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Willian Pina Botelho, que usava o nome falso de Balta Nunes, durante depoimento em Manaus (AM), em junho de
2018. REPRODUÇÃO
O major de inteligência do Exército Willian Pina Botelho, que em 2015 e 2016 infiltrou-se
em manifestações e encontros de movimentos sociais e assediou mulheres desses
grupos sob a identidade falsa de Balta Nunes, escapou na semana passada, pela quinta
vez, da possibilidade de responder por suas ações. O procurador do Ministério Público
Federal (MPF) Marcos Ângelo Grimone, da Procuradoria da República em São Paulo,
que investigava a possibilidade de denunciar o militar pelos crimes de falsidade
ideológica e usurpação de função pública, foi obrigado a arquivar a investigação por
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17/05/2019 Militar que espionou manifestantes e ativistas se livra de investigação federal | Brasil | EL PAÍS Brasil
ordem do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), responsável por São Paulo e
Mato Grosso do Sul.
Como não havia sido informado da decisão, Grimone prosseguiu nas investigações e
estava pronto para denunciar o major quando, na semana passada, descobriu que o seu
procedimento investigatório criminal havia sido trancado pela Justiça. “Fiquei de mãos
atadas, infelizmente”, afirmou o procurador à Ponte. Impedido de acusar Botelho,
arquivou a investigação em 6 de maio.
“Quero milhões de
beijos por essa ação
heroica”, disse o
capitão
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O fato de Botelho ter sido inocentado em outras investigações, por sinal, foi um dos
argumentos usados pelo desembargador André Nekatschalow para concluir pela
inocência do militar. Na sua decisão, o desembargador afirma que “não há indícios
mínimos que confiram justa causa para o prosseguimento das investigações,
ressaltando-se que a conduta de que se trata foi objeto de sindicância e de apuração
pelo Ministério Público Militar, procedimentos que tiveram conclusões favoráveis” a
Botelho.
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O papel de Botelho/Balta veio à tona depois que ele foi detido pela Polícia Militar, em 4
de setembro de 2016, no Centro Cultural São Paulo (CCSP), na região central da cidade
de São Paulo, juntamente com outros 18 jovens e três adolescentes, que se preparavam
para participar de um protesto contra o presidente Michel Temer na Avenida Paulista.
Ao contrário dos demais, Botelho, que os manifestantes conheciam como Balta Nunes,
foi liberado sem explicações pela polícia (a amigos no Facebook, ele disse que havia sido
libertado após pagar R$ 1.200 em suborno para um delegado).
Em novembro de 2016, dois meses após a prisão dos 18 jovens no CCSP, Botelho foi
transferido da 3ª Companhia de Inteligência de São Paulo para o Comando Militar da
Amazônia. No Natal daquele ano, viu-se promovido “por merecimento” a major, o que
fez a remuneração básica bruta do seu salário aumentar de 10.624,15 reais para
14.592,80 rrais, conforme o Portal da Transparência do governo federal — atualmente,
está em 16.964,64.
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Os manifestantes que foram presos juntos com Botelho/Balta é que não se deram tão
bem. O processo contra os adolescentes foi arquivado, mas os 18 adultos detidos, que
ficaram conhecidos como “os 18 do CCSP”, foram acusados de associação criminosa e
corrupção de menores pelo Ministério Público Estadual. O promotor de justiça Fernando
Albuquerque Soares de Souza apontou o porte de vinagre e de equipamentos de
primeiros socorros, entre outros objetos, como prova de que o grupo pretendia cometer
atos de vandalismo e de violência contra policiais. O processo foi denunciado por
entidades de direitos humanos, como a Artigo 19 e a Conectas, como exemplo de uso
ilegal do aparato judicial para impedir o direito de manifestação. Em 22 de outubro do
ano passado, a Justiça absolveu todos os réus por falta de provas. O Ministério Público
Estadual recorreu da decisão.
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Sobre as prisões dos “18 do CCSP”, o desembargador não viu relação de Botelho com o
episódio. “A autoridade que chamou para si a responsabilidade pelas detenções, a
Polícia Militar de São Paulo, negou que houvesse atuado por força de operação conjunta
com o oficial das Forças Armadas, e não há sequer indícios de que a presença dos
Policiais Militares tenha sido por ele solicitada”, afirma Nekatschalow. Aparentemente, o
desembargador não foi informado de que o então comandante-geral do exército,
general Eduardo da Costa Villas Boas, admitiu que o Exército havia atuado em “absoluta
interação com o governo do estado” no dia da prisão dos manifestantes, durante uma
entrevista à Jovem Pan, em 18 de outubro de 2016.
Ao sepultar a investigação, o TRF-3 pôs fim a um longo caminho de idas e vindas que
cercou a investigação do MPF, a que chegou mais perto de fazer uma denúncia contra
Botelho. A investigação havia sido aberta, ainda em 2016, pela Procuradoria da
República em São Paulo, a pedido da 7ª Câmara de Coordenação e Revisão (Controle
Externo da Atividade Policial e Sistema Prisional), da Procuradoria Geral da República,
com base nas reportagens publicadas por Ponte e EL PAÍS. Mas avançou pouco: a
procuradora Cristiane Bacha Canzian Casagrande concluiu que não havia indícios de
crime e, no ano seguinte, pediu o arquivamento da investigação.
Ângelo Grimone, que decidiu retomar o caso. Se a investigação não tivesse sido barrada
pelo TRF-3, o procurador teria denunciado Botelho por falsidade ideológica e usurpação
de função pública. “Em tese, ele usou falsa identidade e documentos falsos para se fazer
passar por terceiro. Ele também poderia ter cometido usurpação de função pública,
porque um oficial do Exército não tem poder de polícia”, afirmou Grimone, durante a
fase de investigação.
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