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17/05/2019

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cMil desculpas | UOL TAB

CONTA UOL

MIL DESCULPAS
Por que aceitamos notas oficiais padronizadas que só agradam a quem deve muitas explicações?

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Lamentamos profundamente o ocorrido. E fazemos isso de maneira automática e incessante. Só em 2019, o Flamengo já "lamentou
profundamente" a morte de dez meninos em instalações de responsabilidade do clube, exatamente como a Vale "lamentou

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profundamente" a morte de mais de 200 pessoas, causada por uma de suas obras. Quase idêntica foi a manifestação do Extra
Hipermercados sobre o "lamentável episódio" do assassinato de Pedro Henrique Gonzaga em uma de suas lojas. O advérbio sofre
pequeno ajuste quando o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, "lamenta com profundo pesar" as mortes de sete pessoas após a chuva
na cidade, mas a ideia é a mesma.

O relato de casos poderia continuar - é possível que apenas em 2019 haja mais exemplos do que dias no ano. Não importa o
tamanho da falta ou a responsabilidade do emissor. Pessoas públicas, chefes de Estado, grandes corporações ou empresas
médias dão satisfações públicas tão esfarrapadas quanto burocráticas, mas seguem o ritmo da hiperinformação.

São ofensas, assassinatos, destruição de cidades inteiras, tanto faz. A reação é a mesma. Rápidas, defensivas e impessoais, as
"notas de esclarecimento" acalmam a sanha de quem cobra respostas pelas mídias sociais - ou pela imprensa. E ganham tempo
para que o escândalo da próxima hora leve a crise para outro CNPJ.

DESCULPAS PADRONIZADAS
Selecione uma justi cativa de praxe

Lamenta profundamente

NOTA DO FLAMENGO

O Clube de Regatas do Flamengo lament


profundamente a tragédia que fez dez vítim
fatais no Centro de Treinamento George Hela
madrugada desta sexta-feira (8) e se coloc
inteiramente à disposição das autoridades e
famílias para auxiliar na apuração das causa
incêndio e, de alguma forma, minimizar a do
sofrimento das famílias dos atletas e funcioná
atingidos.

Essas desculpas de praxe não são produto de cinismo (ou não apenas). Tampouco são inócuas. O fenômeno envolve e contribui
para questões complexas da sociedade contemporânea. Desculpa, mas, nessa, somos todos sujeito e vítima.

"Essa estratégia é muito maléfica socialmente. Você não imagina o estrago que isso faz", diz o psicanalista Pedro de Santi, professor
de Psicologia da Comunicação Social da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). Cada um em sua área, nenhum dos
especialistas ouvidos pelo TAB, inclusive aqueles que participam da construção desse cenário, discorda de que a prática das
notas vazias de responsabilidade é parte de uma engrenagem em que a deterioração social é causa e efeito.

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O VAZIO DA HIPERCOMUNICAÇÃO
"A gente tem que trabalhar da forma como a comunicação acontece hoje, mas isso é ruim", diz Augusto Botelho, advogado
criminalista e sócio de um dos escritórios mais disputados do país. Em sua prática profissional, Botelho trabalha para que seus
clientes se posicionem sem perder o tempo ótimo da resposta. Isso significa, muitas vezes, emitir uma comunicação antes mesmo
de saber detalhes do que de fato aconteceu. "O imediatismo da informação faz com que essa nota tenha que ser divulgada, muitas
vezes, quando você não tem um conhecimento mínimo do que está acontecendo. Tem um timing complicadíssimo. E, se você
perde, aí não adianta mais".

Essa resposta rápida e rasteira (falando sempre em "profundidade") não tem outra função a não ser cumprir uma espécie de
etiqueta do julgamento público. "Eu sinto uma pressão tão grande que parece que, se você não responde, por mais que seja com
uma nota padrão, está assumindo algum tipo de culpa", afirma Botelho.

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Esta é uma das muitas dinâmicas desse complexo mosaico. Há uma cobrança midiática - incluindo aí as sociais - de postura de
corporações e pessoas públicas, ao ponto de que a falha em atender essa demanda pode dar a aparência de culpabilidade (o
que, como veremos mais para frente, é um problema jurídico real). Seria irresponsável para um advogado, portanto, permitir que
seu cliente tenha uma dívida de reputação.

Especialmente porque a culpa, às vezes, nem existe.

Nem todo mundo sabe, por exemplo, que uma empresa não pode ser criminalmente responsabilizada por nada no Brasil, com
exceção de crime ambiental. Por mais que as marcas se humanizem com storytellings, gracinhas em redes sociais, algoritmo para
atender os consumidores de maneira cada vez mais individualizadas, no fim, ainda lidamos com um fato que muita gente trabalha
para ninguém lembrar: a pessoa jurídica é uma abstração. Se seu amigo não tem CPF, é imaginário.

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"Ao mesmo tempo em que a gente ainda tem aí um movimento que obriga as empresas a assumirem esse papel, a gente não pode
esquecer que não existe concretamente algo chamado Companhia Vale do Rio Doce (hoje Vale S.A), por exemplo. A existência dela
é jurídica, é um contrato. Quem é a Vale do Rio Doce? São as pessoas que estão gerenciando aquilo", lembra o antropólogo Fred
Lúcio, coordenador-docente da ESPM Social e autor de "Sociologia das Organizações". "Optamos por construir um conceito, que é
um conceito fictício, mas que opera, que tem a sua eficácia, que é o conceito de pessoa jurídica. Aí nós transferirmos inclusive a
responsabilidade das pessoas - diretores, presidentes - para um CNPJ, para uma coisa que é abstrata", completa.

Para atender a uma demanda imediatista que pode custar a imagem de responsabilidade de alguém ou alguma organização,
portanto, divulga-se, o mais rápido possível, uma posição cujo objetivo é dar a satisfação menos comprometedora que puderem
redigir. O que lamentamos profundamente.

"Você precisa dar uma resposta não no tempo da investigação, não no seu tempo de apurar o que aconteceu, mas no tempo que o
leitor - seja do jornal, do Twitter, de qualquer lugar - demanda", diz Augusto Botelho. O poder dessa demanda, que seria para cobrar
novas condutas, acaba diluído no próprio ritmo da hipercomunicação.

"Vejo sim as empresas se preocupando muito mais com esse tipo de comunicação, com seu posicionamento. Mas acho que isso
não causa um efeito pedagógico para evitar certas condutas. Não acho que isso tenha um efeito positivo, infelizmente", diz Botelho.
"Isso é ruim. Inclusive para a imprensa. A ânsia pelo furo, a necessidade de se divulgar qualquer coisa sem uma apuração prévia...
A imprensa vem aprendendo a fazer isso, a advocacia e os gerenciadores de crise, também", completa.

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UMA ÉTICA DILUÍDA


Responsabilidade, no entanto, é outra coisa. Não é preciso ser criminalmente culpado por algo para assumir sua responsabilidade.

E é justamente ao integrarem esse estranho "manual de etiqueta" que essas notas dão a pista de problemas além da simples
qualidade da comunicação. "Quando a questão da ética começou a ser debatida nas corporações, foi de maneira muito ampla,
refletindo sobre responsabilidades que as organizações têm com a sociedade em todos os espaços. Com o passar do tempo, isso
foi se fragmentando em duas pautas", diz Fred Lúcio. "Uma pauta externa que virou basicamente a questão da sustentabilidade. E
um braço interno, que, em vez de se aprofundar em questões éticas que de fato têm relevância, acabou virando uma reflexão muito
normativa".

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Ou seja: o debate sobre empresas com comportamento ético minguou para tornar-se uma espécie de guia para empresas
comportadas. "A leitura que faço é de que não há, efetivamente, uma preocupação ética dessas organizações", diz Fred Lúcio.
Então, por que emitir essas notas? "Primeiro, porque é preciso, a sociedade está cobrando. Segundo, isso faz parte até das nossas
relações pessoais: você errou, pede desculpas. Mas nem sempre ela expressa uma verdade". Cumpre-se a obrigação social de
uma manifestação a respeito, mas longe de reparações, contrições, ação ou responsabilidade. É mais ou menos como mandar uma
educada coroa de flores para o enterro de alguém que morreu por responsabilidade sua dizendo "lamentamos profundamente".

"Ficar só nisso perde de vista o que vinha sendo discutido, que são as relações e os compromissos que tanto as empresas têm
com seus funcionários, quanto os funcionários têm com a empresa, a empresa tem com a sociedade, e a sociedade tem com a
organização", declara.

Em retrospecto, num ano em que fatos chocantes parecem se sobrepor, o clichê do lamento profundo só não foi expressado pela
morte do músico e pai Evaldo Rosa dos Santos, alvejado por 80 tiros dentro de seu carro (foto abaixo). Nesse caso, o governador
Wilson Witzel disse que não cabe a ele "fazer juízo de valor", porque Exército não é PM; o ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou
que é um "trágico incidente" que "pode acontecer". O da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, chamou de "fato isolado". E o
presidente Jair Bolsonaro declarou que "Exército não mata ninguém, o Exército é do povo e não podemos acusar o povo de
assassinato". Certas vítimas, aparentemente, ainda não merecem sequer uma falsa consideração.

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COMIGO NÃO MORREU

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É certo que todo mundo tem o direito de pedir desculpas insinceras. Até quem vende responsabilidade social e outros produtos "do
bem". A falha com a questão ética que as notas indicam, no entanto, vai além da hipocrisia.

Na ocasião em que o presidente da República, notoriamente um desafeto da subjetividade, "lamentou profundamente" os mortos de
Brumadinho, também disse explicitamente que não tinha "nada a ver" com o caso. Nem todos são tão óbvios quanto ele. Mas é essa
a tradução do discurso que produzem.

"O que todas essas comunicações dizem é: nós não somos sujeitos, nós não somos responsáveis. A gente vai responder a isso
diante das autoridades, a gente vai colaborar. Mas como se fôssemos testemunhas, e não sujeitos, do que aconteceu. O grande
trabalho é de negação da responsabilidade", diz De Santi, a quem apresentamos os textos citados aqui para uma análise de
discurso mais precisa.

GERADOR DE DESCULPINHA
Deu mancada? Crie aqui sua nota pessoal

Te perdoo por te trair Visualizado e não respondido Vai indo que eu não vou Ooops, dei spoiler

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Lamento profundamente os
acontecimentos ocorridos nesta
casa. Reitero que repudio
qualquer ato de adultério, e
peço desculpas se causei uma
impressão diferente dessa.
Informo que já abri uma
investigação interna, junto ao
meu psicanalista

Agradeço sua compreensão

Quando a Câmara dos Deputados fez um minuto de silêncio em homenagem às vítimas de Brumadinho, acabou produzindo, sem
querer, uma imagem que explica exatamente a posição em que se colocam os emissores dessas notas. Nela, todos se levantam
para o ritual de luto. Menos o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, que continua sentado, de cabeça baixa. O lapso faz sentido
para quem se considera vítima, não sujeito, da tragédia. "Essa foto é incrível. A falta de ética se mostra com a falta mínima de
respeito, solidariedade", diz o antropólogo Fred Lúcio, para quem a imagem (abaixo) é uma das mais simbólicas do caso.

"Não tem uma apropriação da situação. Frequentemente, essas notas sequer nomeiam. Geralmente, nem tragédia é", diz De Santi
sobre a estratégica e reveladora escolha dos termos nesses documentos. "É o incidente, o acontecimento". De fato, de todas as
notas selecionadas, apenas uma, a do Flamengo, chega a citar que houve mortes. O assassinato no Extra é um episódio. As
centenas de mortos em Brumadinho são atingidos. Só se fala em vítimas quando elas já têm algoz: a chuva.

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"A resposta tem um tom muito claramente defensivo, que antecipa alguma forma de responsabilização. E, o que é mais triste, existe
quase que uma negação do acontecimento. Se você levar a sério o que as notas dizem, não aconteceu aquilo que aconteceu",
analisa De Santi. "Afinal, os procedimentos de segurança sempre foram todos tomados, teve vistoria antes, etc... No limite, parece
que não aconteceu. O que está em jogo é uma não apropriação e uma não responsabilização ao máximo pelo acontecimento."

UM ESPETÁCULO JUDICIÁRIO

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Imagem e Justiça andam misturadas em uma pouco atraente sopa primordial de onde nasce um mundo novo e estranho. "Nos
últimos cinco anos, o Brasil vem vivendo um mais acentuado, digamos assim, 'reality show' do Poder Judiciário", diz Augusto
Botelho. "Agora a gente tem um completo frenesi em relação ao Judiciário, até com pedidos de fechamento do Supremo por atores
e atrizes".

Apesar de considerar que a influência da opinião pública e da imprensa sempre existiu e é inerente ao sistema em casos de
grande repercussão, ele afirma que hoje acontece "um momento muito específico do Poder Judiciário. Isso vem ao longo dos
últimos anos se acentuando de forma muito prejudicial à Justiça. Faz uma diferença enorme, mesmo para um ministro do Supremo,
ser aplaudido ou vaiado domingo na pizzaria. Isso influencia, infelizmente, a decisão".

A imagem influencia a Justiça; e a possibilidade de julgamento influencia a imagem. É o eterno retorno de uma serpente que
devora o próprio rabo.

As coisas poderiam ser diferentes se não vivêssemos sob uma crise mundial de autoridade simbólica. Afinal, "quando a autoridade
simbólica está em crise, todos se sentem perseguidos e se defendem", diz De Santi.

Com a autoridade judicial submetida ao poder da comunicação, entre outros ataques à sua instituição, quem está sob os holofotes
da suspeita se sente em risco, um risco que independe dos fatos. E se defende. "Muito antes de poder ter empatia, compaixão com
os demais, a ação é simplesmente autorreferente e defensiva. Essa é a característica mais visível. Uma comunicação
autorreferente, de defesa e que evita de qualquer forma que o emissor seja responsabilizado. Eu não sou responsável, eu sou
vítima também", declara De Santi.

UM TRAUMA COLETIVO
A estratégia só funciona porque o vazio da hiperinformação, que apareceu no começo do texto, garante um novo escândalo no dia
seguinte, e no seguinte, e no seguinte. Ciclo completo. Um acúmulo sem narrativa que garante o esquecimento.

Na psicologia, quando algo acontece e produz uma reação, uma consequência, quando pode ser nomeado, isso é um
acontecimento a partir do qual aprendemos e nos tornamos melhores. Mas, sem a consequência, isso muda. "Acontecimento sem
consequência é o que a psicologia chama de trauma. Quando há um trauma, não há evolução, não há compreensão, não há

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elaboração. O tempo fica parado e o evento se repete. É a condenação à repetição. E aí, certamente, Brumadinho é o exemplo
final", diz De Santi.

Em 2015, o então presidente da Samarco - empresa da Vale - foi o porta-voz oficial sobre a destruição da cidade de Mariana.
Acertou quem disse que, de cara, a empresa "lamentou profundamente" o ocorrido. Ao longo das semanas seguintes, a

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comunicação da empresa optou por classificar tudo como um acidente do qual ela também era vítima. Chegou até a produzir um
vídeo se colocando como alvo de "críticas". Ninguém se responsabilizou. Menos de quatro anos depois, tudo se repete.

"O que a gente acabou de ver de Mariana para Brumadinho foi a absoluta falta de consequência. Na falta de consequência, quem
opera isso se sente onipotente. Então dá para continuar fazendo, vão esquecer em seguida, porque outra coisa vai acontecer. Toca
o barco... até acontecer de novo. E de novo, e de novo", sentencia De Santi.

"Se o discurso se fizesse mais ativo, 'eu fiz, eu respondo, eu estou sofrendo junto', possivelmente traria humanização e desarmaria
essa bomba de que cada só se defende e ninguém confia mais em ninguém", diz.

A ausência dessa ação de se colocar como sujeito das ações, numa cultura de excesso de acontecimentos, cria uma progressão
negativa de proporções que atingem a sociedade como um todo. "Eles vão só se condenar à repetição. A impunidade, a falta de
consequência, isso é um desastre social", afirma De Santi.

Lamento profundamente, mas ele está certo.

Fale com o TAB


tabuol@uol.com.br
Publicado em 13 de maio de 2019

Arte: Carla Borges, Daniel Neri; Edição: Daniel Tozzi; Reportagem: Kaluan Bernardo, Letícia Naísa, Rodrigo Bertolotto, Tiago Dias; Vídeo: Rodrigo
Souto.

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