prováveis, cateteres vasculares ou dispositivo contraceptivo
bactérias Gram-negativas, Gram-positivas e/ou intrauterino infectados. As principais recomendações
fungos. Deve-se entender claramente esse conceito. da Campanha de Sobrevivência à Sepse no tocante ao
Ser amplo não significa administrar os mais potentes diagnóstico do agente infeccioso e a
antimicrobianos a todos os casos, mas sim cobrir antibioticoterapia estão disponíveis nos quadros 5 e
amplamente os agentes potencialmente envolvidos. 6.
A escolha da terapia baseia-se na característica da
infecção (comunitária ou associada à assistência a
saúde), no sítio provável da infecção, no uso prévio
de antimicrobianos e na presença de fatores de risco
para infecções por germes multirresistentes ou
fungos. São ainda consideradas as condições clínicas
do paciente (doença de base, história de intolerância
a medicamentos etc.). Nesse sentido, é de
fundamental importância a definição, pelos grupos
de controle de infecção hospitalar, do esquema
antimicrobiano a ser utilizado empiricamente para
cada um dos principais focos de infeção, tanto para
aquelas de origem comunitária como as associadas à
assistência à saúde. Quando identificado o agente
infeccioso causal, ajusta-se o tratamento, estreitando
o espectro antimicrobiano. Essa estratégia visa
diminuir o desenvolvimento de infecções
multirresistentes, a toxicidade e os custos. Além do
espectro antimicrobiano específico, devem ser
considerados os aspectos de farmacocinética e
farmacodinâmica. O médico deve ter atenção para a
penetração dos antibióticos de acordo com o sitio de
infecção, a forma correta de diluição e tempo de
administração para otimização da concentração
inibitória mínima. Todos os pacientes devem receber
inicialmente doses máximas dos antimicrobianos
escolhidos. Isso é ainda mais relevante no caso de
antibióticos hidrofílicos, pois os pacientes sépticos
apresentam volume de distribuição aumentado tanto
11
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5
albumina, usualmente a 4%, pode ser utilizada como
parte dessa reposição inicial, pois há evidência,
embora fraca, de seu benefício nesse subgrupo de
pacientes [49]. Caso os pacientes permaneçam
hipotensos mesmo após a reposição volêmica inicial,
com pressão arterial média menor que 65 mmHg,
deve ser iniciado vasopressor. Não se deve aguardar
a passagem de acesso central para o seu início, haja
vista o efeito deletério da hipotensão no fluxo
circulatório. Assim, uma pressão arterial mínima
precisa ser rapidamente obtida, ainda que a infusão
seja em veia periférica, mesmo antes da reposição
volêmica ter sido finalizada. O paciente deve receber
vasopressor a despeito de ainda estar hipovolêmico
caso haja hipotensão ameaçadora a vida. Assim que
houver correção da hipotensão, deve-se iniciar a
retirada dos vasopressores. A droga de escolha
atualmente é a noradrenalina. O uso de dopamina em
doses beta ou alfa adrenérgicas não se mostrou
superior ao uso de noradrenalina, além de ter sido
associado. à maior incidência de arritmias. A droga
de segunda escolha é a adrenalina, em adição ou
 Tratamento inicial da hipoperfusão substituição a noradrenalina. A adrenalina tem como
Nos casos de sepse grave com hipotensão arterial ou efeito adicional o excelente inotropismo, necessário
hiperlactatemia significativa, com níveis duas vezes nos pacientes com depressão miocárdica mais grave
acima do valor de referência, a principal intervenção e que não toleram o uso de dobutamina. Em casos
terapêutica nas primeiras horas é a reposição selecionados, pode-se utilizar vasopressina. As
volêmica agressiva, visando restabelecer o fluxo principais recomendações da Campanha de
sanguíneo adequado e a oferta tecidual de oxigênio. Sobrevivência à Sepse no tocante à reposição
A hipovolemia na sepse é multifatorial, sendo volêmica e uso de vasopressores estão disponíveis
decorrente da venodilatação, do aumento da nos quadros 7 e 8.
permeabilidade capilar, da redução da ingestão
hídrica oral e aumento das perdas insensíveis por
febre e taquipneia, por exemplo. Em decorrência
disso, há redução do conteúdo intravascular e do
enchimento do ventrículo direito, com consequente
redução do débito cardíaco. Além disso, como já
mencionado, pode haver disfunção miocárdica com
redução da contratilidade ventricular. Assim, a
medida central para normalização da oferta de
oxigênio é a reposição volêmica. Estes pacientes
devem receber 30 mL/kg de cristaloides nas
primeiras horas de atendimento. Podem ser usados
tanto ringer lactato como soro fisiológico ou soluções
balanceadas. O uso excessivo de solução fisiológica,
pelo alto conteúdo de cloro, tem sido associado à
acidose hiperclorêmica. Já as soluções balanceadas,
a despeito de seu conteúdo eletrolítico mais
adequado, têm como principal desvantagem seu
custo excessivo em comparação as demais opções,
sem vantagens claramente definidas em termos de
desfechos clínicos até o presente momento. Com
relação aos coloides não sintéticos, a recomendação
atual é evitar seu uso nesses pacientes, pois o mesmo
parece estar associado ao aumento da incidência de
lesões renais e aumento de mortalidade [48]. Já a
12
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5

13

Vous aimerez peut-être aussi