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Alexandre Luiz Alves de Oliveira

DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE

DEVELOPMENT AND SUSTAINABILITY

Alexandre Luiz Alves de Oliveira 1

RESUMO: O artigo pretende trabalhar, observada a obra Desenvolvimento Sustentável: o


desafio do século XXI, de José Eli da Veiga, a problemática do desenvolvimento e
sustentabilidade. Longe de querer exaurir o tema, o texto procura tão somente despertar o
leitor para a questão da dificuldade de se estabelecer uma junção dos dois institutos, que numa
verificação apressada, se excluem. Em um primeiro momento são relatadas algumas
concepções do que vem a ser desenvolvimento e como pode ser auferido. Logo em seguida
são traçadas as idéias ou formulações do que seria sustentabilidade e como constatá-la. Diante
dessas duas premissas é feita uma breve junção entre dois termos, ou seja, uma tentativa de
relatar o que seria o desenvolvimento sustentável. Após essa tarefa são apresentadas algumas
legislações ambientais, pátrias e estrangeiras, que refletem a problemática do meio ambiente
equilibrado. Importante relatar que, além do supracitado livro, são trazidas contribuições de
outros autores e menções a algumas legislações no desejo de enriquecer o tema relatado.

Palavras-chave: Direito Ambiental; Desenvolvimento; Sustentabilidade; meio ambiente


equilibrado

ABSTRACT: The article intends to work from the book Sustainable Development: the
challenge of the century, José Eli da Veiga, the issue of development and sustainability. Far
from exhausting the subject, the text seeks only to awaken the reader to the issue of the
difficulty of establishing a junction of the two institutes, which a cursory check, are excluded.
At first reports some conceptions of what is to be development and how it can be earned.
Shortly thereafter are drawn from the ideas or formulations that would be sustainable and how
it witnessed this. Given these two assumptions is a brief joint between two terms, ie an
attempt to report what would be sustainable development. After this task are some
environmental laws, and foreign homelands, which reflect the problem of balanced
environment. Important to report that in addition to the above book are theoretical
contributions of other authors and references to some laws in the desire to enrich the subject
reported.

Keywords: Environmental Law, Development, Sustainability, balanced environment

1 INTRODUÇÃO

1
Alexandre Luiz Alves de Oliveira é advogado, especialista em Temas Filosóficos pela UFMG e mestrando em
Direito Ambiental e Sustentabilidade pela ESDHC.

Revista Fonte Universitária, Juatuba - MG, v. 3, n. 4, jan./jul. 2012


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Questão que vem chamando a atenção de todos, principalmente nas últimas décadas é
o problema ambiental. Se no início do século passado a preocupação com o meio ambiente
era algo praticamente circunscrito a uns poucos intelectuais, hoje, até mesmo nas classes
menos abastadas, o tema surge de forma recorrente.
A encruzilhada do tempo presente se encontra no choque de duas aspirações humanas
atuais: crescimento/desenvolvimento e preservação ambiental. É possível a consecução destes
dois fins? Um exclui o outro? São compatíveis? Em qual medida? Como promover o tão
decantado desenvolvimento sustentável que, em tese, seria a fusão dos dois?
Desta maneira, este artigo procura conceituar e trabalhar o desenvolvimento
sustentável tendo como ponto de referência a obra Desenvolvimento Sustentável: o desafio do
século XXI de José Eli da Veiga. Apesar de ter como diretriz o livro supracitado serão,
também, incluídas contribuições de outros autores para procurar explicitar e acrescentar a
discussão sobre tema.
Destarte procura-se primeiramente conceituar o que vem a ser desenvolvimento e suas
formas de medição. Em um momento posterior, verifica-se o que pode ser entendido como
sustentabilidade e, também suas formas de aferição. Por fim, é necessário reunir os dois
conceitos e apresentar, mesmo que de forma inconclusa, uma ideia ou uma noção do que
poderia ser entendido como desenvolvimento sustentável.
Em outro momento serão feitas algumas breves considerações sobre como é
disciplinada a questão ambiental, tanto na ordem externa como na interna, ou seja, como o
ordenamento jurídico “encara” a questão de um meio ambiente sustentável ou equilibrado.

2 DESENVOLVIMENTO

Pode-se observar que existem três perspectivas para a conceituação do que seria
desenvolvimento. A primeira identifica desenvolvimento com crescimento econômico.
Desenvolvimento e crescimento econômico seriam termos que representariam o mesmo
fenômeno e poderiam ser mensurados, simplesmente, por indicadores como o Produto Interno
Bruto per capita. A segunda linha de pensamento visualiza o desenvolvimento como mera
quimera, ilusão. Seria artifício utilizado como meio de justificação para uma exploração,
Impossível de ser atingido por todas as nações. Por fim, superando esta dicotomia
simplória, a terceira corrente procura demonstrar que o desenvolvimento não pode ser
reduzido ao simples crescimento da economia e, também, não é algo impossível. Esse

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caminho do meio que amplia o conceito de desenvolvimento é bem mais complicado,


entretanto traz novos indicadores que destacam outros aspectos que não meramente
econômicos.
Até poucas décadas atrás não havia necessidade de fazer distinção entre
desenvolvimento e crescimento econômico. A identificação entre os dois institutos era
precisa, bastava verificar que as nações ricas eram as desenvolvidas e as pobres as
subdesenvolvidas. A partir de 1950, com o forte crescimento econômico dos países em fase
de industrialização, verificou-se que crescimento econômico e desenvolvimento não
caminhavam juntos. Países que tiveram grande crescimento de sua economia não
proporcionaram simultaneamente acesso das populações mais carentes a itens básicos como
saúde, educação, moradia, etc. Diante de evidência tão incontestável não seria mais possível,
simplesmente, fundir os dois conceitos. Era necessário um novo índice ou uma nova maneira
para verificar o desenvolvimento. A renda per capita não mais responderia as complexidades
inerentes ao desenvolvimento. Surge o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) em 1990
procurando ampliar os indicadores para aferição.

3 DESENVOLVIMENTO/CRESCIMENTO ECONÔMICO/ILUSÃO

Giovanni Arrighi, economista e sociólogo italiano, através da publicação de A Ilusão


do Desenvolvimento, exerceu grande influência na divulgação da ideia de desenvolvimento
como quimera. Existiriam três grupos de nações. Um núcleo orgânico formado pelos países
ricos, uma grande periferia formada por países pobres e uma semiperiferia constituída por
nações “emergentes”. A questão central para o autor é que estes grupos seriam estáticos, ou
seja, era muito improvável que países que pertencessem à categoria de “baixo” pudessem
ascender. Seriam raros os casos onde nações quebrassem as amarras do mercado e mudassem
de categoria. Observa-se claramente a identificação de desenvolvimento com acúmulo de
riquezas monetárias e seu uso para classificar e mensurar as nações. Como bem observa José
Eli da Veiga, o pensador italiano estaria coberto de razão se desenvolvimento fosse somente
isso, mas tal constatação não observa outras diretrizes importantes como alfabetização,
expectativa de vida, mortalidade infantil, distribuição de renda, moradia, etc.
Outro importante pensador que, também, visualiza o desenvolvimento como mera
ilusão foi o diplomata peruano Oswaldo de Rivero. Destaca, em suas ideias, que o
subdesenvolvimento dos países pobres não pode ser evitado. Estes países são caracterizados

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não só por uma pobreza econômica, mas, principalmente, por uma pobreza científico-
tecnológica. E quando se fundem a miséria tecnológico-científica com a explosão
demográfica surge o subdesenvolvimento insuperável. Para este diplomata peruano é
necessário superar o mito do desenvolvimento e realizar um verdadeiro “Pacto de
Sobrevivência”. Este pacto consistiria num controle populacional, investimento maciço em
tecnologia e, principalmente, preservação de recursos hídricos, energéticos e alimentares. Esta
deveria ser a verdadeira e imediata preocupação dos países pobres e, não um padrão de vida
semelhante aos países do “norte”.

4 DESENVOLVIMENTO/NOVAS PERSPECTIVAS

Uma mudança de perspectiva da ideia de desenvolvimento foi trazida por Celso


Furtado. Furtado observou que o desenvolvimento não poderia ser traduzido, apenas, pelo
crescimento econômico. Para ele existem duas perspectivas sobre o processo da invenção
cultural: uma ligada à técnica e outra vinculada aos valores. Como os últimos duzentos anos
foram destinados ao aprimoramento da técnica, buscando um aumento de produtividade,
natural tornou-se identificar apenas este prisma na valoração do desenvolvimento. A
racionalidade substantiva foi deixada em segundo plano ou, até mesmo, esquecida. O
desenvolvimento seria algo mais amplo, não poderia mais ser resumido a um apêndice da
elevação da economia e da técnica. Fundem-se novos valores...
Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1998, trouxe outra
concepção do que seria desenvolvimento. Identificou o instituto como um comprometimento
de ampliação das liberdades individuais. O crescimento econômico é um meio importante
para tal fim, entretanto, não é o único. A promoção da educação, dos direitos civis, da saúde,
ou seja, de todos os instrumentos que possibilitem a expansão da liberdade devem ser
buscados. O que o desenvolvimento promove é o “crescimento’ do ser humano sobres todas
as suas perspectivas. Com tal ideal, Amartya Sen destaca que o que deve ser almejado é a
eliminação de tudo que vem a ser um obstáculo à expansão da liberdade. O que tem que ser
combatido são “as fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania, carência de
oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços públicos e
intolerância ou interferência de Estados repressivos.” (VEIGA, 2010, p.34).
Uma importante observação realizada por Sen foi à constatação que a simples
acumulação de riquezas não gera necessariamente um amplo desenvolvimento em todas as

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perspectivas. Cite-se o exemplo dos negros americanos de Nova Iorque, que apesar de terem
rendas maiores, tem uma expectativa de vida menor dos que os homens da China e do Kerala,
que são bem mais pobres. O pensador indiano percebe que existem dois “modos” de
promoção do desenvolvimento: um realizado com o crescimento das riquezas e outro
conduzido por políticas públicas. Estes dois processos possibilitam o desenvolvimento dos
países, mas o que Amartya Sen procura destacar é que não é necessário esperar que um país
seja rico para que medidas redutoras do subdesenvolvimento sejam implantadas. Países, como
acima citado, podem ter índices melhores mesmo não tendo uma alta quantidade de riqueza.
Para isso, o segundo processo, ou seja, o custeio público exerce papel fundamental.
Pensadora que também deve ser citada é Jane Jacobs. Em suas constatações
percebemos o distanciamento da ideia de desenvolvimento do aspecto mecanicista para uma
perspectiva mais ligada aos processos evolucionistas. O desenvolvimento econômico, assim
como todos os outros, surge de um processo natural: Diferenciações que surgem de
generalidades. Com o tempo estas diferenciações se tornam generalidades e, assim, temos a
continuidade do processo. Deve-se, ainda, fazer uma observação que não é um caminho linear
existindo o que se pode chamar de um co-desenvolvimento. Tal constatação é importante,
pois destaca que o desenvolvimento é um processo e não um simples acúmulo de riquezas. O
que deve ser promovido são as liberdades, as faculdades de criação, as iniciativas e as
diligências. Servem de exemplo os países dotados de imensas riquezas materiais e, entretanto,
“pobres”. A falta dessa visão faz crer que o simples aumento do PNB produz o
desenvolvimento do país.
Jane Jacobs trouxe, também, uma analogia interessante. Compara o crescimento e
desenvolvimento de uma sociedade com o uso ou não uso da energia por um ecossistema.
Relata que em ecossistemas simples, como um deserto, a energia do sol recebida, apesar de
abundante é pouco aproveitada. A energia recebida é liberada sem deixar vestígios. Em
ecossistemas complexos, como as florestas, o fluxo da energia é utilizado por uma infinidade
de agentes, sendo transformada e recombinada antes de ser liberado. A energia percorre todo
sistema deixando diversas “contribuições”. Com as comunidades humanas o fenômeno se
repetiria. Para o desenvolvimento e a expansão de uma localidade, necessário é um melhor
aproveitamento da “energia” recebida. É através do trabalho humano, da diversidade de
atividades, do aprimoramento técnico, ou seja, na transformação em uma comunidade
complexa que a “energia” recebida é melhor aproveitada. Como nos desertos, as
comunidades simples, mesmo sendo grandes, tendem a ser pobres pelo pouco aproveitamento

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do fluxo de energia recebido. A energia recebida é dispersa facilmente, pouco resultado é


produzido. Como concluiu Jacobs, a diversidade é a raiz do desenvolvimento e do
crescimento econômico.
Por fim, dentre estas várias ideias apresentadas, José Eli da Veiga, através dos
relatórios anuais da PNUD, apresenta uma ideia do que deveria ser entendido sobre
desenvolvimento:

O desenvolvimento tem a ver, primeiro e acima de tudo, com a possibilidade de as


pessoas viverem o tipo de vida que escolheram, e com a provisão dos instrumentos e
das oportunidades para fazerem as suas escolhas. E, ultimamente, o Relatório do
Desenvolvimento Humano tem insistido que essa é uma ideia tão política quanto
econômica. Vai desde a proteção dos direitos humanos até o aprofundamento da
democracia.(VEIGA, 2010, p. 81).

5 A MEDIÇÃO DO DESENVOLVIMENTO

A grande questão para aferição ou medição do desenvolvimento e, consequentemente,


para comparações posteriores é um indicador sintético que represente a amplitude do termo
desenvolvimento. Se desenvolvimento fosse sinônimo apenas de desenvolvimento econômico
o problema seria bastante simples. Bastaria somente comparar a renda per capita ano a ano.
Foi observado, porém que desenvolvimento não se traduz, apenas, pelo viés econômico.
Várias perspectivas devem ser verificadas não se permitindo uma análise tão simplória.
Assim, devem ser verificados como elementos básicos do desenvolvimento quatro fatores:
longevidade, escolaridade, acesso a bens mínimos para uma vida digna e possibilidade de
participação na vida da comunidade. Diante de tal constatação, várias tentativas de encontrar
um indicador sintético foram tentadas. José Eli da Veiga destaca algumas que serão
apresentadas a seguir.
A primeira medida utilizada para aferição do desenvolvimento foi o PIB per capita.
Era uma simples divisão da “riqueza” produzida pelo contingente populacional. Pela sua
fragilidade e pela já mencionada amplitude do termo desenvolvimento já pode ser
considerado um índice plenamente superado. Assim, buscando uma complementação que
incluísse outros aspectos, surge o IDH. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é
constituído da média aritmética de outros três índices que verificam a renda, a longevidade e a
escolaridade.

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O problema do IDH é que este índice pode desvirtuar ou não apresentar se uma
comunidade é ou não desenvolvida. José Eli da Veiga apresenta um exemplo muito
elucidativo: Um município muito rico e que apresenta péssimas condições de vida e
escolaridade pode apresentar um IDH maior que outro, que apesar de não gerar tanta riqueza,
apresenta melhores indicadores de longevidade e escolaridade. O IDH como derivado dessa
média aritmética pode apresentar estas distorções. Outro exemplo possível seria o de um país
que detivesse enormes reservas de petróleo, ou seja, um PIB alto e péssimas condições sociais
derivadas da concentração de renda. Este país poderia atingir um IDH mais alto do que outro
mais pobre, todavia com bons índices de sociais.
Desejando solucionar esta disparidade do IDH, o Estado de São Paulo procurou
aperfeiçoar seus indicadores de desenvolvimento. Seria um índice de terceira geração
denominado Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS). Apesar de tal nome trata-se
mais de uma tipologia dos municípios paulistas. Em vez do ranqueamento promovido pelo
IDH, observando as médias aritméticas, os municípios são classificados em grupos de acordo
com suas características de renda, longevidade e escolaridade. O primeiro grupo são o dos
municípios desenvolvidos. Estes possuem bons índices nas três dimensões. Os que têm muita
de riqueza e sofríveis indicadores nas outras duas dimensões formariam o segundo grupo:
atrasados apesar de ricos e, assim injustos. O terceiro grupo é constituído pela perspectiva
oposta, ou seja, possuem bons indicadores sociais apesar de não serem ricos. São os
municípios saudáveis. E, por fim, os municípios que não possuem bons indicadores seriam os
de relativo subdesenvolvimento. Essa classificação em grupos procura solucionar as
distorções da simples média promovida pelo IDH e, de tal maneira, promover uma melhor
classificação e percepção do grau de desenvolvimento.
Na busca de uma melhor clarificação da medição do desenvolvimento surgem os
índices de quarta geração. Da Veiga menciona dois que merecem atenção: o DNA-Brasil e o
IDS (Índice de Desenvolvimento Social). O DNA-Brasil não é propriamente um índice. É
uma compilação de 24 indicadores referente a sete dimensões. Estas seriam: bem-estar
econômico, competitividade econômica, condições socioambientais, educação, saúde,
proteção social básica e coesão social. Reunidos estes dados, eles configurariam os ângulos de
uma estrela numa comparação com os dados espanhóis. A comparação com a Espanha não foi
aleatória. Este país apresenta grande disponibilidade de informações que permitem um
cotejamento e, ademais, atingiu um alto nível de desenvolvimento em pequeno tempo. Desta
forma, quanto mais próximos dos índices espanhóis, mais próximo à figura geométrica

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representativa do Brasil estaria da Espanha. Já o IDS é um índice que se caracteriza por


analisar cinco componentes de igual valor de mensuração: saúde, educação, trabalho,
rendimento e habitação.
O que deve ser ressaltado nessas mudanças de gerações entre os índices que procuram
quantificar o desenvolvimento é a tentativa de incluir mais componentes que visam melhor
caracterizar o desenvolvimento. São anexados índices referentes à desigualdade, à habitação,
à proteção ambiental, etc., contudo, como já bem observado por Amartya Sen, nenhum índice
resumirá com perfeição o desenvolvimento. Desta forma, a principal função dos índices deve
ser a orientação para uma pesquisa mais pormenorizada da situação. É como bem sintetiza
José Eli da Veiga: “Os vários índices sintéticos apresentados poderão ser muito úteis se
servirem apenas de isca para cada uma das dimensões do desenvolvimento seja examinada
sem paralelo, de forma que as principais discrepâncias sejam enfatizadas.” (VEIGA, 2010, p.
105)

6 SUSTENTABILIDADE

De maneira análoga a ideia de desenvolvimento, José Eli da Veiga menciona que a


sustentabilidade pode ser encarada por três primas. Duas proposições antagônicas sobre a
possibilidade de os meios tecnológicos e científicos possibilitarem a comunhão entre
crescimento e conservação ambiental e um “caminho do meio”. Os defensores da primeira
corrente acreditam que não existe nenhuma incompatibilidade entre crescimento econômico e
preservação do meio ambiente e, ao contrário, defendem que depois de certo patamar de renda
per capita a poluição tende a diminuir. Os pensadores do lado oposto, por sua vez, relatam
justamente o contrário sobre a falácia da possibilidade deste crescimento e a conservação
ambiental. E, por fim, alguns autores propõem uma nova perspectiva não tão otimista sobre a
evolução tecnológica, entretanto não tão céticas também.
Representantes da hipótese panglossiana, Grossman e Krueger foram os que
expuseram a ideia de que a partir de uma renda per capita de mais ou menos oito mil dólares
o crescimento econômico, em vez de prejudicar o meio ambiente, iria ajudar a preservá-lo.
Alegam que no início do crescimento econômico de uma comunidade, realmente haveria
poluição, entretanto, quando o patamar de renda se elevasse a preservação ambiental
encontraria alicerce e seria promovida. O crescimento das riquezas permite o aperfeiçoamento
tecnológico e provoca uma demanda, por parte das pessoas instruídas, de proteção ambiental.

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De tal forma, diante do avanço científico e econômico, o crescimento em nada teria de


incompatível com a promoção da natureza.
Importante contribuição para o debate sobre a sustentabilidade foi trazida por Nicholas
Georgescu-Roegen. Sua principal afirmação e que causou grande celeuma a época (década de
70) foi defender que a economia seria absorvida pela ecologia. Georgescu percebeu que a
economia não poderia ser traduzida por um processo mecânico e que estaria adstrita a leis da
termodinâmica. A segunda lei da termodinâmica limitaria a produtividade humana, ou seja, os
recursos disponíveis são finitos. Sua explicação sobre a Lei da Entropia merece ser
reproduzia:

No limite, trata-se de algo relativamente simples: todas as formas de energia são


gradualmente transformadas em calor, sendo que o calor acaba se tornando algo tão
difuso que o homem não pode mais utilizá-lo. Para ser utilizável, a energia precisa
ser repartida de forma desigual. Energia completamente dissipada não é mais
utilizável. A ilustração clássica evoca a grande quantidade de calor dissipada na
água dos mares que nenhum navio pode utilizar. (GEORGESCU-ROEGEN, 1973,
p. 39)

De tal forma, Georgescu relata que não é uma questão de se impor uma inexistência de
crescimento ou do seu decrescimento. O que ele destaca é que dentro dessas perspectivas e
conclusões, a espécie humana não apresenta compromisso com as gerações vindouras. Será
uma vida excitante, porém breve. Diante dessa constatação, Georgescu propõe em seu
programa bioeconômico mínimo oito pontos para uma tentativa de sustentabilidade:

Primeiro, proibir totalmente não somente a própria guerra, mas a produção de todos
os instrumentos de guerra. Segundo, ajudar os países subdesenvolvidos a ascender,
com a maior rapidez possível, a uma existência digna de ser vivida, mas em nada
luxuosa. Terceiro, diminuir progressivamente a população até um nível no qual uma
agricultura orgânica bastasse à sua conveniente nutrição. Quarto, evitar todo e
qualquer desperdício de energia – enquanto se espera que se viabilize a utilização
direta da energia solar, ou que se consiga controlar a fusão termonuclear. Quinto,
curar a sede mórbida por gadgets extravagantes para que os fabricantes parem de
produzir esse tipo de bens. Sexto, acabar também com essa doença do espírito
humano que é a moda, para que os produtores se concentrem na durabilidade.
Sétimo, as mercadorias mais duráveis devem passar a ser concebidas para que sejam
conservadas. Oitavo, reduzir o tempo de trabalho e redescobrir a importância do
lazer para uma existência digna. (VEIGA, 2010, p.162)

Defendendo posição contrária ao fatalismo, merece destaque o ganhador do prêmio


Nobel de economia de 1987, Robert M. Solow. Solow é um entusiasta do desenvolvimento
científico e tecnológico da humanidade. Prescreve que o processo produtivo é composto de
três elementos básicos: trabalho humano, capital produzido e recursos naturais. O que pode

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DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE

ocorrer no futuro, no máximo, são entraves temporários proporcionados pela ausência de


algum recurso natural. Em tal caso, os outros dois elementos realizarão uma substituição do
elemento natural findo. A expansão será sempre proporcionada pelas invenções. O
crescimento não é limitado pela finitude dos recursos naturais frente à infinitude das
inovações. Diante destas constatações, a sustentabilidade é mera capacidade de produção e
reprodução, mesmo que somente alicerçada no trabalho humano e capital produzido. Se a
produção funciona mesmo findo aquele recurso natural, ainda sim haveria sustentabilidade.
Seria, como foi batizada, uma sustentabilidade fraca, baseada apenas no seu viés econômico.
Outros economistas, não compactuando com esse exacerbado otimismo de Solow,
apregoam a denominada sustentabilidade forte. Não acreditam nessa plena substituição dos
recursos naturais pelo trabalho e capital humano. Visualizam a responsabilidade entre as
gerações justamente nesses recursos que não podem ser renovados e não tão somente na
manutenção da produção de bens. Prescrevem uma valorização pelo mercado desses recursos
escassos, ou seja, uma administração responsável e comprometida com as gerações futuras.
Estes economistas neoclássicos propõem, assim, uma precificação dos recursos naturais e uma
negociação destes “bens” dentro de um sistema de mercado. Além de observar o valor
econômico propriamente dito do recurso (valor de troca e uso), deveria entrar no valor total
um novo componente chamado de custo-benefício da alteração do bem-estar. Esse adicional
seria auferido pela sua disposição de pagar por esse ganho de bem-estar ou pela sua
disposição em aceitar algo em compensação em caso de perda.
José Eli da Veiga critica esta proposição neoclássica com uma afirmação que merece
destaque:

O problema é que os adultos também não acreditam em estórias da carochinha.


Sabem que os preços são determinados simultaneamente pela utilidade e pelo custo
de produção... Só podem ter valor econômico e, portanto, preço, bens que sejam
produtíveis e apropriáveis. (VEIGA, 2010, p.128)

E complementa:

A noção usual de sistema econômico consolidou-se justamente pelo crescente


distanciamento da natureza. Por isso, toda tentativa de incorporar variáveis
ambientais nas contabilidades esbarra em obstáculos conceituais e práticos que
acabam tornando os resultados muito suspeitos. (VEIGA, 2010, p. 129)

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Uma concepção interessante sobre desenvolvimento sustentável é a apresentada por


Herman E. Daly. O ideal da sustentabilidade somente teria chance de obter êxito se a
economia mudasse de paradigma. Em vez de uma economia do crescimento ele propõe uma
economia estável. Estável, no entanto, não inerte. Em vez de crescimento quantitativo,
qualitativo. Claro que tal proposição, apenas, seria possível em comunidades mais
desenvolvidas onde o nível econômico poderia dar suporte aos custos ambientais. Tal
processo iniciaria nos países do “norte” e no futuro caminharia para os países mais pobres na
medida da sua elevação econômica. Daly relata quatro políticas para a consecução desse
objetivo:

a) Nas contabilidades nacionais, o capital natural não renovável não mais seria
considerado renda. Pertenceria ao ativo destes países e sua utilização seria um
verdadeiro saque. Assim, supostos balanços superavitários deixariam de existir;
b) Afastar a base dos impostos da renda e do trabalho e elevar os tributos dos recursos
naturais. Além de retirar os subsídios explícitos da utilização da água, energia,
agricultura, pecuária, mineração, etc. aumentar o custo das mercadorias
desestimulando o consumo exacerbado;
c) Maximizar a produtividade dos capitais naturais e investir no aumento de sua oferta no
futuro;
d) Promover uma economia voltada ao consumo interno evitando o comércio exterior. A
globalização provoca imensas competições entre os países o que, afinal, abaixa o
preço dos produtos e dos salários.

Cristiane Derani, em seu livro Direito Ambiental Econômico, faz a mesma ressalva de
Daly. Relata que este paradigma da economia capitalista, que apregoa a necessidade sempre
presente do crescimento quantitativo, não se coaduna com uma ideia de preservação
ambiental. A lógica capitalista insiste num aumento constante dos lucros para consecução de
mais lucros futuros. Nos dizeres da autora:

Crescimento zero, como é apregoado por muitos ideólogos da proteção do meio


ambiente, é totalmente incoerente com a lógica apresentada. A simples paralisação
do crescimento implica a queda do valor do capital. Uma renúncia ao crescimento
conduziria, pela manutenção da taxa de lucro, a uma queda do capital. [...] O ser do
dinheiro é sua multiplicação. (DERANI, 2008, p. 85)

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DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE

Assim para a existência de uma sustentabilidade ambiental necessário é uma renúncia


a este capitalismo selvagem que impõe a perspectiva do lucro sobre todas as demais.
Uma crítica que não pode ser ignorada é que o conceito de sustentabilidade é
impreciso. O termo passou a ser utilizado nas mais diversas acepções inclusive por correntes
ideológicas antagônicas. Guardando semelhança com a ideia geral de desenvolvimento no
passado, quando se fala em sustentabilidade verifica-se sempre um forte viés econômico.
Destarte nota-se sempre um ideal de sustentabilidade vinculado com a economia neoclássica
impregnado por seus ideais e aspirações. A economia neoclássica que, para muitos, já reflete a
teoria econômica presente, vem tentando também traçar as delimitações da sustentabilidade. E
a grande questão que se impõe é que esta corrente de pensamento baseada no utilitarismo e no
individualismo, ou seja, na maximização dos lucros individuais, tem uma forte contradição
com o ideal de solidariedade com as gerações futuras. É dentro de uma perspectiva mais
abrangente que deve ser encarada a sustentabilidade. Limitar ao aspecto econômico e encarar
com miopia uma situação que detém fortes determinações éticas.
Assim a ideia de sustentabilidade não pode perder de vista, principalmente, a
responsabilidade com as presentes gerações, mas sem olvidar com as futuras. Nítido é que os
recursos naturais são limitados diante da sempre crescente ampliação das necessidades
humanas marcadas pelo consumismo. É essa solidariedade entre as gerações, não a próxima,
mas as que estão bem distantes que caracterizam a necessidade de adoção de medidas
sustentáveis. Nesta necessidade encontra-se o problema que a ciência econômica não pode
explicar. Seu objeto é a análise de administrações de recursos em uma única geração e no
máximo de algumas mais próximas. Não tem compromisso a economia com o que irá ocorrer
daqui a 400, 600, mil anos... Assim na busca da consecução desse objetivo, José Eli da Veiga,
menciona um conjunto de transições propostos por Gell-Mann para uma sustentabilidade que
merecem ser citados.

Em primeiro lugar, uma sustentabilidade maior, se puder ser alcançada, significaria


uma estabilização da população, globalmente e na maioria das regiões. Em segundo,
práticas econômicas que encorajem a cobrança de custos reais, crescimento em
qualidade em vez de quantidade, e a vida a partir dos dividendos da natureza e não
do seu capital. Terceiro, uma tecnologia que tenha comparativamente um baixo
impacto ambiental. Quarto, é preciso que a riqueza seja de alguma forma mais
equitativamente distribuída, especialmente para que a pobreza deixe de ser comum.
Em quinto, são imprescindíveis instituições globais e transnacionais mais fortes para
lidar com os problemas globais urgentes. Sexto, é fundamental um público mais bem
informado sobre os desafios múltiplos e interligados do futuro. E sétimo – e talvez o
mais importante e mais difícil de tudo – o predomínio de atitudes que favoreçam a
unidade na diversidade, isto é, cooperação e competição não violenta entre tradições

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culturais diferentes e nações-Estados, assim como a coexistência com os organismos


que compartilham a biosfera com os seres humanos. (VEIGA, 2010, p. 169)

7 MEDIÇÃO DA SUSTENTABILIDADE

De forma análoga com a dificuldade de se estabelecer um índice único para aferir o


desenvolvimento, encontra-se diversas dificuldades para sintetizar a sustentabilidade em
apenas um único valor. Apesar dessa dificuldade, o importante é tentar apresentar pelo menos
um índice que sirva de norte sobre a sustentabilidade ambiental para que possa ser cotejado
com os índices econômicos do crescimento.
Merece, em um primeiro momento, destaque a tentativa realizada pela Comissão para
o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas de traduzir este índice. Em 1996, através
do que ficou conhecido como Livro Azul, foi publicado um documento constituído de 143
indicadores, depois reduzido para 57, que buscou representar os aspectos da sustentabilidade.
Este documento, além das contribuições de suas próprias informações, foi importante devido
a sua influência para que o IBGE em 2002 e 2004 realizasse os primeiros indicadores
brasileiros de desenvolvimento sustentável. O projeto brasileiro observou 17 indicadores
contemplando as seguintes perspectivas: atmosfera, terra, oceano, biodiversidade e
saneamento.
Importantes contribuições também são auferidas pelo ESI-2002 que contemplou 142
países na busca da apreensão de uma determinação da sustentabilidade. Este índice de
sustentabilidade ambiental formulado por pesquisadores de Yale e Columbia analisa cinco
pontos fundamentais:

a) Sistemas ambientais que compreendem a análise do solo, ar, água e ecossistemas;


b) Estresses, entendida como um nível elevado de poluição ou consumo exorbitante de
um recurso natural;
c) Vulnerabilidade humana que verifica doenças e situações nutricionais da população;
d) Capacidade social que pode ser traduzida na possibilidade de solução de um problema
ambiental pela população;
e) Responsabilidade global, ou seja, cooperação entre os países para resolver as questões
ambientais.

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DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE

Realizadas as pesquisas referentes às dimensões acima mencionadas, de forma diversa


do IDH, não é feito uma média aritmética. Os países são reunidos em grupos com
características semelhantes. Observando os indicadores auferidos o país receberia uma
classificação. Assim, haveria uma divisão em cinco grupos que se diferenciariam de acordo
com a vulnerabilidade ambiental. Interessante notar que diante disso, através de uma
comparação com o IDH, seria possível verificar quais os países que tem um desenvolvimento
sustentável ou não. Casos emblemáticos são países como Alemanha, França, Dinamarca, entre
outros, que possuem IDH alto, entretanto, em termos de sustentabilidade são considerados
estressados.
O ESI-2002, mesmo diante de algumas limitações, ganhou destaque principalmente
por ter sido feito para o Fórum Econômico Mundial e ter ampla cobertura da revista The
Economist. Guardadas as devidas proporções poderia ser equiparado a representatividade que
o IDH tem para o desenvolvimento.
José Eli da Veiga relata que merece ainda ser mencionado que antes do ESI-2002,
ocorreram três tentativas para o estabelecimento de um índice representativo da
sustentabilidade. Seriam elas: O Índice de Bem-estar de Prescott Allen, outro índice elaborado
para a Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável por um grupo de
consulta e, finalmente, um índice conhecido como “pegada ecológica” (mede o uso da
natureza pelo homem) realizada pela ONG Redefining Progress Institute.

8 O DIREITO AMBIENTAL E A BUSCA DE UM MEIO AMBIENTE


EQUILIBRADO

De uma forma simplória e redundante, o Direito Ambiental seria o ramo do direito que
procuraria traçar as normas de cunho ambiental visando à proteção do meio ambiente. Assim,
para a apreensão dessa tarefa, fundamental se faz conhecer o que se pode entender por
ambiente. A melhor indicação, a priori, seria a legal. Relata o art.3°, I, da Lei 6938/81:

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de


ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas
formas. (BRASIL, 2011, p. 547)

Destarte, nos termos do art. 2° da Lei 6.938/81, o Direito Ambiental e,


consequentemente, a Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,

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Alexandre Luiz Alves de Oliveira

melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País,


condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à
proteção da dignidade da vida humana. Nota-se a preocupação do ditame legal em tentar
estabelecer uma compatibilidade entre a ideia de desenvolvimento/crescimento com a
conservação da natureza.
José Afonso da Silva em seu livro Direito Constitucional Ambiental vem ampliar e
esclarecer a ideia. Faz questão de também realçar os aspectos culturais, claro sem deixar de
citar a proteção da natureza no seu sentido mais comum. Define o autor:

O conceito de meio ambiente há de ser, pois, globalizante, abrangente de toda a


natureza original e artificial, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo,
portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico,
artístico, turístico, paisagístico e arqueológico. (SILVA, 2002, p. 20)

Sobre o ideal da sustentabilidade, o autor ainda traça um norte que deve ser seguido
observando a legislação pátria. De acordo com o constitucionalista, o intérprete na exegese da
lei deve procurar conciliar o desenvolvimento econômico-social com a preservação do meio
ambiente. O desenvolvimento sustentável somente será possível com uma utilização
equilibrada da natureza visando o atendimento das necessidades atuais da população sem
descuidar da conservação para a utilização para as futuras gerações. É a tradução do caput do
art.225 da Constituição Federal que está, assim, redigido:

Art.225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de


uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações. (BRASIL, 2010, p. 90)

Traçadas estas primeiras considerações deve-se relatar que a proteção ambiental é uma
questão que remota há tempos mais pretéritos. Levando-se em consideração apenas do século
XX para os dias atuais inúmeros instrumentos legais vieram tratar da questão. Legislações
internacionais e nacionais dos mais diversos matizes procuraram de uma forma ou de outra
regular a problemática ambiental. Longe de querer ser exaustivo serão mencionados alguns.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, apesar de não ser um
instrumento diretamente direcionado a proteção ambiental, traz valorosos direitos que são
plenamente aplicáveis à questão. Na proteção dos direitos mínimos dos homens, está o direito
a um meio ambiente equilibrado e sadio. Necessário é estender aquelas determinações
abrangendo a proteção ambiental. Nesse sentido destacam-se alguns de seus artigos como:

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DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE

Artigo 3°
Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 22
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode
legitimamente exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais
indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de
harmonia com a organização e os recursos de cada país.
Artigo 25
1. Toda pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua
família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao
alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e
tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na
velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias
independentes da sua vontade.
2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as
crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma proteção social.
Artigo 27
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da
comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios
que deste resultam.
2. Todos têm direito à proteção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer
produção científica, literária ou artística da sua autoria.
Artigo 28
Toda pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma
ordem capaz de tornar plenamente efetivos os direitos e as liberdades enunciadas na
presente Declaração.2

Foi a constatação de Eduardo Gomes e Bettina Bulzico que relatam que “inegável é a
constatação do direito humano ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, tutelado não
apenas por normas de Direito Internacional Ambiental, como por normas de direitos
humanos.” (GOMES; BULZICO, 2010, p.52)
Para muitos estudiosos do direito ambiental, o marco inicial para a disciplina seria a
Convenção de Estocolmo de 1972. Foram realizadas quatros sessões para a discussão da
temática ambiental tratando de assuntos como a poluição dos mares, a preservação do solo, a
chuva ácida proveniente da poluição do ar, etc. Interessante destacar dentro dessas discussões,
o relatório/teoria chamado “Os limites do crescimento” que, conforme se observa, trouxe a
seguinte perspectiva: “A teoria defendia o crescimento zero ou a paralisação do crescimento
econômico, resultando em taxas de desenvolvimento menos agressivas para com a natureza e,
consequentemente, reduzindo a degradação ambiental.” (GOMES; BULZICO, 2010, p.54).
Diante dessa proposição de limitação do crescimento verifica-se a dicotomia dos países em
dois grupos: o dos países desenvolvidos que desejavam a conservação dos recursos naturais e

2
Disponivel em: < http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm> .Acesso em: 10
jun./ 2012

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Alexandre Luiz Alves de Oliveira

o dos países pobres que apregoavam a necessidade de utilização dos mesmos para a promoção
do desenvolvimento.
O importante, contudo, foi a percepção da necessária discussão sobre o tema e a
apresentação de um plano de ação contendo 109 recomendações. Ainda lembra GOMES e
BULZICO mencionando José Afonso da Silva:

A Conferência de Estocolmo abriu caminho para que as Constituições


supervenientes reconhecessem o meio ambiente ecologicamente equilibrado como
um direito humano fundamental entre os direitos sociais do homem, com sua
característica de direitos a serem realizados e direitos a não serem perturbados.
(GOMES; BULZICO, 2010, p. 59)

Observação idêntica faz Solange Teles da Silva que constada que o direito ao meio
ambiente equilibrado é um direito fundamental. Nos dizeres da autora: “Não há possibilidade
de concretização dos demais direitos fundamentais sem o direito ao meio ambiente, que se
traduz em última análise como o próprio direito a vida.” (TELES, 2007, p. 230)
Transcorridos vinte anos da Convenção de Estocolmo foi realizada outra importante
discussão de nível mundial sobre a problemática ambiental. A Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como ECO 92, veio ratificar os ideais
preservacionistas da Declaração de Estocolmo, entretanto, teve como enfoque principal a
discussão do desenvolvimento sustentável. Procura conciliar dois direitos humanos
fundamentais, ou seja, o direito ao desenvolvimento e a uma vida e um meio ambiente
saudável. Na busca desse objetivo enumera vinte e seis princípios, destacando-se:

Princípio primeiro
Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas como
desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em
harmonia com a natureza.

Princípio terceiro
O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de tal forma que responda
equitativamente às necessidades de desenvolvimento e preservação ambiental das
gerações presentes e futuras.

Princípio quarto
A fim de alcançar o estágio do desenvolvimento sustentável, a proteção do meio
ambiente deve constituir parte integrante do processo de desenvolvimento e não
poderá ser considerada de forma isolada.

Princípio oitavo
Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma melhor qualidade de vida para
todas as pessoas, os Estados devem reduzir e eliminar os sistemas de produção e
consumo não sustentados e fomentar políticas demográficas apropriadas.

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DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE

Princípio vinte e cinco


A paz, o desenvolvimento e a proteção do meio ambiente são interdependentes e
inseparáveis. 3

As discussões promovidas na ECO-92 deixaram como legado dois tratados


(Convenção sobre Diversidade Biológica e Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas) e
dois outros importantes documentos (Declaração do Rio e a Agenda XXI). Apesar da
generalidade de suas determinações, demonstraram a inevitável evolução e conscientização
ambiental.
Finalizando estes apontamentos internacionais devem ser, pelo menos mencionados os
Protocolos de Montreal e de Kyoto. O primeiro versa sobre a proteção da camada de ozônio e
o segundo trata do problema do efeito estufa.
A origem da questão ambiental no direito brasileiro é ponto controverso entre os
autores brasileiros. Alguns citam legislações pretéritas retroagindo a época do descobrimento
do Brasil. Citam as proibições de corte de árvores frutíferas nas Ordenações Afonsinas, o
Regimento do Pau-Brasil (regras para o uso da madeira) nas Ordenações Filipinas, etc.
Outros pensadores destacam a década de 1930, que seria um marco, pela edição do
Código Florestal e Código das Águas. Mas a grande maioria dos pesquisadores determina o
advento de um direito verdadeiramente ambiental com o surgimento da Lei 6.938/81. Foi
neste instante, após a Convenção de Estocolmo, que a questão de um meio ambiente
equilibrado e integral tornou-se preocupação legislativa. Cite-se a conclusão de Guilherme
Purvin de Figueiredo que esclarece bem este ponto:

[...] indicando uma (re)orientação radical de rumo, aparece a Lei da Política


Nacional do Meio Ambiente (1981), dando início à fase holística, onde o ambiente
passa a ser protegido de maneira integral, vale dizer, como um sistema ecológico
integrado (resguardam-se as partes a partir do todo), com autonomia valorativa (é,
em si mesmo, bem jurídico) e com garantias de implementação (= facilitação do
acesso à justiça). Só com a Lei 6.938/81, portanto, é que verdadeiramente começa a
proteção ambiental como tal no Brasil, indo o legislador além da tutela dispersa, que
caracterizava o modelo fragmentário até então vigente (assegura-se o todo a partir
das partes). (FIGUEIREDO, 2010, p.41)

Aperfeiçoando a questão ambiental no direito brasileiro surge em 1985 a Lei 7.347.


Esta lei regula a ação civil pública que proporciona a efetivação dos ditames da Política
Nacional do Meio Ambiente. Com a Lei 7.347/85 a proteção do meio ambiente passa a ter um

3
Disponível em: <http://www.acpo.org.br/conv_estocolmo.htm>. Acesso em: 10 jun 2012.

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instrumento processual hábil para consecução de seus fins. O meio ambiente como um
todo poderia ser tutelado e não apenas casos particulares como no caso de ações ordinárias em
conflitos de vizinhança. O Brasil passa a ter a vanguarda em direito ambiental tendo uma lei
“material” e outra “processual” altamente efetivas.
Não pode deixar de ser dito também que a Constituição da República de 1998 veio
abraçar todos estes ideais e busca promover uma efetiva proteção ambiental. Como já
mencionado anteriormente o direito a um meio ambiente sustentável ganha status de direito
fundamental estando presente em diversas disposições constitucionais. Todo o capítulo VI, da
ordem social, da Constituição Brasileira vem tratar do meio ambiente.
Longe de querer ser exaustivo, citem-se, apenas com fins de informação, algumas leis
ambientais que merecem destaque: Lei 11.105/05 (Lei da Biotecnologia), Lei 10.257/01
(Estatuto da Cidade), Lei 11.445/07 (Lei de diretrizes do saneamento básico), Lei 6766/79
(Lei de parcelamento do solo urbano), Lei 12.305/10 (Lei sobre os resíduos sólidos), lei
12587/12 (Lei da mobilidade urbana), Lei 12.187/09 (Lei que institui a Política Nacional de
Mudanças Climáticas), Lei 11.428/06 (Lei sobre o uso e a proteção do Bioma da Mata
Atlântica), Lei 9.985/00 (Lei sobre as unidades de conservação), etc.

9 CONCLUSÃO

Constatação óbvia é que o meio ambiente vem atravessando por transformações, que
neste momento, são de inconclusas previsões. O aumento da população, a poluição dos rios e
mares, a liberação de gases poluentes, o consumo desenfreado de matérias-primas, etc. já vêm
demonstrando a incapacidade do planeta de manter este paradigma de civilização. Se num
passado não muito distante não havia contradições entre um crescimento econômico e a
sustentabilidade ambiental, hoje dúvidas não restam do tamanho do problema de conciliar
estas duas aspirações. De um lado os países do “norte” que pregam a conservação dos
recursos naturais e de outro os emergentes que desejam utilizar os mesmos para promover o
desenvolvimento.
Destarte, desde a Convenção de Estocolmo, o problema ambiental se encontra
presente nas discussões mais responsáveis referentes ao desenvolvimento. Independentemente
da ideia de desenvolvimento apresentada sempre será necessário à utilização da natureza, até
porque o homem é um de seus elementos. A questão é como possibilitar aos países mais
pobres sua elevação econômica e social sem a consequente degradação da natureza.

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DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE

Rechaçando as teorias que consideram o desenvolvimento como mera quimera, sonho


ou ilusão é fundamental promover a elevação do homem, contudo, sem descuidar da
preservação do meio ambiente. É inaceitável que uma parcela da população, geralmente as
nações do norte, tenha um padrão de vida elevado e aos subdesenvolvidos do “sul” seja
imposto todo o ônus da conservação do planeta Imperioso fazer uma mitigação dos ideais de
desenvolvimento/crescimento com a promoção do equilíbrio ambiental. Neste instante se
impõe as nações desenvolvidas um principio que se pode chamar de solidariedade.
Solidariedade no sentido de promover o desenvolvimento (no seu sentido mais amplo) dos
países mais pobres e arcar com os custos ambientais.
Importante também salientar e concordando com os autores mencionados no texto, que
enquanto a atividade de produção e consumo da humanidade for pautada por este sistema
capitalista predatório dificilmente pode-se promover um desenvolvimento sustentável. A
conservação do meio ambiente para a presente e, principalmente, para as futuras gerações tem
uma conotação ética que este modelo não admite. Uma superação desse paradigma é a pedra
angular para qualquer forma de desenvolvimento sustentável que busque promover o bem-
estar do homem e a conservação da Terra.
Por fim, conforme relatado no texto, o Brasil dispõe de uma legislação ambiental que
poderia ser qualificada de vanguarda. A grande questão que se impõe é a “vontade política”
para sua aplicação. Conseguir impedir as pressões dos mais diversos setores econômicos
sobre a implantação de medidas protetoras do meio ambiente tem sido, aliás, o grande desafio
dos governos modernos.

REFERÊNCIAS

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DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

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Acesso em: 10 jun. 2012.

GOMES, Eduardo Biacchi; BULZICO, Bettina Augusta Amorim. Sustentabilidade,


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