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09/04/2019 Surge a ideia de igualdade: A revolução gloriosa

Lição 01
Índice
Surge a ideia de igualdade: A
1. Introdução

revolução gloriosa
2. Século XVII: Um período turbulento para a Europa

Questões
3. As várias Contemporâneas:
disputas Indivíduo
que aconteciam na e Sociedade, Igualdade e Diversidade
Inglaterra

4. Elementos da história inglesa nos séculos XVI e XVII

5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa


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6. Conclusão

1. Introdução
Uma Europa passando por crises e transformações. Uma Inglaterra passando por processos assim
também tumultuosos.

Desse caldeirão de tensões, para além de dificuldades, transformações, destruição e crescimento,


surgirão – ou melhor dizer, ressurgirão – algumas ideias e práticas políticas e societárias que
marcarão a história da humanidade nos séculos seguintes.

A Inglaterra, em especial, foi o berço fundamental desses acontecimentos que nos legaram as ideias
de liberdade e igualdade.

Como veremos, o início foi tímido e tempestuoso, mas rendeu frutos e foi, pouco a pouco, sendo
apropriado por inúmeras sociedades, não só na Europa, mas pelo mundo. Mudaram a política, a
economia, a sociedade e seus valores. O Estado assumiu novas formas e novos poderes. Os líderes
assumiram novos papeis e tiveram novas responsabilidades, bem como outras dificuldades para o
exercício do poder. Os cidadãos se viram, progressivamente, mais presentes na arena pública. Um
mundo em mudança.

Para que tenhamos uma noção mais ampliada é importante que conheçamos os aspectos centrais
do processo histórico inglês nos séculos XVI e, principalmente, XVII. É para essa viagem que te
convidamos agora.

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09/04/2019 Surge a ideia de igualdade: A revolução gloriosa

2. Século XVII: Um período turbulento para a


Índice
Europa
O Introdução
1. século XVII foi um momento de tensão e crise geral para a Europa. Especialmente traumática foi
a chamada Guerra dos Trinta Anos (1618 – 1648), com seus milhões de mortos e uma destruição
indizível. Conforme destaca o historiador Henrique Carneiro (2007, p. 163)
2. Século XVII: Um período turbulento para a Europa

“(...)
3. As maisdisputas
várias do que uma
que guerra,
aconteciamfoi uma crise geral que marcou o século XVII como um século de
na Inglaterra
estagnação ou até mesmo decrescimento demográfico e econômico, discutindo-se apenas se a
guerra teria sido uma das causas ou a maior consequência dessa situação de declínio e
4. Elementos da história inglesa nos séculos XVI e XVII
decadência gerais. O século XVII, na historiografia, ficou como que “comprimido” entre as
glórias do século XVI – momento de expansão marítima e de descobertas, como dos metais
5. As ideias que
preciosos conformaram
da América – e as oluzes
processo que XVIII,
do século culminou na revolução
período gloriosados movimentos da
de florescimento
ilustração e das grandes revoluções democrático-burguesas, como a Revolução de
Independência Americana de 1776 e a Revolução Francesa de 1789.”
6. Conclusão

Para além das mortes e destruição causadas pela Guerra dos Trinta Anos, o século XVII ficou
marcado pelo decréscimo populacional e econômico, por inúmeras outras guerras, pela incidência
de surtos de pestes, por processos de colapso monetário e de perseguições religiosas.
(CARNEIRO, 2007)

A Guerra dos Trinta Anos, destaque-se, terminou com um amplo acordo entre as principais
potências europeias, nos tratados conhecidos como Paz de Westfália, onde além de reordenarem
o mapa da Europa, favorecendo, entre outros a França, a Suécia, bem como Holanda e Suíça, que
tem suas independências reconhecidas, afirma-se a chamada Razão de Estado, onde se reconhece o
primado do interesse nacional sobre qualquer outro, estabelece-se alguma tolerância religiosa e
enfraquece-se, definitivamente, o Sacro Império Romano Germânico. (ROMANO, 2008)

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09/04/2019 Surge a ideia de igualdade: A revolução gloriosa

Divisão política da Europa em 1648.

Índice
A situação, portanto, foi de dificuldades em inúmeros aspectos da vida, não somente no militar,
mas também no econômico, no político e no social. Um relato feito na época nos mostra as agruras
enfrentadas pelas pessoas, e demonstra como questões econômicas também afetaram o seu
cotidiano. Segundo Pavel Stánsky (1633, s.p., apud PARKER, 1997, p. 15)
1. Introdução

“foi então
2. Século quando
XVII: Um aprendemos pela primeira
período turbulento vez que
para nem a peste, nem a guerra, nem
a Europa
incursões hostis, nem a pilhagem nem o fogo podiam fazer tanto dano à boa gente como as
frequentes mudanças de valor da moeda”.
3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra

NoElementos
4. entanto, apesar das dificuldades,
da história inglesa nosaséculos
Europa,XVI
como vinha fazendo desde o século XV, quando
e XVII
Portugal deu início às chamadas grandes navegações, e, especialmente, no século seguinte, quando
conquistou grandes extensões territoriais da América até a Ásia, passando pela África, as
5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa
conquistas continuaram no século XVII.

Conforme destaca o historiador Michel Beaud (2004), com um olhar mais focado em elementos
6. Conclusão
econômicos, mas, também, pontuando aspectos sociais e políticos, o século XVII foi marcado pela
expansão colonial, que se fez presente desde a Índia e a Indonésia até a América do Norte e o
Caribe, fazendo com que o crescimento da produção agrícola e manufatureira e do comércio
exterior tenha decuplicado entre 1610 e 1640. Como afirma Beaud (2004, p. 21)

“De acordo com dados oficiais, dezoito mil toneladas de prata e duzentas toneladas de ouro
foram transferidas da América para a Espanha entre 1521 e 1660; de acordo com outras
estimativas, o dobro”.

Com esse fluxo de riqueza, os monarcas europeus passaram a adotar medidas que buscavam
garantir que as mesmas não deixem seus reinos, através do controle das moedas e letras de câmbio.
Logo avançaram para o controle das importações e o estímulo às exportações. É o
chamado mercantilismo.

Beaud (2004, p. 25) destaca algumas ações implementadas

Os reis da Espanha, da França e da Inglaterra vão tomar medidas nesse sentido: primeiras
criações de manufaturas, monopólios ou privilégios para novas produções, proibições ou
tarifas contra a entrada de mercadorias estrangeiras, proibições de exportar matérias-
primas.

Ao mesmo tempo em que se afirmavam os estados nacionais, construía-se um mercado nacional. Os


elementos centrais sobre os quais se estabeleceriam as disputas em torno dos temas da igualdade,
e, posteriormente da diversidade, dali por diante e até a atualidade, mostravam sua força: Estado,
Capitalismo, Relações Internacionais.

Ademais, vivia a Europa, desde o alvorecer do século XVI a emergência do movimento protestante.
Desde que Martinho Lutero, em 1517, afixou suas noventa e cinco teses na porta de Igreja de
Wittenberg, seguiram-se John Knox, João Calvino e Henrique VIII, rei da Inglaterra, com a

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criação da Igreja da Inglaterra, conhecida como Igreja Anglicana, dando forma e força à Reforma
Protestante e iniciando uma série de disputas religiosas no continente europeu. (HUBERMAN,

Índice
1986)

No âmbito dos estudos das ciências, das humanidades e das artes também surgiam produções
interessantes. Inúmeros pensadores e artistas produziram tratados e obras significativas. Aqui
1. Introdução
poderíamos citar Francis Bacon (1561-1626), Galileu Galilei (1564-1642), Caravaggio(1571-
1610), Thomas Hobbes (1588-1674), Pierre Gassendi (1592-1655), René Descartes (1596-
1650),
2. Blaise
Século Pascal
XVII: Um(1623-1662), John Locke
período turbulento (1632-1704),
para a Europa Baruch Spinoza (1632-
1677), Nicolas Malebranche (1638-1715), Isaac Newton (1642-1727), Gottfried Wilhelm
Leibniz (1646-1716), Pierre Bayle (1647-1706) e Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741).
3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra
Podemos, pois, desde já apontar para as fortes disputas que ocorriam nesta Europa em processo de
intensa transformação. Foi nesse ambiente conturbado, marcado por disputas e interesses de toda
4. Elementos da história inglesa nos séculos XVI e XVII
ordem, que, pouco a pouco se construiu o ideal de igualdade, sustentado por elementos
fundamentais da liberdade.
5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa

6. Conclusão

3. As várias disputas que aconteciam na


Inglaterra
Na Inglaterra, o século XVII foi de extrema tensão interna. Na verdade, podemos destacar que os
séculos XVI e XVII foram de muitas mudanças e intensas disputas no que diz respeito a questões
religiosas, políticas, econômicas, sociais, culturais e, até mesmo, de unidade territorial. Muitas
vezes, inclusive, essas várias facetas se combinavam levando a momentos de guerra civil ou, ao
menos, de violência acentuada.

Os séculos XVI e XVII, quando se difundiram o humanismo cívico e as ideias republicanas,


constituíram-se em um período de inúmeras transformações e lutas na Inglaterra, conflitos sociais,
disputas de poder, enfrentamentos religiosos e interesses econômicos, todos confluindo para um
período de grande agitação que foi, grosso modo, desde 1625, com a ascensão ao poder de Henrique
VIII (1491 – 1547), em 1509, até a promulgação da Bill of Rights, Lei de Direitos, em 1689. Como
destaca Arruda (1996, p. 50-51)

“”O debate em torno do sentido social da Revolução Inglesa (...) é intenso. (...). A Richard
Tawney (1966) devemos a renovação das perspectivas. Formulou a hipótese do descompasso
entre a realidade econômica e a estrutura social para explicar a guerra civil. Salientou o
declínio relativo da aristocracia num período de depreciação monetária e a ascensão de uma
nova classe, a gentry, enriquecida pelas novas oportunidades da economia de mercado.“”

O historiador James Mainwaring (1965) destaca que do ponto de vista populacional e territorial –
com implicações em aspectos sociais, econômicos, tradicionais e políticos – a Grã-Bretanha, era
composta por cinco regiões diferentes: Inglaterra, País de Gales, as Terras de Fronteira, as Terras

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Baixas escocesas e as Terras Altas escocesas. Também aqui temos disputas que perpassaram todo o
século XVII, resolvendo-se, tão somente com o Tratado de União (1707) que criou oficialmente o

Índice
Reino da Grã-Bretanha, unificando as coroas e os territórios da Inglaterra e da Escócia, já tendo
sido o País de Gales incorporado à Inglaterra pelo Decreto de União (1536).

Assim, diferentemente do que muitas vezes possa se imaginar, as disputas que marcaram a
1. Introdução
Inglaterra nesse período têm um caráter muito mais complexo e variado.

O historiador Christopher Hill (1987), no entanto, densifica ainda mais o quadro da revolução ou
2. Século
guerra civilXVII:
inglesa.Um período
Para além dasturbulento para
disputas entre a Europa
anglicanos e católicos de um lado e presbiterianos
de outro, ou entre um parlamento liberal, representantes de grupos ligados aos interesses
comerciais,
3. As várias edisputas
o absolutismo monárquico,
que aconteciam vinculados aos interesses da terra, ele insere a
na Inglaterra
presença dos grupos populares, com diversos interesses e visões de mundo. Segundo o autor:

4. Elementos da história inglesa nos séculos XVI e XVII


“”A revolta no interior da Revolução, (...), adotou muitas formas, algumas das quais são mais
bem
5. As conhecidas
ideias do que outras.
que conformaram Grupos como
o processo que culminou na revolução gloriosa
os levellers, diggers e pentamonarquistas ofereceram novas soluções políticas (e, no caso
dos diggers, também novas soluções econômicas). As várias seitas –
6. Conclusão
batistas, quakers, muggletonianos – propuseram novas soluções religiosas. Outros grupos
formularam questões de teor cético acerca de todas as instituições e crenças de sua sociedade –
seekers, ranters, mais uma vez os diggers. (...). Mais ou menos entre 1645 e 1653 procedeu-
se na Inglaterra a uma enorme contestação, questionamento e reavaliação de tudo. Foram
questionadas velhas instituições, velhas crenças, assim como velhos valores. Os homens
moviam-se rapidamente de um grupo para outro (...).“”

(HILL, 1987, p. 30-31)

No âmbito rural, o processo de enclosures, o cercamento dos campos, colocou em situação


difícil os trabalhadores dos campos, estimulando inúmeras revoltas camponesas que têm desde
grupos mais moderados, os levellers, quanto mais radicais, os diggers. Enquanto os primeiros
defendem propostas de caráter liberal, com garantias de liberdade e propriedade, os segundos
agitam a bandeira da tomada de terras. Também no âmbito urbano a agitação se amplia com
protestos de artesãos que, vendo suas condições de trabalho e de vida piorarem, passam a reclamar
redução da jornada de trabalho e aumento de salários. Disseminado, portanto, um quadro de ampla
dissensão e disputa entre os diversos grupos da sociedade inglesa. (HILL, 1987)

Por fim, no sumário deste quadro socioeconômico da revolução em curso, não podemos deixar de
destacar o papel da gentry, que foi uma força econômica, política e social nesse processo, que
adquiriu uma grande força ao longo deste período, através da garantia de seus interesses em torno
da defesa da propriedade e do livre comércio firmemente recepcionados ao final do século XVII.
(HILL, 1987)

4. Elementos da história inglesa nos séculos


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XVI e XVII
Índice
Nos estudos sobre os aspectos históricos deste período podemos, muitas vezes, retornar de forma
ampla no tempo marcando aquilo que denominamos de longa duração.
1. Introdução

2. Século XVII: Um período turbulento para a Europa

3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra


Fique sabendo!

4. Elementos
Você sabe da história
qual inglesa
a diferença entrenos séculosGrã-Bretanha
Inglaterra, XVI e XVIIe Reino Unido? Veja o mapa e identifique
a que território nos referimos quando falamos em cada um deles.

5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa

6. Conclusão

Inglaterra, Grã-Bretanha e Reino Unido.

Por certo, a Inglaterra tem uma longa história de luta entre seus habitantes e as estruturas de poder
dominante. Poderíamos retornar aqui até mesmo à presença dos romanos na Ilha, quando a
província de Britânia fez parte do Império Romano, entre 43 d.C. a 410 d.C., e de formas diversas
resistiu ao controle daquele que era o maior império do mundo conhecido (SALWAY, 1992). Talvez
pudéssemos escolher a revolta de barões ingleses contra o Rei João (1166-1216), também
conhecido como Rei João Sem Terra, ocorrida em 1215, que impôs ao monarca a Magna Charta
Libertatum, conhecida como Magna Carta, que impunha limitações aos poderes do rei,
garantindo certas liberdades aos nobres e ao clero e, principalmente, o julgamento legal a ser feito
por seus pares, quando a questão envolvesse a possibilidade de perda da liberdade, ou da vida, de
um homem (MAINWARING, 1965; GILLINGHAM, 1992). Este tipo de perspectiva, no entanto, nos
tomaria tempo e espaço que, para a nossa discussão, não se fazem necessários. Assim, para nossa

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09/04/2019 Surge a ideia de igualdade: A revolução gloriosa

perspectiva, de discutir questões de igualdade, apontaremos algumas questões centrais da história


da Inglaterra, e da Grã-Bretanha, a partir do século XVI, fazendo eventuais menções a questões

Índice
anteriores que sejam relevantes para a discussão.

1. Introdução

2. Século XVII: Um período turbulento para a Europa

3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra

4. Elementos da história inglesa nos séculos XVI e XVII

5. As ideias que conformaram o processo que culminou


Magna Carta. na revolução gloriosa

Revoltas
6. e rebeliões são, assim, uma constante ao longo da história inglesa desse período. Por certo,
Conclusão
as atitudes de Henrique VIII, com a criação da Igreja Anglicana, a tomada de propriedades
eclesiásticas, vendendo parte delas para recuperar a crítica situação financeira do reino, ao mesmo
tempo que comprometia os compradores dessas terras com a nova Igreja, a reorganização das
equipes religiosas e dos estatutos que as regulamentavam, bem como as inúmeras expedições
militares da década de 1540, acabaram por contribuir para a eclosão de revoltas, sendo que a
principal delas ocorreu na região norte da Inglaterra no ano de 1536, mas que foi severamente
reprimida pelas tropas reais.

Ao longo dos séculos XVI e XVII, uma discussão política central na Inglaterra era a questão da
soberania. Quem disporia daqueles elementos fundamentais para o exercício do poder? Temas
como: a declaração de guerra e da paz, a criação ou extinção de tributos, nomeação de funcionários,
realização de julgamentos em instância final e, posteriormente, até do poder de legislar, eram o
centro desse debate que galvanizava interesses e impunha divisões entre partidários dos reis e
defensores do parlamento. (HILL, 1987; ARRUDA, 1996; BARROS, 2013; CASTRO, 2013).

Na verdade, essa disputa existia em terras inglesas desde a chamada Magna Charta Libertatum, de
1215, imposta ao Rei João, e que continha uma série de limitações ao seu poder, tais como: a
criação do Conselho dos Nobres, depois renomeado Parlamento, a criação do Tribunal do Júri, para
julgar casos que envolvesse a possível limitação da liberdade das pessoas e a salvaguarda de
benefícios dos proprietários de terras (HILL, 1987; ARRUDA, 1996; BARROS, 2013; CASTRO,
2013).

Como afirma Barros (2013, p. 129-130)

“”Na disputa pela soberania, alguns sustentavam que o rei era o seu legítimo detentor, seja por
direito divino, seja por direito de eleição ou conquista. (...). Outros defendiam que o poder do
rei era derivado da autoridade do povo, que elegia seus representantes todas as vezes que um
Parlamento era convocado, sendo assim essa assembleia a detentora do poder supremo.
Outros ainda sustentavam que os atributos da soberania eram compartilhados igualmente
pelo rei, lordes e comuns, quando reunidos no Parlamento.“”

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09/04/2019 Surge a ideia de igualdade: A revolução gloriosa

Tal disputa se intensificou com a ascensão dos Stuarts ao trono no início do século XVII. Em 1603,
com a morte da rainha Elisabeth I, sem herdeiros, assumiu o trono o rei Jaime Stuart, da

Índice
Escócia. A Inglaterra, em que pese o poder centralizado, a essa altura, diferente de boa parte da
Europa continental, possuía um rei que não tinha.

1. Introdução
“”(...) exército permanente, autonomia financeira ou corpo de funcionários dependentes e fiéis
à Coroa. Herdava ainda uma Igreja Anglicana incapaz de contentar os cristãos ingleses, pois
ficava num
2. Século meio-termo
XVII: entre oturbulento
Um período catolicismo, para
(...), eao Europa
protestantismo (...).“”

(BARROS, 2013, p. 130)


3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra

Tanto Jaime I (1603 - 1625), quanto, principalmente, seu filho e sucessor, Carlos I (1625 – 1649),
4. Elementos da história inglesa nos séculos XVI e XVII
tiveram inúmeras dificuldades com o Parlamento, especialmente com as propostas de aumento
e/ou criação de impostos sendo sucessivamente recusadas, o que, via de regra, causava a dissolução
5.
doAs ideias que Em
Parlamento. conformaram
1640, depoiso de
processo
mais deque
umaculminou na revolução
década sem convocar ogloriosa
Parlamento, Carlos I se
viu obrigado a construir tal articulação tendo em vista a iminência da invasão de tropas escocesas à
região
6. norte da Inglaterra (BARROS, 2013).
Conclusão
A década de 1630 foi de relativa tranquilidade política para Carlos I, uma vez que a oposição estava
impedida de agir com a supressão do Parlamento. No entanto, alguns êxitos foram conseguidos no
âmbito do desenvolvimento, mas a crise econômica de 1640 conduziu a uma explosão de
hostilidades, graças também a inabilidade do rei em fazer qualquer tipo de concessão política.
(MONDAINI, 2003)

O Parlamento eleito em 1640 impôs a Carlos I uma série de iniciativas que, por um lado, reduziam
o poder real, por outro, ampliavam o seu próprio poder. Assim,

“”(...) as cortes privilegiadas, que existiam desde o século XV e sustentavam a política real,
foram abolidas; os impostos que não haviam sido aprovados pelo Parlamento foram
revogados e declarados ilegais; a política tributária passou para o controle parlamentar; os
principais assessores reais foram depostos; alguns foram aprisionados e outros executados; os
bispos foram excluídos da Câmara dos Lordes; a política religiosa passou a ser conduzida pelo
Parlamento; o rei foi proibido de manter um exército permanente; e, para assegurar sua
própria independência, o Parlamento aprovou um ato que tornava automática a sua
convocação caso o monarca não o fizesse no prazo de três anos e um ato contra a sua
dissolução sem o seu próprio consentimento.“”

(BARROS, 2013, p. 131)

A situação parecia incontornável para o rei. Uma nova crise, no entanto, acabou potencializando o
confronto entre Carlos I e o Parlamento. Dessa feita foi a necessidade de convocar um exército para
reprimir uma rebelião de católicos na Irlanda. Instalou-se uma disputa entre ambos sobre quem
deveria comandar essas tropas. O rei exigia que fosse ele, o Parlamento, temeroso de que as tropas
fossem usadas contra si. Carlos I – depois da aprovação de resolução sobre a questão pela Câmara
dos Comuns – exigiu que os propositores do texto fossem presos. Sem apoio parlamentar, o rei
deixou Londres e dirigiu-se a cidade de Oxford, onde se instalaria com a Corte. (HILL, 1987;
ARRUDA, 1996; BARROS, 2013)

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Índice
1. Introdução
Você gosta de assistir a filmes para compreender melhor a história? Esse, com certeza, é um bom
recurso. O link a seguir mostra o filme Morte ao rei (legendado em português), que trata dos
conflitos ingleses nos anos finais da Guerra Civil de 1642 a 1648. Clique aqui para assistir.
2. Século XVII: Um período turbulento para a Europa

3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra


Em agosto de 1642 começa a Guerra Civil que, com muitas idas e vindas, resultou na prisão,
julgamento,
4. Elementoscondenação
da históriaeinglesa
execução
nosdoséculos
rei em XVI
30 dee janeiro
XVII de 1649. Em 19 de maio daquele ano foi
criada a Commonwealth of England, denominada de Estado livre, na prática uma república.
Tal situação persistiu até maio de 1660, quando a monarquia foi restaurada e Carlos II (1660 –
5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa
1685), sendo sucedido por Jaime II (1685 – 1688), que governou até a chamada Revolução
Gloriosa, aonde, após muitas tensões nos governos de ambos, acabou impondo um regime político
6. Conclusãocom elementos liberais e o poder estabilizado e partilhado entre o rei e o Parlamento.
monárquico
(HILL, 1987; ARRUDA, 1996; BARROS, 2013)

O período que se estende de 1649, após o fim da Guerra Civil, até 1660, quando ocorreu a
restauração da monarquia, é conhecido como Revolução Puritana. Conforme destaca Mondaini
(2003, p. 126)

“”(...) muitas águas correram: a conquista da Irlanda e da Escócia, o Ato de Navegação que
forçou a Holanda a reconhecer na Inglaterra a nova rainha dos mares, o desenvolvimento de
uma marinha poderosa, a abolição dos domínios feudais, a demolição de fortalezas e o
desarmamento dos nobres cavaleiros, o confisco de terras da Igreja, da Coroa e dos
principais realistas etc.“”

Entretanto, foi Oliver Cromwell - líder militar durante a guerra civil, membro do Parlamento de
1640, e eleito membro do Parlamento no período de 1649 a 1653 – quem liderou as tropas inglesas
em repressão a irlandeses e escoceses. Em 1653, foi dissolvido o Parlamento e Cromwell passou a
ser aclamado como Lorde Protetor da Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda. (MONDAINI,
2003; MORGAN, 2006)

Com a restauração, tensões não resolvidas entre interesses econômicos, disputas políticas e
religiosas voltaram à tona. Como destaca Mello (2000, p. 82)

Durante a restauração (1660-88) reativou-se o conflito entre a Coroa e o Parlamento, que se


opunha à política pró-católica e pró-francesa dos Stuart. Em 1680, no reinado de Carlos II, o
Parlamento cindiu-se em dois partidos, os Tories e os Whigs, representando,
respectivamente os conservadores e os liberais. A crise da Restauração chegou ao auge no
reinado de Jaime II, soberano católico e absolutista. Os abusos reais levaram à união de Tories
e Whigs que, aliando-se a Guilherme de Orange, chefe de Estado da Holanda e genro de Jaime
II, organizaram uma conspiração contra o monarca “papista”.

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09/04/2019 Surge a ideia de igualdade: A revolução gloriosa

Em 1688 Guilherme de Orange, casado com Maria II, filha do rei inglês, invade a Inglaterra,
depõe Jaime II e é empossado rei pelo Parlamento. Estava consumada a chamada Revolução

Índice
Gloriosa que, no ano seguinte, legaria à história a chamada Bill of Rights ou Lei de Direitos.

1. Introdução

2. Século XVII: Um período turbulento para a Europa

3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra

4. Elementos da história inglesa nos séculos XVI e XVII

5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa

6. Conclusão

Guilherme de Orange.

O que acha de pensar sobre isso?

Que ligação será possível estabelecer entre a Bill of Rights (1689) – Lei de Direitos – e a Declaração
Universal dos Direitos Humanos (1948)?

Não podemos esquecer, ainda, de registrar duas outras importantes medidas tomadas pelo
Parlamento na esteira da Revolução. Ainda em 1689 foi aprovado o Ato de Tolerância que, em
pese estabelecer a Inglaterra como um Estado confessional, garantindo apenas aos anglicanos a
ocupação de cargos públicos e de vagas nas universidades, por outro lado garantia a liberdade
irrestrita de culto aos outros grupos protestantes. Por fim, 1694 foi aprovado o Ato Trienal que
estabelecia a convocação anual obrigatória de reuniões do Parlamento e a realização de eleições a
cada três anos. (BLANNING, 2007)

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09/04/2019 Surge a ideia de igualdade: A revolução gloriosa

Índice
1. Introdução
Se interessou pelo tema? Sugerimos, especialmente, a leitura de dois livros que estão em nossa
bibliografia. São eles:

2. Século XVII:José
ARRUDA, Um período
Jobson turbulento
de Andrade. para
A grande a Europa
revolução inglesa, 1640 – 1780: Revolução Inglesa
e Revolução Industrial na construção da sociedade moderna. São Paulo: Departamento de
História – FFLCH – USP: HUCITEC, 1996.
3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra
HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça: ideias radicais durante a Revolução Inglesa de
1640. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
4. Elementos da história inglesa nos séculos XVI e XVII

5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa

6. Conclusão

5. As ideias que conformaram o processo que


culminou na revolução gloriosa
Grosso modo, com exceção aquelas ideias que defendiam a manutenção do status quo presentes
no absolutismo monárquico, foram dois os conjuntos de proposições que circularam ao longo desse
processo que culminou com a Revolução Gloriosa.

Se de um lado, temos as ideias republicanistas, que mais que um regime político específico, a
república, propugnaram a participação dos cidadãos nos processos de decisão política; por outro,
temos as liberais, que propuseram, de modo geral, a garantia das liberdades, valorizando,
especificamente, aquilo que comumente denominamos de direitos civis, ou seja, direito à vida, à
propriedade, à liberdade de expressão, e o direito de ir e vir etc.

Ao analisar o processo de desenvolvimento e disseminação das ideias republicanistas na Inglaterra


ao longo dos séculos XVI e XVII, Barros (2013, p. 128) afirma que

“”(...) na Inglaterra, seus primeiros sinais só podem ser observados no decorrer do século XVI,
com a propagação dos valores humanistas. Manifestou-se de forma um pouco mais clara nas
primeiras décadas do século XVII, no interior do movimento de protesto contra o reinado dos
Stuarts, e, posteriormente, de modo evidente, no desenrolar das guerras civis. Mas sua plena
expressão deu-se apenas depois do regicídio, em 1649, o que tem levado muitos historiadores a
considerar que o republicanismo inglês foi muito mais consequência do que causa do fim da
Monarquia.“”

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09/04/2019 Surge a ideia de igualdade: A revolução gloriosa

Podemos, portanto, perceber um quadro – mesmo que brevemente apontado – marcado pela
tensão, disputa, rivalidade e diversidade. É nesse processo intenso que se desenvolveram as ideias

Índice
republicanistas e liberais inglesas.

Um dos aspectos importantes, que serviu para a difusão dos ideais republicanistas e liberais, foi a
questão do direito de resistência à tirania. Nesse aspecto, encontrava-se como questão de fundo a
1. Introdução
ideia do pacto social. A legitimidade de um governante só era garantida na medida em que este
conduzia os negócios públicos com base no interesse comum e assegurasse a liberdade, a
propriedade
2. e a vida
Século XVII: Um dos cidadãos.
período Destaque-se,
turbulento ainda,
para o fato de que para eles a soberania popular
a Europa
não havia sido alienada ao monarca, mas apenas delegada à título provisório, na medida em que o
contrato social não era cumprido essa soberania poderia e deveria ser retomada. (BARROS, 2013)
3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra
John Milton (1608-1674), poeta e um dos mais destacados republicanistas ingleses do período,
entendia a questão dessa maneira, até de forma ainda mais radicalizada. Assim, tomando por base
4. Elementos
essa da história
visão podemos inglesa
apontar nos
quatro séculos XVI centrais:
consequências e XVII

5. As“”(...)
ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa
não há submissão natural nem senhorio estabelecido pela natureza; o título dos reis e
dos magistrados não pode ser hereditário, uma vez que a autoridade do povo não é
6. Conclusão
transferida definitivamente, mas meramente delegada, não tendo o governante a
propriedade do poder político; se o rei for considerado apenas responsável perante Deus,
como sustentavam os realistas, todos os pactos celebrados com ele durante a coroação, todos
os juramentos feitos por ele de respeitar as leis do reino, seriam vãos; o povo, por ser a
origem da autoridade do rei, pode sempre que considerar adequado, rejeitá-lo e removê-lo,
mesmo que não seja um tirano, pela simples razão de ter a liberdade e o direito de fazê-lo
quando considerar conveniente.“”

(BARROS, 2013, p. 143)

Para Milton, a garantia da liberdade política seria o governo das leis, através de uma administração
que poderia impedir o abuso de poder por parte de uns ou a submissão ao poder por parte de
outros. Logo, todos os membros de uma sociedade, ainda mais os reis e magistrados, estavam a ela
submetidos.

Contudo, os republicanistas aqui em questão, Milton, Algernon Sidney(1623-


1683), Marchamont Nedham (1620-1678) e James Harrington (1611-1677), quando
colocavam a questão da liberdade, não estavam discutindo a liberdade individual. Como analisa
Skinner (1996, p. 30-31)

“”(...) a teoria da liberdade que eles esposam me parece constituir o cerne do que é específico
em seu pensamento. Mais do que seu às vezes ambíguo republicanismo, mais até do que seu
inquestionável compromisso com uma política de virtude, sua análise da liberdade civil
assinala-os como os protagonistas de uma ideologia específica, e mesmo como uma única
escola de pensamento. (...). Eles começam assim por enfocar não a liberdade de indivíduos,
mas sim o que Milton denomina “liberdade comum” ou “governo livre”, o que Harrington
denomina “a liberdade de uma comunidade”, e o que Sidney mais tarde chama de “as
Liberdades de Nações”. Como o título de Nedham ressonantemente nos lembra, a principal
aspiração de todos esses autores era vindicar “a excelência de um Estado livre”.“”

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Assim, como os indivíduos são livres apenas enquanto capazes de tomar uma decisão e agir de
acordo ou a ela se negar, os referidos autores defendiam que um Estado só seria livre na medida em

Índice
que as decisões fossem tomadas pelo conjunto de seus membros. Ligação bastante próxima do
pensamento maquiaveliano dos Discursos, onde o pensador florentino afirmou que as cidades
livres eram aquelas governadas por sua própria decisão (SKINNER, 1996).
1. Introdução
Milton, em especial, associava a liberdade do povo e a responsabilidade do governo com a liberdade
de imprensa. Conforme afirma Keane (2010, p. 239-240)
2. Século XVII: Um período turbulento para a Europa

“”Poderosa e persuasivamente, (...), o manifesto em prosa de Milton, a Aeropagítica, de fato


3. As várias
reuniu osdisputas que
vários fios deaconteciam na Inglaterra
prata do governo representativo, depois os amarrou com o laço
dourado da liberdade de imprensa. Ele favoreceu o governo republicano através de
assembleias
4. Elementos daparlamentares (...).
história inglesa nosMilton estava
séculos XVI confiante
e XVII de que a imprensa podia ser usada
para garantir que os representantes não saíssem da linha ou que se eles caíssem (...) seus
enganos e falso orgulho podiam ser expostos por impresso, para um público leitor que tinha
5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa
opiniões sobre como desejava ser governado.“”

6. Conclusão
Milton, Nedham e Harrington, em suas obras, foram incisivos defensores da república. Para eles só
a república, sendo o governo do povo, garantiria liberdade, evitando a tirania e a corrupção. O que
permitiria que o interesse comum fosse predominante, garantindo a estabilidade e evitando os
tumultos, frutos de privilégios e/ou abusos de poder (BARROS, 2013).

A obra fundamental do republicanismo inglês, no entanto, é Discourses concerning government de


Algernon Sidney, apesar de deixada incompleta por causa de sua prisão, condenação e execução em
1683, que só viria a ser publicada em 1698. Nela, Sidney, atacou de forma direta a tirania dos
Stuarts, destacando que o arbítrio real colocava todos em situação de servidão, garantindo-se,
assim, o direito à resistência, afirmando, ainda, a soberania do povo na escolha do governante, na
medida em que destacou que estes estavam, como qualquer magistrado, submetidos às leis, sendo
estas a forma por excelência de se sustentar o bem comum. Assim, a função básica do governo seria
assegurar a vida, a liberdade e a propriedade. Ademais, salientou que as magistraturas deveriam ser
acessíveis aos mais virtuosos cidadãos, e, por fim, ressaltou que somente as repúblicas eram
qualificadas para realizar todo esse projeto (BARROS, 2013).

Desse modo, podemos destacar, que

(...) o republicanismo inglês, fruto da apropriação de diferentes tradições e da engenhosa


adaptação à realidade política da época, não encontrou muito eco em solo britânico. (...). Ele
foi mais bem acolhido nos continentes europeu e americano, onde se enraizou e se manifestou
de múltiplas maneiras. Não se tratava mais do republicanismo clássico, nem do
republicanismo renascentista dos humanistas italianos. Diversas noções estranhas ao ideário
republicano, como direitos naturais dos indivíduos, contrato social, soberania e representação
política, haviam sido introduzidas e articuladas com suas proposições originais. Era um novo
modo, mais adequado aos tempos modernos, de valores e princípios republicanos serem
enunciados (BARROS, 2013, p.171-172).

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Por certo, a trajetória do republicanismo ganhava novos elementos constituintes e, em que pese seu
fracasso na Inglaterra, teve frutíferas repercussões na Europa, espalhando-se principalmente para a

Índice
França, bem como para as 13 colônias americanas, no seu processo de independência no século
seguinte.

A vertente central que se construiu no pensamento político inglês dos séculos XVI e XVII foi o
1. IntroduçãoComo destaca o diplomata e cientista social José Guilherme Merquior (2014, p. 94)
liberalismo.

2. Século XVII: Um período turbulento para a Europa


“”Os liberais clássicos, tomados em seu conjunto, deram duas contribuições decisivas ao
desenvolvimento do pensamento liberal. Em primeiro lugar, fundiram traços liberais numa
3. As várias disputas
advocacia coerenteque
da aconteciam na Inglaterra
ordem social-liberal secular que estava então tomando forma nos
governos representativos da época. Em segundo lugar, introduziram e desenvolveram dois
outros temas
4. Elementos da no pensamento
história inglesaliberal: democracia
nos séculos e libertarianismo. Juntos, esses temas
XVI e XVII
essenciais constituíram uma defesa do indivíduo não apenas contra o governo opressivo, mas
também contra intromissões de constrangimento social.“”
5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa

Robert A. Dahl (2012) destaca o papel da afirmação do Estado nacional como fator importante para
6. Conclusão
a afirmação das liberdades civis. Segundo ele, foi o Estado nacional que permitiu e propiciou o
florescimento dos direitos pessoais, da liberdade e da autonomia dos indivíduos.

Aprendendo mais uma!

John Locke, conhecido como filósofo e considerado o fundador do liberalismo, formou-se em


medicina pela Universidade de Oxford e é também considerado, por alguns, o precursor do
empirismo, doutrina que estabelece que o conhecimento humano é derivado da experiência. Só
publicou suas primeiras obras nos anos de 1689 e 1690, quando já tinha 57 anos.

A obra clássica de defesa do ideário liberal e, ao mesmo tempo, de justificação da Revolução


Gloriosa foi o Segundo tratado sobre o governo: ensaio relativo à verdadeira origem, extensão e
objetivo do governo civil, de John Locke. A obra foi publicada na Inglaterra em 1690.
(MERQUIOR, 2014)

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Índice
1. Introdução

2. Século XVII: Um período turbulento para a Europa

3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra

4. Elementos da história inglesa nos séculos XVI e XVII

5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa

6. Conclusão

John Locke.

Conforme aponta Mondaini (2003, p. 130)

“”O contratualismo liberal de Locke foi, sem dúvida, um dos maiores responsáveis pela
edificação dessa nova era. Com ele, rompe-se com o “pacto de submissão” hobbesiano em nome
de um “pacto de consentimento”. No seu “estado de natureza”, há uma situação de “relativa
paz, concórdia e harmonia”, no qual os indivíduos dotados de racionalidade possuem um certo
número de “direitos naturais”: vida, liberdade e bens.“”

Como destaca Mello (2000, p. 88), o núcleo do pensamento de John Locke diz respeito à
preservação daqueles que são os direitos naturais dos seres humanos: vida, liberdade e
propriedade, sendo ele, por isso, considerado, por muito, o fundador do liberalismo.

Com uma visão crítica e apontando para os limites das ideias e práticas políticas que se estabelecem
a partir de 1688, bem como de ideias diferentes que estavam em circulação na sociedade inglesa
naquele período, Hill (1987, p. 32) destaca que

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09/04/2019 Surge a ideia de igualdade: A revolução gloriosa

“”Podemos ser algo simplista e dizer que houve duas revoluções na Inglaterra dos meados do
século XVII. Uma, a que venceu, estabeleceu os sagrados direitos de propriedade (abolição dos

Índice
títulos feudais sobre a terra, o fim da taxação arbitrária), conferiu poder político aos
proprietários, soberania do Parlamento e da common law, supressão dos tribunais que
funcionavam com base na prerrogativa e removeu tudo que impedia o triunfo da ideologia dos
homens com propriedades – ou seja, da ética protestante. Houve, porém, outra revolução, que
1. Introdução
nunca chegou a se concretizar, embora de tempos em tempos ameaçasse acontecer. Ela
poderia haver estabelecido um sistema comunal de propriedade e uma democracia muito mais
2. Século
ampla nasXVII: Um período
instituições legais eturbulento para atambém,
políticas; poderia, Europa haver retirado da Igreja Anglicana
o seu caráter oficial e repudiado a ética protestante.“”
3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra

No entanto, apesar dessa revolução, várias de suas ideias e projetos continuaram presentes, sendo
4. Elementos da história
progressivamente inglesa
retomadas nos séculos
em vários cantosXVI e XVII com abrangência cada vez maior ao longo
do mundo,
dos séculos seguintes, conforme veremos em outras unidades.
5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa
É com a passagem da sociedade medieval para a moderna, acompanhada
de secularização, racionalização e individualização, que, como destaca Mondaini (2003, p.
6. Conclusão
116)

“”(...) deu-se justamente com o desenvolvimento de uma consciência histórica da desigualdade.


A diferenciação natural existente entre os homens não implica a existência da desigualdade
natural entre eles. Esta última tem origens – e isso nos leva a pensar num tempo passado em
que ela não existia e num futuro possível em que não mais existirá. Essa historicização da
desigualdade servirá de pano de fundo para uma das mais importantes transformações
levadas a cabo na trajetória da humanidade: a de citadino/súdito para o citadino/cidadão.“”

Conforme destaca Lynn Hunt (2009, p. 19 - 20)

“”(...) a Bill of Rights inglesa de 1689 não declarava a igualdade, a universalidade ou o caráter
natural dos direitos. Em contraste a Declaração da Independência (dos EUA - 1776) insistia
que “todos os homens são criados iguais” e que todos possuem “direitos inalienáveis”. Da
mesma forma a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França – 1789) proclamava
que “Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos”. (...). Em outras palavras,
em algum momento entre 1689 e 1776 direitos que tinham sido considerados muito
frequentemente como sendo de determinado povo (...) foram transformados em direitos
humanos, direitos naturais universais, o que os franceses chamavam les droits de l“homme, ou
”os direitos do homem“.”“

Na sua concepção moderna, é a partir de 1688 – 1689, com a Revolução Gloriosa e o seu resultado
mais conhecido, a Bill of Rights que começa o processo de construção da cidadania moderna.

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Índice
1. Introdução

2. Século XVII: Um período turbulento para a Europa

3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra

4. Elementos da história inglesa nos séculos XVI e XVII

5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa

6. Conclusão

Bill of Rights.

Certo está que a Lei de Direitos por um lado coloca a questão das liberdades individuais de forma a
serem vistas como algo fundamental a todas as pessoas. Está posto, a partir daquele momento o
debate público sobre as várias facetas da liberdade civil: liberdade de expressão e pensamento,
de ir e vir, religiosa, e outras mais. Por outro lado, no entanto, a lei ainda limita aqueles direitos
estabelecidos à condição de proprietário. Eis, pois, os limites desse momento que lança a questão,
mas não a resolve na prática.

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09/04/2019 Surge a ideia de igualdade: A revolução gloriosa

6. Conclusão
Índice
No que nos importa destacar nesse processo histórico de construção das ideias de igualdade, a
Revolução Gloriosa e a Lei de Direitos cumpriram um papel fundamental, embora as questões
trazidas
1. por estes momentos não se esgotem, já que a história não tem fim, nem ontem, nem hoje,
Introdução
nem amanhã.

2. Século
Todo XVII:deUm
o processo período
disputa turbulento
acontecido para ao
na Inglaterra a Europa
longo do século XVII, com sua violência,
mas também com sua circulação e discussão de ideias e projetos políticos, sociais e econômicos,
serviu para lançar às sociedades modernas na discussão dos temas dos direitos e da igualdade.
3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra
A luta pela igualdade será ao longo dos tempos apresentada de distintas formas, já que são
inúmeras
4. as questões
Elementos que inglesa
da história se apresentam a esseXVI
nos séculos debate: liberdades civis para todos os sujeitos
e XVII
livres; a existência da escravidão, que coloca os seres humanos numa máxima posição de
desigualdade, sendo uns, propriedade de outros; a liberdade para as mulheres, dentre outros
5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa
temas.

Do âmbito civil, surgiram demandas pela igualdade política: direito ao voto para todos os homens,
6. Conclusão
direito ao voto para as mulheres, participação direta dos cidadãos nos processos decisórios. E por aí
segue todo esse processo.

Enfim, este era um processo que, com a Revolução Gloriosa, estava apenas começando. Mesmo com
as limitações que foram impostas naquele momento, a ideia da igualdade estava lançada e passou a
germinar em outros solos férteis, fosse na Inglaterra ou em outros lugares.

Serão os colonos ingleses estabelecidos na América desde o fim do século XVI que, com base em
muitas das ideias defendidas pelos ingleses nos séculos XVI e XVII, irão novamente colocar em
cena as ideias de liberdade e igualdade. Sobre isso falaremos na próxima unidade.

8. Referências
ARRUDA, José Jobson de Andrade. A grande revolução inglesa, 1640 – 1780: Revolução
Inglesa e Revolução Industrial na construção da sociedade moderna. São Paulo: Departamento
de História – FFLCH – USP: HUCITEC, 1996.
BARROS, Alberto R. G. A matriz inglesa. IN: BIGNOTTO, Newton (org.). Matrizes do
republicanismo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. p. 127-174.
BEAUD, Michel. História do Capitalismo: de 1500 aos nossos dias. 4. ed. São Paulo:
Brasiliense, 2004.
BLANNING, Tim. The pursuit of glory: Europe 1648 – 1815. London: Penguin Books, 2007.
CARNEIRO, Henrique. Guerra dos Trinta Anos. IN: MAGNOLI, Demétrio. História das
guerras. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2007. p. 163-188.

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CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito: Geral e do Brasil. 10. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Júris, 2013.
Índice DAHL, Robert A. A democracia e seus críticos. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,
2012.
GILLINGHAM, John. The early middle ages (1066-1290). IN: MORGAN, Kenneth O. (ed.). The
1. Introdução
Oxford illustrated history of Britain. 7. ed. Oxford: Oxford University Press, 1992. p. 104-
165.
2. Século XVII: Um período turbulento para a Europa
HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça: ideias radicais durante a Revolução Inglesa
de 1640. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra
HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. 21. ed. rev. Rio de Janeiro: LTC, 1986.
HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das
4. Elementos da história inglesa nos séculos XVI e XVII
Letras, 2009.
KEANE, John. Vida e morte da democracia. São Paulo: Edições 70, 2010.
5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa
MAINWARING, James. British social history. London: Odhams Press Ltd, 1965.
MELLO, Leonel Itaussu Almeida. John Locke e o individualismo liberal. IN: WEFFORT,
6. Conclusão
Francisco C. (org.). Os clássicos da política. 13. ed. São Paulo: Ática, 2000. p. 79-110.
MERQUIOR, José Guilherme. O liberalismo, antigo e moderno. 3. ed. São Paulo: É
Realizações Editora, Livraria e Distribuidora Ltda., 2014.
MONDAINI, Marco. O respeito aos direitos dos indivíduos. IN: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla
Bassanezi (orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. p. 114-133.
MORGAN, Kenneth O. (ed.). The history of Britain and Ireland:from early people to
present day. Oxford: Oxford University Press, 2006.
PARKER, Geoffrey. The thirty years“ war. London: Routledge, 1997.
ROMANO, Roberto, Paz da Westfália (1648). IN: MAGNOLI, Demétrio. História da paz. São
Paulo: Contexto, 2008. p. 69-91.
SALWAY, Peter. Roman Britain (c. 55 bC – c. ad 440). IN: MORGAN, Kenneth O. (ed.). The
Oxford illustrated history of Britain. 7. ed. Oxford: Oxford University Press, 1992. p. 1-51.
SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo:
Companhia das Letras, 1996.
YouTube. (2016, Maio, 26). Dennis Agra. Morte ao Rei (Legendado). 1h42min30seg. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=0p5_cjgQLNg>. Acesso em: 14 mai.2018

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1. Introdução

2. Século XVII: Um período turbulento para a Europa


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3. As várias disputas que aconteciam na Inglaterra |

4. Elementos da história inglesa nos séculos XVI e XVII

5. As ideias que conformaram o processo que culminou na revolução gloriosa

6. Conclusão

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