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ALGUMAS OBSERVACOES SOBRE AS FONTES COGNITIVAS DE ALBERT EINSTEIN’ Prof. Roberto Cintra Martins Instituto de Matemética e COPPE/UFRY RESUMO — O artigo investiga as fontes de determinados valores étcos e cognitivos que consttuiram referéncias particularmente relevantes para a vida ¢ a produgfo intelectual de Einstein. Os anos de Berna sfo considerados ecisivos: tanto a experigncia de Einstein no Instituto Federal de Propriedade Intelectual quanto sua participagso ‘no grupo conhecido como ‘Academia Olympia’. O artigo discute 4a posstvel influéncia de determinadas correntes filos6ficas, em mol6gicas de Einstein. 1. Proposta do Trabalho Com a Teoria da Relatividade e a Mectinica Quintica realiza-se a mais recente mudanca na cosmovisio da Fisica, com implicagées de in- acto tanto nas demais ciéncias como no coti- diano das sociedades, por meio de seus desdo- bramentos no desenvolvimento técnico e indus- trial. ‘Aqui, € tarefa do historiador e do episte- mélogo buscar compreender os condicionantes € 0 ambiente histérico-cultural em tomo das origens deste movimento filos6fico ¢ cientffico, que hoje assume um ambito de influéncia de dimensdes planetérias, condicionando, ainda gue indiretamente, a visio atual preponderante da Natureza e do Homem. Ao compreender este projeto, nfo raro 0 historiador € colocado diante da escolha entre, de um lado, uma anélise do conteido interior 208 métodos proprios a um campo espectfico do saber, e de outro, uma considerago das condi- es S6cio-hist6rico-culturais no “em torno” da ova corrente de pensamento. Coloca-se assim aqui nfo raro uma escolha dicot6mica e presu- mivelmente obrigat6ria entre dois modos de abordagem em Hist6ria da Ciéncia, um dito “internalista” e outro, “‘externalista”. Também uma consideraco historiogréfica das fontes cognitivas de Albert Einstein poderia pretender se restringir a uma ‘nica dessas duas abordagens. No entanto, a busca do entendi- Comunicagio apresentada no 1 Simpéeio Internacional de itd da Ceca Epstemologin~Pirsciaba,outbro Je 31 igualmente os problemas envolvidos na questi0 especial 0 kantismo, sobre as concepetes episte- mento da vida ou da obra do sfbio dificilmente ‘exclui a passagem pela regio de intersecgdo entre ambas. Tal regio de intersecglo pode agui ser entendida, sobretudo na propria pessoa do cientista. A dificuldade de emoldurar esta nos limites de modos de interpretago de cunho classificat6rio pode assim conduzir o historia- dor & busca do encontro com o sdbio através de seu legado e de suas fontes. Com respeito a Einstein, provavelmente nio deve haver época alguma mais frutffera para a Pesquisa hist6rica que os chamados “anos de Bema”, imediatamente ap6s a virada do século ¢ imediatamente antes de 0 mundo vir a conhe- cé-lo. Os anos de 1902 a 1905 podem ser con- siderados os dltimos “‘privativos” de Einstein, quando ainda o podemos encontrar em “estado Puro”, reconhecido ¢ apreciado por poucos de seus contemporaneos e ainda poupado dos ‘compromissos decorrentes do prestfgio interna- cional, podendo dedicar-se exclusivamente & sua ocupacZo profissional, & pesquisa filos6fi- co-cientffica, &s amizades e A Miisica, Os cha- ‘mados “anos de Berna”, conhecidos como os “anos de ouro” na vida de Einstein, coincidem ainda com o apogeu dos “anos de ouro” da Hist6ria recente da Europa, o perfodo de paz, rosperidade © florescimento cultural que ante- cedeu a Primeira Grande Guerra. Em fevereiro de 1902, Einstein chega a Bema como um desconhecido professor de Matemética e Fisica e comeca a buscar seus Primeiros alunos particulares através de andn- ios em jomal. Ali, no coragio da Europa da “Belle Epoque”, provavelmente nfo haveria ‘quem pudesse perceber naquele jovem a figura Revista da SBHC, n. 6, p. 31-38, 1991. Roberto Cintra Martins central, presente e atuante nos mais importantes acontecimentos na Ciéncia e na Polftica das proximas décadas. Assim como dificilmente ha- veria quem, do interior do “establishment” in- telectual e cientifico europeu, pudesse prever que precisamente estas proximas décadas tra. riam & Europa as duas experéncias mais trau- fticas de sua Hist6ria. ‘Os tempos de Berna so considerados deci- sivos para a vida e a obra de Einstein. Nestes poucos anes, na condicio de empregado do Instituto Federal de Propriedade Intelectual (“Eidgendssisches Amt flir geistiges Eigen- tum”), ele iré desenvolver estudos de Fisica, Matemética, Filosofia e Teoria do Conheci- mento, em permanente diélogo com um efrculo reduzido de companheiros e amigos. Neste trabalho pretende-se apresentar uma interpretago da importincia dos estudos em Berna para a producio cientffica de Einstein, sem a pretensio de estabelecer aqui conexdes diretas, entendendo-se que tanto as principais obras éstudadas como a pessoa dos interlocuto- res e a atividade profissional no Instituto Fede~ ral de Propriedade Intelectual tiveram papel re- levante. 2. Antes dos tempos de Berna: Um “Background” ético-cognitivo raro E bastante conhecida a condigo material de Einstein a0 chegar a Berna: trajando roupas ‘usadas e gastas, com uma maleta de pano, con- tendo poucos objetos e algumas folhas manus- critas, 0 jovem professor consegue hospedar-se, na condicho de estrangeiro, em um quarto alv- gado, com algumas cadeiras, um armério, um colchéo de sargagos € uma’ mesa (Cf. FLU- CKIGER, 1974, p. 12-3). Em que pese © contraste entre este modesto infcio de carreira e o significado alcangado por sua vida © obra, so mais importantes para 0 historiador e epistemélogo a bagagem espiritual ¢ as fontes cognitivas anteriores a Berna, so- bretudo na medida em que influenciaram a for- mago do cardter do jovem Einstein, pois esta ‘Sitima teré desdobramentos duradouros por toda sua vida. Neste sentido, talvez uma das caracterfsti- cas mais marcantes da personalidade de Eins- tein, que perpassa toda sua vida, desde os ban- cos escolares até a oposicéo aos regimes poltti- cos totalitérios militincia pacifista, seja 0 Revista da SBHC, n. 6, p. 31-38, 1991 32 seu profundo sentido do valor da liberdade € © seu arraigado anti-autoritarismo. 436 208 doze anos de idade vive Einstein a experiéncia de ruptura com 0 ensino religioso ¢ de rebeldia contra qualquer forma de autorida- de, seja da Igreja, do Estado ou dos costumes sociais: Peta leitura de livros cientfioos populares eu che ‘gue logo & conclusso de que muita coisa nas his {érias da Bfbia nfo podia ser verdade, A conse- ‘éncia disso foi um expito de liberdade quase fandtico, ligado com a impressfo de que a juven- tude era enganada pelo Estado de forma preme- ditada; era uma impressio esmagadora. A des- confianga contra qualquer tipo de autoridade cresceu desta vivéocia, uma posiéo oStica contra 435 conviegbes vivas no ambiente social ~ una po- igdo que nunca ous me abandonou. (Cf. ibd, P38). Em 1900, Einstein forma-se em Zurique como professor de Fisica ¢ Matemftica. Sobre sua experiéncia como estudante na busca seleti- va do saber relevante em meio A massa de maté- ria curricular apresentada, ele comenta, compa- rando o sistema alemio ao sufco: Parece mesmo um milagre que o sistema de ensi- ‘no moderno ainda nfo tenha estrangulado com- pletamente a sagrada curiosidade do pesquisador, pois esta delicada plantinha necessta,além de es- ‘fmmulo, sobretudo de liberdade; sem esta o fra- casso ¢ inevitdvel. & um grande erro acreditar que © prazer na pesquisa possa ser estimulado através de presséo ¢ sentimento de dever... (EINSTEIN, ‘apud FLUCKIGER, 1974, p. 29-30)}. A formagéo relativamente mais liberal e humanfstica do sistema sufgo merece de Eins- tein a denominago de sua “escola de recruta- mento intelectual”; os tempos de estudante em Zurique permanecerio em Einstein uma refe- réncia decisiva. (Ibid., p. 39). Por outro lado, toda e qualquer pretensio de saber bascada exclusivamente na autoridade mereceu sempre de Einstein a mais radical re- pulsa, desde seus tempos de Ginério em Muni- que. ‘Assim por exemplo, jé como professor substituto em Winterhur, mais uma vez Einstein ‘vé-se confrontado com 0 que ele chamou de “a escuridio da autoridade”, ao participar de um ciclo de palestras sobre Fisica: Th, SELIG, C. Albert Einstein, cine dekumentarische Biographic, 1952, p. 1-36. ‘Aleumas observasées sobre as fontes cognitivas de A. Einstein Eu conheci mais uma ver uma triste figura desta espécie ~ um dos primeiros fisicos da Alemanha, Diante de duas crfticas objetivas minhas contra uma de suas teorias ¢ um erro em suas conclu- ses, ele respondeu apenas que um outro colega (presumivelmente infalfvel) concardava com ele. Eu vou provoed-lo em breve com uma bela publi cago, A escuridio da autoridade 6 0 piorinimigo a verdade (Thid.,p. 31). A “bela publicagéo" com a qual o jovem de vinte e dois anos pretendia provocar a autorida- de do eminente fisico surge nos Anais de Fisica sob 0 titulo “Teoria Termodiniimica da Dife- renga de Potencial entre Metais e Solugdes to- talmente Dissociadas e seus Sais e um Método Elétrico para a Pesquisa de Forgas Molecula- res” (Ibid., p. 32). Este episédio ilustra exemplarmente as {n- timas conexées entre 0 cardter e a obra em Einstein e serviré aqui para encerrar nossa con- sideracio sobre seu acentuado anti-autoritaris- Ao lado do radical anti-autoritarismo, cos- tuma-se afirmar que a total falta de idéias pré- concebidas teria sido fundamental para que as contribuigées de Einstein fossem decisivas na Revoluséo da Fisica no infcio deste século. Neste sentido, para nos aproximarmos mais € melhor das rafzes de Einstein como pensador revolucionério, convém aqui examinar referén- ccias suas que deitam rafzes em sua inffincia. No onto de partida do desenvolvimento intelectual de Einstein. pode-se mencionar duas experién- cias marcantes onde 0 ato cognitive eclode & partir de um “‘vcuo de preconceitos” e da dis- onibilidade do espfrito para 0 ato de surpreen- der-se. A primeira experiéncia diz respeito a0 ca- réter experimental da Fisica: Este surpreender-se parece surgir quando uma cexperincia entra em conflito com um mundo de {déias arraigado em n6s. Quando este conflito & vivenciado de forma dura’e intensiva, entéo cle passa a atuar de forma decisiva sobre nossa esfera de pensamento. O desenvolvimento desta esfera de pensamento € em certo sentido uma fuga Constante da surpresa.. Uma surpresa desse tipo ‘eu vivi como crianga de quatro ou cinco anos, quando meu pai me mostrou uma bGssola. A for~ ‘ma de comportamento da aguiha no se ajustava ‘no tipo de fendmeno que teria lugar no mundo in- consciente de idéias (interago bascada em con- tacto flsico direto)..esta experigneia me impres- sionou de forma profunda e duradoura. Deveria exis algo atrés das coisas, profundamente es- condido, © que o Homem desde pequeno esté ‘costumado a ver néo é o que surpreende cle nfo se surpreende com a queda dos corpos, 0 ventoe 8 chuva, a lua eo fato de ela nfo cara diversi- dade dos mondos orginico e inorgtnico. (EINS- TEIN, apud FLUCKIGER, 1974, p, 36-7). Em Einstein a crenca inabalével no funda- ‘mento racional do ser est presente desde a in- fincia; esta f& constitui-se para ele, quando chega a maturidade, ‘‘o fundamento de toda re- ligiosidade”. Einstein era dotado da capacidade ““pré-soerética”" de pasmar-se diante do milagre ddos fenémenos em si. Seu pensamento desei volve-se a partir deste “‘pasmar-se" primordial, de forma lenta, clara e natural: Quando eu me perguato por que justamente eu vim a descobrir a Teoria da Relatividade, parece- ‘me que a explcasio é: 0 adulto normal mal pensa 0s problemas da relagSo espago-tempo. Ele ima- sina que jf pensou sobre iso 0 suficiente na in- fincia. Eu a0 contrério me desenvolv intelec- tualmente com lentidfo, de forma que somente como adulto eu comecei a me admirar com 0 e5- ago © o tempo. Naturalmente eu mergulhei mais profundamente na problemtica do que a crianga formal (Apud FLUCKIGER, 1974, 35-6) AA segunda experiéncia a que nos referimos diz respeito a0 caréter l6gico-dedutivo da Fisi- ‘Com doze anos eu vivenciei uma segunda sur- presa de tipo completamente diferente: em um Ii- vvrinho de Geometria Plana Euelidiana, que eu ‘obtive no infcio de um ano leivo. Nele havia pro- pposig6es, como por exemplo sobre a interseocéo das trés alturas de um tritngulo em um ponto, ue, apesar de nfo serem em si evidentes, podiam ‘no entanto ser provadas com tal certeza que qual- ‘quer dGvida parecia ser impossfvel, Esta clareza ¢ Certeza provocaram uma impressio indescritfvel em mim... os objetos tratados pela Geometria no ‘me pareciam ser de outro tipo que os objetos da percepcio sensorial que “se pode ver e pegar”. Esta concepsio_ primitive, que provavelmente também estd na base da conhecida questo kan- tiana sobre a possibilidade de “julgamentos sinté- ticos a priori”, baseia-se naturalmente em que 4 relagio daquelas idéias geoméiricas com os ob- jetos da experiéncia (régua, trajetra, etc.) estava Dresente no inconsciente (Cf. Ibid., p. 37)4. 2. CE. SCHILPP, P. A (ed). Alber Eien ale Phiosoph und ‘Nanuorscher. Shiga, p. 1-56, 1955, 3. Declarscdo a. Franck. 4 Voluremos posteriormente a esta referéncia 20 “prior” Kantana. Revista da SBH' n. 6, p. 31-38, 1991 33

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