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Escola Superior de Tecnologia de Abrantes

Análise aos filmes Água fria,


de Pedro Neves (2012), À beira de
Lisboa, de Pablo Briones (2013) e
A espera, de Nayeem Mahbub
(2013)

Abril de 2019 | Paulo Lucas

Licenciatura em Cinema Documental


1. Apresentação e justificação 2. Conceitos utilizados na análise das
dos filmes selecionados obras
1 Recorreu-se assim à visualização dos
2. Conceitos utilizados na filmes para contar todos os planos
análise das obras constituintes, identificar a sua grandeza
1 (escala), o ângulo, se tinha ou não
3. Análise individual de cada movimento, se se registavam diferenças
obra 1 no modo como se opera a passagem de
4. Conclusões um plano a outro (corte) e a duração do
2 mesmo. Em dois dos casos – Água fria,
5. Bibliografia Pedro Neves, e A espera, de Nayeem
3 Mahbub – também se registaram os
6. Filmografia
tempos de entrada da voz off e dos
3
diálogos.
7. Lista de imagens

Resumo: Exercício onde se procura 3. Análise individual de cada obra


efetuar a decomposição de três obras A primeira obra visualizada foi o filme
cinematográficas documentais, através Água fria, de Pedro Neves. Trata-se de
de uma recolha de dados o mais objetiva um filme realizado em 2012, com catorze
possível, por forma a tentar identificar as minutos de duração, que procura registar
diferentes opções de montagem que as festas de São Bartolomeu do Mar,
permitiram aos realizadores/montadores localidade portuguesa do concelho de
criarem sentido com a organização dos Esposende, no qual o autor nos
fragmentos de som e de imagem. transmite a sua reflexão sobre as
imagens que vão fluindo no ecrã. Pode
1. Apresentação e justificação dos filmes dizer-se que o filme possui três
selecionados sequências distintas – uma primeira em
A escolha das obras teve como principal que a câmara quase que “fotografa”
critério a sua duração, isto é, foram aleatoriamente personagens de um
selecionados três filmes com tempos coletivo que se espalha pelas dunas e
visionamento abaixo dos 15 minutos. posa para a imagem; uma segunda em
Como critérios complementares, optou- que o banho, “purificador” e “repelente
se por escolher obras com som e imagem do mal”, na água fria marca presença; e
captados em Portugal, de realizadores uma última em que ocorre a procissão.
portugueses e estrangeiros, e também Identifica-se uma predominância de
obras que apresentassem diferenças planos gerais ou muito gerais, onde a
entre si para que pudessem ser alvo de câmara raramente se movimenta – a
comparação quanto às estratégias exceção é a utilização da câmara à mão
utlizadas para produzirem o efeito em três planos sequência (Neves, 2012:
desejado e para tentar percecionar as pls. 30-32) que no seu conjunto duram
dinâmicas no interior da estrutura 2:23, ou durante cinco segundos numa
narrativa/argumentativa. panorâmica (Idem: pl.: 53). No que
concerne à duração dos planos, registou-

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se uma duração média dos planos de intervenientes oriundos do Bangladesh
0:10, havendo apenas oito planos com que esperam e desesperam pelos
duração igual ou superior a 0:20 (Idem: documentos de legalização na União
pls.: 31-34, 43-44, 64, 74). A voz off é um Europeia, como forma de darem asas ao
recurso utilizado ao longo do filme, seu empreendedorismo e abrirem
embora esteja presente em cerca de negócios por conta própria. Está
metade do tempo fílmico (06:03 - 46%), igualmente explícita, mesmo através da
em três momentos mais ou menos hora do dia em que decorrem as
distintos: um inicial, enquadrador, cuja filmagens – entre as 22 e as 23 horas - a
duração é de 0:30; um no meio do filme, exploração de seres humanos imigrantes
o qual, com pausas na narração bem que trabalham horas a fio em
descortináveis, ocupa 4.47; e um estabelecimentos comerciais quase
terceiro, a terminar, que ocupa 0:46. claustrofóbicos, sem direitos e
Passando a analisar o filme À beira de permanentemente pressionados pelos
Lisboa, com um total de 8 minutos, da empregadores. Apesar de a duração
autoria de Pablo Briones, pode dizer-se média dos planos ser de 0:11, a verdade
que é olhar sobre um conjunto de é que a existência de dez planos com
indivíduos, supostamente desem- 0:20 ou mais segundos, perfazendo um
pregados, que diariamente “povoam” os total de 02:39 (40% da duração total e
baixios da baixa-mar no estuário do Tejo 30% do total de planos), transmite-nos a
à procura de ameijoa-japonesa para sensação de um ritmo mais lento. Ao
vender ilegalmente, assemelhando-se às nível da grandeza, não existe
aves que têm naqueles espaços os seus predominância de nenhum dos planos,
habitats naturais. A curta sequência registando-se uma preferência pelo over-
inicial, de 0:20, é um travelling captado the-shoulder contrapicado nas situações
numa viatura na Ponte Vasco da Gama de diálogo e de planos gerais ou muito
(Briones, 2013: pls. 2-5), terminando a gerais na entrada e no final do
partir daí todo e qualquer movimento de documentário. Ao nível do movimento,
câmara, passando a ser omnipresente o este regista-se apenas em quatro
muito grande plano em câmara fixa. Os situações de diálogo, embora haja uma
cortes são simples, à exceção dos clara intenção em não usar tripé. O
encadeados a negro do título ao início e diálogo entre os atores sociais é um
do título no final. O total de planos elemento chave da dinâmica da
identificados é de trinta e sete, sendo argumentação, representando 03:55 do
que a sua duração média se situa nos total, ou seja, 59% do total do filme e
0:11, registando-se apenas quatro planos metade dos planos. Ao nível do corte
que igual ou ultrapassam os 0:20. Ainda sonoro, é abundante o recurso ao L-cut e
assim, estes últimos representam 20% da ao J-cut, enquanto na imagem prevalece
duração total do filme. o corte simples, com raro recurso ao
O terceiro filme em análise é A espera, zero-cut.
de Nayeem Mahbub, que se desenrola
em oito minutos. Este filme, com trinta 4. Conclusões
planos no total, tem como enfoque A conclusão principal é que cada um dos
principal as angústias de dois filmes utiliza estratégias diferentes para

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criar sentido no discurso. Também nos longo de todo o filme e também recorrer
mostram que as ações decorrem num a muitas imagens da calçada, numa das
espaço de tempo relativamente curto – quais, já perto do final, com um cigarro
uma manhã e uma tarde em Água fria, que tarda em se apagar no meio de
uma maré baixa, de manhã, no À beira pessoas a passar e do barulho dos carros
de Lisboa, e uma hora (?), entre as 22 e que se encontram fora de campo, acaba
as 23 horas, no caso de A espera. O por dar ênfase ao estado de ansiedade
primeiro utiliza, ainda que com alguma de quem vem à procura de uma vida
parcimónia, aqui ou ali com excessos melhor na Europa e acaba por
evitáveis, a “muleta” da voz off, para nos desesperar por autorização de
ajudar a ler a realidade, usando e residência.
abusando do plano geral ou muito geral,
interrompido apenas pela câmara à mão 5. Bibliografia consultada
que nos leva mar adentro para vermos o Penafria, M. (2009). “Análise de filmes.
banho “purificador” das crianças. A Conceitos e Metodologia(s)”. Congresso
música pimba que antecede a procissão SOPCOM, Lisboa.
e a fanfarra que sonoriza o percurso dos Seabra, J. (2014). Cinema. Tempo,
andores com os santos, acompanham- memória, análise, Coimbra, Imprensa da
nos ao longo de todo o filme. Universidade de Coimbra.
No segundo, a estratégia é mostrar-nos
planos também relativamente longos, 6. Filmografia
muito gerais, como se a câmara fosse Briones, P. (2013). À beira de Lisboa,
uma espécie de ave pernalta que observa Ecole cantonale d'art de Lausannes,
as outras a tentarem sobreviver quando Renens, Suíça.
a maré o permite. Com um primeiro Mahbub, N. (2013). A espera,
intertítulo e as com imagens DOCNomads, Lisboa, Portugal.
subsequentes carregadas de sentido Neves, P. (2012). Água fria, Red Desert
metafórico – barcos encalhados, maré Unipessoal Lda, Porto, Portugal.
baixa, lodos, uma ponte onde se circula
por cima e onde se espera a maré a
encher por baixo, com uma cidade ao
fundo onde a vida se organiza, o autor
limita-se a encadear os trinta e sete
planos de uma forma simples e
previsível.
No que respeita ao terceiro filme, o
recurso à encenação parece evidente,
mas perfeitamente aceitável, recorrendo-
se ao over-the-shoulder em planos
longos para transmitir mais dinâmica aos
diálogos e a planos de pormenor para
antecipar a entrada dos diálogos. O facto
de a montagem realçar muito o
incessante fumar de um dos atores ao

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