Vous êtes sur la page 1sur 9

17/05/2019 Militar que espionou manifestantes e ativistas se livra de investigação federal | Brasil | EL PAÍS Brasil

Militar que espionou manifestantes e ativistas se livra de


investigação federal
Procurador de São Paulo pretendia denunciar major, que usou nome de
falso e até Tinder para se infiltrar, por falsidade ideológica e usurpação de
função pública, mas tribunal arquivou investigação

Willian Pina Botelho, que usava o nome falso de Balta Nunes, durante depoimento em Manaus (AM), em junho de
2018. REPRODUÇÃO

FAUSTO SALVADORI (PONTE)

18 MAI 2019 - 01:22 CEST

O major de inteligência do Exército Willian Pina Botelho, que em 2015 e 2016 infiltrou-se
em manifestações e encontros de movimentos sociais e assediou mulheres desses
grupos sob a identidade falsa de Balta Nunes, escapou na semana passada, pela quinta
vez, da possibilidade de responder por suas ações. O procurador do Ministério Público
Federal (MPF) Marcos Ângelo Grimone, da Procuradoria da República em São Paulo,
que investigava a possibilidade de denunciar o militar pelos crimes de falsidade
ideológica e usurpação de função pública, foi obrigado a arquivar a investigação por

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/17/politica/1558119752_973399.html 1/9
17/05/2019 Militar que espionou manifestantes e ativistas se livra de investigação federal | Brasil | EL PAÍS Brasil

ordem do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), responsável por São Paulo e
Mato Grosso do Sul.

Atendendo a um pedido de habeas corpus em favor do major Botelho, feito pela


Advocacia-Geral da União, o TRF-3 ordenou o trancamento da investigação, aberta pelo
procurador Grimone, por considerar que não havia indícios de crime contra o militar. O
acórdão (decisão assinada por mais de um magistrado) do Tribunal, relatado pelo
desembargador federal André Nekatschalow, foi proferido em 28 de novembro do ano
passado. Como a Procuradoria Geral da República, em Brasília, não recorreu, a decisão
transitou em julgado (tornou-se uma decisão definitiva, sem possibilidade de recurso)
em 6 de dezembro.

Como não havia sido informado da decisão, Grimone prosseguiu nas investigações e
estava pronto para denunciar o major quando, na semana passada, descobriu que o seu
procedimento investigatório criminal havia sido trancado pela Justiça. “Fiquei de mãos
atadas, infelizmente”, afirmou o procurador à Ponte. Impedido de acusar Botelho,
arquivou a investigação em 6 de maio.

Leia a decisão que impediu o MPF de investigar o major Botelho


MAIS INFORMAÇÕES

Desde que o papel de Botelho como infiltrado do Exército em


movimentos sociais veio à tona, em setembro de 2016, por meio de
reportagens da Ponte e EL PAÍS, o militar conseguiu escapar ileso
de todos os procedimentos que se aproximaram de investigar sua
atuação: no próprio Exército, no Ministério Público Estadual, na
Capitão infiltrado em
ato contra Temer é Procuradoria de Justiça Militar, na Câmara dos Deputados e, agora,
promovido a major no Ministério Público Federal.
do Exército

“Quero milhões de
beijos por essa ação
heroica”, disse o
capitão
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/17/politica/1558119752_973399.html 2/9
17/05/2019 Militar que espionou manifestantes e ativistas se livra de investigação federal | Brasil | EL PAÍS Brasil

O fato de Botelho ter sido inocentado em outras investigações, por sinal, foi um dos
argumentos usados pelo desembargador André Nekatschalow para concluir pela
inocência do militar. Na sua decisão, o desembargador afirma que “não há indícios
mínimos que confiram justa causa para o prosseguimento das investigações,
ressaltando-se que a conduta de que se trata foi objeto de sindicância e de apuração
pelo Ministério Público Militar, procedimentos que tiveram conclusões favoráveis” a
Botelho.

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/17/politica/1558119752_973399.html 3/9
17/05/2019 Militar que espionou manifestantes e ativistas se livra de investigação federal | Brasil | EL PAÍS Brasil

O papel de Botelho/Balta veio à tona depois que ele foi detido pela Polícia Militar, em 4
de setembro de 2016, no Centro Cultural São Paulo (CCSP), na região central da cidade
de São Paulo, juntamente com outros 18 jovens e três adolescentes, que se preparavam
para participar de um protesto contra o presidente Michel Temer na Avenida Paulista.
Ao contrário dos demais, Botelho, que os manifestantes conheciam como Balta Nunes,
foi liberado sem explicações pela polícia (a amigos no Facebook, ele disse que havia sido
libertado após pagar R$ 1.200 em suborno para um delegado).

A misteriosa liberação de Botelho levantou a suspeita entre os manifestantes, apontada


pela Ponte, de que ele fosse um infiltrado. Cinco dias após a prisão dos manifestantes,
Ponte e EL PAÍS revelaram que o homem de barba e cabelo desgrenhado, que se
apresentava no aplicativo de paquera Tinder como um revolucionário de esquerda, com
direito a uma frase falsamente atribuída a Karl Marx, era o capitão do Exército Willian
Pina Botelho.

A Ponte apurou que a atuação de Botelho como agente infiltrado do Exército em


movimentos sociais vinha de antes. A página no Facebook com a identidade falsa de
Balta Nunes existia desde dezembro de 2014. No ano seguinte, o capitão participou de
reuniões da Frente Povo Sem Medo, que reunia o PT e outros partidos de esquerda,
além de movimentos sociais como MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e
UNE (União Nacional dos Estudantes), e fez parte, sempre com nome falso, do encontro
Comunicadores Sem Medo, ocorrido em 4 e 5 de junho, segundo relato do site Mídia
Ninja. Em setembro do mesmo ano, Botelho/Balta comprou 15 banquinhos de plástico
para manifestantes do Terra Livre, movimento de luta por terra e moradia, em troca da
promessa de um dia conhecer uma ocupação.

Em novembro de 2016, dois meses após a prisão dos 18 jovens no CCSP, Botelho foi
transferido da 3ª Companhia de Inteligência de São Paulo para o Comando Militar da
Amazônia. No Natal daquele ano, viu-se promovido “por merecimento” a major, o que
fez a remuneração básica bruta do seu salário aumentar de 10.624,15 reais para
14.592,80 rrais, conforme o Portal da Transparência do governo federal — atualmente,
está em 16.964,64.

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/17/politica/1558119752_973399.html 4/9
17/05/2019 Militar que espionou manifestantes e ativistas se livra de investigação federal | Brasil | EL PAÍS Brasil

Os manifestantes que foram presos juntos com Botelho/Balta é que não se deram tão
bem. O processo contra os adolescentes foi arquivado, mas os 18 adultos detidos, que
ficaram conhecidos como “os 18 do CCSP”, foram acusados de associação criminosa e
corrupção de menores pelo Ministério Público Estadual. O promotor de justiça Fernando
Albuquerque Soares de Souza apontou o porte de vinagre e de equipamentos de
primeiros socorros, entre outros objetos, como prova de que o grupo pretendia cometer
atos de vandalismo e de violência contra policiais. O processo foi denunciado por
entidades de direitos humanos, como a Artigo 19 e a Conectas, como exemplo de uso
ilegal do aparato judicial para impedir o direito de manifestação. Em 22 de outubro do
ano passado, a Justiça absolveu todos os réus por falta de provas. O Ministério Público
Estadual recorreu da decisão.
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/17/politica/1558119752_973399.html 5/9
17/05/2019 Militar que espionou manifestantes e ativistas se livra de investigação federal | Brasil | EL PAÍS Brasil

Tudo dentro da lei


Analisando as ações de Botelho apenas em 4 de setembro de 2016, a decisão do
desembargador Nekatschalow considerou que havia “fundamentos legais” para o
trabalho do militar: um decreto federal de 31 de agosto de 2016, que autorizava o
emprego das Forças Armadas em uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO,
que dá poder de polícia aos militares) no revezamento da Tocha Paraolímpica dos Jogos
Rio 2016. Graças à GLO, Botelho poderia realizar atividades de inteligência “mediante a
coleta de dados em proveito dos órgãos encarregados das ações de segurança do
evento e de sua organização”, tudo isso com a autorização de seu superior hierárquico,
o comandante da 3ª Companhia de Inteligência, tenente-coronel Edgard Brito de
Macedo. Para Nekatschalow, “não há indícios mínimos da imputação investigada, ou
seja, de que o paciente tenha provocado prisões ilegais de manifestantes mediante
condutas consistentes em abuso de poder e/ou falsidade ideológica”.

Sobre as prisões dos “18 do CCSP”, o desembargador não viu relação de Botelho com o
episódio. “A autoridade que chamou para si a responsabilidade pelas detenções, a
Polícia Militar de São Paulo, negou que houvesse atuado por força de operação conjunta
com o oficial das Forças Armadas, e não há sequer indícios de que a presença dos
Policiais Militares tenha sido por ele solicitada”, afirma Nekatschalow. Aparentemente, o
desembargador não foi informado de que o então comandante-geral do exército,
general Eduardo da Costa Villas Boas, admitiu que o Exército havia atuado em “absoluta
interação com o governo do estado” no dia da prisão dos manifestantes, durante uma
entrevista à Jovem Pan, em 18 de outubro de 2016.

Ao sepultar a investigação, o TRF-3 pôs fim a um longo caminho de idas e vindas que
cercou a investigação do MPF, a que chegou mais perto de fazer uma denúncia contra
Botelho. A investigação havia sido aberta, ainda em 2016, pela Procuradoria da
República em São Paulo, a pedido da 7ª Câmara de Coordenação e Revisão (Controle
Externo da Atividade Policial e Sistema Prisional), da Procuradoria Geral da República,
com base nas reportagens publicadas por Ponte e EL PAÍS. Mas avançou pouco: a
procuradora Cristiane Bacha Canzian Casagrande concluiu que não havia indícios de
crime e, no ano seguinte, pediu o arquivamento da investigação.

Os procuradores de Brasília, contudo, não aceitaram o pedido de arquivamento e


devolveram o procedimento para a Procuradoria paulista. Em 19 de fevereiro do ano
passado, a investigação foi parar na mesa do procurador da área criminal Marcos
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/17/politica/1558119752_973399.html 6/9
17/05/2019 Militar que espionou manifestantes e ativistas se livra de investigação federal | Brasil | EL PAÍS Brasil

Ângelo Grimone, que decidiu retomar o caso. Se a investigação não tivesse sido barrada
pelo TRF-3, o procurador teria denunciado Botelho por falsidade ideológica e usurpação
de função pública. “Em tese, ele usou falsa identidade e documentos falsos para se fazer
passar por terceiro. Ele também poderia ter cometido usurpação de função pública,
porque um oficial do Exército não tem poder de polícia”, afirmou Grimone, durante a
fase de investigação.

Do que mais Botelho escapou


A primeira investigação sobre Willian Pina Botelho foi uma sindicância aberta pelo
Exército em 9 de setembro de 2014, mesmo dia em que Ponte e EL PAÍS denunciaram a
atuação do militar como infiltrado na prisão dos “18 do CCSP”. O resultado da
sindicância, que foi classificado como sigiloso até 2021, mas à qual a Ponte teve acesso,
concluiu que não havia “evidência do cometimento de qualquer transgressão
disciplinar”. A investigação interna limitou-se a ouviu Botelho e seu chefe, o tenente-
coronel Edgard Brito de Macedo, e a analisar os fatos de 4 de setembro de 2016.

Pouco depois, a Procuradoria de Justiça Militar em São Paulo, do Ministério Público da


União, arquivou um procedimento investigatório preliminar que seguiu um caminho
muito parecido. Também ouvindo apenas militares e se limitando a analisar a conduta
de Botelho em 4 de setembro, o promotor de justiça militar Luís Antonio Grigoletto
chegou à conclusão de que “não emergem dos autos quaisquer indícios da prática de
ato ilícito” por parte de Botelho e arquivou a investigação, em 25 de novembro.

O Ministério Público Estadual de São Paulo abriu um procedimento investigatório


criminal para apurar a conduta dos policiais civis e militares envolvidos na prisão dos
jovens em 4 de setembro, a cargo do Gecep (Grupo de Atuação Especial de Controle
Externo da Atividade Policial) e da Promotoria da Justiça Militar. Botelho também foi
ouvido nessa investigação e reafirmou que estava monitorando “eventos que pudessem
interferir” na passagem da tocha paralímpica e que não fez qualquer trabalho de
infiltração. Embora a investigação dos promotores devesse apurar possíveis
irregularidades praticadas pela polícia, o interrogatório do Gecep não perguntou sobre a
afirmação, feita por Botelho a amigos no Facebook, de que teria subornado um delegado
para não ser preso. Em 22 de fevereiro do ano passado, o MP paulista determinou o
arquivamento dos autos, dizendo: “não há indícios suficientes de ilícito criminal
praticado por policiais militares a ensejar adoção de providências”.

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/17/politica/1558119752_973399.html 7/9
17/05/2019 Militar que espionou manifestantes e ativistas se livra de investigação federal | Brasil | EL PAÍS Brasil

O Legislativo também tentou entrar no “caso Balta”, em 2016, quando a Comissão de


Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados pediu a convocação dos
ministros da Justiça, da Defesa e do Gabinete de Segurança Institucional para apurar as
denúncias envolvendo o militar. O requerimento nem chegou a ser votado.

A reportagem foi publicada originalmente no site Ponte Jornalismo.

Adere a

Mais informação >

ARQUIVADO EM:

Exército Brasileiro · Forças Armadas Brasileiras · Exército terra · Manifestações · Forças armadas
· Protestos sociais · Espionagem · Mal-estar social · Defesa · Problemas sociais · Política · Sociedade

CONTENIDO PATROCINADO

E TAMBÉM…

Restaurante ‘refém’ das críticas Emilia Clarke: “Cheguei a pedir Morre ‘Grumpy Cat’, a gata
negativas leva Tripadvisor a aos médicos que me deixassem celebridade da internet,
julgamento morrer” protagonista de milhares de…
(EL PAÍS) (EL PAÍS) (EL PAÍS)

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/17/politica/1558119752_973399.html 8/9
17/05/2019 Militar que espionou manifestantes e ativistas se livra de investigação federal | Brasil | EL PAÍS Brasil

Recomendado por

N E W SL E TTE R
Receba a newsletter diaria do EL
PAÍS Brasil

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/17/politica/1558119752_973399.html 9/9

Vous aimerez peut-être aussi