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Após explanar a posição de vários teóricos e críticos sobre o assunto, como Adorno,
Clement Greenberg, David Hickey, G. E. Moore e Roger Fry, com quem concorda em
parte, ainda que rejeite a hipótese de que a história da apreciação de uma obra
sempre atinja o apogeu na fruição da beleza, ele afirma que a análise da obra pode
culminar na apreciação da qualidade artística, que não necessariamente é a mesma
coisa que percepção estética da beleza
Entre o último quartel do século XIX e a primeira metade do século XX, artistas
das mais variadas correntes e escolas artísticas fizeram valer essa autonomia criando
obras, figurativas ou abstratas, em que não havia nenhuma preocupação com as
cores, formas, padrões do real. De Cézanne a Pollock passando por Matisse, Picasso,
ou os expressionistas alemães, a palavra de ordem era usar o que a tecnologia
oferecia como a já mencionada fotografia para os impressionistas, o cinema, para os
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criados, deveriam ser funcionais, isto é, atender a uma função que seria pré-
estabelecida pela razão. Era a vitória da racionalidade instrumental sobre a
racionalidade emancipatória, que alijou dos objetos os ornamentos ou qualquer
conceito que escapasse a ideia de funcionalidade. A razão, ao pré-estabelecer a
função dos objetos, prevenia o Homem contra todos os equívocos, excessos,
desperdícios ou mau usos da tecnologia. A crença na aplicabilidade, tornou-se uma
marca registrada em todos os projetos modernistas, a ponto de estabelecer a famosa
regra: “a forma segue a função”1
Se engajaram neste projeto de criação de artefatos funcionais, artistas como
Mondrian e outros concretistas, que se ligaram Bauhaus, e consideravam a união arte-
funcionalidade um meio para educar o povo
1A forma segue a função é, possivelmente, o pilar do Design funcionalista e expressa, segundo esta
Escola, um claro bom senso. Isto é, para atender as grandes necessidades da sociedade, o designer
deve configurar a forma a partir da função específica do objeto a ser produzido.
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em campos específicos, como design gráfico, design têxtil, design de produtos, entre
outros.
Apesar da perda de sua teoria / prática ideal, tanto a Bauhaus quanto as demais
escolas que surgiram, conseguiram sedimentar as referências e práticas teóricas que
sustentam a especificidade do Design, a fim de unir a funcionalidade, a criatividade, a
modernidade e a produção em massa. Claro, o episódio da Bauhaus não está isolado
no tempo, mas é a continuidade e o desenvolvimento de conceitos que remontam ao
século XIX, através das Artes e Ofícios, Art Nouveau e os movimentos de vanguarda
nas artes e na literatura.
Foi nas primeiras décadas do século 20 que desencadeou uma nova visão para
design e comunicação de produtos que marcaria o design ao longo deste período, e
nesse sentido, a Bauhaus teve um papel determinante.
Se considerarmos a aparência da humanidade, o Design é mais antigo do que
o descrito acima. O simples ato de fabricar ferramentas para sobreviver pode ser
considerado a primeira manifestação do projeto em seu mais puro significado e
aspecto de criar para atender às necessidades humanas. Devido a este ponto de vista,
o significado do desenho industrial, como foi genuinamente definido, não poderia ser
suficiente para atender aos contextos distintos em que o designer devia agir e projetar,
uma vez que o capitalismo determina a função do profissional (Cf. Cara, 2013).
Com um significado enorme e uma relação complexa entre os produtos e
tecnologias aplicados, muitos outros aspectos começaram a ser envolvidos durante
todo o processo de design, como social, político, econômico e psicológico.
A discussão sobre o design industrial foi empurrada no Brasil a partir dos anos
50, devido à acelerada industrialização promovida pelo governo, intrinsecamente e
fortemente ligada à difusão do projeto moderno no continente americano. Durante os
anos 60, Décio Pignatari pontuou algumas teorias sobre a semiótica, aumentando
alguns aspectos modernos. Apenas em 1971, o termo design apareceu com um
significado mais amplo (Cf. CARA, 2013).
O primeiro momento de identificação da profissão como "Design Industrial"
ocorreu em 1979, durante o I Encontro Nacional de Desenho Industrial, considerando
ambas as habilidades: design de produto e programação visual. O uso do termo
'Design' foi implementado apenas em 1988 (Cf. Cardoso, 2005).
O ‘Design’, no contexto da pós-modernidade, começa a ter outros significados,
até então incompreendidos, que não tem relação apenas com os aspectos dos
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materiais, mas acima de tudo, com a união da experiência humana construída pelos
objetos produzidos (Cf. CARA, 2013).
O interessante sobre os designers brasileiros - e isso é algo que deve ser
uma máxima para designers em todo o mundo - é que eles se concentram
menos na técnica e se concentram mais na liberdade artística. Penso que
todas as profissões aqui são mais baseadas na criatividade e na intensidade
natural de nossas pessoas e menos em estudos e regras (PHILLIPS, 2008).
bonitos e luxuosos, vendidos a preços exorbitantes e que não teriam grande impacto
no cotidiano das pessoas.
Com o fim século XX, o mundo descrito por Papanek já não era mais o mesmo,
mas os problemas por ele identificados estavam mais vivos do que nunca. A era da
informação entrava em seus dias de glória, com a popularização dos computadores e
a internet. Mudanças drásticas ocorreram no sistema de produção e de compra e
entrega dos produtos devido a inserção da informática. Cardoso (2011) analisa que
conforme a virtualização aumenta, “a realidade parece desmanchar-se no ar” e que a
imaterialidade se tornou fator decisivo, ainda mais na área do Design. Com a era
digital, a sociedade está cada vez mais integrada e dependente uns dos outros, o que
fez surgir uma reflexão mais aprofundada dos problemas cotidianos. Percebemos que
os problemas dos tempos atuais são mais complexos do que se imaginava. Cardoso
(2011) analisa essa “complexidade” como um sistema com muitos elementos,
camadas e estruturas, que condicionam o funcionamento da parte total.
No tocante a Arte atual, sem nos aventarmos num mergulho em suas múltiplas
vertentes, gostaríamos de fazer algumas colocações. Em primeiro lugar, no final dos
anos 40, as Vanguardas constataram o crescente distanciamento do público. Sua
autonomia, a necessidade da interpretação de códigos iconográficos extremamente
pessoais, acarretaram o afastamento do grande público. A primeira tentativa de
reaproximação veio com a Pop Arte que utilizou as técnicas da propaganda e os mitos
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criados pela contemporaneidade. Ainda assim, o resultado não foi o esperado porque
o espectador duvidava “daquela arte” e “daqueles artistas”.
No que diz respeito a interrelação entre Arte e Design, pode-se dizer que apesar
de terem a criatividade e a estética como força motriz e utilizarem métodos e técnicas
comuns entre si, a finalidade de cada uma é diferente. A Arte tem como finalidade a
expressão do artista pura e simples, utilizando-se técnicas, ferramentas e até mesmo
o próprio corpo humano. Ou seja, a Arte tem como marca principal a subjetividade
para atingir o público, já que a interpretação do público sobre determinada obra não é
sempre o foco do intento artístico. Quanto ao Design, seu propósito último é atender
as necessidades comerciais do mercado, podendo utilizar-se de técnicas artísticas.
REFERENCIAS
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